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em que essa saída não é mais possível”. Ele também lembra um hábito quase natural de decidir a grafia de certas palavras apresentando duas versões (pretenciosa / pretensiosa, por exemplo) para chamar a atenção para o contraste e obter, de memória, a grafia correta. “Desconheço a origem desse método de resolução, mas acredito que ele não provém de nenhuma teoria clássica sobre o conhecimento”, relativiza Slomp, levantando uma questão para ser pensada por todo professor. Percebe-se, deste modo, que a convenção que unifica a escrita das palavras em Língua Portuguesa exige algum esforço para ser compreendida. Observe abaixo os casos mais freqüentes, seguidos de exemplos práticos. Regulares – São as palavras cuja grafia podemos prever e escrever, mesmo sem conhecê-las, porque existe um “princípio gerativo”, regra que se aplica à maioria das palavras da nossa língua. As correspondências regulares podem ser de três tipos: Diretas – Inclui a grafia de palavras com p, b, t, d, f e v (exemplo: pato, bode ou fivela). Não há outra letra competindo com elas, mas é comum a criança ter dificuldade para usá-las por causa do pouco conhecimento da pronúncia. Contextuais – A “disputa” entre o r e o rr é o melhor exemplo desse tipo de correspondência. A grafia que devemos memorizar varia em função do som da letra. Por exemplo: para o som do “r forte”, usamos r tanto no início da palavra (risada), como no começo de sílabas precedidas de consoante (genro). Quando o mesmo som de “r forte” aparece entre vogais, sabemos que temos que usar rr (carro, serrote). E, quando queremos registrar o outro som do r, que alguns chamam de “brando”, usamos só um r, como em careca e braço. Essa variedade explica por que, a princípio, as crianças têm tanta dificuldade. Morfológicogramaticais – Nesse caso são os aspectos ligados à categoria gramatical da palavra que estabelecem a regra com base na qual ela será escrita. Por exemplo: adjetivos que indicam o lugar onde a pessoa nasceu se escrevem com esa (francesa, portuguesa), enquanto substantivos derivados se escrevem com eza (certeza, de certo; avareza, de avaro). Na maioria dos casos essas regras envolvem morfemas (partes internas que compõem a palavra), sobretudo sufixos que indicam a família gramatical. Irregulares – Não há regras que ajudem o estudante a escrever corretamente. A única saída é memorizar a grafia ou recorrer ao dicionário. Elas se concentram principalmente na escrita: do som do s (seguro, cidade, auxílio); do som do j (girafa, jiló); do som do z (zebu, casa); do som do x (enxada, enchente); o emprego do h inicial (hora, harpa); a disputa entre e, i, o e u em sílabas átonas que não estão no final de palavras (seguro, tamborim); ditongos que têm pronúncia “reduzida” (caixa, madeira, vassoura etc.). Teorias da Aprendizagem 98 Uma sugestão lúdica: construam cartilhas voltadas para a alfabetização que procurem superar os modelos criticados por Emília Ferreiro, buscando utilizar as hipóteses de leitura sugeridas pela autora. Sobre a teoria de Emília Ferreiro, proponho a leitura da transcrição da entrevista realizada com a autora pela Revista Nova Escola, que pode ser encontrada na edição de janeiro/fevereiro de 2001. A aprendizagem segundo o método montessoriano Estudando o comportamento destas crianças e as recíprocas relações numa atmosfera de liberdade, revela-se-nos o verdadeiro segredo da sociedade. São fatos de muita finura e delicadeza, que devem examinar-se com um microscópio espiritual, fatos de imenso interesse, que revelam a verdadeira natureza do homem. Olhamos por isso para nossas escolas como laboratórios de pesquisas psicológicas. Maria Montessori História pessoal M aria Montessori nasceu em Chiaravelle, na Itália, em 31 de agosto 1870. Passou sua infância em Roma, onde mais tarde veio a estudar Medicina por autorização do Papa Leão XIII, sendo a primeira mulher italiana a freqüentar a universidade. Seus estudos giraram em torno dos conhecimentos em Psiquiatria, área que mais tarde veio a auxiliar seu trabalho junto às crianças com deficiências mentais. Em 1898, Montessori e Giuseppe Montesano são nomeados co-diretores da Escola Orfeônica de Roma, dirigida a cuidados das referidas crianças portadoras de deficiências mentais. Inicia-se aí a relação de Montessori com a Educação, laço que é estreitado em 1904, quando Montessori torna-se livre-docente pela Universidade de Roma na área de Antropologia, e dedica-se ao trabalho com crianças de uma creche para filhos de operários em San Lorenzo, bairro operário de Roma. Tal trabalho dá origem à famosa Casa dei Bambini (Casa das Crianças), que vem a se tornar o primeiro modelo de educação montessoriana, bem como um dos primeiros modelos de creche baseados no paradigma do educar, em contraposição ao paradigma do cuidar. Montessori publica alguns livros, entre eles O método da pedagogia científica, que divulga seu trabalho pelo mundo e a afasta definitivamente da Medicina, uma vez que passa a dedicar-se exclusivamente à Pedagogia. Seu método, maneira como passaram a chamar a pedagogia montessoriana, é adotado em vários países como Itália, Panamá, Estados Unidos, Inglaterra, Rússia, Canadá, México, Bolívia, Equador, Venezuela, Brasil, Chile, Argentina e Holanda. O sucesso do método montessoriano é, em parte, relativo aos materiais pedagógicos específicos para crianças de 6 a 11 anos inventados por ela. Apesar de todo o sucesso alcançado, inclusive internacionalmente, as escolas montessorianas Teorias da Aprendizagem 100 italianas são fechadas durante a Segunda Guerra Mundial, uma vez que Montessori recusa-se a apoiar o regime fascista ditatorial comandado por Benito Mussolini. Com o fim da Segunda Guerra, Montessori publica os livros A formação do homem; Para educar o potencial humano; e O que você precisa saber sobre seu filho, todos destinados a discutir a educação da vontade e da atenção na criança, maneira pela qual a mesma tem liberdade de escolher o material a ser utilizado durante sua pedagogização, além de proporcionar a cooperação. A pedagogia montessoriana consiste em harmonizar a interação de forças corporais e espirituais, o corpo, a inteligência e a vontade da criança, buscando uma pedagogia livre de repressões e plena de diálogo e reflexão sobre a autoconstrução da criança. Maria Montessori morre em 1952, após anos de dedicação ao desenvolvimento de crianças deficientes e não-deficientes a partir do contato com práticas pedagógicas diferenciadas. A pedagogia montessoriana O processo educativo divulgado por Montessori sofreu grande influência dos trabalhos desenvolvidos por Edouard Séguin, psiquiatra conhecido por seu trabalho junto às crianças deficientes. Foi durante sua experiência clínica em Psiquiatria, trabalhando em manicômios, que Montessori conheceu de fato o modelo pedagógico desenvolvido por Séguin para o tratamento e educação dos chamados idiots savants ou anormais. Segundo Nicolau (2005, p.8), o método do pesquisador parte da tese que os repertórios motores, verbais e intelectuais se constroem sobre o processo de evolução ontogenética (a partir dos aparelhos nervosos do sistema nervoso). [...] Séguin propõe em sua obra uma variedade enorme de técnicas de ensino especiais, acompanhadas de inúmeros exemplos para aplicação com diferentes tipos e níveis de crianças deficientes e que abrangem as diversas áreas da vida do educando. Tal proposta educacional baseava-se no princípio da seriação, também utilizado por Montessori, que o justificava pelo fato de só podermos cobrar o domínio de uma tarefa de uma criança quando todo o repertório necessário para a sua execução tiver sido dominado pela mesma. Quando, em 1907, Montessori inaugura a Casa dei Bambini, passa a dedicar- se ao desenvolvimento da criança completa, visando não só a instrução,