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Arlindo Ugulino Netto ● MEDRESUMOS 2016 ● FISIOLOGIA 1 www.medresumos.com.br FUNÇÕES REPRODUTIVAS FEMININAS As funções reprodutivas femininas estão divididas, fisiologicamente, em duas fases: preparação do corpo para a concepção e estado de gestação. CONCEITOS Menarca: o termo menarca significa a primeira menstruação e traduz um importante evento no amadurecimento do eixo hipotálamo-hipófise-ovário. Acontece em médio entre o 11 e 14 anos, mas sua ocorrência é aceitável dos 9 aos 16 anos. Menstruação: é um sangramento genital de origem intrauterina, periódico e temporário na mulher, que se manifesta aproximadamente a cada mês, que se inicia com a menarca e termina com a menopausa. Menacme: período reprodutivo da mulher. Inicia-se com o amadurecimento do eixo hipotálamo-hipófise-ovário. Em outras palavras, tem início com a resposta do LH ao estímulo gonadotrófico, que é mais tardia que a do FSH. Após a produção folicular adequada, com produção de níveis de estradiol maiores que 200ng/ml durante 24 a 36h, ocorrerá o primeiro pico de LH, com ovulação e consequente menstruação. Climatério: tem início com o declínio progressivo da atividade gonadal da mulher. Este período de sua vida é o de transição entre o ciclo reprodutivo (menacme) e o não reprodutivo (senilidade ou senectude). Síndrome climatérica: é conjunto de sintomas que são atribuíveis à insuficiência ovariana progressiva. É importante salientar que nem sempre o climatério é sintomático. Menopausa: o termo “menopausa” significa “ultima menstruação”. É o evento que marca o climatério. Constitui o único ponto de referência durante o climatério que pode ser determinado com exatidão. Ocorre, em geral, entre os 45 e 55 anos de idade e só pode ser diagnosticada após 12 meses consecutivos de amenorreia (ausência de menstruação). Período perimenopausa: período que se inicia antes da menopausa com ciclos menstruais irregulares, acompanhados ou não de manifestações vasomotoras, e termina 12 meses após a menopausa. Período pós-menopausa: período que se inicia após um ano (12 meses) da ultima menstruação e vai até os 65 anos de idade. Senectude ou senilidade: período da vida que se segue ao climatério e tem início aos 65 anos. SISTEMA HORMONAL FEMININO Basicamente, o sistema hormonal feminino trabalha baseado nos seguintes hormônios: Hormônio Liberador de Gonadotrofina (GnRH), liberado pelo hipotálamo; FSH e LH, liberados pela hipófise anterior; Estrogênio e Progesterona, liberados pelos ovários. GnRh: o hormônio liberador de gonadotrofinas é um hormônio produzido de forma pulsátil em neurônios do núcleo arqueado do hipotálamo. Este hormônio é responsável por estimular a adeno-hipófise a secretar gonadotrofinas, que são o FSH e o LH. FSH e LH: são hormônios produzidos pela adeno-hipófise (sob estímulo hipotalâmico), e são conhecidos por gonadotrofinas por atuar nas gônadas femininas (ovários). Esses hormônios são responsáveis por estimular a função do ovário, que corresponde à ovulação. o Hormônio folículo-estimulante (FSH): é o hormônio responsável por estimular e recrutar folículos ovarianos dentre os quais, haverá a formação de um óvulo. Portanto, os folículos nada mais são que um grupo de células recrutadas inicialmente pelo FSH que abrigam o óvulo. O FSH, atuando no ovário, estimula o crescimento de vários folículos (de 10 a 15 deles), mas apenas um se destaca, rompe-se e libera o óvulo. Sabendo disso, podemos tirar a seguinte conclusão: o FSH deve estar alto no início do ciclo menstrual, de modo que, quando a mulher menstrua, o FSH atinge níveis elevados no intuito de recrutar novos folículos para que um deles permita a ovulação no novo ciclo que se inicia. O FSH é, portanto, um hormônio que começa com altos níveis no início do ciclo. o Hormônio luteinizante (LH): tem uma importância maior no momento da ovulação e na 2ª fase do ciclo menstrual (após a ovulação). Estrógeno: é considerado o hormônio mais importante para a mulher e o principal produto ovariano, sendo produzido desde a primeira menstruação até a menopausa, tendo ainda uma discreta produção hormonal através de conversão periférica (por tecido adiposo). É, justamente, o hormônio que dá os caracteres sexuais femininos que a diferencia do homem. O estrogênio é produzido durante todo o ciclo menstrual. Vale salientar que dois tipos de estrogênio são produzidos no ovário: a estrona e o estradiol (sendo este o mais importante e mais produzido). Progesterona: a partir do próprio termo (“pró-gesta”) podemos admitir que a progesterona é um hormônio fundamental para a manutenção da gravidez (tanto é que a mulher que não produz progesterona, sofre Arlindo Ugulino Netto; Alanna Almeida Alves. FISIOLOGIA 2016 Arlindo Ugulino Netto ● MEDRESUMOS 2016 ● FISIOLOGIA 2 www.medresumos.com.br abortamentos). Por essa razão, a progesterona é produzida a partir do momento da ovulação e, portanto, apresenta níveis elevados apenas na 2ª fase do ciclo menstrual, sendo produzida pelo corpo lúteo, uma “casquinha” amarela que sobra do folículo após a ovulação. OBS: Para que a ovulação ocorra, o LH deve chegar ao pico, e o estrogênio e a progesterona em baixa quantidade. Os anticoncepcionais hormonais combinados possuem estrógeno e progesterona sintéticos, que, quando em concentrações altas e constantes, inibem a ação direta do LH (hormônio responsável pela ovulação). FUNÇÕES DOS HORMÔNIOS DA HIPÓFISE ANTERIOR E CICLO OVARIANO O ciclo menstrual (tem duração de 28 dias, aproximadamente) causa: Alterações rítmicas mensais na secreção de hormônios no geral. Alterações nos próprios órgãos femininos. Consequências do Ciclo Menstrual: Um só óvulo maduro é liberado. Preparação do endométrio uterino para a implantação do possível óvulo fecundado. As alterações ovarianas dependem dos hormônios gonadotrópicos da adeno-hipófise: FSH e LH. Na ausência desses hormônios, os ovários permanecem inativos Tem início entre os 11 e 15 anos, sendo marcada pela menarca (1ª menstruação). O período de modificações fisiológicas, corporais e hormonais é denominada período da puberdade. CICLO MENSTRUAL (CICLO OVARIANO) O ciclo menstrual resulta da interação entre três importantes componentes do sistema endócrino: hipotálamo- hipófise-ovário. Compartimento IV – Hipotálamo: responsável por liberar o GnRH, que é secretado de forma pulsátil para a produção do FSH e do LH por parte da hipófise. Esses pulsos de secreção variam em frequência e amplitude em todo o ciclo menstrual. o Fase folicular (antes da ovulação): ↑frequência e ↓amplitude. o Fase lútea (após a ovulação): ↓frequência e ↑amplitude. A variação na frequência do pulso de GnRH permite a variação do FSH e do LH durante todo o ciclo menstrual. Compartimento III – Adenoipófise: o GnRH age sobre células da hipófise anterior, estimulando-as a produzir FSH e LH na circulação. Neste compartimento, ocorre também a produção de outros hormônios (TSH, GH, ACTH e prolactina) que não participam diretamente do ciclo menstrual. OBS: A secreção de prolactina, hormônio primariamente relacionado à lactação, é regulada pelo controle inibitório da dopamina secretada no hipotálamo. Portanto, tumores que acometam e obstruam a circulação porto- hipofisária prejudicam a liberação dos fatores hipotalâmicos até a hipófise, causando um quadro de hipopituitarismo + hiperprolactinemia (clinicamente: anovulação, amenorreia e galactorreia). Compartimento II – Ovariano: representam as gônadas femininas e são responsáveis pela produção de esteroides sexuais e pelo desenvolvimento dos folículos imaturos até sua fase final de amadurecimento. Em outras palavras, os ovários possuem um duplo papel: produção de gametas e síntese de hormônios. Funcionalmente, os ovários podem ser divididos em dois compartimentos: o Teca ou estroma: camada mais externa relacionada com a produção dos androgênios.Sofre ação do LH. o Granulosa: camada mais interna, que sofre ação do FSH, e que, a depender da fase do ciclo ovariano na qual se encontra, pode produzir produtos diferentes: Folicular: produção de estrogênio (estradiol) e inibina B (B de “before”, pois é liberado antes da ovulação). o Estradiol: é conhecido por sua ação no desenvolvimento folicular e endometrial, além da produção de LH no meio do ciclo. o Inibina B: secretada pelas células da granulosa mediante o estímulo do FSH ainda na fase folicular, e tem por função inibir a síntese do próprio FSH. Lútea: produção de progesterona e iniba A (A de “after”, pois é liberado após a ovulação). Arlindo Ugulino Netto ● MEDRESUMOS 2016 ● FISIOLOGIA 3 www.medresumos.com.br o Progesterona: é conhecida por sua ação na manutenção do arcabouço endometrial e pela retroação negativa sobre a secreção hormonal hipotalâmica. o Inibina A: secretada pelo corpo lúteo (células granulosas luteinizadas) sob controle do LH. Juntamente com o estradiol, controla a secreção do FSH na transição lúteo- folicular. Compartimento I – Útero-vaginal: sofre inteira influência dos hormônios distintamente secretados nas fases do ciclo, de tal forma que, analogamente ao ciclo ovariano, podemos dividir o ciclo uterino em três fases: proliferativa, menstrual e secretora Teoria das duas células – duas gonadotrofinas e Ovulação Em nível hipotalâmico, o GnRh é produzido e passa a estimular, via trato túbero-infundibular e sistema porta-hipofisário, a adeno-hipófise a liberar as duas gonadotrofinas: FSH e LH. Esses hormônios, em nível ovariano, vão atuar em camadas diferentes do folículo: o FSH atua na camada mais interna do folículo, que é a granulosa; enquanto que o LH atua na camada mais externa, que é a teca. Daí, tem início a produção de hormônios foliculares: na granulosa ocorre a formação de estrogênio e na teca, a produção de androgênios. Essa é a importante teoria das duas células, duas gonadotrofinas: ela afirma que há uma subdivisão e uma atividade de síntese de hormônios esteroides em compartimentos no folículo em desenvolvimento. Nos folículos pré-antrais e antrais, os receptores de FSH estão disponíveis apenas nas células da granulosa, enquanto que os receptores para LH estão presentes apenas nas células da teca. E como vimos, enquanto que a granulosa produz estrogênio (de fundamental importância para o início do ciclo menstrual), a teca produz androgênios, que não tem nenhuma importância direta para a ovulação. Ocorre, então, que os androgênios produzidos nas células da teca são transportados para as células da granulosa, onde sofrem ação da enzima aromatase, que promove um processo de aromatização e converte os androgênios em estrogênios (estrona e estradiol). A ação da aromatase depende, entretanto, a ação do FSH nas células da granulosa – portanto, diz-se que o FSH é fundamental para a conversão de androgênios em estrogênios. Todo esse processo ocorre ainda na primeira fase do ciclo menstrual, com o intuito de produzir testosterona para recuperar a camada endometrial uterina que receberá um eventual ovo fecundado. A partir de um determinado nível, esse estrogênio produzido passa a realizar um feedback positivo, de modo que a elevação dos seus níveis promove, de forma direta, o aumento do LH. Daí gera-se um ciclo, de modo que o LH passa a atuar mais nas células da teca, produzindo mais androgênios, que são deslocados para as células da granulosa para sofrer aromatização, produzir estrogênio e estimular ainda mais a síntese de LH, reiniciando o ciclo. O aumento concomitante de estrogênio estimula o pico de LH, e este, a ovulação. A ovulação ocorre como resultado da ação simultânea de diversos mecanismos que ocorrem no folículo dominante, que estimulam a sua maturação e induzem a rotura folicular. Somente o folículo que atinge seu estágio final de maturação é capaz de se romper. O marcador fisiológico mais importante da aproximação da ovulação é o pico de LH do meio do ciclo, o qual, como vimos, é precedido por aumento acelerado do estradiol. Sabidamente, o folículo pré-ovulatório (também conhecido como folículo de Graaf) produz, coma síntese crescente de estradiol, seu próprio estímulo ovulatório. O pico de estradiol estimula o pico de LH e, consequentemente, a ovulação. Após o processo de ovulação, o resquício do folículo forma uma estrutura celular amarelada conhecida como corpo lúteo, que sob ação do hormônio luteinizante (o LH), passará a produzir a progesterona. OBS: Se a paciente não ovular, obviamente, não haverá produção de progesterona. Arlindo Ugulino Netto ● MEDRESUMOS 2016 ● FISIOLOGIA 4 www.medresumos.com.br FASES DO CICLO OVARIANO É dividido em três fases: folicular, ovulatória e lútea (a fase menstrual pode ser incluída separadamente; mas por definição, corresponde à primeira parte da fase folicular). A fase folicular se estende do 1º dia da menstruação até o dia do pico de LH, no meio do ciclo. A fase ovulatória inclui três fenômenos principais, a saber: recomeço da meiose, pequeno aumento na produção de progesterona (12 a 24h antes da ovulação) e rotura folicular. Já a fase lútea compreende o período da ovulação até o aparecimento da menstruação, e tem duração fixa: 14 dias. Arlindo Ugulino Netto ● MEDRESUMOS 2016 ● FISIOLOGIA 5 www.medresumos.com.br Fase Menstrual (do dia 1 ao dia 5, aproximadamente): É caracterizada pela descamação da camada funcional do endométrio (menstruação), caracterizando o inicio do ciclo. Esta fase ocorre devido à regressão do corpo lúteo que cessa a secreção de progesterona e estrogênio. Com isso, o endométrio deixa de ser estimulado a permanecer, causando a interrupção de oxigênio e nutrientes, levando a necrose da camada funcional. Na menstruação, é liberado cerca de 35mL de sangue. Folicular (do dia 1 até a ovulação, tendo um período variável): nesta fase, acontece uma sequência ordenada de eventos que assegura o recrutamento de uma nova coorte de folículos para a seleção do folículo dominante. O resultado final é um único folículo maduro viável. Este processo demora cerca de 10 a 14 dias. 1. Recrutamento folicular à ovulação a partir do aumento do FSH: o recrutamento se inicia no final da fase lútea do ciclo anterior, a partir da regressão do corpo lúteo e do aumento do FSH. 2. O FSH aumenta a produção estrogênica, promove o crescimento da granulosa e estimula a atividade da aromatase. 3. As células da teça produzem androstenediona e testosterona sob efeito do LH. 4. As células da granulosa produzem estradiol a partir dos androgênios, sob estímulo da aromatase (dependente do FSH). 5. Seleção do folículo dominante, caracterizado pela maior presença de receptores de FSH e, por isso, maior ação da aromatase e produz mais estrogênio. OBS: O desenvolvimento folicular é contínuo, ocorrendo mesmo em mulheres que não estão ovulando (infância, gestação ou em uso de anticoncepcionais orais). Ovulatória: a ovulação acontece como resultado da ação simultânea de diversos mecanismos que ocorrem no folículo dominante. O marcador fisiológico mais importante da aproximação da ovulação é o pico do LH do meio do ciclo, o qual é precedido por aumento acelerado do nível de estradiol. 6. O pico de estradiol (produzido pela ação da aromatase) estimula o pico do LH e, consequentemente, a ovulação. 7. A ovulação ocorre aproximadamente 32 a 36 horas após o início da elevação dos níveis de LH e cerca de 10 a 12 horas após seu pico máximo. Fase lútea (inicia no dia da ovulação e tem duração fixa de 14 dias): O aumento dos níveis de progesterona de forma aguda caracteriza esta fase. 8. Folículo roto formação do corpo lúteo. 9. Ocorre o a luteinização, que corresponde ao processo em que as células da granulosa passam a produzir progesterona (“pró-gestação”). 10. O aumento agudo dos níveis de progesterona caracteriza esta fase 11. É uma fase de duraçãofixa, de aproximadamente 14 dias (portanto, a mulher “sempre” menstrua 14 dias após a ovulação). 12. Com a regressão do corpo lúteo, que ocorre ao final da fase lútea, ocorre queda dos níveis circulantes de estradiol, progesterona e inibina A. 13. O decréscimo da inibina A remove a influência supressora sobre a secreção de FSH pela hipófise, e este volta a se elevar antes da menstruação (sinal para iniciar um novo recrutamento folicular). Resumo do ciclo menstrual (dia a dia) 1º dia do ciclo: é o primeiro dia da menstruação Os hormônios, tanto hipofisários como ovarianos estão em baixa concentração. A partir dos dias seguintes do inicio do ciclo, ocorre aumento na concentração do FSH no sangue, que estimula a maturação (meiose) do folículo ovariano. O sangramento chega a durar cerca de 5 dias e gradativamente, a concentração de FSH aumenta. 6º - 7º dia do ciclo: o sangramento cessa. O folículo em amadurecimento libera estrógeno. A partir do 7º dia, o útero começa a produzir uma camada nova e vascularizada no endométrio (tecido que será liberado na próxima menstruação). O folículo atua sobre o útero estimulando esse desenvolvimento do endométrio. OBS: O estrógeno ainda atua sobre o corpo estimulando o surgimento das características sexuais secundárias femininas. 10º dia do ciclo: já com uma grande concentração de FSH e estrógeno, este ainda atua sobre a hipófise estimulando a liberação de LH, o hormônio responsável pela ovulação. Por cerca do 14º dia, a mulher atinge o pico de LH, alcançando assim a ovulação. Arlindo Ugulino Netto ● MEDRESUMOS 2016 ● FISIOLOGIA 6 www.medresumos.com.br 14º dia do ciclo: com a ovulação, a progesterona e o estrógeno, combinados, inibem a ação da hipófise (feedback, inibindo a liberação de FSH e LH). Existe medicamentos anticoncepcionais que são compostos por progesterona e estrógeno, os quais impedem a ovulação. 15º dia do ciclo: o corpo lúteo (pequena ferida que marca o local da saída do ovócito II) passa a liberar progesterona (último hormônio a aumentar de concentração) que vai atuar no útero, estimulando a continuação do desenvolvimento do endométrio. 16º - 19º dia do ciclo: LH e FSH em queda Progesterona e Estrógeno em alta. Caso não ocorra a fecundação Caso ocorra a fecundação 21º dia do ciclo: cicatrização do corpo lúteo que passa a produzir menos estrógeno e progesterona. 22º - 27º dia do ciclo: hormônios em baixa concentração (Tensão pré-menstrual) 28º dia do ciclo: ocorre a menstruação. A partir daí inicia- se um novo ciclo. Supomos que a fecundação ocorra no 14º dia do ciclo. O corpo lúteo, no ovário, é estimulado a não cicatrizar e passa a secretar estrogênio e progesterona para manter a gravidez durante os primeiros meses. Ocorre a liberação do hCG (gonodotrofina coriônica) pelas células formadas após a fecundação. Com a chegada do bastocisto (nidação) ao útero, a placenta começa a ser formada. Semanas depois da fertilização, ela será a responsável pela produção de progesterona. OBS: O “Método Anticoncepcional da Tabelinha”. O método rítmico, mais conhecido como “tabelinha menstrual” ou método de Ogino-Knaus (nome dado devido a Hermann Knaus e Kyusaku Ogino), é um método contraceptivo que consiste em estimar a data da ovulação, por forma a evitar contactos sexuais durante o período fértil. A ténica correta e descrita em alguns livros consiste na seguinte: para prever o dia da ovulação, observa-se a duração dos 8 últimos ciclos menstruais e anota-se o número de dias do maior e do menor ciclo. Do número de dias do menor ciclo, diminuem-se 18 dias. Do número de dias do maior ciclo, diminuem-se 11 dias. O espaço de dias compreendido entre esses dois números é o período fértil. Evita-se a relação sexual desprotegida durante este período. Contudo, para mulheres com ciclo rigorosamente regular, podemos tomar como base o dia da ovulação de fato. Para mulheres com ciclo regular de 28 dias, por exemplo, deve-se evitar o coito desprovido de outros métodos contraceptivos durante o período que compreende três dias antes e três dias depois da ovulação. Tal teoria parte do pressuposto que a vida média do espermatozoide no sistema reprodutor feminino é de cerca de 2 dias – tempo necessário para uma eventual fecundação na vigência de uma relação sexual desprotegida durante este período fértil. O método da tabelinha não é seguro, com taxa de falha particularmente elevada do método de 10% por ano, porque a data da ovulação pode variar em virtude de diversos fatores. MATURAÇÃO DOS FOLÍCULOS Desenvolvimento dos folículos devido a liberação de FSH e LH. Um folículo se desenvolve mais que todos os outros, secretando mais estrogênio, aumentando os receptores de FSH e LH. Ocorre a formação do antro, contendo líquido folicular (alta concentração de estrogênio). Depois da ovulação, o estrogênio inibe o hipotálamo, reduzindo a liberação de FSH. Os outros folículos sofrem atresia (parada do desenvolvimento, diminuindo como se nada tivesse acontecido). Arlindo Ugulino Netto ● MEDRESUMOS 2016 ● FISIOLOGIA 7 www.medresumos.com.br OVULAÇÃO É necessária alta concentração de LH: aumento, no 14º dia, aproximadamente de 6 a 10 vezes na sua liberação em relação ao inicio do ciclo (concentração duas vezes maior que o FSH). Ocorre cerca de 14 dias após o inicio do ciclo menstrual. EIXOS HORMONAIS DE ESTIMULAÇÃO E INIBIÇÃO É necessário aos hormônios envolvidos no ciclo menstrual o controle dos níveis de gonadotrofinas, sobretudo na 2ª fase do ciclo, após a ovulação, uma vez que o FSH e o LH já teriam realizado suas funções. Para isso, atuam, justamente, o estrogênio e a progesterona, da seguinte forma: Estrogênio Progesterona O estrogênio, como vimos anteriormente, é responsável por um feedbackpositivo com o LH, pois estimula a produção desse hormônio. Por outro lado, a partir do momento que um folículo ovariano se destaca e ovula, não há mais a necessidade de recrutar mais folículos; daí, o estrogênio promove uma feedback negativo com o FSH (por esta razão que o FSH começa alto e já tem redução dos seus níveis ainda na 1ª fase do ciclo menstrual, que é quando o estrogênio e o LH se elevam). A progesterona é produzida apenas se a ovulação ocorreu, com o intuito de preparar o corpo da mulher para a gestação. Com isso, a ovulação não se torna mais necessária para uma mulher que, teoricamente, já teria engravidado e, por isso, a progesterona promove um feedback negativo com o LH. Além dos processos de feedbacks realizados pelo estrogênio e progesterona, ainda existem as inibinas, peptídeos derivados das células da granulosa responsáveis por inibir a produção de FSH. A inibina B reduz a produção de FSH na 1ª fase do ciclo, enquanto que a inibina A reduz a produção de FSH na 2ª fase do ciclo. Se a mulher não engravida, as duas inibinas apresentam quedas em seus níveis ao término do ciclo, de modo que o FSH passa a ser produzido novamente, dando início a um novo ciclo menstrual a partir do recrutamento de novos folículos. OBS: Note que há um controle antagônico entre estrogênio e progesterona: enquanto o primeiro promove um feedback positivo para o LH, o segundo promove uma inibição da secreção desse LH. Entretanto, devemos tomar nota de um conceito importante neste impasse: “sempre, quem ganha essa briga, é a progesterona”, isso porque a progesterona inibe receptor de estrogênio. Isso é importante do ponto de vista de contracepção: se uma paciente faz uso de pílula anticoncepcional combinada (isto é, que apresenta em sua composição estrogênio e progesterona), o efeito final se caracteriza pela inibição de receptor de estrogênio. Em termos práticos, como se sabe, o estrogênio estimula no crescimento e desenvolvimento do gameta feminino, enquanto que a progesterona prepara para uma possível gravidez e inibe os receptores de estrogênio. Como quem predominanesse efeito é a progesterona, a mulher passa a ter um endométrio atrófico e passa a menstruar pouco. EFEITOS HORMONAIS EM OUTROS ÓRGÃOS Os hormônios produzidos ao longo do ciclo menstrual também interferem em outros fenômenos no corpo da mulher, como por exemplo, no endométrio, no muco cervical, na vagina e nas mamas. ENDOMÉTRIO O endométrio, após a menstruação, descama e passa a se apresentar, ao término do fluxo menstrual, de uma forma “careca”, incapaz de receber um embrião adequadamente. Há, portanto, a necessidade da ação do estrogênio, hormônio capaz de proliferar essa camada. Arlindo Ugulino Netto ● MEDRESUMOS 2016 ● FISIOLOGIA 8 www.medresumos.com.br O estrogênio realiza, portanto, no início do ciclo menstrual, a hiperplasia endometrial. Por esta razão, diz-se que a 1ª fase do ciclo menstrual é a fase proliferativa em nível endometrial. Após a ovulação, o endométrio passa, então, a se preparar para uma eventual gravidez, passando a sofrer ação agora da progesterona, hormônio que garante ao endométrio as secreções e subsídios necessários para nutrir o novo embrião, caracterizando a fase secretora do ciclo menstrual em nível endometrial. VAGINA Na primeira metade do ciclo (predomínio estrogênico), o esfregaço vaginal constitui-se de células eosinófilas isoladas, sem dobras nas suas bordas. É dito “limpo”, e os leucócitos estão praticamente ausentes. Na segunda metade do ciclo (estímulo progestacional), caracteriza-se pela presença de células basófilas dispostas em grupos e que evidenciam dobras em suas bordas. É dito “sujo”, com grande número de leucócitos. MUCO CERVICAL O muco cervical, produzido pelo epitélio glandular da endocérvice, está sujeito a profundas mudanças cíclicas aos níveis plasmáticos hormonais. Sob efeito do estrogênio – Fase Folicular Sob efeito da progesterona – Fase Lútea Como o estrogênio age na 1ª fase do ciclo (fase em que, teoricamente, a “mulher busca um parceiro para procriar”, ocorre uma maior produção de fluidos vaginais, com uma quantidade cada vez maior de muco). O muco é fluido, em grande quantidade e capaz de formar “fios” (filância). Abundante e fluido Filância: o muco cervical torna-se mais fluido, comparável à clara de ovo, e adquire a capacidade de elasticidade. Cristalização arboriforme: o teste da cristalização baseia-se na propriedade que o muco cervical tem de formar cristais. A cristalização típica em folha de samambaia é característica à microscopia. Após a ovulação, os fenômenos de filância e cristalização deixam de ser observados em virtude da produção de progesterona pelo corpo lúteo. Com a ação da progesterona, o muco passa a servir como um meio de proteção da eventual gravidez. Na 2ª fase do ciclo, o fluido passa a apresentar as seguintes características: Grosso e viscoso, sem filância Muco escasso e espesso Sem cristalização Todas essas mudanças são capazes de ocluir o colo do útero, tornando um ambiente hostil aos espermatozoides. Esse mesmo muco, ao término da gravidez (quando a mulher entra em trabalho de parto) é eliminado logo que a progesterona deixa de atuar, sendo um importante sinal do parto. Arlindo Ugulino Netto ● MEDRESUMOS 2016 ● FISIOLOGIA 9 www.medresumos.com.br ATO SEXUAL FEMININO ESTIMULAÇÂO Funciona semelhante à estimulação sexual masculina, variando apenas com o período do mês sexual: atinge seu auge próximo à época da ovulação (elevados níveis de estrogênio). ETAPAS 1. Ereção: é controlado pelo SN parassimpático. Ocorre a dilatação das artérias do tecido erétil devido à secreção de NO e acetilcolina, gerando rápido acumulo de sangue. 2. Lubrificação: os sinais parassimpáticos estimulam imediatamente a secreção de muco, responsável por grande parte da lubrificação durante o coito. 3. Orgasmo feminino: é análogo a emissão e ejaculação masculinas e, talvez, ajude a promover a fertilização do óvulo. O orgasmo permite um rápido acesso dos espermatozoides ao óvulo, com intuito de fecundá-lo. 4. Resolução: é mais demorada e complexa do que no homem, seguida de uma sensação de relaxamento. FUNÇÃO DOS ESTRÓGENOS Desenvolvimento das características sexuais femininas primárias e secundárias: Função primária: causar proliferação celular e crescimento dos tecidos dos órgãos sexuais e outros tecidos relacionados à reprodução; Aumento da genitália externa pelo depósito de gordura no monte pubiano e grandes lábios; Aumenta várias vezes de tamanho os ovários, as tubas uterinas e a vagina; Modificação do epitélio vaginal de cuboide para estratificado (mais resistente a traumas e infecções); OBS: Infecção vaginal em crianças pode ser curada pela administração de estrogênios tópicos. Proliferação do endométrio; Aumento do útero; Deposição de gorduras nas mamas; Desenvolvimento dos tecidos estromais das mamas e crescimento de um vasto sistema de ductos; OBS: É a progesterona e a prolactina que determinam o crescimento e a função dos lóbulos e alvéolos das mamas. Proliferação dos tecidos glandulares que revestem a tuba uterina e aumento do número de células ciliadas (atividade intensificada dos cílios que sempre batem na direção do útero); Inibe a atividade osteoclástica nos ossos (estimula o crescimento ósseo); OBS: Depois da menopausa, quase nenhum estrogênio é secretado, levando a uma maior atividade osteoclástica, a uma diminuição da matriz óssea e a um menor depósito de cálcio e fosfato, causando a osteoporose. Causa a união das epífises com a haste dos ossos longos; Aumenta ligeiramente o depósito de proteínas → efeito promotor do crescimento do estrogênio sobre os órgãos sexuais, ossos e alguns poucos tecidos do corpo; Aumenta o metabolismo corporal (mais do que a testosterona); Causa o depósito de quantidades maiores de gordura nos tecidos subcutâneos; Os estrógenos causam a retenção de sódio de água nos túbulos renais; Desenvolvimento da textura macia e lisa da pele (a pele se torna mais vascularizada, mais quente); OBS: Não afetam muito a distribuição de pelos – os androgênios são os principais responsáveis por isso. Arlindo Ugulino Netto ● MEDRESUMOS 2016 ● FISIOLOGIA 10 www.medresumos.com.br FUNÇÃO DA PROGESTERONA É um hormônio produzido pelas células do corpo lúteo do ovário. Promove mudanças secretórias no endométrio do útero, preparando-o para a implantação do óvulo fertilizado; Diminui as contrações uterinas, evitando a expulsão do óvulo implantado; Promove maior secreção pelo revestimento mucoso das tubas uterinas, necessário para nutrir o óvulo fertilizado e em divisão enquanto ele atravessa a tuba, antes de implantar no útero. Desenvolve os lóbulos e alvéolos das mamas (proliferam e aumentam de tamanho, adquirindo natureza secretória).
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