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que a sessão duraria 50 minutos e considerou-se que tempos de realização abaixo de 17 minutos – média dos tempos – como tempo total reduzido. Os indicadores expressos na cena foram: criação de barreiras, preocupação estética, invasão de conteúdos e desorganização. A criação de barreira foi verificada na forma de miniaturas formando um cercado em volta de outras miniaturas, situação na qual os pesquisadores ficaram impossibilitados de observar a confecção da cena em sua totalidade. As barreiras abriam-se em direção aos colaboradores fechando-se em direção aos pesquisadores. Pode-se levantar a hipótese que criação de barreiras entre o pesquisador e o colaborador seja uma expressão da necessidade inconsciente de proteção dos conteúdos projetados. Simbolicamente, a barreia apresenta-se como uma reserva sagrada, local intransponível proibido a todos, exceto ao iniciado (Chevalier, 1999). O jogo de areia: um estudo sobre indicadores de resistência ao instrumento Boletim de Iniciação Científica em Psicologia – 2001, 2(1): 92-104 100 A preocupação estética foi configurada pela tentativa do colaborador em expressar suas fantasias por meio de um padrão estético muito evidenciado. Ao organizar a cena para que ela fique “apresentável” ou “bonita” para o outro ver, ocorre um controle da expressão. Fierz (1988) afirma que a dificuldade do paciente em relatar seus sonhos ou fantasias de maneira natural, prendendo-se ao aspecto estético da imagem, pode dificultar a intervenção do psicoterapeuta. A invasão de conteúdos na cena pode ser comparada ao excesso de verbalização durante uma sessão. Ao preencher a caixa de miniaturas como se fosse necessário preencher todos os espaços livres, o colaborador sobrecarrega a percepção do terapeuta que pode ficar paralisado frente ao excesso de informações. Em decorrência da invasão de conteúdo, a constituição da cena também parece ser dificultada prevalecendo a desorganização da mesma. Considerou-se cenas com pouca organização as que foram construídas com muitas miniaturas sem a presença de uma estrutura e integração entre as mesmas que permitisse a configuração de uma história. Observou-se que tanto nos colaboradores do sexo feminino como do masculino os indicadores comportamentais foram mais freqüentes do que os expressos na representação na cena. TABELA DE FREQÜÊNCIA DOS INDICADORES Melissa Migliori Machado; Rodrigo Manoel Giovanetti; Simone Correa Silva; Paulo Afranio Sant’anna Boletim de Iniciação Científica em Psicologia – 2001, 2(1): 92-104 101 Psicologi a Engenha ria Direito Total indic. Indicadores Fem . Mas c. Fem . Mas c. Fem . Mas c. Fem . Mas c. Descrição da cena 2 2 2 3 1 3 5 8 Não tocar na areia 1 1 2 3 3 0 6 4 Excesso de verbalização 2 0 1 3 1 1 4 4 Tempo total reduzido 0 1 0 2 2 1 2 4 Criação de barreira 2 2 1 3 1 0 4 5 Invasão de conteúdos 2 0 0 1 0 0 2 1 Preocupação estética 0 0 2 1 0 0 2 1 Desorganização 1 0 0 0 0 0 1 0 Total 10 6 8 16 8 5 26 27 Indicadores expressos no comportamento Indicadores expressos na representação da cena Considerações finais: Apesar da ocorrência de indicadores de resistência nenhum colaborador deixou de fazer a cena como solicitada, oferecendo material para que o pesquisador verificasse dados sobre a dinâmica psíquica dos mesmos. Esse resultado sugere que tanto as resistências como as características do instrumento não constituíram fatores impeditivos para a aplicação do jogo de areia, o que contribui com a hipótese de que este pode ser utilizado com êxito nos procedimentos da clínica escola. Em função desse resultado levanta-se outra hipótese: que a resistência observada esteja mais relacionada à situação de avaliação O jogo de areia: um estudo sobre indicadores de resistência ao instrumento Boletim de Iniciação Científica em Psicologia – 2001, 2(1): 92-104 102 e a falta de vínculo entre o pesquisador e colaboradores do que ao instrumento em si. Em relação à situação de avaliação, o fato dos estudantes de psicologia terem familiaridade com instrumentos de avaliação psicológia, pode ter contribuído para a elevada frequência de indicadores nesse grupo. A falta de vínculo terapêutico também deve ser considerada com uma possível variável presente em todos os grupos. O grupo que apresentou maior índice de resistência foi o de estudantes de engenharia, o que sugere que o perfil racional e prático do engenheiro seja um fator de interferência no uso de técnicas clínicas, cuja modalidade de expressão e reflexão ocorre predominantemente no plano não-verbal e emocional. Em termos de frequência não foi observada uma diferença significativa entre homens e mulheres, quando considerados os dados na totalidade da amostra. Porém se comparados entre si, destaca-se a ocorrência de maior resistência entre mulheres no grupo de psicólogos, o que difere dos outros grupos. Levanta-se a hipótese que por ser seu campo de estudo, os estudantes homens tenham mantido um distanciamento técnico em relação ao exercício proposto o que favoreceu uma aproximação menos ansiosa do jogo. Jung (apud Withmont, 1969) afirma que a psique do homem está mais orientada para a objetividade dos fatos e para a razão em detrimento do envolvimento afetivo emocional, mais característico da orientação psíquica das mulheres. Nesse caso o fato das mulheres se envolverem mais afetivamente com suas atividades, aumentaria a tendência da constelação de conteúdos emocionais no jogo de areia, o que parcialmente poderia justificar a maior frequência de indicadores de resistência. Já os homens, por terem uma orientação mais racional e objetiva, tenderiam a permanecer distanciados emocionalmente realizando a atividade solicitada com uma visão mais técnica. Porém essa diferença não pode ser generalizada para toda amostra estudada. Melissa Migliori Machado; Rodrigo Manoel Giovanetti; Simone Correa Silva; Paulo Afranio Sant’anna Boletim de Iniciação Científica em Psicologia – 2001, 2(1): 92-104 103 Dos indicadores observados os mais freqüentes foram descrever a cena, não tocar a areia e a construção de barreiras, respectivamente. A atitude descritiva sugere o predomínio de uma reflexão racional sem a expressão direta do afeto e da fantasia. Esse tipo de pensamento é altamente estimulado no meio acadêmico, o que portanto pode ser um outro fator de interferência nessa amostra. Referências Bibliográficas AMMANN, R. (1991). Healing and transformation in sandplay. Chicago & La Salle, Illinois: Open Court.BRADWAY, K. et al. (1981). Sandplay studies. San Francisco, CA: C. G. Jung Institute. CABRAL, A. & NICK, E. (1989). Dicionário técnico de psicologia. São Paulo, Brasil: Cultrix. CAREY, L. J. (1999). Sandplay therapy with children and family. Northvale: Jason Aronson. CHEVALIER, J. & GHEERBRANT, A. (1999). Dicionário de símbolos. Rio de Janeiro, Brasil: José Olympio. FIERZ, H. K. (1988). Psiquiatria junguiana. São Paulo, Brasil: Paulus. FREUD, S. (1980). Resistência e anticatexia. [CD–ROM]. In: Edição eletrônica brasileira das obras psicológicas completas. (v. 20). Rio de Janeiro, Brasil: Imago. JACOBY, M. (1984). O encontro analítico. São Paulo, Brasil: Cultrix. JUNG, C. G. (1998A). A vida simbólica. Petrópolis, Brasil: Vozes. JUNG, C. G. (1998B). A natureza da psique. Petrópolis, Brasil: Vozes. KALFF, D. M. (1980). Sandplay. Massachusetts: Sigo Press.OCAMPO, M. L. S.; et al. (1981).