Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Criatividade e Inovação Prof. Ms. Nelson Roberto Furquim Gestão das Inovações Universidade Anhembi MorumbiGestão das Inovações2 Introdução As últimas décadas do século XX e já fortemente comprovado na primeira década do século XXI, encontraram a economia internacional passando por um período de inten- sas transformações, rearranjos e reestruturação. Isto acarreta uma impacto na forma de concorrência entre as empresas, entre os diferentes setores industriais e até mesmo entre os países. As inovações, sejam elas radicais ou incrementais, ganham cada vez mais um papel decisivo na estratégia competitiva entre as empresas. Paralela e complementarmente, torna-se uma vantagem o acesso a uma ampla base de informações científicas e tecnológicas. As inovações passam por processos evolutivos, na busca de adequação às movimenta- ções dos mercados e as empresas passam por ajustes internos nas formas de gestão, para se adequarem a essas novas características das inovações. É um processo integra- do e contínuo. E mais recentemente, as redes de inovação são apontadas como uma grande tendência em se tratando do tema inovação. Observa-se entre as organizações um grande número de arranjos de colaboração, assim como uma forte expansão dos meios de intercâmbio de informações e de cooperação tecnológica e científica. Universidade Anhembi MorumbiGestão das Inovações3 Chave do negócio: Processo de inovação O processo de inovação é fundamental para a empresa, pois está associado com a renovação e a evolução do próprio negócio (TIDD, BESSANT, PAVITT, 1997). É a partir do processo de renovação que a empresa cria e oferece novos produtos e serviços ao mercado. A inovação passa a ser uma atividade essencial, ligada tanto à sobrevivência da empresa, quanto ao seu cresci- mento. Segundo os autores Tidd, Bessant e Pavitt (1997), o processo de inovação contempla as seguintes etapas: 1 - Prospecção do ambiente externo e interno, com a intenção de identificar e proces- sar sinalizações relevantes sobre ameaças e oportunidades relacionadas ao pro- cesso de mudança; 2 - Seleção e decisão sobre quais dessas sinalizações a empresa responderá; toman- do-se como base uma visão estratégica para o crescimento da empresa; 3 - Obtenção de recursos que permitam a resposta às sinalizações. Isto poderá ocor- rer através da criação de algo novo (Pesquisa e Desenvolvimento) ou através da transferência de tecnologias; 4 - Implementação efetiva do projeto. Deve-se ressaltar também que o processo de inovação pode ser adaptado às particula- ridades de cada empresa, de modo a ser integrado à forma de construir conhecimento de cada uma delas. Universidade Anhembi MorumbiGestão das Inovações4 As grandes empresas podem terceirizar ou ter os seus próprios laboratórios de Pesquisa e Desenvolvimento. Já as empresas menores, buscam as soluções mais rápidas a partir da experiência prática. Uma característica essencial da inovação é ser uma atividade envolvida em incerteza (ROSEMBERG 1994). Desta forma, tem-se uma inabilidade de se prever o resultado do processo de prospec- ção, ou ainda de se determinar qual o melhor caminho para se atingir uma meta específica. Consequentemente há limitações nos planejamentos envolvendo inovações. Uma visão simplificada do processo de inovação pode apresentar duas vertentes básicas: - quando a inovação é originada nos laboratórios científicos é empurrada (“push”) para o mercado - quando a inovação é demandada (puxada – “pull”) por clientes ou pelo mercado, e é desenvolvida posteriormente. Nessas abordagens, não se pode deixar de considerar três elementos fundamentais: possibilidade tecnológica, competência e necessidade (demanda) de mercado. Schumpeter, um importante economista austríaco, fez uma distinção conceitual entre invenção e inovação e propôs o conceito de “destruição criativa”, que implica na difusão de novas tecnologias no mercado. Para ele, a invenção está relaciona à criação de algo novo e a inovação está associada ao processo de criar um produto comercial a partir de uma invenção, isto é, envolve tanto invenção como comercialização. Universidade Anhembi MorumbiGestão das Inovações5 O conceito de inovação, que leva ao desenvolvimento, envolve cinco casos (SCHUMPE- TER, 1982, p. 48): 1 - Introdução de um novo bem, com o qual os consumidores ainda não estejam famililiarizados – ou de uma nova qualidade de um bem. 2 - Introdução de um novo método de produção, que ainda não tenha sido testado pela experiência no ramo próprio da indústria de transformação, que de modo algum precisa ser baseado numa descoberta cientificamente nova, e pode consis- tir também em nova maneira de manejar comercialmente uma mercadoria. 3 - Abertura de um novo mercado, em que o ramo particular da indústria de trans- formação do país em questão não tenha ainda entrado. 4 - Conquista de uma nova fonte de oferta de matérias-primas ou de bens semima- nufaturados, independentemente do fato de que essa fonte já existia ou teve que ser criada. 5 - Estabelecimento de uma nova organização de qualquer indústria, como a criação de uma posição de monopólio (por exemplo, pela formação de trustes) ou a frag- mentação de uma posição de monopólio. Universidade Anhembi MorumbiGestão das Inovações6 Classificação das Inovações Um dos mais importantes estudiosos da inovação, AFUAH (2003), aponta que dentro de uma perspectiva econômica, em que a inovação pode trazer como resultado um produto superior, a inovação pode ser classificada de duas formas: Inovação radical: é aquela que leva a um produto/serviço superior em relação aos produtos/serviços existentes, os quais se tornam menos competitivos. Neste ponto vale ressaltar que novos produtos ou serviços são considerados superiores quando seu custo é mais baixo, ou seus atributos são novos ou melhorados, ou seja, eles possuem atribu- tos que nunca existiram naquele mercado ou que não existiam anteriormente. Inovação incremental: é aquela inovação que permite que os produtos ou serviços exis- tentes se tornem mais competitivos. Por outro lado, AFUAH (2003) também aponta que uma outra classificação de inovação pode ser feita, tomando-se como base o impacto causado nas competências da organi- zação: Inovação radical: quando o conhecimento tecnológico necessário para explorá-la é mui- to diferente do conhecimento tecnológico existente, tornando-o obsoleto. Como exem- plos temos: a criação dos automóveis, que acabou com a indústria de carruagens; na indústria fonográfica, a substituição do LP pelo CD e DVD, a máquina fotográfica digital substituindo a convencional. Universidade Anhembi MorumbiGestão das Inovações7 Inovação incremental: é aquela em que o conhecimento exigido para oferecer novos produtos ou serviços é desenvolvido com base no conhecimento atual. Exemplos clás- sicos são mudanças de processos e melhorias de produtos ou serviços: telefone celular com música, máquina fotográfica; computadores/laptops/palmtops/netbooks. Evolução das Inovações Como parte do processo evolutivo da própria administração, decorrente da evolução dos mercados, das novas estratégias, da disponibilidade de novos conhecimentos e tec- nologias, entre outros, deve-se salientar neste ponto a evolução por que passaram as inovações, para desencadear ou adequar-se a todas essas movimentações. As inovações evoluíram através de cinco gerações, como é apontado por ROTHWELL (1992): 1) Modelo linear “empurrado” (push) pela tecnologia. O processo tem início na ativida- de de pesquisa, segue pelo desenvolvimento, pela produção e atinge o mercado. Cada etapa é seqüencial, decorrente da etapa anterior, sem retroalimentação (feedback).2) Modelo linear “puxado” (pull) pelo mercado. A demanda determina tanto a direção quanto a magnitude da atividade inventiva, relacionada à inovação. 3) Modelo acoplado, com a interação entre diferentes elementos e a retroalimentação entre eles. Neste modelo, procura-se uma integração entre os modelos push e pull. São considerados elementos fundamentais a base crescente de conhecimento da ciência e tecnologia, assim como a estrutura das demandas de mercado. Ambos os elementos devem ocorrer simultaneamente. Universidade Anhembi MorumbiGestão das Inovações8 4) Modelo paralelo: prioriza e enfatiza as ligações de alianças estratégicas e joint-ventu- res. Neste caso, há uma integração da inovação desenvolvida internamente à empresa, com a inovação desenvolvida em parceria com clientes e fornecedores. Enfatiza-se a in- tegração e o paralelismo entre as atividades de inovação. As áreas de Pesquisa e Desen- volvimento (P&D), produção e marketing estão simultaneamente engajadas no processo de inovação como um time de desenvolvimento integrado. 5) Modelo de integração sistêmica: com forte atuação em rede, respostas personalizadas e flexíveis, atividade de inovação contínua. Aqui, as atividades vão um pouco além das atividades propostas pelos outros modelos, com a aplicação de tecnologias de informa- ção para agilizar o processo de desenvolvimento de produtos e serviços. Há necessidade de uma forte integração interna à empresa e com o meio externo, facilitada enorme- mente pela internet. Fatores Gerenciais do Processo de Inovação Torna-se importante ressaltar também que a maior velocidade e eficiência na inovação são decorrentes de fatores gerenciais organizacionais e tecnológicos, como é menciona- do por ROTHWELL (1992, 1994): 1. Estratégias têm de ser tomadas rapidamente: ser rápido e inovador adquire um contexto de vantagem competitiva; 2. A alta direção da empresa deve estar comprometida e deve suportar o processo desde o início, para se evitar mudanças e retrabalhos; 3. Deve haver preparação adequada, com a mobilização de recursos, avaliação, análise e planejamento do projeto, obtenção de apoio, compromisso da corpora- ção e da equipe envolvida; Universidade Anhembi MorumbiGestão das Inovações9 4. Adoção de uma estrutura horizontal com menores níveis hierárquicos, gerando maior autonomia dos gerentes e menor número de níveis, o que implica em me- nos atrasos na aprovação de providências; 5. Utilização de times integrados (transfuncionais) durante a fase de desenvolvimento; 6. Compromisso para controle de qualidade 7. Utilizar estratégia de desenvolvimento incremental, com a diminuição do salto tecnológico entre cada passo; 8. Adotar estratégias de reutilização (carry-over), com o uso de componentes de mo- delos anteriores nos projetos atuais; 9. Flexibilidade: criação de projetos que contenham flexibilidade, possibilitando que sejam estendidos como variantes de uma família de projetos (design mais robustos); 10. Fortes relacionamentos com fornecedores primários, gerando redução de custos e aumento na rapidez de desenvolvimento; 11. Terceirização de pesquisa e desenvolvimento bem como compra e licenciamento de tecnologia podem acelerar o desenvolvimento de produto; 12. Uso adequado e racional de tecnologia da informação para comunicação e com- partilhamento de dados, beneficiando o trabalho em equipe; 13. Criação de demonstrações tecnológicas, com o uso de simulação para demonstra- ção da viabilidade de conceitos. Aspectos relativos à estratégia e à tecnologia estão bastante relacionados em uma orga- nização, mas essa relação também pode variar se se trata individualmente de uma unidade de negócios, ou de uma divisão ou ainda de uma corporação (abrangen- do várias divisões e unidades de negócios). Enfocando o mercado, como objetivo resultante das atividades da empresa, deve-se considerar os seguintes componentes: Universidade Anhembi MorumbiGestão das Inovações10 a) A análise do crescimento potencial de mercados específicos; b) As alternativas de posicionamento da empresa nesses mercados; c) A análise daquelas tecnologias que são potencialmente relevantes para serem consideradas como vantagem competitiva pela empresa Tendências em Inovação Ao se considerar as tendências em termos de inovação, deve-se salientar principal - mente as chamadas redes de inovação (innovation networks), como é mencionado por Lastres (1995). Essas redes tornaram-se uma característica marcante dos países desenvolvidos, nos anos 80. São vistas como um dos componentes fundamentais do novo desenho da estratégia competitiva industrial. A formação de alianças estratégicas entre empresas e também entre as empresas e ou- tras instituições não são observadas apenas recentemente. Os arranjos de colaboração desencadeados pela intenção de promoverem Pesquisa e Desenvolvimento conjunta- mente, já vinha crescendo significativamente, desde as últimas décadas do século XX. As novas tecnologias disponibilizadas no mercado, decorrentes de novos conhecimentos, vêm ocasionando uma mudança de rota nas trajetórias estabelecidas anteriormente pe- las empresas e organizações. Torna-se fundamental a necessidade de informação para futuros desenvolvimentos. Universidade Anhembi MorumbiGestão das Inovações11 Bibliografia AFUAH, Allan. Innovation management: strategies, implementation and profits. New York: Oxford University Press, 2003. LASTRES. H.M.M. Redes de inovação e as tendências internacionais da nova estratégia competitiva industrial. Ciência da Informação - Vol 24, número 1, 1995 – Artigos. ROSENBERG, N., 1994, Exploring the Black Box: Technology, Economics and History, Cambridge, UK, Cambridge University Press. ROTHWELL, R., 1992, “Sucessful Industrial Innovation: Critical Factors for the 1990s”, R&D Management, v. 22, n. 3, pp. 221-239. Apud: TIDD, J., BESSANT, J., PAVITT,K., 1997 Managing Innovation: Integrating Technological, Market and Organizational Change, Chichester, West Sussex, England, John Wiley & Sons. ______________, 1994, “Industrial Innovation: Success, Strategy, Trends”. In: DOGSON, M., ROTHWELL, R., The Handbook of Industrial Innovation, Cheltenham, UK,Edward Elgar, pp. 33-53. SCHUMPETER, J. Economistas, os: teoria do desenvolvimento econômico: uma investigação sobre lucros, capital, crédito, juro e o ciclo econômico. São Paulo: Abril Cultural, 1982. (Tradução: Maria Sílvia Possas). TIDD, J., BESSANT, J., PAVITT, K., 1997 Managing Innovation: Integrating Technological, Market and Organizational Change, Chichester, West Sussex, England, John Wiley & Sons. Para que o processo de inovação ocorra de forma efetiva, torna-se cada vez mais impor- tante a participação das empresas em arranjos de colaboração. Desta forma, é possível promover um acesso mais rápido a capacitações tecnológicas que não estejam bem desenvolvidas dentro da empresa (LASTRES, 1995). Este documento é de uso exclusivo da Universidade Anhembi Morumbi, está protegido pelas leis de Direito Autoral e não deve ser copiado, divulgado ou utilizado para outros fins que não os pretendidos pelo autor ou por ele expressamente autorizados.
Compartilhar