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Macroeconomia Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Esp. Valdécio Silvério Bezerra Revisão Textual: Profa. Ms. Fátima Furlan A Teoria Keynesiana • O Problema do Desemprego • Condições para o Produto de Equilíbrio • Componentes da Demanda Agregada • Gastos do Governo e Impostos • Renda de Equilíbrio • Política Fiscal e Estabilização • A Moeda no Sistema Keynesiano e a Armadilha da Liquidez · Expor ao aluno os fatores que propiciaram o desenvolvimento teórico elaborado por Keynes relativo, por exemplo, ao problema do desemprego, os conceitos de demanda agregada, consumo e investimentos. Esclarecer ao aluno o que é renda de equilíbrio, política fiscal e moeda no sistema keynesiano. OBJETIVO DE APRENDIZADO A Teoria Keynesiana Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Não se esqueça de se alimentar e se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como o seu “momento do estudo”. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo. No material de cada Unidade, há leituras indicadas, dentre elas: artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados. Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem. UNIDADE A Teoria Keynesiana Contextualização A economia keynesiana desenvolveu-se tendo como pano de fundo a Depressão mundial da década de 1930. A atividade econômica entrou em um declínio em extensão e gravidade sem precedentes na época. O efeito da Depressão sobre a economia dos Estados Unidos pode ser visto e exemplificado tendo como base a taxa de desemprego que subiu de 3,2% da força de trabalho, em 1929, para 25,2% da força de trabalho, em 1933, o ponto mais baixo da atividade econômica durante a Depressão. O desemprego permaneceu acima de 10% durante toda a década. O produto nacional bruto (PNB) real caiu 30% entre 1929 e 1933, e não voltou a retornar ao nível de 1929 antes de 1939. O economista britânico John Maynard Keynes, cujo livro A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda (1936) é a base do sistema keynesiano, foi mais influenciado pelos eventos de seu próprio país do que pelos dos Estados Unidos. Na Grã-Bretanha, o alto desemprego começou nos primeiros anos da década de 1920 e persistiu por toda a década de 19301 . Os altos índices de desemprego na Grã-Bretanha levariam a um debate entre economistas e responsáveis pelas políticas econômicas sobre as causas e os remédios apropriados contra o aumento no desemprego. Keynes foi um eminente participante deste debate, durante o qual desenvouveu sua teoria macroeconômica. (FROYEN, p.88, 2005) 1 A taxa de desemprego na Grã-Bretanha já era de 10% em 1923 e, exceto por uma breve redução para 9,8%, permaneceu acima de lO% até 1936, ano em que A teoria geral foi publicada. 8 9 O Problema do Desemprego Em 1936, John Maynard Keynes lança o livro “A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda”. A partir dessa obra, muitos economistas aderem às ideias defendidas por Keynes. Essa obra tinha como base um conjunto de ideias que propunham a intervenção estatal na vida econômica com o objetivo de conduzir a um regime de pleno emprego. As teorias keynesianas tiveram enorme influência na renovação das teorias clássicas e na reformulação da política de livre mercado. Acreditava-se que a economia seguiria o caminho do pleno emprego, sendo o desemprego uma situação temporária que desapareceria graças às forças do mercado. O objetivo fundamental era o crescimento da demanda em paridade com a capacidade produtiva da economia a ponto de garantir o pleno emprego, mas sem excessos, pois qualquer descontrole nesse crescimento poderia provocar o aumento da inflação. É com Keynes que ganha força a noção de desemprego involuntário. Apesar de manter várias hipóteses do modelo clássico, sua teoria rompe com esse modelo e o levam a obter conclusões que contestam os clássicos. Rompe em primeiro lugar com a ideia de que os salários reais não seriam determinados pelo equilíbrio de oferta e demanda de mão de obra. O equilíbrio no mercado de trabalho determinaria, na verdade, os salários nominais. Para Keynes, os trabalhadores também eram suscetíveis à ilusão monetária e resistiriam às reduções nos salários nominais, mas não nos salários reais. Desta forma, os salários nominais seriam rígidos e não flexíveis à baixa. O salário nominal corresponde ao valor do trabalho expresso em moeda, enquanto que o salário real corresponde ao poder de compra de bens e serviços com a moeda recebida.Ex pl or A teoria keynesiana fornecerá a base às teorias econômicas de combate ao desemprego, isso seria possível ao se estimular a demanda agregada por intermédio de políticas monetária e fiscal. Como a demanda agregada afeta a atividade econômica, é ela que determina o nível de emprego, de forma simplificada, o nível de emprego é determinado no mercado de bens e serviços pelas expectativas dos empresários. O desemprego involuntário surge então por deficiências de demanda. Sendo assim, o desemprego involuntário existe em Keynes, independente de haver flexibilidade no mercado de trabalho. É o desemprego classificado modernamente como desemprego cíclico, possível de ser atenuado pela intervenção do governo na economia. 9 UNIDADE A Teoria Keynesiana Condições para o Produto de Equilíbrio Para que o produto esteja em equilíbrio, é necessário que o produto seja igual à demanda agregada. Essa é uma noção fundamental no modelo keynesiano. Simplificadamente, podemos representar essa assertiva como segue abaixo: Y = DA ( 1 ) Sendo Y igual ao Produto Nacional Bruto (PNB) ou produto total e DA é a Demanda Agregada. Já a (DA) é formada por três componentes: consumo total das famílias ( C ), a demanda por investimentos desejados pelas firmas ( I ) e a demanda por bens e serviços por parte do Governo ( G ). Como ficará nossa igualdade acima? Y = DA = C + I + G ( 2 ) Verificamos nesse modelo que são desconsiderados as exportações e importações, isso porque se trata de uma economia “fechada”. Como a depreciação também é omitida, tornamos o PNB equivalente a renda nacional. Com o produto nacional Y correspondendo a renda nacional, podemos escrever: Y ≡ C + S + T ( 3 ) Entendemos que a equação ( 3 ) é uma identidade que afirma que a renda nacional é consumida ( C ), poupada ( S ) ou paga em impostos ( T ). Logo: C + S + T ≡ Y = C + I + G Cujo equivalente é: S + T = I + G ( 4 ) Uma vez que Y é o produto nacional, podemos escrever: Y ≡ C + Ir + G ( 5 ) Na equação ( 5 ) o produto nacional é igual ao consumo ( C ), ao investimento realizado ( Ir ), mais os gastos do governo ( G ) Estabelecendo o equilíbrio entre as equações ( 2 ) e ( 5 ), temos? C + Ir + G ≡ Y = C + I + G 10 11 Ou cancelando: Ir = I ( 6 ) Dessa forma concluímos que existem três formas equivalentes de expressar o equilíbrio no modelo keynesiano: Y = C + I + G ( 2 ) S + T = I + G ( 4 ) Ir = I ( 6 ) O fluxograma da Figura 1 possibilita uma visão mais clara dessas condições. As variáveis são medidas em unidades monetárias num determinado intervalo de tempo, tais como, bilhões de reais por trimestre, semestre ou por ano. O fluxo representado na figura consiste em pagamentos monetários aos serviços dos fatores (salários, juros, aluguéis. lucros). A renda nacional é distribuída pelas famílias em três fluxos: Para as firmas em forma de consumo; ao mercado financeiro em forma de poupança e ao governo em forma de impostos. “Portanto o ciclo interno de nosso diagrama ilustra um processo pelo qual as firmas produzem o produto (Y), gerando um montante igual de renda para as famílias, que por sua vez, geram a demanda pelos produtos fabricados.” (FROYEN, p. 95, 2005). Renda Nacional (Y) Consumo (C) Poupança (S) Impostos (T ) Investimento (I) Gastos do Governo (G) FirmasFamílias Mercados Financeiros Governo Figura 1 – Fluxo Circular da Renda e do Produto Fonte: FROYEN p. 95, 2005 Para se aprofundar mais nesse tema uma boa fonte de consulta é o livro: FROYEN, Richard T. Macroeconomia, 5 ed. São Paulo: Saraiva, 2005)Ex pl or 11 UNIDADE A Teoria Keynesiana Componentes da Demanda Agregada Ao desenvolver o Princípio da Demanda Efetiva, Keynes rompe com a ideia de passividade da demanda e sua forma automática de ajuste à oferta, conforme formulado na Lei de Say. Isso porque, ainda segundo Keynes, os empresários definiam quantos empregados contratar e quanto produzir com base em quanto ele espera vender. Duas curvas virtuais se apresentam para o empresário: a) Oferta Agregada: a renda necessária para o empresário oferecer determinado volume de emprego; b) Demanda Agregada: a renda que o empresário espera receber por oferecer determinado volume de emprego. Como vimos, de acordo com o modelo keynesiano simples, alguns fatores afetam esses componentes da demanda agregada e determinam o nível de renda. Vamos examinar melhor cada um desses componentes agora, o consumo, o investimento e os gastos do governo. Consumo As decisões de consumo das famílias dependem de vários fatores sendo o principal o seu rendimento corrente disponível, ou seja, o rendimento deduzido de impostos e incluindo as transferências sociais do Estado. Predominantemente, quando o rendimento disponível das famílias aumenta, estas tendem a comprar mais bens e serviços, por outro lado, quando o seu rendimento disponível diminui, as famílias tendem a comprar menos bens e serviços. Keynes sabia que outros fatores afetavam o aumento do consumo das famílias, mas entendia que a renda era o fator dominante para a determinação do consumo. Para efeito de estudos convém deixar esses outros fatores de lado por enquanto. Tomando como base essa relação consumo-renda, o autor propõe a função consumo abaixo: C = a + bYD a > 0 0 > b > 1 Na Figura 2, ilustramos essa relação, onde: a supomos positivo, esse intercepto representa o valor do consumo quando a renda disponível é igual a zero. Já o parâmetro b é a inclinação da função, representa o aumento nos dispêndios com o consumo por aumento unitário de renda disponível: Notação básica que utilizamos: 12 13 ∆ ∆ C b= YD Figura 2 – Função Consumo Keynesiana Fonte: FROYEN, p.99, 2005 A Função consumo mostra o nível de consumo (C) correspondente a cada nível de renda disponível (YD). A inclinação da função consumo (ΔC/ΔYD) é a propensão marginal a consumir (b), isto é, a variação no consumo por aumento unitário de renda disponível. O intercepto da função consumo (a) é o nível (positivo) de consumo que ocorreria a um nível de renda disponível igual a zero. Tomando como referência a definição de renda nacional, Y ≡ C + S + T Podemos escrever então: YD ≡ Y – T ≡ C + S Deduzimos com isso que a renda disponível é igual ao consumo somado à poupança. O que você pode concluir dessa ralação? Por definição a relação renda-consumo determina também a relação renda-poupança. Na teoria keynesiana, temos: S = - a + (1 – b) YD Agora, por que (a) unidades é negativo? 13 UNIDADE A Teoria Keynesiana Como o consumo para YD igual a zero é de (a) unidades, neste ponto S ≡ YD – C = 0 – a = - a Por outro lado, um aumento unitário na renda disponível leva a um aumento em b unidades no consumo, o resíduo da elevação unitária na renda (1 – b), representa o aumento na poupança: D 1 Y ∆ = − ∆ S b Entendemos que o incremento da poupança por aumento unitário na renda disponível (1 – b) significa propensão marginal a poupar (PMgS). No gráfico da Figura 3, representamos a função poupança. Po up an ça Renda Disponível - a S Inclinação = (1 – b) ΔS S = - a + (1 – b) Y Y ΔY Figura 3 - Função Poupança Keynesiana Fonte: (FROYEN, p. 100, 2005) A função poupança mostra o nível de poupança (S) correspondente a cada nível de renda disponível (YD). A inclinação da função poupança é a propensão marginal a poupar (1 – b), o aumento na poupança por aumento unitário da renda disponível. O intercepto da função poupança (- a) é o nível (negativo) de poupança quando a renda disponível é nula. Investimento No sistema keynesiano, o investimento é uma variável chave, mudanças no dispêndio dessa variável representa um dos principais fatores responsáveis por mudanças na renda. 14 15 Enquanto o consumo é compreendido como uma variável induzida, dependente do nível de renda, o investimento, ao contrário, era um componente da demanda agregada, autônomo e sua variabilidade é a principal responsável pela instabilidade da renda. Segundo Keynes, duas variáveis são fundamentais como determinantes à propensão aos investimentos no curto prazo: a taxa de juros e as expectativas das firmas. Ao estabelecer a relação entre investimentos e taxa de juros, Keynes não diferiu da visão clássica, ou seja, ele supunha que o nível de investimentos mantém uma relação inversa com o valor da taxa de juros. Gastos do Governo e Impostos Os gastos do governo (G), no modelo keynesiano, é concebido como o segundo elemento dos dispêndios autônomos. Supõe-se que estes gastos sejam controlados pelos formuladores de política econômicos, em decorrência disso não dependem diretamente da renda. O componente gasto do governo refere-se àqueles gastos com a aquisição de bens e serviços pelos governos federal, estadual e municipal. Os gastos do governo são considerados como despesas autônomas. Sendo assim, não dependem de variáveis que possam afetar diretamente o modelo keynesiano. Isso pode ser explicado em função de que esses gastos são controlados e definidos pelas autoridades econômicas e não dependem do nível de renda. A partir dos conceitos definidos no modelo keynesiano simples, pode-se determinar o nível de renda ou do produto de equilíbrio numa determinada economia. Para tanto, a seguinte forma de expressão demonstra a condição de equilíbrio, Y = C + I + G ( 1 ) Supondo uma determinada economia (fechada), vamos considerar as seguintes informações: C = 60 + 0,3Y I = 150 G = 45 Para determinarmos a renda ou produto de equilíbrio, efetuaremos um cálculo a partir da identidade básica em uma economia com governo. 15 UNIDADE A Teoria Keynesiana Y = 60 + 0,3Y + 150 + 45 Y – 0,3Y = 60 + 150 + 45 0,7Y = 255 Y = 255 / 0,7, logo Y = 364,28 unidades. Numa economia com governo, a renda nacional (Y) será destinada ao consumo (C), à poupança (S) e aos impostos (T) também, assim temos: Y = C + S + T ( 2 ) Dessa forma, pelas equações ( 1 ) e ( 2 ), temos: C + S + T = Y = C + I + G Para que ocorra equilíbrio da renda é preciso que ocorra: S + T = I + G Dessa forma, conhecendo-se os valores de C, I e G ou os valores de ( C, S e T), encontra-se o valor da renda de equilíbrio. Se tomarmos como referência, o valor de Y segundo a equação ( 1 ), a função consumo agora não depende da renda nacional (Y), mas da renda disponível (YD), ou seja, C = a + bYD Por outro lado, a renda disponível é igual à renda nacional (Y) menos os impostos (T). Temos então, YD = Y – T É preciso que fique claro o fato de que os impostos (T) podem assumir três formas diferentes: um valor autônomo, um valor relacionado à renda e um valor misto. Segundo o seu ponto de vista, de que forma os impostos influenciam na renda e no consumo de uma economia ?Ex pl or 16 17 Renda de Equilíbrio Bom, agora já temos todos os componentes que nos possibilitam encontrar a renda de equilíbrio supondo uma economia fechada. A renda de equilíbrio (Y) é a variável endógena que buscamos determinar. Os termos que são dados são os dispêndios autônomos I e G, assim como o nível de T, e são variáveis exógenas, ou seja, determinadas por fatores externos ao modelo. O consumo é um dispêndio, em sua maior parte, determinado endogenamente pela função consumo. C = a + bTD = a + bY – bT ( 3 ) A segunda igualdade leva em consideração a definição de renda disponível (YD ≡ Y – T). Agora façamos a seguinte substituição: equação de consumo ( 3 ) na condição de equilíbrio ( 2 ), resolvemos a equação para Ῡ, como nível de equilíbrio da renda, conforme segue: Y = C + I + G Y = a + bY – bT + I + G Y – bY = a – bT + I + G Y(1 – b) = a – bT + I + G 1 Y 1-b = (a – bT + I + G) ( 4 ) A teoria de Keynes, em sua forma mais simples, pode ser expressa da seguinte forma: o consumo é uma função estável da renda, isso quer dizer que a propensão marginal a consumir é estável. As mudanças na renda refletem o que ocorre com a variável investimento, extremamente instável. A equação (4) deixa claro que, caso o governo não aplique políticas que visem estabilizar a economia, a renda ficará instável em decorrência da instabilidade dos investimentos. Nessa mesma equação podemos perceber também se ocorrerem mudanças corretas nos gastos do governo (G) e nos impostos (T), o governo poderia neutralizar os efeitos das mudanças nos investimento. As mudanças adequadas em G e T poderiam manter constante a soma dos termos entre parênteses (dispêndios autônomos), até em face as mudanças indesejáveis do termo investimentos. Essa é a base das conclusões por políticas econômicas intervencionistas a que chegou Keynes. 17 UNIDADE A Teoria Keynesiana Política Fiscal e Estabilização Como vimos, a renda de equilíbrio é afetada pelas mudanças nos gastos do governo e nos impostos. Existem várias formas possíveis de aplicação de políticas fiscais na busca de eliminar os efeitos das mudanças indesejáveis na demanda privada por investimentos. O que queremos dizer com isso? O governo pode utilizar esses instrumentos de políticas fiscais como forma de estabilizar os dispêndios autônomos totais e também a renda de equilíbrio, mesmo que os investimentos dos dispêndios autônomos se mostrem instáveis. Na Figura 4, ilustramos um exemplo de política de estabilização seguindo o modelo keynesiano. Vamos supor que a economia esteja em equilíbrio em nível de pleno emprego (potencial) YF. com a DA igual a (C + I + G0). Agora suponhamos que, a partir desse ponto, os investimentos autônomos caiam de I0 para I1, resultado de mudança desfavorável nas expectativas das firmas. Vemos que na ausência de políticas, a demanda agregada cai para DA1, igual a (C + I + G0). Sendo assim, em Y1, ou seja, um equilíbrio da renda está abaixo do nível de pleno emprego. Vejamos então como podemos ilustrar esse exemplo no gráfico da Figura 4 a seguir: D em an da A gr eg ad a Renda C + I + G DA� = (C + I + G ) = (C + I1 + G1) DA = (C + I1 + G0) 45o Y Y Y� Figura 4 - Um Exemplo de Política Fiscal de Estabilização (FROYEN, p. 114, 2005) A queda nos dispêndios autônomos de I0 para I1 desloca a demanda agregada para baixo, de DAF = (C + I0 + G0) para DAL = (C + IL + G0). Um aumento compensatório nos gastos do governo de G0 para G1, reverte o deslocamento da curva de demanda agregada para C + I1 + G1 = DAF = C + I0 + G0. A renda de equilíbrio está de novo em YF . 18 19 A Moeda no Sistema Keynesiano e a Armadilha da Liquidez Keynes considerava três motivos para a manutenção da moeda, o motivo de transação, precaução e especulação. Os indivíduos não supõem tão pouco conseguem associar parcelas bem definidas do montante de moeda que carrega a cada um dos três motivos, no entanto Keynes julgava importante analisar cada um dos motivos separadamente entender o que está por detrás dos estoques monetários mantidos pelos indivíduos. Demanda por Transações Em primeiro lugar a moeda é um meio de troca, logo Keynes considera como primeiro motivo de demanda por moeda, o motivo transação. A relação estabelecida entre o recebimento de renda e os dispêndios é viabilizada pela moeda. A soma de moeda reservada para viabilizar transações variaria positivamente de acordo com o volume de transações nas quais os indivíduos estão envolvidos. Uma das transações viabilizadas pela aquisição de moeda é aquela utilizada para a aquisição de títulos para posteriormente serem vendidos para a aquisição de moeda como forma de quitar gastos, o que nem sempre gera ganhos, ou seja, não é atrativo. Mesmo assim há espaço para redução de estoques monetários para transações, optando pela compra de títulos. Keynes não colocou muita ênfase na taxa de juros ao examinar o motivo transacional para a manutenção de moeda, mas a importância está provada principalmente na demanda por transações no setor empresarial. Demanda por Precaução Outro motivo destacado por Keynes é aquele em que são guardados saldos monetários adicionais para quitar possíveis gastos imprevistos, contas inesperadas, possíveis emergências, é o motivo precaução. O valor guardado para esse fim dependia positivamente da renda. Da mesma forma que na demanda por transações, nesse caso a taxa de juros poderia ser um fator importante caso houvesse uma tendência das pessoas para reduzir o montante de moeda guardado por precaução a medida que os juros subissem. Demanda Especulativa O terceiro motivo destacado por Keynes para explicar a demanda por moeda era o motivo especulativo, maior novidade da análise keynesiana da demanda por moeda. 19 UNIDADE A Teoria Keynesiana Keynes faz a seguinte pergunta: O que motivaria um indivíduo guardar uma quantidade de moeda maior que a necessária para transações ou por precaução, uma vez que os títulos pagam juros e a moeda, pura e simples, não? A resposta é simples. Em razão da incerteza sobre as taxas de juros futuras. Caso as taxas fossem se alterar de forma a causar perdas de capital com os títulos. Sendo assim, essa moeda seria retida pelos que “especulam” com mudanças futuras das taxas de juros. Demanda Total por Moeda Para construir a função demanda total por moeda, vamos agora juntar os três motivos keynesianos para manutenção da moeda. Observamos que a demanda por transações e a demanda por precaução variam positivamente com a renda e negativamente em relação a taxa de juros, já a demanda especulativa por moeda se relaciona negativamente com a taxa de juros. Juntando-as podemos escrever a função da seguinte forma: Md = L(Y,r) Sendo: L demanda por moeda, Y a renda, e r é a taxa de juros. O crescimento da renda aumenta a demanda por moeda; o aumento da taxa de juros, por outro lado, provoca a redução da demanda por moeda. Supostamente podemos usar a função demanda por moeda na forma linear, Md = c0 + c1Y –c2 r c1 > 0 e c2 > 0 c1 mede a elevação da demanda por moeda por aumento unitário da renda, e; c2 reflete quanto a demanda por moeda diminui por aumento unitário da taxa de juros. Essa equação indica que podemos traçar a função demanda por moeda como uma linha reta em nossos gráficos. 20 21 A Armadilha da Liquidez Segundo a teoria de Keynes, é possível supor que os indivíduos têm uma visão preconcebida de uma taxa normal de juros. A previsão é que todas as taxas de juros acima dessa taxa normal tendam a cair a esses juros, com isso a demanda por títulos será preferida à moeda. No entanto, há uma taxa de juros abaixo dessa taxa normal que a perda de capital com títulos, que aumenta à medida que a taxa de juros cai abaixo da taxa considerada normal, dessa forma acabará sendo exatamente igual às rendas com os juros dos títulos. Chamamos esse valor de taxa de juros crítica, abaixo dessa taxa a demanda por moeda será preferida aos títulos. Keynes, no entanto, não entende que existiria uma taxa específica que se atingida estimularia todos os investidores individuais a vender títulos e optar pela retenção de moeda, mas entendia que se a taxa de juros, em movimento de queda constante, desestimulando a demanda especulativa uma vez que a taxa crítica de juros de vários investidores seria atingida, em vista da taxa normal, a moeda seria o ativo preferido. Valores muito baixos das taxas de juros fariam com que quase todos os investidores optassem por esperar que as taxas de juros fossem subir significativamente no futuro. A essas taxas próximas de zero ou abaixo desse patamar, os incrementos à riqueza seriam retidos diretamente sob a forma de moeda, sem ampliar a queda de juros. Essa situação foi denominada por Keynes de armadilha da liquidez. Com base na teoria keynesiana a política monetária é ineficaz. A taxa de juros é tão baixa que as pessoas já retêm bastante moeda e a taxa não pode baixar mais, por mais moeda que seja despejada na economia, o que impede que os investimentos e o consumo sejam incrementados. A situação da armadilha da liquidez trata-se de um caso particular do modelo IS-LM onde a curva LM é horizontal. Trata-se de uma situação limite na qual os agentes estão dispostos a demandar toda a oferta de moeda a uma dada taxa de juros constante. Os casos do Japão na década de 1990 e dos Estados Unidos na década de 1930 são citados como exemplos dessa situação, pois nesses casos as taxas de juros alcançaram níveis muito baixos e permanecerem por anos nesses níveis. 21 UNIDADE A Teoria Keynesiana A Figura 5 ilustra em gráfico como representamos a curva LM numa situação de armadilha de liquidez. r r1 r� Y� Y1 Y LM Figura 5 - A Armadilha da Liquidez Keynesiana Fonte: Elaboração própria Na Figura 5 podemos verificar o caso denominado por Keynes como armadilha da liquidez representado no gráfico pelo trecho indicado pela seta até Y0 , onde a função demanda por moeda torna-se quase horizontal a baixas taxas de juros, próximas de zero. Essa particularidade sobre a demanda por moeda é uma discussão que ainda provoca muitas interpretações e justificativas diversas, mas que encontra respaldo no campo do estudo das políticas econômicas em situações particulares no ambiente macroeconômico. 22 23 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites Cruzeiro do Sul Virtual Bibliotecas do Grupo Cruzeiro do Sul https://goo.gl/2uQPmj Livros Macroeconomia do Emprego e da Renda, Keynes e o Keynesianismo LIMA, G. T.; SICSÚ, J. (Org.) Macroeconomia do Emprego e da Renda, Keynes e o Keynesianismo. Barueri, SP: Manole, 2003. Vídeos As Teorias Econômicas de Keynes - Análise do Professor Luíz Belluzzo Abordagem dos aspectos da teoria Keynesiana, comparando-as com a teoria Clássica e relacionando com a Grande Depressão. Uma visão do Professor Luíz Gonzaga de Mello Belluzzo - ECONOMIA Unicamp. https://goo.gl/P7pSRX Leitura A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda KEYNES, J. M. A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda. São Paulo: Abril Cultural, 1996. https://goo.gl/ZhSEFg Keynes: o liberalismo econômico como mito. FONSECA, Pedro Cezar Dutra. Keynes: o liberalismo econômico como mito. Econ. soc., Campinas, v. 19, n. 3, p. 425-447, dez. 2010 https://goo.gl/QcterP 23 UNIDADE A Teoria Keynesiana Referências BLANCHARD, J. O. Macroeconomia. 4 ed. São Paulo: Prentice Hall, 2007. DORNBUSCH, R.; FISHER, S. Macroeconomia. 5. ed. , v., São Paulo: Pearson Makron Books, 2006. FROYEN, Richard T. Macroeconomia. 5. ed. São Paulo-SP: Saraiva, 2005. LOPES, L. M.; VASCONCELLOS, M. A. S. Manual de Macroeconomia: Nivel Básico e Nível Intermediário. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2000. MANKIW, N. Gregory. Macroeconomia. 6.ed., Rio de Janeiro: LTC-Livros Técnicos e Científicos, 2008. 24
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