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Panorama - Carta aos Romanos

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A epístola de Paulo aos Romanos é uma obra-prima da teologia cristã, destacando-se entre 
os livros do Novo Testamento. É um tratado teológico sobre a salvação. Lutero chegou a dizer 
“Se tivéssemos de preservar somente o Evangelho de João e a Epístola aos Romanos, ainda 
assim o cristianismo estaria a salvo”. Esta carta do Apóstolo Paulo a igreja em Roma não é 
somente o documento mais importante da sua teologia. Ao longo da história, ela desencadeou 
reações fantásticas como a conversão de Agostinho e a descoberta da justificação do pecador 
por meio da graça, pelo reformado Martinho Lutero. 
 
1. AUTORIA 
Existem 9 epístolas Paulinas que despertam pouco debate quanto a sua autoria, sendo 
quase universalmente aceitas como epístolas genuínas do apóstolo Paulo. São elas: Romanos, 
1 e 2 Coríntios, Gálatas, Filipenses, Colossenses, 1 e 2 Tessalonicenses e Filemon. Dentre essas 
nove, uma aceitação absolutamente universal é conferida a quatro clássicos escritos paulinos, 
a saber as epístolas de Romanos, 1 e 2 Coríntios, e Gálatas. Dentre essas quatro, a epístola aos 
Romano ocupa lugar de proeminência, não somente devido à sua extensão e ao seu tratamento 
mais completo acerca de questões de magna importância para a doutrina cristã, mas também 
porque os assuntos ali abordados são todos de grande profundidade, fundamentais para a nossa 
fé. 
A simples comparação entre as quatro obras clássicas de Paulo – Romanos, 1 e 2 Coríntios 
e Gálatas – no que diz respeito a questões de etilo e vocabulário, revela-nos que todas essas 
quatro epístolas foram indiscutivelmente produzidas pelo mesmo autor sacro. Aceitar uma delas 
como paulina é aceitar todas as outras três; e rejeitar uma delas, é rejeitar as demais. Estilo e 
vocabulário são elementos que não podem ser facilmente copiados ou imitados; e essas 
epístolas revelam-nos o mesmo homem, dotado de um estilo literário intensamente pessoal, o 
que revela a personalidade de seu autor de forma notável e indiscutível. Essas epístolas contêm, 
em seu próprio conteúdo, a reinvindicação de terem sido escritas pelo apostolo Paulo. 
Além dessas evidências internas, que são conclusivas, existem diversas outras evidências 
externas. Por exemplo, o trecho de 2 Pedro 3. 15-16 evidentemente faz alusão à passagem 
bíblica de Romanos 2.4: 
E tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor; 
como também o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo 
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a sabedoria que lhe foi dada; Falando disto, como em todas as 
suas epístolas, entre as quais há pontos difíceis de entender, que 
os indoutos e inconstantes torcem, e igualmente as outras 
Escrituras, para sua própria perdição. 
 
2 Pedro 3:15,16 
 
Ou desprezas tu as riquezas da sua benignidade, e 
paciência e longanimidade, ignorando que a benignidade de 
Deus te leva ao arrependimento? 
 
Romanos 2:4 
 
Existem também referências extra bíblicas da autoria paulina. Irineu citou a passagem de 
Romanos 4.10-11 como de origem paulina. Inácio de Antioquia, em cerca de 110 d.C, como 
também Policarpo, bispo de Esmirna, citaram a epístola aos romanos como de autoria paulina. 
 
2. CANONICIDADE 
Nenhum dos livros do NT foi aceito como canônico antes da epístola aos Romanos, pois 
quando se fizeram as primeiras declarações sobre o “cânon” neotestamentário, a epístola aos 
Romanos sempre foi incluída, e isso nos pronunciamentos de grupos ou pessoas ortodoxos ou 
heréticos. A passagem de 2Pedro 3.15-17, que cita o trecho de Romanos 2.4, chama-o de 
Escrituras, sendo esse o mais antigo pronunciamento que temos sobre a canonização de 
qualquer dos livros do NT. Por conseguinte, pode-se dizer que a epístola aos Romanos aparece 
em primeiro lugar, no “cânon” do NT. Outrossim, essa epístola foi escrita antes de qualquer 
dos evangelhos, com a possível excessão exclusiva de Marcos, ainda que, na ordem 
cronológica, isto é, na ordem de escrita, a epístola aos Romanos apareça no sexto lugar entre os 
escritos de Paulo. 
Marcião de Sínope, ou Márciom, foi um antigo herege (150 d.C), denunciado pelos Pais 
da Igreja, e excomungado, sendo o pai da teologia chamada marcionismo, que propunha dois 
deuses distintos, um no Antigo Testamento e outro no Novo Testamento, além de, em alguns 
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aspectos essenciais, propor ideias que se alinham bem com o pensamento gnóstico. Assim como 
eles, Marcião argumentava que Jesus era essencialmente um espírito aparecendo aos homens e 
não totalmente humano. 
Este antiquíssimos herege incluía a epístola aos Romanos em seu cânon, e esse 
pronunciamento levou outros pais da igreja a fazerem seus respectivos pronunciamentos. Todos 
esses pais da igreja, sem qualquer exceção, dentre os que se preocuparam com esse problema, 
também incluíram a epístola aos Romanos em seus respectivos “cânones”. Os “cânones” mais 
antigos (pertencentes ao século II d.C) incluíam cerca de dez das epístolas de Paulo, bem como 
os quatro evangelhos, ou seja, os mais antigos livros do NT, num total de catorze livros. Mas 
alguns estudiosos supões que o próprio Márciom não preparou o “cânon” de sua época, mas 
antes aceitou tão somente a opinião corrente na igreja de seus dias. Se assim realmente sucedeu, 
então, talvez, possamos fazer retroceder o mais primitivo “cânon” neotestamentário para 125 
d.C., mais ou menos. 
Inácio de Antioquia (Martirizado em cerca de 110 d.C.) escreveu várias epístolas às 
igrejas, como também uma endereçada a Poliverpo; e esses escritos sobreviveram como uma 
“coleção”. Cabe-nos o direito, portanto, de suspeitar de que muitos crentes, aquela época 
primitiva, possuíam várias coleções das epístolas de Paulo. Além disso, é extremamente 
improvável que qualquer coleção de epístolas de outrem tenha precedido a coleção dos escritos 
do apóstolo Paulo, o apóstolo dos gentios. E, assim sendo, podemos supor que, pelo fim do 
primeiro século da Era Cristã, alguma forma de coleção já fora feita, tendo sido esse o mais 
primitivo “cânon” do NT, o qual, sem a menor sombra de dúvida, incluía a epístola aos 
Romanos. 
A ordem das epístolas paulinas, aceita por Márcião, e também pelos país da igreja, era a 
seguinte: Gálatas, 1 e 2 Coríntios, Romanos, 1 e 2Tessalonicênces, Efésios, Colossenses, 
Filemon e Filipenses. Isso nos mostra quais as epístolas formadoras do mais primitivo “cânon”. 
Já a lista muratoriana, feita posteriormente, pertencente a cerca de 200 d.C., apresenta uma 
ordem diferente: 1 e 2 Coríntios, Efésios, Filipenses, Colossenses, Gálatas, 1 e 2 
Tessalonicenses, Romanos e Filemon. Com esse número e com essa ordem de epístolas 
Paulinas, Tertuliano (cerca de 200 d.C.) parece concordar. 
Escritores anteriores, que não contavam com qualquer “cânon” formal, mesmo assim 
demonstraram respeito e conhecimento por diversas das epístolas de Paulo, incluindo a epístola 
aos Romanos. Entre esses podemos citar Clemente de Roma (95 d.C.), Inácio de Antioquia (110 
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d.C.) e Policarpo de Esmirna (110 ou 130 d.C.). Além disso, cristãos de séculos posteriores, 
igualmente aceitavam a epístola aos Romanos como canônica, como Teófilo de Antioquia (180 
d.C) Atenagoras (180 d.C) e as igrejas de Viena e Lyons, segundo Eusébio (320 d.C.). 
 
3. DATA E LOCAL 
 
Agora, porém, estou de partida para Jerusalém, a serviço 
dos santos. 
 
Romanos 15:25 
 
Viajou por aquela região, encorajando os irmãos com muitas 
palavras e, por fim, chegou à Grécia, onde ficou três meses. 
Quando estava a ponto de embarcar para a Síria, os judeus fizeram 
uma conspiração contra ele; por isso decidiu voltar pela 
Macedônia, 
 
Atos 20:2,3 
 
Paulo tinha decidido não aportar em Éfeso, para não se 
demorar na província da Ásia, pois estava com pressa dechegar a 
Jerusalém, se possível antes do dia de Pentecoste. 
 
Atos 20:16 
 
Agora, compelido pelo Espírito, estou indo para Jerusalém, 
sem saber o que me acontecerá ali, 
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Atos 20:22 
 
A correlação entre Romanos 15.25: e Atos 20 também deixa implícito o local e origem, 
visto que Atos 20.3 menciona o tempo de três meses, passados na Grécia por ocasião da viagem 
final a Jerusalém. Isso sugere Corinto, a principal base de Paulo na Grécia, e se harmoniza com 
a informação de Romanos 16. 
Febe provinha de Cencria, um dos portos de Corinto, podendo ter sido ela a portadora da 
epístola, tendo-a lavado de Corinto a Roma. 
 
Recomendo-lhes nossa irmã Febe, serva da igreja em 
Cencréia. Peço que a recebam no Senhor, de maneira digna dos 
santos, e lhe prestem a ajuda de que venha a necessitar; pois tem 
sido de grande auxílio para muita gente, inclusive para mim. 
 
Romanos 16:1,2 
 
Gaio e Erasto provavelmente moravam em Corinto: 
 
Gaio, cuja hospitalidade eu e toda a igreja desfrutamos, 
envia-lhes saudações. Erasto, administrador da cidade, e nosso 
irmão Quarto enviam-lhes saudações. 
 
Romanos 16:23 
 
Dou graças a Deus por não ter batizado nenhum de vocês, 
exceto Crispo e Gaio; 
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1 Coríntios 1:14 
 
O mais importante é que um período de três meses passados num único lugar, daria a 
Paulo tempo para refletir, criar, e ditar aquela que, dentre suas cartas, é a que foi elaborada com 
maior cuidado. Portanto, o livro é geralmente datado como escrito por volta de 57d.C. 
 
4. DESTINATÁRIOS 
 
Quase não se questiona a quem a carta foi dirigida. Em romanos 1.7, alguns manuscritos 
omitem a referência a Roma, mas a melhor explicação para essa omissão é que a carta, 
originalmente dirigida a um público mais específico, teve mais tarde um uso mais geral. A 
questão mais importante é: quem eram os cristãos de Roma, e por que Paulo, que nunca tinha 
visitado Roma, achou necessário escrever para eles? 
 
4.1 “Primeiro do judeu...” 
 
É conhecido que no século I havia uma grande comunidade judaica em Roma, calculada 
entre 40 mil e 50mil pessoas. Também sabemos que houve uma missão cristã ativa entre os da 
“circuncisão” (Gl 2.9). Mesmo a missão aos gentios deve ter descoberto que o terreno mais 
fértil eram os prosélitos gentios (gentios convertidos ao judaísmo) e as pessoas tementes a Deus 
que se associavam às muitas sinagogas da Diáspora como indicam também Atos e a contínua 
identificação de Paulo com essa instituição judaica, implícita em 2 Coríntios 11.24. 
 
E conhecendo Tiago, Cefas e João, que eram 
considerados como as colunas, a graça que me havia sido 
dada, deram-nos as destras, em comunhão comigo e com 
Barnabé, para que nós fôssemos aos gentios, e eles à 
circuncisão; 
 
Gálatas 2:9 
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Além do mais, temos a informação interessante de que, segundo escreveu o historiador 
romano Suetônio, o Imperador Cláudio baniu os judeus de Roma, em 49 ou 50 d.C., alegando 
distúrbio civil, por causa de agitações, na colônia judaica dali, “provocadas por Chrestus”, 
quase universalmente entendido como uma referência a Cristo, provavelmente m erro na 
tentativa de se grafar “Christus” (forma latina de “Cristo”). Acompanhado por um equívoco em 
torno da notícia de uma pregação sobre Cristo entendida como pregação por Cristo. Entre os 
expulsos estavam o judeu Aquila e sua mulher Priscila. 
 
E, achando um certo judeu por nome Áqüila, natural 
do Ponto, que havia pouco tinha vindo da Itália, e Priscila, 
sua mulher (pois Cláudio tinha mandado que todos os judeus 
saíssem de Roma), ajuntou-se com eles, 
 
Atos 18:2 
 
Tais conclusões a cerca desses erros de escrita, nos documentos de Suetônio, se dão pelo 
fato de ser lógico que tais agitações na comunidade judaica se deram por motivo da pregação 
cristã sobre “Christus”, mal soletrada como “Chrestus”, que era um nome muito comum dado 
a escravos pois vem do grego chr stos, que significa “útil”, como os escravos são aos seus 
senhores. Além disso, Suetônio parecia pensar que o próprio Cresto teria instigado o levante. 
Porém, tendo escrito setenta anos depois dos acontecimentos, provavelmente ele confundiu a 
pregação sobre Cristo com a pregação – ou arruaças – feita por Cristo. 
Adicionalmente a essas informações, a quantidade de nomes de escravos entre aqueles a 
quem Paulo envia saudações em Romanos 16 (pelo menos 14 de 24) sugere que não poucos 
eram descendentes de judeus cativos trazidos para Roma, especialmente após Pompeu ter 
subjugado a Palestina, em 62 a.C., que vieram a crer em Jesus com o Messias. A implicação 
óbvia, portanto, é que o cristianismo fincou o pé em Roma no ambiente das muitas sinagogas 
de Roma. Isso talvez explique o porquê da carta de Paulo ser tão dominada pelo tema “primeiro 
do judeu e também do grego”, citado 7 vezes ao longo da carta (Rm 1.16; 2.9,10; 3.9, 29; 9.24. 
10.12). 
 
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4.2 “... e também do grego”. 
 
Está implícito na carta, especialmente em Romanos 11.13-32 e 15.7-12, que nos anos 
iniciais os gentios foram, em algum momento, atraídos para a igreja de Roma. Isso significa ser 
levado a participar de uma herança essencialmente judaica, o que resultaria inevitavelmente nas 
questões sobre as identidades judaica e cristã. Isso já é suficiente para explicar alguns dos 
elementos e temas característicos da carta: por exemplo, “quem/o que é um judeu?” (Rm 2.25-
29); quem são “os eleitos de Deus”? (Rm 1.7; 8.33; 9.6-13; 11.5-7, 29-32); a afirmação 
culminante de Romanos 9-11 e 15.8-12. 
Não há como dizer com certeza se as agitações ocorridas na comunidade judaica em 49 
d.C tiveram lugar entre judeus que acreditavam e os que negavam que Jesus era o Messias 
(“Chrestus”) ou entre os judeus que acolhiam bem os gentios e aqueles (inclusive cristãos 
judeus) que não acolhiam. 
 
Além disso, caso seja grande o número de judeus cristãos entre os que foram expulsos em 
49 d.C, podemos ainda inferir que as igrejas romanas perderam boa parte de seus líderes e 
membros. Era previsível que a liderança dos gentios tivesse se tornado regra. Depois que o 
decreto de Cláudio começou a perder força e os judeus cristãos começaram a voltar à Roma, é 
bem possível que tenham surgido algumas tensões entre os antigos e os novos crentes. É 
exatamente essa a circunstância que parece refletida em Romanos 14.1 e 15.1,7. 
 
4.3 Afinal de contas, judeus ou gentios? 
 
Alguns estudiosos sustentam que a igreja de Roma era composta, principalmente, de 
cristãos judeus. Argumentam isso com base nos seguintes fatores: a ênfase dada à nação judaica 
nos capítulos 9 a 11; o apelo ao exemplo dado por Abraão; as citações extraídas do Antigo 
Testamento e as passagens em que Paulo parece argumentar contra certas objeções tipicamente 
judaicas (2.17-3.8; 3.21-31; 6.1-7.6 e 14.1-15.3). No entanto, em conformidade com os 
capítulos de 9 a 11, Deus temporariamente volta sua atenção, da nação judaica, para os gentios, 
e por essa razão tais capítulos podem, bem pelo contrário, indicar que os destinatários dessa 
epístola, fossem, principalmente, gentios. 
O uso que Paulo faz de Abraão e do Antigo Testamento como ilustrações, pode refletir 
tanto a formação intelectual de Paulo, e não de seus leitos, como também pode se referir ao 
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conhecimento do Antigo Testamento que prosélitos e tementes a Deus, entre os gentios, haviam 
obtido por meio de participação em sinagogas antes da conversão ao cristianismo. Paulo apela 
a Abraão, além disso, para incluir os crentes gênios entre os crentes judeus. E as respostas que 
ele dá as objeções tipicamente judaicas podem ter-se originado de seus frequentesdebates com 
judeus incrédulos e com judaizantes. Eram esses judaizantes que tentavam converter ao seu 
modo de pensar, os cristãos gênios. Assim, essas respostas não se teriam originado da 
necessidade de se dirigir a cristãos judeus. 
Certo número de passagens demonstra que as igrejas de Roma se compunham 
principalmente de gentios. 
 
 Paulo escreve em 1.5,6 “... entre todos os gentios de cujo número sois também 
vós...” 
 Em 1.13, o apóstolo registra “... para conseguir igualmente entre vós algum fruto, 
como também entre os outros gentios”. 
 E as palavras “Dirijo-me a vós, que sois gentios!” (11.13) caracterizam as igrejas 
romanas de um modo geral e não uma minoria entre elas, pois em 11.28-31 se lê 
que os leitores de Paulo haviam sido alvo da misericórdia divina em virtude da 
incredulidade dos judeus. 
 Em 15.15,16, Paulo se refere ao que escreve aos romanos como algo vinculado a 
seu ministério “entre os gentios”. 
 
5. INTEGRIDADE DA EPÍSTOLA 
 
Toda discussão até o momento, tem demonstrado amplamente que praticamente todos os 
eruditos consideram que a epístola aos Romanos é uma obra genuína do apóstolo Paulo, não 
restando dúvidas sobre sua autenticidade. No entanto, isso não significa que essa epístola não 
foi submetida a um estudo aprofundado no que diz respeito à sua validade e ao seu texto, 
conforme chegou até nós, trazendo assim alguns debates e objeções ao longo dos anos. 
Existem três pontos, ou problemas, que ficaram mais proeminentes ao longo dos anos, 
através da crítica textual, gerando diversos debates, que acabaram por nos assegurar ainda mais 
da autenticidade e pureza do documento que temos hoje em mãos. 
 
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1. Há alguns manuscritos onde a palavra Roma não se encontra em Romanos 1.7 e 
15. Deixando a carta sem destinatário. 
 
“A todos os que estais em Roma, amados de Deus, 
chamados santos: Graça e paz de Deus nosso Pai, e do 
Senhor Jesus Cristo.” 
 
Romanos 1:7 
 
Esses manuscritos são datados a partir do século IX, os quais não se revestem de qualquer 
importância especial no tocante a epístola aos romanos, e assim, no que diz respeito a crítica 
textual objetiva, nenhum erudito pode defender, a partir delas, a tese de que a essa epístola, falta 
da saudação aos Romanos. 
Outra fonte de argumento as vezes utilizada, se baseia no fato de que Orígenes (Sec. III), 
um dos pais da igreja, algumas vezes não citou o texto com a referência a Roma, podendo 
apontar para o fato da variante textual, que omite o termo Roma, ter surgido antes de 250d.C. 
Mas, mesmo assim, essa evidência em favor da não existência do termo Roma nos originais é 
extremamente débil. 
A melhor explicação para essa omissão, é a mesma da citada anteriormente, em que a 
carta, originalmente dirigida a um público mais específico, teve mais tarde um uso mais geral, 
onde essa modificação pode ter sido feita por determinados escribas ou por Marcião (150 d.C), 
famoso por truncar trechos bíblicos para atender seus propósitos pessoais. Talvez ele tenha 
querido transformar esse escrito de Paulo em uma epístola geral. Mas a necessidade dessas 
conjecturar não se torna preocupante pois elas visam atender um número ínfimo de manuscritos. 
 
2. O segundo problema de maior envergadura, que diz respeito a essa epístola aos 
Romanos, é o que envolve a doxologia em Romanos 16.25-27. Essa doxologia 
(forma de louvor ou glorificação) aparece em três posições diferentes, nos 
manuscritos antigos, e em alguns ela aparece por mais de uma vez, ou nenhuma 
vez. 
 
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“Ora, àquele que é poderoso para vos confirmar segundo o meu 
evangelho e a pregação de Jesus Cristo, conforme a revelação do 
mistério que desde tempos eternos esteve oculto, Mas que se 
manifestou agora, e se notificou pelas Escrituras dos profetas, 
segundo o mandamento do Deus eterno, a todas as nações para 
obediência da fé; Ao único Deus, sábio, seja dada glória por Jesus 
Cristo para todo o sempre. Amém.” 
 
Romanos 16:25-27 
 
Alguns estudiosos levantam a tese de que essa doxologia estava originalmente no fim do 
capítulo 14 e que os capítulos 15 e 16 foram adições posteriores. Já outros defendem que essa 
doxologia nunca existiu, podendo ser uma adição marcionita ou de alguma outra pessoa que 
queria dar uma maior beleza à epístola. 
Como veremos no próximo tópico, a explicação mais plausível é a abreviação natural da 
carta, feito por certos escribas. 
3. A epístola aos Romanos, segundo foi originalmente escrita, tinha 14, 15 ou 16 
capítulos? 
A principal questão levantada pela crítica textual é se Romanos 16 pertence ao texto 
original ditado por Paulo. Uma opinião minoritária, porém influente, insiste que Romanos 16 
foi uma carta independente, escrita em Éfeso, e posteriormente ajuntada a epístola aos Romanos 
para fins de preservação. Isso é improvável. Em particular, uma carta terminando com Romanos 
15.33 (“E o Deus de paz seja com todos vós. Amém”), sem uma benção de “graça” a favor dos 
destinatários (Rm 16.20 - A graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja convosco. Amém.) seria 
bem o oposto do costume de Paulo. Romanos 16.1-23 apresenta todas as características de uma 
conclusão epistolar. 
Muitos argumentam no entanto, que por Paulo nunca ter visitado Roma, a saudação a ao 
menos 25 indivíduos de Roma, presente no capítulo 16, pode indicar que essa saudação foi feita 
posteriormente à visita de Paulo à Roma, estando ele em Éfeso, e que Febe tenha sido a 
portadora desta pequena epístola de autoria do apóstolo, como indica a saudação do versículo 
inicial. Mas não é implausível que Paulo conhecesse tantas pessoas em Roma, como a saudação 
indica. A comunidade judaica era numerosa, e os deslocamentos de Priscila e Áquila indicam 
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que havia uma quantidade razoável e viagens de Roma e para Roma, o que seria de esperar da 
capital do império. 
Entretanto, a presença de Romanos 16.25-27 em diferentes lugares na tradição textual 
(também depois de Rm 14.23 e de Rm 15.33) mostra que é possível que tenham circulado cópias 
mais breves da carta. O consenso é que a carta foi abreviada (para Rm 1.1-14.23) por influência 
marcionita, sendo Romanos 16.25-27 acrescentado para servir de conclusão. Numa fase inicial, 
os copistas também teriam visto pouco motivo para transcrever todos os nomes de Romanos 16 
e provavelmente fizeram circular uma versão mais geral, que terminava em Romanos 15.33, a 
qual Romanos 16. 25-27 foi acrescentado. 
 
6. PROPÓSITO 
 
Dentre as questões introdutórias relacionadas com Romanos, em anos recentes, o debate 
mais acalorado tem girado em torno do(s) propósito(s) de Paulo ao escrever a carta. Em 
particular, três propósitos têm sido minuciosamente analisados. 
 
6.1 Propósito missionário 
 
Dentre as diversas teses que apontam para esse propósito, a mais plausível é que Paulo 
escreveu a Roma com o objetivo de que as igrejas ali fossem uma base de apoio para sua 
planejada missão à Espanha. É o que ele diz explicitamente em Rm 15.24,28: 
 
“Quando partir para Espanha irei ter convosco; pois 
espero que de passagem vos verei, e que para lá seja 
encaminhado por vós, depois de ter gozado um pouco da vossa 
companhia.” 
 
Romanos 15:24 
 
Não há motivos para duvidar desta tese. A igreja em Filipos havia desempenhado esse 
papel. No caso de Romanos, a carta seria uma tentativa de apresentar o evangelho que até então 
havia pregado com tanto êxito e que pretendia pregar na Espanha (Rm 1.16-17). No final da 
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primeira fase (ou fase anterior) de sua grande estratégia missionária (Rm 15.19,23), ele 
aproveita a oportunidade para expor em minúcias a teologia do evangelho em que se basearia 
seu pedidode ajuda aos cristãos de Roma. 
 
 
6.2 Propósito apologético 
 
A implicação de passagens como Romanos 1.16, 3.8 e 9.1-2, além do fato de que Paulo 
recorre repetidamente ao estilo de diatribe, é que o apóstolo achava que ele próprio e a sua 
maneira de entender o evangelho estavam sendo atacados e que havia a necessidade de uma 
explicação. 
 
“Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é 
o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê; primeiro 
do judeu, e também do grego” 
 
Romanos 1:16 
 
“Por que não dizer como alguns caluniosamente afirmam 
que dizemos: "Façamos o mal, para que nos venha o bem"? A 
condenação dos tais é merecida.” 
 
Romanos 3:8 
 
“Digo a verdade em Cristo, não minto; minha consciência o 
confirma no Espírito Santo: tenho grande tristeza e constante 
angústia em meu coração” 
 
Romanos 9:1-2 
 
Diatirbe: Forma de retórica caracterizada por breves discursos éticos, perguntas e 
diálogos retóricos e falas argumentativas, na qual o autor ou orador debate com uma pessoa 
imaginaria (interlocutor) com o objetivo de instruir o público. 
 
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“Que diremos pois? Permaneceremos no pecado, para que 
a graça abunde? De modo nenhum. Nós, que estamos mortos para 
o pecado, como viveremos ainda nele?” 
 
Romanos 6:1,2 
 
“Que diremos pois? É a lei pecado? De modo nenhum. [...]” 
 
Romanos 7:7ª 
 
“Pois quê? Pecaremos porque não estamos debaixo da lei, 
mas debaixo da graça? De modo nenhum!” 
 
Romanos 7:15 
 
Por esse motivo, tem se chegado à conclusão óbvia de que a carta funciona como uma 
apologia que Paulo de seu evangelho, dessa maneira, também uma defesa de si mesmo, pois o 
trabalho de toda sua vida sempre esteve ligado ao evangelho que pregava. 
Também é plausível a ideia de que Paulo apresentou uma exposição completa de seu 
evangelho como uma espécie de ensaio final para sua autodefesa em Jerusalém, e desse modo, 
esperava obter o apoio das congregações de Roma em qualquer confronto que porventura 
tivesse em Jerusalém, como ele já previa em Romanos 15:30,31: 
 
“E rogo-vos, irmãos, por nosso Senhor Jesus Cristo e pelo 
amor do Espírito, que combatais comigo nas vossas orações por 
mim a Deus; Para que seja livre dos rebeldes que estão na Judéia, 
e que esta minha administração, que em Jerusalém faço, seja bem 
aceita pelos santos;” 
 
Romanos 15:30,31 
 
Em grande parte das suas epístolas, e também nessa, é também notório que ele fazia 
oposição aos judaizantes que atuavam na cidade de Roma, os quais sentiam obrigação ante as 
leis cerimoniais mosaicas, bem como entre o conceito de salvação através de obras, 
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formalidades e ritos religiosos. Já discutimos o quanto era provável o caráter judaico da igreja 
cristã de Roma; e seria apenas natural esperarmos que ali agissem alguns elementos de 
tendência judaizantes, não menos do que nas igrejas da Galácia. 
 
6.3 Propósito pastoral. 
 
Em anos recentes, Romanos 14.1-15.6 tem adquirido uma importância fundamental nas 
tentativas de esclarecer o propósito de Romanos: Paulo estava escrevendo para curar divisões 
em potencial ou reais, entre as igrejas em Roma. Com isso, as exortações de Romanos 14.1 e 
15.7 fazem bastante sentido, especialmente levando em conta o contexto histórico já discutido 
anteriormente. 
 
“Ora, quanto ao que está enfermo na fé, recebei-o, não 
em contendas sobre dúvidas.” 
 
Romanos 14:1 
 
“Ora, o Deus de paciência e consolação vos conceda 
o mesmo sentimento uns para com os outros, segundo Cristo 
Jesus. Para que concordes, a uma boca, glorifiqueis ao Deus 
e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Portanto recebei-vos uns 
aos outros, como também Cristo nos recebeu para glória de 
Deus.” 
 
Romanos 15:5-7 
 
Em Romanos 16, fica evidente que Paulo mantinha contato bem próximo com vários 
membros das igrejas de Roma, e por esse motivo, devia ter um conhecimento razoável das 
peculiaridades dessas igrejas e das circunstâncias que atravessavam. 
Devido a diversidade entre gentios tementes a Deus, judeus cristãos e gentios cristãos, 
Paulo se lança a demonstrar que, em sua natureza, o evangelho e também as promessas a Israel, 
destinam-se igualmente a judeus e gentios, buscando assim nivelar a igreja e coibir as divisões 
e tensões entre os grupos. 
16 
 
Além disso, alguns membros gentios das igrejas de Roma, abusavam da liberdade cristã, 
participando de alimentos oferecidos a ídolos e fazendo coisas que especialmente ofensivas 
para o segmento judaico daquela igreja. Também em contrapartida, o segmento judaico daquela 
igreja, constrangia os gentios devido ao fato deste grupo não seguir costumes judaicos. Paulo 
então, busca novamente uma saída diplomática para o impasse, como no exemplo de Rm 14.3. 
“O que come não despreze o que não come; e o que 
não come, não julgue o que come; porque Deus o recebeu 
por seu.” 
 
Romanos 14:3 
6.4 Propósito didático. 
 
A epístola aos Romanos também é de natureza didática, pois nem tudo o que Paulo 
escreveu visou dar solução a algum problema. Seus estudos completos sobre a doutrina da graça 
e da fé (capítulos 1 a 5), seu estudo sobre a vida piedosa, sob a graça de Deus (capítulo 6), seu 
tratamento sobre o matrimônio (capítulo 7) e sua sessão prática geral sobre a moral e conduta 
cristãs (capítulo 12 a 15), têm propósito de ensinar, informar e iluminar, e não meramente 
resolver determinados problemas. Acima de todas as suas demais epístolas, Paulo escreveu aos 
Romanos, a fim e fazer uma exposição ordeira e completa das mais importantes verdades 
cristãs. 
 
6.5 Propósitos de Romanos. 
 
Para cada um dos motivos apresentados acima é possível encontrar um apoio claro na 
própria carta. Esse fato aponta para a conclusão óbvia: Paulo não tinha em mente apenas um 
propósito, mas vários, quando a escreveu. De certa maneira, a natureza da carta exige tal 
conclusão, pois nenhum dos motivos propostos consegue explicar isoladamente o documento 
em todo o seu escopo. Pelo contrário, é presumível que a carta tenha essa natureza porque, pelo 
fato de Paulo ter vários propósitos em mente, ele preferiu expor do modo mais completo sua 
maneira de entender as boas vindas de Cristo, inclusive com implicações práticas dessa sua 
maneira de entender. 
Por estar em um dos pontos de transição mais importantes em todo o seu ministério, ele 
entendia que era necessária e desejável uma declaração bem elaborada, que explicasse qual era 
17 
 
o evangelho que ele pregava, porque como judeu ele o pregava e como esse evangelho iria se 
concretizar no cotidiano daquela comunidade. 
Essa multiplicidade de objetivos, põe a carta acima do imediatismo das circunstâncias 
que motivaram sua escrita, e olhe dá, se não uma virtude atemporal, pelo menos uma 
importância que extrapola o momento da redação. 
 
7. CONTEÚDO 
 
CAPÍTULO 1 
 
1-14 
 
Mediante a longa introdução, incluindo o que parece ser uma forma de comum (Rm 
1.3,4), Paulo apresenta seu cartão de visitas e revela suas sinceras intenções. Ele faz uma defesa 
de seu apostolado, e também uma defesa do caráter messiânico de Cristo, anunciado ao longo 
de todo o antigo testamento. 
 
8- 15 
A entre os versos 8 e 15, Paulo identifica o destinatário da carta, que é a igreja de Roma 
e expressa a sua vontade de os visitar, explicando que muitas vezes quis fazer esta visita mas 
foi impedido devido a certas circunstâncias. 
 
16-17 
Nos versos 16 e 17 Paulo introduz o assunto da epístola, que é a justificação pela fé: 
 
“Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, 
pois é o poder de Deus para salvaçãode todo aquele que crê; 
primeiro do judeu, e também do grego. Porque nele se 
descobre a justiça de Deus de fé em fé, como está escrito: 
Mas o justo viverá pela fé.” 
 
Romanos 1:16,17 
 
18 
 
 
18 – 32 
Nessa parte do capítulo, Paulo volta sua atenção para a depravação dos gentios, os 
tornando indesculpáveis perante a Deus, ao demonstrar que Deus se manifesta também aos que 
estavam se a Lei: 
 
“Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, 
tanto o seu eterno poder, como a sua divindade, se entendem, e 
claramente se vêem pelas coisas que estão criadas, para que eles 
fiquem inescusáveis; 
Porquanto, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como 
Deus, nem lhe deram graças, antes em seus discursos se desvaneceram, 
e o seu coração insensato se obscureceu.” 
 
Romanos 1:20,21 
 
 No verso 28 também é dito que “[...] eles não se importaram de ter o conhecimento de 
Deus”. Como juízo, Deus os entregou a um “sentimento perverso para fazerem coisas que não 
convém”. Dentre os diversos pecados citados, Paulo dá uma atenção especial ao 
homossexualismo e também para as pessoas que consentem com a depravação. Na imensa lista 
de pecados abordados por Paulo, fica claro que nenhum gentio é desculpável perante a Deus, 
antes, todos eles pecaram. 
 
CAPÍTULO 2 
 
Se no capítulo 1 Paulo se esforçou para mostrar que todos os sem lei, ou seja, os gentios, 
estão debaixo do pecado. No capítulo 2 Paulo volta sua atenção para os judeus, denunciando 
sua hipocrisia, pois apesar de terem a lei, praticam o contrário do que pregam, fazendo com que 
“o nome de Deus seja blasfemado entre os gentios”: 
 
Portanto, você, que julga, os outros é indesculpável; pois 
está condenando a si mesmo naquilo em que julga, visto que você, 
que julga, pratica as mesmas coisas. Sabemos que o juízo de Deus 
contra os que praticam tais coisas é conforme a verdade. Assim, 
19 
 
quando você, um simples homem, os julga, mas pratica as mesmas 
coisas, pensa que escapará do juízo de Deus? 
 
Romanos 2:1-3 
 
Paulo mostra que conhecer a lei não significa nada, caso não haja prática, e que o título 
de judeu por si só nada é para Deus se não for acompanhado da obediência: 
 
“Porque os que ouvem a lei não são justos diante de Deus, mas os que praticam a lei hão 
de ser justificados.” 
 
Romanos 2:13 
 
“Porque não é judeu o que o é exteriormente, nem é circuncisão a que o é exteriormente 
na carne. Mas é judeu o que o é no interior, e circuncisão a que é do coração, no espírito, 
não na letra; cujo louvor não provém dos homens, mas de Deus.” 
 
Romanos 2:28,29 
 
 
CAPÍTULO 3 
 
Este capítulo é talvez o capítulo mais importante da epístola, pois ele introduz o tema da 
doutrina da redenção, que fala do sacrifício de Cristo e o que essa graça trouxe a nós. 
 
Entre os versos 9 ao 20 Paulo conclui tudo que foi dito nos capítulos 1 e 2 da epístola: 
 
“Pois quê? Somos nós mais excelentes? De maneira 
nenhuma, pois já dantes demonstramos que, tanto judeus 
como gregos, todos estão debaixo do pecado;” 
 
Romanos 3:9 
 
20 
 
Paulo faz então uma extensa revisão da universalidade do pecado através do antigo 
testamento, encerrando, de uma vez por todas, todos debaixo do pecado, para nos versos 23 a 
26, apresentar aquilo que e chamado de a acrópole do Evangelho, a passagem que muitos ao 
longo da história da igreja disseram ser o resumo do Evangelho, a passagem a qual escolheriam 
caso tivesse que levar com sigo apenas um pedaço de papel da bíblia: 
 
“Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus; Sendo justificados 
gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus. Ao qual Deus propôs 
para propiciação pela fé no seu sangue, para demonstrar a sua justiça pela remissão dos 
pecados dantes cometidos, sob a paciência de Deus; Para demonstração da sua justiça neste 
tempo presente, para que ele seja justo e justificador daquele que tem fé em Jesus.” 
 
Romanos 3:23-26 
 
Paulo finaliza o capítulo demonstrando que essa graça atingiu também os gentios: 
 
“É porventura Deus somente dos judeus? E não o é também 
dos gentios? Também dos gentios, certamente, Visto que Deus é 
um só, que justifica pela fé a circuncisão, e por meio da fé a 
incircuncisão.” 
 
Romanos 3:29,30 
 
 
CAPÍTULOS 4 E 5 
O tema dos capítulos 4 e 5 é a justificação pela fé (para judeus e gentios), tema este 
introduzido no fim do capítulo 3. Iremos então agora fazer um estudo acerca do tema: 
Justificação. 
1. Justificação 
 
Quando Paulo considera o processo pelo qual Deus aplica a salvação em nós, ele 
menciona a justificação explicitamente: “E aos que predestinou a estes também chamou; e aos 
21 
 
que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também glorificou” 
(Romanos 8:30). Aqui Paulo deixa claro que isso é algo que o próprio Deus faz. 
Além disso, Paulo ensina completa e claramente que essa justificação vem depois da 
nossa fé e como resposta de Deus a ela. Ele diz que Deus é “o justificador daquele que tem fé 
em Deus” (Rm 3.26), e “que o homem justificado pela fé, independentemente das obras da lei” 
(Rm 3.28). E acrescenta: “Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de 
nosso Senhor Jesus Cristo” (Rm 5.1). Além disso, “o homem não é justificado por obras da lei 
e sim mediante a fé em Cristo Jesus” (Gl 2.16) 
 
1.1 Etimologia 
No antigo testamento, o termo hebraico para “justificar” é hitsdik, que, na grande maioria 
dos casos, significa “declarar judicialmente que o estado de uma pessoa está na harmonia com 
as exigências da lei” (Ex 23.7; Dt 25.1; Pv 15.5; Is 5.23). O piel tsiddek ocasionalmente tem o 
mesmo significado (Jr 3.11; Ez 16.50,51). O sentido dessas palavras é, pois, estritamente 
forense ou legal. Por exemplo: 
“O que justifica o perverso e o que condena o justo, abomináveis são para o Senhor” (Pv 
17.15). Nessa passagem a interpretação “tornar justo” é ilógica pois tornar uma pessoa perversa, 
justa, seria algo bom aos olhos de Deus, e e justamente o contrário que lemos na passagem. 
No novo testamento, o verbo justificar (em grego, dikaioõ) tem uma variedade de 
significados, podendo significar por exemplo: “mostrar-se justo”; “tornar justo”, e na boa parte 
das vezes “declarar justo”; “reconhecer como justo”. É importante distinguir os sentidos: 
Por exemplo, lemos: “E todo o povo que o ouviu e os publicanos, tendo sido batizados 
com o batismo de João, justificaram a Deus.” (Lucas 7:29). Naturalmente, o povo e os 
publicanos não tornaram Deus justo – fazê-lo isso seria impossível para quem quer que seja. 
Mas antes reconheceram que Deus é justo. 
 
1.2 Definição de justificação – Declaração legal da parte de Deus. 
 
É o ato judicial pelo qual, por causa de Cristo, a quem o pecador está unido pela fé, Deus 
declara que o pecador não mais está exposto à pena da lei, mas restaurado ao seu favor. Ou, 
dando uma definição alternativa de que se exclui toda a metáfora: Justificação é o reverso da 
22 
 
atitude de Deus para com o pecador, por causa da nova relação deste com Cristo. Deus 
condenou; Ele agora absolve. Ele repeliu; agora admite favorece-lo. 
A justificação, assim definida, é, portanto, um ato declarativo, distintivo do ato eficiente; 
ato exterior de Deus para o pecador distinto do ato interior da natureza do pecador e que a muda. 
Ou seja, na justificação, Deus não nos TORNA justos, ele nos DELCARA justos. Sendo assim, 
é um ato judicial soberano, um ato baseado na união do pecador com Cristo e logicamente, 
pressupondo-a, distinto dos atos que causam a união e dos atosposteriores a união. 
 
John Murray faz uma importante distinção entre regeneração e justificação: 
 
“Regeneração é um ato de Deus em nós; justificação é um julgamento de Deus a nosso 
respeito. A distinção é como a diferença entre o ato de um cirurgião e o ato de um juiz. O 
cirurgião, ao remover um câncer interno, faz algo em nós. Isso não é o que o juiz faz – ele dá 
um veredito concernente à nossa condição judicial. Se somos inocentes ele o declara de acordo 
com isso. 
A pureza do evangelho está em ligação estreita com o reconhecimento dessa distinção. 
Se justificação for confundida com regeneração ou com santificação, então a porte está aberta 
para a distorção do evangelho em sua essência. A justificação ainda é o elemento sobre o qual 
a igreja fica de pé ou cai.” 
 
 
1.3 A justificação vem por meio da fé, através do sacrifício e da obediência de Cristo, 
que é a base da Justificação. 
 
Quando começamos a discutir sobre o assunto Justificação pela fé, notamos que a 
justificação vem depois da fé salvífica. Paulo torna clara essa sequência quando diz: 
 
Sabendo que o homem não é justificado pelas obras 
da lei, mas pela fé em Jesus Cristo, temos também crido em 
Jesus Cristo, para sermos justificados pela fé em Cristo, e não 
pelas obras da lei; porquanto pelas obras da lei nenhuma 
carne será justificada. 
23 
 
 
Gálatas 2:16 
Aqui Paulo indica que a fé vem primeiro com o propósito de sermos justificador. Ele 
também diz que Cristo é “propiciação, mediante a fé” e que “é justificador daquele que tem fé 
em Jesus”. (Rm 3.25,26). O capítulo 4, inteiro, de Romanos é uma defesa do fato de que somos 
justificados pela fé, e não por obras, assim como Abraão e Davi o foram. Paulo diz: 
“Justificados pois, mediante a fé” (Rm 5.1) 
No capítulo 4 de Romanos, ao fazer alusão a Abraão, Paulo argumenta que “Creu Abraão 
em Deus, e isso lhe foi imputado como justiça” (Rm 4.3 referenciando Gn 15.6), sendo este ato 
anterior ao estabelecimento da circuncisão (Rm 4.10-12) e anterior ao estabelecimento da Lei, 
evidenciando assim, que assim como a justiça foi imputada, pela fé, à Abraão enquanto 
incircusiso, também todos os incircusisos que “andam nas pisadas daquela fé de Abraão” (Rm 
4.12) sessão justificados. Ou seja, a salvaão chegou a nós, gentios, que “cremos naquele que 
dos mortos ressuscitou a Jesus nosso Senhor, o qual por nossos pecados foi entregue e 
ressuscitou para nossa JUSTIFICAÇÃO” (Rm 4.24). Os capítulos nos mostra assim, que a fé 
é sem dúvidas o único meio para a justificação, jamais as obras, pois se fosse pelas obras, isso 
implicaria em Deus devendo algo à gente, o que anularia a graça: “Ora, àquele que faz qualquer 
obra não lhe é imputado o galardão segundo a graça, mas segundo a dívida” (Romanos 4:4). 
Mas as escrituras nunca dizem que somos justificados por causa da bondade inerente da 
nossa fé, como se ela tivesse mérito diante de Deus. Nunca nos permitamos pensar que a nossa 
fé, por si só merece o favor de Deus. Antes, as Escrituras dizem que somos justificados 
MEDIANTE nossa fé, dando a entender que a fé é o instrumento pelo qual a justificação nos é 
dada, mas em nenhuma hipótese uma atividade que nos obtenha o favor de Deus, de maneira 
meritória. Ao contrário, nós somos justificados unicamente por causa dos méritos da obra de 
Cristo. Este é o tema do capítulo 5 de Romanos, que nos mostra que semelhante ao pecado de 
Adão, a Justiça de Cristo nos é imputada, e passamos a ser vistos por Deus como justos. 
“Porque, se pela ofensa de um só, a morte reinou por esse, muito mais os que recebem a 
abundância da graça, e do dom da justiça, reinarão em vida por um só, Jesus Cristo. Pois 
assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim 
também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação de vida. 
Porque, como pela desobediência de um só homem, muitos foram feitos pecadores, assim pela 
obediência de um, muitos serão feitos justos.” 
24 
 
 
Romanos 5:17-19 
 
É por isso que os reformadores como Martinho Lutero, foram tão firmes em sua insistência 
de que a justificação vem não através da fé e de algum mérito ou boas obras da nossa parte, mas 
apenas exclusivamente por meio da fé “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto 
não vem de vós, é dom de Deus; não vem das obras para que ninguém se glorie.” (Ef 2.8-9). 
Paulo repetidamente diz que “ninguém será justificado pelas obras da lei” (Rm 3.20); a mesma 
ideia é repetida em Gálatas 2.16; 3.11; 5.4. 
Mas isso é coerente com a epístola de Tiago? 
 
“Porventura o nosso pai Abraão não foi justificado 
pelas obras, quando ofereceu sobre o altar o seu filho Isaque? 
[...]E creu Abraão em Deus, e foi-lhe isso imputado como 
justiça [...] Vedes então que o homem é justificado pelas 
obras, e não somente pela fé.” 
 
Tiago 2:21-24 
 
Aqui, podemos ver que Tiago está usando a palavra “justificado” num sentido diferente 
do modo que Paulo a usa. No começo da nossa explanação sobre a justificação, observamos 
que a palavra “justificar” tem uma variedade de significados e que um sentido importante era 
“declarar justo”, mas nos também devemos notar que a palavra dikaioõ também pode significar 
“demonstrar ou provar ser justo”. Por exemplo, Jesus disse aos fariseus: 
 
"Vocês são os que se justificam a si mesmos aos olhos 
dos homens, mas Deus conhece os corações de vocês.” 
 
Lucas 16:15 
 
25 
 
A ideia aqui não é que os fariseus iam por toda parte fazendo declaração legais de que 
eram inocentes diante de Deus, mas antes estavam sempre tentando MOSTRAR aos outros que 
eram justos pelas suas ações exteriores. 
Semelhante, no capítulo 10 de Lucas, o intérprete da lei que pôs Jesus a prova ao perguntar 
o que ele deveria fazer para herdar a vida eterna respondeu bem à primeira pergunta de Jesus. 
Mas quando Jesus lhe disse: “Faze isto e viverás”, ele não ficou satisfeito. Lucas nos conta: 
“Ele, porém, querendo JUSTIFICAR-SE, perguntou a Jesus: Quem é o meu próximo (Lc 10.28-
29). Ora, ele não estava desejando fazer um pronunciamento legal sobre si mesmo de que era 
inocente diante de Deus; antes, estava desejando “MOSTRAR-SE JUSTO” diante daqueles que 
estavam escutando. Outros exemplos da palavra justificar significando “mostrar-se justos” 
podem ser encontrados em Mateus 11.19; Lucas 7.35 e Romanos 3.4. 
 
Além disso, nossa interpretação de Tiago 2 não depende somente do fato de que “mostrar 
ser justo” é um sentido aceitado para a palavra “justificado”, mas também depende do contexto 
em que o capítulo está inserido. 
Tiago está denunciando uma fé morta, enquanto Paulo fala da necessidade de uma fé viva; 
ou mais inda, Tiago está descrevendo a natureza da fé, enquanto Paulo, o instrumento da 
justificação. 
“Eles são como duas pessoas cercadas por um par de ladrões. Cada um ataca o ladrão 
que se opõe a ele, cada um tem em vista um inimigo diferente” (W.M. Taylor). 
NEANDER, comentando sobre Tiago 2.14-26 disse: 
 
“Tiago está somente denunciando a adesão a uma lei exterior, confiança na posse 
intelectual dela[...] Tiago não nega a salvação àquele que tem fé, mas Àquele que professa 
falsamente tê-la.” 
Em resumo, só com as obras que a fé se mostra genuína e completa. Apocalipse 22.11 – 
[...] quem é justo faça a justiça ainda.”. 
Cristo é um grande médico. O médico diz “Se você quer ser curado, deve confiar em 
mim”. O paciente responde: “Eu confio plenamente no senhor”. Porém o médico continua “Se 
você quer ser curado, você tem que tomar os remédios e seguir a minha orientação”. O paciente 
retruca: “Mas eu pensei que seria curado, através da confiança no senhor.Porque dar tanta 
ênfase naquilo que eu faço?”. O médico responde: “Você deve mostrar a sua confiança em mim 
por meio da sua ação. Confiar em mim sem a ação em prova de tal confiança, não tem valor 
nenhum” (S. S. Times). 
26 
 
Ação sem um médico é morte; por isso Paulo diz que as obras não podem salvar. 
Confiança no médico implica obediência; por isso Tiago diz que a fé sem obras é morta. 
SAGEBEER trouxe uma outra reflexão útil passa esta discussão: “Para Paulo, as obras 
são as da lei; para Tiago, as da fé”. E por fim, HOVEY disse “Uma diferença de ênfase, 
ocasionada principalmente pelos diferentes perigos religiosos a que os leitores da época 
estavam expostos”. 
Por fim, é importante lembrar, que através da justificação, temos nossos pecados 
perdoados. Aqueles que estão justificados, não tem penalidade a pagar pelo pecado. E mais, os 
que estão justificados, não são apenas perdoados, mas são adotados por Deus, passando a ser 
filhos de Deus e coerdeiros de Cristo, tendo por direito a Vida Eterna, através da imputação da 
justiça de Cristo. 
“Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão 
em Cristo Jesus” 
Romanos 8:1 
1.4 Reflexão final sobre a justificação pela fé 
 
ANSELMO, Arcebispo de Cantuária, no ano 1100, escreveu um tratado para a 
consolação do moribundo, que estava alarmado por causa do seu pecado. Eis aqui, o seguinte 
resumo: 
 
“Pergunta: Crês tu que Cristo morreu por ti? 
Resposta: Creio. 
Pergunta: Crês tu que não pode ser salvo, a não ser pela Sua morte? 
Resposta: Creio.” 
 
Depois ANSELMO dirige-se ao moribundo: 
 
“Vem, então, enquanto a vida permanece em ti; põe a tua confiança inteiramente na Sua 
morte; não ponhas a tua confiança em mais coisa alguma; confia totalmente na morte Dele; só 
isto te cobre totalmente; e se o Senhor, teu Deus te julgar, dize: ‘Senhor, entre o teu julgamento 
e a minha pessoa, apresento a morte do nosso Senhor Jesus Cristo; nenhuma outra coisa pode 
contender contigo’. E se Ele disser que tu és um pecador, dize tu: ‘Senhor, interponho a morte 
27 
 
do nosso Senhor Jesus Cisto entre ti e os meus pecados’. Se Ele disser que tens merecido a 
condenação, dize: ‘Senhor, eu coloquei a morte do nosso Senhor Jesus Cristo entre ti e os meus 
deméritos, e os méritos Dele ofereço em lugar dos que eu deveria ter e não tenho’. Se Ele disser 
que está irado contigo, dize “Senhor, eu oponho a morte do Senhor Jesus Cristo entre mim e a 
tua ira’. E, ao completar isso, dize ainda ‘Eu ponho a morte do Senhor Jesus Cristo entre mim 
e ti’”. 
 
A citação acima nos dá razão para crer que a doutrina neotestamentária da justificação 
pela fé implícita ou explicitamente, foi defendida por muitas piedosas almas através das épocas 
do obscurantismo papal. 
 
 
CAPÍTULO 6 
 
Neste capítulo Paulo começa a falar sobre SANTIFICAÇÃO. Se fomos crucificados por 
Cristo e morremos com ele, o pecado não terá mais domínio sobre nós como em outrora, quando 
éramos escravos do pecado, pois fomos comprados por Cristo, e agora feito escravos da justiça 
(Rm 6.16-18). Nesse capítulo Paulo também põe por terra qualquer pretensão libertina dos que 
usam da liberdade da graça para dar ocasião à carne, se defendendo também dos que poderiam 
estar acusando Paulo de estar pregando um evangelho libertino. 
 
“Que diremos pois? Permaneceremos no pecado, para que 
a graça abunde? De modo nenhum. Nós, que estamos mortos 
para o pecado, como viveremos ainda nele?” 
 
Romanos 6:1,2 
 
“Sabendo isto, que o nosso homem velho foi com ele 
crucificado, para que o corpo do pecado seja desfeito, para que 
não sirvamos mais ao pecado.” 
 
Romanos 6:6 
 
28 
 
“Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, para 
lhe obedecerdes em suas concupiscências;” 
 
Romanos 6:12 
 
“E, libertados do pecado, fostes feitos servos da justiça.” 
 
Romanos 6:18 
 
“Mas agora, libertados do pecado, e feitos servos de Deus, 
tendes o vosso fruto para santificação, e por fim a vida eterna.” 
 
Romanos 6:22 
 
CAPÍTULO 7 
 
Versos 1-6 
 
Paulo, como de praxe em suas cartas, traz a discursão acerca da não continuidade da lei, 
após Cristo. Paulo argumenta que “a lei tem domínio sobre o homem por todo o tempo que 
vive” (Rm 7.1), deixando de ter esse domínio após a morte. Fazendo uma analogia com a lei do 
matrimônio, Paulo tenta mostrar para os seus leitores que, semelhantemente, eles morreram 
para a lei pelo corpo de Cristo, estando assim, livres da lei, para que sirvam em novidades de 
espírito àquele que ressuscitou de entre os mortos. 
 
Versos 7 - 25 
“Mas o pecado, tomando por ocasião, pelo 
mandamento operou em mim toda espécie de 
concupiscência; porquanto onde não há lei, está morto o 
pecado.” 
 
Romanos 7.8 
 
29 
 
No versículo anterior, a ênfase do apóstolo recai sobre o fato de como a lei revela a 
natureza do pecado, tratando-se sobre tudo de uma questão de “conhecimento”. Ou seja o 
mandamento veio para que “o pecado se fizesse excessivamente maligno” (Rm 7.13) 
Porém, devido a nossa natureza depravada, tal conhecimento também pode despertar no 
homem o desejo de fazer aquilo que é proibido, porquanto isso é uma experiência humana 
perfeitamente comum, sendo tão somente uma manifestação da perversidade humana. 
“Para o homem, tudo quanto é proibido parece como uma benção desejável. No entanto, 
visto que se trata de algo proibido, o homem sene que a sua liberdade é assim limitada. E então 
a sua concupiscência reage ainda mais violentamente, e assim as ondas batem com ímpeto 
contra o dique.” (Tholuck). 
 
Quando Paulo fala “porque sem a lei está morto o pecado...”, ele não faz essa declaração 
em sentido absoluto, porque já demonstrava amplamente os efeitos mortais do pecado sobre 
toda a raça humana, com ou sem ei, nos capítulos 1 e 2 dessa epístola e também em Romanos 
3.1-20. 
Comparativamente falando, entretanto, o pecado jaz dormente, como que no sono da 
morte, até que é despertado pela lei. Podemos pelo menos afirmar, concordando com Paulo, 
que a lei desperta o cão feroz que dorme, impelindo-o a rua, à procura de qualquer maldade em 
que possa envolver-se. Não deve-se entretanto, buscar retirar a culpa do homem pois Paulo 
expressamente prega contrário a esta tentativa nos primeiros capítulos da epistola. 
 
 
CAPÍTULO 8 
 
Paulo continua sua temática sobre santificação, mostrando que os crentes regenerados e 
justificados por Deus “não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito” (Rm 8.4). Ele 
ainda argumenta que “os que estão na carne, não podem agradar a Deus” (Rm 8.8) e que “se 
o Espírito daquele que dos mortos ressuscitou a Jesus, habita em vós, aquele que dos mortos 
ressuscitou a Cristo também vivificará o vosso corpo mortal”. (Rm 8.10). 
Paulo então introduz um dos pontos da doutrina da redenção, que é a adoção, com a qual 
temos direito a vida eterna, por sermos feitos co-herdeitos de Cristo: 
O mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que 
somos filhos de Deus. E, se nós somos filhos, somos logo 
herdeiros também, herdeiros de Deus, e co-herdeiros de 
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Cristo: se é certo que com ele padecemos, para que 
também com ele sejamos glorificados.! 
 
Romanos 8:14-17 
 
Por fim Paulo trata de assuntos diversos, onde se estaca o Cântico de Vitória, que mostra 
a confiança que o Apóstolo tinha em Deus, apesar das adversidades: “Mas em todas ESTAS 
COISAS somos mais do que vencedores”(Rm 8.37). 
 
CAPÍTULO 9 
 
Talvez esse seja o maior palco de debates de toda a Bíblia. Em resumo, Paulo denuncia a 
incredulidade de Israel e exalta de maneira dura à soberania de Deus, parano fim mostrar que 
na sua soberania, escolhendo ter misericórdia de quem Ele quer ter misericórdia, Deus expandiu 
o plano de salvação também para os gentios: “Que diremos, então? Os gentios, que não 
buscavam justiça, a obtiveram, uma justiça que vem da fé” (Romanos 9:30). 
 
CAPÍTULOS 10-11 
 
Nestes dois capítulos, Paulo novamente volta a sua atenção para a nação de Israel. Ele 
demonstra um amor especial por seu povo, a Israel, desejando que eles sejam também salvos. 
 
“Irmãos, o desejo do meu coração e a minha oração a Deus pelos israelitas é que eles 
sejam salvos. Pois posso testemunhar que eles têm zelo por Deus, mas o seu zelo não se baseia 
no conhecimento.” 
 Romanos 10:1,2 
 
Paulo também mostra que, como anteriormente profetizado, a salvação chegou até os 
gentios, um povo que não buscava a Deus, enquanto Israel o rejeitou: 
 
“E Isaías diz ousadamente: "Fui achado por aqueles que não me procuravam; revelei-
me àqueles que não perguntavam por mim". Mas a respeito de Israel, ele diz: "O tempo todo 
estendi as mãos a um povo desobediente e rebelde".” 
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 Romanos 10:20,21 
 
No capítulo 11 isso fica ainda mais claro, quando é dito que os israelitas foram cortados 
devido a sua incredulidade, e os gentios, que eram oliveira brava, foram enxertados no lugar. 
Paulo alerta aos gênios para não se ensoberbecerem, mas sim temerem, pois Deus pode enxertar 
novamente os que foram cortados de sua árvore natural, e também cortar os que eram da oliveira 
brava, caso esses últimos não permaneçam na bondade de Deus. 
“Portanto, considere a bondade e a severidade de Deus: severidade para com aqueles 
que caíram, mas bondade para com você, desde que permaneça na bondade dele. De outra 
forma, você também será cortado. E quanto a eles, se não continuarem na incredulidade, serão 
enxertados, pois Deus é capaz de enxertá-los outra vez.” 
 
Romanos 11:22,23 
 
CAPÍTULOS 12-14 
 
Nesses capítulos temos exortações para a vida prática cristã. No capítulo 12, Paulo 
começa exortando os crentes à santidade; ele também aborda a diversidade de dons na igreja, 
cuidando de prevenir a soberba ou falta de importância de certos irmãos, e por fim, termina o 
capítulo exortando os irmãos a praticarem o amor ao próximo, inclusive quando o próximo for 
o inimigo. 
No capítulo 13, entre o versículo 1 e 7, Paulo exorta os irmãos a serem submissos às 
autoridades, pois elas foram constituídas por Deus para punir o mal. Essa submissão não deve 
ser baseada apenas no medo do castigo, e sim também pela consciência. 
Entre os versículos 8 e 13 Paulo faz uma exortação ao amor ao próximo, fazendo uma 
revisão acerca dos mandamentos que tratam do amor ao próximo, e concluindo que “quem ama 
aos outros cumpriu a lei” (Rm 13.8) e que “o cumprimento da lei é o amor”(Rm 13.10). 
No capítulo 14 Paulo volta sua atenção para os atritos entre os gentios e os judeus ou 
prosélitos. Paulo aborda temas como comida, distinção de dias (podendo ser os sábados ou as 
festas judaicas). Ele classifica os que têm dificuldade de largar os rudimentos da lei, criando 
ainda uma resistência à liberdade cristã, como “fracos na fé”, e pede para que os leitores 
recebam essas pessoas, não entrando em assuntos controversos. Paulo anda diz que o homem 
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que tem fé, e não se condena a si mesmo, perante Deus, naquilo que aprova, é um homem bem 
aventurado, mas ele faz a ressalva de que essa fé não pode escandalizar os irmãos fracos na fé. 
Ele então diz que e melhor “não comer carne ou beber vinho, ou fazer outras coisas em que 
teu irmão tropece, ou se escandalize, ou se enfraqueça” (Rm 14.21). Ele ainda diz que os que 
contristam o irmão por causa de comida, “já não andam segundo o amor” (Rm 14.15). 
 
 
 
CAPÍTULO 15 
 
Neste capítulo, Paulo continua sua exortação sobre a vida prática cristã, e a partir do verso 
14 ele faz uma exposição de seu apostolado, que foi bem voltado aos gentios, pela vontade de 
Deus, e também apresenta a igreja de Roma o seu projeto missionário para alcance da Espanha, 
pedindo aos irmãos que o ajudem nessa empreitada, inclusive em orações. Além disso, ele cita 
o estado presente de sua obra missionária, onde ele estava focado na coleta de ofertas para 
ajudar os pobres dentre os santos que estavam em Jerusalém. 
 
CAPÍTULO 16 
 
Temos a uma longa lista de saudações, e algumas recomendações finais, entre as quais se 
destaca: 
 
“E rogo-vos, irmãos, que noteis os que promovem dissensões e escândalos contra a 
doutrina que aprendestes; desviai-vos deles. Porque os tais não servem a nosso Senhor Jesus 
Cristo, mas ao seu ventre; e com suaves palavras e lisonjas enganam os corações dos simples.” 
 
Romanos 16:17,18 
 
E por fim, temos a doxologia final da carta, encerrando com: 
 
“Ao único Deus, sábio, seja dada glória por Jesus Cristo para todo o sempre. Amém.” 
 
Romanos 16:27

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