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AULA 03 - ATIVIDADE FINANCEIRA DO ESTADO (1)

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DIREITO FINANCEIRO – PROF. ANRAFEL DE M. LUSTOSA 
ATIVIDADE FINANCEIRA DO ESTADO 
 
NOTE DE AULA 03 
 
SUJEITOS 
 
 A atividade Financeira do Estado tem como sujeito uma pessoa jurídica 
de direito público à União, Estados, Distrito Federal e Municípios por meio de 
seus órgãos, autarquias e algumas fundações. 
Ficam excluídas do exercício dessa função as pessoas jurídicas de direito 
privado. 
 
FAZENDA PÚBLICA 
 
 Toda a atividade financeira do Estado envolve a gestão de receitas 
públicas arracadadas e as obrigações do Estado e sua Administração. 
 Fazenda Pública, confunde-se com a própria pessoa jurídica de direito 
público, pois, a responsabilidade é tão-só financeira. Aproxima-se do conceito 
de Administração Finaceira, com os seus órgãos incumbidos de realizar a 
função administrativa financeira do Estado (art. 37 XXII da CF/88) “as 
administrações tributárias da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos 
Municípios, atividades essenciais ao funcionamento do Estado, exercidas por 
servidores de carreiras específicas, terão recursos prioritários para a realização 
de suas atividades e atuarão de forma integrada, inclusive com o 
compartilhamento de cadastros e de informações fiscais, na forma da lei ou 
convênio”. 
 O direito financeiro disciplina toda a atividade financeira do Estado com 
respeito as obrigações estatais (despesas), normatizando o gasto das receitas 
tributária, e não tributárias, mediante o estudo do orçamento, do crédito 
público, algumas espécies de receita e da despesa público. Ressalte-se que 
coube ao direito tributária como ciência autônoma a incumbência de tratar das 
receitas estatais. 
 
 CARACTERÍSTICAS DA ATIVIDADE FINANCEIRA 
 
1. Presença constante de uma pessoa jurídica de direito público: essa 
atividade tem sempre com sujeito um ente público, que recai sobre a União, 
estados, DF e Municípios e respectivas autarquias que se enquadram na noção 
de fazenda pública. Exclui-se do conceito de atividade financeira, primeiro, os 
órgãos da administração indireta dotados de personalidade jurídica de direito 
privado (empresas públicas, sociedade de economia mista e fundações 
instituídas e mantidas pelo poder público), como também as atividades 
exercidas pelo sistema financeiro privado, representado pelos bancos, 
seguradoras, corretoras e demais instituições financeiras, tendo o Banco 
central a função de órgão fiscalizador do sistema financeiro e detentor do 
monopólio da emissão de moeda. 
 
2. Conteúdo monetário: a atividade financeira do Estado envolve recursos 
monetários, movimenta ou manipula dinheiro. Desse modo, está fora da 
atividade financeira, a captação de outras coisas que não seja dinheiro 
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propriamente dito, tais como Bens ou Serviços. Trata-se de atividade-meio, de 
instrumento ou ponte para o cumprimento dos objetivos públicos. Isto porque 
sem dinheiro não seria possível movimentar a máquina administrativa em 
direção ao atendimento das necessidades públicas antes mencionadas (a 
segurança, a saúde, a educação, a moradia, a alimentação, assistência social, 
saneamento básico, desporto, ciência e tecnologia, comunicação social, 
proteção ao meio ambiente, o lazer e a cultura, previdência, manutenção da 
ordem interna; defesa contra eventual inimigo externo; aplicação do Direito aos 
casos controvertidos (distribuir justiça), fazer a leis que regerão a comunidade, 
prestar serviços públicos, construir estradas, fiscalizar atividades particulares). 
Os ingressos ou entradas de recursos pecuniários nos cofres públicos podem 
ser assim classificados: 
a) Movimentação de Caixa ou de Fundos: recursos que não se 
incorporam ao patrimônio do estado (empréstimo ao tesouro, 
restituição de empréstimo, cauções, fianças, depósitos e 
indenizações); 
b) Receitas: receitas que significam aumento do patrimônio público, 
podem ser receitas originárias – de direito privado (bens vacantes, 
doações ou preços públicos) ou receitas derivadas – de direito 
público (tributos, multas) 
 
3. A instrumentalidade da atividade financeira: INSTRUMENTO destinado 
a arrecadar os meios financeiros, e direcioná-los para os gastos necessários 
para a concretização dos referidos fins (financiamento da saúde; educação 
etc). O Estado não tem o objetivo de enriquecer ou de aumentar o seu 
patrimônio com a atividade financeira, só visa atingir certos objetivos de índole 
política, econômica ou administrativa. 
 Esta atividade instrumental de satisfação das necessidades públicas é 
que distingue das atividades econômicas (lucro), políticas (ideologias) e 
administrativas (desempenho e eficiência), porém, com elas se relacionam. Se 
aproxima: da atividade econômica porque é forma de obter recursoss 
escassos; da ativade política porque incorpora o momento autoritário da 
decisão e da atividade administrativa por ser um específica forma de 
administração das finças do Estado 
 
FINS DA ATIVIDADE FINANCEIRA 
 
 O objetivo maior da atividade financeira é o de proporcionar recursos 
econômicos para o custeio do bem comum da sociedade, definidos no art. 3º 
da CF/88 (construir uma sociedade livre, justa e solidária; garantir o 
desenvolvimento nacional; erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as 
desigualdades sociais e regionais e promover o bem de todos, sem 
preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de 
discriminação) como também o custeio da manutenção e funcionamento do 
Estado (salário, água, luz, internete, etc). 
 Cabe ao poder público a escolha dessas necessidades coletivas 
objetivas sobretudo em nível constitucional, encampando-as como 
necessidades públicas e, consequentemente, inseri-las no ordenamento 
jurídico, disciplinando-as a níveis legal. 
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 É a atuação estatal voltada para obter, gerir e aplicar os recursos 
financeiros necessários à consecução das finalidades do Estado que, em 
última análise, se resumem na realização do bem comum. 
 Atualmente, a atividade financeira do Estado está vinculada à 
satisfação de três necessidades públicas básicas, inseridas na ordem 
jurídico-constitucional (serviço público, poder de polícia e intervenção no 
domínio econômico): 
 
1. SERVIÇOS PÚBLICOS: 
 
Corresponde a toda atividade desempenhada diretamente ou 
indiretamente pelo Estado, visando solver necessidades essenciais do cidadão, 
da coletividade ou do próprio Estado. 
A Constituição Federal dispõe expressamente que incumbe ao Poder 
Público, na forma da lei, a prestação de serviços públicos. 
Desse modo, o Poder Público tem a titularidade do serviço público, a 
sua prestação poderá ser executada, diretamente ou indiretamente por meio 
de delegação a particular (concessão e permissão). 
Não é tarefa fácil definir o serviço público, pois a Constituição não 
conceitua serviço público tampouco as leis infraconstitucionais, ficando a cargo 
da doutrina a conceituação. Além disso, alguns autores adotam um conceito 
amplo (incluindo todas as atividades exercidas pela Administração Pública, 
seja atividade, executiva, legislativa e jurisdicional), enquanto que outros 
preferem um conceito restrito (atividades exercidas pela Administração 
Pública, com exclusão da atividade legislativa e jurisdicional). 
Vejamos dois conceitos: a) Hely Lopes Meirelles: “serviço público é 
todo aquele prestado pela Administração Pública ou por seus delegados, sob 
normas e controles estatais, para satisfazer necessidades essenciais ou 
secundárias da coletividade ou simples conveniências do Estado.” e b) Maria 
Sylvia Zanella di Pietro “toda atividade material (água, energia, saúde, 
educação) que a lei atribui ao Estado para que a exerça diretamente ou por 
meio dos seus delegados, com o objetivo de satisfazer concretamente às 
necessidades coletivas, sob regime jurídico totalou parcialmente público. 
A competência para a prestação de serviços públicos envolve as três 
esferas da Federação, União, estados e Distrito federal e Municípios. Essas 
competências estão discriminadas pela Constituição. As competências 
atribuídas à União são as enumeradas e taxativas, encontradas no art. 21. 
Aos Estados são ditas remanescentes (CF, art. 25,§ 1º) e as dos 
Municípios possuem as competências relacionadas a seus interesses locais 
(art. 30, CF). 
Vários critérios têm sido adotados para diagnosticar quais são os 
serviços públicos. Para Fernanda Marinela a própria Constituição define 
algumas hipóteses de serviços públicos: 
 
a) SERVIÇOS DE PRESTAÇÃO OBRIGATÓRIA E EXCLUSIVA DO 
ESTADO – Hoje, só 02 serviços encontram-se nesta categoria, o 
serviço postal e o correio aéreo nacional (21,X,CF). 
 
b) SERVIÇOS DE PRESTAÇÃO OBRIGATÓRIA PELO ESTADO – 
sendo também obrigatório outorgar sua concessão a terceiros, 
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como ocorre com os serviços de rádio e televisão, em que o 
Estado e a concessionária prestam o serviço ao mesmo tempo 
(223,CF). 
 
c) SERVIÇOS DE PRESTAÇÃO OBRIGATÓRIA PELO ESTADO, 
MAS SEM EXCLUSIVDADE – são os serviços em que tanto o 
Estado, quanto o particular, são titulares em decorrência de 
previsão constitucional. Desta forma, os particulares também 
prestam o serviço em nome próprio e não em nome do Estado, 
como ocorre na educação, saúde, previdência social, assistência 
social. 
 
d) SERVIÇOS DE PRESTAÇÃO NÃO OBRIGATÓRIA PELO 
ESTADO, MAS NÃO PRESTANDO É OBRIGADO A PROVER-
LHES A SUA EFETIVAÇÃO – por meio dos institutos da concessão 
ou permissão de serviços. Neste grupo, o particular presta o 
serviço em nome do Estado, tendo somente a sua execução e não a 
titularidade, como acontece nas hipóteses anteriores. A maioria dos 
serviços estão incluídos neste conceito, especialmente, os 
enumerados no art. 21, XI CF, ex, energia elétrica, telefonia, 
transporte rodoviário e outros. 
 
Os serviços públicos podem ser dividios em gerais “uti universi”, ou 
individuais, prestados “uti singuli”. Os primeiros são prestados a coletividade, 
indistintamente, ou seja, seus usuários são indeterminados e indetermináveis. 
Exemplos de tais serviços são os serviços de limpeza urbana, saneamento 
básico, justiça, policiamento, iluminação pública etc. Não podem ser 
cobrados por taxas nem por tarifas, e sim por imposto ou contribuição social. 
Serviço Público Uti Universi não sofrem incidência do CDC. Os serviços uti 
singuli são aqueles que têm por finalidade a satisfação individual e direta das 
necessidades dos cidadãos. São prestados a um número determinado ou 
determinável de indivíduos; o serviço é de utilização separada e mensurável 
para cada um dos usuários; remuneráveis por taxa ou preço público. Serviços 
Público Uti Singuli quando remunerados por taxas não sofre incidência 
do CDC. Se remunerado por tarifa (preço público) estarão abrangidos 
pelo CDC. 
 
 São formas e meios de prestação do serviço público: 
 
1- Centralizadamente  prestado pela Administração Direta através de 
seus órgãos. Geralmente a prestação centralizada envolve a 
desconcentração (criação de órgãos com atribuições especificas para 
determinados serviços). 
2- Descentralizadamente  o Poder Público transfere para entidades da 
Administração Indireta (autarquias, empresas públicas, fundações) ou 
por particular (empresas privadas ou particulares individualmente). 
 
Assim, a prestação descentralizada será feita mediante: 
 
 OUTORGA  Realizado por entidades da Administração Indireta. 
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DELEGAÇÃO Realizada por terceiros (particular não integrante da 
Administração). 
 
Na outorga há criação por lei especifica dando surgimento à entendida 
(autarquia) ou autorização legal para a instituição para que o próprio Poder 
Executivo a crie (fundações públicas, empresas públicas e sociedades de 
economia mista). A titularidade da prestação do serviço passa à entidade 
criada. 
Na delegação: A titularidade permanece com o Poder Público que delega 
um serviço a particular não integrante da Administração Pública. As formas são 
concessão, permissão e autorização. Essa, a delegação, é a modalidade de 
prestação indireta, uma vez que a titularidade do serviço permanece com o 
Poder Público delegante. 
 Pelo visto, a execução do serviço pode ser direta ou indireta. A 
prestação direta é aquela realizada pela Administração Pública, seja ela 
Administração Direta ou Administração Indireta (art. 175, CF). Já prestação 
indireta é exercida por particulares mediante delegação (concessão ou 
permissão). 
 Concessão de serviço público é o instituto através do qual o Estado 
atribui o exercício de um serviço público a alguém que aceita prestá-lo em 
nome próprio, por sua conta e risco, nas condições fixadas e alteráveis 
unilateralmente pelo Poder público, mas sob a garantia contratual de um 
equilíbrio econômico-financeiro, remunerando-se pela própria exploração do 
serviço, em geral e basicamente mediante tarifas cobradas diretamente dos 
usuários do serviço. 
 
 
2. PODER DE POLÍCIA: 
 
O poder de polícia é a atividade da Administração Pública que, limitando ou 
disciplinando direitos, interesses ou liberdades individuais, regula a prática do 
ato ou abstenção de fato, em razão do interesse público. É aplicado aos 
particulares. Segmentos =  = Policia Administrativa (incide sobre bens, 
direitos e atividades e é regida pelo Direito Administrativo). Policia Judiciária 
(incide sobre as pessoas e destina-se à responsabilização penal). 
 
O art. 78 do CTN define poder de polícia. Assim, é “a atividade inerente do 
poder público que objetiva restringir direito, atividades e profissões, no 
interesse geral, de tal modo que intervêm na propriedade e na liberdade dos 
indivíduos, impondo-lhes comportamentos comissivos ou omissivos. Portanto, 
ato de polícia é a faculdade que o Estado tem de observadas as diretrizes 
constitucionais, baixar regras de nível legal ou infralegal para disciplinar o 
exercício dos direitos à liberdade e a propriedade compatibilizando com o bem 
comum (limitações).Ex.: taxa de fiscalização e inspeção de bebidas alcoólicas 
(federal), taxa de porte de arma (estadual), taxa de licença para construir 
(municipal). 
 Tais restrições ao direitos individuais devm observar: a) necessidade  
o Poder de policia só deve ser adotado para evitar ameaças reais ou prováveis 
de pertubações ao interesse público; proporcionalidade  é a exigência de 
uma relação entre a limitação ao direito individual e o prejuízo a ser evitado e 
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eficácia  a medida deve ser adequada para impedir o dano ao interesse 
público. 
 São Atributos do Poder de Policia: a) Discricionariedade  Consiste 
na livre escolha, pela Administração Pública, dos meios adequados para 
exercer o poder de policia, bem como, na opção quanto ao conteúdo, das 
normas que cuidam de tal poder; b) Auto-Executoriedade  Possibilidade 
efetiva que a Administração tem de proceder ao exercício imediato de seus 
atos, sem necessidade de recorrer, previamente, ao Poder Judiciário; c) 
Coercibilidade  É a imposição imperativa do ato de policia a seu 
destinatário, admitindo-se até o emprego da força pública para seu normal 
cumprimento, quando houver resistência por parte do administrado e Atividade 
Negativa  Tendo em vista o fato de não pretender uma atuação dos 
particulares e sim sua abstenção, são lhes impostas obrigações de não fazer. 
 
3. INTERVENÇÃO NO DOMÍNIO ECONÔMICO 
 
 A intervenção no domínio econômico se faz presente sempre que o 
Estado, por meio de seus mecanismos administrativos fomenta a atividade 
econômica, promovendo os conhecidos financiamentos públicos a cargo do 
BNDES, Bancodo Brasil, CEF e de outros órgãos e instituições. 
 O principal órgão repressor do abuso de poder econômico é o CADE – 
Conselho Administrativo de Defesa Econômica, sediado no DF, com jurisdição 
em todo território Nacional (Lei 8.884/94). 
Passemos a atuação estatal no domínio econômico 
 Muito embora a expressão “atuação estatal no domínio econômico” seja 
deveras ampla, utilizá-la-emos no sentido de como o Estado atuará dentro da 
seara econômica. 
De um lado, analisaremos o Estado-empresário, como forma de 
intervenção estatal direta. 
Em seguida, sob o enfoque da intervenção indireta, quando o Estado 
atua como agente fiscalizador, incentivador e planejador da atividade 
econômica, visando atingir os fins a que se propõe. 
 
 1. Intervenção estatal direta 
 
Na intervenção estatal direta, a participação do Estado na economia 
ocorre na modalidade de empresário, através de suas empresas. Aqui, o Poder 
Público participa diretamente da atividade econômica, comprometendo-se com 
a atividade produtiva. Em consonância com o estatuído na vigente Carta 
Magna, o Estado brasileiro intervirá diretamente no domínio econômico sob 
dois regimes: a) monopolista e b) concorrencial. Analisemos cada um de per 
si: 
 
I - Regime estatal monopolista 
 
a) Conceito de monopólio: consiste na concessão, a uma única pessoa ou 
grupo, a prática exclusiva de determinada atividade. O Monopólio a priori na Lei 
Maior (CF/88) mostrou-se proibido. Portanto, uma vez existentes, haverá 
repressão a monopólios, mas só o monopólio privado, estabelece a CF/ que “a 
lei reprimirá o abuso do poder econômico que vise à dominação dos 
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mercados, à eliminação da concorrência e ao aumento arbitrário dos 
lucros” (art. 173, § 4º, CF). No que pertine ao monopólio público, todavia, 
embora exceção, há previsão constitucional. O art. 177 da CF/88 dispõe: “Art. 
177. Constituem monopólio da União: 
I - a pesquisa e a lavra das jazidas de petróleo e gás natural e outros 
hidrocarbonetos fluidos; 
II - a refinação do petróleo nacional ou estrangeiro; 
III - a importação e exportação dos produtos e derivados básicos resultantes 
das atividades previstas nos incisos anteriores; 
IV - o tranporte marítimo do petróleo bruto de origem nacional ou de derivados 
básicos de petróleo produzidos no País, bem assim o transporte, por meio de 
conduto, de petróleo bruto, seus derivados e gás natural de qualquer origem; 
V - a pesquisa, a lavra, o enriquecimento, o reprocessamento, a 
industrialização e o comércio de minérios e minerais nucleares e seus 
derivados”. 
Com a flexibilização ocorrida com o advento da Emenda Constitucional 
nº 9, de 9 de novembro de 1995, a União poderá contratar com empresas 
públicas ou privadas a realização das atividades suso-mencionadas, exceto 
quanto à pesquisa, lavra, enriquecimento, reprocessamento, industrialização e 
comércio de minerais nucleares e derivados, que ficarão sob a égide daquele 
ente federativo. 
Em suma, o monopólio será combatido, porquanto prática econômica 
indesejável, caso praticado pela iniciativa privada e, excepcionalmente, 
permitido ao Poder Público nos casos expressamente elencados na 
Constituição. 
 
 
 
 
II - Regime estatal concorrencial 
 
a) O Estado concorrente: além das hipóteses de monopólio vistas acima, o 
Estado poderá, outrossim, intervir diretamente na atividade econômica, 
concorrendo em igualdade de condições com o particular. 
É preciso, entrementes, que sejam atendidas certas condições. De fato, 
afirma o art. 173 da CF/88 que “Ressalvados os casos previstos nesta 
Constituição, a exploração direta de atividade econômica pelo Estado só será 
permitida quando necessária aos imperativos da segurança nacional ou a 
relevante interesse coletivo, conforme definidos em lei”. 
Dessume-se do dispositivo constitucional em tela que não é em qualquer 
atividade econômica que o Estado poderá atuar como empresário. Esta deve 
pautar-se aos imperativos da segurança nacional ou a relevante interesse 
coletivo, a ser definidos em lei ordinária. Destarte, não havendo o 
preenchimento dos requisitos mencionados, o Estado não exercerá atividade 
econômica. Deixará a cargo da iniciativa privada o seu exercício. 
 
b) Instrumentos de participação direta do Estado na economia 
 
O Estado concorrerá com a iniciativa privada através das empresas públicas, 
sociedades de economia mista e outras entidades estatais ou paraestatais. 
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As empresas e entidades que explorem atividade econômica terão que 
ser criadas por lei específica, assim como depende de autorização legislativa, 
em cada caso, a criação de suas subsidiárias (art. 37, XIX e XX) e sujeitam-se 
ao regime jurídico próprio das empresas privadas, inclusive quanto às 
obrigações trabalhistas e tributárias, e não poderão gozar de privilégios fiscais 
não extensivos às do setor privado. Recordemos que essas exigências não se 
aplicam às empresas públicas, sociedades de economia mista e outras 
entidades estatais ou paraestatais que explorem serviços públicos.”. 
 
2. Intervenção estatal indireta 
 
O Estado, ao disciplinar a ordem econômica, observando certos princípios, tem 
determinadas metas a atingir. Assim, diz o art. 170 da CF/88 que “A ordem 
econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, 
tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça 
social, observados os princípios: 
I - soberania nacional; 
II - propriedade privada; 
III - função social da propriedade; 
IV - livre concorrência; 
V - defesa do consumidor; 
VI - defesa do meio ambiente; 
VII - redução das desigualdades 
regionais e sociais; 
VIII - busca do pleno emprego; 
IX - tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob 
as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no País”. 
Para a consecução de tais escopos urge a participação estatal, 
sobretudo como agente normativo e regulador da atividade econômica. Eis aí a 
intervenção estatal indireta. 
Nesse sentido, o Estado somente estará intervindo na ordem econômica 
de forma indireta, ou seja, um mero agente disciplinador da economia. No dizer 
de Celso Ribeiro Bastos: “A intervenção indireta ocorre quando o Estado 
condiciona, motiva ou enquadra a atuação dos atores econômicos, nada 
obstante o fato de ele mesmo não assumir nenhum papel como produtor ou 
distribuidor de bens e serviços”. 
 A intervenção estatal indireta na ordem econômica está disciplinada no 
art. 174 da Constituição Federal vigente. Com efeito, aduz o dispositivo em 
epígrafe: “Como agente normativo e regulador da atividade econômica, o 
Estado exercerá, na forma da lei, as funções de fiscalização, incentivo e 
planejamento, sendo este determinante para o setor público e indicativo para o 
setor privado”. 
Na expressão de José Afonso da Silva, a intervenção indireta na 
economia caracteriza-se “pelo Estado regulador, o Estado promotor e o Estado 
planejador da atividade econômica”. 
A atuação reguladora da atividade econômica por parte do Estado, está 
sujeita ao princípio da subsidiariedade, no que tange a deixar aos indivíduos a 
tarefa de regulamentar a própria atividade, ou de não criar regras que 
dificultem, em lugar de viabilizar, a atividade econômica. É o fenômeno 
atualmente conhecido como “desregulamentação da economia”. 
DIREITO FINANCEIRO – PROF. ANRAFEL DE M. LUSTOSA 
Como agente regulador da atividade econômica, o Estado exercerá a 
função fiscalizatória sobre os sujeitos econômicos. Verificará e coibirá, por 
exemplo, o abuso do poder econômico, tendente à dominação dos mercados, à 
eliminação de concorrência através de formação de cartéis, oligopólios e outras 
práticas nocivas a uma economia de mercado. Visando regular e fiscalizar a 
atividadeeconômica, surgiu a Lei nº 8.884, de 11 de junho de 1994, que 
transformou o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), em 
autarquia, e dispõe sobre a prevenção e repressão às infrações contra a ordem 
econômica e dá outras providências. 
 O Estado poderá ainda intervir indiretamente como promotor da 
atividade econômica, sob a forma de incentivo, como função normativa e 
reguladora da atividade econômica pelo Estado, trazendo a idéia do Estado 
promotor da cidadania. É o velho fomento, conhecido dos nossos ancestrais, 
que consiste em proteger, estimular, promover, apoiar, favorecer e auxiliar, 
sem empregar meios coativos, as atividades particulares que satisfaçam 
necessidades ou conveniências de caráter geral. A própria Constituição já 
determinou apoio, estímulo e favorecimento a atividades específicas como: o 
cooperativismo e o associativismo, as microempresas, nos termos dos arts. 
174, §§ 3º e 4º, e 179”. 
 A Estado planejador dar-se- á mediante a elaboração por parte do 
Estado de planos com o fim de organizar determinadas atividades econômicas 
com o afã de obter resultados previamente colimados. 
A Constituição vigente, ao se referir a planejamento econômico, estatui 
que ele será determinante para o setor público e indicativo para o setor privado 
(art. 174, caput). Ademais, acrescenta em seu parágrafo primeiro, que as 
diretrizes e bases do planejamento do desenvolvimento nacional equilibrado 
serão estabelecidas por lei, com a incorporação e compatibilização dos planos 
nacionais e regionais de desenvolvimento.

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