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Pinóquio as avessas

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INTRODUÇÃO
“O ´eu` e a personalidade emergem da própria experiência, e não de uma experiência traduzida... para se encaixar a uma estrutura preconcebida do eu” Cal Rogers.
Como futuros psicólogos engajados ao contexto histórico – social em que vivemos, precisamos reconhecer a realidade das escolas que desempenham a importante tarefa de garantir autonomia, realização e participação social a nossos alunos. Ao entendermos como se realiza o processo de aprendizagem, podemos identificar os problemas que inibem o crescimento pessoal do indivíduo. Vivemos como instrumento de análise a releitura criada por Rubem Alves, “Pinóquio às avessas”, à luz de três abordagens do processo de ensino- TRADICIONAL, COMPORTAMENTAL e HUMANISTA- estudadas e organizadas em “Ensino - as abordagens do processo”, de Maria de Graça Nicoletti Mizukami (1986). Nessa obra a autora explora os fundamentos da ação docente e suas aplicações pedagógicas.
“Pinóquio às avessas” – madeira morta, aluno passivo.
CONSIDERAÇÕES SOBRE “Pinóquio às avessas”, de Rubem Alves
São muitos os autores literários que valorizam a importância da escola na formatação da criança como ser social - Machado de Assis, em “Conto de escola”, Gaciliano Ramos, no capítulo final de “Vidas Secas”, Ziraldo, em “Uma professora muito maluquinha”, dentre tantos outros. O tema volta á tona com Rubem Alves e seu “Pinóquio às avessas”, em clara intertextualidade com “Pinóquio” de Carlo Collodi. Desta vez o menino se desumaniza ao interagir com o ambiente escolar, tornando-se uma marionete do sistema educacional, reproduzindo as desigualdades e perpetuando a sociedade capitalista que o manipula.
O menino Felipe, como qualquer outra criança que conte com o estímulo e proteção dos pais, pode brincar e sonhar. Brincando em seu quintal, em contato com a natureza (fazendo valer o significado de seu nome), ouvindo histórias, conversando com os adultos, começa a elaborar sua LEITURA DE MUNDO a partir de perguntas para tantas dúvidas significativas (na aprendizagem autônoma, perguntas precedem respostas, aguçam a curiosidade, fermentam o amadurecimento). Essa criança estaria preparada para construir conhecimento, desenvolver novas habilidades se família e escola estivessem dispostas a isso. Porém nem a família, nem o sistema educacional - instrumento de perpetuação de uma sociedade desigual, autoritária e preconceituosa – promovem uma APRENDIZAGEM LIBERTADORA em que Felipe seja SUJEITO do conhecimento que constrói, capaz de transformar o meio em que vive.
Ao entrar no prédio, percebe que professores e alunos fecham-se em salas, isolando-se do mundo externo, despindo-se de emoções e sonhos. A escola é um grande MURO que esconde a linha de produção de marionetes modeladas para reproduzir o contexto social e cultural em que vivem. Esse ambiente físico caracterizado por portas cerradas, campainha orientando ações, filas, regras que não são construídas mas impostas, nos remete a uma PRISÃO, onde os indivíduos são descaracterizados (usam uniforme, cortam o cabelo, restringem o vocabulário pessoal, não podem usar determinados livros\objetos), perdem o nome e se transformam em uma massa homogênea. A escola de Felipe limita-se a exigir que informações descontextualizadas sejam decoradas e quem não o fizer será punido, ou repetindo o ano, ou sendo rotulado a algum tipo de transtorno- “Vigiar e Punir” ( Foucault). Embora o menino tenha tentado resistir através de sonhos questionando diretamente os professores, logo se adaptou ao esquema- OUVIR- REPRODUZIR, para ser aceito, evitar conflitos com a família, alcançar notas altas, passar de ano e receber o diploma, papel que lhe garantiram ser a chave para o sucesso.
ABORDAGEM TRADICIONAL
A abordagem tradicional é caracterizada pelo autoritarismo, o Aluno é um receptor passivo seu papel é insignificante na criação e desenvolvimento do conhecimento, cabe a ele apenas acumular as informações passadas pelo professor (sistema vertical). Essa abordagem divide e categoriza os indivíduos segundo a quantidade de conhecimento que esse foi capaz de acumular, isso fica claro no seguinte trecho do livro: O Pai explicou: - É assim: você entra na escola no primeiro ano. Lá vão te ensinar varias coisas. Se você aprender e tirar boas notas, passará para o segundo ano. No segundo ano vão te ensinar muitas outras coisas. Se você aprender e tirar boas notas, passará para o terceiro ano...(pag 20). Podemos concluir que todos os conhecimentos anteriores e as aptidões são ignoradas, uma vez que o Aluno será testado com base do que aprendeu na escola. Mas quem decidiu o que deve ser aprendido? O Aluno ou o Professor podem interferir nesse conteúdo? A resposta é não, o Professor precisa seguir um programa pré-estabelecido pelo Governo, e muitas vezes o Professor fica sem resposta quando um Aluno pergunta algo fora do programa como vemos no trecho a seguir: - E qual é a sua pergunta, Felipe? - Que bom que a nossa língua serve para dar nome as coisas! Eu gosto de pássaros. Ao vir para escola, vi um pássaro azul que come mamão. Mas não sei o nome dele, poderia me dizer qual é o nome dele? A professora sorriu e disse: - Agora não é hora de pensar em pássaros. Os nomes dos pássaros não estão no programa de português. Na aula de português temos de pensar e falar sobre aquilo que o programa manda. (Pag. 28 e 29) O ensino de aprendizagem é aplicado aos alunos de uma forma memorizada e imitada, na concepção tradicional, o homem é considerado como um homem acabado, “pronto” e o aluno um “adulto em miniatura” que precisa ser atualizado, fica claro no seguinte trecho. - “ O que você deve aprender é aquilo que disseram os homens inteligentes do governo. Tudo na ordem certa. Uma coisa de cada vez. Todas as crianças ao mesmo tempo. Na mesma velocidade” (página30). O aluno é impedido de usar a criatividade para desenvolver nova experiência. Pode-se afirmar que as tendências englobadas por este tipo de abordagem possuem uma visão individualista do processo de educação, não propiciando ao indivíduo liberdade criação, fica claro no seguinte trecho: No dia seguinte havia aula de desenho. A professora lhe deu um caderno para pintar. Tinha dois elefantes. Felipe pintou um de cor-de-rosa e outro de verde. A professora chamou o menino e disse que elefantes não eram cor -de -rosa e nem verdes. Ele deveria pintar os elefantes da cor que eles eram. Felipe Obedeceu, (pag 36) Outro ponto importante é a hierarquização social baseada no nível escolar do indivíduo, aquele que se forma no ensino superior recebe da sociedade prestígio e respeito. Enquanto aquele que não tem um diploma é marginalizado, e todos seus conhecimentos não são considerados pelas pessoas. "... Se você não aprender o que está no programa, tirará notas baixas nas provas. Tirando notas baixas, não passará de ano. E não passará no vestibular. Não entrará na universidade. Não tirará diploma. Não será ninguém na vida!" (Pag. 38) Podemos ver que a abordagem tradicional faz uso indiretamente de uma pressão social para manipular o comportamento do Aluno, o que poderá causar problemas psicológicos em um futuro, como aconteceu com Felipe na Estória. No livro Pinóquio as avessas, Rubens Alves mostrou como as teorias de Durkarn e Chartier estão enraizadas na escola e na sociedade em geral, com base a estória narrada no livro verificamos que a abordagem tradicional cumpre sua proposta, porém deixa o questionamento sobre os problemas psicológicos que podem aparecer com o tempo, e também a questão da limitação do conhecimento, e das aptidões dos Alunos
ABORDAGEM COMPORTAMENTAL
Segundo Mizukami (1986), na ABORDAGEM COMPORTAMENTAL, a apropriação do conhecimento ocorre a partir da experiência desenvolvida pelo aluno em sala de aula\escola e pelas contingências reforçadoras do meio. Para Skinner, o comportamento humano pode ser modelado ou reforçado se o professor tiver objetivos claros e souber usar planejamento e controle do que é observável. Alguns trechos do livro” Pinóquio às avessas” revelam como a escola instala o “comportamentodesejável”, estando a serviço das instituições que lhe outorgam esse poder.
“(...) Na escola havia muitas crianças brincando no pátio. Dentro da escola”
Quando Felipe chega à escola, brinca com muitas crianças, no pátio e realmente gosta dessa nova experiência- uma relação interpessoal. No entanto, a partir da campainha, os alunos são condicionados a uma nova organização, de acordo com uma característica individual (tamanho). E então professores CONDUZEM- OS às salas, metáfora do controle do processo de aprendizagem ( procedimento diretivo). O planejamento do professor, o “engenheiro comportamental”, já começa no pátio, individualizando, enxergando o aluno em sua característica específica, e eliminando relações interpessoais. No trecho a seguir, ganha destaque o condicionamento operante, que nega estímulos procedentes e visa às consequências.
“De noite, na cama só sabe uma coisa”
O condicionamento operante conceituado por Skinner já foi introjetado por Felipe, quando o comportamento esperado pelo meio social. Parece se adequar ao sistema de ensino, sendo eliminado qualquer tipo de decisão que o aluno possa exercer sobre o currículo. A vida mental do menino está mudando, preparando-se para receber a cultura que a escola julga adequada. Nenhum professor responderá o nome do pássaro azul, pois não fez parte do planejamento e nem da cultura dominante, que só quer saber de frangos. Felipe está se tornando autocontrolável, estabelecendo ordem no meio que o cerca.
No encarto abaixo observa-se como a escola procede quando o modelo preconcebido não se realiza.
“- Felipe, você não está prestando atenção. Você não esta pensando naquilo que deve pensar essa hora...”
O professor mandou Felipe para a psicóloga , que diagnosticou ‘distúrbio de atenção’
(...) De noite, na cama, Felipe pensou: “Não posso ser motivo de vergonha para meus pais. Eles me matricularam num colégio forte, colégio caro, que me prepara para o vestibular. E fazem um grande sacrifício por minha causa. Eles querem meu bem. Não vou mais pensar em passarinhos”.
Sentindo-se frustrado por não alcançar o fim idealizado, o professor encaminha o “desajustado” ao psicólogo. A “leitura de mundo” (Paulo Freire) é vista como distúrbio mental que prejudica a ordem. E mais uma vez o condicionamento operante faz com que Felipe ceda ao processo e mude seu comportamento, aproveitando melhor as aulas e não decepcionando os pais que tanto investem em sua formação. O controle foi instalado e passa a ser AUTOMANTIDO. Agora o professor poderá usar contingências para uma aprendizagem eficaz sem a resistência do aluno. A metáfora da futura profissão de Felipe é elucidativa de como condicionantes e reforçadores são eficazes - de admirador de pássaros e matador de frangos. A serviço do sistema.
ABORDAGEM HUMANISTA
Nesta abordagem é dada ênfase ao papel do sujeito como principal elaborador do conhecimento humano. Dá ênfase ao crescimento que dela se resulta no desenvolvimento da personalidade do individuo, O professor em si não transmite conteúdo, sendo facilitador da aprendizagem. Apenas cria condições para que os alunos aprendam.
Não existem modelos prontos nem regras a seguir, mas um processo de vir a ser. O homem se apresenta como um projeto permanente e mau acabado. Dirige a pessoa a sua própria experiência para estruturar-se e agir, em métodos não diretivos.
Valorizacao da busca da autonomia, em oposição a heteronomia.
Como o próprio nome já diz, a abordagem Humanista, valoriza e respeita os sentimentos, curiosidades, individualidade e o processo de construção individual do SER HUMANO.
Felipe apenas vislumbrou nos primeiros anos de vida. O menino iniciou o processo de conhecimento estimulando a curiosidade (“coceira na cabeça”), elaborando perguntas, observando a natureza, realizando pequenas experiências como desmontar o relógio da mãe...
O mundo tem o papel fundamenta de criar condições de expressão para a pessoa em pleno desenvolvimento de seu potencial inerente.
A sociedade não aceita um projeto de planificação social, o controle, a manipulação das pessoas, ou seja, o objetivo não é apenas a subserviência do ser humano ao capitalismo e a massa, seus desejos e sonhos são respeitados.
O trecho que retrata a realidade humanista é o que mostra que Felipe era muito curioso. Curiosidade é uma coceira que dá na cabeça, no lugar onde moram os pensamentos. A curiosidade aparece quando os olhos começam a fazer perguntas. Os olhos das crianças são sempre curiosos. Elas querem ver o que está escondido, querem saber o que está por detrás das coisas. (Página 13)
Este trecho dá enfoque no sujeito, principal elaborador do conhecimento humano. Tem o pressuposto de que a pessoa pode desenvolver-se, crescer.
Objetivo: liberar o aluno a capacidade de auto aprendizagem para o desenvolvimento intelectual e emociona.
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Trexo do Livro que qualifica este tipo de abordagem:
“[... ] Felipe teve um sonho feliz da estória do livro Alice no País das maravilhas que seu pai lhe contou sobre um grande pássaro chamado Dodô. Haveria uma corrida da qual todos participariam. Alice perguntou aos pássaros quais eram as regras. Ele explicou:
- Primeiro marca-se o caminho da corrida, num tipo de grupo. A forma exata não tem importância. Então os participantes são colocados em caminhos diferentes ao longo do caminho, aqui e ali. Não tem nada de 1,2,3,e já...
Eles começam a correr quando tem vontade e param quando querem, o que torna difícil dizer quando a corrida termina.
Assim a corrida começou. Depois que haviam corrido um certo tempo o pássaro Dodó gritou.
- A corrida terminou!
Todos se reuniram ao redor de Dodô e perguntaram:
-Quem ganhou?
-Todos ganharam – Ele respondeu – E todos devem ganhar prêmios...( Rubem Alves) Pag 32 e 33.
POSSIBILIDADES DE SUPERAÇÃO E RESISTÊNCIA
Se Felipe tivesse sido inserido em uma ESCOLA HUMANISTA, com uma abordagem não-diretiva, valorizando o indivíduo como um todo, resgatando sua vida psicológica e emocional, haveria verdadeira PARTICIPAÇÃO e MOTIVAÇÃO no processo de APRENDIZAGEM, construindo-se como SUJEITO na escola, em casa, na comunidade. A história de cada um deve participar das aulas, a equipe docente deve investigar o potencial de cada educando, criar condições para que todos aprendam e ensinem (relações interpessoais). O professor precisa estar atento às necessidades individuais e inserir como rotina o processo de AUTOAVALIAÇÃO- devo? Posso? Quero? Para isso, todos os professores, equipe gestora e funcionários de cada unidade devem trabalhar COLETIVAMENTE, elaborando projetos interdisciplinares e estratégias que integrem os alunos não como marionetes de madeira, mas como atores com habilidades e competências que lhes garantam AUTONOMIA e REALIZAÇÃO. Os professores- pesquisadores devem facilitar esse processo e para isso há de existir investimento do sistema e do próprio profissional; a equipe gestora ( direção e coordenação) não deve impor uma padronização de resultados, em vez disso deve garantir um ambiente agradável e com os recursos humanos e materiais necessários. Que alunos e profissionais vejam o pássaro azul que o alimentem com novas ideias, soluções criativas e conceitos significativos.
“A vida plena é um processo, não um estado de ser” Bem definiu Carl Rogers o quanto é difícil dar significado a vida. Cabe a escola ABANDONAR IDÉIAS PRECONCEBIDAS, que sempre conduzem alunos e professores á infelicidade, ao sentimento de deslocamento no mundo. Precisamos trazer o mundo para a sala de aula, aceitando incondicionalmente a diversidade de opiniões e habilidades.
REFERÊNCIAS
FREIRE, Paulo “ a importância do ato de ler” em três artigos que se completam. São Paulo: cortez, 1989.
MIZUKAMI,M.G.N. Ensino-as abordagens do processo, São Paulo: EPU, 1986.
ALVES, R. Pinóquio às avessas. Campinas: Verus Editora, 2010.

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