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AD2 gabarito 1 2017

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AD2 – Literatura Brasileira III
 GABARITO
 
De acordo com o que você estudou nas Unidades 5 e 6 sobre a Formação cultural brasileira, a Belle Époque e Machado de Assis, responda as questões abaixo de modo dissertativo. Não copie respostas de sites da Internet nem do seu material de estudo. Você deve pesquisar sobre o tema e escrever com suas palavras.
Questão 1
Com a reorganização do espaço urbano da cidade, a sociedade fluminense procura apagar as marcas locais que ainda identificam o Rio de Janeiro com o Império escravocrata recém-extinto. A obra de João do Rio está intimamente ligada a este momento de mudanças e euforia, além de dialogar com os clássicos da literatura universal, com ênfase na literatura francesa. 
Comente a respeito da visão de João do Rio sobre as drásticas mudanças ocorridas na configuração do espaço urbano do Rio de Janeiro e, a partir do fragmento abaixo, do livro Dentro da noite, destaque a busca da elite fluminense pelos prazeres alienantes da sociedade.
História de gente alegre
 O terraço era admirável. A casa toda parecia mesmo ali pousada à beira dos horizontes sem fim, como para admirá-los, e a luz dos pavimentos térreos, a iluminação dos salões de cima contrastava violenta com o macio esmaecer da tarde. Estávamos no Smart-Club, estávamos ambos no terraço do Smart-Club, esse maravilhoso terraço de vila do Estoril, dominando um lindo sítio da praia do Russel — as avenidas largas, o mar, a linha ardente do cais e o céu que tinha luminosidades polidas de faiança persa. Eram sete horas. Com o ardente verão ninguém tinha vontade de jantar. Tomava-se um aperitivo qualquer, embebendo os olhos na beleza confusa das cores do ocaso e no banho víride de todo aquele verde em de redor. As salas lá em cima estavam vazias; a grande mesa de baccarat, onde algumas pequenas e alguns pequenos derretiam notas do banco — a descansar. O soalho envernizado brilhava. Os divãs modorravam em fila encostados às paredes — os divãs que nesses clubes não têm muito trabalho. Os criados, vindos todos de Buenos-Aires e de S. Paulo, criados italianos marca registrada como a melhor em Londres, no Cairo, em New-York, empertigavam-se. E a viração era tão macia, um cheiro de salsugem polvilhava a atmosfera tão levemente, que a vontade era de ficar ali muito tempo, sem fazer nada. (...) Que curioso aspecto! Havia franceses condecorados, de gestos vulgares, ingleses de smoking e parasita à lapela, americanos de casaca e também de brim branco com sapatos de jogar o foot-ball e o lawn-tennis, os elegantes cariocas com risos artificiais, risos postiços, gestos a contragosto do corpo, todos bonecos vítimas da diversão (...) .
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Glossário: 
Baccarat – bacará: jogo de cartas de origem francesa, em que tomam parte vários jogadores, ganhando o grupo que, com duas ou mais cartas, perfizer o total de pontos mais próximo de nove;
Divã - espécie de sofá ou canapé de origem persa, sem encosto ou braço;
Faiança persa - cerâmica persa brilhante, com efeitos metálicos;
Foot-ball – futebol, em inglês;
Lawn-tennis - tênis de gramado, em inglês;
Modorrar– ficar sonolento (em sentido figurado no texto, significa que os caficar abandonado;
Salsugem- maresia;
Viração - vento suave e fresco, espécie de brisa que sopra do mar para a terra; aragem;
Víride – de cor verde ou esverdeada.
RESPOSTA: João do Rio revela detalhes da sociedade fluminense da Belle Époque, no começo do Séc. XX, mostrando as veleidades da elite, reunida num grande clube de diversão e lazer. Os gostos da alta sociedade carioca se afinam com a cultura europeia, conforme vemos na descrição dos jogos imitados da França e Inglaterra, também há uma ocorrência singular de nomes estrangeiros, além da grande quantidade de turistas que circulavam por ali. O cronista revela o lado cosmopolita da classe alta, que pouco a pouco substituía a mão de obra negra pela estrangeira, marcando o status social a partir da escolha de empregados italianos: “Os criados, vindos todos de Buenos-Aires e de S. Paulo, criados italianos marca registrada como a melhor em Londres, no Cairo, em New-York, empertigavam-se.” A busca pelo padrão de “qualidade” dos criados (“marca registrada”) imitado do exterior demarca uma das facetas sociais das transformações ocorridas no Rio de Janeiro, buscando se equiparar a outras cidades desenvolvidas do mundo, mas excluindo a maior parcela da sociedade desses luxos e privilégios.
Questão 2: O Rio entra na Belle Époque buscando se equiparar às grandes capitais europeias. Observe as imagens a seguir e responda:
	
	A Avenida Central, atual Rio Branco, na altura da
Cinelândia: cidade foi transformada aos moldes
 europeus (Foto: Augusto Malta - Acervo/MIS-RJ)
	
	Cortiços da Rua do Senado: moradias mais populares foram demolidas para o embelezamento da cidade
(Foto: Augusto Malta - Acervo/MIS-RJ)
A obra de João do Rio (pseudônimo de Paulo Barreto) trata de um processo contraditório ocorrido no Rio de Janeiro durante a Primeira República marcado por evidentes mudanças sociais e urbanísticas, conforme as imagens acima. Ao mesmo tempo em que a cidade recebe um processo de modernização acelerado, adotando hábitos e tecnologias mais avançados (cinema, eletricidade, automóvel etc.), há uma divisão social que separa os beneficiados daqueles que ficam à margem destas mudanças, pois nem todos os habitantes da cidade foram contemplados por esse progresso.
Discuta as duas faces desse processo de modificação social da Belle Époque carioca, apresentando a relação entre a face da cidade que não foi contemplada pelo progresso – dado local – com as influências europeias na cultura brasileira – dado universal. 
RESPOSTA: João do Rio retrata muito bem tanto o ambiente da alta sociedade, suas festividades e luxos imitados da Europa, quanto mostra a outra faceta social, marcada pelos miseráveis, os excluídos, e os pobres abandonados pelo poder público. O escritor demarca admiravelmente essas duas facetas do Rio de Janeiro, que passava por um processo de grandes transformações urbanas, como o “Bota abaixo” de Pereira Passos e a abertura de grandes avenidas, imitadas das principais capitais cosmopolitas como Nova York, Paris e Buenos Aires (foto 1). Por outro lado, a grande massa trabalhadora ou de desempregados eram despejados das regiões mais nobres da cidade, obrigados a ocupar favelas e cortiços em regiões mais periféricas (foto 2). As melhorias da cidade visavam somente ao embelezamento, não ao desenvolvimento real e a criação de oportunidades para a sociedade como um todo. João do Rio consegue perceber esse verniz que lançavam na alta sociedade, enquanto os reais problemas do país, a miséria, era banida dos olhos da alta classe, como o decreto que proibia que as pessoas dormissem nas ruas, obrigando os mais pobres a se amontoarem em pensões de baixo custo e insalubres.
Questão 3
Machado de Assis utiliza a ironia como um dos principais recursos para criticar modelos, atitudes e crenças da sociedade brasileira do século XIX. De que modo a ironia do autor colabora na construção da crítica social presente na crônica abaixo, publicada dias depois da abolição da escravatura, em maio de 1888? Baseado na crônica, aponte pelo menos três argumentos que revelam a manutenção dos padrões de exploração do negro mesmo após a Lei Áurea.
Crônica da abolição
Eu pertenço a uma família de profetas “après coup”, “post factum”, “depois do gato morto”, ou como melhor nome tenha em holandês. Por isso digo, juro se necessário for, que toda a história desta lei de 13 de maio estava por mim prevista, tanto que na segunda-feira, antes mesmo dos debates, tratei de alforriar um molecote que tinha, pessoa de seus dezoito anos, mais ou menos. Alforriá-lo era nada; entendi que, perdido por mil, perdido por mil e quinhentos,e dei um jantar.
Neste jantar, a que meus amigos deram o nome de banquete, em falta de outro melhor, reuni umas cinco pessoas, conquanto as notícias dissessem trinta e três (anos de Cristo), no intuito de lhe dar um aspecto simbólico.
No golpe do meio (“coupe do milieu”, mas eu prefiro falar a minha língua) levantei-me eu com a taça de champanha e declarei que, acompanhando as ideias pregadas por Cristo há dezoito séculos, restituía a liberdade ao meu escravo Pancrácio; que entendia que a nação inteira devia acompanhar as mesmas ideias e imitar o meu exemplo; finalmente, que a liberdade era um dom de Deus que os homens não podiam roubar sem pecado.
Pancrácio, que estava à espreita, entrou na sala, como um furacão, e veio abraçar-me os pés. Um dos meus amigos (creio que é ainda meu sobrinho) pegou de outra taça e pediu à ilustre assembleia que correspondesse ao ato que acabava de publicar brindando ao primeiro dos cariocas. Ouvi cabisbaixo: fiz outro discurso agradecendo, e entreguei a carta ao molecote. Todos os lenços comovidos apanharam as lágrimas de admiração. Caí na cadeira e não vi mais nada. De noite, recebi muitos cartões. Creio que estão pintando o meu retrato, e suponho que a óleo.
No dia seguinte, chamei o Pancrácio e disse-lhe com rara franqueza:
— Tu és livre, podes ir para onde quiseres. Aqui tens casa amiga, já conhecida, e tens mais um ordenado, um ordenado que...
— Oh! Meu senhô! Fico.
— Um ordenado pequeno, mas que há de crescer. Tudo cresce neste mundo: tu cresceste imensamente. 
Quando nasceste eras um pirralho deste tamanho; hoje estás mais alto que eu. Deixa ver; olha, és mais alto quatro dedos...
— Artura não qué dizê nada, não, senhô...
— Pequeno ordenado, repito, uns seis mil-réis: mas é de grão em grão que a galinha enche o seu papo. Tu vales muito mais que uma galinha.
— Eu vaio um galo, sim, senhô.
— Justamente. Pois seis mil-réis. No fim de um ano, se andares bem, conta com oito. Oito ou sete.
Pancrácio aceitou tudo: aceitou até um peteleco que lhe dei no dia seguinte, por me não escovar bem as botas; efeitos da liberdade. Mas eu expliquei-lhe que o peteleco, sendo um impulso natural, não podia anular o direito civil adquirido por um título que lhe dei. Ele continuava livre, eu de mau humor; eram dois estados naturais, quase divinos. 
Tudo compreendeu o meu bom Pancrácio: daí para cá, tenho-lhe despedido alguns pontapés, um ou outro puxão de orelhas, e chamo-lhe besta quando lhe não chamo filho do diabo; cousas todas que ele recebe humildemente e (Deus me perdoe!) creio que até alegre. [...]
Fonte: MACHADO DE ASSIS http://portal.mec.gov.br
Vocabulário:
1“après coup”: depois do golpe
2“post factum”: depois do fato
3“coupe do milieu”: o autor utiliza uma expressão inexistente em francês para mostrar a ignorância do personagem
 
RESPOSTA: Machado revela que, mesmo com a Lei Áurea e a carta de alforria na mão, o indivíduo que havia sido escravizado não tinha para onde ir, ficando sob o mesmo teto de antes, em troca de abrigo e comida e vivendo nas mesmas condições, ou seja, a exploração do trabalho escravo permaneceu mesmo após a Abolição. Machado utiliza a ironia ao adotar a primeira pessoa do singular e mostrar todos os “planos” do senhor de escravos, desnudando a hipocrisia dos discursos da época, uma vez que ele disse a todos que deu liberdade a Pancrácio, mesmo quando continua a impor os mais severos castigos ao criado: “daí para cá, tenho-lhe despedido alguns pontapés, um ou outro puxão de orelhas, e chamo-lhe besta quando lhe não chamo filho do diabo; cousas todas que ele recebe humildemente e (Deus me perdoe!) creio que até alegre”. 
Três argumentos: 
O antigo escravo mantém-se na casa do senhor, fazendo as mesmas coisas de antes;
O patrão continua a castigar o escravo;
O escravo continua submisso após uma vida de exploração (vai abraçar os pés do senhor, quando ganha a carta de alforria);
Questão 4 
 Machado de Assis foi um dos primeiros escritores a problematizar as questões referentes ao local e ao universal na Literatura Brasileira. Em “Instinto de Nacionalidade”, texto crítico escrito em 1873, Machado defende pontos de vista muito peculiares a respeito do que representa o verdadeiramente nacional na Literatura Brasileira. Destaque esses aspectos do texto abaixo e explique a visão machadiana sobre essa temática. De que maneira, em sua obra literária, Machado provou que a literatura nacional podia estar além do tempo e do espaço? (tome como exemplo uma das obras machadianas para exemplificar a questão)
Instinto de Nacionalidade (Machado de Assis) 
Quem examina a atual literatura brasileira reconhece-lhe logo, como primeiro traço, certo instinto de nacionalidade. Poesia, romance, todas as formas literárias do pensamento buscam vestir-se com as cores do país, e não há negar que semelhante preocupação é sintoma de vitalidade e abono de futuro. As tradições de Gonçalves Dias, Porto-Alegre e Magalhães são assim continuadas pela geração já feita e pela que ainda agora madruga, como aqueles continuaram as de José Basílio da Gama e Santa Rita Durão. Escusado é dizer a vantagem deste universal acordo. Interrogando a vida brasileira e a natureza americana, prosadores e poetas acharão ali farto manancial de inspiração e irão dando fisionomia própria ao pensamento nacional. Esta outra independência não tem Sete de Setembro nem campo de Ipiranga; não se fará num dia, mas pausadamente, para sair mais duradoura; não será obra de uma geração nem duas; muitas trabalharão para ela até perfazê-la de todo. 
Sente-se aquele instinto até nas manifestações da opinião, aliás mal formada ainda, restrita em extremo, pouco solícita, e ainda menos apaixonada nestas questões de poesia e literatura. Há nela um instinto que leva a aplaudir principalmente as obras que trazem os toques nacionais. (...)
Devo acrescentar que neste ponto manifesta-se às vezes uma opinião, que tenho por errônea: é a que só reconhece espírito nacional nas obras que tratam de assunto local, doutrina que, a ser exata, limitaria muito os cabedais da nossa literatura. (...)
Não há dúvida que uma literatura, sobretudo uma literatura nascente, deve principalmente alimentar-se dos assuntos que lhe oferece a sua região; mas não estabeleçamos doutrinas tão absolutas que a empobreçam. O que se deve exigir do escritor antes de tudo, é certo sentimento íntimo, que o torne homem do seu tempo e do seu país, ainda quando trate de assuntos remotos no tempo e no espaço. Um notável crítico da França, analisando há tempos um escritor escocês, Masson, com muito acerto dizia que do mesmo modo que se podia ser bretão sem falar sempre do tojo, assim Masson era bem escocês, sem dizer palavra do cardo, e explicava o dito acrescentando que havia nele um scotticismo interior, diverso e melhor do que se fora apenas superficial.
RESPOSTA: Machado mostrava que não eram apenas os contextos locais de uma obra, como “vestir-se com as cores do país”, que deveriam marcar um autor nacional. Ao afirmar isso, Machado ia contra uma tradição da crítica brasileira que só considerava verdadeiramente nacionais os autores que tratavam de costumes do Brasil, da sua fauna e flora, e de coisas intrinsecamente brasileiras. Machado propõe uma abertura da visão dos autores brasileiros de modo a trazer para a literatura brasileira aspectos relevantes das questões humanas mais universais de modo a ampliar os cabedais da nossa literatura e a lançar temas mais atuais e relevantes para todas as culturas, inclusive a brasileira: “O que se deve exigir do escritor antes de tudo, é certo sentimento íntimo, que o torne homem do seu tempo e do seu país, ainda quando trate de assuntos remotos no tempo e no espaço.” O “sentimento íntimo” seria mais importante para a construção de uma obra universal e atemporal, do que a “cor local” exigida pela crítica brasileira.

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