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RESUMO DOS CAPÍTULOS I, II, III, IV e V – Formação Econômica do Brasil – CELSO FURTADO. Cap. I – DA EXPANSÃO COMERCIAL À EMPRESA AGRÍCOLA A ocupação das terras Americana é resultado da expansão comercial européia. A partir do século XI, o comércio interno europeu se intensifica e no século XV já havia alcançado elevado grau de desenvolvimento. Entretanto, as invasões turcas no séc. XV começaram a criar dificuldades de acesso ao oriente (Ásia e Índia eram locais de abastecimento de produtos de interesse comercial para a Europa). Contornar as barreiras otomanas foi, sem dúvida o grande feito europeu do século XV. A descoberta de terras americanas parece ser a princípio um episódio sem importância. Durante 50 anos foi pouco valorizado pelos portugueses, mas os espanhóis encontraram quase de imediato um produto de interesse universal – metais preciosos. A notícia da descoberta de ouro (México e Andes) encontrado no Novo Mundo desperta a cobiça do Velho Mundo (Europa). Portugal e Espanha, donos do Novo Mundo ( pelo Tratado de Tordesilhas), passam a enfrentar problemas decorrentes de invasões (franceses, piratas, corsários, holandeses, ingleses). A partir do momento que ocorre invasões da nova terra, Portugal e Espanha passam a cuidar de seus domínios. A Espanha se ocupará do eixo México-Peru (ia da Flórida a embocadura do Rio da Prata), fundando feitorias e estabelecendo empresa militar-mineradora, rentável à Metrópole. De qualquer forma, os espanhóis tiveram que ceder territórios (Antilhas), foram mantidas algumas colônias improdutivas, porém estratégicas (Cuba), para fins de abastecimento e defesa. Somente os espanhóis desfrutaram, nos primeiros dois séculos (XVI e XVII) de colonização, dos metais preciosos. Já a ocupação do ocupação econômica, do território brasileiro, é uma conseqüência da pressão política exercida sobre Portugal, pelas demais nações européias. O Tratado de Tordesilhas foi questionado por franceses, holandeses e ingleses; estes afirmavam que espanhóis e portugueses somente teriam direito as terras efetivamente ocupadas. Para evitar invasões e pirataria, na costa brasileira, principalmente por franceses, os portugueses procuram subornar a corte francesa, mas, sem sucesso; estava claro que perderiam o território brasileiro caso alguma medida não fosse tomada. Contudo, os recursos que os portugueses dispunham para fixar colonos eram escassos. Povoar o Brasil, significava desviar recursos de empresas lucrativas do oriente. O traço mais relevante do 1º século da história americana, estão ligados a lutas em torno destas terras sem nenhuma utilização econômica (aparente). Logo, Portugal procurou uma forma de utilização econômica de suas terras. Somente assim, os gastos com a defesa poderiam ser cobertos. O início da exploração agrícola das terras brasileiras (não-extrativista) se dá por volta de 1550 com o açúcar. Anteriormente, isto é, no período de 1503 – 1550 tivemos o ciclo do pau-brasil (frutas, pesca, caça, madeira, animais exóticos, etc). Cap. II – FATORES DO ÊXITO DA EMPRESA AGRÍCOLA Um conjunto de fatores favoráveis tornou possível o empreendimento da primeira empresa colonial agrícola européia. Foram os seguintes: a) PROBLEMAS TÉCNICOS DE PRODUÇÃO: Os portugueses já plantavam cana-de-açúcar em algumas ilhas do Atlântico (Açores, Cabo Verde, Madeira) em escala relativamente grande para abastecer o mercado europeu. Desta experiência resultou em a iniciativa de trazer esta cultura (cana) para o Brasil. Havia, também uma incipiente indústria de equipamentos para engenhos açucareiros. O melhores equipamentos eram desenvolvidos e fabricados pelos venezianos (monopólio), que mantinham a técnica como um segredo industrial. Os venezianos eram responsáveis pelo açúcar de melhor qualidade (técnica), enquanto, que portugueses possuíam técnicas mais 1 rudimentares. Assim, houve intensa participação de italianos – nos processo de produção e comercialização do açúcar. b) CRIAÇÃO DE MERCADO: Tudo indica que o açúcar português inicialmente nos canais tradicionais controlados pelos comerciantes das cidades italianas. No último quartel do século XV ocorre uma crise de superprodução – cai o preço do açúcar – quebra do monopólio dos venezianos. Em 1496 o governo português, decide reduzir a produção, devido a queda no preço. A partir da metade do séc. XVI a produção portuguesa passa ser em comum com os flamengos – particularmente holandeses - (Holanda, Bélgica, Dinamarca). Recolhiam o produto em Lisboa, refinava-o e o distribuíam por toda Europa. Este foi o fator fundamental para a grande expansão do mercado do açúcar e para o êxito da colonização do Brasil. c) FINANCIAMENTO: Os holandeses financiavam os portugueses. Os holandeses eram, neste época, o único povo que dispunha de suficientes organização comercial para criar um mercado de grande dimensões. Tudo indica que capitais flamengos participaram no financiamento das instalações produtivas no Brasil e da importação de mão-de-obra escrava. A empresa colonial agrícola ofereceu alta rentabilidade para os capitais aplicados, logo, compreende-se o interesse em financiar o desenvolvimento da atividade açucareira no Brasil. d) MÃO-DE-OBRA: Havia o problema da escassez de mão-de-obra, visto que a MDO indígena se mostrou inadequada a uma atividade intensiva. O colono europeu não se sentia atraído, pelos trópicos, onde o clima não era similar ao da Europa e o salário não era compatível com o risco da mudança; em regime de escravidão os colonos não estavam dispostos a emigrar; Portugal, neste período (1550) tinha ao redor de 2 milhões de habitantes. Além, era necessário grande investimento, devido ao custo de transporte. A solução encontrada foi o negro africano em regime de escravidão. Os problemas foram resolvidos no tempo oportuno. Houve um conjunto de circunstâncias favoráveis. Por trás de tudo, está o desejo e o empenho do governo português de conservar a nova terra, de onde se esperava que um dia sairia o ouro. O êxito da grande empresa agrícola do séc. XVI – única na época – determinou a permanência dos portugueses no Brasil. Cap. III – RAZÕES DO MONOPÓLIO Os resultados financeiros da colonização agrícola no Brasil, foram magníficos, mostrando-se as perspectivas econômicas promissoras que a nova terra tinha. Os espanhóis continuaram a extrair metais preciosos do eixo principal (México-Peru), sendo que suas terras eram mais densamente povoadas. A política espanhola estava orientada no sentido de transformar as colônias em sistemas econômicos auto-suficiente e produtores de um excedente líquido – na forma de matais – que se transferia periodicamente para a Metrópole. A Espanha fomentou muito pouco o intercâmbio com as colônias. Havia escassez de meios de transportes (fretes eram elevados: 1 vez ao ano saia do porto de Sevilha uma embarcação para América). Esse afluxo de metais para a Espanha provocou transformações estruturais: - Poder econômico do Estado cresceu enormemente; - Aumento no fluxo de renda devido aos gastos públicos ou por gastos privados subsidiados. Conseqüências do afluxo de metais: - Elevação do nível geral de preços (inflação espanhola se propagou por toda Europa); - Déficit na Balança comercial; - Aumento da importação (quase todos bens de consumo eram M); 2 - Efeitos negativos sobre a produção interna; - Estímulo da produção em outros países europeus; - Aumento do número de pessoas inativas; - Decadência da economia espanhola afetando diretamente as colônias; - Fora a mineração, nenhuma outra empresa obteve sucesso (ao longo de 3 séculos); - O elevado consumo de manufatura européia pelas colônias espanholas, não criou necessidade de produção local, fora metais, ou seja,baixo intercâmbio comercial foi o responsável pela manutenção das estruturas arcaicas, nesta parte do mundo. Efeitos: - Se os espanhóis tivessem evoluído nesse sentido haveria maior dificuldade para os portugueses lograrem sucesso. Vantagens: - Os espanhóis tinham vantagem potenciais: - Terra de melhor qualidade e mais próxima da Europa; - MDO mais evoluída do ponto de vista agrícola e mais barata; - Enorme poder de financiamento. Tudo indica que os espanhóis poderiam ter dominado o mercado de produtos tropicais, desde o séc. XVI. O que impediu este fato? A própria decadência econômica da Espanha, provavelmente. A explicação é econômica, pois grupos de produtores de manufaturas poderiam estimular a produção de alguma matéria-prima. Entretanto, este setor, como o resto da economia espanhola estavam devido: a) importação de metais e b) concentração de renda em mãos do Estado Espanhol. Conclusão: Um dos fatores de êxito da empresa colonizadora agrícola portuguesa foi a decadência da economia espanhola, a qual se deveu principalmente à descoberta precoce de metais preciosos. Cap. IV – DESARTICULAÇÃO DO SISTEMA - Guerra entre espanhóis e holandeses (independência e retiradas dos flamengos da Holanda); - No começo do séc. XVII os holandeses controlavam praticamente todo o comércio dos países europeus realizado por mar. Era difícil distribuir o açúcar sem a ajuda dos holandeses. - A luta pelo controle de distribuição do açúcar é o motivo da guerra entre espanhóis (flamengos) x holandeses. - Um dos episódios desta guerra foi a ocupação durante 25 anos (1/4 séc.) da região produtora de açúcar no Brasil. Conseqüências: - ruptura do sistema cooperativo; - durante a permanência no Brasil, os holandeses adquiriram conhecimentos de todos os aspectos técnicos e organizacionais da indústria açucareira; - Holandeses são expulsos do Brasil e passam a produzir açúcar no Caribe, tornando-se concorrentes. Este fato leva a perda do monopólio da produção, refino e comercialização do açúcar dos portugueses. - No 3º quartel do séc. XVII, os preços do açúcar cai pela metade, e ficarão neste nível durante todo o séc. XVIII. - A etapa de máxima rentabilidade da empresa agrícola colonial foi ultrapassada; 3 - Na segunda metade do séc. XVII (1650), houve queda das exportações (queda de mais de 50% do que exportava); os preços não alcançaram 50% do valor da primeira metade do séc. XVII; - Renda real gerada pela produção açucareira estava reduzida a um quarto (25%) do que havia sido em sua melhor época; - Desvalorização da moeda portuguesa, em relação ao ouro, indicando a importância do açúcar para a balança comercial portuguesa. Efeitos: - A desvalorização poderia representar uma transferência de renda para a colônia, mas, nesta época o Brasil importava quase tudo, principalmente manufaturas, que os portugueses recebiam de outros países europeus. Sendo assim, as transferências de renda provocadas pela desvalorização da moeda portuguesa, revertiam em benefícios dos exportadores metropolitanos portugueses. - O surgimento de uma economia concorrente no mercado dos produtos tropicais, decorreu do debilitamento da potência militar espanhola na primeira metade do século XVII. Cap. V – AS COLÔNIAS DE POVOAMENTO DO HEMISFÉRIO NORTE - O enfraquecimento da economia espanhola é observado de perto pelas nações: francesa, holandesa e britânica; - A idéia de se apoderar da rica nação espanhola fazia parte dos planos de franceses e ingleses, não chegando a concretizar-se em função da guerra entre estes dois países; - Franceses e ingleses concentraram-se nas Antilhas e baseados num sistema de pequenas propriedades; - Os colonos eram atraídos ou enganados, ou eram recrutados entre criminosos, ou seqüestrados; Cada um recebia um pedaço de terra que deveria se pago com trabalho; - As Antilhas inglesas se povoaram mais rapidamente devido a maior facilidade de recrutamento de colonos; grande transformações religiosos, sociais e políticas também estimularam a emigração (intolerância religiosa); - A população que emigrava estava disposta a aceitar as mais duras condições de vida, o que criou facilidade para a exploração da MDO; - A colonização de povoamento que se inicia na América no séc. XVII constitui, portanto, uma forma de exploração de MDO européia que devido as circunstâncias, tornara-se relativamente barata nas ilhas britânicas; - A Inglaterra no séc. XVII tinha um excedente populacional, graças as profundas modificações que ocorreram na agricultura; - A população que abandonará o campo, vivia em condições precárias o suficiente para se submeter a um regime de servidão por tempo limitado, com o objetivo de acumular pequeno patrimônio; - Nos primeiros tempos (séc. XVII) da colonização de povoamentos acarretou prejuízos para as Cias. que as organizam; - Este núcleo colonial preocupa-se com a produção que possa ser comercializada, mas que fossem produzidos em pequenas propriedades; - Os núcleos situados ao norte da América encontrou dificuldades em encontrar um produtos adaptável a região e que criasse base econômica estável, logo, os prejuízos foram grandes; 4 - Explica-se assim o lento desenvolvimento inicial das colônias do norte do continente. - Entretanto, a colonização das Antilhas por ingleses e franceses irá modificar esta situação; - Os artigos produzidos nas Antilhas eram anil, algodão, café e fumo (principalmente) e que tinha mercado (europeu); - A produção destes artigos era compatível com o regime de pequenas propriedades, permitindo lucros as cias. colonizadoras. 5
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