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Resumo: Neuropsicologia

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Neuropsicologia: teoria e prática
Daniel Fuentes, Leandro F.Malloy-Diniz, Candida Helena Prires de Camargo e Ramon M. Cosenza.
Aspectos históricos da neuropsicologia e o problema mente-cérebro
O problema Mente-Cérebro e o Interacionismo Cartesiano.
Há um impasse entre Teoria psicológica e filosófica Vs Prática médica e científica na modernidade. Descartes, engajado em dissecação de animais, não questionava os dogmas católicos que geravam anátemas, excomunhões e mesmo a fogueira, como aconteceu com Giordono, caso este conhecido e temido por descartes que o fez pedir a seus discípulos que publicassem sua primeira obra que desafiava o geocentrismo.
Contudo, ele mesmo poderia ser incluído na lista de precursores da neuropsicologia pela via da relação entre filosofia psicológica e fisiologia, como se pode notar no trecho retirado de sua obra As paixões da alma em que ele diz que os movimentos dos músculos, assim como todos os sentidos, dependem dos nervos, sendo estes pequenos fios ou tubos que procedem, todos, do cérebro, contendo certo ar ou vento muito sutil que chamamos espíritos animais.
Descartes afirma que a relação corpo e mente é mediada por esses espíritos animais. Assim, sua posição é considerada uma forma de interacionismo. Contudo, ainda que à alma seja resguardada uma natureza distinta (res cogitans ou coisa pensante), aos espíritos animais é conferida uma condição puramente material, no qual Descartes afirma que “pois o que denomino aqui espíritos não são mais do que corpos”, não possuindo nenhuma outra propriedade além de serem corpos pequenos que se movem depressa.
Ainda na visão cartesiana, a interação entre a alma e espírito se daria pela glândula pineal que, segundo ele, faz o papel de locus principal da interação da alma com o corpo por meio dos espíritos. A escolha dessa glândula se dá por dois motivos: por se tratar de uma estrutura única e centralizada, em vez de dupla e dividida em hemisférios, sendo considera, pelo filósofo, como a melhor candidata, devido as razões analógicas e quase geométricas. Ele ainda reconhece que a hipófise também tem um caráter de unicidade, mas “não dispõe da mobilidade da pineal”, uma vez que a hipófise está presa à face superior do osso esfenoide por meio da sela túrcica. 
A interação entre o corpo e a alma depende de um movimento ou deslocamento gerado pela impulsão de espíritos. Esse movimento, mesmo sendo dado em pequenas dimensões, ele é concebido ainda da maneira extensa, vetorial e com todas as demais propriedades que possamos atribuir à matéria condensada.
Contudo, não foram suas ideias materialistas que ficaram consagrados na história da filosofia, e sim seu dualismo de substâncias no qual a realidade é dividida em dois mundos, um pensante e um extenso e material. Esse imaterialismo e racionalismo tinha como função clara de sobrepor a racionalidade da mente às paixões. Esses mesmos racionalismo e primazia do pensamento podem ser abstraído da popularizada máxima cartesiana “cogito ergo sum”. A existência é descoberta pela primazia epistemológica do pensamento, e o pensamento se configura como substância imaterial e inextensa. Até hoje sofremos com esse dualismo cartesiano.
Segundo Searle (1992), o uso desse vocabulário condiciona o debate de forma que muitos alegam que os problemas filosóficos da relação corpo-mente seriam pseudoproblemas.
Algumas teses correntes sobre a relação mente-cérebro.
Grande parte das teorias filosóficas da atualidade repudiam a dualidade de substância, descrevendo-a como ultrapassada. Outros filósofos, que apelam para a noção de possibilidade lógica, argumentam que não se deve excluir a possibilidade de que haja uma substância não física correspondente à natureza da mente ou de uma suposta alma.
No lado oposto do espectro de posições sobre a relação mente-cérebro, encontra-se o eliminativismo ou materialismo eliminativo que afirma que a folk psychology (psicologia popular) trabalha com categorizações falsas, herdadas de um passado remoto e que precisam ser eliminadas para um progresso da compreensão mente-cérebro e que as classes de supostos estados mentais seriam apenas ilusões, não possuindo qualquer capacidade causal, nem sequer existindo. Entre as entidades mentais as quais essa linha pretende eliminar, encontram-se, por exemplo, atitudes proposicionais (relação entre conteúdo proposicional e uma determinada postura mental com implicações práticas). Também foi proposto que a noção de qualia (sensações e experiências como estados subjetivos qualitativos) poderia ter um caráter ilusório, não tenho a existência que lhe é atribuída.
Para os eliminativistas, uma neurociência em alto grau de maturidade e desenvolvimento substituirá essa terminologia psicológica popular por uma descrição científica de fato.
Pelo outro lado do espectro de posições sobre a relação mente-cérebro, é comum acreditar na versão dualista de propriedades, que afirma que os elementos de propriedades mentais não podem ser reduzidos às propriedades físicas ou cerebrais. Contudo, acreditam que os componentes últimos da realidade sejam todos de natureza física, diferente do que afirmam os dualistas de substâncias
Entre os dualistas de propriedades, há dois grupos majoritários de posição, os que acreditam em causação mental, ou seja, que é possível que propriedades mentais tenham poder causal nesse mundo constituído de uma substância física, e os epifenomenalistas, que acreditam que propriedades mentais seriam epifenômenos (produto acidental, fenômeno que não tem efeitos próprios) e, assim, desprovidas de qualquer papel causal.
Além dessa tendências, há outras formas mais ou menos redutivas de fisicalismo ou materialismo. Por redutivo, entende-se a capacidade de uma teoria explicar predicados mentais em termos de predicados neurais ou criar reduções interteóricas do vocabulário explicativo mental em termos de um vocabulário neural ou, ainda, funcionalizando propriedades mentais em termos de sua estrutura causal física. Existindo ainda, as teorias identitárias que afirmam que processos mentais seriam idênticos a processos neurais. Elas podem ser classificadas em duas famílias: as de identidades de tipo e as de ocorrência.
Na identidade de tipo, há uma identidade estável entre um tipo mental e um tipo físico, contudo a ideia de múltipla realizabilidade, que diz que um estado mental pode ser realizado por diversos estados cerebrais, coloca o argumento da identidade de tipo em maus lençóis. No caso da identidade de ocorrência, esse problema parece estar amenizado, pois as identidades se dariam entre ocorrências individuais de estados cerebrais e mentais. Muitos funcionalistas acabam aderindo essa posição, pois acreditam que as funções podem ser instanciadas, por exemplo, tanto in silico (simulação computacional) como in vivo.
As teorias que apresentam uma interdisciplinaridade entre as ideias filosóficas da mente e da ciência com neuropsicologia, neurociência e ciência cognitiva apresentam uma ideia de que todo conteúdo mental deve ter um correlato neural. As ideias de correlatos possuem diversas versões, mas algumas não adotam uma postura necessariamente identitárias, o que é bom. 
Trata-se de uma ideia que busca encontrar o conjunto mínimo de eventos e processos cerebrais que possa ser correlacionado a uma capacidade mental como seu substrato neural. As diversas variações dessa ideia situa-se em dois eixos: um mais localizacionista e o outro globalista/conexionista. A localizacionista afirma que áreas bem determinadas do cérebro possuem capacidades distintas e específicas. Os globalistas, por outro lado, considera-se a possibilidade de que as correlações sejam estabelecidas entre capacidades funcionais e áreas em interação e reverberação informativa.
A fidelidade responsável ao projeto de uma neuropsicologia poderá ser possível ao congregar o entendimento dessas propriedades sistêmicas que emergem da interação entre os diferentes níveis de processamento de informação em áreas distintas do cérebro, sem, no entanto, perder de vistaa especificidade inerente a cada parte ou subsistema constituinte do sistema.
2. O método anatomoclínico e o surgimento da neuropsicologia.
A fundação da neuropsicologia pode ser considerada pelo ato de Pierre Paul Broca ao pesquisar sobre a localização de um centro dedicado para produção da fala no cérebro. Broca fez uma breve comunicação em 1861 para uma sociedade de antropologia sobre o caso de um paciente que apresentava um comprometimento da capacidade de produção da fala, com quadros de preservação cognitiva. Esse mesmo paciente, como descreve Broca, havia perdido a capacidade de falar algo mais que as duas sílabas que ele repetia duas vezes seguidas (“tan tan”).
Após a morte deste paciente, chamado Leborgne, a autópsia revelou uma lesão específica no giro frontal inferior esquerdo. Broca (1861) afirmou que tudo permitia crer quer que essa lesão no lobo frontal foi a causa específica do transtorno O quadro clínico específico de perda de produção da fala e o giro frontal inferior tornaram epônimos de Broca, sendo chamados, respectivamente, afasia de Broca e área de Broca.
Broca utilizava o método anatomoclínico em seus estudos, que consistia em examinar em dois estágios para buscar vincular sinais clínicos com padrões de alterações cerebrais. O primeiro estágio consistia em um profundo exame clínico do paciente. O segundo ocorria após a morte do cliente, envolvendo a necropsia do cérebro e da medula espinhal. Esse método permitiu vincular as informações proveniente dos dados clínicos com as neuroanatômicas, sugerindo uma possível relação de causalidade.
Após essa descoberta de Broca, alguns outros estudos evidenciaram uma possível relação entre os déficits cognitivos ou quadros clínicos específicos com padrões de lesão cerebral. Kleist, na década de 30, desenvolveu um mapa de localização cerebral relativamente preciso, indicando os supostos efeitos para determinados danos em áreas cerebrais específicas. Wilder Penfield, na década de 50, estabeleceu um mapa de processamento sensorial. Na segunda metade do século XX, diversas pesquisas utilizando neuroimagens e estudos de lesão acumularam-se para indicar de forma inequívoca a especialização de regiões cerebrais em termos de processamento de informação.
Luria, o conceito de sistema e a instanciação da cultura no cérebro
Luria, no estudo de sua formação, estudou psicanálise, traduzindo Freud pra russo e fundando a Associação Psicanalítica de Kazan. Em 1924, conheceu e trabalhou junto com Vygotsky e Leontiev, estabelecendo os fundamentos de uma psicologia que levasse em conta tanto os fatores individuais quanto os elementos sociais/culturais. Durante a Segunda Guerra Mundial, trabalhou em um hospital para ex-combatentes, entendendo seu conhecumento sobre pacientes com lesões cerebrais.
Luria, além de ser um dos fundadores da neuropsicologia contemporânea, teve um papel importante no desenvolvimento da psicologia histórico cultural, tendo uma perspectiva baseada na relação entre biologia e cultura. Para ele, a separação entre psicologia individual e social era uma falácia teórica, e o desenvolvimento e funcionamento do cérebro se dava pela interação de fatores biológicos e sociais. Uma das ideias essenciais da abordagem de Luria é a que afirma que os vínculos funcionais entre regiões cerebrais são construídos historicamente. Dessa forma, as regiões responsáveis pela linguagem tornam-se funcionalmente conectadas a regiões do processamento visual e motor a partir da invenção da escrita.
A visão de Luria permite especular como são formadas as conexões entre as áreas do cérebro humano a partir da estimulação e do ambiente provenientes da sociedade contemporânea. Um dos conceitos fundamentais de Luria é a de sistema funcional, no qual ele afirma que deve-se desconstruir a ideia de função ao sugerir que esta não pode ser atribuída a um único órgão/tecido. A noção de sistema sugere um alto grau de plasticidade e compensação entre as suas partes.
As modalidades complexas de cognição seriam, segundo ele, um exemplo privilegiado de funcionamentos sistêmico, com diferentes áreas cerebrais trabalhando em concerto para sua consecução. Luria identifica 3 sistemas com base em contribuições funcionais específicas: uma unidade de sono-vigília, uma de processamento sensorial e armazenamento de informação e uma de regulação e monitoramento de atividades. Essas atividades podem ser situadas em diferentes áreas neurais, mas o conceito de sistema propõe que essas regiões cumprem funções amplas e que diferentes componentes de cada unidade compensam a atividade de outros em caso de dano cerebral.
Trazendo a neuropsicologia para o século XXI
Alguns dos pensamentos de Luria não foram plenamente incorporados. Há na neuropsicologia um grande descompasso com alguns conceitos que são frutíferos para se pensar na relação entre funcionamento mental e cerebral. A exemplo temos a noção de modularidade, um dos pilares da neuropsicologia, que diante dos novos achados, vem sendo relativizada. O aumento de estudos sobre a conectividade estrutural, funcional e efetiva entre regiões cerebrais sugere que é somente da interação entre áreas que funções complexas podem emergir.
As últimas décadas trouxeram um gradual abandono da metáfora da mente como um computador, como sugeria, por exemplo, o cognitivismo. Essa perspectiva cai em uma posição dualista na qual a mente é um conjunto de regras que pode ser instanciado independentemente de sua base orgânica. Em oposição à essa visão, há uma incorporação das neurociências que afirmam que todos os processos cognitivos são calcados em uma base material e motivados em última instancia por questões referentes à adaptação do indivíduo. De um ponto de vista clínico, a adesão da neuropsicologia a esse paradigma biológico enfatiza o caráter adaptativo dos sintomas e repostas de pacientes neurológicos, em vez de desprezá-los e considera-los como apenas expressões de déficits.
Uma neuropsicologia para o século XXI precisa reinventar-se metodologicamente. Nas últimas décadas, os campos mais amplos da neurologia clínica beneficiaram-se de inovações técnicas, como procedimentos de neuroimagem de alta resolução espacial. Isso possibilitou evitar as limitações associadas com o estudo de lesões. Além disso, permitiu investigar objetos de estudos que foram excluídos da neurociência cognitiva, por dificuldades metodológicas. A exemplo, temos o estudo das emoções em humanos que eram considerados de difícil estudo, uma vez que só podiam ser acessados a partir de uma perspectiva de primeira pessoa. Com o avanço das técnicas de imagem, essa pesquisa teve um grande impulso.
Diante desse panorama, um dos desafios atuais da neuropsicologia é acompanhar os últimos desenvolvimentos do campo mais amplos das neurociências, a fim de revitalizar seus métodos e teorias.

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