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Hamill, Joseph, 1946- - Bases biomecânicas do movimento humano. São Paulo: Editora Manole, 1999. Capítulo 9, p. 368-393. Notas prévias: Produzido pelos Serviços de Biblioteca, Informação Documental e Museologia da Universidade de Aveiro. Organização da paginação: topo da página, entre parêntesis retos. Lista de abreviaturas e respetivo desdobramento: m - metros m/s - metros por segundo s - segundo(s) rad - radianos rad/s - radianos por segundo °/s - graus por segundo i.e. - isto é graus/s2 - graus por segundo ao quadrado rad/s2 - radianos por segundo ao quadrado m/s2 - metros por segundo ao quadrado SI - Sistema Internacional cos - cosseno [368] Capítulo 9 - Cinemática Angular I. Medida dos Ângulos A. Unidades de Medida 1. grau 2. revolução 3. radiano II. Tipos de Ângulos A. Ângulo Relativo 1. lei dos cossenos 2. cosseno inverso B. Ângulo Absoluto 1. tangente de um ângulo 2. tangente inversa III. Representação de Vetores de Movimento Angular IV. Movimento Angular A. Distância e Deslocamento Angular B. Velocidade Angular C. Aceleração Angular V. Ângulos Articulares dos Membros Inferiores A. Ângulos do Plano Sagital B. Ângulos do Retropé VI. Relação entre Movimentos Angulares e Lineares A. Deslocamento Angular e Linear 1. raio de rotação B. Velocidade Linear e Angular 1. velocidade tangencial C. Aceleração Linear e Angular 1. aceleração tangencial 2. aceleração centrípeta ou radial VII. Diagramas Ângulo-Ângulo VIII. Cinemática Angular da Corrida IX. Resumo do Capítulo [369] Objetivos do Estudante Após ler este capítulo, o estudante será capaz de: 1. Distinguir entre movimento linear, angular e geral. 2. Determinar ângulos relativos e absolutos. 3. Determinar a direção dos vetores de movimento angular. 4. Discutir a relação entre quantidades cinemáticas angulares de distância e deslocamento angular, velocidade angular e aceleração angular. 5. Discutir as convenções para o cálculo de ângulos do membro inferior. 6. Discutir a relação entre movimento angular e linear, particularmente as relações entre deslocamento angular e linear, velocidade angular e linear, e aceleração angular e linear. 7. Interpretar diagramas ângulo-ângulo. 8. Discutir estudos de pesquisa selecionados que têm sido usados na abordagem cinemática angular. 9. Resolver problemas quantitativos que empregam princípios de cinemática angular. O movimento angular ocorre quando todas as partes do corpo se movem pelo mesmo ângulo mas não realizam o mesmo deslocamento linear. A subdivisão da cinemática que trata com o movimento angular é chamada de cinemática angular. A cinemática angular é a descrição do movimento angular sem importar-se com as causas do movimento. Considere uma roda de bicicleta como exemplo (FIGURA 9-1). Pegue qualquer ponto próximo do centro da roda e qualquer ponto próximo da beira da roda. Quando a roda gira, o ponto próximo à beira realiza um deslocamento linear maior que o ponto próximo do centro. Assim, a roda está fazendo uma rotação. O movimento da roda é denominado movimento angular. Movimento angular ocorre sobre um eixo de rotação que é uma linha perpendicular ao plano onde ocorre a rotação. Por exemplo, a roda da bicicleta gira sobre seu eixo que é o eixo de rotação. O eixo da roda é perpendicular ao aro da roda que descreve o plano de rotação (FIGURA 9-1). Nota de revisor: a seguir apresenta-se uma imagem cuja legenda é: FIGURA 9- 1. Uma roda de bicicleta como exemplo de movimento de rotação. Os pontos A, B e C passam pela mesma quantidade de rotação, mas com deslocamentos lineares diferentes, sendo o deslocamento do ponto C o maior. Uma compreensão do movimento angular é crítica para compreender como alguém se move. Quase todo o movimento humano envolve as rotações de segmentos do corpo. Os segmentos giram sobre os centros articulares que formam os eixos de rotação para esses segmentos. Quando um indivíduo se move, os segmentos geralmente fazem tanto rotação quanto translação. Quando ocorre uma combinação de rotação e translação, chama-se a isso de movimento geral. A FIGURA 9-2 ilustra a combinação de movimentos lineares e rotatórios. Um ginasta faz translação quando se move através do solo. Ao mesmo tempo, o ginasta faz também rotação. Nota de revisor: a seguir apresenta-se uma imagem cuja legenda é: FIGURA 9- 2. Uma ginasta fazendo uma "estrela" como exemplo de movimento geral. A ginasta faz simultaneamente translação e rotação. Medida dos Ângulos Um ângulo é composto de duas linhas que intersecionam um ponto chamado vértice. Na análise biomecânica, as linhas que se intersecionam são geralmente segmentos corporais. Se você considerar o eixo longitudinal do segmento da perna como sendo um lado de um ângulo e o eixo longitudinal do segmento da coxa como sendo o outro lado, o vértice seria do centro articular do joelho. Os ângulos podem ser determinados a partir dos mesmos pontos coordenados que foram descritos no Capítulo 8. Os pontos coordenados descrevendo os centros articulares determinam os lados e o vértice do ângulo. Por exemplo, um ângulo no joelho pode ser construído usando os segmentos de coxa e perna. Os pontos coordenados descrevendo os centros da articulação do tornozelo e joelho definem o segmento da perna, enquanto os pontos coordenados descrevendo os centros da articulação do quadril e do joelho definem o segmento da coxa. O vértice do ângulo é o centro da articulação do joelho. [370] A definição de um segmento colocando marcadores no indivíduo sobre os centros articulares constitui-se uma pressuposição tecnicamente incorreta. É incorreto pressupor que o centro articular no vértice do ângulo não muda durante o movimento. Devido às assimetrias na forma das superfícies articuladoras na maioria das articulações, um ou ambos os ossos que constituem a articulação podem se deslocar um em relação ao outro. Por exemplo, apesar de o joelho ser geralmente considerado uma articulação em dobradiça, ele não o é. Na articulação do joelho, os côndilos mediai e lateral são assimétricos, fazendo com que a tíbia rode em seu eixo longo e sobre um eixo que passa no joelho de frente para trás na medida em que o joelho se flexiona e estende. A localização do centro articular, desse modo, muda durante qualquer movimento do joelho. O centro de rotação de uma articulação em um instante no tempo é denominado centro articular instantâneo (FIGURA 9-3). É difícil localizar esse eixo de rotação que se move a menos que sejam usadas técnicas especiais como as medidas feitas com raio x. Essas medidas não são práticas na maioria das situações: assim, é feita uma pressuposição do centro articular instantâneo estático. Nota de revisor: a seguir apresenta-se uma imagem cuja legenda é: FIGURA 9- 3. Centro de rotação instantâneo do joelho. (Nordin, M. & Frankel, V.H. (eds). Biomechanics of the Musculoskeletal System (2a ed.). Philadelphia: Lea & Febiger, 1979.) Unidades de Medida No movimento angular, existem três unidades usadas para medir ângulos. É importante usar as unidades corretas para que o biomecânico comunique claramente os resultados de seu trabalho, e para comparar valores de um estudo com outro. É também essencial usar as unidades corretas porque as medidas de ângulo podem ser usadas para cálculos adicionais. A primeira medida, que é a mais comumente usada, é o grau (°). Um círculo descrevendo uma rotação completa transcreve um arco de 360° (FIGURA 9-4A). Um ângulo de 90°, por exemplo, resulta em lados que são perpendiculares entre si. Uma linha reta tem um ângulo de 180° (FIGURA 9-4B). [371] A segunda unidade de medida descreve o número de rotações ou revoluções sobre um círculo (FIGURA 9-4A). Uma revolução é um único giro de 360°. Por exemplo,um salto triplo com patins requer que o patinador faça três revoluções e meia no ar. O patinador completa uma rotação de 1260°. Essa unidade de medida é útil em descrições qualitativas de movimentos como aqueles feitos na patinação artística, ginástica olímpica e saltos ornamentais, mas não é útil em análises quantitativas. Enquanto o grau é a medida mais comumente compreendida, e a revolução é a mais comumente usada, a unidade mais apropriada para medida angular em biomecânica é o radiano. Um radiano é definido como a medida de um ângulo no centro de um círculo descrito por um arco igual ao comprimento do raio do círculo (FIGURA 9-4C). Ou seja: Nota de revisor: a seguir apresenta-se uma imagem com a seguinte fórmula: θ teta = s sobre r = 1 radiano onde θ teta = o ângulo que equivale a 1 radiano, s = arco de comprimento r, e r = raio do círculo. Como tanto s quanto r têm unidades de comprimento (m), as unidades no numerador e denominador cancelam uma à outra, ficando o radiano sem dimensão. Em cálculos subseqüentes, o radiano não é considerado na determinação de unidades do resultado do cálculo. Os graus têm uma dimensão e precisam ser incluídos na unidade do produto de qualquer cálculo. E necessário, desse modo. usar o radiano como uma unidade de medida angular em vez do grau em qualquer cálculo que envolva movimento angular porque o radiano não tem dimensão. Um radiano equivale a 57,3°. Para converter um ângulo em graus para radianos, divida o ângulo em graus por 57,3°. Por exemplo, 72° em radianos é: Nota de revisor: a seguir apresenta-se uma imagem com a seguinte fórmula: 72° = 72° sobre 57,3° = 1,26 rad Para converter radianos para graus, simplesmente multiplique o ângulo em radianos por 57,3°. Por exemplo, 0,67 radiano em graus é: Nota de revisor: a seguir apresenta-se uma imagem com a seguinte fórmula: 0,67 rad = 0,67 rad * 57,3 = 38,4° A medida angular em radianos é geralmente determinada em múltiplos de pi (π pi = 3,1416). Como há 2 π pi radianos em um círculo completo, 180° pode ser representado como π pi radianos, 90° como π pi/2 e assim por diante. Embora a unidade de medida angular no sistema SI seja o radiano e essa unidade deva ser usada em cálculos futuros, os conceitos de movimento angular apresentados no restante deste capítulo utilizarão o grau para facilitar a compreensão. Nota de revisor: a seguir apresenta-se uma imagem cuja legenda é: FIGURA 9- 4. Unidades de medida angular: (A) revolução; (B) linhas perpendicular e reta; (C) radiano. Tipos de Ângulos Ângulo Relativo Dois tipos de ângulos são geralmente calculados em biomecânica. O primeiro ângulo é chamado de ângulo relativo (FIGURA 9-5A). Esse ângulo define o ângulo incluído entre o eixo longitudinal de dois segmentos. Por exemplo, o angulo relativo no cotovelo descreve a quantidade de flexão ou extensão na articulação. Ângulos relativos, contudo, não descrevem a posição de segmentos ou os lados do ângulo no espaço. Se um indivíduo tem um ângulo relativo de 90° no cotovelo e esse ângulo é mantido, o braço pode ficar em qualquer posição (FIGURA 9-5B). Nota de revisor: a seguir apresenta-se uma imagem cuja legenda é: FIGURA 9- 5. (A) Ângulo relativo do cotovelo; (B) o mesmo ângulo do cotovelo com braço e antebraço em posições diferentes. Os ângulos relativos podem ser calculados usando a Lei dos Cossenos. Essa lei é simplesmente um caso mais geral do Teorema de Pitágoras e descreve a relação entre os lados de um triângulo. Para nossos propósitos, o triângulo é constituído por dois segmentos (b e c) e uma linha (a) unindo a ponta distai de um segmento com a ponta proximal do outro (FIGURA 9-6). Na FIGURA 9-6 são dados os pontos coordenados para dois segmentos descrevendo a coxa e a perna. Para calcular o ângulo relativo no joelho (θ teta), os comprimentos a, b e c podem ser calculados usando a relação de Pitágoras. [372] Nota de revisor: a seguir apresenta-se uma imagem com a seguinte fórmula: a = raiz quadrada (x h -x a) 2 + (y h -y a) 2 = raiz quadrada (1,14 -1,09)2 + (0,80 -0,09)2 = raiz quadrada 0,0025 + 0,5041 = 0,71 b = raiz quadrada (x h -x k) 2 + (y h -y k) 2 = raiz quadrada (1,14 -1,22)2 + (0,80 -0,51)2 = raiz quadrada 0,0064 + 0,0841 = 0,30 c = raiz quadrada (x k -x a) 2 + (y k -y a) 2 = raiz quadrada (1,22 -1,09)2 + (0,51 -0,09)2 = raiz quadrada 0,0169 + 0,1764 = 0,44 [373] O passo seguinte é o de substituir esses valores na equação da Lei dos Cossenos e resolvê-la para o cosseno do ângulo θ teta. Nota de revisor: a seguir apresenta-se uma imagem com a seguinte fórmula: a2 = b2 + c2 -2*b*c*cos θ teta 0,71 2 = 0,30 2 + 0,44 2 -2*0,30*0,44*cos θ teta cos θ teta = 0,30 2 + 0,44 2 -0,71 2 sobre 2*0,30*0,44 cos θ teta = 0,09 + 0,19 -0,50 sobre 0,26 cos θ teta = -0,833 Para encontrar o ângulo θ teta, o ângulo cujo cosseno é -0,833 pode ser determinado usando ou tabelas trigonométricas (Apêndice D) ou uma calculadora com funções trigonométricas. Esse é o processo conhecido como encontrar o cosseno inverso, e é escrito do seguinte modo: Nota de revisor: a seguir apresenta-se uma imagem com a seguinte fórmula: θ teta = cos -1 -0,833 θ teta = 146,4° Desse modo, o ângulo relativo no joelho é 146,4°. Neste caso, o joelho está levemente fletido (180° representando extensão completa). Nota de revisor: a seguir apresenta-se uma imagem cuja legenda é: FIGURA 9- 6. Pontos coordenados descrevendo o centro articular do quadril, joelho e tornozelo e o ângulo relativo do joelho (θ teta). Ângulo Absoluto O outro tipo de ângulo calculado em biomecânica é o ângulo absoluto. Um ângulo absoluto é o ângulo de inclinação de um segmento do corpo. Esse tipo de ângulo descreve a orientação do segmento no espaço. Existem duas convenções primárias para calcular ângulos absolutos. Uma envolve colocar um sistema de coordenadas na extremidade proximal de um segmento. O ângulo é, então, medido em sentido horário a partir da horizontal direita. A convenção mais freqüentemente usada para calcular ângulos absolutos, contudo, coloca um sistema de coordenadas na extremidade distal do segmento (FIGURA 9-7). Nota de revisor: a seguir apresenta-se uma imagem cuja legenda é: FIGURA 9- 7. Ângulos absolutos de: (a) braço, (b) tronco, (c) coxa e (d) perna de um corredor. O ângulo usado nessa convenção é também medido em sentido horário a partir da horizontal direita. Os ângulos absolutos calculados usando essas duas convenções são relacionados e dão informações que podem ser comparadas. Quando se calcula ângulos absolutos, contudo, a convenção usada precisa ser claramente anunciada. Os ângulos absolutos são calculados usando a relação trigonométrica de tangente. A tangente é definida com base nos lados de um triângulo retângulo. É a relação do lado oposto do ângulo em questão e o lado adjacente ao ângulo. O ângulo em questão não é o ângulo reto do triângulo. Se considerarmos as posições coordenadas do mesmo segmento de perna e coxa como na FIGURA 9-6, podemos calcular os ângulos absolutos tanto do segmento da coxa quanto da perna (FIGURA 9-8). Nota de revisor: a seguir apresenta-se uma imagem cuja legenda é: FIGURA 9- 8. Ângulos absolutos da coxa e perna do modo definido em um sistema de coordenadas. Para calcular o ângulo absoluto da perna, os valores das coordenadas das extremidades do segmento da perna são substituídos na fórmula para definir a tangente do ângulo: Nota de revisor: a seguir apresenta-se uma imagem com a seguinte fórmula: tan θ teta perna = y proximal -y distal sobre x proximal -x distal = y joelho -y tornozelo sobre x joelho -x tornozelo = 0,51 -0,09 sobre 1,22 -1,09 = 0,42 sobre 0,13 = 3,23 Em seguida, o ângulocuja tangente é 3,23 é novamente determinado usando tabelas trigonométricas (Apêndice D) ou uma calculadora. [375] A isso chamamos encontrar a tangente inversa, e escrevemos assim: Nota de revisor: a seguir apresenta-se uma imagem com a seguinte fórmula: θ teta perna = tan -1 3,23 = 72,8° O ângulo absoluto da perna, desse modo, é 72,8° a partir da horizontal direita. Essa orientação indica que perna está posicionada de tal modo que o joelho está mais à frente a partir do eixo vertical (y) do sistema de coordenadas que o tornozelo. Ou seja, a articulação do joelho está à direita da articulação do tornozelo. Similarmente, para calcular o ângulo da coxa, os valores coordenados são substituídos assim: Nota de revisor: a seguir apresenta-se uma imagem com a seguinte fórmula: tan θ teta coxa = y quadril -y joelho sobre x quadril -x joelho = 0,80 -0,51 sobre 1,14 -1,22 = 0,29 sobre -0,08 = -3,625 Novamente, o ângulo cuja tangente é -3,625 é determinado do seguinte modo: Nota de revisor: a seguir apresenta-se uma imagem com a seguinte fórmula: θ teta coxa = tan -1 -3,625 = 105,4° Se considerarmos um sistema de coordenadas com a origem na articulação do joelho, um ângulo maior que 90° e menor que 180° não ficará no primeiro quadrante, mas no segundo. Se o ângulo for maior que 180° e menor que 270°, ficará no terceiro quadrante. Ângulos maiores que 270° e menores que 360° ficarão no quarto quadrante. Como o ângulo absoluto da coxa é 105,4°, o ângulo precisará estar no segundo quadrante. Isso significa que a coxa é orientada de modo que a articulação do quadril fica mais próxima do eixo vertical (y) do sistema de coordenadas que a articulação do joelho. Nesse caso, a coxa se orienta com o joelho para a direita do quadril neste sistema de referência. Em situações clínicas, geralmente calcula-se o ângulo relativo. Nas análises biomecânicas, contudo, os ângulos absolutos são calculados mais freqüentemente que os ângulos relativos porque eles são usados com mais freqüência em inúmeros cálculos subseqüentes conduzidos na biomecânica. Independente do tipo de ângulo calculado, contudo, é preciso usar um esquema de referência coerente. Infelizmente, muitos sistemas diferentes de definição de ângulos têm sido usados em biomecânica, resultando em dificuldade para comparar valores de estudos diferentes. Várias organizações, como a Sociedade Canadense de Biomecânica e a Sociedade Internacional de Biomecânica, estão atualmente tentando padronizar o cálculo e representação dos ângulos para dar coerência à pesquisa biomecânica. Representação de Vetores de Movimento Angular É difícil representar graficamente vetores de movimento angular como linhas com setas como era feito na cinemática linear. É essencial, contudo, determinar como será dada a direção da rotação. A direção da rotação de um vetor de movimento angular é chamada de polaridade do vetor. A polaridade de um vetor de movimento angular é determinada por uma convenção conhecida como Regra da Mão Direita. A direção de um vetor de movimento angular é determinada usando esta regra, colocando os dedos da mão direita fletidos na direção da rotação. O vetor de movimento angular é definido por uma seta de comprimento apropriado que coincide com a direção do polegar da mão direita estendido (FIGURA 9-9). A convenção geralmente usada é que, no plano sagital, todos os segmentos que se movem em sentido anti-horário (SAH) a partir da horizontal direita têm uma polaridade positiva e todos os segmentos rodando em sentido horário (SH) têm uma polaridade negativa. Nota de revisor: a seguir apresenta-se uma imagem cuja legenda é: FIGURA 9- 9. A Regra da Mão Direita usada para identificar a polaridade da velocidade angular de uma patinadora artística durante um giro. Os dedos da mão direita apontam na direção da rotação e o polegar direito aponta na direção do vetor de velocidade angular. Observe que o vetor de velocidade angular é perpendicular ao plano de rotação. Movimento Angular A relação discutida no Capítulo 8 sobre cinemática linear compara-se à que será discutida no caso angular. O caso angular é simplesmente uma analogia do caso linear. Distância e Deslocamento Angular Os conceitos de distância e deslocamento no caso angular precisam ser discernidos. Considere um único pêndulo oscilando no plano x-y através de um arco de 70° (FIGURA 9-10). Se o pêndulo oscila através de um arco simples, a distância será 70°, mas se ele oscila através de 11,5 arcos, a distância angular será 105°. A distância angular é o total de todas as mudanças angulares medidas após seu caminho exato. Como no caso linear, contudo, a distância angular não é a mesma que no deslocamento angular. Nota de revisor: a seguir apresenta-se uma imagem cuja legenda é: FIGURA 9- 10. O balanço de um pêndulo ilustrando a distância angular em uma oscilação de 1,5 arco. Deslocamento angular é a diferença entre as posições inicial e final do objeto que rodou (FIGURA 9-11). No exemplo do pêndulo, se o pêndulo oscila através de dois arcos completos, o deslocamento angular será zero, já que sua posição final será a mesma que a posição inicial. Ao discutir deslocamento angular, é necessário designar a direção da rotação. Uma rotação anti-horária é considerada positiva (+) e uma rotação horária é considerada negativa (-). Se o ângulo absoluto de um segmento, teta (θ), é calculado para posições sucessivas no tempo, o deslocamento angular (Δ θ delta teta) será: Nota de revisor: a seguir apresenta-se uma imagem com a seguinte fórmula: Δ θ delta teta = θ teta final -θ teta inicial [376] A polaridade ou sinal do deslocamento angular é determinada pelo sinal de Δ delta T. conforme calculado e pode ser confirmada pela Regra da Mão Direita. Velocidade Angular As definições para velocidade escalar angular e velocidade vetorial angular são análogas às da velocidade escalar linear e velocidade vetorial linear, tanto na definição quanto no significado. A velocidade escalar angular é a distância angular percorrida por unidade de tempo. Nota de revisor: a seguir apresenta-se uma imagem com a seguinte fórmula: Velocidade escalar angular = distância angular sobre tempo. Velocidade escalar angular é uma quantidade escalar e geralmente não tem importância crítica na análise biomecânica porque não é usada para qualquer cálculo adicional. [377] A velocidade vetorial angular, caracterizada pela letra grega ômega (ω), é uma quantidade vetorial que descreve o tempo gasto para mudança da posição angular. Se o ângulo medido for θ teta, então a velocidade vetorial angular será: Nota de revisor: a seguir apresenta-se uma imagem com a seguinte fórmula: ω ómega = mudança na posição angular sobre mudança no tempo = θ teta final -θ teta inicial sobre tempo final -tempo inicial = Δ delta θ teta sobre Δ delta t Nota de revisor: a seguir apresenta-se uma imagem cuja legenda é: FIGURA 9- 11. Deslocamento angular é a diferença entre a posição final e a posição inicial. Se o ângulo inicial de um segmento era 34° no tempo 1,25s e o segmento moveu-se para um ângulo de 62° no tempo 1,30s, a velocidade angular será: Nota de revisor: a seguir apresenta-se uma imagem com a seguinte fórmula: ω ómega = Δ delta θ teta sobre Δ delta t = 62° -34° sobre 1,30s -1,25s = 28° sobre 0,05s = 560°/s As unidades de velocidade escalar angular e velocidade vetorial angular são geralmente apresentadas em graus por segundo (°/s). Contudo, se, como já foi observado, qualquer computação futura for feita usando a velocidade vetorial angular, as unidades precisarão ser radianos por segundo (rad/s). No exemplo anterior, a velocidade vetorial angular foi calculada durante o intervalo de tempo de 1,25sa 1,30s. De acordo com a discussão do capítulo anterior, essa velocidade angular pode representar a inclinação de uma secante sobre um gráfico posição-tempo angular durante esse intervalo de tempo. A velocidade angular instantânea pode representar a inclinação de uma tangente em um gráfico posição-tempo angular e pode ser calculada como um limite. Nota de revisor: a seguir apresenta-se uma imagem com a seguinte fórmula: limite ω ómega = d θ teta sobre d t d t - > 0 A velocidade angular é, assim, a primeira derivada da posição angular. Como no caso linear, a direção da inclinação em um perfil ângulo-tempo determina se a velocidade angular é positiva ou negativa, e o declive da inclinação indica a freqüência de mudança na posição angular. Se θ teta final é maior que θ teta inicial, então ω ómega é positiva (i.e., a inclinação é positiva), mas se θ teta final é menor que θ teta inicial, ω ómega é negativa (i.e., a inclinação é negativa). As duas situações podem ser confirmadas usando a Regra da Mão Direita. Se, contudo, não houver mudança no ângulo, a inclinação será zero e ω ómega será zero. O método usado para calcular a velocidade em uma série de quadros de vídeo de uma análise cinemática é o método da primeira diferença central. Esse método calcula a velocidade angular no mesmo instante no tempo no qual estão disponíveis dados para posição angular. Para a velocidade angular, esta fórmula é: Nota de revisor: a seguir apresenta-se uma imagem com a seguinte fórmula: ω ómega i = θ teta i+1 -θ teta i -1 sobre t i+1 -t i -1 onde θ teta i é o ângulo no tempo t i. [378] Aceleração Angular Aceleração angular é a freqüência de mudança da velocidade angular com respeito ao tempo e é simbolizada pela letra grega alfa (α). Nota de revisor: a seguir apresenta-se uma imagem com a seguinte fórmula: Aceleração angular = mudança na velocidade angular sobre mudança no tempo α alfa = ω ómega final - ω ómega inicial sobre tempo final -tempo inicial α alfa = Δ delta ω ómega sobre Δ delta t Para facilitar a compreensão, os biomecânicos geralmente apresentam seus resultados em graus/s2 mas a unidade mais comumente usada para aceleração angular é rad/s2. Como no caso linear e com velocidade angular, a aceleração angular é a derivada da velocidade angular e representa a inclinação de uma linha, seja uma secante ou uma tangente. Se a é a inclinação de uma secante para um perfil velocidade angular-tempo, ela representa uma aceleração média durante um intervalo de tempo. Se α alfa é a inclinação de uma tangente, a aceleração angular instantânea é calculada. Isso implica que a inclinação pode ser positiva (ω ómega final é maior que ω ómega inicial), negativa (ω ómega final é menor que ω ómega inicial) ou zero (ω ómega final equivale a ω ómega inicial). A direção do vetor da aceleração angular pode ser confirmada usando a Regra da Mão Direita. A aceleração angular instantânea é calculada através de: Nota de revisor: a seguir apresenta-se uma imagem com a seguinte fórmula: limite α alfa = d ω ómega sobre d t d t - > 0 Novamente, na análise cinemática, o método usual para calcular aceleração angular é o método da primeira diferença central. A fórmula para aceleração angular nesse método seria: Nota de revisor: a seguir apresenta-se uma imagem com a seguinte fórmula: α alfa i = ω ómega i+1 -ω ómega i -1 sobre t i+1 -t i -1 onde ω ómega i é a aceleração angular no tempo t i. Deve ser observado que, como no caso da aceleração linear, o sinal ou polaridade da aceleração angular não indica a direção da rotação. Por exemplo, uma aceleração angular positiva pode significar um aumento na velocidade angular na direção positiva ou uma diminuição na velocidade angular na direção negativa. Também uma aceleração angular negativa pode indicar uma diminuição na velocidade angular na direção positiva ou um aumento na velocidade angular na direção negativa. A FIGURA 9-12 apresenta a posição angular, velocidade angular e aceleração angular da flexão do cotovelo. Podemos ver que embora o movimento seja somente em uma direção, a aceleração angular é tanto positiva quanto negativa. Nota de revisor: a seguir apresenta-se uma imagem cuja legenda é: FIGURA 9- 12. Representações gráficas de: (A) ângulo de flexão do cotovelo; (B) velocidade angular, e (C) aceleração angular como função do tempo. [379] Ângulos Articulares dos Membros Inferiores Ângulos no Plano Sagital Ao discutir o ângulo de uma articulação como a do joelho ou do tornozelo, é essencial que seja feita uma representação significativa da ação da articulação. Embora, por definição, todos os ângulos articulares sejam relativos, os ângulos do membro inferior podem ser calculados usando ângulos absolutos e é possível derivar estimativas razoáveis dos segmentos respectivos no espaço. Um sistema de convenções para ângulos de membros inferiores foi apresentado por Winter (2). Essas definições de ângulos de membros inferiores são para uso apenas em análise bidimensional. Essa convenção de ângulos para membros inferiores foi mais tarde aceita como padrão pela Sociedade Canadense de Biomecânica para uso em estudos do andar. Até agora, nenhum outro padrão para análise angular bidimensional foi apresentado. No sistema de Winter são usados pontos digitalizados descrevendo tronco, coxa, perna e pé para calcular os ângulos absolutos de cada um (FIGURA 9-13). Em uma análise biomecânica como essa, presume-se que está sendo analisada uma vista sagital do lado direito. Ou seja, o lado direito do corpo do indivíduo está mais próximo da câmara e é considerado como estando no plano x-y. Caso contrário, os dados precisam ser convertidos para representar uma vista pelo lado direito. Todos os segmentos do membro inferior, desse modo, rodam de acordo com a Regra da Mão Direita. Nota de revisor: a seguir apresenta-se uma imagem cuja legenda é: FIGURA 9- 13. Definição de ângulos absolutos da vista sagital do tronco, coxa, perna e pé. (Winter, D.A. The Biomechanics and Motor Control of Gait. Waterloo, Ont., Canadá, University of Waterloo Press, 1987.) Com base nos ângulos absolutos calculados de tronco e de coxa, o ângulo do quadril é: Nota de revisor: a seguir apresenta-se uma imagem com a seguinte fórmula: θ teta quadril = θ teta coxa - θ teta tronco Neste esquema, se o ângulo do quadril é positivo, a ação no quadril é flexão; se o ângulo do quadril é negativo, a ação é extensão. Se o ângulo é zero, a coxa e o tronco são alinhados verticalmente em posição neutra. No andar humano em passo moderado, o ângulo do quadril oscila ± 20° sobre 0°, enquanto na corrida, o ângulo do quadril oscila ± 35°. Usando o ângulo absoluto da coxa e da perna, o ângulo do joelho é definido como: Nota de revisor: a seguir apresenta-se uma imagem com a seguinte fórmula: θ teta joelho = θ teta coxa -θ teta perna Na locomoção humana, o ângulo do joelho é sempre positivo, ou seja, em algum grau de flexão, e geralmente varia de 0° a 50° durante uma passada no andar e de 0° a 80° durante uma passada na corrida. Como o ângulo do joelho é positivo, o joelho fica sempre em algum grau de flexão. Se o ângulo do joelho está aumentando progressivamente, o joelho está fletindo, enquanto que se o ângulo está se tomando progressivamente menor, o joelho está estendendo. Um joelho com ângulo zero encontra-se em posição neutra enquanto um ângulo negativo indica hiperextensão do joelho. O ângulo do joelho é calculado usando ângulos absolutos do pé e da perna: Nota de revisor: a seguir apresenta-se uma imagem com a seguinte fórmula: θ teta tornozelo = θ teta pé -θ teta perna -90° Isto pode parecer um cálculo mais complicado do que os outros ângulos articulares no membro inferior. Sem subtrairos 90° adicionais, contudo, o ângulo oscila em 90°, tornando a interpretação do ângulo do tornozelo difícil. Subtraindo os 90° adicionais, o ângulo do tornozelo oscila em 0°. Assim, um ângulo positivo representa dorsiflexão e um ângulo negativo representa flexão plantar. O ângulo do tornozelo geralmente oscila em ± 20° durante uma passada em ritmo normal e + 35° durante uma passada de corrida. A FIGURA 9-14 apresenta os ângulos de membros inferiores calculados para uma passada de caminhada usando a convenção de Winter. [380] Nota de revisor: a seguir apresenta-se uma imagem cuja legenda é: FIGURA 9- 14. Gráficos de: (A) quadril; (B) joelho, e (C) ângulos da articulação do tornozelo durante uma passada na caminhada. Ângulo do Retropé Outro ângulo do membro inferior freqüentemente calculado na análise biomecânica é o ângulo do retropé. O movimento na articulação subtalar em uma análise bidimensional é considerado como ocorrendo no plano frontal. O ângulo do retropé representa o movimento da articulação subtalar. O ângulo do retropé, assim, aproxima a eversão e a inversão do calcâneo no plano frontal. A eversão/inversão do calcâneo é um dos movimentos que ocorre na ação de pronação/supinação da articulação subtalar. Na literatura de pesquisa, a eversão do calcâneo é geralmente chamada de pronação, enquanto a inversão do calcâneo é chamada de supinação. O ângulo do retropé é calculado usando os ângulos absolutos da perna e do calcâneo no plano frontal. São colocados dois marcadores nos segmentos sobre a parte posterior da perna para definir o eixo longitudinal da perna. Dois marcadores são também colocados sobre o calcâneo (ou na porção de trás do calçado) para definir o eixo longitudinal do calcâneo (FIGURA 9-15). Esses marcadores são usados para calcular os ângulos absolutos da perna e do calcanhar e desse modo o ângulo do retropé é: Nota de revisor: a seguir apresenta-se uma imagem com a seguinte fórmula: θ teta RP = θ teta perna -θ teta calcâneo Através desse cálculo, um ângulo positivo representa inversão do calcâneo, um ângulo negativo representa eversão do calcâneo, e um ângulo zero é a posição neutra. Nota de revisor: a seguir apresenta-se uma imagem cuja legenda é: FIGURA 9- 15. Definição de ângulos absolutos da perna e calcâneo no plano frontal. Esses ângulos são usados para estabelecer o ângulo do retropé do pé direito. [381] Durante a fase de apoio do ciclo do andar, a posição do retropé, definida pelo ângulo do retropé, fica invertida no contato inicial do pé com o solo. Nesse instante, o ângulo do retropé é positivo. A partir desse ponto para frente, durante o apoio até o meio do apoio, o retropé move-se para uma posição evertida. Assim, o ângulo do retropé fica negativo. Na posição de apoio médio, o pé fica menos evertido e move-se para uma posição invertida de retirada dos artelhos. O ângulo do retropé torna-se menos negativo e eventualmente positivo na retirada dos artelhos. A FIGURA 9-16 é uma representação de uma curva típica de ângulo de retropé durante a fase de apoio de uma passada de corrida. Nota de revisor: a seguir apresenta-se uma imagem cuja legenda é: FIGURA 9- 16. Um gráfico ângulo-tempo típico do retropé durante a corrida (CP - contato do pé; SA - saída dos artelhos). O ângulo máximo do retropé está indicado. Relação entre Movimentos Angulares e Lineares Em muitos movimentos humanos, o resultado do movimento é linear, enquanto os movimentos dos segmentos que constituem o movimento são de natureza angular. Por exemplo, um lançador de beisebol lança uma bola que faz uma trajetória linear. Contudo, os movimentos dos segmentos do lançador que resultam no lançamento são movimentos de rotação. Em muitos casos é necessário conhecer o movimento linear da mão que depende do movimento angular dos segmentos do membro superior. Este exemplo sugere uma relação mecânica entre movimento linear e angular. Deslocamento Angular e Linear Quando a medida angular de um ângulo, o radiano, foi definida, observou- se que: Nota de revisor: a seguir apresenta-se uma imagem com a seguinte fórmula: θ teta = s sobre r onde θ teta era o ângulo subentendido por um arco de comprimento s igual ao raio do círculo. O comprimento do arco pode ser apresentado como: Nota de revisor: a seguir apresenta-se uma imagem com a seguinte fórmula: s = r θ teta Suponha que o antebraço, com comprimento r1, gire sobre a articulação do cotovelo (FIGURA 9-17). Nota de revisor: a seguir apresenta-se uma imagem cuja legenda é: FIGURA 9- 17. Ilustração da relação entre deslocamento linear e angular. [382] O arco descrito pela rotação - a distância que o punho se move - é Δ delta s 1 e o ângulo é Δ delta θ teta. A distância linear que o punho percorre é então descrita como: Nota de revisor: a seguir apresenta-se uma imagem com a seguinte fórmula: Δ delta s1 = r1 Δ delta θ teta Assim, a distância linear que qualquer ponto no segmento se move pode ser descrita se forem conhecidos a distância daquele ponto até o eixo de rotação e o ângulo através do qual o segmento gira. Suponha que outro ponto sobre o braço esteja marcado como s2 com uma distância de r2 até o eixo de rotação. A distância que esse ponto percorre durante o mesmo movimento angular é: Nota de revisor: a seguir apresenta-se uma imagem com a seguinte fórmula: Δ delta s2 = r2 Δ delta θ teta Como r1 é mais longo que r2, a distância percorrida por s1 precisa ser maior que s2. Assim, os pontos mais distais sobre um segmento percorrem uma distância maior que os pontos mais próximos do eixo de rotação. O valor para a expressão r é chamado raio de rotação e refere-se à distância de um ponto a partir do eixo de rotação. Considere que a mudança no ângulo, Δ delta θ teta, é muito pequena; então o comprimento do arco, Δ delta s, pode ser aproximado como uma linha reta. Assim, a relação entre deslocamento angular e linear pode ser formulada. Ou seja, quando r é o raio de rotação, então: deslocamento linear = raio de rotação * deslocamento angular ou Nota de revisor: a seguir apresenta-se uma imagem com a seguinte fórmula: Δ delta s = r Δ delta θ teta ou usando cálculo (ou seja, quando d θ teta é muito pequeno) Nota de revisor: a seguir apresenta-se uma imagem com a seguinte fórmula: d s = r d θ teta Por exemplo, se o segmento do braço de comprimento 0,13m roda sobre o cotovelo uma distância angular de 0,23 radiano, a distância linear que o punho percorreu é: Nota de revisor: a seguir apresenta-se uma imagem com a seguinte fórmula: Δ delta s = r Δ delta θ teta Δ delta s = 0,23 rad * 0,13m Δ delta s = 0,03m Observe que Δ delta s tem uma unidade de comprimento (m) que é a unidade correta já que é uma distância linear. Lembre-se que os radianos não têm dimensão: assim, radianos vezes metros resulta em unidades de metros. Velocidade Linear e Angular A relação entre velocidade linear e angular é similar à relação entre deslocamento linear e angular. No exemplo na última seção, foi usado o braço, com comprimento r, girando sobre o cotovelo. O deslocamento linear do punho é o produto da distância r, o raio de rotação, e o deslocamento angular do segmento. Diferenciando esta equação com respeito ao tempo: Nota de revisor: a seguir apresenta-se uma imagem com a seguinte fórmula: d s = r d θ teta d s sobre d t = r d θ teta sobre d t Assim, a velocidade linear de um ponto sobre um corpo em rotação é o produto da distância daquele ponto a partir do eixo de rotação e a velocidade angular do corpo. O vetor de velocidade linear nessa expressão é instantaneamente tangente ao caminho do objeto e é denominada velocidade tangencial ou vT (FIGURA 9-18). Ou seja, o vetor de velocidade linear podecomportar-se como uma tangente, somente tocando a trajetória curva em um ponto. O vetor, desse modo, seria perpendicular ao segmento que está girando. Nota de revisor: a seguir apresenta-se uma imagem cuja legenda é: FIGURA 9- 18. Velocidade tangencial de um segmento em rotação em diferentes momentos no tempo. Observe que a velocidade tangencial é perpendicular ao raio de rotação. Por exemplo, se o segmento do braço de comprimento r = 0,13m rodou com uma velocidade angular de 2,4rad/s, a velocidade do punho foi: Nota de revisor: a seguir apresenta-se uma imagem com a seguinte fórmula: vT = r ω ómega vT = 0,13m * 2,4rad/s vT = 0,31m/s Deve ser observado que a velocidade linear tem unidade de m/s que resulta nesse exemplo de metros vezes rad/s já que os radianos não têm dimensão. A relação entre velocidade linear e angular é crítica em inúmeros movimentos humanos, particularmente naqueles nos quais o indivíduo lança ou golpeia um objeto. [383] Para aumentar a velocidade linear da bola, por exemplo, o jogador de futebol pode aumentar a velocidade angular dos segmentos do membro inferior, ou aumentar o comprimento do membro estendendo suas articulações, ou ambos, para ganhar a máxima amplitude no chute. Para um indivíduo, a principal alternativa é aumentar as velocidades angulares desses segmentos. Por exemplo, Plagenhoef (3) relatou velocidades do pé antes do impacto de 16,33m/s a 24,14m/s para vários tipos de chutes de futebol para o mesmo indivíduo. Como os comprimentos dos segmentos não mudam substancialmente, pode-se afirmar que se a velocidade do pé mudou, então a velocidade angular certamente precisa ter variado para cada tipo de chute. Em algumas atividades, contudo, o comprimento r pode mudar. No golfe, os tacos têm comprimentos e inclinações de cabeça variados de acordo com a distância desejada que a bola deve percorrer (FIGURA 9-19). Por exemplo, o ferro-2 é mais longo que o ferro-9 e tem uma inclinação diferente na cabeça, com o ferro-9 tendo uma inclinação mais íngreme na cabeça que o ferro-2. Se os dois tacos tivessem a mesma inclinação de cabeça, o ferro-2 teria um golpe com alcance maior que o ferro-9, dada a mesma velocidade angular de balanceio do taco como ocorre na maioria dos jogadores experientes. Os golfistas geralmente usam o mesmo taco mas variam o comprimento, r, "bloqueando" no cabo ou segurando o taco mais perto do meio do corpo. Usando essa técnica, o jogador pode fazer o balanceio com a mesma velocidade angular mas variar o comprimento, e pode então variar a velocidade linear da cabeça do taco. Nota de revisor: a seguir apresenta-se uma imagem cuja legenda é: FIGURA 9- 19. Uma comparação entre os comprimentos de um taco de golfe ferro-2 e ferro-9. Aceleração Linear e Angular Lembre-se que o vetor de velocidade linear calculado a partir do produto do raio e velocidade angular é tangente a trajetória curva e pode ser denominado de velocidade tangencial. Como já foi dito: Nota de revisor: a seguir apresenta-se uma imagem com a seguinte fórmula: vT = ω ómega r Se a derivada de tempo dessa expressão é determinada, existe uma relação que expressa a aceleração tangencial em termos de raio de rotação e aceleração angular. A expressão da derivada é: Nota de revisor: a seguir apresenta-se uma imagem com a seguinte fórmula: aT = α alfa r onde aT é a aceleração tangencial, r é o raio de rotação, e α alfa é a aceleração angular. A aceleração tangencial, como o vetor de velocidade tangencial, é um vetor tangente com a curva e perpendicular com o segmento de rotação (FIGURA 9-20). Em qualquer atividade, como o lançamento de disco, onde o atleta gira de modo a lançar o objeto, o propósito é lançá-lo o mais longe possível. É assim necessária uma compreensão da velocidade tangencial e da aceleração tangencial. A freqüência de mudança na velocidade tangencial do disco ao longo de seu caminho curvo é a aceleração tangencial. O pico da velocidade tangencial é idealmente alcançado um pouco antes da liberação do disco onde o tempo de aceleração tangencial deve ser zero. Nota de revisor: a seguir apresenta-se uma imagem cuja legenda é: FIGURA 9- 20. Ilustração da aceleração tangencial de um segmento em balanceio. Observe que ela é perpendicular ao membro que faz o balanceio. Considere um lançador de softball usando uma luva apropriada; pode-se ter uma compreensão adicional sobre outro componente da aceleração linear agindo durante o movimento de rotação. [384] Enquanto o lançador move seu braço até o ponto de liberação do lançamento, a bola segue uma via curva. Como o braço do lançador fica preso ao ombro, a bola precisa seguir a trajetória curva produzida pela rotação do braço. Assim, para continuar nesse caminho, a bola move-se levemente para dentro e levemente vertical para baixo em cada momento no tempo até que seja liberada (FIGURA 9-21). Ou seja, a bola é gradualmente acelerada para baixo e é também acelerada para dentro na direção do ombro ou do eixo de rotação. Nota de revisor: a seguir apresenta-se uma imagem cuja legenda é: FIGURA 9- 21. As direções dos componentes de aceleração do punho de um lançador de softball durante o balanceio do braço para baixo para liberar a bola. O punho é acelerado para dentro em direção ao ombro e para baixo tangencialmente ao trajeto do punho. Esses dois vetores são perpendiculares entre si. Foram discutidos dois componentes da aceleração produzida pela rotação de um segmento: um tangencial ao caminho do segmento e outro ao longo do segmento em direção ao eixo de rotação. Essas duas acelerações são necessárias para que a bola na mão do lançador continue em seu caminho curvo. O movimento para frente é resultado da aceleração tangencial que foi discutida anteriormente. A aceleração em direção ao eixo ou centro de rotação, contudo, é chamada de aceleração centrípeta (FIGURA 9-22). O adjetivo centrípeto significa "buscando o centro". Aceleração centrípeta é também conhecida como aceleração radial. Os dois nomes são corretos, mas para o restante desta discussão será usado o termo aceleração centrípeta. Nota de revisor: a seguir apresenta-se uma imagem cuja legenda é: FIGURA 9- 22. Ilustração da aceleração tangencial (a T) e aceleração centrípeta (a c). Observe que elas são perpendiculares entre si. A aceleração tangencial acelera a ponta do segmento para baixo e a aceleração centrípeta acelera a ponta em direção ao centro de rotação. O resultado é o movimento ao longo de uma trajetória curva. Para derivar a fórmula para aceleração centrípeta, é preciso observar que a aceleração linear resultante da extremidade de um segmento, como o punho, para um segmento em rotação é: Nota de revisor: a seguir apresenta-se uma imagem com a seguinte fórmula: a = d v sobre d t Como o segmento está rodando, a velocidade linear é: Nota de revisor: a seguir apresenta-se uma imagem com a seguinte fórmula: vT = ω ómega r Fazendo uma substituição na equação de aceleração, a aceleração fica: Nota de revisor: a seguir apresenta-se uma imagem com a seguinte fórmula: a = d (ω ómega r) sobre d t Se forem aplicadas certas regras de cálculo, essa equação ficará: Nota de revisor: a seguir apresenta-se uma imagem com a seguinte fórmula: a = ω ómega * d r sobre d t + d ω ómega sobre d t * r Como d r sobre d t é a velocidade linear e d ω ómega sobre d t é a aceleração angular do segmento, esta expressão fica: Nota de revisor: a seguir apresenta-se uma imagem com a seguinte fórmula: a = ω ómega v + α alfa r Observe que a velocidade linear, v, é igual a ω ómega r e assim a expressão para a aceleração da extremidade do segmento é: Nota de revisor: a seguir apresenta-se uma imagem com a seguinte fórmula:a = ω ómega ω ómega r + α alfa r ou a = ω ómega2 r + α alfa r Lembre-se que a aceleração resultante tem dois componentes que são um perpendicular ao outro. Esta expressão ilustra esses dois componentes. [385] Esta explicação, contudo, requer o uso de cálculo vetorial e é muito mais complicada na derivação do que a apresentada. Deve-se observar que o sinal de adição (+) nesta expressão significa adição de vetor. Foi anteriormente determinado que α alfa r era a aceleração tangencial; assim ω ómega2 r é a aceleração centrípeta. A expressão para aceleração centrípeta é: Nota de revisor: a seguir apresenta-se uma imagem com a seguinte fórmula: a c = ω ómega 2 r A aceleração centrípeta pode também ser expressa da seguinte forma como uma função da velocidade tangencial e raio de rotação. Ou seja, se v = ω ómega r for substituído na equação de aceleração centrípeta, a equação ficará: Nota de revisor: a seguir apresenta-se uma imagem com a seguinte fórmula: a c = v 2 sobre r A partir dessa expressão, pode ser visto que a aceleração centrípeta irá aumentar se a velocidade tangencial aumentar ou se o raio de rotação diminuir. Por exemplo, a diferença usual entre uma corrida em pista coberta e uma corrida em pista ao ar livre é que a pista coberta é muito menor e assim tem um raio menor. Se um corredor tenta manter a mesma velocidade dentro de uma pista coberta que ele manteria na pista ao ar livre, a aceleração centrípeta precisaria ser necessariamente maior para o corredor completar a volta. Geralmente, o corredor não consegue fazer a volta na mesma velocidade que faria na pista ao ar livre, de modo que os tempos de corrida na pista coberta são um pouco mais baixos que na pista ao ar livre. Como a aceleração centrípeta e a aceleração tangencial são componentes da aceleração linear, eles precisam estar um perpendicular ao outro. O vetor resultante de aceleração desses componentes pode então ser construído. A aceleração resultante (FIGURA 9-23) é computada usando a relação de Pitágoras: Nota de revisor: a seguir apresenta-se uma imagem com a seguinte fórmula: a = raiz quadrada a T 2 + a c 2 Ao computar a aceleração tangencial ou centrípeta, as unidades de velocidade angular e aceleração angular são rad/s e rad/s2, respectivamente. As unidades de aceleração linear (m/s2) podem resultar somente quando é usada uma unidade baseada em radianos no cálculo. Nota de revisor: a seguir apresenta-se uma imagem cuja legenda é: FIGURA 9- 23. Vetor de aceleração linear resultante (a R) composto de componentes de aceleração centrípeta e tangencial. Diagramas Ângulo-Ângulo Na maioria das apresentações de movimento humano, geralmente algum parâmetro (por exemplo, posição, ângulo, velocidade etc.) é grafado como uma função do tempo. Em certas atividades como a locomoção, os movimentos dos segmentos são cíclicos, já que são repetitivos, com o final de um ciclo sendo o início do próximo. Nesses casos, um diagrama ângulo-ângulo pode ser útil para representar a relação entre dois ângulos durante o movimento. Um diagrama ângulo-ângulo é a marcação de um ângulo como uma função do outro ângulo. Ou seja, um ângulo é usado para o eixo x e um para o eixo y. Em um diagrama ângulo-ângulo, um ângulo é geralmente um ângulo relativo e o outro é um ângulo absoluto. Para que o gráfico ângulo-ângulo seja significativo, deve existir uma relação funcional entre os ângulos (FIGURA 9-24). Por exemplo, ao estudar a corrida de um indivíduo, a relação entre a vista sagital dos ângulos do tornozelo e joelho pode ser significativa, enquanto a relação entre o ângulo do cotovelo e o ângulo do tornozelo pode não ser significativa. Nota de revisor: a seguir apresenta-se uma imagem cuja legenda é: FIGURA 9- 24. Diagramas ângulo-ângulo do ângulo do joelho como uma função do ângulo da coxa (A) e o ângulo do joelho plotado como uma função do ângulo do tornozelo (B) para uma passada completa de corrida de um indivíduo correndo a 3,6m/s. RA representa a retirada dos artelhos e CP representa o contato do pé inicial. (Williams, K.R. Biomechanics of Running. In Exercise and Sports Sciences Review 14, 1985.) Um problema com esse tipo de diagrama é que o tempo não pode ser facilmente representado no gráfico. Ele pode ser apresentado, contudo, colocando marcadores na curva ângulo-ângulo para representar cada instante no tempo onde os dados foram calculados. Esses marcadores são colocados em intervalos de tempo iguais e dão uma indicação da distância angular através da qual cada articulação está se movendo em intervalos iguais de tempo. Assim, a velocidade angular do movimento é representada, já que quanto mais separados os marcadores se acham na curva, maior a velocidade do movimento. Por outro lado, quanto mais próximos os marcadores, menor a velocidade (FIGURA 9-25). Nota de revisor: a seguir apresenta-se uma imagem cuja legenda é: FIGURA 9- 25. Diagrama ângulo-ângulo da flexão do joelho como uma função do ângulo de pronação subtalar para um indivíduo correndo 6 minutos/milha em uma esteira rolante. Os pontos na curva indicam intervalos de tempo iguais. (Bates, B.T.; James, S.L.; Osternig, L.R. Foot function during the support phase of running. Running 24:29, Fall/1978.) Os diagramas ângulo-ângulo têm se mostrado muito úteis no exame da relação entre o ângulo do retropé e o ângulo do joelho (5, 6). Essa relação baseia-se nos movimentos anatômicos das articulações subtalar e do joelho. Durante a fase de apoio do andar, o joelho se flexiona durante o toque com o solo e continua a fletir até o meio do apoio. [386] No mesmo tempo, o pé aterrissa em uma posição invertida e imediatamente começa a everter até o meio do apoio. Essas duas ações - flexão de joelho e eversão subtalar - estão associadas com a rotação interna da tíbia. Após o apoio médio, o joelho se estende e a articulação subtalar inverte. Essas duas ações articulares resultam em rotação externa da tíbia. Essas ações estão apresentadas na FIGURA 9-25 com o ângulo do joelho expresso como ângulo relativo e a inversão/eversão da articulação subtalar expressa como ângulo absoluto. A FIGURA 9-26 é um diagrama ângulo-ângulo apresentado em um artigo de Van Woensel e Cavanagh (6) e ilustra a relação entre o ângulo do joelho e o ângulo do retropé em condições de calçados diferentes. Um dos três calçados usados nesse estudo foi elaborado especificamente para forçar o corredor a fazer pronação durante o apoio, outro para forçar o corredor a fazer supinação durante o apoio, e o terceiro era um calçado neutro. Nota de revisor: a seguir apresenta-se uma imagem cuja legenda é: FIGURA 9- 26. Diagrama ângulo-ângulo joelho-retropé de um indivíduo usando três tipos de calcados de corrida (CP = contato do pé). O calçado VARO tem uma cunha medial, assim mediando a supinação do retropé; o calçado VALGO tem uma cunha lateral, assim favorecendo a pronação do retropé; e o calçado NEUTRO é um calçado de corrida normal. (Van Woensel, W. & Cavanagh, RR. A perturbation study of lower extremity motion during running. International Journal of Sports Biomechanics 8:30-47, 1992.) Cinemática Angular da Corrida Muitos pesquisadores têm relatado o quanto os ângulos articulares dos membros inferiores variam durante a passada da corrida, particularmente durante a porção de apoio da passada. Geralmente, esses ângulos são relatados em instantes discretos no tempo, como exatamente antes do contato, apoio médio ou retirada dos artelhos. Existem numerosas análises biomecânicas da cinemática angular do membro inferior. Assim, para esta breve revisão, serão apresentadas apenas seleções da literatura descrevendo ângulos particulares dos membros inferiores - o ângulo do retropé e o ângulo do joelho - durante a corrida.O ângulo do joelho é de flexão durante o amortecimento com o solo e tem sido relatado na literatura como ficando entre 21 e 30° (5, 7, 8, 9). Após o toque com o solo, os joelhos flexionam para valores que variam de 38 a 50° com a maior flexão ocorrendo em velocidades de corrida mais rápidas (5, 10). A máxima flexão de joelho ocorre no meio do apoio, após o qual o joelho se estende até a retirada dos artelhos. A extensão completa não é alcançada na retirada dos artelhos, com valores que vão de 27° (7) até 18° (11), dependendo da velocidade da corrida. Valores de extensão maiores durante a retirada dos artelhos são geralmente associados com velocidades de corrida maiores. Enquanto a magnitude dos ângulos do joelho nesses instantes específicos no tempo durante a fase de apoio da corrida variam, o perfil básico da curva não varia. O perfil do ângulo da articulação do joelho parece ser relativamente estável e imune à distorção devido a influências como o modelo do calçado para corrida (6, 9) ou a dor muscular tardia (12). Muitas pesquisas descreveram o ângulo do retropé durante a fase de apoio da corrida. Tem se levantado a hipótese de que movimento excessivo do retropé cause uma variedade de lesões do membro inferior embora haja pouca evidência para relacionar diretamente movimento excessivo do retropé com lesão (8, 13). De fato, uma definição válida de movimento excessivo do retropé ainda não está determinada. De um ponto de vista funcional, a eversão do calcâneo é um movimento necessário porque permite que o pé assuma uma posição retificada sobre o solo. [387] Tipicamente, têm sido relatados na literatura valores máximos de ângulos de retropé de -6 a -17° durante o apoio médio (8, 14). Essa grande variação nos valores máximos pode ser devido a diferenças na estrutura do pé dos indivíduos assim como à influência do calçado. Foram relatados ângulos de retropé mais extremos no apoio médio quando as pessoas corriam usando calçados de corrida do que quando usavam calçados de treinamento (14). Ângulos mais extremos de eversão de retropé foram também relatados para corredores usando calçado com solado médio muito macio mais do que naqueles que usavam calçados com solado médio mais firme (9). Embora o ângulo do retropé se relacione no movimento com o ângulo do joelho através da ação de rotação da tíbia, ele é, diferente do ângulo do joelho, altamente variável e certamente pode ser influenciado por inúmeros fatores. As ações simultâneas desses dois ângulos do membro inferior têm sido tópicos de várias pesquisas. Como a rotação interna da tíbia acompanha a flexão do joelho e a eversão da articulação subtalar, e ambas atingem o máximo no meio do apoio, a falta de cadência entre essas ações articulares tem sido sugerida como possível mecanismo para lesão dos membros inferiores (5). Hamill et al. (9) ilustraram que o ângulo do retropé poderia ser alterado por um calçado de corrida com o solado médio muito macio, enquanto que o ângulo do joelho não. Eles relataram que, em um calçado de corrida com solado macio, o ângulo máximo do retropé ocorreu mais cedo no período de apoio que a flexão máxima de joelho. A articulação subtalar também permaneceu no seu máximo quando o joelho começou a se estender. [388] Desse modo, parece que uma ação de torção pode ser aplicada na tíbia através de velocidades diferenciais onde a tíbia roda no início e no final do apoio. Como a tíbia é uma estrutura rígida e pode ser difícil de rodar, ela pode continuar a rodar internamente no joelho, embora deva girar externamente. Essa ação indesejável no joelho pode provocar dor no joelho do corredor. Se essas ações são repetidas com cada contato do pé com o solo e o corredor experimenta muitos contatos do pé com o solo. pode ocorrer uma lesão do joelho, impedindo o corredor de treinar. Esse tipo de lesão é geralmente chamada de lesão por uso excessivo (overuse). Ela resulta de um acúmulo de estresses e não de um único estresse de alta intensidade. Resumo do Capítulo Quase todos os movimentos humanos voluntários envolvem a rotação dos segmentos sobre eixos que passam por centros articulares e assim é necessário um conhecimento de cinemática angular para compreender o movimento humano. Os ângulos podem ser medidos em unidades de graus, revoluções ou radianos. Se a medida angular vai ser usada em cálculos adicionais, o radiano deverá ser usado. Um radiano equivale a 57,3°. Os ângulos podem ser definidos como relativos e absolutos e ambos podem ser usados em pesquisas biomecânicas. Um ângulo relativo mede o ângulo entre dois segmentos mas não pode determinar a orientação dos segmentos no espaço. Um ângulo absoluto mede a orientação de um segmento no espaço com relação ao eixo horizontal direito colocado na extremidade distai do segmento. A forma como os ângulos dos segmentos são definidos precisa ser anunciada claramente ao apresentar os resultados de qualquer análise biomecânica. As quantidades cinemáticas de posição angular, deslocamento, velocidade vetorial e aceleração têm as mesmas relações entre si que seus análogos lineares. Assim, a velocidade angular é calculada usando o método da primeira diferença central conforme se segue: Nota de revisor: a seguir apresenta-se uma imagem com a seguinte fórmula: ω ómega i = θ teta i+1 -θ teta i -1 sobre 2 Δ delta t Do mesmo modo, a aceleração angular é definida como: Nota de revisor: a seguir apresenta-se uma imagem com a seguinte fórmula: α alfa i = ω ómega i+1 -ω ómega i -1 sobre 2 Δ delta t As técnicas de diferenciação e integração se aplicam às quantidades angulares assim como às quantidades lineares. Assim, a velocidade angular é a primeira derivada da posição angular com respeito ao tempo, e a aceleração angular é a segunda derivada. O conceito de inclinação de uma secante e uma tangente também se aplica no caso angular para distinguir quantidades médias e instantâneas. É difícil representar vetores de movimento angular da maneira como são representados os vetores de movimento linear. A Regra da Mão Direita é usada para determinar a direção do vetor de movimento angular. As rotações no sentido anti-horário são rotações positivas (+) enquanto as no sentido horário são negativas (-). Os ângulos dos membros inferiores na vista sagital foram definidos usando um sistema sugerido por Winter (2). Nessa convenção, os ângulos do tornozelo, joelho e quadril foram definidos usando os ângulos absolutos dos segmentos do pé, perna, coxa e pelve. O ângulo do retropé mede o movimento relativo da perna e do calcâneo no plano frontal e é calculado a partir de ângulos absolutos do calcâneo e da perna. Existe uma relação entre movimento linear e angular. Quantidades comparáveis de duas formas de movimento podem ser relacionadas quando o raio de rotação é considerado. A velocidade linear da extremidade distai de um segmento que está rodando é chamada de velocidade tangencial e é calculada como: Nota de revisor: a seguir apresenta-se uma imagem com a seguinte fórmula: v T = ω ómega r onde ω ómega é a velocidade angular do segmento e r é o comprimento do segmento. A derivada da velocidade tangencial, a aceleração tangencial, é: Nota de revisor: a seguir apresenta-se uma imagem com a seguinte fórmula: a T = α alfa r onde α alfa é a aceleração angular do segmento que está girando. O outro componente da aceleração linear do ponto final do segmento que está girando é a aceleração centrípeta ou radial. É expressa como: Nota de revisor: a seguir apresenta-se uma imagem com a seguinte fórmula: a c = ω ómega 2 r Os componentes da aceleração tangencial e centrípeta ficam perpendiculares entre si. Um instrumento útil em biomecânica é a apresentação do movimento angular em diagramas ângulo-ângulo. Esses diagramasgeralmente apresentam ângulos de articulações que são anatomicamente relacionadas funcionalmente. O tempo, contudo, pode ser apresentado somente indiretamente nesse tipo de gráfico. [389] Questões para Revisão 1. Quais das atividades a seguir ilustram movimento de translação, movimento curvilíneo, movimento angular ou movimento geral? a) ciclismo b) deslizar sobre patins c) ação da perna durante a corrida d) pára-quedismo acrobático e) o corredor durante uma corrida f) movimento do taco de bilhar durante uma jogada g) deslizamento durante a puxada no nado de peito 2. Um patinador faz um salto duplo com giro seguido por um salto triplo com giro. a) Quantas revoluções foram completadas em cada salto? b) Qual a distância angular em graus e radianos completada para cada salto? (Resposta: a) 2,3; b) 720° ou 12,57rad, 1080° ou 18,85rad.) 3. Na questão 2, qual o deslocamento angular para cada salto? (Resposta: a) 0°; b) 0°.) 4. Durante uma flexão de bíceps. o ângulo relativo no cotovelo muda de 0° para 160° para cada flexão. Se forem feitas quatro flexões, qual é a) a distância angular total e b) o deslocamento angular do cotovelo? (Resposta: a) 640°; b) 0°.) 5. Durante um exercício de flexão do cotovelo, o ângulo relativo no cotovelo era 10° em 0,5s e 120° em 0,71s. Qual a velocidade angular do cotovelo? (Resposta: 523,81°/s.) 6. No diagrama a seguir, use um transferidor para medir: a) o ângulo relativo do joelho b) o ângulo relativo do tornozelo c) o ângulo relativo do cotovelo d) o ângulo absoluto do tronco e) o ângulo absoluto da coxa f) o ângulo absoluto do braço Nota de revisor: a seguir apresenta-se uma imagem representativa da figura humana. 7. Se a velocidade angular em 0,47s era 1,5rad/s e no tempo 0,51s era 2,1rad/s, qual a aceleração angular média nesse intervalo de tempo? (Resposta: 15,0rad/s2.) 8. Se um patinador está rodando durante um giro em velocidade angular constante, qual a sua aceleração angular? (Resposta: 0rad/s2.) 9. Existem dois estilos de colocação do chute no futebol americano: o estilo tradicional head-on e o estilo usado no nosso futebol. Em qual estilo o chutador obtém uma maior velocidade linear do pé? Por quê? 10. Por que um batedor no beisebol pode querer fazer obstrução (choke up) ao rebater quando se depara com um lançador com uma bola excepcionalmente rápida? [390] Questões Adicionais 1. Calcule: a) o ângulo relativo do joelho e os ângulos absolutos de b) coxa e c) perna, dadas as seguintes posições em graus. (Sugestão: marque esses pontos em um gráfico antes de calculá-los.) quadril - (1,228: 0,931), joelho - (1,122; 0,542), tornozelo - (0,897; 0,160) (Resposta: a) 164,75°; b) 74,75°; c) 59,50°.) 2. Quais os ângulos da questão 1 em radianos? (Resposta: a) 2,86rad: b) 1,31rad; c) l,04rad.) 3. Durante a fase de apoio do andar, o ângulo absoluto da coxa tem as seguintes velocidades angulares: Nota de revisor: a seguir apresenta-se uma tabela constituída por 3 colunas e 5 linhas que contém as velocidades angulares mencionadas na questão 3. quadro tempo (s) velocidade angular (rad/s) 38 0,6167 1,033 39 0,6333 1,511 40 0,6500 1,882 41 0,6667 2,190 Calcule a aceleração angular nos quadros 39 e 40. (Resposta: quadro 39: 25,42rad/s2; quadro 40: 20,33rad/s2.) 4. Faça um esboço das curvas de velocidade angular e aceleração angular usando os conceitos de inclinação e vértice da seguinte curva de posição angular. Nota de revisor: a seguir apresenta-se uma imagem que relaciona posição angular e tempo. 5. Um ciclista completa 2,1 revoluções cíclicas em 1s. Qual é: a) a distância angular, b) o deslocamento angular e c) a velocidade angular? (Resposta: a) 756°; b) 36°; c) 756°/s.) 6. O segmento do braço de um indivíduo tem 0,15m de comprimento e velocidade angular de 123°/s. Qual a velocidade tangencial do punho? (Resposta: 0,32m/s.) 7. Um indivíduo está correndo ao redor de um percurso com 12m de raio com uma velocidade escalar de corrida de 4,83m/s. Qual a aceleração centrípeta do corredor? (Resposta: 1,94m/s2.) 8. Represente o braço de um jogador de boliche no momento do balanceio para baixo com os vetores seguintes ilustrados no braço: a) velocidade angular do braço b) comprimento do braço c) velocidade linear do punho d) aceleração centrípeta 9. Um lançador de martelo roda a 14,7rad/s com uma aceleração angular de 6,28rad/s2 antes de liberar o martelo. Dado o raio (i.e., o comprimento do braço do atleta mais o comprimento do cabo do martelo) de 1,5m, quais são as magnitudes das acelerações: a) tangencial, b) centrípeta e c) resultante? (Resposta: a) 9,42m/s2; b) 324,14m/s2; c) 324,27m/s2.) 10. Por que um corredor diminui sua velocidade quando corre em uma pista coberta em comparação com uma corrida na pista ao ar livre se os dois percursos têm o mesmo raio de volta? [391] Leituras Adicionais 1. Inman, V.T., Ralston, H.J., Tood, F. Human Walking. Baltimore: Williams and Wilkins, 1981. 2. Milliron, M.J., Cavanagh, P.R. Sagittal plane kinematics of the lower extremity during distance running. In P.R. Cavanagh (ed.). Biomechanics of Distance Running. pp. 65-105. Champaign, IL: Human Kinetics Publishing, 1990. 3. Stacoff, A., Kaelin, X., Stuessi, E., Segesser, B. The torsion of the foot in running. International Journal of Sports Biomechanics 5:375-389, 1989. 4. Winter, D.A. Biomechanics and Motor Control of Human Movement (2nd edition). New York: John Wiley and Sons, Inc., 1990. Referências 1. Nordin, M. and Frankel, V.H. (eds.). Biomechanics of the Musculoskeletal System (2nd ed.). Philadelphia: Lea & Febiger, 1979. 2. Winter, D.A. The Biomechanics and Motor Control of Gait. Waterloo, Ont., Canada: University of Waterloo Press, 1987. 3. Plagenhoef, S. Patterns of Human Motion. Inglewood Cliffs. NJ: Prentice- Hall, Inc, 1971. 4. Williams, K.R. Biomechanics of Running. In Exercise and Sports Sciences Review. 13:389-441, 1985. 5. Bates, B.T., James, S.L., Osternig, L.R. Foot function during the support phase of running. Running 24:29, Fall/1978. 6. van Woensel, W. and Cavanagh, P.R. A perturbation study of lower extremity motion during running. International Journal of Sports Biomechanics 8:30-47, 1992. 7. Elliott, B.R. and Blanksby, B.A. A biomechanical analysis of the male jogging action. Journal of Human Movement Studies 5:42-51, 1979. 8. Clarke, T.E., Frederick, E.C., Hamill, CL. The effects of shoe design parameters of rearfoot control in running. Medicine and Science in Sports and Exercise 15(5):376-381, 1983. 9. Hamill, J., Bates, B.T., Holt, K.G. Timing of lower extremity joint actions during treadmill running. Medicine and Science in Sports and Exercise 24:807- 813, 1992. 10. Bates, B.T., Osternig, L.R., Mason, B.R., James, S.L. Functional variability of the lower extremity during the support phase of running. Medicine and Science in Sports and Exercise 11(4):328-331, 1979. 11. Cavanagh, P.R., Pollock, M.L., Landa, J. A biomechanical comparison of good and elite distance runners. In P. Milvy (ed.). The Marathon: Physiological, Medical, Epidemiological, and Psychological Studies. pp. 328-345, New York: New York Acad. Sci., 1977. 12. Hamill, J., Clarkson, P.M., Freedson, P.S., Braun, B. Muscle soreness during running: Biomechanical and physiological considerations. International Journal of Sports Biomechanics 7:125-137, 1990. 13. Nigg, B.M., Luethi, S., Denoth, J., Stacoff, A. Methodological aspects of sport shoe and sport surface analysis. In H. Matsui and K. Kobayashi (eds.). Biomechanics VIII-B. pp. 1041-1052. Champaign, IL: Human Kinetics Publishers, 1983. 14. Hamill, J., Freedson, P.S., Boda, W., Reichsman, F. Effects of shoe type on cardiorespiratory responses and rearfoot control during treadmill running. Medicineand Science in Sports and Exercise 20:515-521, 1987. [392] Glossário Aceleração Angular: Mudança na velocidade angular por unidade de tempo. Aceleração Centrípeta: Componente da aceleração linear direcionada para o eixo de rotação. Aceleração Radial: Ver aceleração centrípeta. Aceleração Tangencial: Mudança na velocidade linear por unidade de tempo de um corpo que se move por uma trajetória curva. Ângulo: Figura formada por duas linhas que se encontram em um ponto comum chamado vértice. Ângulo Absoluto: Ângulo de um segmento medido a partir da horizontal direita que descreve a orientação do segmento no espaço. Ângulo Relativo: Ângulo formado pelos eixos longitudinais de dois segmentos adjacentes cujo vértice se acha na articulação. Centro Articular Instantâneo: Centro de rotação de uma articulação em certo instante no tempo. Cinemática Angular: Descrição do movimento angular incluindo posições angulares, velocidades angulares e acelerações angulares, sem preocupar-se com as causas do movimento. Deslocamento Angular: Diferença entre a posição angular final e a posição angular inicial de um corpo em rotação. Diagrama Ângulo-ângulo: Gráfico no qual o ângulo de um segmento é marcado como uma função do ângulo de outro segmento. Distância Angular: Total de todas as mudanças angulares de um corpo em rotação. Eixo de Rotação: Ponto sobre o qual um corpo gira. Grau: Unidade de medida angular de 1/360 de uma revolução. Lei dos Cossenos: Caso geral do Teorema de Pitágoras que afirma: a2 = b2 + c2 - 2ab cos A onde a é o comprimento do ângulo A do lado oposto e b e c são os comprimentos dos outros dois lados no triângulo. Lesão por Uso Excessivo: Lesão causada por estresses contínuos de baixa intensidade sobre o corpo. Movimento Angular: Movimento sobre um eixo de rotação onde diferentes regiões do mesmo objeto não se movem através da mesma distância ao mesmo tempo. Movimento Geral: Movimento que envolve tanto translação quanto rotação. Polaridade: Direção da rotação designada como positiva ou negativa. Radiano: Medida de um ângulo no centro de um círculo descrito por um arco; equivale ao comprimento do raio do círculo (1 rad = 57,3°). Raio de Rotação: Distância linear a partir do eixo de rotação até um ponto no corpo que está rodando. Regra da Mão Direita: Convenção que designa a direção de um vetor de movimento angular; os dedos da mão direita são fletidos na direção da rotação e o polegar aponta na direção do vetor. [393] Revolução: Unidade de medida que descreve um ciclo completo de um corpo em rotação. Rotação: Movimento que ocorre quando todas as partes de um objeto não fazem o mesmo deslocamento. Tangente: Relação do lado oposto de um ângulo com o ângulo adjacente em um triângulo retângulo. Velocidade Escalar Angular: Distância angular percorrida dividida pelo período de tempo no qual o movimento angular ocorreu. Velocidade Tangencial: Mudança na posição linear por unidade de tempo de um corpo que se move por uma trajetória curva. Velocidade Vetorial Angular: Freqüência de tempo de mudança do deslocamento angular. Vértice: Interseção de duas linhas que formam um ângulo.
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