Buscar

362072-VARIAÇÃO_LINGUÍSTICA

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

VARIAÇÃO LINGUÍSTICA
É comum as pessoas acreditarem que a língua é algo fixo e que, por isso, todos devem fazer uso dela de uma só maneira. Na verdade toda língua é mutável. Elas variam conforme o tempo, os espaços, os grupos sociais, etc.
Uma das características das sociedades é que elas não são uniformes. São divididas em grupos sociais (os que são jovens, os que pertencem a uma classe social ou outra, os que têm uma profissão ou outra e assim por diante). Em decorrência disso, a língua espelha tais divisões por meio da diversidade linguística. Por isso é impossível se falar em unidade linguística quando as sociedades são heterogêneas. Sendo assim, as línguas constituem-se de um conjunto de variação linguística (as diversas maneiras de se dizer uma mesma coisa em um mesmo contexto) decorrentes, dentre outros fatores, dos diferentes modos de organização social.
Podem-se agrupar as variedades linguísticas, basicamente, em dois tipos: 
a) os dialetos: são as variedades que ocorrem em função das pessoas que usam a língua, ou seja, dependendo da idade, do sexo (gênero), do grau de escolaridade, e das condições socioeconômicas do enunciador;
b) os registros: são as variedades que ocorrem em função do uso que se faz da língua, isto é, o enunciador adequará o nível de linguagem (se formal ou menos formal, por exemplo) ao coenunciador, à situação e ao gênero textual.
1. VARIAÇÃO DIALETAL
1.1 Variação Histórica (de uma época para outra)
A variação histórica corresponde aos diferentes estágios pelos quais qualquer língua passa no decorrer do tempo. No caso do Português Brasileiro, percebemos, analisando textos de outras épocas, o quanto o português contemporâneo é distinto do português arcaico. Determinadas expressões e palavras deixaram de ser usadas dando lugar a novas formas. A variação histórica de uma língua ocorre de maneira lenta e gradual e muitas vezes há uma etapa de transição até que se consagre a nova forma linguística.
Antigamente, era comum o uso da mesóclise – colocação do pronome oblíquo no meio de algumas formas verbais –, como “dir-se-ia”, “dar-lhe-ei” ou “far-se-á”. Hoje, podemos dizer que essas formas praticamente caíram em desuso, existindo apenas em raros textos escritos (com alto grau de formalidade) e na tradição literária. Na oralidade, construções como essas atualmente são raríssimas. O mesmo ocorre com a palavra “boticário”, que outrora era utilizada para denominar o “farmacêutico”.
Em relação à variação histórica, vale a pena conferir um fragmento do texto “Antigamente”, de Drummond:
 
Antigamente
Carlos Drummond de Andrade
 
“Antigamente as moças chamavam-se “mademoiselles” e eram todas mimosas e muito prendadas. Não faziam anos: completavam primaveras, em geral dezoito. Os janotas, mesmo não sendo rapagões, faziam-lhe pé-de-alferes, arrastando a asa, mas ficavam longos meses debaixo do balaio. E se levavam tábua, o remédio era tirar o cavalo da chuva e ir pregar em outra freguesia.
As pessoas, quando corriam, antigamente, era para tirar o pai da forca, e não caíam de cavalo magro. Algumas jogavam verde para colher maduro, e sabiam com quantos paus se faz uma canoa. O que não impedia que, nesse entremente, esse ou aquele embarcasse em canoa furada. Encontravam alguém que lhes passava a manta e azulava, dando às de Vila-Diogo....”
 
1.2 Variação Geográfica (de uma região para outra)
Esse tipo de variação corresponde às diferenças geográficas ou regionais existentes entre os falantes de uma mesma língua. Há, no Brasil, diferenças marcantes no uso da língua entre os estados e até mesmo entre as capitais e as cidades do interior. São falares que expressam peculiaridades e compõem a nossa diversidade cultural. 
Como exemplo de variações geográficas, podemos citar o uso do artigo definido antes do nome de pessoas, comum nos estados do sul/sudeste em frases como “A Flávia é legal” ou “O Carlos está elegante hoje”. Por outro lado, na Bahia, não se costuma usar o artigo e diz-se apenas “Flávia é legal” e “Carlos está elegante hoje”.
NORDESTINÊS TAMBÉM É CULTURA: 
Abestado = Bobo, leso, tolo. 	
Abirobado = Maluco. 
Abufelar - Irritar, ficar brabo. 
Amancebado = Amigado, aquele que vive 
maritalmente com outra. 
Amarrado = mesquinho; avarento. 
Arretado = tudo que é bom; bacana; legal. 
Avalie = Imagine. 
Avariado das idéias = meio amalucado. 
Avexado = Apressado. 
Bater a caçuleta = Morrer. 
Bizonho = triste, calado. 
Brenha = Lugar longe de difícil acesso; escuro. 
Briba = Pequena lagartixa. 
Bruguelo = Criança pequena
1.3 Variação Social (de um grupo social para outro)
A variação social diz respeito às diferenças linguísticas decorrentes dos aspectos sociais. Relaciona-se, portanto, a fatores genuinamente sociais como “gênero”, “idade”, “identidade étnica”, “classe social”, “grau de escolarização”, “profissão” etc. Uma pessoa mais velha, por exemplo, não utiliza a língua do mesmo jeito que uma criança ou um jovem. 
No Brasil, por haver domínio de uma classe social sobre outra, geram-se comumente estigmas em relação aos grupos à margem da sociedade. Na verdade, por razões que não são linguísticas, determinada variante é tida como superior. Isso acaba por designar o chamado “preconceito linguístico”.
“O réu vive de espórtula, tanto que é notória sua cacosmia”. (linguajar jurídico) 
Espórtula: esmola Cacosmia: mau cheiro, fedor
 “Oi rapeize do surf brigadão pela moral que vocês tão me dando, 
pô ta muito bom quando ta batendo aquelas ondas na prainha. 
Tá show,valeu brigadão”. (conversa de surfista)
2. VARIAÇÃO DE REGISTRO
2.1 Variação Situacional (de uma cena enunciativa para outra)
A variação “situacional” diz respeito às diferentes situações em que o falante se encontra ao iniciar um ato comunicativo. Aqui é importante destacar que essa variação liga-se intimamente ao grau de formalidade. Não agimos da mesma forma quando nos submetemos, por exemplo, a uma entrevista de emprego ou a uma conversa na mesa do jantar. Serão diferentes as nossas realizações linguísticas: no primeiro caso, teremos maior monitoramento e utilizaremos a língua de maneira mais formal, uma vez que estamos sendo “julgados”. No segundo, a conversa terá um tom mais descontraído em decorrência da familiaridade que os interlocutores possuem entre si.  
Ambas as situações deixam claro que o contexto define os usos que faremos da língua. Todo falante nativo domina as possibilidades de seu idioma e naturalmente possui uma espécie de “inteligência linguística”, que lhe permite a adequação a cada evento específico. 
Em relação à variação situacional, o texto abaixo representa uma linguagem comum no ambiente digital (facebook, msn, twiter, Orkut).
Oi Tb? To c sds d+ d vc! Qdo vc vem pra k?
Tem 9dade? O Gu kso. N csg ir n festa. Q dia vo t v?
Me add no msn! Ou me sg no twt:@anapaula. Vc tem fb?
Bjo Re
 
No entanto, essa linguagem econômica (internetês) só é adequada para os ambientes digitais", diz a linguista Maria Irma Hadler Coudry, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Quando mandar um currículo de emprego, cartas para autoridades, dentre outros gêneros mais formais não é adequado o uso do internetês.
2.2 Modalidade falada e modalidade escrita
Quando se fala em variação de registro não se pode deixar de falar também nos dois modos de apresentação das variedades linguística: modalidade falada e modalidade escrita.
A comunicação oral normalmente se desenvolve em situações em que o contato entre os interlocutores é direto. Dessa forma, quando conversam, elaboram mensagens com vocabulário fortemente alusivo. Na modalidade escrita, a elaboração da mensagem requer uma linguagem menos alusiva. Demanda, portanto, um esforço maior de precisão: indicação de datas, descrição de lugares e objetos, identificação clara dos interlocutores.
A modalidade falada, portanto, é mais alusiva doque a modalidade escrita, que é mais precisa. A primeira atende às necessidades de comunicação em que os interlocutores estão em presença um do outro, incorporando bem os dados da realidade imediata; já a segunda dispõe de um vocabulário mais preciso, nomeando e descrevendo seres e ideias em vez de indicá-los momentaneamente. Não pense, entretanto, que uma dessas modalidades é melhor ou pior do que a outra: são apenas diferente, cada qual apropriada a determinada forma de comunicação. Convém lembrar ainda que a modalidade escrita não é uma mera transcrição da modalidade falada. Vejam algumas dessas diferenças no quadro abaixo:
	Língua falada
	Língua escrita
	Não planejada
	Planejada
	Fragmentária
	Não fragmentária
	Incompleta
	Completa
	Pouco elaborada
	Elaborada
	Predominância de frases curtas, simples ou coordenadas.
	Predominância de frases complexas, com subordinação abundante.
	Pouco uso de passiva
	Emprego frequente de passivas
2.3 Padrão formal culto e padrão coloquial
 O padrão formal culto da língua usualmente é falada e escrita em situações mais formais, geralmente, pelas pessoas de maior nível de escolaridade. Caracteriza-se pela seleção e combinação das palavras e pela adequação a um conjunto de normas gramaticais. Textos escritos nessa variedade linguística: documentos oficiais, livros, relatórios científicos, cartas comerciais, dentre outros. 
Empregar a variedade culta da língua não significa, necessariamente, falar/escrever “difícil”, usando palavras e expressões raras. Utilizar a língua culta significa falar/escrever segundo as orientações da gramática normativa.
O padrão coloquial, por outro lado, é uma variante mais espontânea, sem preocupações com as regras rígidas da gramática normativa. Caracteriza-se também por meio da utilização da linguagem em contextos informais, íntimos e familiares, que permitem maior liberdade de expressão. 
Considerando o contexto da diversidade linguística, é preciso substituir o conceito de certo e errado por adequado e inadequado, respectivamente. A variedade linguística utilizada tem de estar adequada ao coenunciador, à situação e ao gênero do texto. Por isso, todo falante deve ser poliglota dentro de sua própria língua: ele deve ter o domínio de todas as variedades. Assim, isso facilitará a circulação entre os diversos grupos sociais, sejam eles de prestígio ou não. Dentro perspectiva, não se deve conceber a norma culta ou padrão como único modelo de língua a ser seguido.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico: o que é, como se faz. São Paulo: Loyola, 2000.
CEREJA, William Roberto; MAGALHÃES, Tereza Cochar. Português Linguagens: literatura, produção de texto, gramática. 7 ed. São Paulo: Saraiva, 2010 (volume 1).
SAVIOLI, F. P.; FIORIN, J.L. Lições de texto. São Paulo: Àtica, 2002.

Outros materiais