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DRENAGEM URBANA (32)

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1
Drenagem Urbana Sustentável no Brasil 
 
 
 
Relatório do Workshop em Goiânia-GO 
 
dia 7 de Maio 2003 
 
 
Coordenação e organização: 
 
Escola de Engenharia Civil - Universidade Federal de Goiás 
 
 
Coordenação internacional: 
 
Water Engineering and Development Centre, Loughborough 
University, Reino Unido 
 
 
2
Patrocínio : 
 
Department for International Development (DFID), 
Reino Unido. 
 
 
APOIO 
 
 
Associação Brasileira de Engenharia Sanitária 
e Ambiental (ABES) 
 
 
Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia 
(CREA-GO) 
 
 
Agência Nacional de Águas (ANA) 
 
 
 
Associação Brasileira de Recursos Hídricos (ABRH) 
 
 
 
 
Elaboração do Relatório : Dr Jonathan Parkinson (IWA/IAHR) 
MSc Jussanã Milograna (CEFET-GO) 
 Drª Luiza Cintra Campos (EEC/UFG) 
 MSc Raquel Campos (DERMU-GO) 
 
Índice Pág. 
 
Prefácio ............................................................................................... 3 
Urbanização e impatos de águas de chuva ………………............................ 5 
Sistema sustentavél de drenagem urbana .............................................. 8 
Políticas, legislação e estrutura institucional............................................ 9 
Drenagem urbana a nível municipal ...................................................... 11 
Planejamento urbano para uma drenagem urbana sustentável ................ 12 
Desenvolvimento e adoção das melhores práticas .................................. 15 
Financiamento dos sistemas de drenagem urbana .................................. 19 
Limitações do PDDU.............................................................................. 21 
Conclusões e Recomendações ............................................................... 23 
 
 
 
 
3
 
Prefácio 
 
Os sistemas de drenagem urbana sustentável são práticas que têm sido adotadas largamente 
nos países desenvolvidos. Existe, por parte dos países em desenvolvimento, um crescente 
interesse pela adoção das técnicas inovadoras mas, ainda, existem muitas dificuldades para as 
suas implementações. Visando a identificação destas dificuldades, um projeto de pesquisa está 
sendo financiado pelo Department for International Development (DFID) do Reino Unido e 
coordenado pelo Water Engineering and Development Centre (WEDC) da Universidade de 
Loughborough na Inglaterra. 
 
Este projeto envolve o levamento dos problemas de inundação e dos sistemas de drenagem, a 
investigação do potencial para o uso dos sistemas de drenagem urbana sustentável e das 
melhores práticas de gerenciamento (Best Management Practices – BMP’s) nos seguintes 
países: Uganda, Vietnam e Brasil. A escolha desses países para a realização dos workshops se 
deu pelo fato destes apresentarem diferentes níveis de desenvolvimento sócio-econômico, além 
do fato de serem países aos quais o DFID está dando assistência técnica e financeira. Cada 
país, também, possui diferentes experiências na área de drenagem urbana. 
 
O objetivo principal deste projeto é aprender com a experiência destes países e avaliar o 
potencial para a introdução dessas novas alternativas nas comunidades de baixa renda e com 
recursos financeiros limitados. Como parte integrante do projeto, o Workshop em Drenagem 
Urbana Sustentável no Brasil, realizado em Goiânia-GO, proporcionou uma oportunidade para 
os participantes aprenderem mais sobre as recentes experiências no campo de gerenciamento 
das águas de drenagem de diferentes partes do Brasil, além de permitir discussões em relação 
aos seguintes problemas: 
 
o Levantamento das práticas atuais e dos problemas existentes associados com a infra-
estrutura dos sistemas de drenagem urbana 
 
o Identificação dos fatores críticos para melhorar os sistemas de drenagem urbana e das 
dificuldades em relação à operação e manutenção dos sistemas 
 
o Eficiência dos sistemas institucionais e a política de gerenciamento das águas de 
drenagem 
 
o Avaliação do potencial para a implantação das melhores práticas de gerenciamento no 
Brasil. 
 
O presente relatório apresenta uma síntese dos trabalhos seguitnes apresentados durante 
workshop em Goiânia, e das discussões acerca do tema. 
 
 
 
 
 
4
Programação do Workshop 
Visão internacional do gerenciamento de drenagem urbana sustentável 
Dr. Jonathan Parkinson - IWA/IAHR Joint Committee on Urban Drainage 
Jonathan Parkinson é engenheiro civil e do meio ambiente, especializado em planejamento e gerenciamento de 
infraestrutura e serviços de saneamento básico urbano para comunidades de baixa renda. Ele é bem conhecido 
internacionamente através de suas publicacoes e de seu envolvimento no grupo especialista em drenagem urbana da 
International Water Association. 
Endereço : Escola de Engenharia Civil, Universidade Federal de Goiás, Praça Universitária S/N 
CEP 74605-220, Goiânia, Goiás 
Tel : + 55 (62) 241 4554 Fax: + 55 (62) 241 4554 e-mail : parkinsonj@bigfoot.com 
__________________________________________________________________ 
Planejamento dos sistemas de drenagem - problemas de saúde e saneamento 
Dr. Ricardo Silveira Bernardes - Departimento do Enginheiro Civil e Meio Ambinete, 
Universidade de Brasília. 
Ricardo Silveira Bernardes é Professor Adjunto do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade de 
Brasília – UnB. Ele tem Mestre em Hidráulica e Saneamento (EESC-USP) e PhD pela “Wageningen Agricultural 
University”, Holanda. Ele é especialista em impactos das águas pluvial na saude pública, sistemas de drenagem urbana 
e planejamento da infra-estructura dos municípios. 
Endereço : Departamento de Engenharia Civil e Ambiental, FT Universidade de Brasília, 70910-900 - Brasília – DF 
Tel: (61) 307-2325 Ramal 213 Fax (061) 273 4644 e-mail : ricardo@unb.br 
__________________________________________________________________
Problemas institucionais e de financiamento no gerenciamento da drenagem urbana 
no Brasil 
Dr. Márcio Baptista - Universidade Federal de Minas Gerais 
Márcio Baptista é Professor Adjunto do Departamento de Engenharia Hidráulica e Recursos Hídricos da Escola de 
Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais e Bolsista de produtividade em Pesquisa 2B do CNPq, além de 
Membro titular do Conselho Estadual de Política Ambiental do Estado de Minas Gerais. 
Endereço : 
Tel: (31) 3238-1871 Fax : (31) 3238- 1001 e-mail : marbapt@ehr.ufmg.br 
__________________________________________________________________ 
Implementação do sistema integrado de drenagem urbana - Plano Diretor de Santo 
André 
MSc. Sebastião Vaz Júnior - Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André 
Sebastião Vaz Júnior é formado em engenharia civil pela Universidade Federal de Mato Grosso, Mestre em Recursos 
Hídricos pela Universidade de Campinas e atualmente é doutorando em Ciências Ambientais pela UNESP, de São Paulo. 
Já participou de várias entidades municipais na região de São Paulo, participou da comissão técnica de criação do 
comitê da bacia do Paraíba do Sul e atualmente está no Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André 
(SEMASA), como diretor superintendente . 
Endereço: Av. José Caballero, 143 CEP: 09040-210 Cidade: Santo André SP 
Tel : tel.: (11) 499 0317 Fax : 4433 9851 e-mail : sebastiaoneyvaz@semasa.sp.gov.br 
__________________________________________________________________ 
Os sistemas de drenagem urbana e o gerenciamento integrado de recursos hídricos 
Dr. Joaquim Gondim - Superintendente de Usos Múltiplos - Agência Nacional de Águas 
Joaquim Gondim é engenheiro civil, com Mestrado em Recursos Hídricos e Economia. Foi Diretor Nacional do 
Departamento de Obras contra a Seca, Diretor da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos do Ceará e atualmenteé 
Diretor de Usos Múltiplos da Agência Nacional de Águas (ANA). 
Endereço : Agencia Nacional de Aguas – ANA, SPS - Area 5, Quadra 3, Bloco B, 70610-200 Brasília, DF Brazil 
Tel: 061- 4455207 Fax : (+55) 61-445-5415 e-mail : joaquim@ana.gov.br 
__________________________________________________________________ 
Drenagem urbana sustentável no Brasil - estudo de caso de Porto Alegre 
Dr. Carlos Eduardo Moretti Tucci - Universidade Federal do Rio Grande do Sul 
Carlos Tucci é Professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul com doutorado na Universidade de Colorado, 
USA. Ele é atual vice-presidente da International Association of Hydrologic Society (IASH), tem vários livros publicados 
e um um total de 260 publicações. Consultor de empresas na área de recursos hídricos tanto no nível nacional quanto 
internacional. 
Endereço : Instituto de Pesquisas Hidráulicas – UFRGS, Universidade Federal do Rio Grande do Sul , 
Av. Bento Gonçalves, 9500, Agronomia - PORTO ALEGRE CEP 91501-970, RS - Brasil 
Telefone: (51) 3316-6408 Fax : (51) 3316-7291 e-mail : carlos.tucci@ufrgs.br 
 
5
Urbanização e impatos de águas de chuva 
 
O processo de urbanização no Brasil, nos últimos anos, se deu com o crescimento maior das 
cidades médias e um crescimento menor das metrópoles. A população urbana brasileira, hoje, 
é da ordem de 80% contra uma urbanização na década de 40 a 50 abaixo de 40%. O processo 
de urbanização no Brasil foi, em grande parte, desordenado e falho na previsão da população 
total. A primeira questão a ser levantada é que o problema da drenagem está muito associado 
a questão da urbanização. A Figura 1a demonstra a relação entre a área impermeável e a 
densidade urbana baseada em dados de São Paulo, Curitiba e Porto Alegre. A Figura 1b 
demonstra que o crescimento populacional acarreta um aumento tanto na porcentagem de área 
impermeável quanto no número de eventos de cheia. 
 
 
Figura 1a) Relação entre área impermeável e densidade urbana baseada em dados de São 
Paulo, Curitiba e Porto Alegre (Tucci, 2003) 
 
Figura 1b) Relação entre crescimento da população e o número de eventos de cheia em Belo 
Horizonte (Tucci, 2003) 
 
Quando não há um planejamento da expansão urbana e fiscalização eficaz, ocorre a ocupação 
dos leitos dos corpos d'água urbanos. A população que aí se aloja fica, então, sujeita 
inundações. No caso de ocupação do leito do rio por população de baixa renda, há uma 
dificuldade adicional: a desocupação é feita, via de regra, subsidiada pelo poder público, o que 
a inviabiliza. A lei dos mananciais, por sua vez, é extremamente restritiva, o proprietário não 
pode utilizar a área, mas continua a ter os custos dos impostos. Ele arca com o ônus de 
preservar esta área para toda a comunidade. A alternativa de comercializar a área existe, mas 
seu valor comercial é muito baixo. É comum o abandono destas áreas ou o incentivo à 
ocupação pela população de baixa renda por parte do proprietário, forçando o poder público a 
desapropriá-la. 
 
As enchentes urbanas são um problema crônico no Brasil. Os problemas são bem conhecidos; 
as inundações, no mínimo, interrompem o trânsito de veículos, e em casos piores, podem 
destruir prédios e outras construçoes. Estes problemas afetam as comunidades de baixa renda, 
principalmente, por causa da localização das residências. Na última Pesquisa Nacional de 
Saneamento Básico (PNSB) (IBGE, 2002)1, com dados coletados em 2000, foram pesquisados 
os municípios que haviam sofrido inundações nos dois anos anteriores (1998 e 1999). A Figura 
2 ilustra a distribuição destes municípios no Brasil. A população apontou as principais causas 
das inundações, conforme a Tabela 1. 
 
1 IBGE ( 2000). Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (PNSB) - 2000. Instituto Brasileiro de Geografia e 
Estatística. Brasília. 
0
10
20
30
40
50
60
70
80
0 50 100 150 200 250
urban density, inhab/ha
Im
pe
rv
io
us
 a
re
a 
%
 
0
1000
2000
3000
1920 1940 1960 1980 2000 2020 2040
anos
Po
pu
la
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(1
00
0)
0
5
10
15
20
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opopulação
inundações
 
6
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 2 Localização dos municípios com ocorrência de inundações ou enchentes 
em 1998-1999 (IBGE, 2002) 
 
 
Tabela 1 Municípios que sofreram inundações ou enchentes em 1998 e 1999 (IBGE, 2002) 
 
Grandes Regiões Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-
Oeste 
Total de municípios 5.507 
 
449 1.787 1.666 1.159 446 
Municípios que sofreram 
inundações ou 
enchentes 
1.235 57 238 539 356 45 
Fatores agravantes das inundações ou enchentes 
Dimensionamento inadequado de 
projeto 
 
339 8 63 166 92 10 
Obstrução de bueiros / bocas de 
lobo 
 
631 38 123 260 192 18 
Obras inadequadas 
 
345 16 67 145 104 13 
Adensamento populacional 
 
 
391 16 75 192 95 13 
Lençol freático alto 
 
205 13 54 69 58 11 
Existência de interferência física
 
 
298 8 57 130 91 12 
Outros 
 
237 13 26 110 78 10 
Sem declaração 
 
 
3 1 1 1 - - 
Áreas onde ocorreram inundações 
ou enchentes (ha) 
48.809 1.629 6.606 10.171 28.176 2.227 
 
 
 
7
 
Outro aspecto importante é a segregação social e conseqüentemente uma segregação de infra-
estrutura. As cidades criam vetores de crescimento de alta renda, que é onde, 
conseqüentemente, se encontra a infraestrutura alocada. Em contrapartida, ao lado desses 
vetores são encontradas comunidades sem infraestrutura. Quando se fala em segregação da 
população de alta renda, de certa forma, está se dizendo da segregação do saneamento em 
geral. Isso pode ser observado em várias cidades brasileiras, onde populações com baixa renda 
tem um baixo acesso a essa infraestrutura. 
 
A drenagem, no que diz respeito às doenças, socializa o problema. O bairro que tem alto 
atendimento com drenagem e lixo também sofre os efeitos da má distribuição do atendimento 
aos serviços de drenagem. Esse efeito somado à segregação espacial tratada anteriormente 
mostra que a infraestrutura da cidade é distribuída de forma irregular. A parcela que tem 
disponibilidade de infraestrutura e drenagem recebe os impactos de forma não tão intensa 
quanto à população de menor poder aquisitivo. 
 
As inundações nas cidades podem causar muitos problemas de doenças, especificamente nos 
locais onde existe uma falta de saneamento básico. Também, as inundações podem provocar 
surtos de dengue e morte de pessoas que vivem em áreas de risco ambiental, além de 
aumentar o risco à saúde e poluição dos mananciais. A ocupação inadequada favorece os 
processos erosivos e deslizamentos de encostas. 
 
O acúmulo de resíduos sólidos carreados pelas águas de chuva também pode causar poluição 
dos rios locais A má qualidade da limpeza urbana e a falta de conscientização da população 
tem trazido grandes prejuízos à qualidade da água pluvial escoada para os cursos d'água. É 
preciso que o manejo dos resíduos sólidos seja executado na fonte. O excesso de lixo é um 
empecilho para a adoção de reservatórios de retenção, aumenta os riscos sanitários e o custo 
de manutenção da rede de drenagem. 
 
No Brasil, ainda, não há uma grande preocupação com a qualidade da água de drenagem, 
talvez, pelo fato da maioria de nossos cursos d'água ainda receber esgoto doméstico "in 
natura". Outro aspecto a ser observado diz respeito à afirmação de que no Brasil tem-se um 
sistema de esgotamento sanitário tipo separador absoluto: todo esgoto sanitário vai para uma 
rede que só recebe esgoto sanitário e água de infiltração. Por outro lado o sistema de 
drenagem é para receber só águas pluviais. 
 
Os sistemas de drenagem pluvial foram planejadoscentrados na lógica do rápido escoamento 
da água precipitada, transferindo o problema para jusante. Este fato aliado ao rápido 
crescimento da população urbana no país, trouxe um cenário caótico para as grandes e médias 
cidades. Foi um erro muito comum no passado a consideração do cenário atual para o 
dimensionamento; não se definia o cenário para o horizonte de projeto. Então, muitas vezes, 
antes mesmo das obras serem concluídas, os sistemas já não comportavam a demanda. Foram 
feitas profundas alterações na drenagem natural, procurando eliminar as características do 
meio que eram julgadas inadequadas ao meio urbano. Foram usados indiscriminadamente 
aterros, desmatamentos, redução dos espaços naturais, canalização e retificação de córregos, 
lançamentos de água pluvial em locais inadequados. 
 
A prática do rápido escoamento das águas pluviais tem se mostrado insustentável, pois apenas 
age no sentido de transferir o impacto para jusante. O custo da canalização é muito alto, ele 
chega a custar dez vezes mais do que o processo de amortecimento na origem das inundações. 
A falta de infiltração natural no solo ocasionada pela impermeabilização das superfícies não 
permite a recarga dos lençóis subterrâneos. O lançamento das enxurradas também pode causar 
poluição dos rios locais e devido à falta de infiltração natural no solo, os lençóis subterrâneos 
não são recarregáveis. E, com o passar do tempo, o problema se manifesta à jusante. 
 
 
8
Sistema sustentavél de drenagem urbana - uma nova 
alternativa para as cidades 
 
Diversas estratégias são necessárias para solucionar estes problemas que não podem ser 
resolvidos simplesmente através da construção de grandes obras de drenagem. Recentes 
estudos, realizados principalmente por países desenvolvidos, têm apresentado um novo 
conceito sobre projetos de drenagem urbana. 
 
Trata-se do desenvolvimento sustentavél da drenagem urbana o qual tem o objetivo de imitar o 
ciclo hidrológico natural. As estrategias de drenagem urbana sustentavél incluem as ações 
estruturais, que consistem dos componentes fisicos ou de engenharia como parte integrante da 
infraestrutura, e as ações não estruturais, que incluem todas as formas de atividades que 
envolvem as praticas de gerenciamento e mudancas de comportamento. 
Este novo modelo incorpora técnicas inovadoras da engenharia como a construção 
estacionamentos permeáveis e de canais abertos com vegetação afim de atenuar as vazões de 
pico e reduzir a concentração de poluentes das águas de chuva nas áreas urbanas. O modelo 
define-se como princípios modernos da drenagem urbana: 
 
o Novos desenvolvimentos não podem aumentar a vazão de pico das condições naturais 
(ou prévias) - controle da vazão de saída ; 
 
o Planejar o conjunto da bacia para controle do volume; 
 
o Evitar a transferência dos impactos para jusante. 
 
O controle da drenagem na fonte pode ser executado através de planos de infiltração e 
trincheiras, pavimentos permeáveis ou detenção. O princípio é manter a vazão pré-existente, 
não transferindo o impacto do novo desenvolvimento para o sistema de drenagem. Como o 
volume de água pluvial manejado por estes mecanismos é menor, o cidadão ou empreendedor 
tem uma liberdade de escolha maior de como controlar a vazão, desde que a vazão de saída 
não ultrapasse o permitido. E tanto a responsabilidade de operar o mecanismo como seu custo 
são do empreendedor, não da administração pública, como é feito atualmente. 
 
Este novo modelo incorpora técnicas inovadoras da engenharia como a construção de 
estacionamentos permeáveis e de canais abertos com vegetação a fim de atenuar as vazões de 
pico e reduzir a concentração de poluentes das águas de chuva nas áreas urbanas. Outra 
técnica inovadora, a qual é apropriada para países como o Brasil, é a armazenagem das águas 
de chuva em reservatórios de acumulação para posterior reuso em irrigação de jardins e 
praças. Neste caso, é necessário o controle da qualidade da água para definir o uso apropriado. 
 
Para gestão dos recursos hídricos é necessária a integração das diversas agendas que existem 
em uma bacia, que estão associados com os recursos hídricos (agenda azul), o meio ambiente 
(agenda verde), e a cidade (agenda marrom). Então, essas políticas também têm que ser 
compatibilizadas nesta unidade de planejamento geral, que é a bacia hidrográfica. Para estas 
técnicas de engenharia serem implementadas e para assegurar a operação sustentável dos 
sistemas, novos métodos de planejamento e gerenciamento urbano são necessários. 
 
 
 
9
Políticas, legislação e estrutura institucional 
 
A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 21 estabelece que compete à União planejar e 
promover a defesa permanente contra as calamidades públicas, especialmente as secas e 
inundações. O Estatuto da Cidade, aprovado em 2.001, institui medidas jurídicas para a questão 
da adoção das medidas não estruturais na drenagem. Um dos instrumentos é o direito de 
preempção (artigos 25 a 27) que trata da preferência, por parte do poder público, para compra 
de imóveis do seu interesse,no momento de sua venda. O objetivo deste instrumento é facilitar 
a aquisição, por parte do poder público, de áreas de seu interesse, para a realização de 
projetos específicos. Estas medidas ainda necessitam de um detalhamento maior para sua 
aplicação. 
 
O Departamento Nacional de Obras e Saneamento (DNOS), de sua criação no início da década 
de 1930 até sua extinção em 1990, teve uma série de atuações tópicas. Após sua extinção, não 
havia um órgão federal específico para atuar nesta área. Em 2003, foi criado o Ministério das 
Cidades, uma reivindicação dos municipalistas para enfrentar a problemática das cidades. No 
seu processo de estruturação, o saneamento básico é considerado um setor essencial e 
prioritário, devido à falta de investimento nos últimos anos. 
 
No tocante à legislação e às políticas existente para o funcionamento dos sistemas de 
drenagem, estão os aspectos relacionados à gestão integrada dos recursos hídricos, controle da 
poluição ambiental, e dotação de infraestrutura urbana (Figura 3). No Brasil, as agências 
nacionais, que influenciam a Política, estão reconhecendo a necessidade de se adotar os 
princípios da drenagem urbana sustentável. 
 
Figura 3 Gestão das interfaces externas a cidade 
 
 
 
10
Em 2000, a lei N. 9.984 criou a Agência Nacional de Águas (ANA), instituindo como sua 
responsabilidade a implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH), cuja 
formulação é responsabilidade da Secretaria de Recursos Hídricos do Ministério do Meio 
Ambiente. Esta Lei dispõe que cabe à ANA : 
 
"Planejar e promover ações destinadas a prevenir ou minimizar os efeitos de secas e 
inundações, no âmbito do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, em 
articulação com o órgão central do Sistema Nacional de Defesa Civil, em apoio aos Estados e 
Municípios". 
 
Um dos fundamentos da PNRH é a adoção da Bacia Hidrográfica como unidade de 
planejamento. O Plano de Recursos Hídricos da Bacia é o instrumento de gestão da Política 
Nacional de Recursos Hídricos que visa fundamentar e orientar a implementação dessa Política 
e estabelecer as bases para o gerenciamento integrado, descentralizado e participativo dos 
recursos hídricos da bacia, adequando-se à respectiva diversidade regional. Os Planos Diretores 
de Bacia devem ser específicos e direcionados para a bacia local. 
 
O Programa de Indução à Gestão da Água no Meio Urbano e Controle de Inundações, está 
sendo elaborado pela ANA, visando a integração da drenagem urbana e do controle de 
inundações como parte de um sistema ambiental mais amplo, como tal merecedora de atenção 
equivalente à que a sociedade hoje dispensa à sustentabilidade ambiental. O programa irá 
atuar considerando que a gestão da drenagem urbana não é um problemaisolado de 
competência municipal e o controle das inundações urbanas e ribeirinhas deve inserir-se entre 
as prioridades das políticas urbana, ambiental e de defesa civil, dentre outras políticas 
consideradas como intervenientes, exercidas nas diferentes esferas de competência legalmente 
estabelecidas. É com essas esferas que o Programa de Indução à Gestão da Água no Meio 
Urbano e Controle de Inundações deve articular-se. 
 
 
Componentes do Programa de Indução à Gestão da Água no Meio Urbano e Controle 
de Inundações da ANA 
 
1) Incentivo às boas práticas e à inovação 
 
Incentivo às boas práticas e à inovação tecnológica - incentivar as boas práticas, consideradas como 
inovadoras incorporando os aspectos tecnológicos, de planejamento e de gestão, não só de obras, mas, 
também, jurídico-legais e econômico-financeiros, podendo contribuir, principalmente, com o Ministério das 
Cidades para ser incluído em um programa maior, tal qual o Plano Pluri-Anual (PPA). 
 
2) A questão da Gestão de águas urbanas, tendo como prioridade as medidas não-estruturais, 
reservando as obras estruturais para os casos mais complexos. 
 
Trata-se de apoiar ações não-estruturais com vistas à gestão da água no meio urbano e ao controle e à 
prevenção de inundações em áreas urbanas. Secundariamente, o Programa poderia apoiar ações 
estruturais específicas, inseridas em planos de controle e prevenção de inundações, quando aquelas 
apresentarem maior benefício líquido potencial que possíveis medidas não-estruturais, considerados os 
objetivos específicos de cada plano regional ou local em seu todo. 
 
3) Gestão de inundações ribeirinhas 
 
Trata-se de apoiar ações não-estruturais com vistas ao controle e à prevenção de inundações em áreas 
ribeirinhas. O Programa poderia apoiar ações estruturais específicas inseridas em planos de controle e 
prevenção de inundações, quando aquelas apresentarem maior benefício líquido potencial que possíveis 
medidas não-estruturais, considerados os objetivos específicos de cada plano regional ou local em seu 
todo. 
 
 
11
Drenagem urbana a nível municipal 
 
De uma maneira geral, do ponto de vista institucional, tradicionalmente, no Brasil, o 
gerenciamento da drenagem urbana é efetuado através de uma estrutura técnica e 
administrativa vinculada diretamente ao poder municipal, freqüentemente, à secretaria de 
obras. Não se tem um órgão gestor compondo a drenagem urbana, embora alguns municípios 
tenham iniciado essa modalidade de gestão. 
 
Na maioria das vezes, os serviços municipais com responsabilidade específica sobre a drenagem 
de águas pluviais não são organizados como entidades independentes, com autonomia 
financeira e gerencial. Essa forte dependência do orçamento municipal, leva à fragilidade 
institucional da estrutura de gestão da drenagem urbana que aparece na inadequação da 
formação de equipes técnicas, com diversos órgãos atuando de forma até redundante na 
drenagem urbana, e na descontinuidade administrativa, o que implica na ausência de 
planejamento a longo prazo. 
 
Em relação ao saneamento básico, na maioria dos municípios, os sistemas de abastecimento de 
água e de esgotamento sanitário são entregues às companhias estaduais de saneamento em 
forma de concessão. A gestão da drenagem urbana e dos resíduos sólidos normalmente são 
entregues a diferentes órgãos municipais. Esta divisão dificulta o gerenciamento integrado e o 
planejamento no município. A integração dos componentes da água no meio urbano (água, 
esgoto, resíduos sólidos e drenagem) é fundamental para a sustentabilidade ambiental. 
 
Atualmente, os municípios são responsáveis pelo saneamento básico e infra-estrutura urbana 
em seu território. À medida em que eles participam com apenas 16% do montante da 
arrecadação tributária2, os recursos financeiros não são suficientes para esta gestão. 
Historicamente, as grandes obras de macrodrenagem foram executadas com recursos da União 
e dos Estados. 
 
No gerenciamento da drenagem, outras funções importantes do município que se encontram 
desarticuladas são a Defesa Civil, voltada para a questão de riscos urbanos, a Fiscalização 
Urbana, necessária para conter a ocupação de áreas inadequadas e obrigar o cumprimento das 
leis municipais e o órgão responsável pelo planejamento urbano. A nível municipal é necessária, 
também, a integração dos poderes executivo, legislativo e judiciário, nesta questão. 
 
No nível municipal, existem alguns instrumentos, tais como o Código de Obras, o Código 
Ambiental, Código de Posturas, Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano, Lei Orgânica 
Municipal, que tratam da questão da drenagem urbana, inserida no contexto municipal, 
estabelecendo seus fundamentos básicos e diretrizes. É muito importante que o Plano Diretor 
de Drenagem esteja coerente com estes instrumentos. 
 
 
 
2
 
ASSEMAE (1998). Drenagem Urbana - Menos alagamento, mais qualidade de vida. Núcleo de Drenagem Urbana 
 
 
12
Planejamento urbano para uma drenagem urbana 
sustentável 
 
O Plano de Drenagem de uma cidade deve obedecer aos controles estabelecidos no Plano de 
Recursos Hídricos da Bacia na qual estiver inserido. A Figura 4 mostra as conexões entre o 
plano diretor de drenagem urbana, o plano diretor de desenvolvimento urbano e a gestão 
integrada das bacias hídrográficas. O Plano de Recursos Hídricos (RH) não chega ao nível de 
detalhar o Plano de Drenagem como sub-componente do mesmo, mas estabelece alguns 
princípios sustentáveis tais como: não propagação da cheia (controle na fonte) e controle da 
poluição difusa. 
 
O Plano Diretor de Drenagem Urbana (PDDU) é o conjunto de diretrizes que determinam a 
gestão do sistema de drenagem, minimizando o impacto ambiental devido ao escoamento das 
águas pluviais. Na elaboração do PDDU deve ser mantida a sua coerência com as outras 
normas urbanísticas do município, com os instrumentos da Política Urbana e da Política 
Nacional de Recursos Hídricos. 
 
 
Figura 4 Conexões entre o Plano Diretor de Drenagem Urbana, Plano Diretor de 
desenvolvimento e a gestão integrada das bacias hidrográficas 
 
O PDDU deve contemplar: 
 
o Visão do plano e gestão integrada 
o Prioridade nas medidas não-estruturais: legislação, prevenção e gestão. Essas medidas 
controlam os futuros impactos, enquanto que as medidas estruturais controlam os 
impactos já existentes e, muitas vezes, são inevitáveis. 
o Participação Pública - quando participa do processo decisório, a população dá 
sustentabilidade ao plano. 
o Plano por sub-bacia urbana 
o Gestão municipal 
 
 
13
Por questão de sustentabilidade econômica, o plano deve ser implementado por etapas, 
conforme a Figura 5 e a descrição a seguir. Após sua finalização, o PDDU passa a ser o 
instrumento que vai orientar o poder executivo nas suas ações a curto, médio e longo prazo. O 
plano e os diversos planos de ação indicam onde é mais importante estar atuando, não só nas 
questões pontuais onde o foco aparece nas inundações, mas nas medidas estruturais da 
macrodrenagem, geralmente, nas contenções, nas encostas e nas cabeceiras. 
 
Etapas de desenvolvimento do PDDU 
 
Etapa1 - Concepção : levantamento dos dados existentes 
Inicialmente, faz-se o levantamento dos dados, englobando coleta de campo, diagnósticos e 
legislação pertinente. 
 
Etapa 2 - Medidas: diagnóstico da situação atual 
A partir do diagnóstico, na etapa de concepção do plano, algumas medidas de caráter mais 
urgente já podem ser implementadas, enquanto o plano passa por um processo de 
detalhamento e aprovação. 
 
Etapa 3 - Produtos: proposições para ampliação e melhoria do sistema 
Após a definição das medidas de curto, médio e longo prazo, são trabalhados os produtos 
necessários à sua implementação: detalhamento dos planos de ação, planos de obras, 
legislação pertinente,manuais, etc. 
 
Etapa 4 - Programas : plano de ações e sistema de supervisão e controle 
Nessa etapa, tem-se o programa de longo prazo, constando do que não foi contemplado no 
plano: o monitoramento, a coleta de dados adicionais e estudos adicionais. E para isto é preciso 
os planos de desenvolvimento urbano para se definir o cenário futuro da bacia a ser 
considerada. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 5 Etapas do plano diretor de drenagem 
 
14
Alguns planos têm sido desenvolvidos e implementados em algumas cidades brasileiras, como 
Porto Alegre, área metropolitana de Curitiba, Belo Horizonte, Caxias do Sul e Santo André. 
 
O PDDU de Porto Alegre 
 
O primeiro trabalho do PDDU foi a avaliação do sistema de proteção contra enchentes e estações de 
bombeamento. Concluiu-se que o conjunto de bombas era capaz de atender o bombeamento no caso de 
cheia, mas o sistema de drenagem tinha tantas restrições que a água não chegava no ponto de ser 
bombeada. 
 
Na etapa de fundamentos e medidas não estruturais, as principais medidas foram: 
 
1. Artigo no Plano Diretor Urbano para controle de vazão de novos loteamentos; 
 
2. Decreto para controle da densificação e dos loteamentos: cálculo do volume de detenção, com 
alternativas se foram adotados outros dispositivos, como infiltração, filtros, etc. 
 
3. Gestão integrada da drenagem e sua manutenção. 
 
Desde março de 2000 o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano e Ambiental da cidade de Porto Alegre 
(RS) prevê que qualquer novo empreendimento deve manter as vazões naturais depois de implantado. A 
legislação tem sido aplicada em todos os novos desenvolvimentos aprovados pelo município. O Plano 
Diretor, infelizmente, contém uma previsão de uma alta taxa de ocupação em uma área em que a 
drenagem só se faz por bombeamento, não considerou a drenagem na determinação das áreas prioritárias 
de expansão. 
 
Um dos aspectos importantes no processo de elaboração do PDDU é o planejamento espacial, 
em particular, em relação à necessidade de reservar área urbana para controle de cheias. No 
município de Santo André este planejamento espacial constou das seguintes etapas: 
 
1) Delimitação das principais bacias de drenagem 
2) Identificação das areas de drenagem dentro de cada bacia 
3) Mapeamento das áreas de inundação 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 6 Mapa de inundação da Bacia do Areia em Santo André 
 
O município de Porto Alegre possui Plano Estrutural detalhado para três sub-bacias. O plano de 
outras três sub-bacias está sendo concluído. O mapa de inundação das sub-bacias é executado 
para quatro cenários futuros de desenvolvimento e ocupação do espaço. São determinados 
todos os pontos que inundam com perído de 02 anos, com 05 anos e com 10 anos dentro da 
região. A partir deste mapa, foi estudada cada uma das sub-bacias e determinados os 
diferentes tipos de detenção que deveriam haver nessa bacia toda. 
 
15
Desenvolvimento e adoção das melhores práticas 
Esta seção descreve os componentes da BMPs que devem ser incorporados no PDDU. Alguns 
pontos definidos pelo PDDU podem ser identificados como sugestões para dar sustentabilidade 
à gestão da drenagem urbana. 
 
1. O aproveitamento de espaços públicos 
A principal variável do planejamento dos sistemas de drenagem urbana é a densidade 
habitacional e por meio do plano de ocupação urbano é possível prever os problemas futuros. 
Pelo plano de ocupação do espaço urbano é definido o número de habitantes por hectare e as 
regras de ocupação, contemplando-se o planejamento de áreas a serem desenvolvidas e a 
densificação das áreas atualmente loteadas. Então através do plano de desenvolvimento 
urbano, pode-se antever a população do futuro e tomar medidas antecipadas ao problema. 
Para o cenário brasileiro em que o processo de implementação de uma lei é lento e o sistema 
de fiscalização deficiente, ao planejar uma área a ser desenvolvida, deve-se procurar reservar 
espaços para amortecimento do excesso de vazão no caso do controle na origem não funcionar 
adequadamente. Normalmente, são necessários da ordem de 2% da área para amortecer a 
inundação de uma área urbanizada. Essa área pode ser reservada da parcela de área pública do 
empreendimento. 
 
O caso de Curitiba 
 
Em 1994, foi iniciado na cidade de Curitiba, no Estado do Paraná, um programa para controle de enchente 
para toda a sua região metropolitana. Esse plano está sendo desenvolvido em três etapas. A primeira 
fase foi emergencial e constou da limpeza de canais e reforma de pontes. A segunda fase foi de controle 
das áreas ribeirinhas do rio Iguaçu. Nessa fase foi feito um estudo de alternativas através de modelagem 
onde a solução adotada foi a construção de um canal lateral para bloquear a pressão pública de invasão e 
a criação de um parque interno na região com 20 km2. Este parque foi criado internamente para ser uma 
área de amortecimento e de lazer da população. O parque está na fase final de implementação. 
 
A terceira fase foi a elaboração do Plano Diretor da Região Metropolitana de Curitiba, concluído 
recentemente. A filosofia básica para a parte final do plano foi de se reservar, nas áreas de 
desenvolvimento, áreas de inundação e amortecimento para o cenário futuro (parques, quadras,etc). 
Estas áreas podem ser contabilizadas como áreas públicas, dentro da parcela dos 35% de área 
necessários para aprovação dos empreendimentos. É condicionado que, na área limítrofe, tenha que ser 
implementado um parque, já planejado pela Prefeitura. Automaticamente, cada loteamento que se 
desenvolve já implementa essa área linear de parque. Esta é uma forma de não transferir o custo dessa 
implementação para o setor público. Esta medida também acaba com o incentivo à ocupação de áreas de 
fundo de vale, por parte dos proprietários. 
 
 
 
 
16
2. A integração dos serviços de saneamento ambiental 
 
É neccessario se conseguir a gestão integrada do saneamento ambiental, através de uma única 
entidade municipal que gerencia os cincos componentes: água, sistema de esgotamento, 
drenagem urbana, resíduos sólidos e riscos ambientais. O tratamento de água e esgoto é 
terceirizado, resolvendo a questão de infra-estrutura do município. Implantação da coleta 
seletiva na limpeza urbana em alguns locais, essa prática vem diminuindo a carga de resíduos 
sólidos nas ruas da cidade, auxiliando a manutenção da rede de drenagem urbana e 
minimizando a poluição dos cursos d'água. 
 
Figura 7 Gestão integrada do saneamento ambiental 
A integração dos serviços de saneamento ambiental é um exemplo na questão do desenvolvimento 
institucional, favorecendo a gestão integrada dos recursos naturais. Em Santo André esta integração se 
deu com a criação de uma autarquia de saneamento ambiental, que gerencia todos os serviços de 
saneamento do município e a parte da Defesa Civil referente aos riscos urbanos. 
 
O caso de Santo André 
 
A cidade de Santo André tem 175 km2 de área aproximadamente e 55% da área do município está em 
área de mananciais. Em Santo André, a administração vem trabalhando, desde 1997, o conceito de 
saneamento ambiental, no sentido de criar uma autarquia de Saneamento Ambiental, o SEMASA. Em 1997 
houve a transferência formal do sistema de drenagem para a autarquia, que até então funcionava como 
abastecimento de água e esgoto. Depois foram transferidos a gestão ambiental, o gerenciamento de 
resíduos sólidos, englobando a questão da disposição/produção, coleta e tratamento final e, por último, 
em 2001, a transferência da defesa civil, da parte voltada para a questão de riscos urbanos. 
 
O município de Santo André tem conseguido a gestão integrada do saneamento ambiental, através de 
uma única entidade municipal que gerencia os três componentes: sistema de esgotamento, drenagemurbana e resíduos sólidos. Em 1997, a Prefeitura começou a trabalhar a questão da manutenção do 
sistema de drenagem. A manutenção do sistema foi estruturada e valorizada, trabalhando , inclusive com 
educação ambiental . A primeira providência foi a contratação do Plano Diretor de Drenagem. No plano de 
drenagem, foram privilegiadas as medidas não estruturais, mas medidas estruturais também foram 
necessárias, dada a situação em alguns pontos da cidade. No detalhamento do plano, tem-se o plano de 
ações, considerando o sistema de supervisão e controle da drenagem da cidade. O plano foi focado muito 
na questão do gerenciamento por bacias. 
 
 
17
3. A utilização de tecnologias mais sustantável 
A condução dos diversos aspectos da gestão da drenagem urbana leva à utilização de 
tecnologias mais sustantável que são as BMPs, chamadas no Brasil de Tecnologias Alternativas 
ou Compensatórias. Para tanto é necessário adotar uma abordagem mais integrada das 
questões da drenagem urbana, ou seja, além dos aspectos hidrológicos e hidráulicos, 
tradicionalmente considerados, é necessário conduzir essa análise para os aspectos sanitários, 
ambientais e paisagísticos. Essa abordagem integrada com a utilização de tecnologias mais 
sofisticadas implica na adoção ou na necessidade de recursos financeiros mais substanciais. 
 
O incentivo ao uso de elementos permeáveis 
O incentivo ao uso de elementos permeáveis e o aproveitamento de espaços públicos para 
amortecimento das cheias, tem facilitado o controle das inundações. Essa prática diminui os 
custos de implantação e manutenção do sistema e, sempre que possível, o envolvimento da 
comunidade com a gestão destas áreas tem se mostrado determinante para a sustentabilidade 
dos sistemas de drenagem. 
 
Reservatórios de detenção e retenção 
Outra prática recomendada é utilizar reservatórios de detenção ou retenção na micro e 
macrodrenagem, reduzindo os impactos no sistema de drenagem. A grande vantagem dos 
reservatórios de detenção é que podem ser instalados em áreas públicas, como praças, 
parques, quadras, que tenham outra destinação após as precipitações. Os reservatórios de 
retenção, por sua vez, são mantidos com uma lâmina d'água e têm controlada a qualidade da 
água. Podem ser aplicados em banhados ou reservatórios urbanos. Os reservatórios de 
detenção fechados apresentam um custo sete vezes maior que o reservatório aberto. Existem 
ainda as alternativas de sistemas off line, nos quais uma parte da vazão inunda lateralmente e 
depois volta para o curso d'água principal. A Figura 8 ilustra um tanque de detenção que foi 
projetado não somente para reter as águas de chuva, mas também para funcionar como uma 
praça esportiva. A vantagem desta alternativa é que as áreas públicas não são ocupadas 
irregularmente e não servem como depósito de lixo. 
 
Figura 8 Tanque de detenção 
combinado com praça 
esportiva na cidade de Curitiba 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O reuso de águas 
O reuso de águas pluviais e a relocação de populações situadas em áreas de risco são exemplos 
de boas práticas em relação ao desenvolvimento do planejamento urbano. A Associação de 
Engenheiros, Arquitetos e Agrônomos de Guarulhos (SP) conseguiu incorporar no Código de 
Obras deste município, Lei Nº 5.617, técnicas de armazenamento das águas pluviais. É 
importante ressaltar que deve-se definir o uso da água armazenada pela sua qualidade. 
 
18
4. Aspectos do participação no planajamento dos sistemas e drenagem urbana 
 
A prática do orçamento participativo 
 
A prática do orçamento participativo no qual a prefeitura municipal aprova seu orçamento anual 
após discussão com a população, tem contribuído muito para melhorar a gestão da drenagem 
urbana, e a compreensão e colaboração da comunidade no que diz respeito ao amortecimento 
de cheias. A comunidade participa das decisões sobre a adoção das medidas de controle pela 
análise de pareceres técnicos, estudos de viabilidade econômica e disponibilidade de recursos. 
Após a definição das técnicas alternativas, na fase de implementação dos projetos, a população 
tem uma participação decisiva. 
 
Em Porto Alegre, o plano estrutural das bacias levanta as alternativas possíveis e seus custos; 
como o Município adota a prática do Orçamento Participativo, a viabilidade de cada alternativa 
é discutida com a comunidade. A comunidade aprova o uso dos recursos municipais para as 
medidas projetadas. O que tem sido feito são apresentações de técnicos da Prefeitura sobre 
filosofia e a escolha das áreas de detenção. A análise dos custos de implantação tem sido 
determinante neste processo, pois os recursos municipais são limitados e divididos entre as 
várias áreas urbanas. A escolha de uma alternativa de custo elevado para a região implica em 
comprometer vários anos sem investimento em outras áreas. 
 
A implantação de sistemas de alerta 
 
A implantação de sistemas de alerta é outra prática que tem dado bons resultados. É adotada 
quando a região necessita de obras estruturais, mas não há recursos suficientes. Essa rede de 
alerta é ligada ao sistema de Defesa Civil, que, a partir da previsão meteorológica de um evento 
chuvoso de certa magnitude, avisa a população e executa o plano de retirada, com 7 a 8 horas 
de antecedência. 
 
Deve-se incentivar ao máximo a participação da população na implementação do plano, 
principalmente no Sistema de Alerta e na implementação de áreas de amortecimento. Nestas 
áreas, procurar dar outros usos públicos tais como equipamentos de lazer, para que a 
população se aproprie das mesmas. 
 
 
Santo André 
 
Todos os pontos de inundação da cidade foram mapeados, a partir deste mapa foram 
analisadas as causas. Algumas são de caráter intermunicipal que, isoladamente, o município 
não consegue resolver, outras tratavam de deficiências do sistema. Com este trabalho os 
pontos de inundação foram reduzidos de 100 em 1998, para cerca de 40 e poucos pontos 
atualmente. Algumas medidas foram estruturais e outras, de custo muito baixo, foram ajustes, 
como inverter o fluxo de algumas canalizações, trabalhar com algumas válvulas para evitar o 
retorno para os bairros da água dos principais canais. 
 
Existem vários locais de inundação que o município não consegue implantar as medidas 
estruturais necessárias, por falta de recursos. Nestes locais, quando necessário, é implantado o 
Sistema de Alerta. O município de Santo André tem uma equipe de relações comunitárias que 
trabalha com a população. Toda a população local é cadastrada. Quando a Defesa Civil Estadual 
de previsão meteorológica informa a previsão de uma certa precipitação, a equipe informa à 
população dessas áreas. 
 
 
 
19
Financiamento dos sistemas de drenagem urbana 
 
Ao analisar o saneamento básico como um todo, pode-se perceber que o problema do 
financiamento para o abastecimento de água já foi resolvido. Para o esgotamento sanitário o 
problema é um pouco mais complicado porque neste estão envolvidas questões de 
indivisibilidade parcial e externalidades. O que se adota no Brasil é uma tarifa "simplista" 
amarrando a cobrança do esgotamento sanitário ao volume de água efetivamente consumido. 
 
Na drenagem urbana o problema é mais complicado. Têm-se questões de indivisibilidade de 
oferta de uso. Não se pode alocar um custo a um determinado usuário da mesma maneira que 
não há como excluir esse usuário dos benefícios da melhoria do sistema. Atualmente o 
financiamento dos sistemas de drenagem urbana está mais ou menos de, acordo com a Figura 
9, em que tem-se o orçamento municipal financiando tanto a implantação como a ampliação do 
sistema de drenagem e a sua manutenção e gestão. 
 
Eventualmente temos os empréstimos de entidades estaduais e federais ou bancos 
internacionais alocando recursos para implantação de ação desses sistemas. Mas a manutençãoe a gestão, praticamente, ficam integralmente vinculadas ao orçamento municipal. 
 
 
 
 
Figura 9 Fluxograma esquemático do financiamento da drenagem urbana 
 
É importante ressaltar a dificuldade que a administração municipal possui de utilizar os 
mecanismos de controle já existentes. Primeiro a prefeitura apresenta um quadro de escassez 
de técnicos especializados, enfatizando a necessidade de suporte técnico. Resolvida a questão 
técnica, faltam recursos. Atualmente não há um mecanismo indutor que garanta recursos para 
aplicação das medidas. 
 
O que se observa no Brasil é uma inadequação dos recursos alocados na drenagem urbana. 
Essa inadequação se manifesta tanto na insuficiência de investimentos, o que se reflete na 
fragilização da estrutura organizacional e nas deficiências da infra-estrutura da drenagem 
urbana, como também, na descontinuidade de fluxos financeiros, ou seja, há freqüentemente a 
paralisação de obras e grandes deficiências nos programas de manutenção. 
 
Diante dos problemas apresentados percebe-se a necessidade de uma reflexão sobre a adoção 
de novos mecanismos de captação de recursos. No que diz respeito ao modelo para 
financiamento é constatada a clara necessidade da implantação de mecanismos de cobrança 
assegurando, então, a viabilidade da estrutura institucional proposta anteriormente. 
 
 
 
orçamento 
municipal 
 
implantação 
ampliação 
manutenção 
gestão 
 
empréstimos 
 
20
 
No município de Santo Andre, a partir da transferência do sistema de drenagem, a autarquia 
sofreu com a questão do financiamento de todos os serviços. Até então ela tinha só os 
subsídios da tarifa de água e esgoto. Em 1998, foi implementada a taxa de manutenção da 
drenagem, que é no valor aproximado de R$ 2,00/mês por família e é implementada totalmente 
na manutenção dos sistemas. Depois no ano 2001, criou a taxa da coleta dos resíduos 
infectantes e limpeza pública incluída no IPTU foi transferida para o SEMASA. 
 
A Tabela 2 apresenta algumas alternativas das modalidades de financiamento com suas 
características e um levantamento dos impactos legais e políticos, bem como a sua 
receptividade junto à população. 
 
Tabela 2 Características e impactos dos diferentes modos de financiamento 
 
Características básicas Impactos Modalidade de 
financiamento 
Base 
física 
Caráter 
incitativo 
Equidade Facilidade técnica 
de implementação 
Legais e 
políticos 
Opinião 
pública 
Imposto específico Não Não Possível Sim Forte Forte 
Taxa de impermeabilização 
cobradas em âmbito local 
Sim Sim Possível Não Forte Moderad
o 
Cobrança de taxas pelas 
agencias de água 
Sim Sim Possível Não Moderado Fraco 
Cobrança acoplada ao 
consumo de água 
Não Não Não Sim Fraco Forte 
 
Pode-se concluir que a taxa de impermeabilização apresenta uma alternativa mais interessante, 
mais viável, devido à pertinência e embasamento físico, e tão importante quanto, existe o 
caráter incitativo para o controle na produção do escoamento. A cobrança dessa taxa 
aconteceria em âmbito local no sentido de resguardar a autonomia econômica, financeira e 
administrativa do órgão gestor de drenagem urbana. Evidentemente se for criada o preço 
metropolitano de saneamento essa taxa seria cobrada no âmbito dessa empresa metropolitana 
de saneamento, e não dentro do município especificamente. 
Limitações do PDDU 
 
Do ponto de vista técnico, para o desenvolvimento do PDDU e o funcionamento do sistema de 
drenagem, as seguintes limitações emergem como principais: 
 
1) O conhecimento precário do sistema de drenagem já construído, seu estado de 
conservação e suas condições operacionais. Poucos municípios dispõem de um cadastro 
atualizado das redes implantadas e de políticas gerenciais para atualização desse cadastro. 
Em decorrência disso, faltam políticas de recuperação e manutenção preventivas e a 
previsão de recursos orçamentários, meios materiais e humanos para desempenhá-las. 
 
2) Na maioria dos municípios são poucos os dados disponíveis e o custo do levantamento de 
campo é muito alto. Muitos municípios resumem esta fase a relatórios descritivos, o que 
resulta em planos de drenagem muito suscintos e genéricos, que não contemplam as 
especificidades da região e não orientam o dimensionamento hidráulico. Este tipo de plano 
acaba sendo esquecido pela comunidade e até pelos órgãos gestores, pois sua aplicação 
prática é bem limitada. 
 
 
 
21
 
3) Quando tentam organizar a manutenção e o gerenciamento do sistema de drenagem, os 
municípios enfrentam o problema de ausência de dados, ou seja, cadastro técnico 
deficiente, falta de capacitação do corpo técnico, falta de cultura de planejamento e 
manutenção tanto por parte dos órgãos quanto da população, falta de monitoramento do 
sistema e falta de recursos. O levantamento de dados e estruturação do cadastro são 
elementos que aumentam muito os recursos financeiros necessários à contratação de um 
Plano Diretor de Drenagem Urbana. 
 
4) O precário conhecimento sobre os processos hidrológicos e o funcionamento hidráulico dos 
sistemas implantados. Constata-se a inexistência ou insuficiência de monitoramento 
hidrológico em áreas urbanas, no Brasil, mesmo quando se tratam de grandes 
aglomerações urbanas. Essa restrição impede o desenvolvimento de metodologias de 
dimensionamento de novos sistemas, o diagnóstico correto de problemas de funcionamento 
em sistemas existentes, a adequada concepção de dimensionamento de soluções para 
esses problemas, a avaliação de impactos ambientais decorrentes de intervenções no 
sistema existente do desenvolvimento urbano sobre os meios receptores, a análise de 
efetividade das medidas de controle adotadas, entre outros. 
 
5) Inadequação das equipes técnicas e gerenciais responsáveis pelos serviços de drenagem 
pluvial tanto no número de profissionais quanto na qualificação e atualização técnica para o 
exercício da função. A falta de estrutura leva as prefeituras a contratarem os Planos 
Diretores de Drenagem e, muitas vezes eles são feitos à distância, sem levar em 
consideração as especificidades locais, com planos de ação irreais e falta de participação da 
comunidade e até mesmo dos órgãos envolvidos. 
 
Todas as questões anteriormente discutidas são baseadas num arcabouço jurídico para 
regulamentação e controle que apresentam uma série de conflitos que acabam por dificultar o 
adequado gerenciamento da drenagem urbana. A Tabela 3 apresenta o quadro institucional da 
drenagem urbana no Brasil apontando os diversos níveis dos problemas relacionados à 
drenagem e suas respectivas causas. 
 
Tabela 3 Problemas relativos à estrutura institucional da drenagem urbana no Brasil 
 
Nível Problemas Causas 
- inadequação tecnológica - carência de investimentos em formação e atualização 
das equipes 
- equipes técnicas em 
pequenas cidades 
- volume de trabalho insuficiente para formação de 
equipes adequadas 
- desconhecimento do 
sistema de drenagem 
- inadequação de investimentos em cadastro e gestão 
patrimonial 
Equipe técnica 
 
- desconhecimento relativo 
dos processos físicos 
envolvidos 
- inadequação de investimentos no monitoramento 
hidrológico e ambiental 
- fragilidade do setor 
responsável pela drenagem 
- falta de autonomia e continuidade administrativa 
- inadequação do fluxo de recursos financeiros 
Municipal 
- fragmentação e duplicação 
das ações no tocante à 
drenagem 
- multiplicidade de atores envolvidos 
- inadequação do fluxo de informações entre os atores 
- inadequação no tratamento 
de questões 
intermunicipais 
- abordagem estritamente municipal dos problemas Intermunicipal 
 
- inadequação no tratamento 
de questões metropolitanas 
- abordagem estritamente municipal dos problemas 
Estado/União - deficiências naestrutura 
jurídica 
- carência de formalização das necessidades 
 
22
Conclusões e Recomendações 
 
Práticas correntes e problemas existentes 
 
O processo desordenado do crescimento urbano das cidades brasileiras tem produzido um 
impacto significativo no sistema de drenagem dos municípios, concebidos, geralmente, na 
evacuação rápida dos volumes precipitados. O aumento da freqüência e magnitude das 
inundações tem sido a principal conseqüência deste processo desordenado. 
 
A práticas do rápido escoamento das águas pluviais têm se mostrado insustentáveis, 
apresentando previsão de densidade populacional bem inferior à real, falhas de projeto por não 
considerar todas as interferências na bacia hidrográfica, falta de manutenção dos sistemas e 
falta de planejamento. Algumas soluções adotadas no passado apenas têm transferido os 
problemas para outro ponto da bacia, muitas vezes agravando sua magnitude. 
 
A urbanização altera o balanço hídrico e gera inúmeros impactos ambientais, os quais podem 
ser minimizados pelo planejamento de sistemas de drenagem: quanto maior for a compreensão 
entre as relações espaço urbano-ciclo hidrológico maior será o potencial do planejamento em 
minimizar os impactos. 
 
Planejamento urbano para uma drenagem urbana sustentável 
 
O planejamento da drenagem urbana deve preservar os mecanismos naturais de escoamento 
da bacia hidrográfica, minimizando os impactos ambientais da urbanização. A idéia básica é 
manter a vazão pré-existente, não aumentar as vazões à jusante, não transferindo o impacto 
do novo desenvolvimento para o sistema de drenagem e priorizando ações de controle do 
escoamento na fonte. Desta forma, o proprietário do empreendimento se responsabiliza pela 
implementação de medidas de controle na sua propriedade, não repassando esse custo ao 
poder público. 
 
Adoção das melhores práticas no Brasil 
 
Para o controle das águas superficiais na fonte são criadas estruturas que favorecem a 
infiltração, mas é importante lembrar que só o fato de não impermeabilizar, já mantem a 
velocidade do escoamento e não há a tendência de ter um hidrograma com uma vazão de pico 
mais elevada, o que representa um fator positivo na drenagem urbana. A filosofia a adotada é a 
utilização de mecanismos de favorecimento de quem controla, pode ser, inclusive, ao invés de 
cobrar, deixar de cobrar alguma coisa, ter uma redução de impostos daquele morador ou 
daquele empreendedor que controla o seu escoamento. 
 
A utilização de soluções alternativas, às vezes, tem capacidades limitadas. A própria cidade é 
um impacto. Nesse sentido surgem questões com soluções apenas com técnicas mais 
sofisticadas. A utilização de novas tecnologias pode ser precedida de implementação de 
projetos piloto para demonstrar ao público, governo e meio técnico, as possibilidades, utilizando 
para tanto, a experiência do exterior para soluções de baixo custo e eficiência. 
 
 
 
23
Política existente 
 
Com relação aos instrumentos legais disponíveis pode-se concluir que a limitação não seja da 
existência dos mesmos, mas sim, da estrutura institucional montada no Brasil, que apresenta 
dependência direta do poder municipal. Há instrumentos legais tais como a obrigatoriedade do 
Plano Diretor para cidades de porte mais significativo, embora a experiência mostre que apenas 
uma pequena parte das cidades dispõe desse instrumento. 
 
Um aspecto da sustentabilidade dos Planos e Políticas legalmente estabelecidas é a demora na 
implantação e a dificuldade de fiscalização. As leis nem sempre são obedecidas e o 
desenvolvimento urbano da nova periferia é, na maioria das vezes, irregular. A tendência atual 
é fortalecer nos planos a participação popular e a educação ambiental. 
 
Financiamento dos sistemas de drenagem urbana 
 
Assim como a questão da capacitação técnica, na questão do financiamento, recomenda-se a 
implantação de mecanismos indutores de financiamentos externos. Os três níveis de governo 
municipal, estadual e federal devem estar integrados para implementação de uma política de 
drenagem urbana sustentável. Existe, claramente, a necessidade de uma estrutura institucional 
que tenha um suporte técnico para as cidades de pequeno porte que não possuem condição de 
manutenção de equipes técnicas para tratar convenientemente os problemas de drenagem. 
 
Várias das soluções são pensadas dentro das universidades, mas há uma distância muito 
grande entre a pesquisa da comissão técnica e a implementação. Há claramente um problema 
na transferência de tecnologia do conhecimento para as soluções. É um desafio a popularização 
do conhecimento e a sensibilização do meio técnico, no tocante à drenagem. 
 
Estrutura institucional 
 
Do ponto de vista institucional, embora seja atribuição da União a prevenção de eventos 
críticos, a esfera pública responsável pela drenagem urbana é o município. A realidade dos 
pequenos municípios brasileiros é a de que estes enfrentam problemas sérios pela falta de 
recursos, de capacitação técnica e de condições de desenvolver trabalhos e soluções, além da 
diferenciação das políticas pelo tamanho das cidades. 
 
A ação coordenada entre os poderes federal, estadual e municipal é essencial para implantar 
uma drenagem urbana sustentável. A solução dos problemas está, então, na criação e 
estabelecimento de uma estrutura organizacional e institucional sólida, efetiva, perene de 
recursos financeiros para administrar as ações da drenagem urbana de maneira independente 
de questões políticas e de forma sintonizada com os interesses efetivos que se quer dar. Nesse 
contexto, o Estatuto da Cidade desempenha um papel importante para o gerenciamento da 
drenagem urbana. 
 
Na área federal o que se espera é a elaboração de diretrizes gerais de uma política nacional de 
saneamento ambiental que irá buscar a regulamentação dos instrumentos existentes, fazer uma 
discussão mais aprofundada do Estatuto da Cidade, para que se possa trabalhar em parceria, 
união, estados e municípios. Admitindo que cada problema exige um modelo distinto e que um 
modelo de políticas intermunicipais é conveniente em muitos casos, para resolver os conflitos 
de gestão, o governo federal pode ter uma participação importante. Cabe também aos órgãos 
federais e estaduais a implementação de uma política de capacitação dos recursos humanos. 
 
Diante do exposto, pode-se afirmar que existe uma necessidade da reestruturação institucional 
das atitudes de gerenciamento da drenagem urbana no Brasil. Analisando para o caso 
brasileiro, pode-se propor as soluções detalhadas na Tabela 4, que apresenta as possíveis 
soluções para os problemas institucionais da drenagem urbana no Brasil. 
 
 
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Tabela 4 Possíveis soluções para os problemas relativos à estrutura institucional da 
drenagem urbana no Brasil 
 
Problemas a nível da 
intervenção 
 Possíveis soluções 
municipal 
Inadequação tecnológica 
das equipes técnicas 
• definição de uma política de treinamento e atualização técnica e de 
recursos humanos, 
• disponibilização de recursos financeiros necessários 
Desconhecimento do 
sistema 
de drenagem 
• realização do cadastro dos sistemas existentes, 
• definição de uma política de atualização cadastral 
• disponibilização de recursos financeiros, materiais e humanos para a 
gestão do cadastro do patrimônio 
Desconhecimento dos 
processos físicos envolvidos 
• estabelecimento de um serviço de monitoramento hidrológico e da 
qualidade de água dos sistemas de drenagem e dos meios receptores, 
• constituição de equipes especializadas em modelagem hidrológica e 
hidráulica de sistemas de drenagem urbana; 
• disponibilização de recursos financeiros, materiais e humanos para o 
monitoramento hidrológico e ambiental 
Fragilidade do setor 
responsável pela drenagem 
• instituição de órgão gestorcom autonomia gerencial e financeira 
Fragmentação e duplicação 
das ações no tocante à 
drenagem 
• instituição de órgão gestor autônomo ou 
• racionalização interna da estrutura administrativa municipal 
• melhoria do fluxo interno de informações 
regional 
Equipes técnicas em 
pequenas cidades 
• estabelecimento de agencias estaduais ou federais de apoio técnico ou 
• estabelecimento de instituições regionais de drenagem urbana ou 
• atribuição da regulação e da gestão às agencias de água 
Inadequação no tratamento 
de questões intermunicipais 
• instituição de “consórcios intermunicipais” ou 
• estabelecimento de instituições regionais de drenagem urbana ou 
• atribuição às agencias de água das atividades de cooperação 
intermunicipal 
Inadequação no tratamento 
de questões metropolitanas 
• instituição de “comunidades urbanas” ou 
• estabelecimento de instituições regionais de drenagem pluvial urbana ou 
• atribuição às agencias de água das atividades de concertação 
intermunicipal 
municipal, estadual e nacional 
Deficiências na estrutura 
jurídica 
 
• revisão e adequação do arcabouço jurídico

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