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Instituto de Ciências Sociais Aplicadas – ICSA Departamento de Serviço Social - DCSO Curso Serviço Social – Turma 17.1 (2º período) Disciplina: Teoria Social II Docente: Carina de Souza Discente: Izabela Fernandes Resende Avaliação Escrita 1) Destaque as principais diferenças entre os períodos: Fordista/Keynesianista e Acumulação Flexível/Neoliberalismo. 2) Qual a importância dos conteúdos abordados na Unidade II para a formação em Serviço Social? Questão 1) Tomando por base a obra "Condição Pós-Moderna" de Davyd Harvey, e reassumindo seu debate, segue-se uma breve elucidação, a respeito das principais características do Fordismo e Acumulação Flexível, incluindo a vertente estatal de cada um, Keynesianismo e Neoliberalismo, respectivamente. Inicialmente, Fordismo e Acumulação Flexível são diferentes tipos de Regimes de Regulamentação (ou Padrão de Acumulação) constituídos na ordem do capital. Em seu cerne, um regime de acumulação é um processo adotado nos períodos entre crises, cuja finalidade é a busca por soluções para se retomar a ampliação da taxa de lucro. Sua interferência se dá, majoritariamente, através da organização da produção de mercadorias e do posicionamento do Estado em relação à contradição da relação Capital versus Trabalho (dinâmica motriz das relações na ordem do capital). O padrão fordista consistia numa superprodução, cujas mercadorias seriam também consumidas forma massiva, tudo isso contido em um novo sistema de reprodução da força de trabalho direcionados por uma nova política de controle e gerência do trabalho. No entanto, esse tipo de produção, apesar de já contar com uso de maquinaria, era inflexível, uma vez que não havia diversidade de modelos e produtos. O lema era "produção em massa, consumo em massa" e era comum a estocagem de produtos. O tempo histórico de seu nascimento se data, representativamente, de 1914, e desde seu princípio, esse modo de regulamentação já dava indícios do seu potencial de aumento da taxa de lucro. Já sua disseminação se dá no pós II Guerra Mundial, por volta de 1940. Analogamente, uma justificativa para essa diferença temporal, entre surgimento e disseminação desse padrão de acumulação, foi o tumultuado período entre guerras vivido na Europa (I e II Guerra Mundial, Crise de 1929) aliado à própria resistência dos trabalhadores em se inserirem em um trabalho tipo de produção tão mecanicista e inflexível que minava suas capacidades teleológicas. Ainda segundo Harvey, Henry Ford delimitou a jornada de oito horas diárias de trabalho e pagamento de cinco dólares com o desígnio de disciplinar o operariado, possibilitá-lo ter tempo e condição econômica para acessar as mercadorias que eram produzidas aceleradamente pelas indústrias, para poder assim efetivar a mais valia para o burguês. Nas fábricas, no entanto, haviam placares com metas a serem cumpridas, controle do tempo de produção, nível hierárquico nas indústrias (o trabalhador faz a mesma atividade ao longo de toda a sua vida, sem possibilidade de ascensão em seu emprego). Quanto à vertente política do modelo fordista, o Keynesianismo, representava a ideia de atuação do Estado na implementação de políticas sociais que favorecessem o consumo (fetichismo da mercadoria para a concretização da mais valia), início de projetos de seguridade, ampliação do ensino técnico (capacitação para os trabalhadores lidarem com as máquinas) e taxação progressiva nos países de capital central. Em outras palavras, o Estado é chamado a intervir na questão social, reconhecendo e legitimando alguns direitos do trabalhador, criando políticas públicas com propósito de abarcar revoltas e greves e cessasse um pouco a condição de luta da classe. Esse período, vivenciado nos países de capital central como os da Europa e os EUA, ficou conhecido como "Welfare State", "30 anos gloriosos do Capitalismo" e ainda "Estado de Bem-estar Social", e perdurou do fim da década de 1940 até o início da década de 1960. Em meados dos anos 60, o modelo fordista já se mostrava sintomático quanto à decadência. O autor ressalta que tal panorama se devia a fatores como a reestruturação da economia da Europa Ocidental e Japão, a alta inflação nos EUA (principalmente devido ao seu destaque ser a indústria bélica que, com o fim das guerras, teve significativo enfraquecimento da sua demanda consumidora) e a substituição das políticas de importação principalmente na América Latina (um dos países de "Terceiro Mundo"). Com toda sua rigidez, o panorama econômico dos países de capital central e de capital periférico, somados à resistência trabalhadora, tornavam o cenário propício ao fracasso do regime fordista e, os anos entre 1970 e 1980, se tornariam um inquieto momento para reajuste econômico, social e político, propício para o nascimento modelo flexível. Contrariamente ao Fordismo e toda sua rigidez, a Acumulação Flexível e sua produção "Just in time" ("na hora certa"), como o próprio nome já indica, flexibilizou as relações de produção (principalmente as de distribuição), de mercado e de padrões de consumo. A produção era possível em pequenos lotes, possibilitando uma pluralidade de produtos (atendendo melhor às necessidades do mercado, sendo destinada exatamente pro perfil do seu consumidor final), acirrando a concorrência e praticamente abolindo os estoques, tão comuns no padrão anterior. Esse estreitamento entre os laços entre produção e consumo, fica evidente no trecho "(...) se apóia na flexibilidade dos processos de trabalho, dos mercados de trabalho, dos produtos e padrões de consumo. Caracteriza-se pelo surgimento de setores de produto inteiramente novos, novas maneiras de fornecimento de serviços financeiros, novos mercados e, sobretudo, taxas altamente intensificadas de inovação comercial tecnológica e organizacional." (HARVEY, 1989; 140) Já na acumulação flexível, ocorre um enxugamento da força viva nas linhas de produção (contração do emprego industrial depois de 1972) e, intrinsicamente, o crescimento do setor de serviços (principalmente distribuição, transportes e serviços pessoais) e ainda, a compressão "espaço-tempo", que segundo o autor, propicia aos capitalistas exercer maior controle sobre o trabalho executado pelos trabalhadores. Ou seja, em paralelo ao crescimento do desemprego estrutural, aumenta-se os empregos em tempo parcial. Como resultados, tem-se maior segmentação da classe trabalhadora e dos sindicatos, diversificação do trabalho e rápidas mudanças no desenvolvimento desigual, tanto entre setores da produção quanto entre áreas geográficas. Ainda segundo Harvey, a reestruturação do mercado de trabalho proposta consistia no incremento de competitividade e na constrição das margens de lucro. Sendo assim, com o poder sindical reduzido, ficava mais fácil estabelecer contratos cada mais flexíveis e positivos para as corporações. Outro aspecto é que em um polo cresciam os pequenos negócios, "estruturas organizacionais patriarcais e artesanais" (HARVEY,1998), de outro, continuavam as fusões. Se, para muitos o capitalismo parece desorganizado, para Harvey, "Porque o mais interessante na atual situação é a maneira como o capitalismo está se tornando cada vez mais organizado através da dispersão, da mobilidade geográfica e das respostas flexíveis nos mercados de trabalho, nos processos de trabalho e nos mercados de consumo, tudo isso acompanhado por pesadas doses de inovação tecnológica, de produto e institucional." (HARVEY, 1989; 150-151) Um ponto importante da transição do fordismo para a acumulação flexível - porém pouco enfatizado pelo autor - é a maior inclusão dasmulheres ao processo produtivo, devido à maior destreza na exploração de sua força de trabalho em tempo parcial (possibilitando também menores salários) e sua maior amabilidade e submissão. Já o conhecimento científico, estaria cada vez mais voltado para as classes com maior poder aquisitivo e se mostrava uma excelente arma para acompanhar as intensas mudanças de gostos e tendência de consumo nesse novo modelo de acumulação. Quanto ao Neoliberalismo, sua veia política, este se rechaça na eliminação do Estado como agente econômico, passando a ser o mercado o regulador da própria economia. Ao mesmo tempo em que garante alguns direitos sociais, enxota o trabalhador do processo produtivo e não cria empecilhos para o desenvolvimento do capital, criando-lhe condições favoráveis para que aumente sua taxa de lucro, como por exemplo, dispensando as multinacionais instaladas em países (ditos) subdesenvolvidos de pagarem uma série de impostos, leis ambientais flexíveis e com pouca fiscalização, etc. Questão 2) O estudo do cerne do processo produtivo na ordem do capital, bem como o aprofundamento dado através dos conteúdos abordados ao longo de toda a disciplina e principalmente da Unidade II, se fazem extremamente importantes para compreender a dinâmica coercitiva, alienante e violenta do capital, principalmente sobre classe trabalhadora, principalmente em sua fase neoliberal. O capital exerce seu poder coercitivo na tanto estrutura social, quanto nas relações econômicas e, indo mais além, também se rebate nas relações dos interpessoais e intrapessoais dos indivíduos. Claro que seu efeito é diferente de acordo com cada classe, e com cada país, e sua dinâmica de atuação é resguardada pelo do Estado – que por vezes é chamado a participar atuando sobre a Questão Social (fordismo), e noutras é praticamente expulso (neoliberalismo), sendo uma relação um tanto ambígua, um verdadeiro "morde e assopra". Em países de capital central, por exemplo, os efeitos são mais "brandos" enquanto em países de capital periférico, como os da América Latina, a exploração da mais valia continua sendo absoluta. Todas as suas crises são mecanismos necessários para sua manutenção e sustentação, uma vez que através delas que a exploração sobre o trabalhador progride e se naturaliza ainda mais para grande parte da classe trabalhadora. O Assistente Social é o principal agente chamado a atuar na contradição Capital versus Trabalho e, portanto, o conhecimento teórico sobre a dinâmica do capital desde seu nascimento até a contemporaneidade é essencial para que este profissional se localize como agente em posição de luta contra as medidas de manutenção do regime capitalista (por exemplo, a questão das reformas trabalhistas, e da reforma da previdência brasileiras) e favorável à classe trabalhadora, que é quem sofre sordidamente as mazelas da exploração capitalista ainda mais intensas em condições neoliberais. Referência Bibliográfica: HARVEY, David (1989). Introdução. In: A Condição Pós- Moderna: Uma pesquisa sobre as Origens da Mudança Cultural. Edições Loyola. HARVEY, David (1989). Fordismo. In: A Condição Pós-Moderna: Uma pesquisa sobre as Origens da Mudança Cultural. Edições Loyola. HARVEY, David (1989). Do Fordismo à Acumulação Flexível. In: A Condição Pós- Moderna: Uma pesquisa sobre as Origens da Mudança Cultural. Edições Loyola.
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