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Arlindo Ugulino Netto – MICROBIOLOGIA – MEDICINA P3 – 2008.2 1 FAMENE NETTO, Arlindo Ugulino. MICROBIOLOGIA INTRODUÇÃO (Professora Socorro Vieira) A microbiologia (Mikros = pequeno + Bio = vida + logos = cincia) o ramo da biologia que estuda os microrganismos, incluindo eucariontes unicelulares e procariontes, como as bactrias, fungos e vrus. Atualmente, a maioria dos trabalhos em microbiologia feita com mtodos de bioqumica e gentica. Tambm relacionada com a patologia, j que muitos organismos so patogenicos. Microbiologistas tm feito muitas contribui es biologia, especialmente nos campos da bioqumica, gentica, e biologia celular. Micrbios possuem caractersticas que os tornam os modelos de organismos ideais. Foi descoberta a origem das bactrias, tendo sido anterior a origem de outros corpos, tais como protozorios, eucariotes e vrus. Dentre os citados, o ltimo a se desenvolver foram os protozorios, por tratar-se de seres com uma complexidade maior. So muito pequenos, ento eles no consomem muitos recursos Alguns possuem ciclos de vida bastante curtos (aprox. 30 minutos para E. coli, desde que esteja na presen a das condi es timas de crescimento) Clulas podem sobreviver facilmente em isolamento das outras clulas Eles podem-se reproduzir por diviso mittica, permitindo a propaga o de clones idnticos em popula es Eles podem ser congelados por longos perodos de tempo. Mesmo se 90% das clulas so mortas pelo processo de congelamento, h milhes de clulas em um mililitro da cultura lquida. Estes tra os permitiram que Joshua e Esther Lederberg pudessem dirigir um elegante experimento em 1951 demonstrando que adapta es evolutivas surgem melhor da preadapta o do que da muta o dirigida. Para isto, eles inventaram a replica o em placa, que permitiu que eles transferissem numerosas colnias de bactrias para locais especficos de uma placa de petri preenchida com gar-gar para regies anlogas em diversas outras placas de petri. Aps a replica o de uma placa com E. coli, eles expuseram cada uma das placas a fagos. Eles observaram que colnias resistentes aos fagos estavam presentes em partes anlogas de cada placa, possibilitando-os concluir que os tra os de resistncia aos fagos existiam na colonia original, que nunca havia sido exposta aos fagos, ao invs de surgirem aps as bactrias terem sido expostas aos vrus. A extensiva caracteriza o dos micrbios tem nos permitido o uso deles como ferramentas em outras linhas da biologia: Bactrias (especialmente Escherichia coli) podem ser usadas para reduplicar DNA na forma de um (plasmdeo). Este DNA frequentemente modificado quimicamente in vitro e ento inserido em bactrias para selecionar tra os desejados e isolar o produto desejado de derivados da rea o. Aps o crescimento da bactria e deste modo a replica o do DNA, o DNA pode ser adicionalmente modificado e inserido em outros organismos. Bactrias podem tambm ser usadas para a produ o de grandes quantidades de protenas usando genes codificados em um plasmdeo. Genes bacteriais tem sido inseridos em outros organismos como genes reprteres. O sistema de hibrida o em levedura combina genes de bactrias com genes de outros organismos j estudados e os insere em uma clula de levedura para estudar intera es proticas em um ambiente celular. HISTRICO Esta rea do conhecimento teve seu incio com os relatos de Robert Hooke e Antony van Leeuwenhoek, no sculo XVII, que desenvolveram microscpios que possibilitaram as primeiras observa es de bactrias e outros microrganismos, alm de diversos espcimes biolgicos. Leeuwenhoek descobriu por acidente uma maneira de observar seres microscpicos no leite: lustrando lentes no local onde trabalhava, observou que, associando algumas delas, era possvel observar elementos minsculos, como os microorganismos. Nesse momento, acontecia a descoberta do mundo microbiano, ou seja, o mundo de “pequeninos animlculos” (bactrias, fungos, protozorios), chamados assim por ele. Embora van Leeuwenhoek seja considerado o "pai" da microbiologia, os relatos de Hooke, descrevendo a estrutura de um bolor, foram publicados anteriormente aos de Leeuwenhoek. Assim, embora Leeuwnhoek tenha fornecido importantes informa es sobre a morfologia bacteriana, estes dois pesquisadores devem ser considerados como pioneiros nesta cincia. Recentemente foi publicado um artigo discutindo a importncia de Robert Hooke para o desenvolvimento da Microbiologia. Arlindo Ugulino Netto – MICROBIOLOGIA – MEDICINA P3 – 2008.2 2 TEORIA DA ABIOGÊNESE Cerca de 2 mil anos atrs, surgiu a idia de que a vida poderia se originar espontaneamente da matria inanimada. Aristteles e outros sbios da poca acreditavam que larvas poderiam surgir "espontaneamente" do lixo, assim como outros seres poderiam aparecer na terra, da lama e de outros materiais. Aristteles admitia que, para um ser vivo se originar da matria bruta bastava apresentar o que ele chamou de "princípio ativo", que faria uma pedra se transformar num peixe, desde que as condi es fossem favorveis. Entretanto, nunca ocorreu aos pesquisadores isolar sua experincia para que os microorganismos no pudessem "entrar" no recipiente que continha os ingredientes. Assim, tal experimento sofria abertamente a interferncia externa. A teoria da abiognese come ou a desmoronar quando essa possibilidade foi testada. TEORIA DA BIOGÊNESE A vida s se origina de outra forma pr-existente e no de um "Principio ativo" que segundo Aristteles, poderia ser um objeto inanimado. As experincias do mdico e bilogo italiano Francesco Redi e Louis Pasteur sepultaram definitivamente a teoria da abiognese. Francesco Redi (1668), cientista italiano, foi um dos primeiros biogenistas a questionar a teoria da gera o espontnea. Em seu experimento, Redi colocou peda os de carne em dois frascos abertos, cobrindo um deles com uma fina camada de gaze. Aps instantes da prepara o, analisou que os dois frascos ficaram rodeados por moscas, mas elas s podiam pousar no peda o de carne contida no frasco descoberto. Transcorridos alguns dias, com a matria orgnica decomposta, notou o surgimento de larvas apenas no frasco aberto, concluindo ento que as larvas surgiram do desenvolvimento de ovos colocados pelas moscas, e no da carne em putrefa o, dotada de fonte de vida. Mas que a carne somente contribua com um meio propcio para atra o de moscas, deposi o de ovos e ecloso de larvas. Com este teste provou que a vida no surge espontaneamente em qualquer circunstncia, mas atestando que a vida somente se origina de outro ser vivente. Em meados do sculo XVII, o holands Antonie van Leeuwenhoek com um microscpio descobriu o mundo dos microorganismos, os micrbios. Os abiogenitas acreditaram ainda mais na sua tese, afirmando que seres to pequenos no se reproduzia e sim surgiam espontaneamente. O cientista ingls John Needham (1713-1481) realizou seus experimentos para provar que os micrbios surgiam de gera o espontnea. Diversos frascos contendo um caldo nutritivo foram submetidos fervura por 30 minutos. Depois Needham lacrava os frascos com rolhas e os deixava por repouso por alguns dias. Depois desse repouso ele examinou o caldo com a ajuda de um microscpio e notou a presen a de microorganismos. A explica o dada foi que a fervura tinha matado todos os seres eventualmente presentes no caldo e nenhum microorganismo poderia entrar no frasco aps de ter sido lacrado com rolhas. Portanto, s havia uma explica o: os microorganismos surgiram por gera o espontnea ou abiognese. Aps alguns anos o padre e pesquisador italiano Lazzaro Spallanzani (1729-1799) repetiu os experimentos de Needham com algumas modificaes. Spallanzani colocou caldo nutritivo em bales de vidro e fechou-os hermeticamente esses bales eram ento colocados em caldeires e fervidos por cerca de uma hora. Dias depois ele examinou os caldos e obteve resultados completamente diferentes aos de Needham: o caldo estava livre de microorganismos. Spallanzani explicou que Needham submeteu a solu o fervura por um tempo curto de mais para esterilizar o caldo. Needham respondeu s crticas afirmando que o tempo longo usado pelo cientista destrua a for a vital ou princpio ativo que dava vida matria, e ainda tornava o ar desfavorvel ao aparecimento da vida. Em fins do sculo XVII pde-se entender porque o ar se tornava desfavorvel ao aparecimento da vida. Descobriu-se que o oxignio essencial vida. Segundo abiogenistas o aquecimento prolongado e a veda o hermtica excluam o oxignio tornando impossvel a sobrevivncia de qualquer forma de vida. Foi por volta de 1860 que um grande cientista francs conseguiu provar definitivamente que seres vivos s podem se originar de outros seres vivos. Louis Pasteur (1822-1895) preparou um caldo de carne – excelente meio de cultura para micrbios – colocou ento, esse caldo em um frasco com pesco o de cisne e submeteu o lquido contido dentro desse frasco fervura para a esteriliza o. Aps a fervura a medida que o lquido resfriava, gotculas de gua se acumulavam no pesco o do frasco agindo como uma espcie de filtro retendo os micrbios contidos no ar que penetrava no balo, impedindo a contamina o do caldo. Esse experimento mostrou que no era a falta de ar fresco que impedia a forma o de microorganismos no caldo. Pateur provou tambm que no havia nenhuma ‘’ for a vital’’ que era destruda aps a fervura, pois se aquele mesmo caldo esterilizado fosse submetido ao ar sem a filtragem que o balo pesco o de cisne proporcionava, surgiriam sim microorganismos que advinham de contamina o. Com esse espetacular Arlindo Ugulino Netto – MICROBIOLOGIA – MEDICINA P3 – 2008.2 3 experimento Pasteur recebeu um prmio compensador da Academia Francesa de Cincias e derrubou de uma vez por todas a hiptese da gera o espontnea ou abiognese. OBS1: Spallanzani durante seus experimentos submeteu seus caldos veda o hermtica, isto , livre de gazes. Um confeiteiro parisiense Fran ois Appert aproveitou as experincias de Spallanzani, notando que alimentos cozidos podiam ser guardados sob veda o hermtica sem se estragar, inventou a indstria de enlatados. OBS²: Pasteur submeteu seus caldos a uma cuidadosa tcnica de esteriliza o, com aquecimentos e resfriamentos bruscos. Hoje, essa tcnica conhecida como pasteuriza o. A partir destas descobertas e experincias que o mundo se viu voltado para um novo ramo da cincia. Lister (1867), por exemplo, viu-se preocupado em proteger as cirurgias desses seres microscpicos, desenvolvendo, assim, a cirrgia antissptica. Robert Koch (1876) e Pasteur se interessaram em estudar as possveis rela es desses seres com algumas doen as que acometiam popula es nesse tempo. Foi da que o primeiro observou bactrias no sangue de carneiro: bactrias causadoras da clera e tuberculose. Louis Pasteur foi requisitado para investigar a doen a do bicho- da-seda e durante seis anos tentou provar que um protozorio causava a doen a. Tambm estudou o papel dos microrganismos nas doen as dos seres humanos e dos animais. Em 1880 ele descobriu o que bactrias atenuadas conferiram prote o contra a clera aviria e em 1884, relatou que os vrus atenuados protegiam contra a raiva. Pasteur com a finalidade de matar esporos, iniciou a prtica de esterilizar as infuses empregando o vapor sob presso (15 libras a 121oC), enquanto que materiais estveis eram esterilizados em fornos com calor seco na temperatura de 160C. Robert Koch provou que as bactrias eram responsveis pela doen a do carbnculo. Foi o primeiro a provar que um tipo especfico de micrbio causa um tipo definido de doen a. Em 1877 foi o primeiro a utilizar o cristal violeta com sucesso para a colora o do antraz, Paul Ehrlich utilizou o azul de metileno e F Ziehl e F. Neelsen desenvolveram a colora o pelo cido, permitindo que Koch observasse mais tarde o bacilo da tuberculose. Introduziu tambm o meio contendo gar, identificou o bacilo da tuberculose e foi o primeiro a isolar as bactrias causadoras do antraz e da clera asitica. Koch, por volta de 1880, organizou postulados baseado em quatro critrios necessrios para provar que um micrbio especfico causa uma doen a particular. OBS: Postulados de Koch: Um microrganismo especfico deve sempre estar associado a uma doen a. O microrganismo deve ser isolado e cultivado em cultura pura, em condi es laboratoriais. A cultura pura do microrganismo produzir a doen a quando inoculada em animal susceptvel. possvel recuperar o microrganismo inoculado do animal infectado experimentalmente. O ramo da imunologia desenvolveu-se dos estudos iniciais da bacteriologia. Porm os chineses, persas e brahmins j praticavam a variolização, tcnica que consistia na exposi o de um indivduo so s crostas secas de um indivduo que se recuperava da doen a. Em 1776, Edward Jenner, introduziu a prtica de imuniza o ativa, expondo indivduos a antgenos da varola humana mais branda, protegendo-os da forma mais agressiva. Pasteur, aps 100 anos, estendeu o conceito de imuniza o ativa, quando observou que a clera aviria podia ser evitada inoculando cultura velha de bacilos, com a sua virulncia reduzida. Em seguida ele aplicou este princpio de imuniza o na preven o do carbnculo, denominando as culturas avirulentas de vacinas (do latim vacca, vaca) e o processo de imuniza o, com tais culturas, de vacinao. Ele desenvolveu este mtodo atravs da utiliza o de organismos atenuados e preparou vacinas protetoras contra o antraz, a erisipela suna e contra a raiva. Koch iniciou estudos sobre as rela es celulares do hospedeiro s infec es, o clssico de imunidade mediada por clulas foi a observa o, que o mesmo fez, quando injetou um antgeno derivado do organismo causador da tuberculose, ocasionando rea es inflamatrias tardias em seres humanos e animais quando expostos. Alexander Fleming (1881 – 1955) trabalhou como mdico microbiologista no Hospital St. Mary de Londres at o come o da Primeira Guerra Mundial. Durante a guerra foi mdico militar nas frentes de batalha da Fran a e ficou impressionado pela grande mortalidade nos hospitais de campanha causada pelas feridas de arma de fogo que resultavam em gangrena gasosa. Finalizada a guerra, regressou ao Hospital St. Mary onde buscou intensamente um novo anti-sptico que evitasse a dura agonia provocada pelas infec es durante a guerra. Os dois descobrimentos de Fleming ocorreram nos anos 20 e ainda que tenham sido acidentais demonstram a grande capacidade de observa o e intui o deste mdico britnico. O descobrimento da lisozima ocorreu depois que o muco de seu nariz, procedente de um espirro, casse sobre uma placa de cultura onde cresciam colnias bacterianas. Alguns dias mais tarde notou que as bactrias haviam sido destrudas no local onde se havia depositado o fluido nasal. O laboratrio de Fleming estava Arlindo Ugulino Netto – MICROBIOLOGIA – MEDICINA P3 – 2008.2 4 habitualmente bagunçado, o que resultou em uma grande vantagem para sua segunda importante descoberta. Em Setembro de 1928, Fleming estava realizando vários experimentos em seu laboratório e ao inspecionar suas culturas antigas antes de destruí-las notou que a colônia de um fungo havia crescido espontaneamente, como um contaminante, numa das placas de Petri semeadas com Staphylococcus aureus. Fleming observou outras placas e comprovou que as colônias bacterianas que se encontravam ao redor do fungo (mais tarde identificado como Penicilliumnotatum) eram transparentes devido a uma lise bacteriana. A lise significava a morte das bactérias, e no caso, das bactérias patogênicas (Staphylococcus aureus) crescidas na placa. CLASSIFICA O GERAL DOS SERES VIVOS Até a metade do século XX, os seres vivos são classificados em apenas duas categorias: reino animal e reino vegetal. Com o progresso da biologia, a classificação se amplia para incluir organismos primitivos que não têm características específicas só de animais ou de vegetais. A partir da década de 60, o critério internacionalmente aceito divide os organismos em cinco reinos: Moneras: seres unicelulares (formados por uma única célula) procariontes (células sem núcleo organizado). O material hereditário é constituído por ácido nucléico no citoplasma. São as bactérias e as cianófitas (algas azuis), antes consideradas vegetais primitivos. Protistas: seres unicelulares ou pluricelulares eucariontes (que possuem núcleo individualizado). Seu material genético está organizado nos cromossomos, dentro do núcleo. Representados por protozoários, como a ameba, o tripanossomo (causador do mal de Chagas) o plasmódio (agente da malária), que até a metade do século XX eram considerados animais primitivos e algas unicelulares e pluricelulares. Fungos: seres eucariontes uni e pluricelulares como as leveduras, o mofo e os cogumelos. Já foram classificados como vegetais, mas sua membrana possui quitina, molécula típica dos insetos e que não se encontra entre as plantas. São heterótrofos (não produzem seu próprio alimento), por não possuírem clorofila. Animais: são organismos multicelulares e heterótrofos (não produzem seu próprio alimento). Englobam desde as esponjas marinhas até o homem, cujo nome científico é Homo sapiens. Plantas: caracterizam-se por ter as células revestidas por uma membrana de celulose e por serem autótrofas (sintetizam seu próprio alimento pela fotossíntese). Existem cerca de 400 mil espécies de vegetais classificados. PRINCIPAIS DOENAS CAUSADAS POR BACTRIAS Tuberculose: causada pelo bacilo Mycobacterium tuberculosis. Hanseníase (lepra): transmitida pelo bacilo de Hansen (Mycobacterium leprae). Difteria: provocada pelo bacilo diftérico. Coqueluche: causada pela bactéria Bordetella pertussis. Pneumonia bacteriana: provocada, principalmente, pela bactéria Streptococcus pneumoniae (pneumococo). Escarlatina: provocada pelo Streptococcus pyogenes. Tétano: causado pela toxina produzida pelo bacilo do tétano (Clostridium tetani). Leptospirose: causada pela Leptospira interrogans. Tracoma: provocada pela Chlamydia trachomatis. Gonorréia ou blenorragia: causada por uma bactéria, o gonococo (Neisseria gonorrhoeae). Sífilis: provocada pela bactéria Treponema pallidum. Meningite meningocócica: causada por uma bactéria chamada de meningococo. Cólera: doença causada pela bactéria Vibrio cholerae, o vibrião colérico. Febre tifóide: causada pela Salmonella typhi.
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