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27 Celma Regina Borghi Rodriguero INTRODUÇÃO Neste capítulo temos como objetivo apresentar a abordagem comportamentalista ou behaviorista, ressaltando a inß uência de fatores ambientais no comportamento da criança, assim como a importância desses fatores no processo de ensino e aprendiza- gem. Para melhor compreensão, destacaremos dois importantes representantes dessa abordagem, Watson e Skinner, além de enfocarmos os conceitos principais. REPRESENTANTES PRINCIPAIS: JOHN BROADUS WATSON (1878 -1958): x� Formou-se em FilosoÞ a pela Universidade de Furmam aos 22 anos. x� Interessou-se pela psicologia animal, área em que desenvolveu sua tese de doutoramento. x� Em 1908, assumiu o cargo de Psicologia na Universidade de Johns Hopkins, onde continuou sua pesquisa com animais. x� Em 1913, publicou um artigo intitulado “A psicologia como um behaviorista a vê”, considerado o lançamento oÞ cial da escola behaviorista. BURRHUS FREDERIC SKINNER (1904 -1980): x� Criou o método de “análise experimental do comportamento” – que permite prever e controlar cientiÞ camente o comportamento humano. x� Em 1931, doutorou-se em Harvard. x� Lecionou na Universidade de Minnesota e na Universidade de Indiana. x� Em 1947, regressou a Harvard como professor e pesquisador. A concepção behaviorista de aprendizagem 2 PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM 28 x� Interessou-se pela análise da aprendizagem verbal, pelo adestramento de pom- bos, pelas máquinas de ensinar e pelo controle do comportamento mediante o reforço positivo. x� Desenvolveu trabalhos de aplicação tecnológica dos princípios da análise experi- mental do comportamento no campo do ensino e no trabalho psicoterapêutico. x� Dedicou-se à elaboração de uma Þ losoÞ a – o behaviorismo – vinculada ao mo- vimento de análise experimental do comportamento. O BEHAVIORISMO A abordagem comportamentalista ou behaviorista (do inglês behavior = compor- tamento), enfatiza a importância da inß uência de fatores externos, ou seja, fatores do ambiente e da experiência acerca do comportamento da criança. AÞ rma que o com- portamento do homem, embora mais reÞ nado e de maior complexidade, pode ser explicado pelos mesmos princípios que o comportamento do animal. Essa abordagem parte do princípio de que as ações e as habilidades dos indivíduos são determinadas por suas relações com o meio em que se encontram e não por fato- res biológicos como a hereditariedade e a maturação, conforme pontuam Fontana e Cruz (1997). O comportamentalismo tem como fundador John Broadus Watson (1878- 1959) que, descontente com a situação em que se encontrava a psicologia e inspirado pelo grande desenvolvimento das ciências naturais da época, propôs um novo objeto de estudo para a essa ciência. Assim, deÞ niu a psicologia como a ciência do comporta- mento, ramo objetivo e experimental das ciências humanas. Interessa, portanto, à psi- cologia, entendida como ciência natural e objetiva, a relação entre estímulo e resposta a fatos exteriores que podem ser empiricamente observados. Como asseveram Milhollan e Forisha (1978), para Watson a natureza humana é bastante sujeita a mudanças e praticamente não há limites para o que o homem pode tornar-se, ou seja, utilizando técnicas adequadas, em condições adequadas, podem-se modiÞ car os comportamentos do homem. Watson não descarta a existência de processos internos no organismo, apenas con- sidera que tais processos devem ser estudados pela Þ siologia. Logo, para Watson, à psicologia cabe o estudo das respostas do organismo aos estímulos do meio – o com- portamento. E o comportamento é, na acepção de Watson, a única fonte de dados sobre o homem, argumentando que apenas o comportamento seria objetivo e que apenas ele poderia ser o melhor critério para conclusões cientíÞ cas. Sem relação com o behaviorismo americano, desenvolviam-se na Rússia estudos relativos ao reß exo condicionado de Ivan P. Pavlov (1849-1936). Esses estudos foram 29 A concepção behaviorista de aprendizagem recebidos com entusiasmo pelo behaviorismo, uma vez que possibilitavam explicar o comportamento sem referência a processos internos que escapam à observação. Watson, por sua vez, reconheceu no condicionamento uma base para explicar toda a aprendizagem, mesmo a mais complexa, já que esta poderia ser reconhecida como combinações e generalizações de condicionamentos simples. Neste sentido, o com- portamentalismo opõe-se ao inatismo, pois para Watson não existem aptidões, dispo- sições intelectuais ou temperamentos inatos ou hereditários. Assim, coerente com o realce dado à aprendizagem, atribuiu-se papel primordial ao ambiente na formação da personalidade, em contraste com a quase descrença na inß uência da hereditariedade. As principais contribuições de Watson para a psicologia, segundo Milhollan e Fo- risha (1978), foram a ênfase no estudo de comportamento aberto e a tese de que o comportamento que parecia ser produto de atividade mental podia ser explicado de outras maneiras. CONCEITOS IMPORTANTES Para uma melhor compreensão da abordagem comportamentalista, é necessário destacarmos alguns dos principais conceitos dessa abordagem: Comportamento – deÞ nido como resposta do organismo (humano ou animal) a qualquer estímulo presente no meio; Resposta – deÞ nida como toda modiÞ cação que ocorre no organismo em decor- rência desse estímulo; Estímulo – deÞ nido como toda modiÞ cação do meio que pode ser captada pelo organismo mediante os sentidos. Nesse âmbito, podemos postular que a abordagem comportamentalista se ocupa em prever a resposta, quando se conhece o estímulo e identiÞ ca o estímulo, quando se conhece a resposta. Assim, o estudo do comportamento deve possibilitar o conheci- mento das relações estímulos-respostas, das quais ele é o resultado, ou seja, descobrir quais são os estímulos que provocam determinado comportamento, entendendo-se que nessa abordagem o comportamento é sempre uma adaptação, uma reação aos estímulos, às alterações que se processam no ambiente. Skinner (1904-1980) é outro grande expoente da abordagem comportamentalista. Sua contribuição consiste, de acordo com Milhollan e Forisha (1978), em grande par- te no desenvolvimento do estudo do comportamento como ciência objetiva. Skinner destaca dois tipos de aprendizagem: Aprendizagem por condicionamento clássico – um tipo de comportamento de- terminado, sempre provocado por um estímulo determinado – condicionamento este PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM 30 que envolve uma reação do organismo ao meio e não uma ação do organismo sobre o meio, isto é, não implica nenhuma iniciativa por parte de quem aprende, não é uma resposta aprendida, mas uma manifestação automática do organismo. Aprendizagem por condicionamento operante – a aprendizagem ocorre apoian- do-se em comportamentos emitidos pelo próprio organismo, que são seguidos por algum tipo de consequência que pode ser agradável, provocando uma tendência à re- petição do comportamento e ser desagradável, provocando uma tendência à extinção do comportamento. Essas consequências são chamadas pelos comportamentalistas de reforçadores e modelam o comportamento do indivíduo, sendo responsáveis pela extinção ou criação de hábitos. Skinner (1972) pesquisou a modelagem que é obtida proporcionando-se refor- çadores após as respostas que gradativamente se aproximam da resposta desejada, seja em termos de criar ou extinguir comportamentos. Nessa perspectiva, conforme Skinner, a grande maioria dos comportamentos das pessoas é aprendida por condicio- namento operante. Podemos asseverar que a semelhança entre Skinner e Watson é a tentativa de con- trolar o comportamento pela manipulaçãode elementos do ambiente que precedem (estímulos) ou sucedem (reforçadores) o comportamento, os experimentos de um e de outro visam a conhecer os princípios pelos quais o comportamento é aprendido durante a vida. IMPLICAÇÕES EDUCACIONAIS Para a abordagem comportamentalista, a aprendizagem é tema central, pois o mais importante na determinação do comportamento do indivíduo são suas experiências, aquilo que ele aprende durante a vida. A aprendizagem é a responsável principal, inclusive pelas mudanças observáveis no comportamento com o aumento da idade. Embora as ideias de Watson inicialmente tenham sido consideradas bastante radicais, acabaram ganhando aceitação ao mesmo tempo em que foram sendo introduzidos “abrandamentos” na posição original. Os comportamentalistas preconizam que os comportamentos, as habilidades e os pensamentos são aprendidos, portanto, preponderam no processo de aprendizagem os fatores externos, como os estímulos e os reforçadores. Nessa perspectiva, na abordagem comportamentalista os pais e os educadores mo- delam o comportamento da criança por meio de procedimentos que correspondem ao condicionamento operante. Segundo Skinner (1972, p. 62), “a aplicação do con- dicionamento operante na educação é simples e direta. O ensino é um arranjo de contingências sob as quais os alunos aprendem”. Entende-se, dessa forma, que cabe 31 aos professores arranjar contingências especiais que acelerem a aprendizagem e seja facilitado, assim, o aparecimento do comportamento desejado. Sem a interferência do professor, o comportamento seria adquirido vagarosamente ou mesmo não seria adquirido. Desse modo, a esquematização eÞ ciente do reforçamento é um elemento indispen- sável no planejamento educacional. Nessa linha de pensamento, para a abordagem comportamentalista o desenvolvimento e a aprendizagem são processos coincidentes, uma vez que o desenvolvimento é o resultado de aprendizagens acumuladas. Para Skinner (1972), portanto, ensinar é planejar, é organizar as contingências am- bientais de modo a tornar mais eÞ ciente a aprendizagem de determinados conteúdos e habilidades. Assim, a utilização de reforçadores e a organização da aprendizagem devem ocorrer por pequenos passos e há, sem dúvida, uma grande valorização do planejamento de ensino. Em se tratando da abordagem comportamentalista, ocorre ainda a necessidade de deÞ nir com clareza e operacionalidade os objetivos, visando à organização das sequências de atividades e à deÞ nição dos reforçadores a serem utili- zados (elogios, notas, prêmios etc.). Cabe salientar que o ensino por intermédio da instrução programada resultou ou originou-se a partir das máquinas de Skinner, um aparelho que consiste em uma caixa semelhante a um gravador, com uma abertura na parte superior por onde pode ser vis- to um problema ou questão impressos em uma Þ ta de papel. Após responder à ques- tão, a criança tenta girar um botão. Se a resposta estiver certa o botão gira, e se estiver errada, não gira. Ou seja, a progressão na resolução do exercício só ocorre quando as respostas emitidas estiverem corretas. CONSIDERAÇÕES FINAIS Podemos concluir, a partir do exposto, que para a abordagem comportamentalista são de extrema importância os fatores externos ou ambientais na deÞ nição do com- portamento do indivíduo. Neste sentido, vale destacar, também, a grande importância da aprendizagem, uma vez que o desenvolvimento do indivíduo dela decorre, sendo compreendido como o resultado de aprendizagens acumuladas. Por conseguinte, nessa perspectiva, entende-se o papel do professor como respon- sável pelo arranjo das contingências especiais que possam acelerar a aprendizagem, facilitando o aparecimento do comportamento. A concepção behaviorista de aprendizagem
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