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Fundamentos da Educação UNIDADE 1 FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO PROFESSOR COTEUDISTA: FRANCISCO MARCELO G. FERREIRA INTRODUÇÃO Caro aluno, o presente material pretende tecer uma reflexão didática a respeito da disciplina Fundamentos da Educação. Para tanto, como base para discussões, usaremos o livro texto que lhe foi entregue. É imprescindível a leitura integral do mesmo, pois é a partir dele que iniciaremos nosso diálogo no que diz respeito à disciplina. Neste guia veremos também qual a metodologia a ser utilizada para se chegar a um melhor entendimento sobre os Fundamentos, bem como os procedimentos a serem empregados. A Unidade 1 trará uma visão inicial da relação entre Pedagogia e Educação. Primeiramente abor- dará uma análise conceitual dessas duas temáticas. Num segundo momento, realizar-se-á uma historicidade de como os conceitos de educação e pedagogia foram elaborados ao longo dos séculos. Por último, apontará as principais características e entraves desses dois conceitos, no momento em que ambos passaram a ser pensados cientificamente. Enquanto recursos metodológicos utilizados para facilitar o auto-entendimento dos conteúdos abordados, além da leitura do livro texto, recomenda-se leituras externas que serão inseridas no corpus deste guia. Tais recomendações serão postas em forma de links, deixando claro que os textos linkados que não tiverem a nomenclatura “leitura complementar”, deverão ser lidos obrigatoriamente. Ainda com o objetivo de incrementar e aprofundar a leitura do livro texto serão utilizados recursos de vídeos, fotografias e outras formas de acesso ao conceitos trabalhados nesse guia. COMPREENDENDO A EDUCAÇÃO Ao realizar-se a leitura do primeiro tópico do livro, você deve ter se deparado com o fato de que conceituar educação não é tarefa fácil. Esse conceito está constantemente sendo revisado e alte- rado de acordo com seus diferentes contextos históricos, relações sócias, econômicas, culturais e políticas, que influenciam constantemente as mudanças teóricas do conceito de educação. Nesse sentido, cabe a você, futuro pedagogo, o entendimento de que a educação não pode ser pensada no singular, ou seja, pensar a coexistência de educações e não educação é um primeiro passo para abrir-se o amplo leque de discussões que nos ajudará a entender de maneira aprofundada o fenômeno educacional. 1 No Brasil, ficou legitimado que a primeira forma de educação foi a catequista, trazida ao País no período de colonização pelos portugueses. (Para saber um pouco mais da histórica relação entre educação indígena, leia o texto a seguir: www.revista.art.br/site-numero-05 ). No entanto, só recentemente se passou a questionar que, antes dos portugueses chegarem aqui com suas crenças, religiões e formas de educar, os povos indígenas de nossa nação já pos- suíam anteriormente uma maneira de educar seus filhos para viver em sociedade. Além disso, para terem o conhecimento da mata (biologia), possuíam sua própria linguagem (linguagens e códigos), fabricavam seu próprio artesanato (arte e educação), dentre outras formas de aqui- sição de conhecimento que não foram valorizados na época de 1500. Assim como no Brasil, a cultura e educação nos índios americanos (educação não-formal) não foi valorizada. Em uma determinada época, uma série de acordos e tratados de paz do Estado americano com os indígenas fez com que os governantes o convidassem a enviar seus filhos para estudos nas escolas dos homens brancos (escola formal). Eis a resposta dada em uma carta pelos indígenas: “(...) Nós estamos convencidos, portanto, que os senhores desejam o bem para nós e agra- decemos de todo o coração. Mas aqueles que são sábios reconhecem que, diferentes nações têm concepções diferentes das coisas e, sendo assim, os senhores não ficaram ofendidos ao saber que a vossa ideia de educação não é a mesma que a nossa. Muitos dos nossos bra- vos guerreiros foram formados nas escolas do Norte e aprenderam toda a vossa ciência. Mas quando eles voltaram para nós, eles eram maus corredores, ignorantes da vida da floresta e in- capazes de suportarem o frio e a fome. Não sabiam como caçar o veado, matar o inimigo e construir uma cabana, e falavam a nossa lín- gua muito mal. Eles eram, portanto, totalmente inúteis. Não serviam como guerreiros, como caçadores ou como conselheiros. Ficamos ex- tremamente agradecidos pela vossa oferta e, embora não possamos aceitá-la, para mos- trar a nossa gratidão oferecemos aos nobres senhores de Virgínia que nos enviem alguns dos seus jovens, que lhes ensinaremos tudo que sabemos e faremos deles, homens. (Fonte: Trecho extraído do blog História com Acento http://historiacomacento.blogspot.com.br/). A presente carta serve para pensarmos a diversidade das formas de educação existentes em dife- rentes sociedades. Um exemplo claro dessa diversidade está na própria grade curricular do curso de pedagogia. Educação no Campo, Educação Indígena, Didática, Educação Urbana dentre outros, demonstram os anseios de diferentes “culturas educacionais”, tornando-se inviável pensarmos em uma educação única e universal. Além disso, é nítido as disputas de poder existentes entre os indivíduos para dizer qual a melhor forma de educar, qual é a melhor educação, a educação correta. Quando um estado americano convida os indígenas para terem a “sua educação”, está claro que por trás desse convite os mesmos queriam afirmar que educação formal americana é a melhor e mais bem preparada. Tendo deixado posto que a educação deve ser fundamentada enquanto um conceito plural, con- textual e dinâmico, um segundo ponto para o entendimento do conceito de educação é a análise de sua historicidade, isto é, como o conceito de educação se desenvolveu ao longo dos séculos até os dias atuais. Na página 3 do seu livro texto, está descrito algo que é um consenso entre os historia- dores da educação: apesar do termo educação ter sido pensado inicialmente na Grécia, a história da educação é destacada por três tradições principais, bem como seus três teóricos fundadores: Émile Durkheim , Johann Friedrich Herbart e John Dewey . No Brasil, em especifico as teorias do francês Émille Durkheim e do americano Jonh Dewey, ganharam maior destaque, juntamente com suas concepções de “filosofia da educação” e uma “pedagogia mais democrática”, respectivamente. Em síntese, dois aspectos são importantes para se reportar o conceito de educação. Primeiramente a importância desta enquanto formadora de lideranças, e num segundo momento a influência de outras ciências como a sociologia, a psicologia, dentre outras, no processo de formação desta ciência chamada educação. Nesse sentido, é impossível entender o conceito de educação através de uma forma abstrata, temos que entendê-la em suas relações sociais, suas relações de poder, seus contextos econômicos e formas de socialização. Toda sociedade só sobrevive a partir de um processo de ensino das ge- rações mais antigas sobre as mais novas, é nesse processo educativo que se cria o ser social. Diante destas pontuações, resta-nos agora entender um pouco sobre uma ramificação do conceito de educação que é o de Pedagogia, tema do próximo tópico. PEDAGOGIA E EDUCAÇÃO O presente tópico não se distancia muito do anterior, quando falamos sobre educação, princi- palmente no que diz respeito a relação dafilosofia e sociologia enquanto disciplinas de suma importância para o desenvolvimento do conceito de educação e posteriormente da pedagogia. Como diriam os teóricos da sociologia, onde existe ação social, existe uma ação pedagógica, e, portanto, um principio educativo. São inúmeros os exemplos de ações sociais que possuem como princípio a educação: Mulheres que são educadas por uma lógica feminista e que saem as ruas pedindo o direito de vestirem a roupa que quiserem, e não serem estupradas por isso; Pessoas ligadas a educação campesina que desbravam terras e as ocupam, uma vez que aquelas terras estavam obsoletas; A existência de muitos atentados terroristas em decorrência de um certo número de fiéis que distorcem ou não interpretam direito seus preceitos religiosos e acabam sendo educados a matar em nome de um Deus. Todos esses fatos são exemplos de como, através do ato educativo, pessoas agem, protestam e lutam quando possuem uma ideologia ou “utopia” em seu bojo. Válido salientar que esse segundo conceito é de suma importância para começarmos a entender a relação sociedade e educação (Recapitular o conceito nas páginas 4 e 5 do livro texto). Mas você deve estar se perguntando: e o que todos esses exemplos acima relatados têm a ver com a pedagogia? Dentre os inúmeros conceitos adotados ao termo, o que mais se destaca e ao mesmo tempo responde esse questionamento, é que a pedagogia é uma ciência que possui um poder transformador, ou seja, ela consegue produzir uma consciência crítica no aluno. Diante deste pressuposto, estamos falando do poder que a ciência tem de colocar na mente das pessoas saberes e conhecimentos que a fazem agir racionalmente no mundo em que vivem, seja de forma individual ou coletivamente. O vídeo a seguir, “Aprender a Aprender”, de 7m40s, de uma maneira metafórica colo- ca essa discussão em pauta: http://youtu.be/Pz4vQM_EmzI . O vídeo trata da relação entre o artesão e o aprendiz, mostrando a importância do processo de aprendizagem e, acima de tudo, da reflexibilidade do aprender e da construção do conhecimento.Nesse sentido, em termos teóricos, diferentemente do conceito de educação, podemos falar em pedagogia no singular, mas quando vamos para o âmbito prático não temos pedagogia e sim pe- dagogias. Num passado bem distante, a função e objetivo do pedagogo era o de somente levar e inserir o indivíduo dentro do conhecimento. Atualmente a pedagogia não se refere a somente o conteúdo que é ensinado, mas as formas, os contextos e os meios em que se é ensinado. Em outras palavras, é pensar como uma pessoa tem acesso a um determinado conhecimento de modo a aproveitá-lo da melhor maneira possível. Elencados os apontamentos acima, que dizem respeito ao poder que o conhecimento pedagógico tem sobre os indivíduos, cabe agora a você visualizar, de uma maneira sintética, o histórico de como o conceito de pedagogia foi fundamentado ao longo dos séculos até os temos pós-modernos. Ao iniciarmos uma abordagem histórica da pedagogia, Grécia e Roma são regiões que demarcam o início de toda tentativa de sistematização do conhecimento da educação. Claro que para ambas, o conhecimento pedagógico era pontuado de maneira distinta, assim como sua função entre os indivíduos ou cidadãos também o era. Na idade média, denominada de idade das trevas, intelectuais como Santo Agostinho e São Tomás de Aquino , tomam as rédeas da importância da fundamentação pedagógica enquanto campo de conhecimento. Tempos depois, a ideia de educação pregada pelos catequistas ganha destaque no cenário mundial e até hoje seguimos determinados precei- tos educacionais pregados ainda naquela época. Revoluções burguesas como a Revolução Francesa e a Revolução Indus- trial pautam a ideia da necessidade de a educação ser um bem comum a todos e ao mesmo tempo instrumento de poder. Já nos estados modernos, o poder da educação passa a ter outra conotação. O mesmo é utilizado para ricos serem ensinados a pensar e pobres serem ensinados a obedecer, em que o não acesso a educação ou o seu acesso, causou uma série de hie- rarquias com danos ainda incalculáveis. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, a Organização das Nações Unidas (ONU), apre- goa a busca por uma educação universal, mas com contorno muito diferente do almejados pela Revolução Francesa. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Tomás_de_Aquino LEITURA COMPLEMENTAR! No livro “O Que é Educação?” ( http://minhateca.com.br/amilcarodrigues/ ) Carlos Ro- drigues Brandão se questiona sobre quem estabelece os ideais e princípios da educação e porque a educação tem que ser pensada como algo ideal ou universal? Para Brandão, é um erro, como fez a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), querer estabelecer o preceito da necessidade de uma educação ideal e universal. Para ele, a educação é dialética. Surge e sobrevive desse confronto constante de uma diversidade de educações com funções e finalidades diferentes. (Sugiro que seja feita uma releitura do con- ceito de dialética nas páginas 6 e 7 do livro texto, e página 37, no livro de Brandão acima citado). Ao vermos a educação entrando em um movimento que se diz dialético, passamos a perceber a presença da pedagogia enquanto uma ciência que transforma a sociedade. Primeiramente abri- mos os nossos olhos e tomamos consciência de que vivemos em um modo de produção capitalista que produz uma educação classicista, em que de um lado educa pessoas para serem proletárias e outras para terem acesso a uma educação superior e galgar outras profissões mais privilegiadas. É importante pontuar que em nossa sociedade isso se dá de uma maneira quase determinista, como demonstra a animação “Vida Maria”, de 8min14s: http://youtu.be/T04jOLlL8EI . O vídeo apresenta o histórico de uma família, colocando a dificuldade de implementar-se um pro- cesso educativo em um contexto em que as disparidades sociais e econômicas se sobressaem a educação. Num segundo momento, uma vez tendo a consciência de que o sistema escolar é CRIA- DO e CONTROLADO por um sistema político dominante, resta-nos buscar reinventar a educação, ou seja, buscar redes de resistência para a partir da educação “virarmos de posição “ na busca por uma educação menos excludente, que tente destruir as desigualdades e hierarquias sociais. PEDAGOGIA E CIÊNCIA Tendo em vista que foi apresentada a você uma análise sintética dos principais pontos que envol- vem os conceitos de educação e pedagogia, cabe finalmente apresentar um arcabouço do proces- so de cientificidade da pedagogia, isto é, como ela passou a denominar-se ciência. Primeiro é importante deixar claro que o termo pedagogia se refere a um campo de co- nhecimento “sobre “e na educação”, nesse sentido ela cuidade analisar de uma ma- neira externa a educação como um todo. Por outro lado, ela se torna interna, pois está lidando constantemente com a prática educativa. Diferentemente de outras ciências, não se sustenta somente na teoria, pois também é prática. O campo de conhecimento denominado didática do ensino demonstra bem esse fato. Desde o seu surgimento, a pedagogia passou por diversos contextos. Essa diversidade fez com que ela se ampliasse em decorrência de uma intensa mudança de paradigmas (modelos teóricos). Foi essa mudança constante em suas teorias que fez a pedagogia constituir-se a partir de uma abor- dagem PLURAL, seja ela baseando-se no senso comum, na arte e estética, na ética, na política, dentro outros temas. O que é importante deixar claro para você é que a pedagogia se fundamenta como um campo de conhecimento teórico prático. Não ocorre, portanto, uma transferência pura e integral de teorias sistematizadas previamente, pois muitas vezes as teorias serão consequências da prática, do contato “tête à tête” com o aluno, com o saber, com o professor. Outro fator que é importante ser colocado para se pensar a construção científica da pedagogia, é que a ampliação do entendimento do exercício da docência é de fundamental importância para a ampliação do conceito de pedagogia. Nesse sentido, ao invés de a teoria andar antes da prática, no caso do conhecimento pedagógico, a prática muitas vezes antecede a teoria. Na educação popular, por exemplo, disciplina que você irá estudar futuramente no curso de pedagogia, irás se deparar com algumas características que comprovam a afirmação acima. Características como aprender a partir do conhecimento do sujeito; ensinar por palavras ou temas geradores; a concep- ção de educação enquanto fonte de conhecimento e transformação social, bem como a educação enquanto algo político, nos impulsiona a ver a prática que se antecede a teoria, na maneira de educar. Em minha experiência enquanto antropólogo poderia citar para você dois exemplos, que denotam e exemplificam o que acabei de falar. A primeira experiência foi ao visitar uma comunidade qui- lombola no município de São Bento do Una-PE, comunidade esta denominada Serrote do Grado. Ao observar reuniões com os membros da comunidade, a pedido do Instituto Nacional de Coloni- zação e Reforma Agrária (INCRA), visualizei o quão é intenso o poder de articulação das pessoas que lá vivem, e a importância que dão a educação, principalmente para o mais jovens, no sentido de verem nela uma maneira de resgatarem a sua identidade e memória, além de construírem um argumento firme, político e coeso enquanto membros de um único povo e assim defenderem seus direitos. Algo parecido ocorreu no núcleo de capacitação dos membros do Movimento dos Trabalhadores sem Terras (MST), no município de Caruaru- PE, onde fui acompanhar minha professora, também antropóloga. Durante as discussões em palestras, falaram e elogiaram a importância de ter um intelectual da área de antropologia entre eles, e que com a voz da ciência compartilhava dos mesmos interesses que estavam pleiteando. Valido expor que o processo educativo da educação no campo (disciplina que verás também futuramente) é posto em prática o tempo todo, desde o plantio do fruto a ser servido no almoço até a escolha na pessoa que irá servir essa comida. REPENSANDO A EDUCAÇÃO, REPENSANDO A PEDAGOGIA Qual o papel da educação? Qual o papel da pedagogia? Os presentes questionamentos sobrevoam essa primeira unidade como um todo. Nela vimos que para entendimento dos conceitos de edu- cação e pedagogia é necessário termos o entendimento do passado e do presente das mesmas, para só depois criar hipóteses futuras. Seja na escola tradicional ou na escola moderna (temas das próximas unidades), a educação sempre aparece como um processo, e tal processo buscará sempre o desenvolvimento individual. Atualmente o processo educativo que dantes estava mais voltado para o desenvolvimento social, está agora voltado para o desenvolvimento político e ideológico. A esse respeito, proponho a leitura na íntegra do artigo do pedagogo Moacir Gadoth: “Perspectivas Atuais da Educação”, no http://www.scielo.br/pdf/spp/v14n2/9782.pdf . Vimos também que a educação hoje está mais voltada para uma transformação cultural do que somente a sua transmissão. Estamos pensando aqui o que alguns teóricos chamam de “perspec- tiva emancipadora da educação”. Ou seja, a qualidade que a educação tem de negar os tempos de desigualdade social existentes entre as pessoas, e essa mesma educação que ajudou a legi- timar esse domínio de uns sobre os outros via acesso ou não acesso a educação de qualidade. Quando falamos em emancipar, estamos denotando subir degraus até então nunca escalados, seja enquanto negro, seja enquanto pobre, seja em quanto gay, deficiente ou mulher, via educa- ção. A educação, assim como a pedagogia, não só nos ensina a entender a ordem das coisas e da sociedade, como também nos ensina a dinâmica da prática social e junto a ela, determinadas estratégias para subverter a ordem e conquistarmos espaços de poder. Nesse caso, cabe a sociologia e a outras ciências, que como dito anteriormente ajudaram a constru- ção do conhecimento pedagógico, darem subsí- dios para a produção constante de intelectuais e formadores resistirem, realizarem uma releitura, e, acima de tudo, “reinventar a educação”, como diria Paulo Freire (leia mais sobre Paulo Freire no http://pt.wikipedia.org/wiki/Paulo_Freire) . Na sociologia e na antropologia, temos um objeto de estudo comum ao conhecimento pedagógico que é o indivíduo. O “outro”, como chamamos, é foco de estudo destas três ciências. Como se tra- tam de ciências buscam uma análise racional e objetiva. É um exercício constante para se chegar a um entendimento, digamos, mais neutro a respeito de algo tão próximo a nós e ao mesmo tempo tão diferente de nós mesmos que é o ser humano. O ser humano que é o outro, o outro que é seme- lhante, mas também é diferente. Para tentar sanar essa dificuldade, a antropologia, por exemplo, sugere pensar a relação da diferença dos seres humanos com base na metáfora do espelho. Ou seja, se você olhar para esse outro que é diferente de você como se estivesse olhando pra você mesmo, você estaria se colocando no lugar desse outro, e, portanto, saberia por que ele estaria agindo naquela forma e não de outro. É necessário também ter a clarividência de que para estudar o outro que é diferente, seja na pedagogia na sociologia ou antropologia, não necessariamente você precisa ser esse outro. Em termo de exemplificação, a lógica da educação, junto com os movimentos sociais, demons- traram como está bem articulada na prática a questão da educação como busca por ideologias. O movimento agrário e campesino, os direitos feministas (¨Marcha das Vadias, por exemplo), a formação dos primeiros movimentos sociais no Brasil como Movimento Negro Unificado (MNU), o movimento LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais), são exemplos de como a educação não é algo apartado do social. Não é a toa que a grande parte desses movimentos quando se tor- nam fortes, transforma-se em Organizações Não Governamentais (ONGs) no qual a educação é o pilar basilar para a existência dessas instituições Outro ponto importante que assemelha os estudos pedagógicos aos sociológicos, é que ambos possuem um contato constante com seu objeto de estudo: o indivíduo (seja ele aluno, professor, coordenador etc). Esse contato cotidiano permite ao pesquisador ter os dados brutos na sua fren- te, a cada dia. Ao vermos os pormenores dos casos e das ações dos indivíduos ou sujeitos da pesquisa, se torna mais fácil apreender aquela realidade, uma vez que estamos mais perto dessas pessoas, diferentemente de se construir teorias a respeito de determinados fatos, baseando-se unicamente em uma hipótese científica, que é abstrata e acima de tudo teórica. Encerramento Vimos que conceituar educação é algo complexo, o objetivo do livro texto,bem como desse texto guia, foi deixar à você, aluno, uma visão preliminar do conceito de educação, que será mais de- senvolvido nas próximas unidades. Neles vimos às primeiras formas de coexistência de educação até o seu processo de legitimação nos tempos mais recentes. Dada essa discussão, pudemos compreender a pluralidade do processo educativo assim como a educação foi se encaixando ao conceito de ciência ao longo dos tempos. PARA RESUMIR! A tríade professor-aluno-saber resumiria, portanto a atividade educativa nos tempos modernos. Junto a essa tríade existe também uma série de conceitos, alguns deles tra- balhados aqui nessa disciplina, que são essenciais para o melhor entendimento do fenômeno educacional e pedagógico: cidadania, utopia, dialética, globalização, transdisciplinaridade, den- tre outros. Quando falamos em pedagogia, estamos nos referindo aos meios de ensino, metodo- logias e procedimentos para que alguém tenha acesso a um determinado conhecimento. É notório ressaltar também que durante muito tempo essa característica da pedagogia foi criticada. Para outras ciências, a pedagogia só se preocupava com as formas “do pensar” e “do ensinar”, e não levavam em consideração a força dos conteúdos. Essa crítica serviu e serve atualmente para os próprios pedagogos fazerem uma autocrítica da sua atuação no campo de trabalho, bem como do seu processo de formação acadêmica, uma vez que temos exemplos de pedagogos que discutem a questão do ensino da matemática, mas não conseguem racionalizar tarefas simples de cálculo, pois houve um déficit em sua formação. Contudo, a disciplina e prática pedagógica vêm sendo modificada e reavaliada constantemente, assim como as outras ciências. Todas passam por mudanças de modelos teóricos e muitas vezes alguns acabam se sobrepondo aos outros. Na pedagogia isso não poderia ser diferente. O mais importante a ser destacado na área é a presença e importância de se pensar o social, mesmo com as mudanças de paradigmas o foco ainda continua sendo esse. A partir dele, e de seus diver- sos contextos e ações sociais, a pedagogia se modela e se modifica. É, portanto imprescindível atentarmos para essa fundamentação teórica, pois ela irá ser foco de análise também nas outras unidades. Pretendemos assim, promover uma introdução à análise e discussão do fenômeno educativo, con- siderando as relações entre educação e sociedade a partir de uma reflexão teórica, instrumentan- do o aluno para a compreensão de sua formação e prática como educador e para o enfrentamento teórico-prático das principais questões relativas à educação brasileira numa perspectiva crítica e transformadora. Concluo com pensamento de Paulo Ghiraldelli quando o mesmo afirma que a pedagogia pode ser definida, aqui nesse caso, como atividade que constrói condições ótimas para que os novos comportamentos possam emergir e se assim é, ela é uma boa coadjuvante da demo- cracia. E também o pensamento de Brandão, ao dizer que ideia de que não existe coisa alguma de social na educação; de que, como a arte, ela é “pura” e não deve ser corrompida por interesses e controles sociais, pode ocultar o interesse político de usar a educação como uma arma de con- trole, e dizer que ela não tem nada a ver com isso. Mas o desvendamento de que a educação é uma prática social pode ser também feito numa direção ou noutra e, tal como vimos antes, pode se dividir em ideias opostas, situadas de um lado ou do outro da questão. Espero poder ter ajudado você, nesse primeiro contato com a disciplina, a saber, um pouco mais sobre os conceitos de educação e pedagogia aqui abordados. Na próxima unidade, saberemos um pouco mais sobre a história da educação e da importância de disciplinas como a sociologia e a antropologia em consonância com a pedagogia. Despeço-me aqui momentaneamente, ressaltando a importância da leitura atenta aos textos acima elencados bem como a tessitura das atividades produzidas para serem respondidas por você, caro aluno.
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