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LICENCIATURA EM FILOSOFIA PRÁTICA DE ENSINO: INTRODUÇÃO À DOCÊNCIA (PE:ID) POSTAGEM 2: ATIVIDADE 2 REFLEXÕES REFERENTES AO TEXTO SELECIONADO Nome e RA dos integrantes do grupo Marcus Vinicius Ferreira Santos RA 1718650 Polo de matrícula Boiçucanga – São Sebastião Ano de postagem 2017 1 O SACRISTÃO ANALFABETO Há muito tempo, numa catedral no norte da Itália trabalhava um jovem sacristão. Seu trabalho consistia em conservar a grande igreja e tocar o sino. Todo dia, antes do início da missa, lá estava o jovem sacristão tocando o sino, chamando os fiéis. Todos o admiravam pela sua dedicação a tão simples tarefa. A sua pontualidade era tamanha que o padre ajustava o seu relógio de acordo com o horário que o sacristão começava a tocar o sino. Tudo ia muito bem, quando uma ordem do vaticano em prol da modernidade, resolveu substituir o antigo padre por um jovem padre, recém-saído do seminário. Todos viram que o novo padre veio para mudar e modernizar. Suas primeiras providências: pintar a igreja, reformar os bancos, enfeitar o altar e contratar novos sacristãos. Durante a contratação, uma nova exigência do padre: — Só poderemos contratar funcionários que saibam ler e escrever. Assustado, o sacristão questionou: — E quanto a mim? Eu não sei ler nem escrever, nunca tive tempo para isso, pois meu trabalho sempre tomou meu tempo. — Sinto muito-respondeu o padre-, a justiça é igual para todos. Você não pode permanecer mais em seu cargo; teremos de substituí-lo. O jovem ficou tão decepcionado que andou horas e horas sem rumo pela cidade, pensando no que faria para se manter. De repente, sentiu uma vontade incontrolável de fumar, e o demitido sacristão procurou de um lado a outro da cidade algum lugar que vendesse o tão desejado cigarro. Sua busca foi em vão: em todos os lugares, ou não tinha ou estava em falta. Mais do que depressa, uma luz veio à sua mente: "Vou montar uma banca para vender cigarros, pois muitos devem ter o mesmo desejo que eu e não ter onde saciá-lo." E assim fez. O sucesso foi imediato, pois, além da falta de lugar para comercializar os cigarros, o sacristão tinha muitos amigos. Em pouco mais de um ano, o sacristão já tinha uma fábrica e quatro lojas de cigarros. Como já era empresário de renome, foi procurado por um banco para que abrisse uma conta de sua empresa. Tudo acertado, o gerente pediu-lhe: — Senhor, assine aqui, e sua conta estará aberta. Envergonhado, o ex-sacristão respondeu: — Desculpe-me, mas eu não sei assinar, sou analfabeto. — Analfabeto?! — admirou o gerente. — Se analfabeto o senhor tem tanto dinheiro, imagine se soubesse ler e escrever. Sorrindo, o sacristão respondeu: — Que nada, se eu soubesse ler e escrever até hoje estaria tocando sino na igreja e continuaria sendo sacristão do padre. (Autor desconhecido) 2 REFLEXÕES O texto presente tem autoria desconhecida e eu o ouvi pela primeira vez da boca de minha mãe, lá pelos idos de 1975. A versão reproduzida neste trabalho foi encontrada no site Scripta et Veritas1. Aparentemente, parece que ele nos mostra que a educação tem pouco valor. Uma pessoa analfabeta se deu bem economicamente e a parábola sugere que esta foi a razão de seu enriquecimento: seu analfabetismo. No entanto, com um outro olhar mais criterioso, veremos o papel importante da educação como algo mais abrangente e importante. E com toda certeza, fundamental. Educação não tem apenas o objetivo de ensinar ler e assinar o nome. Vejamos: 2.1 Não se pode parar de estudar O mundo está em constante transformação. A tecnologia dobra a cada 18 meses, e precisamos estar preparados para ela. Em tempos recentes, quem deixa de estudar por um pouco que seja, fica para traz e se assemelha rapidamente ao sacristão que nunca frequentou uma escola. Além disso, lembremos sempre de Sócrates que dizia: “só sei que nada sei”. O que ele queria comunicar é que ninguém pode chegar a um ponto na vida em que tenha aprendido tudo. Sempre haverá o que conhecer. O mercado de trabalho está sempre extremamente concorrido e somente os mais capacitados conseguem as melhores vagas. Isto se torna ainda pior em momentos de crise. A escolaridade de um candidato pode e será critério de desempate por parte dos empregadores. Desta forma, aquele que tem mais tempo de estudo já sai na frente. 2.2 Nunca é tarde para estudar O sacristão da parábola não aprendeu a ler e escrever, mas com certeza aprendeu muito. É bem verdade que ele não frequentou uma escola formal, mas quantas coisas ele 1Scripta et Veritas. O sacristão Analfabeto. Disponível em <http://www.scriptaetveritas.com.br/mensagens/178-o-sacristao-analfabeto>. Acesso em 16 mai. 2017 aprendeu com a crise que lhe sobreveio? Vale lembrar o texto de Rubens Alves (1999, p. 54): “Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho para sempre”2. Ao procurar um cigarro, ele aprendeu a importância de que, para se abrir um negócio, é necessário fazer pesquisa de campo para ver se o produto é ofertado na área em que se quer atuar. Precisa analisar a concorrência e o potencial de vendas. Certamente o sacristão aprendeu a importância do marketing de relacionamentos, pois muitos de seus clientes eram seus amigos. Teve lições fundamentais de economia, porque o mercado é cruel. Quem não faz a lição de casa não sobrevive no capitalismo selvagem em que vivemos. Tudo isto ele aprendeu numa idade já madura, quem sabe próximo da aposentadoria. Prova mais que contundente que nunca é tarde para se estudar e que qualquer um pode aprender a qualquer tempo e a qualquer hora. 2.3 Não ao preconceito O sacristão foi demitido por ser um analfabeto. O novo padre não considerou os excelentes serviços prestados pelo dedicado funcionário. Seria justos pensar que esta atitude demonstrou preconceito para como o ser humano? O padre poderia considerar matriculá-lo num curso de alfabetização de adultos. A própria paróquia poderia servir como sala de aula. Neste sentido, o educador Paulo Freire tem muito a nos ensinar. A obra realizada por este que um dos maiores educadores brasileiros é digna de admiração internacional. Eu mesmo me beneficiei de um treinamento de capacitação oferecido pela Fundação Banco do Brasil, em 1995 para atuar como voluntário na alfabetização de adultos usando sua metodologia construtivista. Foi emocionante ver pessoas com 50, 60 anos aprendendo as primeiras letras pela primeira vez na vida. A força de vontade deles é contagiante. Ninguém é tão incapaz que não possa aprender em qualquer idade da vida. O que cada um precisa é de oportunidades e de facilitadores que lhes ajudem a aprender. É a velha lição de Sócrates, citando mais uma vez o velho filósofo. Precisamos de mais parteiros e parteiras do saber para ajudar a tantos que não tiveram oportunidade a dar à luz o seu conhecimento. 2 ALVES, Rubens. A pipoca. In: O amor que acende a lua. Campinas: Papiros, 1999, p. 54 2.4 O dinheiro é o mais importante? Ao final da parábola, o gerente do banco julgou que o analfabetismo do sacristão era o impeditivo para que ele fosse mais rico ainda. Considerando que talvez a moral mais direta da parábola seja encorajar as pessoas em seus reveses, e que podemos fazer das pedras um castelo, sem dúvida que as análises acima apresentadas são pertinentes. Mas também não revela, quem sabe subliminarmente, nosso conceito equivocado que a alegria e a realização do ser humano só se dá em função do quanto de dinheiro alguémpode ter? Talvez se o sacristão fosse alfabetizado estaria tocando o sino da igreja. Mas não parece que ele era infeliz. Tanto é que foi justamente a depressão da demissão que o levou a fazer algo que é um vício: fumar cigarros. Ele queria afogar as mágoas. Isto prova que era realizado. Claro que dinheiro é importante e necessário. O nível de monetização da sociedade moderna é tão grande que hoje não se vive sem dinheiro. Porém, quem nunca ouviu algumas frases do tipo: • Dinheiro compra cama, mas não compra o sono. • Dinheiro compra remédio, mas não compra a saúde. • Dinheiro compra pessoas, mas não compra amizade. 2.5 Sim, a educação nos leva mais longe Contudo o gerente do banco tinha razão ao imaginar o quanto mais longe poderia ter ido o sacristão em acumular riqueza se tivesse recebido mais educação, começando pela alfabetização. Nota-se que o que de fato fez o sacristão ganhar dinheiro não foi perder o emprego, mas sim sua determinação e garra e sua educação informal. O dinheiro não nasceu em árvores para ele. Considerando que a garra e a determinação independem do grau educação, ele certamente conseguiria muito mais. Seria eternamente um sacristão se permanecesse acomodado. No entanto, unindo garra e determinação com educação poderia ter tido o mesmo e/ou maior sucesso. Quando levamos estas reflexões para a área de políticas públicas, notamos o quanto é possível fazer quando se tem vontade e engajamento das autoridades. Vejamos a Coreia do Sul: A Coreia (a do Sul, é claro) tinha em 1960 um PIB per capita de 900 dólares. O Brasil tinha o dobro. Em algum ano da década de 1980 nos igualávamos, com um PIB per capita da ordem dos 5 mil dólares. Hoje, o da Coreia é de 32 mil dólares e o nosso está na casa dos 10 mil dólares. Embora tenhamos que ser cautelosos no explicar tal diferença de desempenho, pois estamos comparando histórias, geografias, etnias e culturas bem di-versas, não há como negar que a evolução educacional tem muito a ver com a dianteira que tomaram os asiáticos. Não há quem discorde, mundo afora. Em 1960, tínhamos, Brasil e Coreia, 35% de analfabetos. Hoje, temos 13% (não considerados os analfabetos funcionais) e eles têm zero. Apenas 18% dos jovens brasileiros estão na universidade, enquanto só 18% dos coreanos não estão lá. A evasão escolar ao fim do ensino médio é de mais de 60% no Brasil, enquanto na Coreia é de 3%. Repito que há que se ter cuidado no comparar trajetórias de dois países tão diferentes, um com área de 100 mil quilômetros quadrados e 50 milhões de habitantes e outro com população quatro vezes maior, e área 80 vezes superior. 2.6 Conclusão No que diz respeito à educação, pode-se afirmar que qualquer pessoa pode aprender e ensinar. Não importa a idade, todos igualmente têm as mesmas condições, desde que respeitados limites naturais. Somente a educação pode tornar um país próspero e avançado e o professor é figura fundamental neste processo. Cabe a todos nós zelar pela valorização dos professores. Tenho muita esperança e fé que nosso Brasil possa chegar ao nível da Coréia do Sul. Eu farei a minha parte. REFERÊNCIAS ALVES, Rubens. A pipoca. In: O amor que acende a lua. Campinas: Papiros, 1999, p. 54 Scripta et Veritas. O sacristão Analfabeto. Disponível em <http://www.scriptaetveritas.com.br/mensagens/178-o-sacristao-analfabeto>. Acesso em 16 mai. 2017. Jornal Opção. Brasil precisa seguir a Coreia do Sul e investir bem em educação. Disponível em <http://www.jornalopcao.com.br/colunas/contraponto/brasil-precisa- seguir-a-coreia-do-sul-e-investir-bem-em-educacao>. Acesso em 16 mai. 2017.
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