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Libras
Libras
Organizado por Universidade Luterana do Brasil
Universidade Luterana do Brasil – ULBRA
Canoas, RS
2016
Fabrício Mähler Ramos
Ingrid Ertel Stürmer
Sandro Rodrigues da Fonseca
Vinicius Martins Flores
Conselho Editorial EAD
Andréa de Azevedo Eick
Ângela da Rocha Rolla
Astomiro Romais
Claudiane Ramos Furtado
Dóris Gedrat
Honor de Almeida Neto
Maria Cleidia Klein Oliveira
Maria Lizete Schneider
Luiz Carlos Specht Filho
Vinicius Martins Flores
Obra organizada pela Universidade Luterana do Brasil. 
Informamos que é de inteira responsabilidade dos autores 
a emissão de conceitos.
Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida 
por qualquer meio ou forma sem prévia autorização da 
ULBRA.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei 
nº 9.610/98 e punido pelo Artigo 184 do Código Penal.
ISBN: 978-85-5639-116-2
Dados técnicos do livro
Diagramação: Jonatan Souza
Revisão: Paula Fernanda Malaszkiewicz
O aprendizado da Língua Brasileira de Sinais demanda mais do que decorar vocabulário em outra língua, demanda conhecer e reco-
nhecer todo um universo cultural surdo muitas vezes completamente novo 
para o universo ouvinte. Esta obra tem como objetivo propiciar aos alunos 
a oportunidade de aprender mais sobre os aspectos linguísticos, históricos 
e culturais dos surdos.
Para atingir esse objetivo, montou-se uma equipe de professores com-
posta por surdos e ouvintes com um histórico de promoção de práticas 
para a inserção da língua de sinais e da cultura surda na nossa sociedade 
como: o ensino de libras, a formação de professores para surdos, a forma-
ção de intérpretes Libras/ Língua Portuguesa, além da pesquisa acadêmica. 
Em suma, esta equipe tem em seu histórico o engajamento político neces-
sário para pensar e praticar a inclusão de surdos respeitando o seu lugar 
como parceiros na luta e protagonistas do processo.
Esta obra deseja provocar nos acadêmicos que estão começando a 
sua trajetória de aquisição do conhecimento sobre a Libras a refletir sobre 
a teoria e também se engajar em práticas culturais que promovam a cultura 
surda e a sua integração por meio do conhecimento de sua língua. As te-
máticas foram organizadas de forma a discorrer sobre a Libras do ponto de 
vista histórico, linguístico, político, contemplando suas questões culturais e 
os métodos de ensino que a ela devem estar atrelados. Muito além da sim-
ples transmissão de informações, o intuito maior deste trabalho é promover 
a consciência de que o conhecimento aqui proposto pode fazer a diferença 
tanto na vida da comunidade surda quanto dos ouvintes que aprendem a 
reconhecer os seus traços e contornos culturais.
Apresentação
 1 Estudos em Libras: Conhecendo a História da Língua ............1
 2 Estudos Linguísticos da Libras ..............................................23
 3 Cultura e Comunidade Surda .............................................47
 4 Políticas Educacionais e Educação de Surdos .......................65
 5 Políticas Linguísticas e a Língua de Sinais ............................88
 6 Ensino em Libras como Primeira Língua para Surdos .........110
 7 Ensino de Língua Portuguesa para Surdos .........................130
 8 Pesquisas em Línguas de Sinais .........................................147
 9 Saúde e Libras ..................................................................163
 10 Língua de Sinais: Estudos Interdisciplinares .......................183
Sumário
Estudos em Libras: 
Conhecendo a História 
da Língua1
1 Doutorando em Letras – Psicolinguística (UFRGS); Mestre em Letras – Linguística 
Aplicada (UFRGS); Especialista em Aquisição da Linguagem e Alfabetização (FEE-
VALE); graduado em Letras Libras – Bacharelado (UFSC) e em Pedagogia – Licen-
ciatura (ULBRA); participa do Grupo de Pesquisa Educação e Processos Inclusivos 
(GPEPI) da UERGS – Litoral Norte; atua como docente de Libras na ULBRA (Cano-
as/RS) e na UERGS (Osório/RS)
Vinicius Martins Flores1
Capítulo 1
2 Libras
Introdução
Na atualidade, a Língua Brasileira de Sinais (doravante, Libras) 
vem sendo reconhecida em diferentes espaços, ganhando no-
vos espaços, principalmente no meio educacional. Portanto, 
faz-se necessário conhecermos mais sobre essa língua e os as-
pectos históricos que entremeiam a Língua de Sinais ao longo 
dos tempos.
É importante ressaltar que o presente estudo propõe fazer 
uma apresentação do que é um sujeito bilíngue e o concei-
to de bilinguismo, bem como conhecer sobre a Libras. Nesse 
contexto, a presente seção tem como objetivo conceituar e dis-
cutir características da educação bilíngue, bem como explorar 
as possibilidades da constituição do sujeito bilíngue e os as-
pectos gramaticais da Língua Brasileira de Sinais.
1 Bilinguismo e o bilíngue
Compreender o que é o bilinguismo e principalmente quem 
é o bilíngue é fundamental para iniciar os estudos sobre a Li-
bras. O sujeito surdo, usuário de Libras, é um sujeito natural-
mente bilíngue, quando nascido em uma família de ouvintes, 
e que tem em seu próprio lar duas línguas, sendo a Língua 
Brasileira de Sinais sua primeira língua e o Português Brasilei-
ro a segunda.
Para muitos, o bilinguismo é algo já estabelecido onde 
existe uma pessoa que sabe duas línguas; para outros, o bi-
Capítulo 1 Estudos em Libras: Conhecendo a História da Língua 3
linguismo é ter proficiência nas duas línguas. Por esse motivo, 
o conceito do bilinguismo será revisado por nós, já que é um 
conceito de um fenômeno complexo e que a literatura o apre-
senta com diferentes formatos.
Nas primeiras pesquisas registradas em 1923, Saer apre-
senta que o bilinguismo é algo ruim, que acarreta prejuízo 
cognitivo e de aprendizagem. Ao mesmo tempo pode ser bom 
para as pessoas, já que aumenta a tolerância e a habilida-
de de adaptação, conforme relatam Kielhöfer e Jonekeit em 
1983. Na busca ainda de compreender o fenômeno do bilin-
guismo, Titone, em 1972, publicou um estudo em que observa 
o papel do bilinguismo na sociedade, visualizando o quanto 
somos bilíngues e como utilizamos essas línguas.
Considerar os estudos anteriores é necessário, já que as 
pesquisas de Mackey (1972) corroboram com os estudos atu-
ais de bilinguismo surdo. Mas o que é um bilinguismo surdo? 
Vamos explorar mais adiante essa ideia. Nesse momento, con-
tinuaremos com a proposta de Mackey (1972), que conside-
ra o sujeito bilíngue como aquele que alterna duas ou mais 
línguas, ou seja, que usa duas ou mais línguas conforme a 
necessidade de comunicação. Ele estabelece que, conforme o 
uso, existem medidas e graus para o mesmo.
Portanto, Mackey (1972) propõe que o sujeito não pode 
ser bilíngue apenas por saber duas línguas, que o saber duas 
línguas seja o único requisito para ser bilíngue estaria equivo-
cado. O bilinguismo deve ser visto como um todo, considerar 
o grau, função, alternância e interferência das línguas. Veja-
mos, o grau está relacionado ao quanto o sujeito conhece 
4 Libras
das duas línguas, tanto na produção quanto na compreensão 
da língua. Ou seja, o sujeito bilíngue poderá ter uma maior 
habilidade na escrita ou somente na leitura, ou nas quatro ha-
bilidades da língua (leitura, escrita, produção e compreensão).
O item Função, para Mackey (1972), determina as finali-
dades de uso da língua, considera as circunstâncias em que é 
utilizada as línguas pelo bilíngue, e a Alternância é a possibili-
dade de trocas de língua, essa possibilidade do bilíngue poder 
determinar a partir da função e do grau de conhecimento das 
línguas, o momento e com quem pode usar determinada lín-
gua. Como percebe-se, o bilíngue é um sujeito que pode ser 
mais proficiente em uma língua e menos na outra, já que pode 
escolher onde, quando e qual língua usar.
Esse conceito de que o bilíngue não é altamenteproficiente 
nas duas línguas é algo que podemos dizer ser recente, já que 
surge através dos estudos de Fischman (1972) e os estudos de 
Grosjean (1985, 1989) corroboram para que entendamos o 
que seria ser bilíngue. Nesses estudos, defende a concepção 
de domínios de uso da língua, desconsiderando a proposta 
de que para ser bilíngue o indivíduo teria que ser usuário de 
duas línguas da mesma forma. Enfatiza que existe sim dife-
rentes níveis de uso das línguas considerando contextos e as 
necessidades de uso.
Dessa forma, Grosjean (1994) inicia as discussões sobre a 
noção de “contínuo”. Este conceito é uma variável importante 
para ser considerada na educação de surdos, já que o bilin-
guismo é peça fundamental para pensar a educação bilíngue. 
O contínuo pode ser compreendido em duas extremidades: a 
Capítulo 1 Estudos em Libras: Conhecendo a História da Língua 5
primeira seria de explicar sobre os bilíngues sem habilidade de 
alternar as línguas, mas que possuem uma proficiência baixa 
em uma das línguas em alguns contextos de comunicação; a 
segunda seria que o bilíngue possui habilidade de alternar as 
línguas em diferentes contextos e domínios de uso, portanto os 
bilíngues podem apresentar-se de formas diferentes a partir de 
suas experiências com as línguas.
Destaco que ser bilíngue não é ter dois monolíngues em 
uma pessoa, mas sim, a habilidade de poder usar as línguas 
conforme a necessidade de comunicação que o contexto pro-
porciona. Compreender a função de cada língua é essencial, 
por exemplo, o sujeito surdo tem um contexto específico, onde 
95% das crianças surdas nascem em lares onde os pais são 
ouvintes e desconhecem a Libras (STROBEL, 2007). Nesse 
caso, o bilinguismo é imposto socialmente, já que a própria 
família é composta por pessoas que usam outra língua que 
não a sua. Nós ouvintes, quando desejamos, podemos fazer 
uma escolha de língua para o contexto de trabalho, outra para 
conversar com amigos, sendo que o uso de uma ou outra em 
contextos/situações diferentes pode ser definido por diversos 
fatores, e um desses fatores pode ter sido uma decisão pessoal 
livre. No caso dos surdos brasileiros, é uma escolha imposta 
sob a Lei Federal 10.436/2002, que estabelece que o surdo 
deve ser bilíngue, utilizando a Libras, e o português brasileiro 
na modalidade escrita como segunda língua.
O contexto de aquisição das línguas é importante, podendo 
definir o quanto e como o bilíngue poderá utilizar as línguas, 
conforme Chin e Wigglesworth (2007). Os autores defendem 
que a aquisição das línguas sofre influência social, gerando a 
6 Libras
percepção que os bilíngues possuem do uso das duas línguas. 
Há duas formas de comunidades linguísticas, sendo a primeira 
endógena, onde a segunda língua é presente na comunidade, 
e a segunda a exógena, que é quando a segunda língua não 
está presente no contexto em que o indivíduo se insere. Por 
exemplo, quando a língua é utilizada somente na escola, po-
derá gerar um efeito sobre o grau de bilinguismo individual, já 
que a segunda língua não é utilizada diariamente e em diver-
sos contextos. O surdo, nesse caso, é da comunidade exóge-
na, pois a Libras é uma língua que não é amplamente utilizada 
nos meios de comunicação e pela sociedade como um todo.
Outro ponto para pensarmos o bilinguismo é a idade de 
aquisição da Libras. Chin e Wigglesworth (2007) distinguem 
entre bilíngues precoces e bilíngues tardios. Os bilíngues pre-
coces são caracterizados por serem indivíduos submetidos a 
duas línguas antes da adolescência, ao passo que os bilín-
gues tardios são aqueles submetido à segunda língua após 
a adolescência. Questões relacionadas à idade de aquisição 
seguidamente surgem nas discussões relacionadas ao bilin-
guismo, principalmente devido à forte associação que existe 
entre idade de aquisição e nível de proficiência na segunda 
língua. Há estudos que apontam para a ideia de que o bilin-
guismo precoce possa oferecer vantagens, principalmente no 
que se refere à aquisição de aspectos fonológicos da segunda 
língua. Por outro lado, existem estudos que defendem que os 
indivíduos maduros, os bilíngues tardios, estão em vantagem 
para adquirir a segunda língua de forma mais rápida do que 
crianças, por demonstrarem atitude, aptidão, motivação dife-
renciados e, principalmente, por compreenderem e analisarem 
as estruturas complexas das línguas.
Capítulo 1 Estudos em Libras: Conhecendo a História da Língua 7
O que uma criança surda perde em aprender a Libras tar-
diamente? A resposta pode ser simples e complexa, já que 
quando adulta poderá aprender Libras e ter sucesso na sua 
aprendizagem. Mas o fato de não ter uma língua estabelecida 
e clareza na comunicação com seus familiares e com todos 
que o cercam poderá acarretar uma perda de informações de 
sua comunidade cultural, informações familiares, conhecer a 
si e aos que a rodeiam. Enfim, poderá ser uma pessoa estra-
nha em um espaço familiar, já que não consegue demonstrar 
seus sentimentos de forma clara para com todos.
2 Bilíngue bimodal
O sujeito surdo, usuário de Libras, como visto anteriormente, 
não nasce em lares bilíngues, os mesmos nascem na sua maio-
ria em famílias que aprenderão a Libras junto com a criança 
surda, outras não aprenderam a Língua de Sinais, outras rejei-
tarão a Libras e optarão por um método oralista de comunica-
ção, onde a criança surda fará leitura orofacial (leitura labial) 
para comunicar-se.
Nesse cenário diverso, deve-se considerar que a educação 
de surdos começou no Brasil em 1857, com a criação do Insti-
tuto Nacional de Educação de Surdos (INES), que inicialmente 
foi chamado de Instituto Nacional de Surdos-Mudos. E, logo 
em 1880, o Brasil participou do Congresso de Milão, onde se 
estabeleceu que a Língua de Sinais deveria ser proibida e que 
o método oralista fosse adotado em diversos países, incluindo 
o Brasil. O INES inicia, portanto, a proibição da Libras, utili-
8 Libras
zando a oralização como meio de comunicação. Sem êxito, 
por volta da década de 80, inicia o método de Comunicação 
Total, que estabelece uma comunicação com diferentes meios, 
sendo uma mescla de Libras com oralização, podendo usar de 
mímica e qualquer outro recurso comunicativo.
O método bilíngue começa a ser aplicado por volta do ano 
de 1986, surgindo a filosofia bilíngue na década de 90, que 
concebe o uso de duas línguas no espaço escolar para surdos, 
evidenciando a primeira língua, que é a língua de sinais (GOL-
DFELD, 1997).
A alternância de línguas para os surdos brasileiros so-
mente é possível quando sua escolarização é baseada 
verdadeiramente nos princípios de uma educação bilín-
gue de qualidade. Que se responsabiliza pelo desenvol-
vimento linguístico e cognitivo do seu alunado, de forma 
a proporcionar a aquisição da língua de sinais como pri-
meira língua e, por meio, dela o ensino dos conteúdos e 
a produção de conhecimento na escola, incluindo o en-
sino do português, na modalidade escrita. (SANTIAGO; 
ANDRADE, 2013, p. 160)
O bilinguismo precisa ser discutido e tratado com muito 
cuidado, poderá ser a forma de conceituá-lo que poderá fazer 
a diferença. Vejamos que para Swanwick (2000) existem três 
modalidades de língua presentes nos estudos de bilinguismo: 
(1ª) a modalidade oral-auditiva, que abrange as línguas orais; 
(2ª) a modalidade visual-gráfica, que compreende ao regis-
tro da língua; e (3ª) a modalidade visuoespacial, que abarca 
às línguas de sinais. Quando discorremos sobre bilinguismo, 
Capítulo 1 Estudos em Libras: Conhecendo a História da Língua 9
portanto, esse pode ser unimodal, quando se utiliza uma mo-
dalidade de língua, ou bimodal, no qual um indivíduo utiliza 
línguas de modalidades diferentes, sendo uma língua na mo-
dalidade oral-auditiva e a outra na modalidade visuoespacial. 
Que, no caso de surdos, onormal é o bilinguismo bimodal, 
por serem raras as situações em que o surdo estará em si-
tuação de bilinguismo unimodal (utilizando duas Línguas de 
Sinais).
3 Fenômenos linguísticos
Existe o mito de que a Língua de Sinais é composta por mí-
mica, gestos e que seria universal. De fato, são mitos, já que 
a Língua de Sinais é uma língua que possui uma gramática 
independente da língua de modalidade oral e cada país pos-
sui uma ou mais Línguas de Sinais. No Brasil, temos a Língua 
Brasileira de Sinais – Libras, que é uma língua urbana, usada 
nos grandes centros e nas cidades, e a Língua Urubu-Kappor, 
que é utilizada por índios surdos em aldeias em alguns estados 
brasileiros.
A Libras possui algumas características peculiares, como 
por exemplo, poder falar em Libras e Português Brasileiro ao 
mesmo tempo, já que outro bilíngue usuário de duas línguas 
na modalidade oral-auditiva não conseguirá produzir as duas 
línguas simultaneamente, visto que na oralidade os sons são 
produzidos em um mesmo espaço articulatório. Da mesma 
forma, não é possível que um bilíngue utilize duas línguas de 
sinais simultaneamente, pois as duas são da mesma modali-
10 Libras
dade, o que torna inviável produzi-las ao mesmo tempo. En-
tretanto, é comum vermos situações em que um bilíngue utiliza 
duas línguas de diferentes modalidades de forma alternada, 
podendo expressar-se em uma língua na modalidade oral-
-auditiva ao mesmo tempo que registra sua produção em uma 
modalidade visual-gráfica de outra língua.
Vemos que a produção da fala em língua oral e em lín-
gua de sinais (LS) realiza-se de maneiras bem distintas. 
Nas LS, diferentemente das orais, a produção da fala 
articula-se de maneira externa ao corpo do falante, as 
partes do corpo é que se articulam e dão forma à língua. 
Nesse sentido, o falante torna-se fisicamente visível na 
produção da fala. Além disso, tem-se na produção das 
LS dois articuladores independentes e iguais – as mãos 
– as quais permitem uma diversidade de combinações e 
construções simultâneas. Portanto, se nas línguas orais, 
os articuladores da fala são internos, ficando, quase to-
talmente, ocultos, nas línguas de sinais eles se destacam, 
sendo aparentes e explícitos. Assim, tanto a produção, 
quanto a recepção se dão de formas distintas nessas 
duas modalidades e isso tem implicações. (RODRIGUES, 
2013, p. 129)
É imprescindível registrar que falar o Português Brasileiro e 
Libras ao mesmo tempo é possível fisicamente, e é totalmen-
te inviável cognitivamente produzi-las de maneira simultânea. 
Sendo duas línguas com gramáticas distintas, onde a estrutura 
sintática, o uso do verbo, a organização do discurso ocorre de 
forma diferente, faria o bilíngue eleger uma língua como do-
Capítulo 1 Estudos em Libras: Conhecendo a História da Língua 11
minante e a outra língua ficaria prejudicada, gerando prejuízo 
para uma delas. Contudo, devemos observar um fenômeno 
que pode ocorrer tanto em surdos como em ouvintes, o code-
-blending, conhecido como mistura de códigos. Esse fenôme-
no, que é muito comum e se caracteriza pela produção de duas 
línguas ao mesmo tempo, com sobreposição de uma à outra, 
somente é possível por serem as duas línguas de modalidades 
distintas, sendo que a estrutura sintática de uma das línguas 
ficará preservada (GROSJEAN, 2008). O code-blending difere 
de outro fenômeno comum entre os bilíngues que dominam 
duas ou mais línguas de modalidade oral-auditiva, o code-
-switching, nome dado à inserção de palavras ou expressões 
de, por exemplo, duas línguas orais em uma mesma frase, 
sendo que a estrutura sintática de uma das línguas é sempre 
preservada (língua base) e algumas palavras ou trechos da 
frase são substituídos por expressões da outra língua.
O fato de a modalidade das línguas Português Brasileiro e 
Libras ser distinta fica evidente quando estudamos a gramática 
da Libras, que por sua vez possibilita que possamos compre-
ender a estrutura de um signo (palavra) em Libras, bem como 
uma frase estruturada nessa língua.
4 Conhecendo a Libras e sua estrutura
Primeiramente, apresento a datilologia, conhecido como Al-
fabeto Manual, que é a configuração de mão que representa 
uma letra do alfabeto do Português Brasileiro. Veja:
12 Libras
 
 
 
 
 
 
 
A B C Ç D E F G H 
 
 
 
 
 
 
 
 
I J K L M N O P Q 
 
 
 
 
 
 
 
 
R S T U V W X Y Z 
 
Percebe-se que cada letra é representada por uma configu-
ração de mão, ou seja, para cada letra a mão ganha um for-
mato específico, com ou sem movimento, assim simbolizando 
uma letra do nosso alfabeto do Português Brasileiro. Deve-se 
observar que o uso do alfabeto manual (datilologia) não é o 
todo da Libras, e sim apenas um recurso no qual o Português 
Brasileiro ganha forma, portanto, utilizar apenas o alfabeto 
manual é estar empregando a Língua Portuguesa.
Para cada palavra em Português Brasileiro pode existir um 
sinal equivalente ou um sinal próximo do sentido desejado; 
caso não exista, o usuário de Libras terá que buscar outros re-
Capítulo 1 Estudos em Libras: Conhecendo a História da Língua 13
cursos que a Língua de Sinais oferece para se expressar, como 
por exemplo o uso dos Classificadores ou, em alguns casos, 
o uso do alfabeto manual, quando não existe outra forma de 
traduzir um determinado termo.
O sinal em Libras é o equivalente a uma palavra em Por-
tuguês Brasileiro; dessa forma, um sinal é composto por parâ-
metros fonológicos como as palavras, portanto, um sinal não 
pode ser criado ou feito sem critérios. As restrições para com-
por o sinal segundo Quadros e Karnopp (2004) são: configu-
ração de mãos, locação, movimento, expressões não manuais 
e direção.
A configuração de mãos podemos dizer que é a forma 
que a mão ganha ao fazer o sinal. Existem estudos que in-
dicam 61 configurações de mãos. A locação é o lugar onde 
é produzido o sinal. O movimento pode ser externo, ou seja, 
o movimento que a mão faz, ou interno, por exemplo, se a 
mão abre e fecha. E a expressão não manual é relacionada 
com as expressões de corpo e rosto que compõem o sinal e, 
em muitas situações, pode definir se a palavra é uma expres-
são afirmativa ou negativa, por exemplo. E por último, e não 
menos importante, é a direção, que pode definir o sentido da 
palavra. Para elucidar esse parágrafo, segue a demonstração 
com alguns sinais para visualizarmos os parâmetros e o papel 
que cada um desenvolve.
Exemplos dos parâmetros fonológicos:
14 Libras
POR FAVOR
Configuração de Mãos: mãos 
abertas
Locação: frente ao corpo
Movimento: leve movimento
Expressão não manual: rosto
Direção: para frente e para trás
DORMIR
Configuração de Mãos: em “S”
Locação: ao lado do rosto
Movimento: sem movimento
Expressão não manual: olhos 
fechados
Direção: palma da mão 
encostada no rosto
MEU
Configuração de Mãos: mão 
aberta
Locação: peito
Movimento: sem movimento
Expressão não manual: não é 
necessário
Direção: palma da mão em 
contato com o corpo
Capítulo 1 Estudos em Libras: Conhecendo a História da Língua 15
QUAL
Configuração de Mãos: 
primeiro em dedos flexionados 
e segundo em “L”
Locação: ao lado do corpo
Movimento: leve movimento
Expressão não manual: rosto e 
lábios
Direção: para o lado
No quadro anterior, podemos perceber que cada sinal pos-
sui singularidades específicas, portanto, os parâmetros fonoló-
gicos podem se repetir, mas a combinação entre eles não se 
repete, constituindo, dessa forma, um sinal único. No entanto, 
é possível ter sinais iguais, que com o contexto de uso muda 
o sentido.
Imagem 1
O sinal da Imagem 1, dependendo do contexto poderá ser 
entendido como a palavra SÁBADO ou como LARANJA (fruta 
ou a cor); o que definirá o sentido será o contextode uso.
16 Libras
Não vamos explorar as questões de morfologia, sintaxe e 
outras questões linguísticas, mas cabe a reflexão que a Língua 
de Sinais, por ter uma gramática independente e por ser de 
modalidade visuoespacial, já significa que tantas outras ques-
tões da língua são diferentes da estrutura do Português Brasi-
leiro. Findar esse assunto é inviável, mas é importante destacar 
que estudar uma língua é algo contínuo e necessário por toda 
vida.
Conclusão
A discussão sobre a história da Libras não era para organizar 
uma linha do tempo, mas compreender que para entender o 
que é a Libras, precisamos compreender o que é um sujeito 
bilíngue bimodal. A diferença de modalidades e as diferen-
ças entre línguas oportunizam que a comunidade surda seria 
como estrangeiro em nosso país, já que, mesmo sendo usu-
ários do Português Brasileiro escrito, eles utilizam uma língua 
distinta da nossa em território brasileiro.
Recapitulando
O bilinguismo bimodal é quando temos um sujeito que utiliza 
duas línguas de modalidades diferentes, no caso do surdo, 
Libras e Português Brasileiro. Portanto, é essencial buscarmos 
compreender que as línguas são distintas e independentes, já 
que o bilíngue pode ter mais habilidade ou conhecimento em 
uma língua que em outra. Assim, o surdo nem sempre será 
Capítulo 1 Estudos em Libras: Conhecendo a História da Língua 17
proficiente da mesma forma nas duas línguas, podendo ser 
mais em uma que em outra.
Referências
CHIN, N. B.; WIGGLESWORTH, G. Bilingualism. An advan-
ced resource book. USA: Routledge, 2007.
FISHMAN, J. Varieties of ethnicity and varieties of language 
consciousness. In: DIL, A. (Ed.) Language and socio-cul-
tural change: Essays by J. Fishman. Standford: Standford 
University Press, 1972.
GOLDFELD, M. A criança surda – Linguagem e cognição 
numa perspectiva sociointeracionista. São Paulo: Plexus 
Editora, 2002.
GROSJEAN, F. The bilingual as a competent but specific spe-
aker-hearer. Journal of Multilingual and Multicultural 
Development, v. 6, pp. 467-477,1985.
______________. Neurolinguistics, beware! The bilingual is not 
two monolinguals in one person. Brain and language, v. 
36, p. 3-15, 1989.
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Capítulo 1 Estudos em Libras: Conhecendo a História da Língua 19
Atividades
 1) Analise as afirmações abaixo referentes aos estudos de bi-
linguismo.
I – O bilinguismo bimodal é quando o registro escrito de 
uma das línguas é unimodal.
II – O bilinguismo bimodal é quando há duas modalidades 
de língua.
III – O monolinguísmo é quando há duas línguas.
Quais estão corretas?
a) Apenas I.
b) Apenas II.
c) Apenas III.
d) Apenas II e III.
e) I, II e III.
2) O code-blending também é conhecido pelo termo:
a) Mistura de elementos
b) Código binário
c) Mistura de Código
d) Uso errado da língua
e) Gestos da língua
20 Libras
3) A língua de sinais e a língua portuguesa são de modalida-
des distintas.
Assinale V para as afirmativas verdadeiras e F para as fal-
sas, considerando a assertiva acima.
( ) A língua portuguesa é visuoespacial, portanto é dife-
rente da língua de sinais.
( ) Falar o Português Brasileiro e Libras ao mesmo tempo 
é possível fisicamente, e é totalmente inviável cogniti-
vamente produzi-las simultaneamente.
( ) A Libras possui características diferentes das línguas 
orais, mas a gramática, principalmente a fonologia, é 
idêntica.
A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de 
cima para baixo, é
a) V – V – V
b) V – F – F
c) F – V – V
d) F – V – F
e) F – F – F
4) Nesse cenário diverso, deve-se considerar que a educação 
de surdos começou no Brasil em ______, com a criação 
do Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES), que 
inicialmente foi chamado de Instituto Nacional de Surdos-
-Mudos. E logo em ______, o Brasil participou do Congres-
Capítulo 1 Estudos em Libras: Conhecendo a História da Língua 21
so de Milão, onde se estabeleceu que a Língua de Sinais 
deveria ser proibida e que o método oralista fosse adotado 
em diversos países, incluindo o Brasil.
A alternativa cujas as datas completam corretamente as la-
cunas da frase acima é
a) 2002 – 2005
b) 1857 – 1880
c) 1960 – 1986
d) 1880 – 1986
e) 1857 – 2002
5) O sujeito surdo, usuário de Libras, não nasce em lares bilín-
gues; nascem, em sua maioria, em famílias que aprenderão 
a Libras junto com a criança surda.
I – A língua de sinais é uma língua oral-auditiva utilizada 
pela comunidade surda e que possui um status de lín-
gua comercial.
II – A língua de sinais é um misto de gestos e fragmentos da 
língua portuguesa.
III – Sujeito surdo é naturalmente bilíngue quando possui 
em seu próprio lar duas línguas, sendo a Língua Brasi-
leira de Sinais sua primeira língua e o Português Brasi-
leiro a segunda.
Quais estão corretas?
a) Apenas I.
22 Libras
b) Apenas II.
c) Apenas III.
d) Apenas II e III.
e) I, II e III.
Estudos Linguísticos 
da Libras1
1 Mestre em Letras: Linguística Aplicada (UFRGS); Postgraduate Certificate in Deaf 
Studies pelo Centre of Deaf Studies (University of Bristol) no Reino Unido e especiali-
zação em Estudos Culturais e Educação (ULBRA); Bacharel em Letras – habilitação: 
Tradutor de Português e Inglês (UFRGS); licenciado em Pedagogia (ULBRA).
Sandro Rodrigues da Fonseca1
Capítulo 2
24 Libras
Introdução
Neste capítulo, você terá a oportunidade de conhecer, de for-
ma introdutória, a organização e o uso da Libras, a Língua 
brasileira de sinais. Para lhe ajudar a atingir esse objetivo, se-
rão utilizados como lente teórica os estudos linguísticos.
A reflexão proposta aqui tem como objetivo ajudar os alu-
nos que estão dando os seus primeiros passos no aprendizado 
da Libras por mostrar a mudança de concepção em torno da 
forma como os surdos se comunicam. Parte-se do passado 
histórico, onde se considerava a comunicação gestual como 
sendo não apropriada, sendo até mesmo proibida e conside-
rada inicialmente como parte de um problema clínico.
Atualmente, porém, essa concepção foi alterada por lin-
guistas e educadores que estudam a língua e a cultura das 
comunidades surdas no mundo, o que culminou no recente 
status como língua natural, comparável a qualquer outra lín-
gua no mundo, seja ela uma língua oral como o Português ou 
o Inglês, entre outras línguas. Essa mudança de paradigma 
com respeito às línguas de sinais ocorreu devido a uma série 
de estudos, quecomprovaram, entre muitos aspectos, que a 
sinalização obedece a princípios linguísticos comuns a todas 
as línguas humanas, bem como apresenta aspectos inovado-
res propiciados pela modalidade diferenciada das línguas de 
sinais.
Para compreendermos como essa mudança de status e o 
consequente reconhecimento linguístico se deu, são usadas 
as seguintes questões: como podemos compreender a Libras 
Capítulo 2 Estudos Linguísticosda Libras 25
como uma língua natural? Existe algum tipo de estrutura ou 
padrão no ato de sinalizar que possa ser semelhante ao ato 
de falar?
As perguntas norteadoras servirão de fio condutor para a 
aprendizagem. É importante, portanto, manter em mente a im-
portância de entender bem como a mudança de paradigma 
linguístico ocorreu entre os pesquisadores e como isso é im-
portante para a sua formação. Portanto, mais do que expor 
conhecimento sobre estudos linguísticos, o capítulo convida 
você a acompanhar essa mudança, saindo de concepções 
equivocadas sobre a Libras, e levar esse conhecimento para 
o seu processo de aprendizagem da Libras, seja rm um nível 
teórico inicial ou prático.
Nesse sentido, é importante fazer uma breve pausa para 
pensar sobre os benefícios de você estar adquirindo conhe-
cimento acerca das características linguísticas da Libras e as 
consequentes mudanças de paradigma que ocorreram na his-
tória. Olhando do ponto de vista social, podemos destacar a 
possibilidade de você reconhecer na prática os surdos enquan-
to cidadãos usuários de outra língua que também é brasileira 
e merece respeito. Portanto, o conhecimento aqui propiciado 
poderá lhe conferir a oportunidade de refletir sobre formas 
mais interessantes de planejar a sua comunicação primeira-
mente por enriquecer a sua maneira de entender a Libras e, 
consequentemente, as pessoas que a usam. Além disso, você 
também poderá agregar o conhecimento aqui oferecido de 
forma mais específica dentro de seu campo profissional. Os 
usuários da Libras, assim como as pessoas ouvintes, fazem uso 
de serviços educacionais, clínicos, sociais, bem como midiáti-
26 Libras
cos. Isso nos instiga no sentido de pensar melhores formas de 
comunicação e respeito linguístico dentro dos diversos espa-
ços de interação entre surdos e ouvintes.
1 A Libras: o que significa ser um usuário 
de uma língua de sinais?
O primeiro passo para uma reflexão linguística sobre a Libras 
envolve pensar exatamente sobre o que está envolvido no 
processo de desenvolvimento de um indivíduo dentro de uma 
língua. Se você nasceu em um espaço sem histórico de pro-
blemas de linguagem ou de conflitos sociais em torno de sua 
língua, talvez você ainda não tenha parado para refletir sobre 
a complexidade do que está envolvido no simples fato de fa-
lar uma língua. Além disso, ao se falar sobre os surdos ou a 
Libras, talvez a imagem mais forte esteja associada a um con-
junto de conceitos clínicos como a surdez como um problema 
clínico, dificuldade de fala, ou ainda de certa falta em geral.
Essa imagem não contribui para o conhecimento da Libras 
como uma língua e dos surdos como uma comunidade linguís-
tica minoritária. A raiz desse pensamento pode ser encontrada 
em fatos históricos sobre o discurso clínico acerca da surdez. 
De acordo com essa forma de pensar, os surdos são vistos sob 
a ótica da falta, da deficiência, e o princípio da restauração 
da audição ganha força. Ladd (2003) coloca que essa forma 
de ver os surdos escondeu as questões da cultura e da língua 
das comunidades surdas e que, embora houvesse discursos e 
atos clínicos que resultaram até mesmo na proibição do uso 
Capítulo 2 Estudos Linguísticosda Libras 27
da língua de sinais por longos períodos, as comunidades sur-
das lutaram pelo direito de usar a sua língua e passaram a sua 
cultura através de gerações de surdos, mesmo quando isso era 
considerado como tendo menor valor ou até mesmo quando 
era proibido.
Para entendermos o quão normal e desafiador o cotidiano 
linguístico da comunidade surda usuária de uma língua de 
sinais pode ser, vamos compará-lo com um tipo de contexto 
normalmente não associado com questões clínicas. Imagine 
o seguinte cenário linguístico. Os genitores de uma família 
com duas crianças, todos falantes unicamente do Português, 
exceto por um dos adultos, recebem um convite irrecusável 
para trabalhar na China. Ao aceitar a oferta de trabalho e 
imediatamente se mudar para o outro país eles, que em sua 
maioria não são falantes do mandarim, a língua majoritária 
daquele lugar, colocam-se em um desafio antes não vivencia-
do. Por entender que a imersão direta na língua e na cultura 
poderia ser a melhor opção, as crianças são matriculadas em 
uma escola juntamente com os nativos e passam a enfrentar 
obstáculos na sua aprendizagem, não devido à falta de conhe-
cimento ou capacidade cognitiva, mas simplesmente por não 
terem acesso à língua dos seus pares.
A pessoa adulta da família que não domina a língua tam-
bém enfrenta desafios semelhantes. Agora, coisas que antes 
eram resolvidas de forma simples, como fazer compras, en-
tender placas de trânsito e interagir em lugares como bancos, 
hospitais ou reuniões na escola com os professores dos filhos, 
passam a ter um desafio a mais: a compreensão do idioma lo-
cal. Para resolver esse problema, a primeira solução pensada 
28 Libras
pela família é utilizar os serviços de tradução do membro da 
família que já possui conhecimento do mandarim. Essa solu-
ção, no entanto, passa a acrescentar uma tarefa a mais para 
essa pessoa, pois ele deverá somá-la às suas atividades de 
trabalho a função de tradutor e intérprete de sua família. Isso 
significa não ter mais horas de lazer, pois até mesmo o entre-
tenimento, como assistir a um filme na televisão local, significa 
trabalhar como tradutor.
Como esta família poderia contornar os problemas encon-
trados? O que você faria se estivesse no lugar deles?
Um dos fatores que os levou a organizar a sua vida nesse 
outro país dessa forma foi a concepção que demonstraram ter 
sobre a língua. Pensar na imersão direta como sendo a única 
maneira de se aproximar de outra língua pode não ser neces-
sariamente exatamente a melhor maneira. Isso vai depender 
de uma série de fatores, como o conhecimento prévio sobre a 
língua ou o tipo de estrutura e metodologia de ensino, entre 
outros.
Voltando ao contexto oferecido como base para reflexão, 
ao verem que houve uma precipitação na forma de organizar 
as suas atividades por não levarem em consideração a diferen-
ça da língua e da cultura, os membros dessa família resolvem 
mudar de atitude. Os filhos passaram a estudar em uma es-
cola especializada em trabalhar com filhos de estrangeiros. A 
pessoa adulta que não dominava a língua passou a frequentar 
um curso de mandarim e todos utilizaram os serviços de intér-
pretes profissionais quando precisavam consultar um médico 
ou algum serviço altamente especializado e potencialmente 
Capítulo 2 Estudos Linguísticosda Libras 29
perigoso no caso de haver uma falha grava de comunicação. 
O que você acha das decisões tomadas por essa família?
Como destacado anteriormente, a situação acima apresen-
ta alguns paralelos que podem ajudar a entender o contexto 
linguístico das pessoas surdas que utilizam a Libras. A família 
apresentada acima se mudou para um país onde a sua língua 
nativa não é falada pela maioria da população ou não é a lín-
gua majoritária. Da mesma maneira, os surdos vivem em um 
contexto onde a língua majoritária não é a sua língua de si-
nais. A necessidade de profissionais para intermediar momen-
tos importantes de comunicação também ou de profissionais 
bilíngues com alta proficiência também é essencial. Esse é o 
caso do atendimento médico, de locais públicos ou até mesmo 
da mídia. Portanto, um intérprete profissional será necessário,e não simplesmente alguém com alguma fluência, como um 
membro da família. Em outros casos, um profissional bilíngue 
poderá se comunicar com pessoas surdas que usam a Libras. 
Essa configuração linguística onde existe a comunicação por 
meio da Libras acontece à medida que existe a mudança de 
concepção sobre o seu status linguístico.
O reconhecimento da experiência linguística dos surdos 
que usam a Libras passa pelo entendimento de como o status 
linguístico das línguas de sinais foi se construindo. Historica-
mente, isso significou uma mudança radical de concepção em 
diferentes períodos e com consequências diversas. Os primei-
ros registros do uso de línguas de sinais já apontam para um 
conflito entre uma concepção negativa e a percepção de que 
elas poderiam ser utilizadas, mesmo que ainda não com status 
linguístico plenamente garantido.
30 Libras
Alguns estudiosos acreditavam que elas poderiam indicar 
a falta de capacidade de pensamento. No meio religioso, ain-
da havia a ideia de que o indivíduo que se comunicasse de 
forma que não a oral auditiva estaria impossibilitado de se 
confessar, o que traria a impossibilidade de ter o perdão dos 
seus pecados. Essa forma de ver a sinalização foi associada 
a percepções de falta com respeito à pessoa com deficiência 
e não avaliavam os aspectos linguísticos trazidos pelo uso do 
que hoje é compreendido claramente como sendo as línguas 
de sinais.
Em muitas culturas, uma das formas de se lidar com a des-
coberta da deficiência física em alguma criança, por muito 
tempo, foi o seu extermínio. Visto que a surdez seria descober-
ta somente depois que a criança já estivesse se desenvolvendo, 
os surdos obteriam uma possibilidade de desenvolvimento não 
pensada para outras crianças com deficiência. Uma das for-
mas de se tratar uma criança com deficiência seria colocá-la 
sob os cuidados de um tutor, normalmente algum religioso. 
Embora houvesse ainda a premissa de que a oralidade deveria 
ser o padrão a ser alcançado, surgiram na Europa algumas 
oportunidades para a educação de surdos por meio do uso de 
língua de sinais. Um dos lugares de maior sucesso da educa-
ção por meio da sinalização foi o Instituto de Surdos-Mudos 
de Paris. O seu destaque se deu por ser a primeira escola 
para surdos onde a língua de sinais não somente foi permiti-
da, como também incentivada enquanto forma de instrução. 
Alguns alunos da instituição até mesmo completaram os seus 
estudos e passaram a assumir a posição de professores, for-
mando assim novas gerações de surdos. O reconhecimento 
da sinalização como uma língua, no entanto, não era uma 
Capítulo 2 Estudos Linguísticosda Libras 31
unanimidade. Em 1880, um congresso de educadores e es-
pecialistas tomou como decisão principal a implementação da 
oralidade como meio único a ser utilizado por professores da 
educação de surdos. O reconhecimento das línguas de sinais 
como línguas de fato só ocorreu mais tarde, na década de 
1960, por meio do trabalho como o de William Stokoe. Os 
aspectos que sustentam o entendimento do status linguístico 
das línguas de sinais são descritos a seguir.
2 Libras: o estudo da sua estrutura 
linguística
Para entender o status linguístico da Libras, precisamos refle-
tir primeiramente sobre o que significa estudar uma língua. 
Podemos estudar uma língua por meio do conhecimento de 
sua estrutura. Dessa maneira, busca-se encontrar padrões de 
organização dentro da língua, bem como similaridades entre 
os padrões encontrados dentro de uma língua com outras lín-
guas.
As línguas de sinais nos oferecem, nesse sentido, uma par-
ticularidade interessante. Diferentemente das línguas orais, ela 
se faz presente na modalidade visoespacial. Isso significa que 
sua articulação acontece de forma visual e que os interlocuto-
res usam o espaço ao seu redor como processo natural de co-
municação. O estudo linguístico, quando pelo viés da forma, 
ocupa-se normalmente das seguintes categorias: fonologia, 
morfologia, semântica e pragmática. As línguas de sinais, in-
cluindo a Libras, são analisadas de acordo com essas catego-
32 Libras
rias de análise. A seguir, serão descritos alguns dos resultados 
principais desses estudos, juntamente com algumas reflexões 
sobre como esse conhecimento pode ajudar no respeito à e no 
aprendizado da Libras.
2.1 Fonologia
Embora possa parecer estranho encontrar a fonologia dentro 
dos estudos de uma língua sinalizada, as pesquisas encon-
traram paralelos interessantes que nos mostram como línguas 
como a Libras possuem uma arquitetura e organização seme-
lhante, mesmo no nível fonológico.
A fonologia é originalmente considerada como o estudo da 
relação entre os sons de uma língua com a distinção de senti-
do. Esse conceito foi estendido também para as línguas de si-
nais. Mais especificamente, o aspecto que permite pensarmos 
em uma fonologia da Libras, por exemplo, diz respeito ao es-
tudo dos pares mínimos de uma língua. Esses são os fonemas, 
ou sons que individualmente não são provocam diferença de 
sentidos, mas que quando comparados com os de outras pa-
lavras, ocasionam a mudança de sentidos entre elas. Podemos 
tomar como exemplo os fonemas das palavras pala e mala. A 
diferença está no primeiro fonema, portanto, ele é contrastivo.
A Libras também produz sinais a partir do mesmo princípio 
fonológico. Para entender como isso se dá, precisamos pri-
meiramente entender como se dá a construção de um sinal. 
O princípio básico está no seguinte padrão de organização:
 Â Configuração de mão: a forma como a mão está arti-
culada;
Capítulo 2 Estudos Linguísticosda Libras 33
 Â Locação: o local onde a configuração de mão é coloca-
da para a articulação do sinal;
 Â Movimento: o movimento do sinal ou movimento interno 
do mesmo.
Ainda existem alguns aspectos importantes na formação 
do sinal chamados de expressões não manuais, que podem 
incluir a expressão facial, a direção do olhar, entre outros. 
É importante que se lembre desses parâmetros básicos para 
a formação do sinal, visto ser comum os estudantes de Libras 
cometerem erros na sua articulação por falta de consciência 
de sua organização.
Portanto, os três primeiros parâmetros mencionados, confi-
guração de mão, locação e movimento, são responsáveis pela 
articulação do sinal. Assim como em línguas orais como o 
Português, a troca de um parâmetro da articulação acarreta 
na mudança do seu sentido. Isso é observado em pares de 
sinais realizados de forma quase idêntica, a não ser por um 
parâmetro. Por exemplo, podemos notar a diferença entre os 
sinais DESCULPA e VERDE. Os dois sinais podem ser realiza-
dos no mesmo local e com o mesmo movimento, porém com 
a configuração de mão diferente.
34 Libras
A partir dos estudos com línguas de sinais, o conceito de 
fonologia então passa a ser compreendido como o estudo das 
unidades mínimas sem sentido em uma língua e como a sua 
mudança pode causar a mudança de sentido de uma pala-
vra. Na prática, esse conhecimento é importante para que se 
aprenda a diferenciar os sinais, tanto no momento em que se 
percebe a sua formação como no momento em que se precisa 
produzi-lo. A mudança de um dos seus parâmetros pode mu-
dar o sentido ou fazer com que o sinal fique completamente 
incompreensível. O sinal em Libras também pode ser com-
preendido pela sua morfologia. A seguir, serão dados alguns 
exemplos de organização morfológica da Libras.
2.2 Morfologia
A Libras também se organiza de acordo com padrões estuda-
dos da morfologia. Esta área do estudo linguístico se ocupa 
Capítulo 2 Estudos Linguísticosda Libras 35
das unidades mínimas responsáveis por sentidos específicos, 
e são assim importantes para a produção do léxico, ou seja, 
o seu conjunto de sinais. Por meio dos estudos morfológicos, 
podemos entender quando uma palavra designao feminino, 
como em menina; o masculino, como em menino; o singular 
ou o plural, pela presença ou ausência de s. Além desses ca-
sos, também há estudos sobre quando esse mesmo padrão 
não é obtido dentro do léxico de uma língua. A seguir, você 
poderá compreender como alguns desses aspectos são mar-
cados em Libras.
2.2.1Gênero em Libras
A Libras também tem uma forma para marcar o gênero mas-
culino e feminino quando necessário. O sinal MULHER e 
HOMEM normalmente é utilizado para os casos onde o sinal 
anterior não marcar gênero. Um bom exemplo é o sinal PRO-
FESSOR, que em si não marca gênero, e isso pode ser sucedi-
do pelo sinal HOMEM ou MULHER.
2.2.2 Número em Libras
A organização das informações por número indica se o refe-
rente de um enunciado é singular ou plural. A Libras possui 
alguns mecanismos para a disposição de informações nesse 
sentido. A repetição do sinal no espaço em frente ao sinaliza-
dor é um exemplo desse mecanismo. Quando se busca o que 
em português seria o plural da palavra Casa, um sinalizador 
faria a repetição desse sinal no espaço.
36 Libras
2.2.3 Sinais compostos versus sinais simples
Alguns sinais podem ser organizados de forma a permitir a 
produção de ampliação do léxico da Libras. Exemplos interes-
santes desse fenômeno são o sinal de ESCOLA e de IGREJA. 
O primeiro sinal é a soma do sinal de CASA com o sinal de 
ESTUDAR. Isoladamente eles são sinais simples, mas podem 
ser unidos para a formação de sinais compostos. O segundo 
exemplo, é a soma do sinal de CASA com CRUZ, produzindo o 
sinal de IGREJA. Esse recurso é um dos utilizados para permitir 
a ampliação do léxico, ou seja, permitir que a comunidade 
surda tenha cada vez mais vocabulário dentro de sua própria 
língua. Esse aumento de vocabulário acontece à medida que 
seus usuários participam de experiências de interação entre 
si e com o mundo. A escolaridade é um fator decisivo nessse 
campo. A morfologia é uma área de estudos que permite uma 
ampla gama de tópicos para a compreensão dos aspectos lin-
guísticos envolvidos no uso da língua de sinais. Aprendizes de 
Libras se beneficiarão em conhecer mais sobre ela, pois pre-
cisam aprender as regras de formação do sinal para atingir 
fluência.
2.3 A sintaxe da Libras
A sintaxe é a área de estudos linguísticos que analisa como as 
frases são organizadas. A diferença mais significativa na forma 
como a Libras organiza as suas frases está no uso da moda-
lidade visoespacial. Enquanto as línguas orais auditivas usam 
o aparelho fonador como articulador principal, as mãos são 
o principal meio de línguas como a Libras. Assim, elas podem 
Capítulo 2 Estudos Linguísticosda Libras 37
articular o seu discurso no espaço a sua frente, fazendo rela-
ção aos referentes. A isso se chama campo anafórico.
A consciência da forma como a Libras organiza a suas fra-
ses é importante para quem vai começar a aprender a se co-
municar com surdos. É comum esperar que eles façam as suas 
frases na mesma estrutura do Português. Isso não corresponde 
à realidade das línguas, visto haver diferentes formas de orga-
nização sintática. O aprendiz deve conhecer mais sobre como 
as frases são feitas para poder melhorar a sua comunicação. 
Uma dica interessante é prestar atenção no tipo de verbo uti-
lizado. Um exemplo são os verbos direcionais. Esse tipo de 
verbo utiliza o espaço à frente do sinalizador e faz com que 
a configuração de mão percorra uma trajetória. Assim para 
dizer “Eu avisei a você”, é necessário usar o sinal AVISAR e 
direcioná-lo ao interlocutor a frente e, para dizer o contrário, 
– “Você me avisou”–, você deverá fazer o caminho inverso, 
trocando não somente a direção do sinal, mas a orientação 
da mão, invertendo-a.
2.4 Semântica e pragmática
Assim como nas línguas orais, as línguas de sinais também 
possuem padrões de organização semântica e pragmática. 
Quando se estuda a semântica de um sinal ou de uma pa-
lavra, o objetivo maior é compreender que sentidos podem 
haver dentro de uma frase. Por outro lado, quando associamos 
a nossa busca ao contexto onde ela é dita, estamos colocando 
a pragmática. Um exemplo clássico acontece quando alguém, 
em uma sala, pede para outra pessoa fechar a janela devido 
ao frio. Isso pode ser dito diretamente como em: “por favor 
38 Libras
fecha a janela”. Ou então pode ser dito por meio do contexto 
pragmático, olhando para a janela e dizendo: “Está frio hoje, 
não”. A outra pessoa pode entender que deve fechar a janela, 
mesmo que dentro do enunciado não haja a palavra frio ou 
fechar. Esse sistema de organização também é visto em línguas 
sinalizadas como a Libras, o que implica na necessidade do 
buscar o sentido dentro do contexto e não apenas por meio da 
localização e uso de sinais individualmente.
Outra questão semântico-pragmática que é importante 
lembrar ao se conhecer a Libras diz respeito à existência de 
sinais idênticos para sentidos diferentes. Esse é normalmente 
o caso do sinal LARANJA e SÁBADO. Os dois sinais são feitos 
com a mesma configuração de mão, locação e movimento. O 
sentido pode normalmente ser visto no contexto da interlocu-
ção. Isso nos remete para importantes questões frequentemen-
te levantadas por alunos que estão começando a aprender a 
língua de sinais. Muitos argumentam que o sentido poderia 
ser único para evitar confusões e ser mais fácil o aprendizado. 
No entanto, é importante lembrar que a Libras se trata de uma 
língua natural e que, assim, ela passa por fenômenos seme-
lhantes a elas, sejam da modalidade oral como o Português ou 
outra língua na modalidade sinalizada.
2.5 O léxico da Libras
Quando falamos do léxico da Libras neste capítulo, estamos 
tratando do conjunto do vocabulário que essa língua usa para 
propiciar a comunicação. Esse pode ser composto por sinais já 
estáveis na língua, isto é, sinais já presentes e conhecidos entre 
os seus usuários. Por outro lado, também há a possibilidade de 
Capítulo 2 Estudos Linguísticosda Libras 39
produção de novo vocábulo, como já mencionado. É comum 
alunos questionarem se esse processo deveria ser acelerado 
ou, então, controlado para fins de universalização. É impor-
tante lembrar novamente que isso não pode e não deve ser 
contido, visto a Libras não ser uma língua artificial. Por outro 
lado, a criação de novos sinais depende do conhecimento que 
os indivíduos possuem das regras de formação de sinais, bem 
como da sua experiência linguística, educacional e de traba-
lho, entre outras.
O léxico da Libras também pode fazer uso de elementos 
do Português, como o alfabeto manual. A isso chamamos em-
préstimo linguístico. O alfabeto manual, também chamado 
de datilológico, corresponde às letras do alfabeto. É comum 
pensar que esse alfabeto corresponde a todos os sinais utili-
zados pelos surdos, ou que para se comunicar com os surdos 
basta simplesmente usá-lo soletrando cada letra do alfabeto 
manual. Isso pode ser complicado para a sua comunicação. 
Os surdos que usam a Libras possuem um vocabulário próprio 
dentro da sua língua de sinais. As palavras do Português cor-
respondem ao vocabulário de outra língua, e os surdos podem 
não ter tido acesso a esse vocabulário. O fato de os surdos 
compartilharem a identidade de brasileiros e conviverem en-
tre textos escritos em Português não significa automaticamente 
que eles tenham conhecimento pleno do vocabulário dessa 
língua. Para que a comunicação aconteça com qualidade, é 
importante respeitar o vocabulário do léxico da Libras, apren-
dendo os seus sinais e utilizar o alfabeto manual para momen-
tos onde não houver um sinal comum, respeitando o fato de a 
palavra não ser do léxico da língua de sinais.
40 Libras
2.6 Variação linguística da Libras
A variação linguística é o processo pelo qual as línguas mu-
dam ao longo do tempo ou de uma determinada regiãoem 
comparação com outra região. Na Libras, também é possível 
encontrar o fenômeno da variação linguística. Por exemplo, o 
sinal PESSOA utilizado no estado do Rio Grande do Sul não 
é o mesmo encontrado em outras regiões do Brasil. Enquanto 
esse sinal é articulado no tórax do sinalizador, em outras par-
tes do Brasil esse conceito é sinalizado na região superior da 
cabeça.
Para que se conheça a língua, é importante aprender a 
respeitar a sua variação sociolinguística. Isso não significa que 
se deva aprender todas as formas de um sinal já de início. Um 
lugar interessante para se conhecer a variação linguística da 
Libras é a internet. O site Youtube contém vídeos de diversas 
partes do Brasil. Em se tratando de línguas de sinais de outros 
lugares do mundo, o site também é um ótimo lugar para a 
busca. No entanto, é importante usar de critérios para a busca 
e o conhecimento de línguas de sinais na internet, visto que o 
aluno pode estar aprendendo uma variação que não pertence 
a sua região. A orientação de um profissional do ensino da Li-
bras é importante para que se possa aproveitar da melhor ma-
neira o conhecimento disponibilizado em vídeos na internet.
2.7 Especificidades das línguas de sinais
Existem questões que são tratadas como especificidades das 
línguas de sinais. Uma propriedade que chama a atenção é a 
sua iconicidade. Ela diz respeito ao fato de alguns sinais refle-
Capítulo 2 Estudos Linguísticosda Libras 41
tirem a forma do referente que está sendo tratado ou da forma 
como o indivíduo lidaria com ele em uma situação real. Um 
bom exemplo é o sinal CASA, pois pode lembrar facilmente 
as características da imagem que se tem de uma casa. Essa 
habilidade foi durante muito tempo usada como argumento de 
que as línguas de sinais não seriam línguas reais, mas simples-
mente mímica ou não mais do que a comunicação por gestos. 
Para os padrões linguísticos iniciais, uma língua poderia ser 
somente arbitrária, ou seja, as suas palavras não deveriam 
refletir a forma dos seus referentes. No entanto, as línguas de 
sinais se mostraram como sistemas linguísticos no mesmo nível 
de complexidade das línguas orais. A sua modalidade de arti-
culação visoespacial nos traz alguns questionamentos do real 
funcionamento da língua, inclusive a questão da iconicidade. 
Hoje, entende-se que essa propriedade está presente em lín-
guas orais, embora de forma diferenciada. As línguas de sinais 
não devem ser confundidas com mímica ou simplesmente uma 
linguagem ou forma de comunicação não gramatical.
2.8 Outras formas de se conhecer a Libras
É interessante notar que as línguas podem ser estudadas de 
outras formas dentro dos estudos linguísticos. Uma das funções 
de uma língua é organizar o conhecimento que se tem sobre o 
mundo. Isso pode ser visto na forma como ela categoriza, por 
exemplo, as partes do corpo ou estados sociais das pessoas.
Quanto a partes do corpo, podemos ver que existe dife-
rença na forma como a anatomia humana é categorizada em 
português e japonês. Em português, podemos encontrar uma 
palavra específica para pé e outra para a parte que o ante-
42 Libras
cede. Em japonês não existem duas palavras equivalentes es-
pecíficas, mas sim uma palavra para designar a mesma parte 
do corpo humano. Outro exemplo é a palavra bachelor do in-
glês. Ela é utilizada para apontar o status social de um homem 
não casado, mas com uma vida noturna agitada, entre outras 
características. A língua portuguesa não possui uma palavra 
específica para esse mesmo estado social, mas pode falar dela 
por meio de outras palavras como a tradução “solteirão”. Essa 
categorização pode ser problemática dependendo do contex-
to, mas as línguas possuem sistemas de paráfrase para que se 
chegue ao sentido desejado.
O mesmo acontece com a Libras. As línguas de sinais po-
dem fazer categorizações semelhantes ou diferentes às línguas 
orais. A aparente falta de um vocabulário específico não indi-
ca um problema da língua, mas, sim, uma característica nor-
mal das línguas humanas.
Além disso, da mesma forma que as línguas orais, as lín-
guas de sinais são utilizadas para a constituição de sujeitos. 
Esse posicionamento linguístico olha para a língua não como 
um instrumento ou algo que aponta para objetos no mundo. 
Ao contrário, ele indica um aspecto interessante da relação 
entre a língua e os indivíduos, contribuindo para o processo 
de construção de sua identidade. Desse ponto de vista, a lín-
gua tem um papel importante na constituição de sujeitos. Esse 
processo acontece ao se levar em consideração a história dos 
grupos linguísticos. É por meio das lutas históricas que se for-
mam novos conceitos dentro de uma língua. Podemos ver isso 
marcado em alguns sinais da Libras que narram a trajetória 
das comunidades surdas.
Capítulo 2 Estudos Linguísticosda Libras 43
Considerações finais
O objetivo desse capítulo foi considerar foi propiciar um mo-
mento de aprendizagem, ainda que de forma introdutória, so-
bre como a Libras está organizada e é utilizada pela comuni-
dade surda. Além disso, a intenção também se deu no sentido 
de possibilitar que o conhecimento aqui discutido dessa base 
para o aluno que está começando a estudar a Libras. Para con-
cretizar o objetivo proposto, foi oferecido um panorama dos 
estudos linguísticos acerca da história das línguas de sinais, 
bem como as suas formas de análise. Consideramos questões 
relacionadas a organização da estrutura linguística das línguas 
de sinais, bem como da Libras. Esperamos que o aluno pos-
sa aproveitar o conhecimento aqui propiciado no sentido de 
compreender como esses estudos contribuíram para a mudan-
ça de paradigma sobre o status linguístico da Libras.
Recapitulando
A Libras é uma língua como todas as outras. Isso é comprova-
do pelo fato de ela ter uma estrutura fonológica, morfológica, 
sintática e semântico-pragmática. A fonologia da Libras cor-
responde ao estudo das partes que ajudam na construção de 
um sinal, a saber: a configuração de mão que corresponde à 
forma da mão, a locação que corresponde ao local onde o si-
nal é articulado e o movimento do sinal. Além desses aspectos, 
um sinal também é composto por aspectos não manuais, que 
são a expressão facial e o movimento dos ombros.
44 Libras
Referências
LADD, P. Deaf Culture In search of Deafhood. London: Mul-
tilingual Matters, 2003.
LANE, H. A Máscara da Benevolência: A comunidade Surda 
Amordaçada. Lisboa: Instituto Piaget, 1992.
QUADROS, R; KARNOPP, L. Língua de Sinais Brasileira: Es-
tudos Lingüísticos. Editora Artmed: Porto Alegre, 2004.
Atividades
1) A Língua de Sinais é uma língua complexa e de modalidade 
visuoespacial, que independe das línguas orais.
I – A variação de sentido da Libras depende do vocabulário 
que o sujeito bilíngue possui.
II – Na Libras também é possível encontrar o fenômeno da 
variação linguística.
III – Na Libras é possível encontrar traços de fonologia da 
língua portuguesa.
Quais estão corretas?
a) Apenas I.
b) Apenas II.
c) Apenas I e II.
Capítulo 2 Estudos Linguísticosda Libras 45
d) Apenas II e III.
e) I, II e III.
2) O alfabeto manual também é conhecido pelo termo:
a) Soletrar das mãos
b) Mãos de surdos
c) Datilografia
d) Datilológico
e) Gestos
3) Considere os estudos sobre fonologia da Língua de Sinais e 
verifique as afirmações abaixo.
I – A Libras também produz sinais a partir do mesmo prin-
cípio fonológico.
II – O sinal possui três princípios básicos na sua formação: 
configuração de mãos, locação e movimento. 
III – O sinal é composto por movimentos e pela configura-
ção da locação que define o formato da mão.
Quais estão corretas?
a) Apenas I.
b) Apenas III.
c) Apenas I e II.
d) Apenas II e III.
46 Libras
e) I, II e III.
4) Os sinaisLARANJA e SÁBADO, apresentados ao longo do 
estudo, possuem:
a) Mesmo sentido
b) Mesmo contexto
c) Mesma configuração de locação
d) Mesma configuração de mão
e) Nenhuma das alternativas
5) A partir de estudos linguísticos sobre a Língua de Sinais, 
podemos afirmar que:
a) As línguas de sinais se mostraram como sistemas lin-
guísticos no mesmo nível de complexidade das línguas 
orais.
b) As línguas de sinais se mostraram dependentes dos sis-
temas linguísticos das línguas orais.
c) As línguas de sinais possuem uma fonologia simplifica-
da em que o léxico não é produzido.
d) As línguas de sinais produzem sons por serem de mo-
dalidade oral-auditiva.
e) As línguas de sinais são línguas perplexas por terem 
propriedades únicas que envolvem sintaxe e semântica 
das línguas orais.
Cultura e Comunidade 
Surda1
1 Mestrado em Educação – Estudos Culturais (ULBRA) em andamento; graduado 
em Licenciatura Plena em Educação Física (ULBRA) e em Licenciatura Plena em Le-
tras Libras (UFSC); atua como professor de Língua de Sinais – na Educação Básica 
e no nível superior.
Fabrício Mähler Ramos1
Capítulo 3
48 Libras
Introdução
É importante ressaltar que o embate sobre escolas bilíngues 
ou escolas de inclusão não será abordado de forma exausti-
va neste capítulo. O objetivo deste relato é proporcionar uma 
ampla concepção sobre os diferentes pontos sobre a Libras e 
a Comunidade Surda. Nesse contexto, a presente seção tem 
como objetivo conceituar e discutir, bem como explorar, as 
possibilidades da constituição do sujeito bilíngue.
1 Estudos sobre cultura e comunidade 
surda
Nos estudos de cultura e comunidade surda, faz-se necessário 
observarmos um primeiro conceito, que é o multiculturalismo. 
Para compreender o multiculturalismo, façamos um paralelo 
em que um ser humano tem identificação e crenças que po-
dem transcender a razão. Por exemplo, uma pessoa estrangei-
ra empenha-se para se integrar à sociedade de um país. Nem 
todos conseguem atingir esse objetivo, por diversos motivos: 
o sujeito pode sentir que não pertence àquele país, já que a 
cultura local e a cultura que carrega consigo são distintas em 
diferentes aspectos.
A história individual de cada sujeito necessita ser valori-
zada, bem como a história da sociedade em que pertence. 
Ponderar as diferentes visões de mundo é insubstancial: não 
precisamos sermos iguais em etnia, gênero e religião, não é 
preciso termos uma única visão em nossa sociedade mundial.
Capítulo 3 Cultura e Comunidade Surda 49
Já na Europa pós-colonial e nos Estados Unidos, tanto 
os povos que foram colonizados quanto aqueles que os 
colonizaram tem respondido à diversidade do multicul-
turalismo por meio de uma busca renovada de certezas 
étnicas. (SILVA, 2014, pag. 23)
Existe uma dinâmica no cotidiano em que as pessoas se 
empenham para manter sua cultura e seus valores pessoais 
e sociais, que incluem as atitudes e o comportamento. Cabe 
lembrar que a cultura social pode ser modificada, já que o 
processo é constante; dessa forma, as influências são mútuas, 
tanto do cidadão para com a sociedade, como da sociedade 
para o indivíduo. Além disso, existe um ponto negativo em 
nossa organização social, em que buscamos um padrão de 
comportamento, gerando uma tendência em termos uma ide-
alização de atitudes aceitáveis.
A sociedade contemporânea é multicultural. Com a imi-
gração, por exemplo, as comunidades da Europa e das Amé-
ricas se misturam; dessa forma, passam para outras gerações 
sua cultura familiar e aos poucos adquirem novos costumes, 
comportamentos e atitudes. Formam-se novas formas culturais 
híbridas, oportunizando que as línguas se misturem. Pensar em 
língua é extremamente importante, já que uma geração utiliza 
a língua de uma forma e a próxima já tem uma mistura da 
mesma com outras línguas. O vocabulário pode ser preserva-
do, mas pode haver ressignificação de sentidos das palavras, 
já que os contextos se modificam com o passar dos anos.
O patrimônio cultural familiar é abalado com as influên-
cias do contexto social e pelo multiculturalismo existente na 
sociedade, influenciando a educação e a estrutura familiar. 
50 Libras
A identidade social para integrá-lo à sociedade não é um só 
“eu”, mas sim, pode ter vários em grupos no “entra e sai” de 
membros de grupo: as diferentes facetas de um mesmo indiví-
duo, como o modo de pensar, sentir, fazer. O sujeito faz parte 
de um grupo; portanto, o estar só e estar em coletivo gera a 
identidade social, buscando a valorização de sua identidade.
Tem a ver não tanto com as questões “quem nós somos” 
ou “de onde nós viemos”, mas muito mais com as ques-
tões “quem nós podemos nos tornar, “como nós temos 
sido representados” e “como essa representação afeta a 
forma como nós podemos representar a nós próprios”. 
(SILVA, 2014, pag.109)
Não pode afirmar que existe um padrão dentro de uma 
comunidade, já que as diferenças entre sujeitos são existentes, 
considerando que a identidade cultural é algo constituída no 
individual sob influência do coletio. A multiculturalidade é uma 
marca da atualidade, o ser único é possível, mesmo quan-
do existem outros iguais a mim. O coletivo pode gerar uma 
comunidade minoritária dentro da majoritária, sendo que as 
comunidades reconhecem as suas diferenças e similaridades, 
mas o fator importante nesse contexto é que o respeito pela 
multiculturaliedade aconteça de forma mútua. Muitas pessoas 
são multiculturais e tem tendência a viver a seu modo, outros 
são iguais. Usufruir da maior oportunidade estabelecida na 
multiculturaliedade é quando os sujeitos apoiam as trocas de 
experiências, o processo dinâmico, aceitam as diferenças den-
tro da cultura em diferentes níveis sociais.
Capítulo 3 Cultura e Comunidade Surda 51
A representação da sociedade é demonstrada através do 
padrão estabelecido pelos sujeitos que a compõem, mas não 
significa que os mesmos componentes possuem de forma line-
ar as características recorrentes no grupo. Podem compartilhar 
as mesmas atitudes, comportamentos e língua, mas não signi-
fica que o pensamento é padronizado.
2 Comunidade surda
A comunidade surda, de maneira geral, é composta por dois 
elementos: o primeiro é a cultura surda, e o segundo é a Língua 
Brasileira de Sinais – Libras. A cultura da comunidade surda não 
é medida pela surdez, não é percebida pela falta de audição, 
mas pela forma de comunicação estabelecida. O ponto princi-
pal é a visualidade que fica em evidência, sendo que a Libras 
tem uma característica marcante: o uso das mãos na comuni-
cação, que a diferencia, por exemplo, das pessoas falantes da 
língua portuguesa, que utilizam como recurso a voz.
O espaço cultural oportuniza construir significados e in-
fluencia nossas ações, com as quais podemos nos identificar, 
construir uma identidade enquanto surdo, e dar sentido aos 
significados como grupo ou como povo. Em outra forma de 
percepção, em um olhar clínico, provoca a comunidade sur-
da para transformar sua cultura em uma cultura de ouvinte, 
ameaçando a língua de sinais, que é o maior símbolo da co-
munidade surda. A perspectiva clínica percebe a surdez como 
algo negativo, subjugando a cultura surda com um discurso 
de opressão. Já na perspectiva cultural surda, a representação 
52 Libras
surda apresenta com destaque a Língua de Sinais como forma 
de comunicação, podendo o ouvinte e o surdo viver bem com 
uma comunicação bilíngue.
É importante que as pessoas compreendam e respeitem a 
forma de cada cultura. Nessa ideia, a comunidade surda, em 
seus subgrupos, busca reconhecimento e organizar a identida-
de cultural com direito ao uso da Língua de Sinais. Favorecer 
a cultura e língua é a melhor maneira de os surdos integrarem 
a sociedade, de se viver e estar em contato com os surdos. É 
de vital importânciapara qualquer sujeito surdo que a iden-
tidade se constitua de forma plena, reconhecendo-se como 
sujeito participante de sua comunidade e contendo traços cul-
turais que possa alimentar sua subjetividade na percepção de 
mundo. Para as crianças surdas, é de extrema importância, 
por exemplo, ter contato com adultos surdos para interpretar 
o mundo e as questões de diferença cultural entre surdos e 
ouvintes.
A cultura surda possui crenças, valores e comportamentos, 
tendo a Língua de Sinais como principal forma de comunica-
ção, transmitindo a identidade de uma geração para outra. A 
visão da comunidade surda é a experiência humana ensinada 
através da Libras para outras gerações, ser surdo é uma cons-
trução social. Um dos principais desafios é o de saber o que 
os surdos adultos estão dizendo para as crianças surdas sobre 
os seus próprios pontos de vista e experiências, mas essa é 
a forma como as pessoas surdas adquirem conhecimento e 
como elas aprendem.
Capítulo 3 Cultura e Comunidade Surda 53
Possuir uma identidade cultural nesse sentido e estar 
primordialmente em contato com um núcleo imutável 
e atemporal, ligando ao passado o future e o presente 
numa linha ininterrupta. Esse cordão umbilical e o que 
chamamos de “tradição”, cujo teste e o de sua fidelidade 
as origens, sua presença consciente diante de si mesma, 
sua “autenticidade”. E, claro, um mito — com todo o 
potencial real dos nossos mitos dominantes de moldar 
nossos imaginários, influenciar nossas ações, conferir 
significado as nossas vidas e dar sentido a nossa história. 
(Hall, 2003, pag. 29)
A comunicação e autoconfiança são importantes para ter 
sucesso na vida; dessa forma, é essencial considerar a educa-
ção como prioridade para os surdos para que possam atingir 
os seus objetivos. A educação, a cultura e a identidade são ex-
tensão do conhecimento que pessoas surdas adquirem através 
de suas experiências visuais, pautadas nessa multiculturalieda-
de existente entre culturas.
A globalização, entanto, produz diferente resultados em 
termos de identidade. A homogeneidade cultural promo-
vida pelo mercado global pode levar ao distanciamento 
da identidade relativamente à comunidade e à cultura 
local. De forma alternativa, pode levar a uma resistên-
cia que pode fortalecer e reafirmar algumas identidades 
nacionais e locais ou levar ao surgimento de novas posi-
ções de identidade. (SILVA, 2014, p. 21)
Como podemos identificar alguns valores e práticas da 
cultura investigada? Ao verificar as diferentes variáveis dentro 
de uma gama de fatores, observamos que o indivíduo é da 
54 Libras
comunidade, mas que circula entre outras comunidades, ou 
seja, o sujeito é único, mas sua constituição é a partir de uma 
diversidade; para tanto, cabe investigar as outras culturas e os 
valores agregados que ficam desconhecidos em um primeiro 
olhar. Normalmente, percebe-se nas diferentes comunidades 
as questões linguísticas e comportamentais.
3 Cultura da comunidade surda
As culturais nacionais, ao produzir sentidos sobre “a na-
ção”, sentidos com os quais podemos nos identificar, 
constroem identidades. Esses sentidos estão contidos nas 
histórias que são contadas sobre a nação, memórias que 
conectam seu presente com seu passado e imagens que 
dela são construídas. (HALL, 2011, pag. 51)
A percepção é diferente de cada representação de co-
munidade, de cada pessoa e realidade, como seu poder de 
compreender a vida. Os mundos das pessoas são diferentes 
pela cultura e convivência, assim como pelas percepções que 
despertam a atenção de suas interações, desde a teoria até a 
prática, como a forma de comunicação, capacidade de adap-
tação e mudança. Perspectiva cultural de várias pessoas no 
mundo multicultural é o jeito de pensar sendo diferente e si-
multâneo, gerando pessoas idênticas com atitudes parecidas a 
partir da convivência social.
A complexidade da pessoa multicultural pode transparecer 
pelo empoderamento que ela sofre, pelas influências culturais 
Capítulo 3 Cultura e Comunidade Surda 55
e pelo ambiente. O aceitar quem sou, de poder ser, de viven-
ciar e o como agir fornecem características que, quando vistas 
em uma comunidade, podem gerar um parâmetro para poder 
conhecer o grupo. Em comunidades em geral, percebemos 
que existem padrões estabelecidos para fazer parte do grupo; 
assim ocorre com a comunidade surda, mas não significa que 
todos sejam dessa ou daquela forma, mas que existe uma re-
corrência de atitudes e comportamentos similares.
Para encontrar a cultura surda, é preciso buscar o lugar 
onde se materializam os hábitos e costumes. Ela pode ser en-
contrada em escolas de surdos, nos clubes para surdos, es-
paços esses que unem as pessoas surdas pela língua e pelas 
características em comum, como a visualidade. Nesses espa-
ços para pessoas surdas, percebe-se um conjunto de práticas 
referentes às comunidades surdas, como a Literatura Surda, 
teatro, cinema, piada (humor surdo), esporte, lazer.
O cinema pode ser um reflexo dessa comunidade surda 
que é complexa, já que os filmes sobre surdos aumentam a 
cada dia, tendo como elenco atores surdos, possibilitando que 
os ouvintes conheçam mais as peculiaridades dessa comuni-
dade. Registro que, mesmo com crescimento de filmes, os ma-
teriais são escassos nessa área de entretenimento ou maior 
ainda a falta de materiais educacionais sobre cultura surda.
Como anteriormente vimos, a multiculturaliedade está pre-
sente em nossa sociedade, e a comunidade surda não é di-
ferente nesse aspecto. A comunidade surda é composta de 
uma variedade de sujeitos, e conforme Strobel (2008) define, 
a Cultura Surda é o jeito de o Surdo entender o mundo e de 
56 Libras
modificá-lo a fim de torná-lo acessível e habitável, ajustando-
-o às suas percepções visuais, que contribuem para a defini-
ção das identidades surdas e das “almas” das comunidades 
surdas. Isso significa que ela abrange a língua, as ideias, as 
crenças, os costumes e os hábitos do povo Surdo.
A comunidade surda não é composta apenas por surdos, 
mas pelos ouvintes que compartilham a Língua de Sinais, po-
dendo ser familiares, profissionais e amigos. Essa inclusão do 
sujeito ouvinte na comunidade surda é importante, visto que 
a comunidade se fortalece quando apoiados e reconhecidos 
enquanto comunidade. A experiência visual do surdo, somada 
às experiências linguísticas, colocam o surdo em um mundo 
mais visual, já que o meio comunicacional é através dos olhos. 
Somando as experiências entre culturas, entre ouvintes e sur-
dos, pode-se dizer que os surdos e ouvintes que compartilham 
das experiências linguísticas e culturais são considerados bi-
culturais.
A Libras é a língua da comunidade surda brasileira, ou 
seja, de todos que fazem parte dessa comunidade, seja surdo 
e ouvinte, e que vem se expandindo a cada dia. O espaço que 
a Libras vem ganhando na sua difusão e uso é uma conquista 
da comunidade surda, que luta por reconhecimento da sua 
língua e cultura. Mas o que seria a Cultura Surda? Para res-
ponder, é necessário pensarmos nas palavras cultura e surda.
Capítulo 3 Cultura e Comunidade Surda 57
4 Movimento surdo
Falar de comunidade surda e cultura é reconhecer a união en-
tre sujeitos, os interesses enquanto grupo, é ver a organização 
de uma comunidade. O movimento surdo vem conquistando 
diferentes vitórias pelo mundo; um desses movimentos foi ba-
tizado de Setembro Azul, que ocorre em diferentes países no 
mês de setembro. A origem desse nome se deu pelo fato de 
mês corresponder à data comemorativa do dia dos surdos (26 
de Setembro); o azul simboliza a comunidade surda e, o laço, 
o conceito de ser surdo.
No Brasil, o movimento busca melhorar as políticas edu-
cacionais para surdos, busca acessibilidade comunicacional, 
recursos educacionais adequados em escolas bilíngues e,

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