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Gabarito AP2 Lit. Bras. 3

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Fundação Centro de Ciências e Educação a Distância do Estado do Rio de Janeiro
Centro de Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro
Universidade Federal Fluminense
Curso de Licenciatura em Letras- UFF / CEDERJ
Disciplina: Literatura Brasileira III 
Coordenadora: Profª Flávia Amparo
AP2 – 2015.1
Aluno(a): _______________________________________________________
Polo: _______________________________ Matrícula: ___________________
Nota: _______________
Leia com atenção os textos e as questões da prova. Lembre-se do que estudou nas Unidades, de 5 a 9. Escreva as respostas de maneira dissertativa e fique atento à coerência, à coesão e à correção gramatical da sua escrita.
1- Leia atentamente as duas crônicas sobre a cidade do Rio de Janeiro:
Texto 1 – Memórias da Rua do Ouvidor – Joaquim Manuel de Macedo
Rompera, enfim, a época da real e crescente celebridade Rua do Ouvidor pela dominação da Moda de Paris, essa rainha despótica que governa e floresce decretando, modificando, reformando e mudando suas leis em cada estação do ano, e sublimando seu governo pelo encanto da novidade, pela graça do capricho, pelas surpresas da inconstância, pelo delírio da extravagância, e até pelo absurdo, quando traz para o rígido verão do nosso Brasil as modas do inverno de Paris.
A Rua do Ouvidor tornou-se, quase logo, até além da Rua dos Latoeiros, comercial e principalmente francesa, e Sua Majestade a Moda de Paris, déspota de cetro de flores, sedas e fitas, fez mais do que o Marquês de Lavradio, que acabara com os peneiros, mais do que o Intendente-Geral da Polícia Paulo Fernandes, que mandara destruir as rótulas, porque, num abrir e fechar de olhos, alindou a rua com graciosas, atraentes e enfeitadas lojas e criou e multiplicou aquele chamariz e laços armados que se chamaram, e ainda alguns chamam − as vidraças da Rua do Ouvidor − verdadeiro puff plástico. (MACEDO, 1988, p. 75).
Modelitos franceses sugeridos pelo Jornal das Famílias, em pleno verão de 1872, para o uso das damas da elite fluminense. (Fonte: http://memoria.bn.br/pdf/339776/per339776_1872_00001.pdf - p. 34)
Texto 2: Os livres acampamentos da miséria – João do Rio
Certo já ouvira falar das habitações do morro de Santo Antonio, quando encontrei, depois da meia noite, aquele grupo curioso. Sim. É o fato. Eu percebi que estava numa cidade dentro da grande cidade. Como se criou ali aquela curiosa vila de miséria indolente? O certo é que hoje há, talvez, mais de quinhentas casas e cerca de mil e quinhentas pessoas abrigadas lá em cima. As casas não se alugam. Vendem-se. Alguns são construtores e habitantes, mas o preço de uma casa regula de quarenta a setenta mil-réis. Todas são feitas sobre o chão, sem importar as depressões do terreno, com caixões de madeira, folhas de flandres, taquaras. A grande artéria da urbs era precisamente a que nós atravessávamos. Dessa, partiam várias ruas estreitas, caminhos curtos para casinhotos oscilantes, trepados uns por cima dos outros. Tinha-se, na treva luminosa da noite estrelada, a impressão lida na entrada do arraial de Canudos, ou a funambulesca ideia de um vasto galinheiro multiforme. E quando de novo cheguei ao alto do morro, dando outra vez com os olhos na cidade, que embaixo dormia iluminada, imaginei chegar de uma longa viagem a um outro ponto da terra, de uma corrida pelo arraial da sordidez alegre, pelo horror inconsciente da miséria cantadeira, com a visão dos casinhotos e das caras daquele povo vigoroso, refestelado na indigência em vez de trabalhar, conseguindo bem no centro de uma grande cidade a construção inédita de um acampamento de indolência, livre de todas as leis. (RIO, 1911, p. 151)
Morro de Santo Antônio, lugar descrito por João do Rio em sua crônica. Foto de 1913. (Fonte: http://www.flickr.com/photos/carioca_da_gema/151236145/)
Alguns escritores da nossa literatura, atentos às transformações da paisagem urbana, em especial a do Rio de Janeiro nos séculos XIX e XX, capturam determinadas cenas e comportamentos que passam a fazer parte do cotidiano da cidade e que propõem uma nova releitura do espaço urbano. O desejo de inclusão revela o anseio do indivíduo de se sentir parte integrante da cidade ou de, enfim, procurar transcendê-la, buscando outros modelos mais privilegiados. A partir dos dois fragmentos lidos, diga de que maneira Joaquim Manuel de Macedo, no Romantismo, e João do Rio, na Belle Époque, vão mostrar essas contradições e distorções da sociedade fluminense, que estão relacionadas tanto à necessidade de uma inserção local, quanto ao desejo de pertencimento a um plano universal.
Tanto no período Romántico quanto na Belle Époque carioca o estilo francês servia como modelo e como inspiração, seja na literatura, na arquitetura, na moda, na cultura e nos costumes, em especial da elite fluminense, que podia dispor desses bens. Joaquim Manuel de Macedo, como convinha aos escritores românticos, lança um olhar para os costumes da elite fluminense. Procurando descrever os atrativos franceses que surgiam nas vitrines da loja da rua do Ouvidor, o escritor revela também que a moda parisiense, como padrão de uma cultura superior na época, impõe modelos paradoxais para as culturas locais. Tal costume, no entanto, destoa do clima tropical e obriga as damas da sociedade a usarem roupas fechadas, feitas com tecidos muito pesados para o clima da cidade. Há um interesse em transcender os limites locais, em especial pela implantação de uma cultura externa como ideal para a alta sociedade. 
A principal mudança que percebemos na virada do século, em especial nas crônicas de João do Rio, é que há uma preocupação em fazer um retrato mais completo da sociedade, descrevendo tanto o ambiente da elite quanto os dos menos favorecidos, sendo este o escolhido na crônica descrita. A irregularidade da habitação dos menos favorecidos destoa de outros ambientes da cidade, revelando, num mesmo espaço, convivências díspares, ambientes de extremo luxo e de extrema miséria, mas em ambos há um desejo de inserção num panorama universal, embora distorcido da realidade local. 
2- Observe abaixo um fragmento da crítica de Antonio Candido, que analisa o surgimento do romance brasileiro do séc. XIX:
Texto 3: O romance brasileiro
Quanto à matéria, o romance brasileiro nasceu regionalista e de costumes; ou melhor, pendeu desde cedo para a descrição dos tipos humanos e formas de vida social nas cidades e nos campos. O romance histórico se enquadrou aqui nesta mesma orientação; o romance indianista constitui desenvolvimento à parte, do ponto de vista da evolução do gênero, e corresponde não só à imitação de Chateaubriand e Cooper, como a certas necessidades já assinaladas, poéticas e históricas, de estabelecer um passado heroico e lendário para a nossa civilização, a que os românticos desejavam, numa utopia retrospectiva, dar tanto quanto possível traços autóctones. Assim, pois, três graus na matéria romanesca, determinados pelo espaço geocultural em que se desenvolve a narrativa: cidade, campo, selva; ou, por outra, vida urbana, vida rural, vida primitiva. (Fonte: CANDIDO, Antonio. Formação da literatura brasileira. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2007. p. 432).
 Antonio Candido enfatiza a tendência dos romancistas brasileiros (do séc. XIX) de criar “romances de costumes” e, principalmente, de apalpar todas as regiões do país, desencadeando o primeiro “regionalismo” de nossa literatura. Ao contrário dos regionalistas românticos ou dos da década de 30, a narrativa de Guimarães Rosa apresenta uma nova proposta de leitura do sertão e do sertanejo. Discuta essa nova proposta de Rosa a partir da novela “A hora e vez de Augusto Matraga”.
Em a H.V.A.M vemos que o sertão rosiano é um espaço simbólico, uma vez que nele se operam mudanças radicais do personagem Matraga, numa Via-Crucis sertaneja em busca da salvação da alma. Ao contrário dos românticos, Rosa não cria um herói ideal, mas um anti-herói, valentão, que é constituídode aspectos duplos, capaz de executar o bem, mas por ações violentas e pela demonstração de força. No lugar de um sertão seco e castigado, como vemos na literatura de 30, Rosa mostra um sertão vasto e plural, de uma flora e fauna exuberantes, capaz de exercer sobre o homem o poder de decisão a respeito das veredas a serem seguidas e do destino a ser traçado. 
Os feitos do anti-herói Matraga são o centro da narrativa e revelam as muitas transformações do sujeito conforme as reviravoltas da vida. O sertão de Rosa é, portanto, local e universal, pois tanto revela as particularidades locais do sertanejo e do sertão de Minas, nas descrições das paisagens e no uso da linguagem, quanto trata de questões universais, da natureza íntima do homem, suas dúvidas, medos e angústias. 
3- Leia atentamente o trecho do romance O filho da mãe, do escritor Bernardo Carvalho, que é ambientado na Rússia. Destaque os elementos presentes na narrativa que vão caracterizar o perfil da literatura brasileira contemporânea, ligada às relações de universalidade da nova sociedade em rede. 
Texto 4 – O filho da mãe
Olga está sentada no McDonald’s da rua Tverskáia. Levanta a cabeça a cada cliente que entra, na esperança de se fazer reconhecer. Já está ali há vinte minutos, o que explica ter se distraído por alguns segundos. Está diante de um copo de Coca-Cola, quando percebe Marina Bóndareva, parada na porta, a esquadrinhar o ambiente. Estica o pescoço, buscando os olhos da recém-chegada, e, ao encontrá-los, arrisca-se a levantar a mão vacilante. Marina a identifica e vem na sua direção. É uma mulher enérgica, gorda e ruiva, vestida com blusa e calças pretas. As duas se cumprimentam com constrangimento. Marina tenta tornar as coisas mais fáceis, tem experiência. Pede desculpas, pergunta se a deixou esperando por muito tempo. Olga diz que acabou de chegar e, logo em seguida, contradizendo-se, que achou que esperaria uma eternidade na embaixada:
- Foram bem mais diligentes do que eu imaginava. Por isso, cheguei mais cedo. Não tinha para onde ir. Resolvi esperar aqui mesmo.
- Desculpe marcar o encontro aqui – Marina diz, olhando em volta. – Podia ter escolhido melhor, mas achei que seria mais prático para nós duas.
- Claro. – Olga não entende por que ela se desculpa pelo lugar.
A obra “O filho da mãe”, de Bernardo Carvalho, faz parte de um projeto denominado Amores Expressos, cujo objetivo é a escrita de um romance, por um escritor brasileiro, numa cidade fora do Brasil. Bernardo não só ambienta o seu romance na Rússia como o escreve na cidade de São Petersburgo, por encomenda da editora. Essas novas exigências da literatura da nossa época revelam a importância de retratar outras culturas e lugares a partir de um olhar cosmopolita, ao mesmo tempo em os autores dessas obras anulam as diferenças ao espelhar nas narrativas sentimentos comuns e mazelas semelhantes, presentes no cotidiano das grandes cidades. No trecho do romance, o lugar de encontro entre as duas mulheres, uma loja do McDonald’s, retrata um mundo globalizado, que perde suas tendências locais ao adotar uma cultura de massa, que impõem certos modelos a todo o mundo. A literatura contemporânea, portanto, toma como pano de fundo questões universais e locais, que apontam para uma sociedade em rede. 
4- Observe a gravura de Jean-Baptiste Debret, que retrata uma cena cotidiana do Rio de Janeiro (séc. XIX), e leia atentamente o trecho do conto “Pai contra mãe”, de Machado de Assis:
Texto 5- “Pai contra mãe” – Machado de Assis
Cândido Neves, - em família, Candinho, - é a pessoa a quem se liga a história de uma fuga, cedeu à pobreza, quando adquiriu o ofício de pegar escravos fugidos. Tinha um defeito grave esse homem, não aguentava emprego nem ofício, carecia de estabilidade; é o que ele chamava caiporismo. Começou por querer aprender tipografia, mas viu cedo que era preciso algum tempo para compor bem, e ainda assim talvez não ganhasse o bastante; foi o que ele disse a si mesmo. O comércio chamou-lhe a atenção, era carreira boa. Com algum esforço entrou de caixeiro para um armarinho. A obrigação, porém, de atender e servir a todos feria-o na corda do orgulho, e ao cabo de cinco ou seis semanas estava na rua por sua vontade. Fiel de cartório, contínuo de uma repartição anexa ao Ministério do Império, carteiro e outros empregos foram deixados pouco depois de obtidos.
Quando veio a paixão da moça Clara, não tinha ele mais que dívidas, ainda que poucas, porque morava com um primo, entalhador de ofício. Depois de várias tentativas para obter emprego, resolveu adotar o ofício do primo, de que aliás já tomara algumas lições. Não lhe custou apanhar outras, mas, querendo aprender depressa, aprendeu mal. Não fazia obras finas nem complicadas, apenas garras para sofás e relevos comuns para cadeiras. Queria ter em que trabalhar quando casasse, e o casamento não se demorou muito. 
Cândido Neves perdera já o ofício de entalhador, como abrira mão de outros muitos, melhores ou piores. Pegar escravos fugidos trouxe-lhe um encanto novo. Não obrigava a estar longas horas sentado. Só exigia força, olho vivo, paciência, coragem e um pedaço de corda. Cândido Neves lia os anúncios, copiava-os, metia-os no bolso e saía às pesquisas. Tinha boa memória. Fixados os sinais e os costumes de um escravo fugido, gastava pouco tempo em achá-lo, segurá-lo, amarrá-lo e levá-lo. A força era muita, a agilidade também. Mais de uma vez, a uma esquina, conversando de coisas remotas, via passar um escravo como os outros, e descobria logo que ia fugido, quem era, o nome, o dono, a casa deste e a gratificação; interrompia a conversa e ia atrás do vicioso. Não o apanhava logo, espreitava lugar azado, e de um salto tinha a gratificação nas mãos. Nem sempre saía sem sangue, as unhas e os dentes do outro trabalhavam, mas geralmente ele os vencia sem o menor arranhão.
Tanto a gravura de Debret quanto o conto de Machado de Assis revelam as estruturas hierárquicas e de poder que eram estabelecidas no Rio de Janeiro escravista. Considerando essa estrutura social, de que modo Machado de Assis e Debret retratam as as relações de trabalho no cenário da capital do Império? Como a opção de Cândido das Neves pelo seu ofício demonstra uma acomodação da sociedade livre a tal sistema? Justifique seus argumentos a partir de alguns trechos do conto e da análise dos elementos da gravura.
Tanto no conto quanto na gravura podemos notar como a sociedade fluminense se torna dependente da mão de obra escrava para a execução de todos os trabalhos, em especial, os trabalhos manuais, para suprir todas as necessidades das pessoas que habitavam a cidade. Na gravura de Debret, os negros fazem toda a sorte de tarefas, enquanto os homens livres descansam e apreciam a paisagem. Portanto, o trabalho manual acabava por se tornar algo humilhante e servil, não estando os brancos livres, como Candido Neves, dispostos a execução de uma atividade, qualquer que fosse, que o colocasse numa posição “subalterna”. 
Tal distorção, afeta diretamente as relações de trabalho, levando o sujeito a buscar atividades irregulares e esparsas como ganha-pão (conforme observamos em Candido Neves, que se dispõe a ser caçador de escravos fugidos, ainda que passasse por grandes necessidades quando não conseguia capturar ninguém). A aprendizagem de um ofício e o desenvolvimento de uma profissão, como a de marceneiro, traz para Candinho uma ideia de servidão, de submissão. Dentro desse panorama, há um jogo de poder na relação entre homens escravizados e homens livres, uma vez que alguns privilégios só podem ser possíveis com a manutenção de um esquema injusto de apropriação da mão de obra do outro e da desumanização do indivíduo escravizado, como podemos notar na relação entre o filho que a escrava Aminta perde, ao ser arrastada de volta ao seu dono, em contraponto ao filho de Candinho, que seria enjeitado sem o dinheiro da recompensa. Nesse jogo de poder da sociedade escravocrata,o Pai contra Mãe, as vitórias são sempre provisórias, uma vez que todos se acomodam ao sistema, não desenvolvendo habilidades que garantam o bem estar financeiro, nem a compaixão por seus semelhantes, tirando proveito do outro conforme a sua posição na escala social.

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