Buscar

Loucura e Sociedade

Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original

Loucura, Cultura e Sociedade
 
Prefiro ser
Essa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo
Eu quero dizer
Agora, o oposto do que eu disse antes
Eu prefiro ser
Essa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo
Sobre o que é o amor
Sobre o que eu nem sei quem sou
Se hoje eu sou estrela
Amanhã já se apagou
Se hoje eu te odeio
Amanhã lhe tenho amor
Lhe tenho amor
Lhe tenho horror
Lhe faço amor
Eu sou um ator
[....]
Segundo Fábio Cardoso Lopes, os ocidentais possuem uma constituição psíquica imbuída de um demasiado temor, no que tange ao desconhecido e diferente. Todo aquele que manifesta ações não padronizadas, "estandartizadas" e "robotizadas" é visto como louco ou anormal e deve ser extirpado do convívio físico e psicológico.
 “Esse indivíduo assemelha-se a um câncer, o qual não sendo retirado pode originar a metástase e comprometer todo o organismo social.”(CARDOSO LOPES)
A partir desta perspectiva, podemos tentar entender a loucura como produto de uma exclusão social.
Assim, a loucura antes de ser considerada requisito de uma patologia, é por excelência, um fenômeno sociológico e cultural, pois, somente poder-se-á, considerar a loucura como elemento manifesto da doença mental, quando esta estiver inserida em uma cultura que a reconheça como patologia. 
Assim, a loucura, é, sobretudo, um fenômeno cultural, como um subproduto do meio social onde está inserida.
 
 No caso da nossa cultura, podemos entender a loucura manifestação de uma dicotomia entre o sujeito que produz e aquele outro que em um modelo capitalista contemporâneo, não gera lucro, sendo assim imbuído de uma loucura assegurada pela mensuração do capital. Observa Cadoso Lopes.
Isaias Pessotti (A Loucura e suas Épocas, 1995) nos apresenta três visões acerca da loucura e a perda do controle sobre a mente:
1- a místico-religiosa que atribui a loucura à possessão de espíritos, ou a influência de deuses malévolos ou demônios que usam os seres humanos para suas práticas malfazejas;
2- a passional, a qual acredita que a gênese da loucura encontra-se nas emoções intensas e descontroladas. Nessa amálgama de sentimentos confusos, estaria à raiz da insanidade;
3- a naturalística que busca nos desequilíbrios do organismo a justificativa das psicoses. Toda a confusão mental estaria relacionada a fatores orgânicos de ordem genética ou de deficiência do próprio organismo biológico;
Émile Durkheim (Regras do Método Sociológico, 1973), entendia a loucura como um fenômeno social de segregação. Aqueles indivíduos que não se adequavam às regras de comportamento social da média da população eram estigmatizados e estereotipados, percebidos como elementos perniciosos à padronização da sociedade.
Os homens que não se adaptam aos padrões burgueses de produções capitalistas, oriundas da Revolução Industrial, Pós Mercantilismo e Pós Racionalismo do século XVII, eram considerados um fardo para o crescimento da civilização moderna, sendo relegados ao limbo. 
Na Idade Média e Renascença, a loucura estava atrelada a aspectos transcendentais de caráter imaginários, inerentes à magia e bruxaria que rondavam esses períodos históricos. 
Na Idade Clássica, o que predomina é o Jus Status, o qual representa o poder para julgar e segregar todos aqueles que eram considerados loucos. Com o advento do manicômio, que em seu escopo teria a função social de zelar pelos moribundos, mas que na verdade não passava de um rincão de torturas, onde a loucura passa a ser tratada como uma doença diferente das demais que assolavam o velho continente. 
Posteiormente temos o início de um olhar médico sobre a loucura e não mais uma representação simbólica de crenças religiosas ou uma forma coercitiva jurídica-estatal. 
Na civilização ocidental, a loucura passou a ser encarada como problema médico apenas no início do século XIX, quando o francês Philippe Pinel iniciou o tratamento médico humanitário dos doentes mentais, livrando-os das cadeias e dos asilos, onde eram segregados da sociedade.
 O psiquiatra alemão Emil Kraepelin em 1896, distinguiu duas manifestações principais de insanidade, a demência precoce e a demência tardia.
A psicologia como ciência tem laços intrínsecos em sua gênese com a loucura na sua culpa e liberdade, assim como a moral da alma humana.
 A ciência possui fatores de repressão moral, por representar a cientificidade da classe dominante, enquanto inserida em um sistema social de valores na disseminação do saber. 
O louco nessa ótica representa um espelho de uma realidade subjetiva e inconsciente, que necessariamente, tem de ser evitada e punida. 
"Mas deveras estariam eles doidos, e foram curados por mim, ou o que pareceu cura não foi mais que a descoberta do perfeito desequilíbrio do cérebro?". (Machado de Assis, O Alienista)
Segundo Zuleide Noleto Brito, Desde os idos mais remotos da humanidade, mesmo nas sociedades mais primitivas, como na Idade Média e Clássica, a loucura era vista com certo preconceito e discriminação, chegando-se ao ponto de afastar o doente mental do convívio social, proibindo-se também a eles o acesso às igrejas como se fazia aos leprosos e portadores de doenças venéreas. Era considerada como desvio da conduta espiritual, similar a um limite, assim como o é a morte.
 
Loucura – comportamento fora do padrão
Para Foucault não vemos razão no estado de loucura “por havermos conhecido mal a natureza da loucura, permanecendo cegos a seus signos positivos”. 
O modo como a loucura foi tratada nos impediu de julgar corretamente e individualmente cada estado de loucura, tornando-a uma experiência homogênea e ao mesmo tempo cega para a realidade do indivíduo nesse estado.
A sociedade produz a loucura 
A angústia e o sofrimento gerados pelo modo de vida nas sociedades capitalistas não são diagnosticados em sua origem.
Tornou-se doença ou algum distúrbio psíquico, tratável com medicamentos, eliminando os sintomas diagnosticados, mas não sua causa. 
Todo sintoma já está pré-catalogado e as queixas do eventual paciente vão se encaixando em um diagnóstico pronto, resultando em uma receita da felicidade, onde a pílula substitui as atitudes e a decisão de se aceitar como ser individual único e peculiar. 
Pessoti (2003) apud Ewald et al afirma que “A facilidade e irresponsabilidade com que os diagnósticos são  emitidos,  acentuam o abuso de medicamentos, pois eles são baseados num quadro de sintomas pré- catalogados por algum manual [...]”.
Maria Rita Kehl (2003apud Ewald et al) afirma: “ o eu que nos sustenta é uma afirmação fictícia, depende da memória e também do olhar do outro para se reconhecer como uma unidade estável ao longo do tempo”. Essa sensação de não pertencer ao todo, o deixará certamente em estado depressivo, cuja evolução leva à loucura nas suas mais variadas faces, em maior ou menor grau, conforme indicar o “manual”. 
A produção da loucura pela sociedade ao longo dos séculos e na atualidade se dá pela incompreensão do próprio “eu”, pela não aceitação de si mesmo como ser individual e peculiar. 
A loucura nasce da necessidade de ser igual ao que alguém determinou ser normal, quando o normal é que cada um seja como nasceu para ser.  Começam na negação da verdade a respeito de si mesmo em favor dos valores sociais impostos.
A loucura que na Idade Clássica era tratada com isolamento em prisões é hoje tratada com medicamentos e terapias.
http://www.webartigos.com/artigos/loucura-e-cultura/10325/#ixzz2UPO522iv
BRITO, Zuleide Noleto. A Sociedade e a Produção da Loucura

Teste o Premium para desbloquear

Aproveite todos os benefícios por 3 dias sem pagar! 😉
Já tem cadastro?

Outros materiais