Buscar

Cidadania e Participação Popular

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 13 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 13 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 13 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Cidadania e participação popular 
Texto extraído do Jus Navigandi 
http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4199 
 
 
Weverson Viegas 
advogado em Campos dos Goytacazes (RJ), mestrando em Direito na Faculdade de Direito 
de Campos 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 O presente texto pretende trabalhar com a questão da incorporação da cidadania 
dentre o rol dos direitos elencados na Constituição de 1.988, uma vez que este princípio 
está presente na Carta como um fundamento da República Federativa do Brasil, que se 
pretende um Estado Democrático de Direito. 
 E é exatamente a partir do princípio de um Estado Democrático é que 
defendemos, neste trabalho, uma efetiva participação cidadã, nas decisões da 
administração que alcancem toda a coletividade. 
 Aqui, a cidadania é vista como um "pano de fundo" para que, juntamente com a 
noção de soberania popular que, frise-se, também é preceito constitucional, possam 
servir de sustentáculo para a participação eficaz da população. 
 A participação pode se dar diretamente, através da chamada democracia direta, 
com a utilização de instrumentos como o referendo, o plebiscito ou a iniciativa popular, 
como também pode ser proposta a partir de meios que, juntamente com a administração 
pública, pretendem cooperar para uma administração participativa, que pode se dar 
através de subprefeituras ou com a participação de cidadãos em conselhos públicos 
municipais, ou ainda pelos chamados conselhos autônomos que, apesar de não 
pertencerem, não serem subordinados à administração pública, podem fiscalizar e até 
mesmo participar da administração nos assuntos que forem pertinentes a toda 
coletividade. 
 O que não se pode perder de vista é que, nada disso terá sentido ou, nada disso 
terá eficácia, se não for assegurado à coletividade o direito à informação que também é 
consagrado na Carta de 05 de outubro de 1.988, como direito fundamental do cidadão, 
ter o direito de receber dos órgãos públicos informações de interesse da coletividade, 
desde que não seja assunto relativo à segurança da sociedade e do Estado. 
 Enfim, o que procuramos demonstrar neste trabalho que a cidadania pode ser 
exercida como mecanismo transformador de uma sociedade, todavia, esta mesma 
cidadania deve ser vista em todos os seus aspectos, principalmente no sentido que, 
através dela, se almeja uma sociedade com vida digna para todos. 
 
1 – A CIDADANIA 
 Antes de adentrarmos, especificamente, o tema da cidadania, gostaria de tecer 
algumas considerações que, ao meu sentir, são de grande relevo, e servirão de pano de 
fundo para este trabalho. 
 A cidadania é um dos fundamentos da República Federativa do Brasil, de acordo 
com o que preceitua o inciso II, do artigo 1º da Constituição da República. 
 Todavia, penso que o local mais propício para um exercício efetivo da 
democracia é o município, que é onde ocorrem as decisões mais próximas da 
comunidade, em que o individuo tem maior poder de ingerência nestas decisões. 
 A partir deste momento, faremos uma breve incursão sobre a história da 
cidadania e de seu desenvolvimento diferenciado no âmbito europeu e no âmbito 
nacional. 
 Há um trabalho muito precioso de T. H. Marshal, que explica o desenvolvimento 
histórico da cidadania, dividindo em três momentos. 
 O primeiro momento é aquele no qual foram afirmados os direitos civis, ou os 
direitos de liberdade. Num segundo momento o que se tinha era o direito de 
participação política, então, é a fase dos chamados direitos políticos. E a terceira fase é 
aquela em que se firmaram os direitos sociais. Dessa forma, Marshal defende que os 
direitos da cidadania não nasceram todos juntos, mas foram se formando com o tempo. 
 Ocorre que, esta classificação vale para a Europa, principalmente no caso da 
Inglaterra, mas essa classificação não ocorreu na mesma ordem no caso do Brasil. Aqui, 
a primeira fase é a dos direitos sociais, vindo depois os direitos civis e políticos. 
 Hoje já se fala nos direitos transindividuais, que são denominados, por alguns, 
de direitos de 4ª geração. 
 O momento dos direitos civis surgiu no século XVIII, que são os direitos 
necessários à liberdade individual como liberdade de ir e vir, de imprensa, de 
pensamento, e ainda os direitos à propriedade e à justiça. 
 Esses são os chamados direitos negativos ou contra o Estado, isto porque exigem 
uma abstenção do Estado. Porque se tratava de dar liberdade aos indivíduos num Estado 
Absoluto. 
 Essa abstenção, num primeiro momento, pode parecer que o Estado não precisa 
fazer nada para garantia de determinado direito. O Estado deveria simplesmente 
respeitar a atividade do cidadão. Ocorre que, pelo simples fato de fazer com que aquele 
direito fosse respeitado, já exigia uma atuação efetiva e concreta do próprio Estado. Se 
pensarmos dessa maneira, vamos concluir que não há direitos negativos, pois todos eles 
exigem uma prestação positiva do Estado. Acontece que, como se tratava de um Estado 
Absolutista, esse era o primeiro estágio a ser ultrapassado, e era tão sutil que, por vezes, 
fazia parecer que o Estado não atuava. 
 O momento dos direitos políticos, ocorrido basicamente no século XIX, é 
reconhecido pela possibilidade de o indivíduo participar do poder político do Estado. 
Dito de outra forma, compreende o direito de votar e de ser votado como meios de 
participação na esfera pública. Além disso pode-se falar na institucionalização dos 
parlamentos, nos sistemas eleitorais e nos sistemas políticos em geral, que ajudam a 
formar os direitos políticos. 
 Nesse momento, aparece a democracia representativa como forma de 
legitimação do poder, por meio de eleições. 
 Ainda neste período, o Estado de Direito se apresenta como forma de realização 
da democracia, uma vez que num Estado de direito a legitimidade dos atos do Estados 
provém de uma lei que determine sua atuação. 
 O momento dos direitos sociais se dá no século XX e se desenvolve no 
momento em que havia um amplo desenvolvimento do chamado welfare state, ou 
Estado do bem estar social, principalmente na Inglaterra e Europa Ocidental. 
 Esses direitos sociais só vêm a se desenvolver após a Segunda Grande Guerra, e 
têm como referência as classes trabalhadoras e o seu desenvolvimento a partir do Estado 
Providência. 
 Assim, cidadania, segundo Marshal (1), "se refere a tudo que vai 
desde o direito a um mínimo de bem-estar econômico e segurança ao 
direito de participar, por completo, na herança social e levar a vida 
de um ser civilizado de acordo com os padrões que prevalecem na 
sociedade". 
 No caso dos direitos sociais, o que se exige, é uma ação eficaz do Estado, para 
garantir políticas sociais para a sociedade. 
 Se, naquele primeiro estágio, o momento dos direitos civis, em que se dava a 
liberdade para os cidadãos, a tarefa do Estado não parecia ser tão ativa, a ponto de se 
dizer que se tratava de uma simples ação negativa do Estado, aqui, neste 3º momento, o 
dos direitos civis, o que se quer é uma atuação do Estado para propiciar aos indivíduos 
pelo menos, adequada aos padrões de vida daquele período histórico ou, o que seria 
ideal, que fosse propiciado condições de vida digna para todos. 
 O que Marshal diz é que a cidadania se aperfeiçoa quando ela se aproxima da 
igualdade entre os cidadãos, ou seja, à medida que as pessoas vão sendo cada vez menos 
desiguais entre si, elas vão atingindo o chamado status da cidadania. 
 Esse"estado de cidadania" é um ponto, um local de igualdade entre os 
indivíduos visto que, quando se fala em cidadãos, estabelece-se direitos mínimos, 
dentro de um locus em que todas as pessoas são iguais, não formalmente, mas há uma 
igualdade real, em direitos e obrigações. 
 Marshal não pretende, com isso, dizer que as desigualdades irão se acabar com a 
cidadania. O que haverá é, pelo menos, uma igualdade básica, suportada pelo sistema 
imposto pelo mercado. 
 Há um aspecto integrador na cidadania, segundo Marshal, para a 
formação da consciência nacional. Ele diz que "a cidadania exige um 
elo de liderança diferente, um sentimento de direito de participação 
numa comunidade baseado numa lealdade a uma civilização que é um 
patrimônio comum. Compreende a lealdade de homens livres, imbuídos de 
direitos e protegidos por uma lei comum. Seu desenvolvimento é 
estimulado tanto pela luta para adquirir tais direitos quanto pelo 
gozo dos mesmos, uma vez adquiridos".
 (2) 
 No caso brasileiro, como dissemos, as fases do desenvolvimento da cidadania 
não acompanharam a Inglaterra. Entre nós, primeiramente houve o aparecimento dos 
direitos sociais, em 1930, na era Vargas. Os direitos civis e políticos vieram com a 
Constituição de 1988. A partir daí é que se pode falar em liberdade política e as outras 
liberdades garantidas constitucionalmente, após um 
 período de ditadura militar. Pensamos que o medo quanto à volta do antigo 
regime fez com que se assegurasse, inclusive com condição de cláusula pétrea, que não 
pode ser modificada na Constituição, as liberdades individuais. 
 Numa sociedade liberal, como bem diz Boaventura de Sousa Santos,
 (3)
 muitos 
indivíduos livres e autônomos não são cidadãos, pelo simples fato de não poderem 
participar politicamente das atividades do Estado. 
 A cidadania não pode ser entendida somente como direito ao voto. Porque neste 
caso, estaríamos apenas diante do mecanismo da representação. Segundo o qual, 
existem algumas pessoas que reapresentariam a coletividade e nesse sentido, Kant
 (4)
 diz 
que "a representatividade dos representantes é tanto maior quanto menor for o seu 
número e quanto maior for o número de representados". 
 Aqui, penso ser importante fazer uma distinção básica entre democracia 
representativa e democracia participativa. Na primeira, há uma eleição das pessoas que 
representarão o povo, devendo corresponder aos anseios deste, e após as eleições, não 
há mais uma participação do povo, que só voltará ao cenário quando da eleição 
seguinte. Na democracia participativa, ou chamada democracia real, os cidadãos fazem 
parte diretamente da discussão que será capaz de modificar, ou não, suas vidas. 
 Há autores que defendem a complementaridade entre os dois modelos. Essa é a 
posição de Maria Victoria Benevides
 (5)
 que, ao aprofundar a discussão, dizendo que "o 
que proponho estudar é a complementaridade entre as formas de representação e de 
participação direta – isto é, o aperfeiçoamento da democracia pelo ingresso direto do 
povo no exercício da função legislativa e da produção de políticas governamentais". 
 A essa complementaridade, ela dá o nome de democracia semidireta, na qual 
além do exercício do voto, se verifica votação de questões de interesse público. 
 Se se pensa como Rousseau, no princípio da comunidade, o que deve haver é a 
atuação dos cidadãos, em conjunto, para que se alcance, não a igualdade formal, vez que 
esta já não basta, mas o que se propõe é a busca de uma igualdade real, substantiva. 
 A cidadania, segundo Boaventura,
 (6)
 o mecanismo que regula a tensão entre a 
sociedade civil e o Estado é a cidadania, vez que "por um lado, limita os poderes do 
Estado, por outro, universaliza e igualiza as particularidades dos sujeitos de modo a 
facilitar o controle social de suas atividades". 
 No primeiro estágio de desenvolvimento da cidadania, que se deu no período do 
capitalismo liberal, os direitos civis e políticos não iam de encontro com as 
características do mercado, ao contrário, eram compatíveis com o princípio do mercado. 
 Mas hoje eu já posso falar numa crise da cidadania. Isso ocorre por alguns 
motivos que podemos destacar. 
 Podemos dizer, com Marshal, que no período do capitalismo organizado, houve 
uma passagem dos direitos cívicos e políticos, para os direitos sociais, a partir de uma 
luta por esses direitos. (Não queremos, aqui, entrar na discussão que se trava entre os 
que pensam que o papel das lutas populares foi fundamental para as conquistas dos 
direitos sociais, ou se esses são advindos de uma maior preocupação e atenção do 
Estado). 
 Neste sentido, a cidadania não é monolítica. Dito de outra forma, não é igual em 
todas as sociedades, visto que se compõe de diferentes direitos e instituições. 
 Acontece que, com a crise do Estado Providência, houve também o início da 
crise da cidadania, que continua até nossos dias. 
 A representação democrática perdeu o contato com os anseios e as necessidades 
da população representada, fazendo-se refém dos interesses corporativos poderosos, 
assim, os cidadãos perdem a forma de participação através da representação e não têm 
uma nova forma de participação política. 
 
2 – O ESTADO E A CIDADANIA 
 Neste momento, devemos partir do pressuposto que a essência do Estado 
democrático é a igualdade política, pelo menos. 
 Há algumas formas de os cidadãos exercerem um certo tipo de controle sobre o 
Estado. 
 Adam Przeworski
 (7), seguindo O’Donnell, diz que há mecanismos horizontais e 
verticais de controle do Estado. 
 Os mecanismos horizontais são os chamados checks and balances, conhecido no 
Brasil como sistema de freios e contrapesos, segundo o qual, um poder seria capaz de 
fiscalizar os outros. 
 Há que se dizer que no modelo puro de separação dos poderes, cada poder (ou 
função) exerceria somente aquilo que lhe caberia. Desta forma, a função do legislativo é 
legislar, a do judiciário é julgar e a do executivo é administrar. 
 Uma conclusão que chegaríamos, invariavelmente é que haveria um poder sobre 
o qual não haveria o controle, o chamado unchecked power. Como forma de evitar esse 
poder sem controle, foi criado o sistema de freios e contrapesos, em que o legislativo, 
por exemplo, para promulgar uma lei, tem que passar pela aprovação também do chefe 
do executivo. E assim todos os poderes exercem a sua função essencialmente, mas 
também exercem funções de outros poderes, que são chamadas funções atípicas. Com 
efeito, o executivo, tem a função típica de legislar, mas também administra e julga. E da 
mesma forma ocorre com os outros poderes. 
 Esse seria, em suma, o mecanismo horizontal de controle. 
 Mas o que nos interessa, nesse trabalho são os mecanismos horizontais, pois 
segundo Przeworski são as eleições e a "democracia participativa". 
 Acontece que ele diz que as eleições são uma espécie de mecanismo rude de 
controle do Estado, uma vez que, para que funcione, é imprescindível uma informação 
completa acerca do que acontece no governo e não somente do que o governo quer que 
saibamos. Ele finaliza dizendo que "precisamos de comissões eleitorais independentes, 
escritórios de prestação de contas independentes, agências estatísticas independentes".
 
(8) 
 O outro tipo de mecanismo de controle do Estado pelos cidadãos seria a 
chamada "democracia participativa". 
 Hoje, se por um lado, em todas as democracias, osdireitos políticos são 
universais, em muitas delas as pessoas não têm condições de exercer a cidadania de 
forma efetiva. 
 
3 – A PARTICIPAÇÃO POPULAR 
 Existem múltiplas dimensões de participação. 
 A participação popular pode ser minimalista, onde se constata que há um déficit 
de participação e de construção de atores relevantes, o que acaba por gerar uma crise de 
legitimidade e de governabilidade. 
 O campo mais propício para a efetiva participação popular é a gestão municipal. 
Todavia poucos são os municípios que desenvolvem a participação no sentido da 
radicalidade democrática, exercida concretamente através da participação popular na 
administração pública. 
 A participação popular é um importante instrumento para o aprofundamento da 
democracia que, a partir da descentralização, faz com que haja maior dinâmica na 
participação, principalmente no âmbito local. 
 Como o Estado Brasileiro é caracterizado por ser um Estado Democrático de 
Direito, é imprescindível que haja a efetiva participação popular para que se dê 
legitimidade às suas normas. 
 Nessa ordem de idéias, pensamos como Carlos Ayres Brito que diz 
que "a participação popular não quebra o monopólio estatal da produção 
do Direito, mas obriga o Estado a elaborar o direito de forma 
emparceirada com os particulares (individual ou coletivamente). E é 
justamente esse modo emparceirado de trabalhar o fenômeno jurídico, no 
plano de sua criação, que se pode entender a locução ‘Estado 
Democrático’ (figurante no preâmbulo da Carta de Outubro) como 
sinônimo perfeito de ‘Estado Participativo’". (9)
 
 De acordo com o princípio da participação popular, ficam abertas novas 
possibilidades de relações entre o Estado e a sociedade civil, por meio de referendo, 
plebiscito ou mesmo iniciativa popular. 
 A participação popular visa estabelecer parcerias entre Estado e sociedade civil, 
para que, juntos, possam atingir o objetivo desejado por todos, que é a melhoria das 
condições de vida de toda a população. 
 Os instrumentos da participação popular são, de acordo com o artigo 14 da 
Constituição de 1988, o referendo, o plebiscito e a iniciativa popular, que são formas de 
manifestação da soberania popular. 
 O plebiscito e o referendo são mecanismos de democracia direta, pelos quais o 
povo opina acerca de determinada matéria. 
 A lei nº. 9.709/98 regulamentou a execução do plebiscito, do referendo e da 
iniciativa popular. 
 Tanto o plebiscito quanto o referendo são consultas feitas ao povo, para que este 
delibere sobre matérias relevantes de natureza constitucional, administrativa ou 
legislativa. 
 No plebiscito há uma consulta prévia à população, de determinada matéria que 
será posteriormente submetida à apreciação do Congresso Nacional. O plebiscito 
precede uma decisão importante ou elaboração de uma lei ou reforma da constituição. 
 Cinco anos após a Constituição de 1988, foi realizado um plebiscito para 
submeter à vontade popular qual seria a forma de governo, se continuaríamos com a 
forma republicana ou se nos transformaríamos numa monarquia, além de se questionar 
acerca da mudança, ou não, do sistema de governo, de presidencialista para 
parlamentarista. Sendo que, ao final a população escolheu a manutenção da forma e do 
sistema de governo preexistentes. 
 O referendo é uma consulta posterior sobre determinado ato governamental, para 
que o povo ratifique ou rejeite tal ato, ou ainda, servirá para conceder eficácia ao ato, no 
caso de uma condição suspensiva ou para retirar sua eficácia, no caso de condição 
resolutiva. 
 É importante salientar que somente aquele que está no gozo dos direitos 
políticos, ou seja, quem pode votar e ser votado, tem capacidade para participar de 
ambos os mecanismos, tanto o plebiscito quanto o referendo. 
 José Luiz Quadros de Magalhães
 (10)
 diz que "o questionamento que se coloca 
num referendo é muito mais complexo do que o de um plebiscito que consiste num sim 
ou não a uma idéia genérica". 
 No âmbito local, é preciso asseverar que o município tem competência para 
dispor sobre os temas que deverão ser objeto de aplicação de tais instrumentos, para 
aprovação pela Câmara Municipal. 
 A iniciativa popular de lei, consagrada como instrumento de soberania popular, 
prescrita no inciso III, do artigo 14 da CR/88, poderá ser exercida através da 
apresentação, à Câmara dos Deputados, de um projeto de lei subscrito por, no mínimo, 
um por cento do eleitorado nacional, devidamente distribuído por, pelo menos, cinco 
estados e com não menos de três décimos de eleitores de cada um deles. 
 A Constituição da República prescreve que as constituições estaduais deverão 
prever a iniciativa popular para as leis estaduais (art. 27, §4º, da CR/88). 
 No município também será possível a participação popular através da iniciativa 
popular de lei, nos termos do inciso XIII, do artigo 29, da Constituição da República. 
Neste caso impende que haja a manifestação de pelo menos cinco por cento do 
eleitorado municipal, sendo necessário que o projeto de lei seja de interesse do 
município, da cidade ou dos bairros. 
 Cabe à lei orgânica organizar o processo de votação, os prazos de tramitação na 
câmara municipal. 
 Outro importante mecanismo de participação da coletividade na administração 
pública é a audiência pública. 
 Através deste instrumento, que já está incorporado nas questões que concernem 
ao meio ambiente, a partir da Resolução nº. 09 de 03.12.87, do CONAMA, que torna 
obrigatória a audiência para que seja aprovado o relatório de impacto ambiental. 
 A lei n.º 10.257, o chamado Estatuto da Cidade, assegura que a gestão 
orçamentária participativa será um instrumento de planejamento municipal e a 
realização de audiência pública é considerada condição obrigatória para a sua aprovação 
pela Câmara Municipal. 
 Nessa ordem de idéias, concluímos que a exclusão da maioria da população 
sobre questões relevantes para a comunidade se tornam, cada vez mais, indesejáveis e 
ilegítimas, vez que está consagrado, entre nós, os princípios da soberania popular, 
através do exercício da democracia direta, que são, inegavelmente componentes do 
Estado Democrático de Direito. 
 Todavia, todo esse aparato para uma efetiva atuação dos cidadãos na construção 
de uma nova sociedade não terá muita eficácia se as pessoas que participam do processo 
não têm acesso às informações pertinentes aos interesses da coletividade. 
 É de suma importância que seja garantido o direito à informação para que haja 
possibilidade de ingerência, pelos cidadãos, na administração pública, sendo em maior 
escala no âmbito municipal contudo, não nos esquecendo que o direito à informação é 
preceito constitucional que deve ser exercido em todos os níveis de governo. 
 Como bem ensina Saule Júnior
 (11)
, "essa consulta popular tem como 
pressuposto o respeito ao direito à informação, como meio de permitir ao cidadão 
condições para tomar decisões sobre as políticas e medidas que devem ser tomadas 
para garantir o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade". E finaliza 
dizendo que "a participação popular propicia uma nova relação entre o Estado e a 
sociedade, onde a cidadania ativa se transforma no elemento condicionante para o 
estabelecimento das leis, políticas e instrumentos inerentes às funções de governo e 
administração". 
 O direito à informação é um instrumentode significativa importância para o 
desenvolvimento do Estado e da participação da pessoa no exercício da cidadania. Neste 
sentido, Ana Graf
 (12)
: "O direito às informações de que o Estado dispõe fundamenta-se 
no princípio da publicidade dos atos administrativos e na eliminação dos segredos 
públicos. Neste sentido, o direito à informação constitui um indicador significativo dos 
avanços em direção a uma democracia participativa: oponível ao Estado, comprova a 
adoção do princípio da publicidade dos atos administrativos; sob o ponto de vista do 
cidadão, é instrumento de controle social do poder e pressuposto da participação 
popular, na medida em que o habilita para interferir efetivamente nas decisões 
governamentais e, se analisado em conjunto com a liberdade de imprensa e banimento 
da censura, também funciona como instrumento de controle social do poder". 
 
5 – FORMAS DE EXERCÍCIO DA CIDADANIA ATRAVÉS DA GESTÃO 
MUNICIPAL 
 Como dissemos anteriormente, pensamos estar no município o principal local 
para o exercício da cidadania. 
 Para que esse exercício seja completo, é preciso que meios eficazes de 
participação na administração pública municipal se desenvolvam. 
 A partir deste momento, traremos alguns mecanismos de participação cidadã na 
gestão municipal. 
 O professor Saule Júnior
 (13)
 enumera algumas formas de gestão democrática, as 
quais traremos à baila para que possamos tecer comentários sobre tais instrumentos e 
como eles poderão ser aproveitados, de forma eficaz, pelas cidades brasileiras. 
 Em primeiro lugar temos as subprefeituras e as administrações regionais. 
 As subprefeituras funcionam como órgãos administrativos auxiliares do 
governo. Elas não têm personalidade jurídica, em outras palavras, elas são produto de 
um mecanismo de desconcentração, que ocorre quando há, simplesmente, uma 
distribuição interna de competências decisórias, para que haja maior precisão e 
agilidade nas decisões administrativas, sem que seja necessária a criação de uma nova 
pessoa jurídica. 
 Importante ressaltar que os subprefeitos não terão as atribuições especificas do 
prefeito, as quais continuam sendo deste, privativamente. Dentre tais atribuições, 
podemos citar a sanção ou a publicação de uma lei ou mesmo o veto de um projeto de 
lei. 
 Algumas prefeituras como a de São Paulo já estabeleceram, na lei orgânica, a 
possibilidade da implantação de subprefeituras que, inclusive, terão dotação 
orçamentária própria. 
 Nada impede, que haja uma eleição dos subprefeitos, para que haja uma maior 
participação da comunidade desde o limiar de uma estrutura que permite uma maior 
interação entre a administração e os administrados, vez que será exercitado num 
território menor. 
 Assim como as subprefeituras, a administração regionalizada se presta a dar 
mais agilidade para a administração, visto que se encontra dentro dos locais onde serão 
implementadas as obras para o desenvolvimento daquela população específica. Todavia, 
precisamos asseverar que a competência de cada subprefeitura ou administração 
regional deve ser regulamentada por lei. 
 Outro mecanismo importante para a gestão municipal é a implementação de 
conselhos setoriais. 
 Com efeito, esses conselhos são órgãos colegiados, que serão verdadeiros canais 
institucionais de participação popular. 
 São compostos de representantes do poder público e da sociedade civil, tendo a 
característica de ser um órgão integrante da administração pública. 
 Sua finalidade é assegurar a participação da comunidade na implementação e 
elaboração das políticas públicas, além de fiscalizar as ações do Poder Público. 
 Atualmente, algumas prefeituras implantaram conselhos para discutir as 
questões de educação e saúde. Contudo, pensamos ser de fundamental relevância a 
implantação, em todas as cidades, de um conselho responsável pelo orçamento do 
município. Neste sentido Feddozzi
 (14)
, citando o deputado José Joffily, que dizia que "o 
orçamento, via de regra, é o retrato de corpo inteiro dessa política de clientela, que nos 
transforma em despachantes de luxo". 
 Em terceiro lugar, mas não menos importante, encontramos os canais de 
participação popular autônomos do Poder Público. 
 Esses conselhos são chamados conselhos populares visto que são formados 
apenas por pessoas da sociedade civil, que não têm vínculo com a administração e, a sua 
principal característica é a de serem autônomos, não sendo subordinados à 
administração pública. 
 Como esses conselhos são autônomos, podem perfeitamente exercer com maior 
imparcialidade o acompanhamento da fiscalização das ações do poder público. 
 Através desses conselhos é possível o exercício da cidadania, visto que a 
população pode participar de assuntos de interesse coletivo da comunidade onde está 
inserido. 
 A cidade de Porto Alegre já permite em sua Lei orgânica a implantação desse 
tipo de conselho municipal autônomo, que devem ser reconhecidos pelo Poder Público. 
 Sublinhe-se que a obrigação de reconhecer é do poder público. E no caso do não 
reconhecimento, pensamos ser possível a fiscalização das ações do poder público vez 
que, de acordo com a Constituição de 1988 todos têm direito a receber dos órgãos 
públicos informações de interesse particular, coletivo ou geral. E, em sendo constatada 
qualquer irregularidade será cabível Ação Popular, que se trata de um remédio 
constitucional posto à disposição de qualquer cidadão, e se presta a invalidar atos ou 
contratos administrativos ilegais, lesivos ao patrimônio público. 
 
NOTAS 
 01. Marshal, T. H. Cidadania, classe social e status. Zahar: Rio de Janeiro, 1967. 
Apud, Luciano Fedozzi. Orçamento Participativo. Observatório de Políticas Urbanas e 
Gestão Municipal (FASE/IPPUR) 2ª edição, 1999. 
 02. Marshal, T. H. Cidadania, classe social e status. Zahar: Rio de Janeiro, 1967. 
Apud, Luciano Fedozzi. Orçamento Participativo. Observatório de Políticas Urbanas e 
Gestão Municipal (FASE/IPPUR) 2ª edição, 1999. 
 03. Santos. Boaventura de Sousa. Pela mão de Alice. O social e o político na 
pós-modernidade. São Paulo: Cortez, 1995. 
 04. Kant, Immanuel. Projet de Paix Perpétuelle. Paris: J. Vrin, 1970. Apud, 
Boaventura de Sousa Santos. Pela mão de Alice. O social e o político na pós-
modernidade. São Paulo: Cortez, 1995. 
 05. Benevides. Maria Victoria. Apud (...) Poder Local X Exclusão Social: a 
experiência das prefeituras democráticas no Brasil. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2000. 
 06. Santos. Boaventura de Sousa. Pela mão de Alice. O social e o político na 
pós-modernidade. São Paulo: Cortez, 1995. 
 07. Przeworski, Adam. O Estado e o cidadão. In Bresser Pereira, LC, Wilheim, 
J. Sola, L. (org). Sociedade e Estado em Transformação: ENAP. Brasília, 1999. 
 08. Przeworski, Adam. op. cit. 
 09. Carlos Ayres Brito. Distinção entre "controle social de poder"e "participação 
popular’. Rev. Trim. de Direito público – II, 1993. pág. 85. Apud, Nelson Saule Junior. 
Novas Perspectivas do Direito Urbanístico Brasileiro. Sergio Antonio Fabris Editor: 
Porto Alegre, 1997. 
 10. Magalhães. José Luiz Quadros de. Revista Direito e Cidadania. nº. 07 ano 
03. jul/out 1999. 
 11. Saule Júnior, Nelson. Novas Perspectivas do Direito Urbanístico Brasileiro. 
Sergio Antonio Fabris Editor. Porto Alegre, 1997. 
 12. Ana Cláudia Bento Graf. "O direito à informaçãoambiental, Direito 
Ambiental em Evolução. Curitiba, Juruá, 1998. Apud, Sidney Guerra, O direito à 
informação. Revista Ibero-Americana de Direito Público vol. 05. 
 13. Para maiores considerações acerca do tema, conferir Saule Júnior, Nelson. 
Novas Perspectivas do Direito Urbanístico Brasileiro. Sergio Antonio Fabris Editor. 
Porto Alegre, 1997. 
 14. Joffily, José. Anais da Câmara dos Deputados, 29/10/1961, apud, Luciano 
Fedozzi. Orçamento Participativo. Observatório de Políticas Urbanas e Gestão 
Municipal (FASE/IPPUR) 2ª edição, 1999. 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 
 BECKER, Ademar José (org.). A cidade reinventa a democracia. Porto Alegre: 
Prefeitura municipal de Porto Alegre, 2000. 
 BENEVIDES, Maria Victoria de Mesquita. In Revista Lua Nova. nº. 33, 1994. 
 CALDERÓN, Adolfo Ignácio. Democracia local e Participação Popular. São 
Paulo: Cortez, 2000. 
 CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil. Civilização Brasileira: Rio 
de Janeiro, 2001. 
 COMPARATO. Fábio Konder. A nova cidadania. In Revista Lua Nova. Nº. 
28/29, 1993. 
 DALLARI. Dalmo de Abreu. Estado de Direito e cidadania. In Revista de 
Direito e Cidadania. Nº 04 ano 02. 
 FEDOZZI, Luciano. Orçamento Participativo. Reflexões sobre a experiência de 
Porto Alegre. Porto Alegre, Tomo Editorial; Rio de Janeiro: Observatório de Políticas 
Urbanas e Gestão Municipal (FASE/IPPUR) 2ª edição, 1999. 
 GUERRA, Sidney. O direito à informação. In Revista Ibero-Americana de 
Direito Público. Vol. 05 
 MAGALHÃES. José Luiz Quadros de. O diretório não partidário, o legislativo 
municipal e o "ombudsman". In Revista de Direito e Cidadania. Nº07 ano 03. 
 PANDOLFI, Dulce Chaves. Percepção dos direitos e participação social. In 
Cidadania, Justiça e Violência. organizadores Pandolfi, Dulce Chaves [et al]. Rio de 
Janeiro: Editora Fundação Getúlio Vargas, 1999. 
 PRZEWORSKI. Adam. O Estado e o cidadão. In Bresser Pereira, LC, Wilheim, 
J. Sola, L. (org). Sociedade e Estado em Transformação: ENAP. Brasília, 1999. 
 REQUEJO, Ferran. Pluralismo Cultural e Cidadania Democrática. In Revista 
Lua Nova. Nº. 47. 
 SAULE JÚNIOR, Nelson. Novas Perspectivas do Direito Urbanístico Brasileiro. 
Sergio Antonio Fabris Editor. Porto Alegre, 1997. 
 VIEIRA. José Ribas. A cidadania sua complexidade teórica e o direito. In 
Revista de Direito e cidadania. Nº04, ano 02. 
 VIEIRA. Liszt. Cidadania Global e Estado Nacional. In DADOS Revista de 
Ciências Sócias. Volume 42 nº3, Rio de Janeiro, 1999. 
 
 
 
Sobre o autor 
 
 Weverson Viegas 
 E-mail: Entre em contato 
 
 
 
 
Sobre o texto: 
Texto inserido no Jus Navigandi nº86 (27.9.2003) 
Elaborado em 07.2002. 
 
Informações bibliográficas: 
Conforme a NBR 6023:2000 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto científico 
publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma: 
VIEGAS, Weverson. Cidadania e participação popular . Jus Navigandi, Teresina, 
ano 7, n. 86, 27 set. 2003. Disponível em: 
<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4199>. Acesso em: 19 set. 2010.

Outros materiais