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Ferdinand Lassale - O que é Constituição

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Que é uma Constituição?
FERDINAND LASSALLE
CONFERÊNCIA PRONUNCIADA PERANTE UM GRUPO DE CIDADÃOS
DE BERLIM, EM ABRIL DE r862.
INTRÓITO
Senhores:
Fui convidado para pronunciar uma conferência perante vós, para a
qual escolhi um tema cuja importância é desnecessário salientar, dada
a sua grande oportunidade. Vou f~tlar-vos de problemas constitucio-
nais, isto é, do que'; uma Constituição.
Porém, quero desde já advertir-vos de que a minha conferência
terá um carácter estritamente cienttfico. Todavia, precisamente por isso,
não haverá entre vós uma pessoa que possa deixar de acompanhar e
compreender o que vou expor, do princípio até ao fim.
Porque a verdadeira ciência - nunca será demais lernbrá-lo -
não é mais do que essa clareza depensamento que, sem partir de qual-
quer pressuposto estabelecido, vai dimanando de si mesma, passo a
passo, todas as suas consequências, impondo-se pela força coerciva
da inteligência àqueles que acompanham atentamente o seu desen-
volvimento.
Esta clareza de pensamento não exige, pois, de quem ouve quaisquer
conhecimentos especiais. Pelo contrário, não sendo necessário, com(~
70
o que é urna (On5t1tlJlçaO'
.. a", 'ornprecn-I -de dizer possuir conhecimentos espeCIais p I, \. , '
~\ca )<1rI10" _ . -, _ , . _ nhecimentos não só são desnecessanos
der O~ seus tundamentos, ta", co , e escuta
- I: '. I\penas é exigível e tolerável que quem rn
corno II1to eraveis. , "' écie ou de preconceitos
> teia livre de pressupostos de qualquer esp a
cs r- h di -t a posicionar-se perante o tem ,, dos mas que ven a ISpOSo ,
arre1ga ,os,' _ dele tenha falado ou discorrido, como se o esn-
por mu~to qU,eacerc~ imeira vez e nada soubesse de definitivo a seu
vesse a mvestigar pela pr d o tempo que durar esta nova
res eito, despindo-se, pelo menos urante
p , h dado por assente.'1' de quanto "1 seu respeito ten aana 1se, c
.;:
r;
.~
CAPíTULO I
QUE É UMA CONSTITUiÇÃO?
Inicio, pois, a minha conferência com esta pergunta: o que é uma
Constituição? Em que consiste a verdadeira essência de uma Cons-
tituição? Em toda a parte e a qualquer hora, de manhã, de tarde e à
noite ouvimos falar de Constituição e de problemas constitucionais,
Nos jornais, nos clubes, nos cafés e restaurantes, este é o tema ines-
gotável de todas as conversas,
Todavia, se em termos precisos formularmos a pergunta sobre
qual será a verdadeira essência, o verdadeiro conceito de uma consti-
tuição, receio que entre todos aqueles que falam do assunto existam
poucos, muito poucos, que possam dar uma resposta satisfatór ia.
Para nos responder, muitos seriam certamente tentados a recorrer
ao volume em que se conserva a legislação prussiana de 1850, até
encontrarem a Constiruiçào do reino da Prússia.
Mas é evidente que isso não seria responder à minha pergunta,
Não basta apresentar a matéria concreta de uma determinada Cons-
tituição, a da Prússia ou qualquer outra, para responder satisfatoria-
mente à pergunta que formulei: onde reside a essência, o conceito de
uma Constituição, seja ela qual for?
Se fizesse esta pergunta a um jurista, receberia mais ou menos esta
resposta: «A Constituição é um pacto ajuramentado entre o rei e o
povo, que estabelece os princípios básicos da legislação e do governo
de um país», Ou, em termos um pouco mais gerais, dado que também
tem havido e há constituições republicanas: «A C€>nstituiçâo é a lei
Caio
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Retângulo
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72 o que é uma Constltul<;ao!
fundamental proclamada no país, na qual se encontram as bases da
organização do Direito público dessa nação».
Porém, todas estas definições jurídicas formais, ou outras pare-
cidas que se possam dar estão muito longe de responder satisfato-
riamente à pergunta por mim formulada. Estas respostas, quaisquer
que sejam, limitam-se a descrever exteriormente como se formam
as Constituições e o que fazem, mas não explicam o que é uma
Constituição. Dão-nos critérios, notas explicativas para reconhecer
exterior e juridicamente uma Constituição, mas nem sequer nos
dizem onde reside o conceito de qualquer Constituição, ou seja, a
essência constitucional. Não servem, pois, para nos orientar sobre
se uma determinada Constituição é, e porquê, boa ou má, viável ou
irrealizável, duradoura ou insustentável, pois para isso seria necessá-
rio que começassem por definir o conceito de Constituição. Primeiro
necessitamos de saber em que consiste a verdadeira essência de uma
Constituição e, depois, ver-se-a se a carta constitucional determi-
nada e concreta que estamos a examinar se acomoda ou nâo a essas
exigências substanciais. Mas, para isto, de nada nos servem essas
definições jurídicas e formalistas que se aplicam de igual modo a
qualquer espécie de papéis assinados por uma nação ou por esta e
o seu rei, para as proclamar como Constituições, seja qual for o seu
conteúdo, sem penetrar na respectiva essência. O conceito de Cons-
tituição - como veremos nitidamente quando lá chegarmos - é a
fonte primitiva de que brota toda a arte e toda a sabedoria constitu-
cionais, que, uma vez assente aquele conceito, se desprendem dele
espontaneamente e sem qualquer esforço.
Repito, pois, a minha pergunta: O que é uma Constituição?
Onde reside a verdadeira essência, o verdadeiro conceito de uma
Constituição?
Como, todavia, o ignoramos, pois é agora que vamos desvendá-lo
em conjunto, utilizaremos um método que é conveniente pôr em prá-
tica, sempre que se trata de esclarecer o conceito de qualquer coisa.
Este método, Senhores, é muito simples. Consiste simplesmente em
/j
comparar a coisa cujo conceito se investiga com outra semelhante a
ela, esforçando-nos, desde logo, por penetrar clara e nitidamente nas
diferenças que separam uma da outra.
lEI E CONSTITUiÇÃO
Aplicando este "método, pergunto: Qual é a diferença entre uma
Constituirão e uma Lei?
Ambas, a lei e a Constituição têm, evidentemente, uma essência
genérica comum. Uma Constituição, para reger, necessita de promul-
gação legislativa, isto é, tem que ser também lei. Mas não é uma lei
como outra qualquer, uma simples lei: é algo mais. Entre os dois con-
ceitos não existe apenas afinidade; há também dissemelhança. Esta
faz com que a Constituição seja algo mais do que uma simples lei;
poderia demonstrá-Io com centenas de exemplos.
O pais, por exemplo, não protesta pelo facto de todos os dias
serem promulgadas novas leis. Pelo contrário, todos sabemos que é
necessário que, todos os anos, seja promulgado um número maior
ou menor de novas leis. Todavia, não pode decretar-se uma única lei
nova sem que se altere a situação legislativa vigente no momento da
respectiva aprovação, dado que se a lei nova não introduzisse qual-
quer mudança na situação legal vigente, seria absolutamente supér-
flua e não haveria motivo para ter sido promulgada. Por isso não
protestamos quando as leis são modificadas. Pelo contrário, conside-
ramos que estas mudanças são, de uma maneira geral, a missão natu-
ral dos governos. Mas, quando mexem na Constituição protestamos
e gritamos: Deixai estar a Constituição! Qual é a origem desta dife-
rença? Esta diferença é tão inegável, que existem até constituições
que dispõem taxativamente que a Constituição não pode ser alte-
rada de modo algum; de outras consta que para a respectiva reforma
não bastará a maioria simples, mas que serão necessários dois terços
dos votos do Parlamento; existem ainda algurrjas em que a revisão
Caio
Destacar
Caio
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74
o que e uma "U"'lIlU'"ClV: I J
constitucioO<ll não é da competência dos corpos legislativos nem do
poder executivo, mas depende da convocação ad boc de uma nova
assembleia legislativa, expressa e e.xclusivamente para esse fim, que
decidirá acerca da oportunidade e conveniência dessa modificação.
Todos estes factos demonstram que, nO espírito unânime dos
povos,uma Constituição deve ser qualquer coisa de muito mais
sagrado, mais sólido e mais estável do que uma lei comum.
Volto, pois, à minha pergunta anterior: ~al é a diferença entre
uma Constituição e uma simples lei?
A esta pergunta responder-nos-ão, na imensa maioria dos casos:
a Constituição não é uma lei como outra qualquer, mas a lei fim-
damental do país. É possível, meus senhores, que nesta constataçâo
esteja implícita, embora de maneira obscura, a verdade que estarnos a
investigar. Contudo, a resposta, assim formulada, em termos tão con-
fusos, não pode satisfazer-nos. Imediatamente surge, em substituição
da anterior, esta nova interrogação: e em que se distingue uma lei da
lei [undamental? Como' podeis ver, continuamos no ponto em que
começamos. Apenas ganhámos um vocábulo novo, uma expressão
nova, «lei fundamental», que de nada nos serve enquanto não sou-
bermos explicar qual é, repito, a diferença entre uma leifundamental
e outra lei qualquer.
Procuremos, pois, aprofundar um pouco mais o assunto, inda-
gando que ideias ou que noções estão associadas a esta expressão «lei
fundamental» ou, por outras palavras, como poderíamos distinguir
uma lei jimdamental de outra lei qualquer, para que a primeira possa
justificar a designação que lhe foi atribuída.
Para isso será necessário:
1.0 Que a lei fundamental seja uma lei mais profunda do que as
outras leis comuns, como a própria característica de "funda-
mental» sugere;
2.0 Qye constitua - pois de outro modo não mereceria ser
designada por fundamental - o verdadeiro Jimdamento das
outras leis; isto é, se realmente pretende ser merecedora desse
nome, deverá informar e gerar as outras leis comuns que nela
se.base~am. Alei fimda men tal, para sê-lo, deverá, pois, actuar
e irradiar através das leis comuns do país.
3.° ~o entanto, ~s coisas que têm um fundamento não são o que
sao por capricho, podendo ser também de outra maneira
- . '
mas sao a:sIm porque necessariamente o têm que ser. O fun-
damento a que correspondem não permite que sejam de outro
modo. Apenas as coisas que carecem de fundamento, que são
as casuais e fortuitas, podem ser como são ou de qualquer
outra forma: O mesmo não acontece com as que têm um fun-
damento, pOIS neste caso vigora a lei da necessidade. Os plane-
tas, por exemplo, movem-se de um determinado modo. Este
movimento tem origem em causas, obedece a fundamentos
rígo~osos ou não? Se tais fundamentos não existissem, a res-
~ectIva traject.ória seria ao acaso e poderia mudar a qualquer
Instante, estaria sempre a variar Mas, se de facto corresponde
a um fundamento, se é o resultado, como pretendem os cien-
tistas, da força de atracção do Sol, isto basta para que o movi-
ment~ dos planetas seja regido e governado de tal sorte por
esse fundamento, pela força de atracção solar, que não possa
ser de outro modo, a não ser tal como de facto é. A ideia de
fundamento contém, implicitamente a noção de uma neces-
sidade actiua que faz com que, pelo império da necessidade
aquilo que nela se baseia seja assim e não de outro modo. '
~e a Constituição é, pois, a leifundamental de uma nação, será - e
aql11~omeçamos já a sair das trevas - qualquer coisa que já podemos
definir e esclare~e~ o~, como provisoriamente vimos, uma forra actioa
que f.1.Z, pela exigencia de uma necessidade, com que todas a d .I' . emaIs
eIS e Instituições jurídicas vigentes no país sejam o que realmente são,
de tal mod ,,' d ., o que, a ~artlr esse Instante, não possam promulgar-se
nesse paIS, outras qualJquer, mesmo que se quisesse.
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Pois bem, senhores, existe em ~tlgurn país - e ao formular esta
pergunta começa a Etzcr-se luz sobre () que procuramos - alguma
força activa e infonnadora, que influa de tal forma em todas as leis
promulgadas nesse país, que as obrigue a ser necessariamente, até certo
ponto, o que são e como são, sem permitir-Ihes ser de outro modo?
os FATORES REAIS DO PODER
Sim, meus senhores, existe sem dúvida, e esta incógnita que estam os
a investigar reside, simplesmente, nos/i/cfores reais do podo- que regem
uma determinada sociedade.
Os [aaores reais do,poder que vigoram no seio de cada sociedade
constituem essa força activa e ctlCl/. que informa todas as leis e ins-
tituições jurídicas da sociedade em questão, fazendo com que não
possam ser, substancialmente, mais do que tal como são.
Apressar-me-ei a esclarecer este ponto através de um exemplo
tOrmativo. Naturalmente que este exemplo, pelo menos na forma em
que o vou expor, nunca pode verificar-se na realidade. Porém, apesar
de que, como em seguida veremos, este exemplo possa ocorrer de
outra forma, não se trata de saber se o exemplo pode ou nâo acontecer,
mas do que com ele poderemos aprender sobre o que aconteceria, se
viesse a ser realidade.
Não ignoram os meus ouvintes que na Prússia só têm força de lei
os textos publicados na Colecção legislativa. Esta colecção é impressa
numa tipografia concessionária situada em Berlim. Os originais das
leis conservam-sc nos arquivos do Estado e noutros arquivos, bibliote-
cas públicas e depósitos guardam-se as colecções legislativas impressas.
Suponhamos, agora, por um momento que irrompeu um grande
incêndio, do tipo daquele grande incêndio de Hamburgo', e que nele
I Um incêndio famoso ocorrido em Hamburgo no ano de 1842, e que reduziu
a cinzas uma parte considerjvcl da cidade. ~. t--
/ /
h >r,lnl reduzidos a cinzas tod . '.' ., os os ,11(1UI\' . d F· 1 .
tccas públicas e l' '. d os o ~,Ll( n, rodas as biblio-
. r c llUC O SInIstro cstrlliu tar bé .' -
sionária onde era impressa a C 1 •.. _ '. 'n em ,1 tlpogTaha conces-
o ccç ,10 lezisla r" .
urna invulgar coincidência . " b iva, e que o mesmo, por
. ' ocorresse em tod .d d .
destruindo inclusive as bibliotec . as as CI a es do remo,
, 1 iotecas partlCulare -
figurasse, de tal maneira que d s em que essa Colecçao,em to a a P" -
lei, nem qualquer texto I . 1. . russia, nao restasse uma única
egis ativo gara id d -Ad '.' nn o e Iorrna autêntica
mitamos esta hipótese. Suponh .
:i amos que o' . dc este sinistro ficasse privad d d, pais, em virru e, o e to as a I . _.
remédio senão f:azer o t s suas eis c nao tivesse outro
c u ras nouas.
Julgais, senhores, que neste caso o I .
mada, poderia cornecar a trab lho egislador, depois da casa arru-
~ a ar, Corno lhe -
leis que melhor lhe par aprouvesse, fazendo as
. ecessern, por Seu livre alved . ;:-
Vejamos. no.
A Monarquia'
Suponhamos que os senhores respond·. ... .
c vamos redisir outras total. rarn: J3 que as leis pereceram
o mente novas d d .
telhado nelas na-o. h ' es e os alicerces até ao, rccon eceremos à .
que até agora gozava, ao abrigro das 1modnarqul,a as prerrogativas de
lh
' CIS estruídas: . . d -
e respeitaremos pre . ' mais am a, naorrogatlvas ou atrib . - d .
enfim, não queremos a monarquia.' uiçoes e espécie alguma;
O monarca responder-lhes-ia cl
leis poderão ter sido desr íd: ,ara e desassombradamenre: as
c rUI as, mas li realidade ' E ' .
obedece que acata as rni h d e que o xercito me,mas or ens; li reali i ti. -
tes dos arsenais e dos quarréi _ c a e e que os comandan-
c eIs poem na r . -
ordenar, e apoiado neste pod 1:. ua os canhoes quando eu o, er erecnv-, d h-
não tolerarei que me façam' . _ ' os can oes e das baionetas,
Imposlçoes ou r . . .
tra a minha vontade. etrrern prerrogativas con-
Como podeis ver, senhores um rei a ~, quem E ..
obedecem ... é uma parte da C .. . _ o xcrcito e os canhões• onsn tUlç;tO.
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Caio
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78
A ArisWcracia
. s agora que os senhores diriam: somos dezoito milhões
Ima~nemo . .
.: 2 entre os qUaJS apenas existe um punhado cada vez
de pru55Ianos , . " ' r -
de grandes propnetanos de terras pertencentes a nobreza. Nao
menor d d . d id dar que razão este punhao, ca a vez mais re UZI o, e gran-
vemos P h d . R" desti d. ta'rios agrícolas á- e ter tanta 10 uencia nos estmos o
des pn>pne . .
, o todos OS dezoito milhões de habitantes Juntos formando
pals corn
1 s uma Câmara Alta, que fiscaliza os acordos da Câmaraentre c e . .
D
tados eleita pela nação, recusando SistematIcamente todos
dos epu"
1 q
ue considerem prejudiciais aos seus interesses. Suponhamos
aque eS . - •
eus ouvintes dissessem: agora, que foram destruídas todas asque 0~)11
. dr oassado somos' todos «senhores» e não precisamos da câmara
leis o l '
h íal 'absolutamente para nada.sen of! '
Reconheço, senhores, que não seria fácil à nobreza lançar contra
que assim falasse os seus «exércitos» de camponeses. Longeo povo
. - muito provável que tivessem bastante que fazer para que eles
dISSOe I, .
- U1CS caíssem em cima.
nao d - d dcontudo, a gravidade do caso resi e no facto e ~s gr~n .es. pro-
. " os da nobreza sempre terem tido uma grande iniiuência Junto
pnet;lfl . .
. e da corte e esta influência garante-Ihes a saída do Exército e
do re'
d
nhões em defesa dos seus interesses, como se este aparelho de
os cal'
e estivesse directamente ao seu dispor.
IOrça .'
Eis aqui, pois, como uma nobreza influente e bem relacionada
rei e a sua corte é também um fragmento da Constituição.
como
A Grande Burguesia
Ocorre-me agora partir do pressuposto in~erso, o pressuposto
e o rei e a nobreza se aliassem entre SI para restabelecer ade qU
-~~Lassalefalava em 1862.
f >
organização medieval dos grémios, mas nuo circunscritos ao
pequeno artesanato, como em parte se tentou fazer etectivarnenre
há alguns anos, mas tal e qual como vigorava na Idade Média; isto
é, aplicada a toda a produção social, sem excluir a grande indústria,
as fábricas e a produção mecanizada. É sabido que o grande capital
não poderia de modo algum desenvolver-se sob o sistema medieval
dos grémios. Entre outras razões, porque neste regime se levan-
taria, por exemplo, uma série de barreiras legais entre os diversos
sectores da produção, por muita afinidade que entre eles existisse,
e nenhum industrial poderia reunir duas ou mais indústrias nas
suas mãos Assim, o caiador não teria competência para tapar um só
buraco; entre os grémios fabricantes de pregos e os serralheiros dis-
putar-se-iam constantes litígios, a fim de deslindar as jurisdições de
ambas as indústrias; o estampador de lenços não poderia empregar
nas suas fábricas um único tintureiro, etc. Além disso, sob o sistema
das corpora~ões, estavam fixadas estritamente por lei as quantida-
des que cada industrial podia produzir, já que dentro de cada loca-
lidade e em cada ramo de indústria, cada mestre só era autorizado a
contratar um número igual e legalmente estabelecido de operários.
Isto basta para compreender que a grande produção, a indústria
mecanizada, não poderia prosperar nem um só dia com uma Consti-
tuição de tipo gremial. A grande indústria exige sobretudo - neces-
sita como do ar que respira - da fusão dos mais diversos ramos de
trabalho nas mãos do mesmo capitalista, e carece, em segundo lugar,
da produção em massa e da livre concorrência; ou seja, da possibili-
dade de empregar quantos operários queira, sem qualquer restrição.
Que sucederia, pois, se nestas condições e a despeito de tudo, nos
obstinássemos em implantar hoje a Constituição gremial?
Aconteceria que os senhores Borsig, Egels, etc. 3, que os grandes
fabricantes de tecidos estampados, os grandes fabricantes de sedas,
erc., fechariam as suas fábricas e despediriam os seus empregados,
I Grandes industriais prussianos da época.
Caio
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Destacar
80
c até aS companhias de carninhos-de-fcrro seriam obri~~l(hs a agir da
'I forma: o comércio e a indústria naralisariam, ~rande número111CSnl'I , r
de mestres artesãos seria obrigado a despedir os seus operários, total
ou gr;ldualmente, e uma multidão de dese~pregados sairia à rua
exigindo pão e trabalho, Por detrás dela: ~splcaçando-a com a sua
. fi . ncia instia-ando-a com o seu presngio. sustentando-a e alcn-in ue , b'
tando-a com o seu dinheiro, estaria a grande burguesia e desenca-
dear-~e-ia uma luta, na qual o triunfo não seria certamente das armas.
Ficaria, assim, demonstrado que os Borsig, Egds e todos os gran-
des irdustriais são também um fragmento da Constituição.
Os Banqueiros
S nharnos avora que o governo se lembrava de implantar umaupa ~ .'
dessa> medidas excepcionais abertamente lesivas dos Interesses dos
grandes banqueiros. Qye o governo decidisse, por _exe~plo, dizer
que o banco nacional não tinha sido cnado para a h~n?ao que hoje
desempenha, que é a de ernõaratecer aznda mais o credito que con-
cede aos grandes banqueiros e capitalistas, que já de si dispõem de
do crédito e de todo o dinheiro do país e que são os únicos queto· o . .
podem descontar as suas firmas, ou seja, que o~têm crédi,to d,aquele
estabelecimento bancário, mas para tornar o credito acessível as pes-
soas humildes e à classe média. Suponhamos isto e também que o
banCO da nação pretendia organizar-se adequadamente para obter
este resultado.
poderia isto, senhores, prevalecer?
~ão vou dizer que isto desencadeasse uma insurreição, mas ()
governo actual não teria possibilidade de impor semelhante medida.
Vej:lmos porquê. .' .
De vez em quando, o governo tem necessidade de investir gran-
des montantes ele dinheiro que não tem coragem de tirar do povo
por meio de novos impostos ou do aumento dos já existentes. Nestes
'.<
casos utiliza o recurso de devorar o dinheiro do futuro ou, () que
é a mesma coisa, emite empréstimos, entregando papel da Dívida
Pública, em troca do dinheiro que recebe adiantadamente.
Para isso necessita dos banqueiros.
É certo que, mais dia, menos dia, a maior parte daqueles títulos da
dívida volta às mãos da gente rica e dos pequenos capitalistas do país;
mas isso requer tempo, por vezes muito tempo, e o governo neces-
sita do dinheiro, de uma só vez ou em prazos curtos. Para isso tem
que servir-se dos particulares, de mediadores que lhe adiantam as
quantias de que necessita, ficando a cargo destes ir colocando pouco
a pouco, entre os respectivos clientes, o papel da dívida que em troca
receberam, lucrando também com a subida de coração que esses títu-
los obtêm artificialmente na bolsa. Estes intermediários são os gran-
des banqueiros e, por esse motivo, nenhum governo tem interesse,
hoje em dia, em estar de mal com eles.
Vejam, pois, os senhores, como os grandes banqueiros, os Men-
delssohn, os Schikler e a Bolsa em geral são também um fragmento
da Constituição.
Imaginemos agora que o governo se lembrava de promulgar uma
lei penal semelhante às que vigoraram algum tempo na China, punindo
na pessoa dos pais os roubos cometidos pelos filhos. Essa lei não pode-
ria prevalecer, pois contra ela se levantaria o protesto enérgico da cul-
tura colectiva e da consciência social do país. Todos os funcionários,
burocratas e conselheiros do Estado levariam as mãos à cabeça, e até
os sisudos senadores teriam de discordar de tamanho desatino. É que,
dentro de certos limites, meus senhores, também a consciência colectiva
e a cultura geral da nação são fragmentos da Constituição.
A Pequena Burguesia e a Classe Operária
1maginemos agora que o governo, desejando proteger e dar plena
satisfação aos privilégios da nobreza, dos banqueiros, dos grandes
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u que e ur ne \...UII'HllUI'r0V
i
82
.' d gn.ndes capitalistas decidia privar a pequena bur-. d .;;tfl'lIS e os ' , .
111 U. lasse operária das suas liberdades politicas .. a e a c assaues! ,
b . f "1 ~podena aze- o. . .
. . meus senhores ainda que fosse rransitorra-Iflfehzmente, SIm, , . .,
alid de tem demonstrado que poderia, e mais adiantece: a re amen- ,
rtuni dade de voltar a este assunto.~mo~ .tere .....", o governo tentasse despojar a pequena burguesia e a
r'" as, se . bé d
" ão só das suas liberdades politicas, mas tam em a1 .e operaria, n
c aS\iberdade pessoal, isto é, pretendesse transformar pessoalment~
sua ibalhadot em escravo ou servo da gleba, fazendo-o regressar a
o tr' _ e viveu em muitos países, durante os longos e remotos. ,lÇao em qu . . , _
situ d Id de Média? Tal pretensão sena viável? Não, senhores,
, 1105 a a d
seci . _ vI'ngarra mesmo que, para viabiliza-la, a nobreza e to a
d s(a vez nao , .... . ,.' d-
e d b uesia se aliassem ao rei. Seria inútil, pOIS, chega ,1Sas
{an e urg . " O _
a g to diríeis: prefenmos morrer a tolerá-lo. s ope."as a este pon , _ .
COl. .' . rua sem necessidade de que os patroes techassem, iOSsarrrarn a , . . . _
rar " . uena burguesia acorrena em massa a solidarizar serabncas, a peq .
as 1 resistência desse bloco seria invencível, pOIS em certos
11 e es e a . . .
COI e desesperados também vós, senhores, todos Juntos, SOlS~os extremos r '
cas fragmento da Constituição.unt
CTORES DO PODER E AS INSTITUiÇÕES JURíDICAS.oS FA
A fOLHA DE PAPEL
, esse'ncía a Constituição de um país: a soma dos JactoresE;ta e, em , .
. de poder que regem esse paIs.
re,llS I h s
Me relação existe entre isto e o que vu garmente c amamoas qu . N- 'd'fí'l. . - . quer dizer com a Constituição juridicaê ao e 1 lClconstltulçao, - , .
d a relação que ambos os conceitos conservam entre Si..mpreen er
CI J e esses facrores reais de poder, escreverno-los numauntam-s .
I d do-lhe expressão escrita, e a partlf desse momento,{)lha de pape, an .
ri d papel deixam de ser simples factores reais deji1corpora os num ,
•.:; poder c convertem-se em Direito, em inst iruiçôes jurúlúm, c quematenta contra elas atenta contra a lei e é castigado.
Também não desconhcceis, senhores, o processo que é seguido
para desenvolver por escrito esses factores reais de poder, converten-
do-os assim em factores jun'dicos.
É claro que não se escreve, clara e simplesmente: o senhor Borsig,
fabricante, é um fragmento da Constituição; o senhor Mendelssohn,
"banqueiro, é outro pedaço da mesma e assim sucessivamente; não, as
coisas expressam-se de uma maneira muito mais sofisticada, muito
mais fina.
o Sistema Eleitoral das Três Classes
Assim, por exemplo, se o que se quer dizer é que um certo número de
grandes industriais e capitalistas desfrutarão na monarquia de tanto
poder ou ainda mais do que todos os pequenos burgueses, operários
e camponeses juntos, o legislador terá o cuidado de evitar dizê-Io
de uma maneira tão clara e sincera. O que fará será decretar uma lei
do género, por exemplo, da célebre lei eleitoral das três classes", que
vigorou na Prússia desde 1849, mediante a qual se dividia a nação em
três grupos eleitorais, de acordo com os impostos pagos pelos eleito-
res e que, naturalmente, estava de acordo com a respectiva riqueza.
De acordo com o censo oficial realizado naquele mesmo ano
(1849) pelo governo, existiam em toda a Prússia 3255 703 eleitores,
distribuídos do seguinte modo, pelas três classes eleitorais:
4 Em 8 de Abril de 1848 tinha-se prometido ao povo de Berlim, levantado
revo!ucionariamente, lima lei aprovando o sufrágio universal. Após o golpe de
Estado de 5 de Dezembro de 1848, a monarquia outorgou ao país, em .30 de Maio
de 1849, o sistema eleitoral das três classes, que se manteve em vigor até à revolu-
ção de 1918. 9
Caio
Retângulo
Caio
Retângulo
Caio
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Caio
Retângulo
Caio
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Caio
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Caio
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Caio
Retângulo
153 808
409945
2691 950
Repito que estes números são extraídos dos censos oficiais.
Por eles, vemos que no reino da Prússia há 153 808 pessoas riquís-
sirnas que possuem tanto poder político como 2 691 950 cidadãos
modestos, operários e camponeses juntos, e que esses 153 808 indi-
víduos de grande riqueza, somados às 409 945 pessoas mediana-
mente ricas que integram a segunda cltegoria eleitoral têm tanto
poder político corno () resto da na(,:;lO Inteira; e mais ainda, que os
153 808 indivíduos r iquissirnos e apenas metade dos 409 945 do
segundo grupo, dispõem já, em si mesmos, de mais poder polí-
tico do lJue a restante metade da segunda classe adicionada aos
2 691 950 da terceira.
Vede, senhores, como por este meio cómodo, se chega exacra-
mente ao mesmo resultado que se a Constituição, falando com since-
ridade, dissesse: cada rico terá o mesmo poder político que dezassere
cidadãos comuns, ou se preferirem, pesará nos destinos políticos do
país dezassere vezes mais do que um simples cidadão'.
Antes da promulyaçâo da lei ele irorul das três classes, desde
a lei de 8 de Abril de 1848, o .\l~ji·ágio universal, que garantia a
cada cidadão, fosse rico ou pobre, o mesmo direito de voto, ou seja,
o mesmo poder político o mesmo direito de contribuir para a defi-
nição dos objccrivos do Estado, a respectiva vontade e fins. Fica,
assim, confirmada e documentada, senhores, aquela afirmação que
anteriormente fiz, de que, infelizmente, era bastante fácil despo-
jar-vos, bem como ao pequeno burguês ou ao trabalhador, das suas
liberdades políticas, embora não se lhes arrancassem de um modo
i Com efeito. 2 6')1 950 : 153 808 = 175.
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""" __ ~ ~A ••••••••• ,-,~. ,_.\1\\ ....1"0\): 85
imcduuo t.' radica! os se us bens pessoais, () direito à intq!;ridade física
e à propriedade. Os governantes nâo necessitaram de fazer grandes
esforços para vos privarem dos direitos eleitorais e, até hoje, des-
conheço qualquer agitação ou qualquer campanha que tenha sido
promovida para rccupcr.i-Ios.
A Câmara Senhorial ou Senado
Se, na Constituição, se pretende proclamar que um punhado de
grandes proprietários da aristocracia terá nas suas mão tanto poder
como os ricos, as pessoas abastadas e os dcserdados da fortuna, isto
é, corno os eleitores das três classe juntas, ou melhor, corno o resto
da nação inteira, () legislador terá o cuidado de nào o dizer de uma
maneira tão grosseira - não se esqueçam, senhores, diga-se de pas-
sagem, que a clareza de expressão é grosseria - mas bastar-lhe-a
pôr no texto constitucional o seguinte: os representantes da grande
propriedade da terra, que o sejam por tradição, com alguns outros ele-
mentos secundários, formarão uma câmara senhorial, um senado, cuja
aprovação será necessária para conferir força de lei aos acordos feitos
pela câmara dos deputados eleitos pela nação; deste modo, coloca-se
nas mãos de um punhado de velhos proprietários rurais uma prerro-
gativa política de primeira grandeza, que lhcs permite contrahalançar
a vontade da nação e de rodas as suas classes, por muito unânime que
ela seja.
o Rei e o Exército
E se, continuando por este caminho, desejarmos que () rei por si só
tenha tanto poder político, e muito mais ainda, do que as três classes
de eleitores juntas, incluindo os grandes proprietários de terra da
classe nobre, não será ncccss.ir io mais do que isto:
Caio
Retângulo
Caio
Retângulo
Caio
Retângulo
86
C
'inll"J() um artigo 47 do seguinte teor: "O rei
1 ' re-se 11"1 l>nSr -r , Iuse " , J) cxército e da mannha», acresccntanl ()
. . dos s cargos (Il ,
deslgtULI to os c» : ,'t) c -l. marinha não será exigido juramento
. )8· Ao exerCI ( , '.
no artigo 1( ." .' Ç~I'») F se isto não bastar, constrói -se adi-
,', . Constitui,,· "
de respctt.u a . " ue nào deixa de ter, na verdade, o seu fun-
, . I 1 -nre '1 tCOna, q 1 - ,
CIO!1<tn e . .:, 1 ste artigo, de que o rei ocupa em re açao as
d bstanLla ne ,amento su . , . ,_ muito diferente da que tem perante as
, d: - uma poslçao
torças arma ,l~. _ 'd estado, a teoria de que o rei, como chefe das
d nais Instltulçoes o , d't'ern; ' . '~o e' somente rei mas alzo muito I crente,
- . d: - do paiS, na ' b
torças arm,t Lt~, _ desconhecido, para o que se inventou o termo
cialmlstenOso e _ , ' , ,espe , d 11" t 'I'I'{I razao pela qual nem a camara
j- s i' m. [I , .L'h ,lI' wpremo da orça . '
( t)' , . mesn»: :l nação tem que se preocupar com o
dos deputados, nem, ' ;- l' " d -
. , 1 )C """IS assuntos c org.al1lZaç,10, imitan o. . ulr-Se I (, .''-'' ,.. . ,
exército, nem 1r!1ISC ,. Id rar 'IS ,!()tacóes de llUCnecessite.'. ,. c vo, ,. )
-se ao seu r=r= ,,_ senhores _ a verdade antes de tudo, corno
t:' - d" ncg,lr se, '1:- nao no '- , ' ' ,I ti
r 'S '1 teoria tem um certo apoIO no cirac o ar Igo
',' t>mosdito~quec-t, , _ ' ,'. ~J<l e, .' ,_ Com efeito, se esta dispõe que o exercito nao
108 da ConstttUI(;ao, " '- - ', lmcnto de cumpnr a Constituição, como e
, sir: de nrestar 1ur " .necessi a r id d- 5 do Estado e do próprio rei, Isto eqzllva!e.
d 'ver de todos os Cl a ao - C ,.-
e h J o exército hca à marvem da nnstit uiçao e
. "CO/1 ecer m« J' 0"/1pnndplO aI' 'Z I' .
c '. . d . que nada tem ,I ver com e a, que so tem
j' ra da respectiv" JlIrtS içao, I -o - .' e5JOa do rei, sem manter qualquer outra re açaoque prestar contas a P
com o país ' ibui - d' -d . 'to reconhecida ao rei a atn uiçao e preen-
Uma vezconse?;lll o IS , '- de
, do exército e colocado este numa pOSlçao c
cher todos os postos ,.' ,-
.: monarca conseguiu reunir em SI mesmo, [1,lO
s I'eição pessoal ao n:l, o, ' _ , _-' .
- t.1 d vezes mais poder político que a naçao inteira,
tanto poder rT1as ez . d t' ~ ' !, " ão nClria diminuída ainda que o po er e ecriv o
supremaCl<l esta que n. ' . d _,_._ 1'" te ou cmquenta vezes superior ao o exercrto.
da nação tosse cez, vin ,. ' 1
, ' ente contraste e murto Slmp es,A razão deste ap,lf
. ' . .iana de 5 de Dezembro ele 111411,alteração de
- . (. "ituK,\t) I'fUSS ," Retere-se ,\ \)11. I .
31 de Janeiro de ISSO
\.-<Ut:' t:' UlllcI '--url'.>lllUI(~aO I 87
PODER ORGANIZADO E PODER INORGÂNICO
o instrumento do poder político do rei, () exército, está orya n i z.ado,
pode reunir-se a qualquer hora do dia ou da noite, funciona com lima
disciplina magnífica e pode ser utilizado em qualquer momento que
seja necessário,
Em contrapar tida, meus senhores, o poder que reside na nação,
embora seja, como é na realidade, infinitamente maior, não está
organizado; a vontade do povo, e sobretudo o seu grau de com-
batividade ou de resignação, nem sempre são fáceis de avaliar por
aqueles que dele fazem parte; perante a iminência de uma acção,
nenhum deles sabe quantos se lhe irão juntar para a empreender.
Além disso, a nação carece desses instrumentos de poder organi-
zado, desses fundamentos tão importantes de uma Constituição,
a que já anteriormente nos referimos: os canbôes. É certo que os
canhões se compram com o dinheiro do PO'7)O; certo é também que
se constroem e aperfeiçoam mercê das ciências que se desenvolvem
no seio da sociedade civil, graças à física, à técnica, etc. O sim-
ples facto de existirem demonstra, pois, como é grande o poder da
sociedade civil, até onde chegou o progresso das ciências, das récni-
cas, os métodos de fabrico e o trabalho humano, Mas neste ponto
ocorre-nos o verso de Virgílio: Sic vos, non uobis! Tu, povo, és quem
os faz e paga, mas não são para ti! Como os canhões são sempre
fabricados para o poder organizado e só para este; a nação sabe que
esses artefacros, testemunhas latentes de todo o seu poder, se vira-
rão contra ela, infalivelmente, quando pretender rebelar-se, Estas
razões explicam por que motivo um poder muito menos forte, mas
organizado, se mantém, muitas vezes, durante anos e anos, sufo-
cando o poder, muito mais forte, mas desorganizado, da nação; até
que um dia, esta, farta de ver os assuntos nacionais tão mal geridos
e administrados e que tudo é feito contra a vontade e os interesses
do país, decide levantar-se e opor, contra o poder prganizado, a sua
supremacia desorganizada,
Caio
Destacar
Caio
Destacar
I
88
o que e uma ~U"'lIlUI\OV;
, , de v senhores a relação que existem entre as duasAcabamos e \er,' .' ,
. . - d ais: a Constituição real e efectiua, constituída
Constlhuçoes e um P .' ..'
,. d . f c!Ores reais e efecrivos que vIgoram na SOCle-
elo somatono os a . ., . 1. d: ._
P C nstituição escrita, a que, para distingui- a a pndade e essa outra o
. d o nome de folha depapel 7,rneira, aremos
, _. êleb frase arrogantemente pronunciada por Frcdcrico Gui-
o Alusao a ce e re . ". bri o d
d Abril de 1847, numa mensagem a coroa: Julgo-me o figa olherme IV, em 11 e " .
, declaração de que nem agora nem nunca perrrunrei que entre
a fazer aqUI a solene I' fi
' . interponha uma folha de pape escrrta, como se osseDeus do céu e () meu paIs se I
, ( )"da ProvidênCIa ... .uma segun c
CAPíTULO 11
UM POUCO DE HISTÓRIA
CONSTITUCIONAL
Todos os países têm e sempre tiveram uma Constituição real e efec-
tiva, pois é um erro pensarmos que as Constituições são prerrogati-
vas dos tempos modernos.
Tal não é verdade.
Do mesmo modo e pela lei que torna necessano que qualquer
corpo tenha a sua constituição própria, boa ou má, estruturada de um
modo ou de outro, todos os países têm necessariamente Constituições
reais e efectivas, pois não é possível imaginar uma nação em que não
prevaleçam determinados factores reais de poder, quaisquer que sejam.
Quando, muito tempo antes de se desencadear a grande Revo-
lução Francesa, sob a monarquia legítima e absoluta de Luis XVI,
o poder dominante aboliu em França, por decreto de 31 de Janeiro
de 1776, as prestações pessoais para a construção de vias públicas,
segundo as quais os camponeses eram obrigados a trabalhar gratui-
tamente na abertura de caminhos e estradas, criando-se para fazer
tàce as despesas com estas obras públicas um imposto que havia de
incidir também sobre as terras da nobreza, o parlamento francês
protestou, opondo-se a esta medida: Le peup]« de France est laillable
et corueable à Ia uolonte, c'est une partie de Ia constitution que le roi
ne peut changer; ou dito em português: "o povo de França - quer
dizer, o povo humilde, o que não gozava de privilégios - pode ser
sujeito a impostos e prestações ilimitadas (o q~e já não acontecia
Caio
Destacar

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