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COORDENADORA Ana Maria Maximiliano 2 Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos 3 COORDENADORA Ana Maria Maximiliano Curitiba-PR 2015 Coleção Comissões Vol. XXII 4 Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos www.oabpr.org.br Rua Brasilino Moura, 253 - Ahú - Curitiba - PR (41) 3250-5700 COORDENADORA Ana Maria Maximiliano Projeto Gráfico e Diagramação Celso Arimatéia Coleção Comissões Vol. XXII 132 Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos como simples meios para alcançar determinados objetivos processuais, sendo estas despiciendas para a validação do ato, salvo por exceção, conforme prevê o artigo 154 do CPC.44 Ou seja, ainda que o artigo 154 do CPC estabeleça a liberdade das formas processuais, sua própria redação traz previsão específica neste concerne, pre- valecendo sobre a sistemática libertária.45 Embora a sistemática rígida, a princípio, possa parecer retrógrada, necessá- rio esclarecer que as formas dos atos processuais são de extrema relevância, em virtude dos princípios da segurança jurídica e do devido processo legal, na medida em que garantem às partes conhecer previamente o desdobramento processual e o modo como devem praticá-los.46 Neste sentido, Francisco Antonio de Oliveira, leciona que “a preocupação do legislador foi alcançar o objetivo buscado. Para isso propôs certas formas que devem ser obedecidas. A ausência completa de formas levaria ao caos procedi- mental, e o excesso de formas atravancaria o procedimento obstando que se alcançasse o fim perseguido.”47 Assim sendo, aparenta-se que o aludido princípio não soluciona o impasse exposto, pois, considerando que o artigo 795 da CLT traz regramento específico sobre a matéria, cerceada a eficácia instrumental do princípio, sendo que a própria legislação em vigor, artigo 154 do CPC, já prestigiou a segurança jurídi- ca em detrimento da instrumentalidade, neste caso. Logo, na prática, o magistrado estará legalmente amparado, nos termos do artigos 795 da CLT e 154 do CPC, ao optar por determinada corrente doutrinária e/ou jurisprudencial, ao embasar sua decisão sobre o tema. Note-se que não há lacuna ou antinomia legal, mas diversas interpretações sobre o mesmo preceito de lei. Diante das diversas interpretações acerca do artigo 795 da CLT, como as exem- plificativamente supra expostas, que resultam no paradoxo objeto do presente 44 GIGLIO; CORRÊA GIGLIO, op. cit., p. 169. 45 GARCIA, op. cit., p. 241. 46 Idem. 47 OLIVEIRA, op. cit., p. 922. Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos 133 estudo, questiona-se: o ordenamento jurídico aponta sua preferência por algu- ma interpretação acerca do artigo 795 da CLT? Reputa-se que a resposta é positi- va, consoante ao que se demonstrará adiante. 7. Teses Interpretativas do Artigo 795 da CLT e a Opção do Ordenamento Jurídico: O Artigo 5º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro Consoante ao já demonstrado, pairam diversas interpretações acerca do artigo 795 da CLT, no que tange a forma de arguição da nulidade processual, bem como ao respectivo momento oportuno. O que merece ser realçado, é que, diante desta situ- ação, o próprio ordenamento jurídico pátrio já elegeu um sistema referencial de opção, que, neste caso, está insculpido no artigo 5º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, outrora, denominada Lei de Introdução ao Código Civil – LICC. O artigo 5º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro prescreve que “na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum”. Ou seja, diante do dissenso doutrinário e jurisprudencial acerca do meio, bem como do momento oportuno para a arguição da nulidade, o ordenamento jurídico pátrio impõe ao magistrado, e não lhe faculta, que ao aplicar a redação do artigo 795 da CLT, a partir de sua interpretação, deverá considerar os fins sociais e às exigências do bem comum. Tem-se que o aludido dispositivo dá nova conotação ao já exposto princípio da instrumentalidade. Vale lembrar que “(...) o processo do trabalho não deve ser visto como o “reino das formas”, título que, talvez, possa calhar bem ao processo civil, menos preocupado com a informalidade e a simpleza dos atos do procedimento”, como bem aponta o jurista paranaense Manoel Antonio Teixeira Filho.48 48 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antonio. Curso de direito processual o Trabalho. vol. 1. São Paulo : LTr, 2009. p. 575. 134 Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos Ademais, observe-se que embora o direito processual do trabalho, lastrado na lei, afixe formas determinadas em relação, por exemplo, a apresentação oral de defesa em sede de audiência (artigo 847 da CLT); eleja a audiência una (arti- gos 846 e 850 da CLT); e, imponha a apresentação oral de razões finais, em até dez minutos, após findada a instrução processual (artigo 850 da CLT); nítida a incidência do princípio da instrumentalidade quando nos deparamos com a apresentação da defesa por escrito, vezes até posteriormente a instauração da audiência; com o fracionamento da audiência una; ou ainda, quando colhidas as razões finais via memoriais, nos termos do parágrafo 3º, do artigo 454 do CPC (parágrafo 2º, do artigo 364 do novo CPC);49 sem a extração da validade do ato jurídico, eis que preenchida a finalidade essencial. E neste momento questiona-se: por quais razões prezar por tantas formalida- des em relação a arguição de nulidade processual, nos termos do artigo 795 da CLT, se sua finalidade é, basicamente, refutar a consumação da preclusão? Vale lembrar que “a necessidade de se respeitarem as formas processuais não se confunde com o formalismo, entendido como exigência de formalidades desne- cessárias e sem sentido, tornando a forma do ato como um fim em sim mesmo”.50 Logo, reputa-se que a intensidade das formalidades exigidas para a prática dos atos processuais na senda laboral deve ser reduzida, inclusive em homena- gem ao princípio da simplicidade dos atos processuais, que também permeia o processo do trabalho.51 Assim, a doutrina que descreve o princípio da instrumentalidade das formas na esfera laboral com maior ousadia, quiçá de forma mais lúcida, extrapolando as limitações previstas nos artigos 154 e 244 do CPC (artigos 188 e 277 do novo CPC), merece ser festejada: “O princípio da instrumentalidade das formas, também chamado pela doutrina de princípio da finalidade, tem por objetivo conservar os atos processuais praticados de forma diversa da prescrita na lei, mas que atingiram sua finalidade e produziram os efeitos processuais previstos na lei. Tal princípio se assenta no fato de o processo não ser um fim em si mesmo, mas um instrumento de realização da justiça”.52 49 Idem. 50 GARCIA, op. cit., p. 241. 51 Idem. 52 SCHIAVI, Mauro. Manual de direito processual do trabalho. 3. ed. São Paulo : LTr, 2010. P. 386 – 387. Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos 135 “Os atos e termos processuais não dependem de forma determinada senão quando a lei expressamente a exigir, reputando-se válidos os que, realizados de outro modo, lhe preencham a finalidade essencial (art. 154 do CPC)”.53 “Revela-se, aqui, o desapego ao formalismo, característico do processo do trabalho. Ainda que desrespeitada a forma do ato ou saldada sua execução, embora previsto no procedimento, atingido seu objetivo, será coroado com a qualidade de eficácia, não vindo a ser sancionado com a invalidade”.54 Considerando o acima exposto e a interpretação sistemática da CLT, deve-se ter em mente que o princípio da instrumentalidade das formas é meio para se alcançar a regularidade processual, relacionando-se aos princípios do devido processo legal e da segurança jurídica, objetivando que as partes saibam, previ- amente, as consequências decorrentes da inobservância do rito legal.55 Tem-se, assim, que a inobservância das formalidades inerentes ao artigo 795 da CLT está, ou deveria estar, a princípio, condicionada somente ao manifesto prejuízo de uma ou mais partes, ou, no caso de tratamento não isonômico des- tas, no que tange as prerrogativas processuais56 e não a meros formalismos re- buscados, inclusive em homenagem ao princípio da celeridade processual e a razoável duração do processo, desprezando o desperdício de tempo, em pro- veito de atos processuais já consumados.57 8. Conclusão Ante ao todo exposto, observada a imposição descrita no artigo 5º da LINDB, tem-se que a apreciação da arguição de nulidade processual na senda laboral deveria prestigiar, de forma ampla, seu desígnio e desprezar os formalismos inerentes, dada a relevância do ato e a ausência de uniformidade doutrinária e 53 OLIVEIRA, op. cit., p. 922. 54 FAVA, Marcos Neves. Curso de processo do trabalho. In: CHAVES, Luciano Athayde (Org.). Curso de processo do trabalho. 2. ed. São Paulo : LTr, 2012. p. 574 – 590. 55 GARCIA, op. cit., p. 241 – 242. 56 TEIXEIRA FILHO, op. cit., p. 575. 57 FAVA, op. cit., p. 574 – 590. 136 Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos jurisprudencial, inclusive com amparo no compromisso processual com a efi- cácia e com a finalidade. Como foi destacado, as formalidades processuais previstas nos artigos 154 e 244 do CPC (artigos 188 e 277, respectivamente, do novo CPC), em relação a arguição de nulidade, objetivam a segurança jurídica e o devido processo legal, no sentido de evitar a instauração de um caos procedimental, face ausência de uniformidade, atravancando o processo e desviando seus nortes, vez que, desta forma, as partes teriam prévio conhecimento do rito processual adequado e as consequências de sua inobservância. Ocorre que, mesmo como a expressa previsão legal, sequer a doutrina e a jurisprudência são unânimes no que tange a forma e ao momento de arguição da nulidade, assim, mesmo que por via obliqua, desemboca-se exatamente aon- de o legislador tentou evitar: insegurança jurídica, imprecisão procedimental, não uniformidade, entre outros. Frise-se, novamente, que a oscilação jurisprudencial em relação a matéria não poucas vezes presenteia a parte interessada com a preclusão, sendo que nem o procurador, a doutrina e até mesmo o Poder Judiciário, sabe afirmar, ao certo, qual diligência deveria o causídico adotar, e o momento respectivo, obje- tivando o não sacrifício do direito. Entende-se, data máxima vênia, que transferir tal encargo aos advogados, à esta guisa, e pior, sob pena de sepultar direitos das partes, contrasta com o ideal de justiça, que ainda é a função do direito, e em harmonia ao que apregoa o preâmbulo da Constituição Federal. Ou seja, reputa-se que injusto e ilegal não é a ausência de arguição da nuli- dade processual conforme os ditames impostos na legislação em vigor, o que sequer conta com consenso doutrinário e jurisprudencial, mas sim frustrar as expectativas dos cidadãos, que depositam suas esperanças na máquina do Po- der Judiciário, no afã de obter justiça, porém, restam penalizados, de forma perversa, em decorrência de imprecisões técnicas e conceituais. Assim sendo, vale lembrar dos estudos acerca da eficácia normativa dos prin- cípios, da visão do processo como meio de realização dos direitos fundamentais e, especialmente, do caráter instrumental do processo em detrimento de forma- Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos 137 lidades, reputando pertinente a respectiva aplicação à casos concretos, não apenas vagando no plano acadêmico. Não se olvide que a tarefa é relativamente simples, apenas registrar o incon- formismo da parte face a determinado ato judicial, para que possa posterior- mente buscar a respectiva reforma. Contudo, diante do formalismo processual exacerbado, necessária atuação incisiva e muito esforço para tanto. 9. Referências Bibliográficas CARMO, Júlio Bernardo do. Títulos executivos judiciais e extrajudiciais no processo do trabalho, liquidação e aspectos correlatos. Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região, Belo Horizonte, 35, n. 65, p. 185, jan./jun. 2002. p. 183-202. CAVALCANTE, Jouberto de Quadros Pessoa; JORGE NETO, Francisco Ferreira. Direito processual do trabalho. 6. ed. São Paulo : Atlas 2013. FAVA, Marcos Neves. Curso de processo do trabalho. In: CHAVES, Luciano Athayde (Org.). Curso de processo do trabalho. 2. ed. São Paulo : LTr, 2012. p. 574 – 590. GABRIEL SAAD, Eduardo; EDUARDO SAAD, José; CASTELLO BRANCO, Ana Maria Saad. Curso de direito processual do trabalho. 6 ed. São Paulo : LTr, 2008. GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Curso de direito processual do trabalho. 2. ed. Rio de Janeiro : Forense, 2013. GIGLIO, Wagner Drdla ; CORRÊA GIGLIO, Cláudia Veltri. Direito processual do trabalho. 16 ed. São Paulo : Saraiva, 2007. JUSTIÇA EM NÚMEROS 2013 ANO- BASE 2012 - Disponível em: http://www.cnj.jus.br/images/pes- quisas-judiciarias/Publicacoes/relatorio_jn2013.pdf. Acesso em: 22 ago. 2014. LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. 12. ed. São Paulo : LTr. 2014. MANFREDINI, Aryanna; SARAIVA, Renato. Curso de direito processual do trabalho. 10. ed. Rio de Janeiro : Forense, 2013. 138 Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos MARTINS, Sergio Pinto. Direito processual do trabalho. 34. ed. São Paulo : Atlas, 2013. MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva. Manual de direito e processo do trabalho. 18. ed. rev. e atual. São Paulo : Saraiva, 2009. NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito processual do trabalho. 24. ed. 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Disponível em: <http://www.trt9.jus.br/internet_base/ publicacaoman.do?evento=Editar&chPlc=5890054&procR=AAAS5SADMAAC%2FhWAAX&ctl=26948>. Acesso em: 24 abril. 2015 (Pesquisa jurisprudencial que abrange o período compreendido entre os anos de 2003 a 2015). Tribunal Regional da 9ª Região. Acórdão 16612/2013. Disponível em: .<http://www.trt9.jus.br/internet_base/ publicacaoman.do?evento=Editar&chPlc=5420995&procR=AAAS5SACYAALvmrAAV&ctl=3817>. Acesso em: 24 abril. 2015 (Pesquisa jurisprudencial que abrange o período compreendido entre os anos de 2003 a 2015). Tribunal Regional da 9ª Região. Acórdão 40793/2013. Disponível em:<http://www.trt9.jus.br/internet_base/ publicacaoman.do?evento=Editar&chPlc=5663222&procR=AAAS5SADEAAJ4JmAAJ&ctl=17862>. Acesso em: 24 abril. 2015 (Pesquisa jurisprudencial que abrange o período compreendido entre os anos de 2003 a 2015). Tribunal Regional da 9ª Região. Acórdão 22584/2013. Disponível em:<http://www.trt9.jus.br/internet_base/ publicacaoman.do?evento=Editar&chPlc=5485716&procR=AAAS5SACxAAMcxbAAQ&ctl=974>. Aces- so em: 24 abril. 2015 (Pesquisa jurisprudencial que abrange o período compreendido entre os anos de 2003 a 2015). 140 Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos O Trabalhador Estrangeiro no Brasil e a Globalização Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos 141 Luciane Erbano Romeiro 142 Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos 1. Introdução Com a globalização da economia, principalmente no século XX e, através da formação de blocos econômicos, surge a necessidade de trocas de informações sociais, políticas, jurídicas e econômicas dentre os povos, bem como a utilização de mão-de-obra de trabalho como sustentáculos desse alicerce político-econômico. Diversos são os conflitos decorrentes dessa uniformização de pensamento, de cultura, de ideologia e de princípios gerais nos quais os países se deparam cotidianamente, carecendo, todavia, de legislação voltada para o Direito Inter- nacional. No ordenamento jurídico brasileiro, com relação ao direito internacional privado, basicamente podemos encontrar na Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro e algumas manifestações do Supremo Tribunal Federal. No que tange à doutrina e às publicações jurídicas, muito pouco se aborda o tema de direito internacional relacionado com o Direito do Trabalho. E, no setor empresarial, verifica-se que mesmo os Órgãos de Classe e entidades profissionais que representam os maiores setores econômicos do Brasil, carecem de estrutura e sistematização organizacional, existindo pouquíssima compilação de dados estatísticos a facilitar qualquer pesquisa técnica-científica. À título ilustrativo, salienta-se a Espanha que, estatisticamente1, é um dos países com o maior volume de investimento direto no Brasil nos últimos anos. Por isso mesmo é que, nesse artigo, dar-se-á um destacado enfoque ao direito espanhol, tanto no que se refere aos procedimentos necessários à instalação de empresas daquele país no Brasil, quanto no que diz respeito à contratação de trabalhadores espanhóis e brasileiros por estas mesmas empresas. No campo do Direito do Trabalho, diversos estrangeiros têm se instalado no Brasil com o intuito de laborarem em Empresas Nacionais ou Estrangeiras, bem como, vários brasileiros estão assumindo postos de trabalho em Países conside- rados investidores. O mais comum de se encontrar são empresas oriundas de outros países, 1 Infomação obtida pelo Ministério das Relações Exteriores. Disponível em: <http://mre.gov.br>. Acesso em 20jul2015. Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos 143 que se instalam e constituem sua atividade econômica no Brasil, trazendo alguns profissionais especializados nos seus maquinários e na sua filosofia de trabalho. Em decorrência, há uma miscigenação de cultura e de tecnologia entre os povos, acarretando conflitos e choques legais e econômicos. Dessa forma, constata-se problemas legais advindos desde o tipo de visto autorizado a estes estrangeiros, na entrada ao Brasil, quanto em relação à legis- lação a ser aplicada. E nesse sentido, especificamente nos contratos de traba- lho, muitos aplicadores do direito questionam-se quanto a acolhida da legisla- ção do país em que foi celebrado o contrato de trabalho ou a do local da presta- ção de serviço. Outra problemática encontrada é em relação aos direitos e deveres atribuí- dos e garantidos aos cidadãos residentes no Brasil, sejam eles nacionais ou estrangeiros, quando conflitantes com as normas existentes no País de origem do estrangeiro-trabalhador. Assim, a melhor compreensão das situações jurídica, social e econômica que envolvem diversos países e seus reflexos nos contratos de trabalho, permitirá a diminuição ou mesmo que sejam sanadas as dificuldades cotidianas relaciona- das com os contratos laborais, evitando-se conflitos desnecessários advindos, muitas vezes, de falta de informação. Por fim, verifica-se que a doutrina, seja ela através de artigos, publicações, monografias ou teses, vem embasar um processo legislativo voltado às necessi- dades da população mundial, de modo a sanar os conflitos legais, garantidor da supremacia de cada litigante e da paz entre os povos. 2. Nacionalidade 2.1. Conceito No Brasil, verifica-se com relação ao tratamento a ser dado às pessoas e ao Estado, que o Direito Constitucional classifica, basicamente, o sistema jurídico da seguinte forma: 144 Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos a) nacionalidade; b) cidadania; c) estrangeiro. As definições e distinções destes termos são comumente confundidos em razão do duplo sentido que estes, em princípio, parecem ter para os leigos da Ciência do Direito. Assim, para melhor compreensão, far-se-á a explicação: Nacionalidade, sob o aspecto sociológico, vincula-se ao território, tradição, língua e raça de um povo. Todavia, no Sistema Jurídico Brasileiro é o vínculo existente entre o homem e o Estado (Pessoa Jurídica de Direito Público Interno). PONTES DE MIRANDA2 define nacionalidade como sendo “o vínculo jurídico político de Direito Público Interno, que faz da pessoa um dos elementos compo- nentes de dimensão pessoal do Estado”. A nacionalidade pode ser primária ou originária (resultante do nascimento) e secundária ou adquirida (por ato voluntário). Cidadania também trata da relação entre o homem e o Estado, porém da rela- ção com o Estado Político “decorrente do direito de participar do governo e direito de ser ouvido pela representação política […] os direitos de cidadania adquirem-se mediante alistamento eleitoral na forma da lei [...] só o titular da nacionalidade brasileira pode ser cidadão”3. E, os estrangeiros são “aqueles que, apesar de residentes no território nacio- nal e membros componentes de sua população, deixaram de naturalizar-se nos termos do art. 12, II, da Constituição Federal”4. 2.2. No Direito Comparado Com a globalização e maior acesso às informações, verificam-se as trocas de trabalhadores entre os Estados-Membros (Países). Em países como a França, Inglaterra e a Alemanha é muito comum a utilização de trabalhadores estrangeiros para tarefas braçais, nas piores condições de exer- 2 PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcante. Comentários à Constituição de 1967 com a Emenda nº1, de 1969. Vol. 1. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1970, p. 279. 3 SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 6. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999, p. 120. 4 MORAES FILHO, Evaristo de; MORAES, Antônio Carlos Flores de. Introdução ao direito do trabalho. 7. ed. rev. e atual. São Paulo: LTr, 1995, p. 616. Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos 145 cício da atividade e com o salário mais aviltante, já que menor se mostra sua capacidade e reivindicação em face do trabalhador nacional5. Num primeiro momento, o recurso à mão-de-obra estrangeira apresentaria a vantagem de diminuição dos custos de produção, porém, um longo período de sua intensiva utilização constituiria um risco para a modernização das estrutu- ras industriais. Tal situação, historicamente analisando, levou o Conselho de Ministros Fran- ceses a editar a Decisão, em 9 de outubro de 1974, no sentido da suspensão da entrada de trabalhadores estrangeiros no seu território Francês. O Tratado de Amsterdã, de 02 de outubro de 1997, que entrou em vigor a partir de maio de 1999, propiciou a consolidação e o aprofundamento de questões ligadas à cidadania européia, com ênfase para o prestígio do Estado de Direito como princípio básico, para as liberdades fundamentais, para a democracia, a igualdade entre homens e mulheres, a não discriminação, prevendo-se, tam- bém a suspensão de direitos de um Estado-Membro que, porventura venha a violar os direitos fundamentais. Propôs-se, ainda, a luta contra a falta de ocupação das pessoas, com políti- cas específicas para o incremento do emprego e o aprofundamento da política social no ambiente comunitário europeu. Verifica-se que, internamente, voltou- se à questão social e democrática da Europa e à livre circulação de seus cida- dãos. No âmbito externo, ao fortalecimento da política exterior da UNIÃO EURO- PÉIA e a luta eficaz contra a delinqüência organizada. E mais, o Tratado se ocu- pou com o cidadão comunitário e seus direitos, depois de quase meio século da criação das Comunidades Européias. No Chile, a Lei Salarial de 1970, ao impor aos empregadores a obrigação de substituir o pagamento do salário mínimo em espécie por pagamento em efeti- vo, teve por conseqüência o despedimento de empregados permanentes, esti- mulando a contratação de temporários. Em 1979, promulgada outra Lei, no go- verno Pinochet, destinada sabidamente a enfraquecer a atividade sindical, limi- 5 Disponível em: < http://movv.org/2006/04/04/david-ricardo-nada-contribui-mais-para-a-prosperidade-e-felicidade-deum-pais-como-os-lu- cros-elevados>. 146 Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos tou-a às explorações com mais de quinze empregados permanentes, com o que recrudesceu o estímulo às contratações temporárias6. Nos demais países da América Latina, Textos Constitucionais chegam a se explícitos quanto à proibição da escravidão, como a Constituição Boliviana de 1967, a Costarricense de 1949, a Paraguaia de 1967, a Equatoriana de 1978, a Venezuelana de 19617. 2.3. No Brasil No Brasil, a situação de subemprego vincula-se normalmente aos trabalha- dores oriundos de regiões de menos investimentos governamentais, particular- mente os nordestinos e seus descendentes, pois possuem, em geral, carência de conhecimentos técnicos e profissionais para exigirem uma melhor negociação das suas condições de trabalho. Os estrangeiros, diversamente do escravismo, eram recrutados como força de trabalho assalariado, que após terem percorrido longas distâncias territori- ais na expectativa de melhoria nas condições de vida, bem como de maior co- nhecimento técnico sedimentado, tinham maior motivação para o trabalho bra- çal e vinculado com suas raízes. Porém, como o volume da entrada de estrangeiros, principalmente europeus decorrentes de grandes guerras, o Brasil estabeleceu um percentual mínimo de contratação de trabalhadores nacionais nas empresas, corporificada no Decre- to nº 19.482, de 12 de dezembro de 1930, com o intuito de garantir postos de labor nacional, onde muitas vezes eram alocados para as atividades perigosas e pior remuneradas, rejeitadas pelos imigrantes, como também para coibir a ex- periência da reivindicação de condições de trabalho dos estrangeiros, como já tinha podido comprovar no século XIX com a “Revolta dos Parceiros” ou “Insur- reição dos Imigrantes”8. 6 Disponível em: < lcms.uniandrade.br/publicador/arquivos_site/ publicacoes/Revistas/juridica/revista_juridica_v1_n1_2004.html>. 7 CACCIAMALI, Maria Cristina. Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho na América Latina. São Paulo Perspec., São Paulo, vol.16, nº 2, ISSN 0102- 8839, abr./jun. 2002. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s0102-88392002000200008&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt>. 8 WITTER, José Sebastião. Tudo é História. São Paulo: Brasiliense, 1986; WITTER, José Sebastião. A Revolta dos Parceiros. Jornal da Tarde, São Paulo, 15 nov. 1986, p. 6. Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos 147 A atual Constituição Federal do Brasil, no seu art. 5º, “caput”, garantiu igual- dade de tratamento entre os nacionais e os estrangeiros sendo: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liber- dade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes [...]” elencando e assegurando a eles todos os direitos fundamentais. 2.3.1. Enfoque na Consolidação das Leis do Trabalho A Consolidação das Leis do Trabalho, sobre esse assunto, prevê em seu Capí- tulo II, “Da Nacionalização do Trabalho” (arts. 352 e seguintes). Nesse sentido, seguindo o preceito constitucional, passou prescrever que “as empresas, individuais ou coletivas, que explorem serviços públicos dados em concessão, ou que exerçam atividades industriais ou comerciais, são obri- gadas a manter no quadro do seu pessoal, quando composto de três ou mais empregados, uma proporção de brasileiros não inferior à estabelecida no pre- sente Capítulo”. E, “não se acham sujeitas às obrigações da proporcionalidade as indústrias rurais, as que, em zona agrícola, se destinem ao beneficiamento ou transforma- ção de produtos da região e as atividades industriais de natureza extrativa, salvo a mineração” (arts. 352, §2º). Para as regras de nacionalidade, sob o enfoque do Direito do Trabalho, os portugueses e os estrangeiros que residam no Brasil há mais de dez anos ou que tenham cônjuge ou filho brasileiro são equiparados aos brasileiros. Ressalta-se somente, as profissões que exigem, por determinação legal, as reservadas aos brasileiros natos ou aos brasileiros em geral9. Contudo, a CLT garante uma proporcionalidade entre brasileiros e estrangeiros no âmbito interno das empresas, computando as sucursais, as filiais e as agências que trabalhem três ou mais empregados. Assim, é obrigatório para a contratação de estrangeiros, que dois terços de seus empregados sejam brasileiros, podendo, entretanto, ser fixada proporcionalidade inferior, do Poder Executivo, e depois de 9 Art. 353, da CLT. 148 Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos devidamente apurada pelo Departamento Nacional do Trabalho, quando verifica- da a insuficiência do número de brasileiros na atividade de que se tratar. Essa regra abrange também para o cálculo para folha de salários10. Se uma empresa ou indivíduo explorar atividades sujeitas a proporcionali- dades diferentes, deverá essas serem analisadas e respeitadas, em relação a cada uma delas.11 Salienta-se a garantia constitucional de isonomia de tratamento entre brasi- leiros e estrangeiros (art. 5º, CF), onde trabalhando em funções análogas, deve- rão ser remunerados igualitariamente, excetuando-se os casos seguintes: a) quando, nos estabelecimentos que não tenham quadros de empregados organizados em carreira, o brasileiro contar menos de dois anos de servi- ço, e o estrangeiro mais de dois anos; b) quando, mediante a aprovação do Ministério do Trabalho, houver quadro organizado em carreira em que seja garantido o acesso por antigüidade. c) quando o brasileiro for aprendiz, ajudante ou servente, e não o for o es- trangeiro; d) quando a remuneração resultar de maior produção, para os que traba- lham a comissão ou por tarefa12. Quando ocorrer a falta ou cessação de serviço, a dispensa do empregado estrangeiro deve preceder à de brasileiro que exerça função análoga, nos ter- mos do parágrafo único, do art. 357, da CLT. Para a contratação de estrangeiros, a empresa deverá exigir do trabalhador a sua carteira de identidade de estrangeiro devidamente anotada13, bem como assentar no registro de empregados, os dados referentes à nacionalidade de qualquer empregado estrangeiro e o número da respectiva carteira de identida- de, conforme determina o parágrafo único, do art. 359, da CLT. Toda empresa compreendida no art. 352, § 1º, da CLT, independentemente do número de seus empregados, deve apresentar anualmente às repartições com- 10 Art. 354, da CLT. 11 Art. 355, da CLT. 12 Art. 358, da CLT. 13 Art. 359, da CLT. Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos 149 petentes do Ministério do Trabalho, uma relação de todos os seus empregados14, assinalando a modificação havida com referência à última relação apresentada. Se se tratar de nova empresa, essa relação deverá ser feita dentro de 30 dias de seu registro no Departamento Nacional da Indústria e Comércio ou reparti- ções competentes15. Caso não haja Ministério do Trabalho na localidade da empresa contratante, as relações poderão ser entregues no Departamento da Receita Federal do Minis- tério da Economia, Fazenda e Planejamento, que as remeterão desde logo àque- la repartição. Tais medidas legais devem ser rigorosamente cumpridas pelas empresas, sob pena de autuação pelo Ministério do Trabalho, mesmo que a empresa não tenha nenhum empregado contratado, por exemplo, quando a empresa está inativa, porém ainda aberta perante a Junta Comercial, far-se-á declaração negativa16. Quando da entrega das relações de trabalhadores, operar-se-á contra recibo especial, cuja exibição é obrigatória, em caso de fiscalização, enquanto não for devolvida ao empregador a via autenticada da declaração17. No caso de uma fiscalização e verificando nas relações apresentadas, qual- quer infração, será concedido à empresa o prazo de dez dias para sua defesa, seguindo-se o despacho pela autoridade competente18. As repartições às quais competir a fiscalização, nos termos do art. 362, da CLT, manterão fichário da empresa autuada e, quando da regulamentação das infrações, querendo, as empresas poderão solicitar ao órgão fiscalizador, certidões de sua quitação, que as fornecerão, no prazo de trinta dias, contados da data do pedido. Essas certidões de quitação farão prova até 30 de setembro do ano seguinte àquele a que se. Sem elas nenhum fornecimento ou contrato poderá ser feito com o Governo da União, dos Estados e Municípios, ou com as instituições para- estatais a eles subordinadas, nem será renovada autorização a empresa estran- geira para funcionar no País19. 14 Art. 360, da CLT. 15 Art. 360, §1º, da CLT. 16 Art. 360, §3º, da CLT. 17 Art. 360, §2º, da CLT. 18 Art. 361, da CLT. 19 Art. 362, §1º, da CLT. 150 Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos Em seus parágrafos segundo e terceiro, do supra citado artigo celetista, a primeira via da relação, depois de considerada pela repartição fiscalizadora, será remetida anualmente, à Secretaria de Empregos e Salário, como subsídio ao estudo das condições de mercado de trabalho, de um modo geral, e, em particular, no que se refere à mão-de-obra qualificada; e a segunda via da rela- ção será remetida pela repartição competente ao Centro de Documentação e Informática do Ministério do Trabalho e a terceira via devolvida à empresa, devi- damente autenticada. Em se tratando de empresa concessionária de serviço público ou de socieda- de estrangeira autorizada a funcionar no País, se a infratora, depois de multada, não atender a final ao cumprimento do texto infringindo, poderá ser-lhe cassa- da a concessão ou autorização20. A legislação celetista não derroga as restrições vigentes quanto às exigênci- as de nacionalidade brasileira para o exercício de determinadas profissões nem as que vigoram para as faixas de fronteiras21. Enquanto não for expedida a carteira de trabalho do estrangeiro, este poderá utilizar como documento hábil, uma certidão, passada pelo serviço competente do Registro de Estrangeiros, provando que o empregado requereu sua perma- nência no País22. A redução da proporcionalidade de brasileiros e estrangeiros, enquanto o Serviço de Estatística da Previdência e Trabalho não dispuser dos dados estatís- ticos necessários à fixação da conveniente para cada atividade, poderá ser feita por ato do Ministro do Trabalho, mediante representação fundamentada da as- sociação sindical, conforme preceitua o texto celetista, em seu art. 367. Trata-se de uma das chamadas normas penais em branco, dependendo da regulamenta- ção do assunto pelo Ministério do Trabalho, que é o órgão competente do Poder Executivo. 20 Art. 364, parágrafo único, da CLT. 21 Art. 365, da CLT. 22 Art. 366, da CLT. Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos 151 3. Direitos Fundamentais dos Trabalhadores no Âmbito Nacional No Brasil, a Constituição Federal de 1988 assegura aos trabalhadores urba- nos e rurais brasileiros uma série de direitos fundamentais, elencados no Capí- tulo II, principalmente nos arts. 7º e 8º, que podem ser divididos da seguinte forma: os Direitos Individuais e Coletivos; os Direitos Sociais e Trabalhistas; os Direitos Nacionais (nacionalidade e nacionalização) e os Direitos Politicos. Ao desmembrar-se estes direitos fundamentais, resumidamente e de forma sintética, pode-se citar ao trabalhador brasileiro e estrangeiro: 1) Proteção contra despedida arbitrária; 2) Seguro Desemprego; 3) Fundo de Garantia por Tempo de Serviço; 4) Salário Mínimo; 5) Piso Salarial; 6) Irredutibilidade do Salário; 7) Décimo Terceiro Salário; 8) Jornada de Trabalho; 9) Horas Extras; 10) Trabalho Noturno; 11) Repouso Semanal; 12) Férias; 13) Aviso Prévio; 14) Proteção ao Trabalho da Mulher; 15) Proteção ao Trabalho do Menor; 16) Prescrição da Ação Referente a Crédito Trabalhista; 17) Aposentadoria; 18) Trabalhador Doméstico; 19) Sindicato – consiste na associação profissional devidamente reconheci- da a qual compete a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individu- ais da categoria que representa, inclusive em questões judiciais e admi- nistrativas. É livre a associação sindical ou profissional, nos limites da Lei. A Constituição proíbe a criação de mais de um sindicato representativo de 152 Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos categoria profissional ou econômica numa mesma base territorial, que não pode ser menor que a área de um município. Ninguém pode ser obri- gado a filiar-se ou manter-se filiado a sindicato. É obrigatória a participa- ção dos sindicatos nas negociações coletivas de trabalho. 20) Direito de Greve - É assegurado o direito de greve, competindo aos Traba- lhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender. 21) Empresas com mais de 200 Empregados - nas empresas com mais de duzentos empregados, está assegurada a eleição de um representante desses empregados, com a finalidade exclusiva de promover o entendi- mento direto com os empregadores. 4. Direitos Fundamentais dos Trabalhadores no Âmbito Internacional No âmbito do Direito Internacional, a Declaração sobre os Princípios e Direi- tos Fundamentais no Trabalho foi adotada na Conferência Internacional do Tra- balho da OIT, em 18 de junho de 1998, 50 anos depois da Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU, e desenvolve os direitos humanos compreendi- dos na área de competência da OIT, que adicionalmente também compõem a agenda da OMC. São quatro princípios que regem os direitos fundamentais: 1) Livre associação e reconhecimento do direito de negociação coletiva; 2) Eliminação de todas as formas de trabalho forçado; 3) Efetiva abolição de trabalho infantil e, 4) Eliminação da discriminação com relação ao emprego e ocupação23. Esses princípios constituem uma base mínima universal de direitos do traba- lho para todos os países membros, independente de sua ratificação das conven- ções que acharem que melhor lhe prouverem. Verifica-se tendência ascendente em quase todos os países de mudar as constituições e outras legislações, e for- 23 PIOVESAN, Flávia. A Constituição brasileira de 1988 e os tratados internacionais de proteção dos direitos humanos. Revista da AJURIS, Porto Alegre, ano XXVI, n. 76, p. 330-347, 1999. Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos 153 mular programas e medidas para viabilizar sua implementação, inclusive entre os países menos favorecidos economicamente da África e da Ásia24. Os citados princípios são encadeados com o objetivo de se reforçarem, en- tretanto, o princípio da livre associação e reconhecimento do direito de negoci- ação coletiva, tem sido reconhecido, na literatura especializada, como um ele- mento importante para implementar os demais. Trabalhadores na agricultura, no serviço doméstico, imigrantes, aqueles inseridos em pequenas empresas e no setor informal não são contemplados, em muitos países, pela legislação la- boral e da seguridade social e encontram-se excluídos tanto dos direitos traba- lhistas derivados da operacionalização dos princípios, quanto da possibilidade de participar e ser beneficiado pelas negociações coletivas. E, MANUEL ALONSO OLEA25 classifica os direitos trabalhistas como direitos humanos fundamentais, incorporando os direitos reconhecidos pelos Tratados internacionais, tais como o “da dignidade inerente à pessoa humana”, “limita- ção razoável das horas de trabalho”, “a segurança e higiene no trabalho”, “direi- to de toda pessoa para fundar sindicatos e para filiar-se àquele sindicato de sua eleição”, direito a férias, ao trabalho livre, dentre outros. Decorrida esta abordagem histórica, coaduna-se com o posicionamento da Ilustre Professora Doutora GISELA MARIA BESTER26, quando à natureza dos direi- tos fundamentais, sendo “situações jurídicas, objetivas e subjetivas, definidas no direito positivo em prol da dignidade, da igualdade e da liberdade da pessoa humana, tendo caráter concreto de normas positivas constitucionais, cuja ado- ção é um dos elementos essenciais do próprio conceito de Constituição” . Assim, pode-se definir que os: “Direitos fundamentais consistem em precei- tos jurídicos necessários para que a pessoa humana se realize de forma plena, num ambiente de liberdade, dignidade e igualdade”27. 24 ILO, Review of annual reports under the follow-up to the ILO declaration of fundamental principles and rights at work. Disponível em: <htpp:/ /www. Ilo.org>. Acesso em 20 jul. 2015. 25 OLEA, Manuel Alonso. Introdução ao Direito do Trabalho. Trad. Guilherme de Vasconcelos. São Paulo: Ltr, 1984, p. 234. 26 BESTER, Gisela Maria. Direito constitucional: fundamentos teóricos. São Paulo: Manole, 2005. Vol I, p. 604-605. 27 BITTENCOURT, Marcus Vinicius Corrêa. Curso de Direito Constituional. Belo Horizonte: Fórum, 2007, p. 56. 154 Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos No mesmo sentido, JOSÉ AFONSO DA SILVA28 conceitua os direitos funda- mentais do homem enquanto “situações jurídicas, objetivas e subjetivas, defini- das no direito positivo, em prol da dignidade, igualdade e liberdade da pessoa humana”. 5. Atividades Empresariais e o Direito Comparado Para FRAN MARTINS29, a empresa é objeto de direito, e não sujeito de direito. Tem-se, portanto, que a empresa é a atividade desenvolvida pelo empresário, este sim o sujeito do direito. Portanto, o empresário, pessoa física ou jurídica, é o sujeito de direitos que organiza a empresa e assume o risco do empreendimento, com profissionalidade. Concluiu-se, desta forma, que empresa é a organização destinada a ativida- des de produção, isto é, natureza, capital e trabalho, com circulação de merca- dorias, bens e serviços, de finalidade lucrativa, chefiadas ou dirigidas por uma pessoa física ou jurídica, denominada empresário. 5.1. Procedimentos Empresariais para autorização de trabalho ao estrangeiro As decisões empresariais têm sido cada vez mais globalizadas e têm exigido uma análise conjunta e planejada dos mais diversos setores. E, nesse sentido, o Direito Imigratório tem ocupado importante espaço, na medida em que trata das condições jurídicas para a correta alocação de executivos. As autoridades imigratórias brasileiras vêm anunciando a modernização da legislação, propondo, entre outras inovações, a criação de vistos específicos para as atuais demandas de mercado e a adoção de um processo mais ágil na tramitação dos pedidos de obtenção de vistos para estrangeiros. 28 SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 28. ed, revista e atualizada (até a Emenda Constitucional n. 53, de 19.12.2006). São Paulo: Malheiros, 2007, p.179. 29 MARTINS, Fran. Curso de direito comercial. 22. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1998, p. 15. Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos 155 O mercado internacional, diante do processo de globalização das economi- as, exige dos Estados uma necessidade de oferecer um quadro jurídico para a inserção legal aos empresários, de outros Países, através de Acordos Internaci- onais, de forma a permitir o melhor desenvolvimento de suas atividades. 5.2. Aspectos Gerais do Direito Internacional Direito Internacional é o ramo do direito que tem por objetivo a solução das questões de caráter internacional, na medida em que estejam envolvidos inte- resses de pessoas, físicas ou jurídicas, de países diferentes, ou seja, o conjunto de princípios e regras concernentes aos interesses superiores da sociedade hu- mana, na interdependência dos Estados. O Direito Internacional do Trabalho resolve os conflitos de lei no espaço, em virtude da possível incidência da lei trabalhista estrangeira. Os conflitos de lei em matéria trabalhista decorrem não só do deslocamento de mão-de-obra, mas do desenvolvimento dos transportes internacionais, da necessidade de técni- cos estrangeiros nos países de menor desenvolvimento, da crescente internaci- onalização do comércio, da extensão internacional das atividades das empresas com filiais em diversas partes do mundo, daí porque não é pequeno o número de assalariados em razão dos quais surge questão de aplicação espacial da lei30. 5.3. O Direito do Trabalho e as Repercussões Empresariais As principais repercussões no Direito do Trabalho, como conseqüência do processo de integração econômica na UNIÃO EUROPÉIA, foram decorrentes de medidas administrativas de impacto, tanto no âmbito das empresas, quanto dos grupos econômicos. No âmbito empresarial, ocorreram, assim, fusões, incorporações, cisões, transferências de controles e mesmo falências de empresas. Houve necessidade do ordenamento comunitário passar a dispor de mecanismos de defesas dos trabalhadores em relação a tais fenômenos, estabelecendo a necessária compa- tibilização entre o desenvolvimento do mercado comum e a proteção de direitos básicos dos trabalhadores. 30 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito do trabalho. São Paulo: Saraiva: 1999, p. 285. 156 Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos Para tanto, foram consideradas normas comunitárias sobre questões rele- vantes não abrangidas por Diretivas31, bem como a existência de diversos orga- nismos que revelam a preocupação da comunidade com os aspectos sociais. As Diretivas vinculam o Estado-membro destinatário quanto ao resultado a alcançar, deixando, no entanto, às instâncias nacionais a competência quanto à forma e os meios (art. 189, do TCE). Configuram “expressões do poder hierárqui- co contendo instruções das instituições comunitárias endereçadas aos estados- membros”32. As Diretivas possuem efeito direto e não aplicabilidade direta, pois somente poderão ser invocadas caso o Estado-membro não a transpuser para a normati- va interna no prazo estipulado ou caso efetive a transposição, a faça de maneira incorreta33. Tal distinção se dá, tendo em vista que o efeito direto não se encontra previsto nos tratados, ao contrário da aplicabilidade direta, mas foi uma criação da jurisprudência do TJCE, com apoio da doutrina34. As maiores preocupações geraram a adoção de três importantes Diretivas, ver- sando sobre as despedidas coletivas; a manutenção dos direitos dos trabalhado- res em caso de alteração na estrutura jurídica da empresa; bem como a terceira, referente à proteção dos trabalhadores assalariados em caso de insolvência. Pode-se citar algumas delas, relacionadas ao Direito do Trabalho. A Diretiva nº 75/129/CEE35, modificada pela de nº 92/56/CEE, trata da questão dos despedimentos coletivos. Ela contém regras de caráter procedimental. Visa a estabelecer procedimentos na decisão empresarial de despedir e determina a necessidade de informação e de consulta dos trabalhadores em tais hipóteses, bem como a possibilidade de eventual acordo. Neste particular, inspirou-se na filosofia da Convenção nº 158 e da Recomendação nº 166, ambas da OIT. Neste caso, o empresário deverá, ainda, notificar a autoridade pública competente sobre qualquer projeto de despedida coletiva. 31ALMEIDA, Elizabeth Accioly Pinto de. Mercosul & União Européia – Estrutura Jurídico- Institucional. Curitiba : Juruá Editora, 1996, p. 94. 32 SOARES, Mário Lúcio Quintão. Direitos Humanos, Globalização e Soberania. Belo Horizonte : Inédita, 1997, p. 44. 33 ALMEIDA, Elizabeth Accioly Pinto de, op. cit. p. 94. 34 QUADROS, Fausto de. in Direito das Comunidades Européias e Direito Internacional Público, Lisboa : Almedina, 1991, pp. 420-421 apud ALMEIDA, Elizabeth Accioly Pinto de, op. cit. p. 95. 35 BELTRAN, Ari Possidonio. Op. cit. Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos 157 Quanto às transferências de controles de empresas, de centros de ativida- des ou de partes de centros de atividades, editou-se a Diretiva nº 77/187/CEE36, de 14 de fevereiro de 1977, para a conservação dos direitos do trabalhador. Par- tiu-se do pressuposto, que a evolução econômica acarreta, entre outras altera- ções que afetam a estrutura das empresas, transferências que exigem disposi- ções tutelares dos trabalhadores, com vistas à proteção de seus direitos. Mais outras duas Diretivas37 que se deve mencionar, correlacionadas à tutela dos trabalhadores e as atividades empresariais, a saber, a de nº 78/855/CEE, concernente às fusões das sociedades anônimas, e a de nº 82/891/CEE, refe- rente às cisões das sociedades anônimas. O objetivo almejado pelo legislador comunitário foi o de garantir, sempre que possível, que o contrato ou a relação de trabalho continue sem alterações com o cessionário. Os trabalhadores atingidos pela transferência da empresa não devem ser colocados, pelo simples fato da transferência, numa situação menos favorável. Neste sentido, tem-se a legislação pátria trabalhista, nos seus artigos 10 e 448, ambos da Consolidação das Leis do Trabalho, dispõem de normas bastante avançadas a respeito das conseqüências das alterações na estrutura jurídica da empresa em relação aos contratos de trabalhos. No caso de insolvência do empregador, foi editada a Diretiva nº 80/987/ CEE38, que teve seu Anexo modificado pela Diretiva nº 87/164/CEE, visando à proteção dos assalariados. Tanto quanto as duas Diretivas precedentes, aqui também, os fundamentos estão nos arts. 100 e 117, do Tratado da CEE, tendo em vista o objetivo de aproximação das legislações dos Estados membros no que se refere à proteção dos trabalhadores, no caso, quando os seus empregadores encontrem-se em situação de insolvência. A Diretiva nº 91/533/CEE39 procura aproximar as legislações no que se refere ao direito de informação dos trabalhadores. O empregador está obrigado a 36 BELTRAN, Ari Possidonio. Op. cit. 37 Idem, ibidem. 38 Idem, ibidem. 39 BELTRAN, Ari Possidonio. Op. cit. 158 Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos por à disposição do trabalhador os elementos essenciais do contrato de traba- lho. A questão da segurança e saúde no trabalho foi regulada por uma Diretiva marco, ou seja, a de nº 89/391/CEE, da qual derivaram, até o momento, treze Diretivas específicas. 6. Livre Circulação de Pessoas e Trabalhadores Uma das etapas do processo de integração é a livre circulação de pessoas e serviços, sendo que esta última está ligada ao estabelecimento comercial e ao livre exercício profissional, técnico, científico ou liberal. A Declaração Universal dos Direitos do Homem estabelece, em seu art. 2º, que: Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades proclamados na presente Declaração, sem distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de opinião política ou outra, de origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra situação. Além disso, não ser feita nenhuma distinção fundada no estatuto político, jurídico ou internacio- nal do país ou do território da naturalidade da pessoa, seja esse país ou território independente, sob tutela, autônomo ou sujeito a alguma limitação de soberania. Nesse mesmo sentido, baseados no princípio da não-discriminação, o orde- namento comunitário obriga os Estados-partes a tratarem os trabalhadores es- trangeiros da mesma forma com que são tratados os trabalhadores nacionais, em todos os sentidos e não somente com relação ao labor. Aos seus dependentes são asseguradas as mesmas proteções. Esta proteção é essencial para o exercí- cio da livre circulação. O mesmo se pode dizer quanto ao princípio da igualdade de trato, posto que somente serão impostas restrições aos estrangeiros que também forem impostas aos nacionais. Vale dizer que o princípio da não-discriminação se aplica também aos pres- tadores de serviços, bem como às demais liberdades e garantias sociais. Portanto, pode-se dizer que a livre circulação de trabalhadores implica na abolição total de toda e qualquer discriminação baseada na nacionalidade, bem Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos 159 como estabelece condições de igualdade de direitos com os nacionais em todos os países-membros de um mercado comum40. 6.1. O Estrangeiro no Brasil O estrangeiro, para ingressar no Brasil, deverá ser portador de documento de viagem reconhecido pelo Governo Brasileiro, de Certificado Internacional de Imu- nização, quando exigido, e de visto de entrada concedido por Missões Diplomáti- cas, Repartições Consulares de Carreira, Vice-Consulados e, quando autorizados pelo Ministério das Relações Exteriores (SERE) e pelos Consulados Honorários. Um documento de viagem tem, usualmente, indicativa de sua validade no tempo e no espaço. Para receber visto de entrada, o documento de viagem deve ter validade igual ou superior a seis meses. Este documento de viagem deve ser expedido por Governo estrangeiro ou organismo internacional reconhecido pelo Governo Brasileiro. Na falta de do- cumento válido, o visto de entrada será aposto em laissez-passer expedido na forma prescrita no Capítulo 12, Seção 2, conforme disposto no Quadro de Regi- me de Vistos e cobrados os emolumentos correspondentes da Tabela de Emolu- mentos Consulares. O visto de entrada, ainda que autorizado pela SERE/DIM, configura apenas expectativa de direito. O ingresso do estrangeiro e sua estada no país poderão ser impedidos, quando julgado conveniente ao interesse nacional, por decisão do Ministério da Justiça, a ser executada por meio da Divisão de Polícia Marítima, Aérea e de Fronteiras (DPMAF). O visto de entrada é individual. Se constar mais de um viajante no mesmo documento de viagem, o Posto deverá conceder visto tanto ao titular, quanto a cada um dos dependentes nele incluídos. A legislação brasileira não prevê o visto coletivo. Não deverá ser concedido visto de entrada a nacional brasileiro, titular de documento de viagem estrangeiro ou nele incluído, o qual, na forma da lei, 40ROBINSON, C. R. Livre circulação de trabalhadores: condição necessária ao processo de integração econômica. Apud VENTURA, D. O MERCOSUL em movimento II. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1999, p. 240. 160 Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos deverá entrar e sair do país com documento brasileiro, salvo quando a legisla- ção local não permitir a saída do nacional sem visto para o Brasil. Quando ne- cessário, a Autoridade Consular expedirá passaporte em favor desses nacionais. Os casos de dispensa de visto, por força de acordo firmado com base na reciprocidade, são indicados no Quadro de Regime de Vistos. As solicitações de visto devem ser feitas no exterior, diretamente às Repartições Consulares; os casos excepcionais são decididos pela SERE/DIM. Todos os vistos, com exceção do visto de trânsito (VITRA), são concedidos para múltiplas entradas, a menos que haja instruções em contrário. O estrangeiro que receber visto de entrada para o Brasil poderá ser informa- do sobre restrições ao exercício de atividades profissionais regulamentadas no território nacional do correspondente Conselho Federal ou órgão equivalente. 6.2. Tipos de Vistos Consulares Os vistos de entrada são classificados, em função da natureza da viagem e da estada no Brasil41, em: a) visto diplomático – VIDIP; b) visto oficial – VISOF; c) visto de cortesia – VICOR; d) visto de turista – VITUR; e) visto de trânsito – VITRA; f) visto temporário – VITEM; g) visto permanente – VIPER. Os vistos temporários (VITEM) subdividem-se, em função da atividade a ser desempenhada no País, em: a) VITEM I - para missões culturais, de pesquisa ou estudos, e de assistência social, quando não contempladas pelo VITEM V; b) VITEM II - em viagem de negócios, assistência técnica e adoções; c) VITEM III - para artistas e desportistas; 41 HOW TO OBTAIN VISAS FOR BRAZIL. AMCHAM – American Chamber of Commerce, São Paulo: AMCHAM – American Chamber of Commerce, 2003, p. 12. Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos 161 d) VITEM IV - para estudantes e bolsistas de instituições de ensino brasilei- ras, inclusive as de formação religiosa; e) VITEM V - para profissionais sob regime de contrato com empresa no Bra- sil ou com órgão do Governo; f) VITEM VI - para correspondentes de meios de comunicação estrangeiros; e g) VITEM VII - para ministros de confissão religiosa, membros de instituto de vida consagrada ou ordem religiosa, que viajem ao Brasil como mis- sionários. Salienta-se que não há correlação direta nem mandatória entre o tipo de visto e o documento de viagem que o contém. O tipo de passaporte e o cargo ou função de seu titular não determinam, automaticamente, a categoria do visto de entrada a ser atribuído. O visto de turista não permite que o estrangeiro desen- volva atividade remunerada. Desta forma, a concessão do visto depende de manifestação prévia do Minis- tério do Trabalho, provocado pelo estrangeiro perante a autoridade consular ou pela empresa contratante na repartição do próprio Ministério. Atendidas as disposições legais e das Resoluções do Conselho Nacional de Imigração, de composição quadripartida, bem como da realidade do mercado de trabalho no local em que os serviços serão prestados, o Ministério do Traba- lho aprova a minuta do contrato de trabalho que lhe foi submetida, visando-a. Esta aprovação estará indissociavelmente vinculada à empresa contratante. Isto quer dizer que o empregado estrangeiro não poderá trabalhar em outra empresa diversa da qual foi autorizado, mesmo que seja na mesma função e atividade, e mesmo que esteja dentro do “período do contrato de trabalho”. Obtida a mencionada aprovação prévia do Ministério do Trabalho, seguem- se as etapas de concessão do visto, junto ao Ministério das Relações Exteriores, a de obtenção de carteira de identidade de estrangeiro, junto ao Ministério da Justiça e, por fim, a de emissão da Carteira de Trabalho do estrangeiro, diversa das demais, também pelo fato de sua validade estar condicionada ao prazo da identidade ou do contrato de trabalho. Será denegado visto ao estrangeiro: 162 Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos a) relacionado na LCC sob números de código 03 (procurado para expul- são), 04 (proibido de reingressar no Brasil), 05 (procurado para extradi- ção) e 09 (indesejável); b) de acordo com a legislação do país de domicílio, menor de dezoito anos que tencione viajar desacompanhado dos responsáveis legais e não dis- ponha da competente autorização; c) que não preencha os requisitos para o tipo de visto pleiteado, estabeleci- dos nas normas pertinentes; d) que tenha em seu documento de viagem carimbo indicativo de denega- ção de visto. Caso a Autoridade Consular julgue apropriado, solicitará à SERE/DIM autorização para concessão do visto; e e) que ao solicitar o visto comporte-se de forma agressiva, insultuosa ou desrespeitosa para com a Autoridade Consular. O estrangeiro que tiver aposta em seu documento de viagem notificação de multa pela DPMAF e que haja deixado o Brasil sem efetuar seu pagamento rece- berá o visto - se não houver nenhum impedimento - e procederá ao pagamento da multa quando de sua chegada ao País, com o recolhimento, por DARF, em agência bancária no ponto de ingresso. O estrangeiro que haja sido deportado do Brasil e cujo nome não conste, por alguma razão, na LCC, poderá igualmente reingressar no País e receber, para tanto, o competente visto de entrada, desde que reembolse, na chegada, por DARF, as despesas incorridas. A Autoridade Consular deverá determinar, sem consulta à SERE/DIM, a dene- gação do visto, sempre que haja indícios de má-fé ou incongruência na entre- vista do pleiteante com o funcionário consular ou na documentação apresenta- da, que denotem tentativa de imigração ilegal ou ocultação dos reais motivos da viagem do interessado ao Brasil. A documentação que instruiu pedido de visto denegado deverá ser restituída ao interessado e anexada sua cópia ao formulário que se destina aos arquivos do Posto. A Autoridade Consular, ao denegar visto, deverá apor no documento de via- Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos 163 gem do interessado carimbo de identificação do Posto com a indicação da data de apresentação do pedido, o que facilitará o controle, pela rede consular bra- sileira, dos casos de denegação de visto. A denegação de visto será comunicada à SERE/ DIM/ DIVISÃO GEOGRÁFICA, por telegrama, com indicação do endereço atual do interessado. Todos os vistos consulares deverão ser utilizados dentro de noventa dias, contados da data de sua concessão, o que deverá ser indicado ao interessado, preferivelmente por escrito, na língua de trabalho utilizada pelo Posto. O visto perempto e não utilizado será cancelado, sem prejuízo da concessão de novo visto, que implicará pagamento dos emolumentos consulares corres- pondentes. Não há cobrança de emolumentos para a concessão de VIDIP, VISOF ou VI- COR. A gratuidade na concessão dos demais vistos, por força de acordo, será indicada, quando ocorrer, no Quadro de Regime de Vistos. Também, para a con- cessão de VITUR, VITEM ou VITRA, se concedidos a titulares de passaportes di- plomático, oficial ou de serviço. 6.3. Dos Contratos de Trabalho de Estrangeiros No aspecto empresarial, o art. 359 e seu parágrafo único, da CLT, Seção II – Das Relações Anuais de Empregados é taxativo quando determina que: Art. 359 - Nenhuma empresa poderá admitir a seu serviço empregado estrangeiro sem que este exiba a carteira de identidade de estrangeiro devidamente anotada. Parágrafo único. A empresa é obrigada a assentar no registro de empregados os dados referentes à nacionalidade de qualquer empregado estrangeiro e o número da respectiva carteira de identidade. E, enquanto não for expedida a carteira a que se refere o art. 359 dessa Seção, valerá, à título precário, como documento hábil, uma certidão, passada pelo serviço competente do Registro de Estrangeiros, provando que o empregado requereu sua permanência no País42. 42 Art. 366, da CLT. 164 Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos Salienta-se, que o não respeito das normas disciplinados sobre este assunto, gerará penalidade punidas com multa de 6 (seis) à 600 (seiscentos) valores-de- referência regionais. E se tratando de empresa concessionária de serviço públi- co, ou de sociedade estrangeira autorizada a funcionar no País, se a infratora, depois de multada, não atender afinal ao cumprimento do texto infringido po- derá ser-lhe cassada a concessão ou autorização43. A posse de bens imóveis ou de valores no Brasil, ou a apresentação de oferta de emprego, não constituem elementos suficientes para a instrução de pedido de visto permanente. Ainda, a Consolidação das Leis do Trabalho, no título das disposições especi- ais sobre a Nacionalização da Marinha Mercante, assim determina: Art. 368. O comando de navio mercante nacional só poderá ser exercido por brasileiro nato. Art. 369. A tripulação de navio ou embarcação nacional será constituída, pelo menos, de dois terços de brasileiros natos. Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica aos navios nacionais de pesca, sujeitos a legislação específica44. Art. 370. As empresas de navegação organizarão as relações dos tripulantes das respectivas embarcações, enviando-as no prazo a que se refere a Seção II deste capítulo à Delegacia do Trabalho Marítimo onde as mesmas tiverem sede. Parágrafo único. As relações a que alude o presente artigo obedecerão, na discri- minação hierárquica e funcional do pessoal embarcadiço, ao quadro aprovado pelo regulamento das Capitanias dos Portos. Art. 371. A presente Seção é também aplicável aos serviços de navegação fluvial e lacustre e à praticagem nas barras, portos, rios, lagos e canais. 6.4. Tipos de contratos de trabalho – Brasil e Espanha A legislação brasileira trabalhista, assim como as leis espanholas, permite que os contratos de trabalho sejam verbais ou escritos. Todavia, mais restrito do que na Espanha, no Brasil somente exige-se que o contrato seja escrito quando este for por prazo determinado. 43 Art. 363 e 364, ambos da CLT. 44 Art.178, parágrafo único, CF. Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos 165 No Brasil, entre os principais tipos de contratos de trabalho previstos, po- dem-se mencionar: a) Contrato por prazo indeterminado: é a forma comum dos contratos. São os contratos onde as partes nele envolvidas não estipulam um termo final. São chamados no direito espanhol de “contratos indefinidos”. b) Contrato por prazo determinado: são as exceções dos contratos. São os contratos cuja vigência dependa de termo prefixado ou da execução de serviços especificados ou ainda da realização de certo acontecimento suscetível de previsão aproximada. É conhecido no direito espanhol como “contrato de duración determinada ou de contrato temporal”. Salienta-se que, ultrapassado o termo final de um contrato por prazo de- terminado, este contrato se transforma, automaticamente, em contrato por prazo indeterminado. O contrato por prazo determinado somente será valido em se tratando de: i. serviço cuja natureza ou transitoriedade justifiquem a predetermina- ção do prazo; ii. atividade empresarial de caráter transitório; iii. contrato de experiência. b.1. Contratos Especiais: são contratos por prazo determinado, mas pos- suem características específicas: b.1.i. técnico estrangeiro (Decreto-Lei nº 691/69): só é cabível este tipo de contratação para atender situação operacional episódica, alheia ao cotidiano da empresa, e, ainda assim, devido ao elevado grau de especialização do trabalhador. A remuneração deverá ser paga em moeda nacional, podendo, todavia, utilizar-se de parâmetros inter- nacionais; b.1.ii. aprendizagem (Decreto nº 5598/05); b.1.iii. empregado admitido acima do quadro fixo da empresa (Lei nº 9601/98) e b.1.iv. terceirização. 166 Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos Ao contrário da legislação espanhola, as empresas não precisam fornecer uma cópia dos contratos escritos, ou mesmo as prorrogações e dados de um contrato de trabalho aos representantes legais dos trabalhadores. Salienta-se, que os contratos verbais/informais possuem os mesmos direitos e obrigações dos contratos escritos, se as partes cumprirem com os elementos essenciais para a sua caracterização, tais como: subordinação do empregado ao empregador, contra-prestação e habitualidade na prestação do serviço. 6.4.1. Duração máxima e mínima dos contratos e prorrogações Não há na legislação brasileira tempo mínimo para um contrato de trabalho. O que pode ser pactuado, é que antes de certo tempo, nos contratos indetermi- nados, as partes não podem rescindir o contrato de trabalho. Os contratos indeterminados, pela própria expressão, não possuem tempo limite para seu fim, são semelhantes aos chamados “contrato de trabajo indefini- do (fijo)” no Direito Espanhol. Nos contratos indeterminados e que não possuam um termo, inexiste a pos- sibilidade de prorrogação. Nos contratos a termo (“contrato temporal”, na Espanha), as partes determi- nam a tarefa, atividade ou tempo para caracterizar o término do contrato. Prevê o prazo máximo de 02 (dois) anos e somente pode ser prorrogado por uma vez, desde que não ultrapassado os dois anos e que a prorrogação seja feita pelo período máximo do primeiro contrato. A legislação brasileira não permite um novo contrato a prazo com o mesmo empregado senão após 06 meses da con- clusão do anterior, salvo se a expiração do contrato dependeu de serviços espe- cializados ou da realização de certos acontecimentos. Nos contratos por prazo determinado, não poderão conter cláusula permi- tindo às partes a sua rescisão imotivada antes do termo final. O contrato de experiência, chamado na Espanha de “periodo de prueba”, tem duração máxima de 90 dias, podendo ser renovado por uma vez, desde que não ultrapassados os 90 dias. E, ao contrário da legislação espanhola, não é estabe- lecida a duração máxima pelas Convenções Coletivas nem possuem critério dife- renciador aos empregados titulados e demais trabalhadores, e independe a sua aplicação do número de empregados constantes na empresa. Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos 167 6.4.2. INEM (Instituto Nacional do Emprego) - Espanha Na Espanha, o INEM foi criado pelo REAL DECRETO LEY 36/1978, de 16 de novembro (B.O.E. 18-11-1978), tratado especificamente no seu art. 5º. É um organismo autônomo administrativo, dotado de personalidade jurídica própria, para o cumprimento de suas finalidades descritas pelo Ministério do Trabalho. Suas funções são: organizar os serviços de emprego de forma a procurar, públi- ca e gratuitamente, o melhor meio e utilização de recursos; ajudar os trabalha- dores a encontrar um emprego e as empresas a contratar os trabalhadores apro- priados as suas necessidades; fomentar a formação dos trabalhadores em estrei- ta vinculação com a política de emprego, através das oportunidades de atualiza- ções e aperfeiçoamento; controla as prestações de emprego; protege o trabalho e em geral, atua em qualquer política ativa de emprego. No Brasil, existe a Secretaria de Formação e Desenvolvimento Profissional – SEFOR que agrega entidades e instituições que oferecem atividades de qualifi- cação e requalificação profissional no país. As entidades estão caracterizadas de acordo com as linhas de atuação profis- sional, suas fontes de manutenção e áreas de atuação. 7. Conflito de Leis Trabalhistas no Espaço e Globalização Numa determinada situação, envolvendo pessoas – jurídica ou física - de diferentes nacionalidades, podem ocorrer conflitos na aplicação de legislação ao caso concreto. Assim, os conflitos entre leis podem produzir-se quer no tempo quer no espa- ço. Cada um deles insere-se, porém, em ramo distinto da ciência jurídica: os primeiros constituem objeto próprio do direito intertemporal ou transitório, enquanto os segundos são tratados pelo direito internacional privado45. 45Mostra-se amplamente dominante o entendimento de que as normas de direito internacional privado tem por objeto solucionar conflitos de leis no espaço (cf., apenas a título ilustrativo, além dos autores adiante mencionados, Alessandro Levi, Teoria generale del diritto, Padova, CEDAM, 1967, n. 101, p. 186/187, Henri Capitant, Introduction a l´étude du droit civil, Paris, Pedone, s.d.p., p. 41 e José de Oliveira Ascensão, O direito - Introdução e teoria geral, Lisboa, Almedina, 1991, p. 501), ficando isolada a doutrina em contrário proposta por Carnelutti (cf. Teoria generale del diritto, Roma, Foro Italiano, 1940, p. 163). 168 Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos A solução do conflito de leis no espaço há de se fazer com a adoção de uma dentre as normas possivelmente aplicáveis à relação jurídica considerada. Para que se alcance tal solução, impõe-se, antes de mais nada, a definição do critério que irá presidir a escolha da norma aplicável. É justamente esse critério que o chamado elemento de conexão fornece. Por isso mesmo GIUSEPPE BARILE46 define elemento de conexão (criterio di collegamento) como a circunstância da relação jurídica à qual a norma de direi- to internacional privado atribui relevância na solução do conflito de leis. De modo análogo, IRINEU STRENGER47 ressalta que elemento de conexão é o “fator de vinculação, de ligação a determinado sistema jurídico, porque é atra- vés dele que sabemos qual o direito aplicável. É o vínculo que relaciona um fato qualquer a determinado sistema jurídico”. O elemento de conexão pode variar, e freqüentemente varia, de acordo com o ordenamento jurídico considerado e de acordo com a natureza da relação jurídica em que se verifica a situação de conflito. Aliás, a doutrina sempre subli- nha inexistir, nessa matéria, solução absoluta e universalmente válida48. Nesse sentido, o Tribunal Superior do Trabalho tinha editado a Súmula nº 207, do TST: “A relação jurídica trabalhista é regida pelas leis vigentes no país da prestação de serviço e não por aquelas do local da contratação” (princípio da territoriedade). Contudo, em 2012, a Súmula foi cancelada e o problema do conflito de leis trabalhistas no espaço com fenômeno da crescente interação das economias nacionais – globalização -, faz com que novas dificuldades se coloquem. Portanto, o fenômeno da globalização adquiriu, em face do Direito do Traba- lho Brasileiro, dimensão suficientemente para levar à quebra do princípio da territorialidade da legislação trabalhista, valendo assim, o princípio maior de proteção social ao trabalhador. 46 BARILE, Giuseppe. Collegamento verbete em Enciclopedia del diritto, Varese: Giuffrè, 1960, VII, p. 351. 47 STRENGER, Irineu. Curso de direito internacional privado. Rio de Janeiro: Forense, 1978, p. 386. 48 GRESSAYE, Jean Brethe de la; LABORDE-LACOSTE, Marcel. Introduction générale e l´étude du droit, Paris, Sirey, 1947, n. 249, p. 225. Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos 169 8. Conclusão O capital e o trabalho são elementos fundamentais do capitalismo, na cons- tante transformação do desenvolvimento social e econômico. Disso decorre a criação de novas economias, associadas ao fator da globalização, formando diversos Países-Membros, os Blocos Econômicos. Contudo, se por um lado, tem-se os Blocos Econômicos, de outro os Países excluídos destas uniões, criando uma desigualdade econômica e social de mar- gem escala. Este desnível abrange tanto internamente, quanto nas negociações comerciais internacionais. Não resta dúvida, que os países unidos possuem uma maior força de negociação com outros países e agupamentos econômico. Desta forma, as empresas necessitam fazer fusões ou incorporações para se tornarem mais competitivas, bem como a procurar mercados de mão-de-obra mais baratos e onde a legislação trabalhista é menos protecionista aos emprega- dos, de forma a minimizar os custos operacionais. Assim, países industrializa- dos, como os da Europa – no caso desse artigo a Espanha - estão tendo suas empresas deslocadas para países de terceiro mundo ou em desenvolvimento – o Brasil, por exemplo. Prova disso são os crescentes desenvolvimentos e oportu- nidades laborais nos países do Oriente. Deve-se lembrar também, que o Estado contemporâneo vem atuando com menos intervenção, garantindo a efetividade das negociações, principalmente nos aspectos alfandegários. Neste mesmo sentido, trabalhadores brasileiros têm se deslocado para diver- sos Países, com o intuito de melhores oportunidades laborativas, acesso a tecno- logias de ponta e remuneração em moeda mais forte no mercado internacional. Todavia, a miscigenação de trabalhadores acarreta problemas de ordem so- cial, pois cada país possui a sua cultura, seus costumes, sendo difícil a adminis- tração operacional – apesar da sua maior autonomia de ordem privada - por parte das empresas/empregador, sob pena de se estar violando direitos funda- mentais dos trabalhadores. Nacionalidade, cidadania e estrangeiro são, diariamente, conceitos confun- didos pelos não operadores do Direito. Para atender todas estas mudanças e nomenclaturas, o direito, como uma 170 Direito e Processo do Trabalho: debates contemporâneos ciência jurídica, não pode ficar inerte. Mais especificamente o direito do traba- lho precisa evoluir. Assim, tem-se uma flexibilização da legislação laboral, onde alguns doutrinadores entendem como abdicação de direitos conquistados no decorrer da história e outros, citando exemplo dos países asiáticos, o
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