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FICHAMENTO DIREITO CIVIL 1

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PRINCÍPIOS REGENTES DO CÓDIGO CIVIL DE 2002
“O Código Civil de 2002 tem, como princípios básicos, os da socialidade, eticidade e operabilidade. ”
“O princípio da socialidade reflete a prevalência dos valores coletivos sobre os individuais, sem perda, porém, do valor fundamental da pessoa humana”
“O princípio da eticidade funda-se no valor da pessoa humana como fonte de todos os demais valores. Prioriza a equidade, a boa-fé, a justa causa e demais critérios éticos. Confere maior poder ao juiz para encontrar a solução mais justa ou equitativa. Nesse sentido, é posto o princípio do equilíbrio econômico dos contratos como base ética de todo o direito obrigacional. ”
“O princípio da operabilidade, por fim, leva em consideração que o direito é feito para ser efetivado, para ser executado. Por essa razão, o novo Código evitou o bizantino, o complicado, afastando as perplexidades e complexidades. Exemplo desse posicionamento, dentre muitos outros, encontra-se na adoção de critério seguro para distinguir prescrição de decadência, solucionando, assim, interminável dúvida.”
PERSONALIDADE JURÍDICA
CONCEITO
Carlos Roberto Gonçalves põe o conceito de personalidade jurídica como:
“O conceito de personalidade está umbilicalmente ligado ao de pessoa. Todo aquele que nasce com vida torna-se uma pessoa, ou seja, adquire personalidade. Esta é, portanto, qualidade ou atributo do ser humano. Pode ser definida como aptidão genérica para adquirir direitos e contrair obrigações ou deveres na ordem civil. É pressuposto para a inserção e atuação da pessoa na ordem jurídica. ” (GONÇALVES, pg 91)
Maria Helena Diniz diferencia de modo simples e conciso o conceito de personalidade e capacidade jurídica em:
“Assim, para ser “pessoa” basta que o homem exista, e, para ser “capaz”, o ser humano precisa preencher os requisitos necessários para agir por si, como sujeito ativo ou passivo de uma relação jurídica.” (DINIZ, pg 117)
TEORIAS DE AQUISIÇÃO
Em suma existem três teorias principais sobre a aquisição de personalidade jurídica por uma pessoa física: a teoria natalista, a teoria da personalidade formal/condicional e a teoria concepcionista.
“A natalista afirma que a personalidade civil somente se inicia com o nascimento com vida; a da personalidade condicional sustenta que o nascituro é pessoa condicional, pois a aquisição da personalidade acha-se sob a dependência de condição suspensiva, o nascimento com vida, não se tratando propriamente de uma terceira teoria, mas de um desdobramento da teoria natalista, visto que também parte da premissa de que a personalidade tem início com o nascimento com vida; e a concepcionista admite que se adquire a personalidade antes do nascimento, ou seja, desde a concepção, ressalvados apenas os direitos patrimoniais, decorrentes de herança, legado e doação, que ficam condicionados ao nascimento com vida.” (GONÇALVES, pg 97)
Para a natalista o nascimento com vida marca o início da personalidade jurídica, sendo que o nascituro possui apenas uma expectativa de direito.
Para a teoria da personalidade formal/condicional o nascituro possui personalidade formal apenas em relação aos direitos personalíssimos, sendo que, quanto aos seus direitos patrimoniais, possui personalidade condicionada ao nascimento com vida.
E já para a concepcionista o nascituro é considerado pessoa desde o momento de sua concepção
CAPACIDADE JURÍDICA
Segundo Carlos Roberto Gonçalves existem dois tipos de capacidade jurídica: A de direito e a de fato.
Sobre a direito o autor ensina:
“Pode-se falar que a capacidade é a medida da personalidade, pois para uns ela é plena e, para outros, limitada. A que todos têm, e adquirem ao nascer com vida, é a capacidade de direito ou de gozo, também denominada capacidade de aquisição de direitos. Essa espécie de capacidade é reconhecida a todo ser humano, sem qualquer distinção. Estende-se aos privados de discernimento e aos infantes em geral, independentemente de seu grau de desenvolvimento mental. Podem estes, assim, herdar bens deixados por seus pais, receber doações etc.” (GONÇ, 92)
A capacidade de direito é aquela que a pessoa tem simplesmente por adquirir a personalidade jurídica.
E sobre a de fato:
“Nem todas as pessoas têm, contudo, a capacidade de fato, também denominada capacidade de exercício ou de ação, que é a aptidão para exercer, por si só, os atos da vida civil. Por faltarem a certas pessoas alguns requisitos materiais, como maioridade, saúde, desenvolvimento mental etc., a lei, com o intuito de protegê-las, malgrado não lhes negue a capacidade de adquirir direitos, sonega-lhes o de se autodeterminarem, de os exercer pessoal e diretamente, exigindo sempre a participação de outra pessoa, que as representa ou assiste. ” (GONÇ, 93)
Capacidade de fato diz respeito a aptidão para pessoalmente praticar os atos da vida civil, normalmente esta é relacionada a maioridade.
Visando a tutela das pessoas que não possuem capacidade de fato na sociedade brasileira, a lei brasileira proíbe o exercício pessoal de seus direitos, sendo necessário para isso a participação de representantes ou tutores. Estes são os incapazes.
“Supre-se a incapacidade, que pode ser absoluta e relativa conforme o grau de imaturidade, deficiência física ou mental da pessoa, pelos institutos da representação e da assistência. O art. 3º do Código Civil menciona os absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os seus direitos e que devem ser representados, sob pena de nulidade do ato (art. 166, I). E o art. 4º enumera os relativamente incapazes, dotados de algum discernimento e por isso autorizados a participar dos atos jurídicos de seu interesse, desde que devidamente assistidos por seus representantes legais, sob pena de anulabilidade (art. 171, I), salvo algumas hipóteses restritas em que se lhes permite atuar sozinhos. ” (GONÇ, 103)
INCAPACIDADE ABSOLUTA
Segundo Gonçalves:
“A incapacidade absoluta acarreta a proibição total do exercício, por si só, do direito. O ato somente poderá ser praticado pelo representante legal do absolutamente incapaz. ” (GONÇ, 103)
A pessoa absolutamente incapaz tem a capacidade de direito, (Que todos possuem segundo o art. 1º do CC) no entanto ela não possui a capacidade de exercício desse direito e por isso a mesma não pode exercer pessoalmente os atos da vida civil, necessitando assim de um representante que, por sua vez, efetuará esses atos pelo incapaz.
“No direito pré-codificado, levava-se em conta a puberdade para distinguir a menoridade. Eram absolutamente incapazes os menores impúberes: o varão de menos de 14 anos e a mulher de menos de 12, porque privados de aptidão para procriar. O Código Civil de 1916 inovou, fixando em 16 anos, para as pessoas dos dois sexos, a idade limite da incapacidade absoluta. Ponderou Beviláqua, a propósito, que não se deve ter em vista, nesse caso, a aptidão para procriar, mas o desenvolvimento intelectual e o poder de adaptação às condições da vida social. O Código de 2002 também considera que o ser humano, até atingir essa idade, não tem discernimento suficiente para dirigir sua vida e seus negócios e, por essa razão, deve ser representado na vida jurídica por seus pais, tutores ou curadores. ” (GONÇ, 104)
Segundo o art. 3ºdo CC os indivíduos absolutamente incapazes são os menores de 16 anos, ou seja, os menores impúberes. Estes, para que exerçam seus direitos necessitam de representantes, no caso, prioritariamente, os pais do menor por poder familiar, ou, na ausência dos mesmos (seja por falecimento ou por perda do poder familiar de suspensão ou extinção) o tutor assume a representatividade do incapaz por ordem de tutela. A tutela, por sua vez, pode ser legítima – quando os tutores são parentes do menor -, testamentaria – quando o tutor é nomeado por testamento pelos pais -, ou dativa – quando não há tutor legítimo ou testamentário -.
É valido ressaltar que até 2015 os enfermos por deficiência mental que não tivessem discernimento para a prática do exercício dedireito e os que por causa transitória não pudessem exprimir sua vontade também eram inclusos como absolutamente incapazes. Mas os incisos do art. 3º do CC onde constavam essas normas foram revogados pela Lei nº 13.146 de 2015 (Estatuto da Pessoa com Deficiência).
INCAPACIDADE RELATIVA
“A incapacidade relativa permite que o incapaz pratique atos da vida civil, desde que assistido por seu representante legal, sob pena de anulabilidade (CC, art. 171, I). Certos atos, porém, pode praticar sem a assistência de seu representante legal, como ser testemunha (art. 228, I), aceitar mandato (art. 666), fazer testamento (art. 1.860, parágrafo único), exercer empregos públicos para os quais não for exigida a maioridade (art. 5º, parágrafo único, III), casar (art. 1.517), ser eleitor, celebrar contrato de trabalho etc.”
(GONÇ, 110)
De acordo com o 4° artigo do Código Civil Brasileiro, existe quatro hipóteses que relativizam a capacidade jurídica de uma pessoa. Estas hipóteses são apresentadas nos incisos do artigo e são: 
“I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos.
 II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico.
 III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade.
IV - os pródigos” (código civil, art.4° incisos I, II, III e IV).”
A decisão de considerar pessoas com estas características relativamente incapazes deu-se através do argumento de que os mesmos têm o discernimento reduzido ou ainda em formação sendo necessário assim, um assistente para que estas pessoas atuem no espaço jurídico, porém as mesmas podem exercer alguns direitos peculiares individualmente assim como, participar de audiências como testemunha, votar (não obrigatório) e se casar.
Esta assistência se divide em duas categorias: tutela e curatela: A tutela, conforme o Ministério Público do Paraná (2011), é o encargo atribuído pela Justiça a um adulto que administre bens de crianças e adolescentes cujos pais faleceram ou perderam o poder familiar. Já a curatela é o encargo atribuído pela justiça a um adulto para que este administre os bens de pessoas adultas, mas que não possuem a capacidade de regência dos seus atos civis, sendo estes citados nos incisos II, III e IV do art. 4º do código civil de 2002.
“Os maiores de 16 e menores de 18 anos são os menores púberes do direito anterior. [...] podem praticar apenas determinados atos sem a assistência de seus representantes: aceitar mandato, ser testemunha, fazer testamento etc. Não se tratando desses casos especiais, necessitam da referida assistência, sob pena de anulabilidade do ato, se o lesado tomar providências nesse sentido e o vício não houver sido sanado.
O ordenamento jurídico não mais despreza a sua vontade. Ao contrário, a considera, atribuindo ao ato praticado pelo relativamente incapaz todos os efeitos jurídicos, desde que esteja assistido por seu representante. ” (GONÇ, 111)
I- A incapacidade relativa derivada da idade (maior que 16 e menor que 18 anos) é fundamentada no princípio de amadurecimento mental da pessoa física, caracterizando as mesmas como incapazes de discernir com total clareza suas ações na esfera jurídica. Assim as suas ações são subordinadas a supervisão de um assistente (tutor) que tem a função de auxiliar o indivíduo em suas decisões. O tutor geralmente é um dos pais ou, caso seja impossível que o mesmo tutele, um representante capacitado é escolhido para cumprir a função do mesmo até que o jovem atinja a sua maioridade (18 anos).
“O novo Código, valendo-se de subsídios recentes da ciência médico-psiquiátrica, incluiu os ébrios habituais, os toxicômanos e os deficientes mentais de discernimento reduzido no rol dos relativamente incapazes. Somente, porém, os alcoólatras ou dipsômanos (os que têm impulsão irresistível para beber) e os toxicômanos, isto é, os viciados no uso e dependentes de substâncias alcoólicas ou entorpecentes, bem como os fracos da mente, são assim considerados. Os usuários eventuais que, por efeito transitório dessas substâncias, ficarem impedidos de exprimir plenamente sua vontade estão elencados no art. 3º, III, do aludido estatuto, como absolutamente incapazes. ” (GONÇ, 113)
II- A incapacidade relativa derivada do ébrio habitual (alcoolismo) e dos viciados em tóxicos (toxicômanos) dá-se a partir do momento em que o indivíduo não tem discernimento constatado juridicamente para atuar sozinho na sociedade por motivo do uso das substancias entorpecentes, neste caso, um curador é nomeado para auxiliar o dependente nas ações da vida civil.
III- Pessoas que, por motivos transitórios ou permanentes, não puderem exprimir sua vontade, terão sua capacidade relativizada, sendo assim, a mesma ficará sujeita ao curador em suas decisões jurídicas; pessoas com doenças que impeçam o discernimento ou reduza-o, indivíduos em estado de coma e pessoas que não tenham total capacidade por consequência de enfermos devem ser acompanhados pelo curador.
“Pródigo é o indivíduo que dissipa o seu patrimônio desvairadamente. Na definição de Clóvis Beviláqua, “é aquele que, desordenadamente, gasta e destrói a sua fazenda”68. Na verdade, é o indivíduo que, por ser portador de um defeito de personalidade, gasta imoderadamente, dissipando o seu patrimônio com o risco de reduzir-se à miséria. ” (GONÇ, 115)
“Justifica-se a interdição do pródigo pelo fato de encontrar-se permanentemente sob o risco de reduzir-se à miséria, em detrimento de sua pessoa e de sua família, podendo ainda transformar-se num encargo para o Estado, que tem a obrigação de dar assistência às pessoas necessitadas. ” (GONÇ, 115)
IV- Pessoas que delapidam seu patrimônio por meio de gastos compulsivos (geralmente em jogos, vícios, etc.) têm sua capacidade relativizada em relações patrimoniais onde o mesmo não pode fazer empréstimos, compras ou doações sem a permissão do seu curador, porém o mesmo pode desenvolver todas as outras ações da vida civil como casar, trabalhar e estudar de forma normal, sem a supervisão do responsável.
MAIORIDADE
Segundo o art. 5º do CC: 
“A menoridade cessa aos dezoito anos [...]” (CC, 2002)
Segundo Carlos Roberto Gonçalves: 
“A maioridade começa aos 18 anos completos, tornando-se a
pessoa apta para as atividades da vida civil que não exigirem limite
especial, como as de natureza política79. Cessa a menoridade (art. 5º,
caput) no primeiro momento do dia em que o indivíduo perfaz os 18
anos. Se nascido no dia 29 de fevereiro de ano bissexto, completa a
maioridade no dia 1º de março.” (GONÇALVES, 121)
O 1º instante da maioridade para a pessoa é a 00:00 do dia de seu aniversário.
A capacidade civil não pode ser confundida com as outras capacidades, como diz o autor: 
“Essa capacidade de natureza civil não deve ser confundida com a disciplinada em leis especiais, como a capacidade eleitoral, que hoje se inicia, facultativamente, aos 16 anos (CF, art. 14, § 1º, II, c; Código Eleitoral, art. 4º), nem com a idade limite para o serviço militar (17 anos, para fins de alistamento e prestação do serviço militar, segundo o art. 73 da Lei n. 4.375/64, reproduzido no Dec. n. 57.654/66) ou com a prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n. 8.069, de 13-7-1990, art. 2º, parágrafo único) para a aplicação de suas normas às pessoas entre 18 e 21 anos de idade, nos casos expressos em lei e excepcionalmente. Igualmente não deve ser confundida com a idade em que tem início a responsabilidade penal. Se esta vier a ser antecipada para os 16 anos, como pretendem alguns, em nada tal redução afetará a maioridade civil, que permanecerá regida por dispositivo específico do Código Civil.” (GONÇALVEZ, 122)
Outra observação feita pelo autor é dos motivos presentes para a modificação da maioridade de 21 para 18 anos: 
“No direito anterior, a maioridade civil era atingida aos 21 anos. O novo Código antecipou-a para 18 anos, ensejando a equiparação com a maioridade criminal, trabalhista e eleitoral. Entendeu o legislador que os jovens de hoje amadurecem mais cedo, em decorrência das circunstâncias da vida contemporânea,como os modernos meios de comunicação, incluindo-se os recursos da informática, que conduzem a uma precoce formação cultural e a uma prematura experiência de vida. Desse modo, aos 18 anos os jovens passaram a responder civilmente pelos danos causados a terceiros, ficando autorizados a praticar validamente todos os atos da vida civil sem a assistência de seu representante legal, como adotar uma criança, por exemplo, desde que sejam 16 anos mais velhos que o adotado (art. 1.618).” “(GONÇALVEZ, 122)
EMANCIPAÇÃO
Emancipação é o instituto jurídico pelo qual se antecipa a aquisição da capacidade plena antes de se completar a maioridade civil.
O art. 5ºdo CC diz que:
“Art. 5o A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil.
Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade:
I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público, independentemente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos;
II - pelo casamento;
III - pelo exercício de emprego público efetivo;
IV - pela colação de grau em curso de ensino superior;
V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia própria.”
Segundo Gonçalves: 
“Conforme a sua causa ou origem, a emancipação pode ser de três espécies: voluntária, judicial e legal. ” (GON, 123)
Emancipação Voluntária (Art. 5º, I 1ºparte)
A emancipação voluntária é concedida pelos pais (juntos, mesmo que estejam divorciados), ou por um deles na falta do outro (por falecimento ou destituição do poder familiar), feita por escritura pública em cartório, e independe da apreciação do juiz e desde que o filho menor tenha no mínimo 16 anos completos.
Este é um ato de vontade, um ato conjunto (bilateral) e irrevogável.
O autor discorre que:
“A emancipação voluntária decorre de ato unilateral dos pais, reconhecendo ter seu filho maturidade necessária para reger sua pessoa e seus bens e não necessitar mais da proteção que o Estado oferece ao incapaz. Só pode conceder emancipação quem esteja na titularidade do poder familiar, uma vez que sua concessão é atributo deste. Não constitui direito do menor, que não tem o direito de exigi-la nem de pedi-la judicialmente, mas benesse concedida pelos genitores. Com efeito, a lei fala em concessão dos pais, e em sentença do juiz no caso do menor sob tutela, que pressupõe o exame, pelo magistrado, dos motivos ensejadores do pedido.
A outorga do benefício deve ser feita por ambos os pais84, ou por um deles na falta do outro. A impossibilidade de qualquer deles participar do ato, por se encontrar em local ignorado ou por outro motivo relevante, deve ser devidamente justificada. Se divergirem entre si, a divergência deverá ser dirimida pelo juiz. Este somente decidirá qual vontade deve prevalecer. A concessão continuará sendo dos pais, se o juiz decidir em favor da outorga. ”(GON, 124)
Emancipação Judicial (Art. 5º, I 1º parte)
É aquela concedida pelo juiz (o juiz não emancipa, ele supre a falta de um dos pais) mediante sentença após a oitiva e concordância do tutor desde que o menor tenha idade mínima de 16 anos. Este tipo de emancipação ocorre apenas se o menor não possuir pai e mãe, se não houver acordo pai-mãe ou se um do pais estiver desaparecido.
“Entende o legislador que tal espécie deve ser submetida ao crivo do magistrado, para evitar emancipações destinadas apenas a livrar o tutor dos ônus da tutela e prejudiciais ao menor, que se encontra sob influência daquele, nem sempre satisfeito com o encargo que lhe foi imposto. O tutor, desse modo, não pode emancipar o tutelado.
O procedimento é o previsto nos arts. 1.103 e seguintes do Código de Processo Civil (cf. art. 1.112, I). Requerida a emancipação, serão o tutor e o representante do Ministério Público citados. Provando o menor que tem capacidade para reger sua pessoa e seus bens, o juiz concederá a emancipação, por sentença, depois de verificar a conveniência do deferimento para o bem do incapaz, formando livremente o seu convencimento sem a obrigação de seguir o critério da legalidade estrita (CPC, art. 1.109). A emancipação só deve ser concedida em consideração ao interesse do menor. ” (GON, 125)
Emancipação Legal (Art. 5º, II, III, IV, V)
Segundo autor: 
“A emancipação legal decorre, como já mencionado, de determinados acontecimentos a que a lei atribui esse efeito. ” (GON, 126)
Esta é automática e ocorre por casamento (até com menos de 16 e emancipado), emprego público efetivo, colação de grau em curso superior ou pelo estabelecimento civil ou comercial desde que possua 16 anos completos.
O autor discorre sobre todos os acontecimentos que decorrem para a emancipação legal.
Sobre o casamento:
“O casamento válido produz o efeito de emancipar o menor (art. 5º, parágrafo único, II). Se a sociedade conjugal logo depois se dissolver pela viuvez ou pela separação judicial, não retornará ele à condição de incapaz. O casamento nulo, entretanto, não produz nenhum efeito (art. 1.563). Proclamada a nulidade, ou mesmo a anulabilidade, o emancipado retorna à situação de incapaz, salvo se o contraiu de boa-fé. Nesse caso, o casamento será putativo em relação a ele e produzirá todos os efeitos de um casamento válido, inclusive a emancipação (art. 1.561).
O casamento acarreta o fim da incapacidade civil como natural consequência da constituição da família. Não é razoável que a sociedade doméstica seja administrada por um estranho, isto é, pelo pai ou tutor, porque um de seus membros é incapaz. Aquele que assume a responsabilidade do casamento e constitui a própria família não deve, pois, simultaneamente permanecer submetido à autoridade alheia. ” (GON, 126)
Sobre a obtenção de emprego público:
“No tocante ao exercício de emprego público efetivo, malgrado dominante a corrente que exige tratar-se de emprego efetivo, afastando os interinos, contratados, diaristas, mensalistas etc., têm algumas decisões abrandado o rigor da lei, entendendo que deve prevalecer o status de servidor público, qualquer que seja o serviço ou função administrativa e o modo de sua investidura. O fato de ter sido admitido no serviço público já denota maturidade e discernimento, máxime quando a simples existência de relação de emprego, com estabelecimento de economia própria, é hoje suficiente para a emancipação (art. 5º, parágrafo único, V).
A regra inspira-se na ideia de que, “se o próprio Poder Público reconhece no indivíduo a maturidade para representá-lo, ainda que numa área pequena de sua atividade, incompreensível seria continuar a tratá-lo como incapaz””(GON, 127)
Sobre a colação de grau e o estabelecimento comercial e civil:
“A colação de grau em curso de ensino superior, e o estabelecimento civil ou comercial, ou a existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o menor com 16 anos completos tenha economia própria, justificam a emancipação, por demonstrar maturidade própria do menor, afastando, nas duas últimas hipóteses, as dificuldades que a subordinação aos pais acarretaria, na gestão dos negócios, ou no exercício do emprego particular, ao mesmo tempo em que tutela o interesse de terceiros, que de boa-fé com eles estabeleceram relações comerciais.
Dificilmente uma pessoa consegue colar grau em curso de nível superior com menos de 18 anos de idade, a não ser os gênios, que se submeteram a procedimento especial para avaliação dessa circunstância junto ao Ministério da Educação. Raramente, também, alguém consegue estabelecer-se civil ou comercialmente antes dos 18 anos. O Código Comercial exigia essa idade mínima, para o exercício do comércio. O Código Civil de 2002 diz que “podem exercer a atividade de empresário os que estiverem em pleno gozo da capacidade civil e não forem legalmente impedidos” (art. 972). Essa capacidade, segundo dispõe o art. 5º, parágrafo único, V, do novo diploma, oraem estudo, pode ser antecipada, desde que o menor, em função dessa atividade, “tenha economia própria”.
A economia própria, segundo Rubens Requião, corresponde ao estado econômico de independência do menor, que decorre da propriedade de bens que ele adquire proveniente do seu trabalho, de herança não administrável pelo pai, ou alguma doação ou legado, nessas condições. Tendo a disposição desses bens e se estabelecendo, em exercício profissional do comércio, o menor adquire plena capacidade. Já decidiu o Tribunal de Justiça de São Paulo que “não pratica comércio com economia própria menor que se estabelece em razão de sucessão causa mortis, por não se encontrar essa hipótese contemplada e elencada entre as causas previstas na lei”. (GON, 128, 129)
EXTINÇÃO DA PESSOA FÍSICA
Segundo o Código Civil em seu artigo 6º: “ A existência da pessoa natural termina com a morte presume-se esta, quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão definitiva ”
Carlos Roberto Gonçalves ensina: 
“Somente com a morte real termina a existência da pessoa natural, que pode ser também simultânea (comoriência). Doutrinariamente, pode-se falar em: morte real, morte simultânea ou comoriência, morte civil e morte presumida. ” (GON, 129)
Para a tanatologia (estudo e análise da morte), a morte é a parada do cérebro (morte cerebral).
Morte Real
A morte real é aquela atestada por médico (Art. 6º 1º parte)
O autor discorre:
“A morte real é apontada no art. 6º do Código Civil como responsável pelo término da existência da pessoa natural. A sua prova faz-se pelo atestado de óbito ou por ação declaratória de morte presumida, sem decretação de ausência (art. 7º), podendo, ainda, ser utilizada a justificação de óbito prevista no art. 88 da Lei dos Registros Públicos (Lei n. 6.015/73), quando houver certeza da morte em alguma catástrofe, não sendo encontrado o corpo do falecido. ” (GON, 130)
Morte Simultânea e comoriência 
“A comoriência é prevista no art. 8º do Código Civil. Dispõe este que, se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião (não precisa ser no mesmo lugar), não se podendo averiguar qual deles morreu primeiro, “presumir-se-ão simultaneamente mortos”.” (GON, 130)
“Quando duas pessoas morrem em determinado acidente, somente interessa saber qual delas morreu primeiro se uma for herdeira ou beneficiária da outra. Do contrário, inexiste qualquer interesse jurídico nessa pesquisa.
O principal efeito da presunção de morte simultânea é que, não tendo havido tempo ou oportunidade para a transferência de bens entre os comorientes, um não herda do outro. Não há, pois, transferência de bens e direitos entre comorientes. Por conseguinte, se morrem em acidente casal sem descendentes e ascendentes, sem se saber qual morreu primeiro, um não herda do outro. Assim, os colaterais da mulher ficarão com a meação dela, enquanto os colaterais do marido ficarão com a meação dele. ” (GON, 131)
Morte Presumida 
Morte presumida ocorre normalmente quando a pessoa desaparece de seu domicilio sem deixar nenhum rastro, sem saber se está vivo ou morto.

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