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Introdução aos Sacramentos II

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SACRAMENTOS II: ORDEM E MINISTÉRIOS
 INTRODUÇÃO: 
Situação de crise
- faltam vocações — porque sempre menos jovens estão dispostos a aceitar a atual forma de ministério — tantos padres que renunciam seu serviço. 
Causas: - sobrecarga de trabalho - cansaço 
- contestação à autoridade dos bispos e Papa alegando que o próprio modo de viver e realizar a própria vocação é superado e insuportável
- opinião pública — inclusive famílias — atitude de distanciamento e até negativa diante a uma vocação sacerdotal
FATORES da crise:
- descristianização difundida + desinteresse para com o religioso; as normas fundamentais do cristianismo não tem ressonância na vida civil. Ser cristão é estar contra corrente = determina conseqüências importantes para a atividade sacerdotal.
- o aspecto religioso vem sempre mais referido à esfera privada do homem. 
- a figura do ‘padre’ antes entre os ‘notáveis’ da sociedade, hoje ignorado. Para muitos o padre é alguém que oferece um produto que não interessa.
- a nível intra-eclesial a figura do ‘padre’ parece apagada. Fatores: diante de uma Igreja que ‘se abre para o mundo’, a esfera cúltico-sacral, por séculos ligada à figura do ‘padre católico’, se torna algo superado (contra a intenção do Concílio).
— A missão da Igreja no mundo e para a transformação do mundo parece se formar o ‘próprio’ e ‘decisivo’ enquanto a ‘atividade social’ e uma forma de vida celibatária, afastada do mundo perdem significado e fascínio.
— A idéia de ‘democratização de todos os âmbitos vitais’, não se concilia mais com a realidade teológica de uma autoridade/ministério hierárquico.
— Terminologia: hoje em vez de ministério (daria a idéia de soberania, excelência, do alto) se prefere falar em serviço.
— Se forma um novo modo de entender o ministério espiritual. O clero, de uma parte (os mais anciãos) vê o próprio ministério legitimado ‘do alto’, mediante a ordenação e chamado especifico por parte de Cristo; por outro lado, (os mais jovens) confirma o seu sacerdócio no serviço prestado aos irmãos, portanto, ‘de baixo’. Assim a concepção de ministério fica dividida num tipo ‘vertical’ e outro ‘horizontal’.
— Os novos ministérios pastorais assumidos pelos leigos (antes exclusivos dos padres) dá origem a incertezas e conflitos de funções. 
Com isso podemos dizer que o ministério sacerdotal atravessa uma profunda crise de identidade.
	Para muitos padres (e também leigos) não é claro em que consiste a natureza, o coração, a específica vocação e a função do padre.
	Antes (ex: Enciclopédia Ecclesiástica de 1891) o leigo era definido em relação ao clero, isto é, leigo = não ser clérigo. Hoje não é o leigo que precisa ser definido, mas o clérigo, e este em relação ao leigo. Mudou o ponto de referência.
Diante a essas questões:
* O que distingue um padre de um leigo (empenhado plenamente na pastoral)? Poderes sacrais? Ministério de governo? Estilo de vida celibatário?
TRANSFORMAÇÕES DEPOIS DO VAT II	
	Por séculos a posição do clero na Igreja permaneceu incontestada, na qual se reconhecia a posição privilegiada do padre em relação aos leigos.
GRACIANO, pai do Direito Canônico, em 1140 sintetizou a reflexão medieval: “existem duas espécies de cristãos. A primeira é aquela daqueles que se dedicam ao serviço divino, à meditação, à oração, mantendo-se longe das preocupações do mundo. Estes são os clérigos e os consagrados a Deus, isto é, os monges. A outra é aquela dos leigos. A estes é permitido possuir terrenos, mas somente para o uso necessário… É também consentido casar-se, cultivar a terra, recorrer aos tribunais, … depor ofertas sobre o altar, pagar o dízimo. E também estes podem salvar-se, com a condição que realizem o bem sem cair nos vícios”.
	Neste texto o ministério vem claramente diferenciado do estado laical, com a realização verdadeira e própria da existência cristã. 
	Os clérigos eram considerados ‘superiores’ devido a Virtus (força, dom divino) recebido na ordenação. Esta diferença entre ministros e leigos teve ulterior desenvolvimento com Trento (precisa ter presente que o Concílio queria contrastar a Reforma que resolvia o ministério no ‘sacerdócio universal’ e a função e poder sacerdotal no serviço da pregação. Contra estas tendências Trento defendia o sacerdócio que de fato era exercido na Igreja, porém sem querer/poder apresentar uma doutrina bem articulada e ponderada sobre o ministério. 
	Contra a problematização de um ministério específico, Trento acentuou de modo apologético o ministério hierárquico, isto é um ministério eclesiástico caracterizado por uma específica autoridade espiritual; e diante a rejeição do caráter sacerdotal opôs uma estreita relação entre sacrifício visível (mesa) e poder do ministério (cúltico- sacerdotal).
	O Concílio levou em frete a idéia (Id. Média) que o padre deve ser entendido a partir de suas funções e autoridade de caráter cúltico-sacramental, especialmente a celebração da Eucaristia.
	Catecismo de Trento: “Visto que os bispos e os padres… representam a pessoa do próprio Deus sobre a terra, é evidente que não se pode conceber um ministério superior ao deles. Por isso, justamente estes não são chamados somente ‘anjos’, mas ‘deuses’, representando a virtude misteriosa do Deus imortal”. Daí desenvolve a idéia que o padre é prevalentemente o ‘homem dos sacramentos’ e que se distingue dos leigos seja como ‘representantes de Deus” e titular de um poder cultual, como também pela sua específica santidade.
	Antes do Concílio Vat II, Pio XII, na Mediator Dei, 1947, afirma: “De fato, como o banho do batismo distingue os cristãos e os separa dos outros que não foram lavados pela onda purificadora e não são membros de Cristo, assim o sacramento da Ordem distingue os sacerdotes de todos os outros cristãos não consagrados…” e na Menti Nostrae, 1950, exorta que a vida dos sacerdotes seja ‘totalmente imune de pecado, a sua vida mais do que aquela dos simples fiéis, seja escondida com Cristo em Deus”.
	A concepção de Igreja segue àquela de ministro: Cristo fundou a Igreja no mesmo momento no qual constituiu os ministros e conferiu a eles a sua autoridade. O alfa e o ômega da Igreja é o ministério. Também o Direito eclesiástico era fundado prevalentemente sobre o ministério.
	Com o Vat II se passa ao verso da moeda.
Desde fins do séc. XIX, nas Associações cristãs, movimentos juvenis, Ação Católica, se tomou consciência do fato que a missão da Igreja não continua somente no ministério e que consequentemente a Igreja não se apoia exclusivamente nele. Em virtude do Batismo e da Confirmação todo cristão tem a função de pregar, de testemunhar a Palavra de Deus, de ser missionário e comum é também a santidade.
	Desta ‘nova’ experiência eclesial o Concílio tira certas conseqüências na Constituição LG, onde a Igreja não é mais concebida a partir do ministério — não obstante todas as diferenças que permanecem entre leigos e ministros — mas como o único povo de Deus, onde todos, sem exceção são chamados a ‘oferecer mediante todas as obras dos cristãos, sacrifícios espirituais e anunciem os poderes d’Aquele que das trevas os chamou à sua admirável luz (1Pd 2,4-10). Por isso, todos os discípulos de Cristo, perseverando em oração e louvando juntos a Deus (At 2, 42-47), ofereçam-se como hóstia viva, santa, agradável a Deus (Rm 12,1). Por toda parte dêem testemunho de Cristo. E aos que pedirem dêem as razões de sua esperança na vida eterna (1Pd 3,15)” (LG 10).
E, assim, “reina, contudo, entre todos verdadeira igualdade quanto à dignidade e ação comum a todos os fiéis na edificação do Corpo de Cristo” (LG 32).
Estas afirmações geram uma tensão em relação ao Concílio Vat I: “A Igreja de Cristo… não é uma comunidade de indivíduos do mesmo grau onde todos os fiéis gozariam dos mesmos direitos. Essa é uma comunidade de indivíduos diversa entre si, e não somente porque entre os fiéis há os clérigos e os leigos, mas sobretudo pelo fato que na Igreja existe uma autoridade queDeus conferiu aos primeiros (clérigos) para santificar, ensinar e governar, e aos outros (leigos) não”.
	Também o Vat II conhece uma diferença entre ministros e leigos, os quais pertencem à estrutura interna do povo de Deus, ligado à uma comum dignidade e vocação. 
* Mas se destaca a igualdade entre os membros, pondo em destaque o sacerdócio comum, que significado atribuir ao sacerdócio específico do ministro, a um ministério sacerdotal?
	Card. Lefrèbvre, em nome de ± 80 bispos franceses, : “Em nossos dias, enquanto se insiste tanto sobre o sacerdócio universal dos batizados e sobre a ação apostólica dos leigos, muitos padres permanecem transtornados”.
	O Concílio Vat II procurou dar uma resposta (LG 10), mas não conseguiu resolver o problema com a devida clareza; por isso, interveio a teologia pós-conciliar (em âmbito exegético, dogmático e histórico). 
	Hoje, uma das respostas mais freqüentes é assim expressa:
O ministério é um carisma (dom especial, especial serviço, função) entre os muitos outros carismas da comunidade eclesial. A sua característica específica está na condução da comunidade, ou também a tarefa peculiar do ministério consiste em integrar, dentro do povo de Deus, a multiplicidade de (outros) carismas, dons, serviços, funções, em coordená-los e estimulá-los para a unidade, ao intercâmbio e ao ser-para-os-outros. 
	O ministério se caracteriza, portanto, essencialmente, a partir da vocação comum dos batizados a ser povo de Deus.
	É um ministério entre as outras capacidades, serviços e funções na Igreja.
	O ministério é um modo no qual a Igreja se exprime a si mesma e realiza a própria vida. O ministério não representa diretamente Cristo, mas de modo peculiar a Igreja, e só assim também Cristo como fonte e fundamento da Igreja e da sua fé.
	Primariamente o ministério é ministério da Igreja e de Cristo enquanto Cristo é o Senhor da Igreja, cujo ministério é desenvolvido pelos ministros. De conseqüência o ministério sacerdotal assume um caráter sacramental porque a Igreja tem uma natureza sacramental e concretiza e torna perceptível a própria sacramentalidade nos sacramentos, também naquele da consagração sacerdotal.
	Esta interpretação teológica, que não situa o ministério somente na comunidade dos batizados e crismados, mas o motiva também a partir de tal contexto, soa como reação ao modo pré-conciliar e unilateral de entender o próprio ministério. 
	A realidade do povo de Deus é mais ampla do que simplesmente distinguir entre clero e leigos.
NOVOS PROBLEMA E PERSPECTIVAS
	Falar do ministério sacerdotal como função dá espaço a mal entendidos e unilateralidades. Não é raro que o ministério, como função de governa da comunidade, vem contraposto a um ministério entendido como determinação intrínseca e ontológica, qualificada por uma específica potestade. O conceito de função é acima de tudo um conceito formal. Aquilo que no ministério eclesial ‘funciona’ é em primeiro lugar a pessoa. Esta desenvolve a própria função na relação que subsiste entre Cristo e a Igreja e que se caracteriza essencialmente em termos de fé, esperança e caridade. 
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- Origem do Sacerdócio: no Antigo Oriente Médio
Sacerdócio e realeza
Sacerdócio e santuário
Sacerdócio e pureza
Sacerdócio e Sociedade
- Terminologia
“Padre” e “Sacerdote”
	Apesar de procedências diferentes os conceitos são associados. “Sacerdote” possui o abstrato ‘sacerdócio’, a palavra “padre” sem o abstrato, se usa especificamente no âmbito da igreja.
A Bíblia hebraica
	Usa três vezes komer designando pejorativamente os sacerdotes dos ídolos (2Rs 23,5; os 10,5; Sf 1,4); fora estas exceções, usa exclusivamente, a palavra kohen (750 X), tomada dos semitas do Oeste. Provavelmente provém da raiz kun = firmeza, solidez, e é usada para o estabelecimento do santuário (sacerdote-santuário).
Traduções gregas e latinas
	Os Setentas adotam o termo hiereus, com o adjetivo hieros = sagrado, caracteriza o que vem dos deuses e não do homem. O hiereus é aquele cuja função consiste em realizar as cerimônias sagradas (público).
	A vulgata usa o termo sacerdos = colocar sobre suas bases, fundar; tem também a função de executar o que é sagrado, conferindo-lhe estabilidade. Às vezes, o latim usa também pontifex = aquele que abre os caminhos praticáveis até os deuses, como também competência universal para todos os cultos admitidos.
Presbítero
	Deriva de Presbyteros = ancião, o mais velho. O papel de direção dos anciãos se verifica em Israel desde as origens até o N.T. No uso cristão usa a palavra ‘padre’ = aquele que exerce o encargo pastoral na igreja.
1. O SACERDÓCIO NAS SAGRADAS ESCRITURAS
1.1. ANTIGO TESTAMENTO
1.1.1. Os sacerdócios dos santuários locais
Os santuários de Israel
	As origens não são tão claras quanto possam parecer, não se pode começar pelos primeiros livros da Bíblia, pois Gn e os primeiros capítulos de Ex mencionam somente os sacerdotes pagãos. Todo santuário é território sagrado e reservado, marcado por interdições e privilégios. A escolha da localização depende da manifestação divina; também favorecidos por dados geográficos (monte), proximidade de águas e árvores sagradas. A importância do santuário é relativo à do santuário; para isto contribui a distinção entre altar isolado e templo construído. 
	A tradição bíblica conservou lembrança negativa de tais lugares altos, que guardavam imagem talhada (pesel), pedra erigida (massebah) e pilares sagrados (asherah). Tais lugares suscitaram polêmicas dos profetas.
	Os patriarcas visitaram os santuários cananeus já existentes. Abraão construiu um altar em Siquém e outro em seu acampamento, entre Betel e Hai (Gn 12,6.8). Os santuários Siquem e de Betel estão mais ligados a Jacó (Gn 33,18-20; 28,10-22; 35,1-8). O domínio de Abraão é Hebron; ergue um altar no carvalho de Mambré (gn 13,18), enquanto Bersabéia é o santuário de Isaac (Gn 46,1-4). No século VIII, este santuário sofreu a mesma reprovação que os santuários do norte (Guilgal e Betel = Am 5,5). Porém, Gn não oferece informações sobre os sacerdócios desses santuários. Os atos de culto são exercidos pelos chefes de família.
	Tal como os beduínos que levavam uma tenda-santuário, o mesmo acontece com os israelitas, no deserto, possuíam o seu santuário sob forma de tenda (Tenda de Reunião ou Tenda de Encontro). A tradição mais antiga (Ex 33, 7-11) situa-o fora do acampamento.
	Na época dos juízes, surgem novos santuários: outro Guilgal no norte de Betel (1Sam 11,14-15). Ofra é o santuário de Gedeão, em Manassés (Jz 6). Samuel frequenta o santuário de Masfa (1Sam 7); ainda Gabão (2Sam 21,1-4; 1 Re 3), e Silo.
Moisés, Aarão e os levitas
		O levitismo é instituição original de Israel. Levi (ligado a Deus, cliente de Deus?), terceiro filho de Lia. A honra da tribo de Levi consiste em ter sido escolhida para funções sagradas. Não tem herança em Israel; sua herança é o Senhor. A descrição dos textos bíblicos sobre os sacerdotes dos primeiros santuários deixa obscuro o papel dos levitas. Ora complementares, ora concorrentes os termos Lewy e kohen, demarca a história do sacerdócio bíblico, predominando Kohen. Paralelamente à expressão “tribo de Levi”, encontramos a denominação “filhos de Levi”, provando que a prerrogativa sacerdotal se transmitia por hereditariedade.
	Moisés pertence à tribo de Levi (Ex 2,1). Por motivo de fuga vai a Madiã, mas a forma de vida nômade o encaminha novamente para fora de seu território. Gn 25,1-4 faz de Madiã um filho de Abraão com Cetura. Portanto, os vínculos religiosos entre os dois grupos são estreitos. Não podemos afirmar que Moisés tenha exercido efetivamente o sacerdócio. No Sinai ele assume, como chefe do grupo, a função de mediador da aliança.
	Aarão, tornado predecessor do sacerdócio de Jerusalém após o exílio, não é considerado sacerdote nas tradições pré-sacerdotais. É apresentado irmão de Moisés e levita em Ex 4,7-10, mas a tradição mais antiga de Ex 17,8-15 cala-se arespeito deste vínculo familiar. Seu grupo levita encontrou o de Moisés e os dois chefes tornaram-se associados. O episódio do bezerro de ouro opõe as concepções religiosas aarônicas e mosaicas sobre legitimidade da representação figurada de Deus. A família de Aarão alimenta certas pretensões sobre o sacerdócio de Betel.
Os primeiros sacerdócios comprovados
	Informações mais precisas sobre o sacerdócio dos santuários se obtém a partir do final do livro de juízes. A informação inclui Dã, Betel e Silo.
a- O sacerdócio de Dã
	Impossibilitada de assentar-se no território que lhes foi atribuído, a tribo de Dã, apodera-se de Lesem-Dã (Js 19,47). (Fundação de Dã jz 17-18). O texto básico sofreu diversas redações, especialmente na época de Jeroboão I e por ocasião da invasão da Assíria de 733, mas contém diversos dados valiosos sobre a história do sacerdócio.
No antigo relato, os levitas não possuem a exclusividade do sacerdócio, visto Mica instituir um dos seus filhos como sacerdote. Mas, quando se apresenta a situação, a preferência è dada a um levita, vindo de Belém de Judá, confirmando a difusão dos levitas. Vivem com estrangeiros , com estatuto jurídico precário e procuram emprego no exterior. Admirável o fato que os danitas procuram recrutar um levita para a viagem, tendo em vista o santuário a ser fundado.
A instalação do levita é expressa pela fórmula tornada técnica “encher a mão”, provavelmente referindo-se ao salário. O sacerdote é empregado remunerado, depende de seu patrão. 
O levita é contratado como guardião do santuário, o que o torna sacerdote, e seu sacerdócio é de tipo oracular.
Uma referência final remonta esse sacerdócio a Moisés. É possível que o jovem levita anônimo do relato seja identificado com Jônatas, neto de Moisés. Segundo Nm 18,30, este sacerdócio mosaico perdurou até a conquista da Assíria de 733.
b- O sacerdócio de Betel
	o santuário foi frequentado pelos patriarcas. Mostra-se em plena atividade no tempo dos juízes e o segundo apêndice deste livro oferece-nos alguns pormenores. A insistência é marcante na função oracular (Jz 20,18.23.26). O povo se reúne para cerimônias de jejum e lamentação e oferecem holocaustos e sacrifícios de comunhão (Jz 20,26). Há quem afirme a presença da arca e faz provir seu sacerdócio de Aarão, por intermédio de seu neto Pinhas. Teríamos, então, um sacerdócio mosaico em Dã e aarônico em Betel.
c- O sacerdócio de Silo
	encontra-se ao norte de Betel. O episódio do rapto das filhas de Silo (Jz 21,16-24) faz supor que a cidade fosse centro cultual cananeu, antes de se tornar santuário israelita.
	No início do período pré-monárquico, Silo é o palco da repartição do território para as sete tribos remanescentes e das cidades levíticas (Js 18,19;21). A Tenda de Encontro está aí situada (Js 18,1; 19,51). Josué vem associado ao sacerdote Eleazar (Js 14,1;19,51). Percebe-se a marca de escritores sacerdotais, pela preocupação em sublinhar a ascendência aarônica do sacerdócio de Silo. É Pinhas, filho de Eleazar, que intervém por ocasião da edificação de um altar às margens do Jordão (Js 22,9-34). Silo é o grande santuário da época que precede imediatamente a monarquia. As fontes referem-se ao templo (1Sam 1,7.9), e a presença da arca assegura-lhe real prestígio em Israel. Ali comparecem os fiéis para o sacrifício anual, mas o vínculo estreito entre o sacerdote e o sacrifício ainda não é explícito. Ao sacerdote cabe a guarda do santuário, principalmente a arca. Alguns sacerdotes acompanham a arca durante o combate. O acolhimento dos peregrinos e a resposta oracular a seus pedidos são as atividades mais importantes do sacerdote, que transmitem também a bênção. A origem deste sacerdócio é pouca conhecida, pois aparece Eli, sem genealogia. O sacerdócio de Silo terá influência, nas vésperas da instauração da realeza.
1.1.2. Os sacerdócios sob a monarquia
O sacerdócio e a instauração da monarquia
a- a realeza sacral
	As lutas inter-tribais bem como as ameaças exteriores geram, no final do período dos juízes, forte aspiração pela realeza. Uma instituição permanente para corresponder melhor às necessidades do tempo em substituição às intervenções carismáticas momentâneas. A monarquia israelita se instaura no final do Séc. XI.
	O rei israelita é escolhido por Deus, de quem se diz ser filho por adoção e servo privilegiado. Por ter-se imposto nos combates de libertação é, por isso, o salvador do povo, ou melhor, o mediador da salvação concedida por Deus a seu povo. Cabe-lhe em primeiro lugar, garantir a seus súditos a justiça e o direito.
	A unção é ministrada como rito fundamental. O óleo usado é sinal de saúde e vitalidade; colocando o destinatário na dependência de Deus, a unção, portadora de virtudes purificadora, transmite poder purificador. A tradição bíblica atesta, o caráter inviolável do ungido do Senhor. A palavra “messias” deriva deste termo hebraico. O rei é igualmente provido de diadema (2Rs 11,12; Sl 132,18). O vebo hebraico “consagrei” no Sl 2,6, evoca a libação de água e torna provável o fato de a entronização comportar rito de purificação pela água.
b- O sacerdócio real de Melquisedec
Ao instalar sua capital em Jerusalém, Davi herda algumas tradições deste antigo santuário jebuseu. Gn 14,18-20 refere-se a Melquisedec, rei de Salém/Jerusalém e sacerdote do Deus altíssimo. O fato não é estranho, mais tarde muitas inscrições fenícias associam o título de rei à função sacerdotal. Ele abençoa Abraão e dele recebe o dízimo. Melquisedec aparece uma segunda vez, em oráculo provavelmente pronunciado por ocasião da entronização real. (Sl 110,4). O oráculo afirma que o caráter sacerdotal da realeza de Melquisedec transmite-se à de Davi, mas a promessa de eternidade da realeza na linhagem, está em primeiro lugar. Viu-se também aí um meio de fundar a instituição do dízimo.
c- O rei e o culto
	Como no Oriente o rei é o responsável pela administração dos templos. Salomão constrói o Templo e preside sua dedicação (1Rs 6-8). O 1º livro das Crônicas remonta a Davi as primeiras disposições cultuais. O rei intervém, em pessoa, nos atos de culto: oferece sacrifícios (1Sm 13,9-10), abençoa o povo (2Sm 6,18), pronuncia preces de intercessão (2Sm 7,18-29).
d- Os sacerdócios dos primeiros reis
	São prováveis os vínculos entre Saul e o santuário de Silo. Em todo caso, durante seu reinado, Aquia, filho de Aquitob, da linhagem de Eli, faz uso do Efod: objeto que continha sortilégios sagrados, bastonetes ou dados, que se chamam urim e tummim (1Sm 14,3.18.41).
	Os sacerdotes também de tipo oracular serve o santuário de Nob, próximo de Jerusalém, dirigido por outro descendente de Eli, Aquimelec. Porque consultou Deus em favor de Davi, Saul mandou matar todos os sacerdotes da cidade. Só escapou Abiatar, que foi ao encontro de Davi. Abiatar acompanha Davi em suas andanças, para consultar a Deus por meio do efod (1Sm 23, 6.9; 30,7). Por se colocar do lado de Joab, ao lado de Adonias, rival de Salomão é excluído do sacerdócio (1Sm 2,27-36) e exilado em Anatot. Sadoc, de origem desconhecida, com Abiatar, encontra-se a serviço da arca.
1.1.3. O sacerdócio levítico e o movimento deuteronômico
	O Deuteronômio é dominado pela centralização do culto e pela condenação dos lugares altos. Reconhecendo a unicidade de Javé, procura prestar a Javé um culto digno dele.
A promoção sacerdotal dos levitas	
	No tempo dos juízes escolhiam de preferência para a guardia de santuários. Implantados no sul, colaboram com Davi (Nm 26,58). Emigrando para o norte, influenciaram a ascensão de Jeroboão. Não se pode determinar o momento preciso que tomaram o encargo sacerdotal; como também é difícil definir a relação exata entre “levita” e “sacerdote”
A investidura dos filhos de Levi (Ex 32,26-29).
As funções de Levi (Dt 33, 8-11). Percebemos já no Gn (49,5-7), um eco da investidura dos filhos de Levi. (Cfr. Com Dt 33,9; Ex 32,27.29). A primeira redação valoriza a função oracular com urim e tummim.A redação mais recente interessa, prioritamente, pela função de ensino de Levi. As sentenças garantem vida equitativas aos membros do povo (Ex 21,1-22). Quanto à torá, é tradicionalmente associada ao sacerdócio (Jr 18,18; os 4,6). Originariamente era breve instrução sobre assunto particular; regra de conduta prática, principalmente em relação ao culto. As formas são variáveis: diretiva, proclamação, verídico. No início, assumem mais a forma de respostas circunstanciais do que de ensinamento doutrinal elaborado.
A função sacrifical vem por último. As tradições mais antigas apresentam sacrifícios oferecidos pelo chefe da família ou pelo chefe do clã, sem mencionar sacerdote. Mas, porque dava resposta oracular no santuário no qual era guardião, chamava-se o sacerdote para intervir nos sacrifícios. No santuário de Silo, o sacerdote recebia parte das vítimas (2Sm 12-17). O desaparecimento do papel oracular e a concorrência de outros grupos no ensino tiveram como efeito a afirmação cada vez mais nítida da função sacrifical do sacerdote.
	
o sacerdócio levítico nos textos deuteronômicos
A lei de Dt 18,1-8
O código deuteronômico trata do sacerdócio levítico dentro de um conjunto consagrado às pessoas que exercem autoridade sobre o povo de Deus: rei, sacerdote, profeta (Dt 17,8-18,22). Inútil esperar do texto esclarecimentos a respeito da instituição sacerdotal e sua significação teológica, pois a preocupação da lei é, em primeiro lugar, com os proventos dos sacerdotes, ou, mais precisamente, com as condições concretas de sua participação na herança de Javé. A repetição em ordem inversa, nos versículos 2 e 8, dos termos "parte" e "herança" superpõe-se a uma divisão tripartida bem evidente (1-2; 3-5; 6-8).
Os problemas maiores são apresentados logo no início. A dupla expressão "os sacerdotes, os levitas" quer certamente significar que, para o Deuteronômio, todos os sacerdotes são levitas. Resta saber se, vice-versa, todos os levitas são sacerdotes. Se a fórmula que segue "toda a tribo de Levi" está em aposição, a resposta é afirmativa. Mas se - como se permitem alguns, em nome da gramática - vem precedida da conjunção "e", ocorre distinção entre os sacerdotes levitas e o grupo mais amplo da tribo de Levi. O v.1, mesmo sobrecarregado, é mais antigo; nele se reconhece aos sacerdotes levitas o direito de viver das ofertas (cf. 1 Sm 2,28) e do patrimônio. O princípio afirmado no v. 2 é de redação ulterior, constitui passagem clássica.
A parte central (vv. 3-5) fala apenas dos sacerdotes, sem se referir aos levitas. O enunciado dos direitos sacerdotais, no v. 3, constitui seu mais antigo elemento: dos sacrifícios, os sacerdotes recebem a espádua, as mandíbulas e o estômago. A lei sacerdotal de Nm 18,8-19 é mais desenvolvida. A prescrição sobre as primícias, na segunda pessoa do singular, tem toda possibilidade de ser mais recente. Reconhece-se comumente o caráter ainda mais tardio da motivação apresentada no v. 5. A ambigüidade permanece no início do versículo quanto ao antecedente do pronome "ele". O contexto imediato sugeriria "sacerdote", mas a palavra "tribo" é igualmente masculina em hebraico, e a oposição parece jogar entre uma tribo e as outras. Duas funções são conservadas pelo texto hebraico: manter-se diante de Javé e
virem seu nome (O grego acrescenta a bênção). A ambigüidade assinalada revela vocabulário não perfeitamente fixado e assimilação crescente entre as funções sacerdotais e levíticas.
A terceira parte é a mais original da lei (VV. 6-8). À diferença da precedente, fala de "levitas" e não de "sacerdotes". Mas o vocabulário não é tão estranho, pois o levita que vem "servir em nome de Javé" deve gozar dos direitos que os levitas que "se mantêm diante de Javé". 
De qualquer forma, o levita que reside em uma das cidades tem o direito de oficiar no santuário central, mas já se salientou a dificuldade ~'a citada em 2Rs 23,9.
O vocabulário do código (Dt 12-26)
O código deuteronômico volta-se muitas vezes para o estatuto social do especialmente a propósito das leis sobre a centralização e as festas (Dt 12.18.19; 16,11.14). O levita deve fazer parte da família que participa das cultuais. As categorias que lhe são normalmente associadas designam os economicamente fracos, cuja capacidade jurídica não é total. Não compartilhar com as tribos nem herdar torna precária a situação do levita. Assim, o legislador insiste particularmente na necessidade de protegê-lo (Dt 12,18-19). Encontramos a mesma preocupação a propósito dos dízimos (Dt 14,27.29; cf. o apêndice de 26,11-15). Essas prescrições não mencionam as funções cultuais do levita.
Outras passagens do código deuteronômico apenas falam do sacerdote, sem fazer nenhuma ligação com a palavra "levita": o antigo papel do sacerdote na guerra santa é lembrado em Dt 20,2-4; no apêndice de 26,1-11, ele assume a função de guardião do santuário. A passagem sobre os juizes (Dt 17,8-13) oferece o interesse de mesclar os termos "sacerdotes levitas" (v. 9) e "sacerdote" (v. 12). Enquanto o vocabulário de 17,12 evoca o de 18,5, os sacerdotes levitas são essencialmente definidos por sua relação com a Torá e o ensino. Apreende-se, vivamente, o mecanismo de fusão das tradições. Na seção seguinte, os sacerdotes levitas são responsáveis pela Tora, à qual o rei deve submeter-se (Dt 17,18). Um versículo tardio inserido na lei sobre o homicida desconhecido indica as funções dos sacerdotes, filhos de Levi, suficientemente próximas daquelas de Dt 18,5 (Dt 21,5). O sacerdócio está associado à tribo de Levi, sem que o vocabulário traga ainda todas os esclarecimentos desejáveis.
Dados esparsos
Ao lado do código, alguns fragmentos pertencentes a outras fases de redação completam o quadro deuteronomista do sacerdócio levítico. A referência mais tardia de Dt 10,6-9 é inserida num conjunto paralelo a Ex 32. Refere-se, como 18,1, à tribo de Levi, mas nos apresenta lista mais elaborada de suas funções do que a de 18,5: colocar-se na presença de Javé, servi-lo, abençoar em seu nome. Mais do que a maneira sacerdotal de falar da separação da tribo, a originalidade está na função, que é colocada em primeiro lugar: transportar a arca da aliança de Javé. O transporte da arca é, efetivamente, o apanágio dos levitas, em Dt 31,25; dos sacerdotes filhos de Levi, algumas linhas acima (31,9). Ora, o contexto desses dois versículos estabelece vínculo muito estreito entre a arca da aliança de Javé, e a lei escrita. Além do quê, a tradição particular, exposta em Dt 27, reivindica parte importante para os sacerdotes levitas (v. 9) ou os levitas (v. 14) na liturgia da aliança. Reflexões ulteriores dos deuteronomistas continuam a destacar a função de ensino da tribo de Levi.
Na história deuteronomista, o livro de Josué é o mais explícito, pelo fato de centrar-se na posse e partilha do pais. O capitulo que introduz a divisão do território contém duas indicações que coincidem com Dt 18,1-2 (Js 13,14.33). Repete-se continuamente que Javé é a herança da tribo de Levi. Mas importante precisão é encontrada em Js 18,7 (inserção deuteronomista em texto de base sacerdotal); o sacerdócio de Javé será a herança dos levitas. Se os levitas não recebem parte do território, têm, no entanto, cidades onde morar, com campos para o rebanho e seus haveres (Js 14,34). O livro contém, justamente, um documento que enumera essas instalações (Js 21). A data desse documento é discutível, mas na essência poderia remontar à monarquia davídica e salomônica, sem que seja excluído um viço de atualização e de alterações, na época de Josias. Em geral, os historiadores deuteronomistas falam pouco dos levitas.
o sacerdócio levítico e seu significado
A separação da tribo de Levi e seu vínculo particular com Javé são as idéias motrizes do Deuteronômio. Se a função oracular dos levitas tende a diminuir, seu papel de ensinantes e sua função relativamente à Torá e à aliança são valorizados. Sua atividade está ligada ao santuário, mas sua participação nos sacrifícios é encarada maisdo ângulo dos proventos que do das rubricas. Eventos como o cisma de Jeroboão e a queda da Samaria devem ter aumentado a precariedade da condição de numerosos levitas. A legislação humanitária do Deuteronômio protege-os.
É claro que, a partir do Deuteronômio, o exercício do sacerdócio só é possível dentro da tribo de Levi. Sobre esse princípio, as genealogias sacerdotais terão de esclarecer diversas situações. Apesar da obscuridade dos textos e da imprecisão do vocabulário, não parece necessário recorrer à hipótese de duas classes dentro da tribo: dos que servem ao altar, mais providos, e dos pregadores itinerantes, de subsistência aleatória. Ao que tudo indica, de direito todos os levitas tinham acesso à função sacerdotal. O fechamento de santuários deve ter levado bom número deles à porção côngrua, e não era fácil encontrar lugar nos santuários existentes. A reforma de Josias tornaria a situação dos levitas ainda mais dramática, favorecendo a supremacia do templo de Jerusa​lém, que era fácil identificar como lugar escolhido por Javé. Sim, a denegação de 2Rs 23 visa aos sacerdotes dos lugares altos, mas devemos levar em conta a predição de que um dia os descendentes do sacerdócio de Silo viriam prostrar-se diante dos sadocitas de Jerusalém "em troca de uma moeda de prata e um pedaço de pão" (1 Sm 2,36). A partir de então podemos pressentir uma reorganização do sacerdócio.
Os deuteronomistas não explicitaram sua teologia do sacerdócio. Poderosa força inspira-lhes os escritos e dá vida ao que poderia ser tão-somente questão de organização e de proventos. Um ideal de fraternidade anima as relações dos levitas com os israelitas e dos levitas entre si. A escolha mais frequentemente repetida do lugar do culto encontra seu corolário na eleição da tribo de Levi para o serviço de Javé. O sacerdócio levítico exerce-se, enfim, entre e para um povo consagrado (Dt 7,6; 14,2; 26,19). Em suma, os deuteronomistas apresentam sacerdócio de irmãos, em local escolhido, para um povo eleito e consagrado. Caberá aos escritos sacerdotais retomar, mais sistematicamente, algumas dessas intuições.
o sacerdócio nas correntes sacerdotais
O movimento deuteronomista afirmou-se nos séculos VII e VI. Paralelamente, sacerdotes do santuário de Jerusalém davam o toque final às próprias tradições, cuja antigüidade é garantida por verdadeiro espírito conservador. A corrente sacerdotal integra diversas composições, ao lado do código sacerdotal propriamente dito. Dentre elas, duas oferecem interesse particular para o estudo do sacerdócio: a lei de santidade (Lv 17-26) e os últimos capítulos do livro de Ezequiel (Ez 40-48, muitas vezes chamados Torá de Ezequiel). Sacerdote de Jerusalém, deportado para a Babilônia em 593, Ezequiel deixou uma obra - continuada por discípulos - com afinidades sacerdotais evidentes. Apesar de algumas tentativas interessantes, que remontam a composição do código sacerdotal à época de Ezequias, adotaremos a opinião majoritária, que a situa no contexto do exílio, pouco posterior ao Deuteronômio, e a faz preceder a obra de Ezequiel.
o sacerdócio na lei de santidade
A lei de santidade
Paralela ao código deuteronômico, por sua estrutura e forma de lei pregada, a lei de santidade difere, porém, por seu vocabulário, seus conceitos e as instituições que conhece. Suas afinidades com Ezequiel são evidentes e sua inserção no documento sacerdotal indica claramente seu meio de origem. Não data de muito antes de Ezequias, e as diversas fases redacionais podem estender-se até o exílio. Nela se discernem diferentes unidades: a que se ocupa diretamente dos sacerdotes (Lv 21-22) não está entre as mais antigas.
A santidade do sacerdócio
O título conferido ao documento pelos críticos traduz bem o lugar central que nele ocupa a noção de santidade. Prende-se ela à raiz semítica qdsh, sempre empregada no contexto religioso, cujo sentido principal conota a idéia de consagração e de pertença. Deus, o único Santo (Is 6,3), comunica sua santidade a todo lugar onde ele vem encontrar os homens (cf. Ex 3,1-6), fato que reveste o local de caráter temível (cf. Gn 28,10-19). Todo objeto em contato com a divindade e com o santuário entra na esfera do sagrado. A aproximação de Deus, busca de todo homem religioso, só é possível se a pertença à divindade for efetiva. Positivamente, ela supõe consagração real do homem a Deus, da qual a separação do profano e a observância de interditos não são senão corolários.
A exigência de santidade, baseada na própria santidade de Deus, é dirigida a toda a comunidade (Lv 19,2; 20,26). Assume significação especial para o sacerdote destinado, por função, a uma aproximação mais imediata de Deus. Efetivamente, as ocorrências da raiz qdsh multiplicam-se em Lv 21 -22: a fórmula "sou eu, Javé que os (ou que vos) santificou" (Lv 21,8.15.23;
22,9.15.32) marca os diferentes parágrafos; ressalta que Deus é o autor da santificação e que é dele a iniciativa da consagração: não se trata absolutamente de empreendimento humano. A diversidade dos complementos do verbo lembra o sistema de consagração no qual se inclui o do sacerdote.
O exercício do sacerdócio
A lei de santidade diverge em três pontos das descrições da Torá de Ezequiel: não fala dos levitas; reserva o sacerdócio aos filhos de Aarão (Lv 21,1.17; 22,1), silenciando sobre os filhos de Sadoc; reconhece a preeminência de um sacerdote sobre os outros (21,10-15). Sem dúvida, ele não é chamado sumo sacerdote: ele é "grande entre seus irmãos". Mas a lei já conhece o rito da unção, a investidura (encher a mão) e a vestição.
Esses dois capítulos contêm essencialmente a função sacrifical dos sacerdotes: literalmente, "eles apresentam o alimento" (Lv 21,6.17.21). Isso se deduz dos interditos de Lv 21,23 e 22,3: revelam que a atividade deles põe-nos em contato estreito com o altar e com as coisas santas. Fora do contexto de Lv 21-22, algumas ações sacerdotais merecem ser destacadas: o sacerdote derrama o sangue sobre o altar de Javé e queima a gordura em bálsamo de reconciliação (Lv 17,5-6); em Lv 19,22, ele pratica o rito da expiação, mas os versículos 20-22 são, sem dúvida, produto de intervenção secundária; ele faz o gesto de apresentação, em Lv 23,10-11.20.
Para preservar o estado de santidade, condição de acesso a Deus, os sacerdotes estão submetidos a interditos que recobrem claramente os mesmos domínios que os da Torá de Ezequiel. Em matéria de luto e de casamento, são mais rigorosos com o sacerdote que tem primazia sobre seus irmãos. O enunciado dos casos de impedimento ao sacerdócio constitui contribuição mais recente da lei de santidade (Lv 21,16-24; encontramos uma série de doze impedimentos em 21,18-20).
o sacerdócio na Torá de Ezequiel
O templo futuro, lugar da presença divina
Transportando o profeta ao país de Israel em visão, Deus mostra-lhe c templo futuro e encarrega-o de fazer dele a descrição (Ez 43,10-11). Esses capítulos não saíram de um só fôlego, neles reconhecemos grande trabalho dos discípulos de Ezequiel. O caráter sagrado do edifício já é sugerido por uma de suas denominações, extraída da raiz qdsh, que denota sagrado e santidade. Tudo é santo, desde o "Santo dos Santos" (41,4) até o espaço em torno da construção (43,12). Por isso, é necessário impor condições muito estrita: de admissão (44,4-9). O santuário participa da santidade de Deus que habita. As impurezas e abominações do povo haviam-no afastado, no tempo do exílio (cf. Ez 8-10). Deus marca seu retorno por uma teofania: sua Glória invade o templo, como fizera no tempo de Salomão (1 Rs 8,10-11). Ele habita para sempre no meio de Israel, afastando as fontes de contaminação (Ez 43,4-9). As últimas palavras do livro: "Javé aqui está", exprimem maravilhosamente o programa teológico de Ezequiel.
Os levitas e o serviço no templo
A seção de 44,10-31 trata, explicitamente, do pessoal do templo. Os poucos versículos que se referem aos levitas pertencem ao extrato mais antigo (10-14). A exclusão dos levitasdo sacerdócio é expressa com firmeza no v.13. A razão não é de ordem econômica ou social, ótica mais deuteronomista, mas exclusivamente religiosa. A falta impede, para sempre, uma aproximação imediata a Deus. Como a construção do templo sugere, existe incompatibilidade entre impureza e presença de Deus. O texto nada explica das circunstâncias concretas desse desvio de conduta. Passagens como Ex 32,25-29 ou Nm 25,6-13 são espontaneamente invocadas e deixam entender que a unanimidade dos levitas nem sempre foi total. Basta-nos lembrar a oposição de Jerusalém a alguns sacerdócios do Norte, bem como a animosidade compreensível dos sacerdotes exilados na Babilônia em relação ao culto mantido em Judá, após a queda de Jerusalém. Desqualificados para as coisas santas e para as muito santas, os levitas são designados para o serviço no templo, especialmente para a guarda dos pórticos. A cláusula que os incumbe da decapitação das vítimas sacrificais não será retomada pelo código sacerdotal, fiel ao costume tradicional de reservá​la ao ofertante. A novidade do documento consiste em corroborar a distinção entre sacerdotes e levitas.
Os sacerdotes sadocitas e o serviço a Deus
Os dois primeiros versículos fazem igualmente parte do extrato antigo. O sacerdócio torna-se apanágio dos sacerdotes levitas, filhos de Sadoc (44,15; cf. 40,46b; 48,11). Ao contrário dos levitas, os sadocitas entram em uma dinâmica de aproximação. As palavras que descrevem suas funções ("manter-se diante" e "servir") são as mesmas que empregavam os deuteronomistas para a tribo de Levi. Mas o pronome "mim" assinala toda a diferença: significa o serviço imediato a Deus. Longe de substituir o ofertante nos sacrifícios, os sacerdotes reúnem a gordura, que é a parte reservada à divindade, e o sangue, no qual reside a vida.
Os outros versículos do capítulo 44 reúnem elementos de composição e de procedência diversas. Os versículos 28-30 partem de uma problemática próxima da de Dt 18,1-8, mas a herança de Javé restringe-se unicamente aos sacerdotes sadocitas, e os proventos mais consistentes supõem sistema sacrifical mais elaborado. Algumas preocupações sacerdotais refletem-se na passagem sobre as vestes (vv. 17-19) e sobre as regras de pureza relativas à higiene, à abstinência de vinho, ao casamento (vv. 20-22), ao contato com morto (vv. 25-27): porque Deus é o Santo, não se aproxima dele qualquer que seja a condição. Encontramos no Deuteronômio as funções mencionadas nos vv. 23-24.O conteúdo do ensinamento a respeito da distinção entre o sagrado e o profano, entre o puro e o impuro, é tipicamente sacerdotal e as observâncias permanecem bastante cultuais.
A ausência de sumo sacerdote é outra particularidade notável. Ezequiel possui uma idéia elevada das exigências sacerdotais, haja vista que, por exemplo, a regra relativa ao casamento dos sacerdotes sadocitas, em 44,22, é mais próxima daquela do primeiro dos sacerdotes, de Lv 21,14, do que daquela dos sacerdotes comuns, de Lv 21,7. Ezequiel tem mais preocupação em promover o sacerdócio sadocita do que em fazer emergir um chefe. A Torá de Ezequiel tem em vista um reino litúrgico, onde o príncipe, substituto do rei desaparecido, é desprovido de função política e não exerce outra ação a não ser no domínio do templo e do culto, onde o sacerdócio reinante é apresentado coletivamente, sem distinção hierárquica.
o sacerdócio no código sacerdotal
Santuário e sacerdócio
Com mais insistência que os documentos precedentes, o código sacerdotal liga o sacerdócio ao santuáno. Este já não é o templo que promoveu a glória de Salomão. Os escritores sacerdotais elaboram seu programa de renovação, remontando às origens mosaicas. Seu projeto inspira-se na tenda do deserto, ainda que sua realização deva algo à idéia do templo salomônico. O nome habitual é Tenda da Reunião - difícil traduzir a expressão - ou, por vezes, a Habitação. A tenda é instalada no meio do campo e acompanha os israelitas em suas peregrinações.
A construção do santuário se dá no Sinai (Ex 25-31.3540). Como no antigo Oriente, o modelo é comunicado ao homem por revelação divina e tudo se passa segundo o esquema instrução-realização, um pouco como nos relatos sacerdotais da criação (Gn 1,1 -2,4a) e da construção da arca de Noé (Gn 6,13-22). Esta relação, constatada por outros aspectos é rica de significado. Criação e construção da tenda são os dois eixos da história sacerdotal do Pentateuco: o ato da criação lembra o evento do Sinai; o culto celebrado na tenda é necessário à estabilidade da ordem criada. Não se poderia sublinhar melhor a função cósmica do culto que o simbolismo dos antigos templos orientais vinha reforçar.
Terminados os trabalhos, Deus expressa sua presença na tenda por uma teofania, tal como o fez no templo contemplado por Ezequiel. Uma primeira manifestação pode ser lida em Ex 40,34-35, no fim de um capítulo que faz as vezes de reprodução e de resumo dos precedentes; mas Moisés não pode entrar na tenda. A teofania final (Lv 9,22-24) segue a investidura dos sacerdotes e sua entrada em função. Moisés e Aarão são, então, autorizados a penetrar na tenda e a glória de Javé aparece para o povo. A presença divina só é plenamente eficiente em santuário provido de sacerdócio equipado para seu serviço.
Sacerdócio e santuário estão ainda unidos por uma consagração conjunta. Que ambos deviam ser consagrados está na ordem normal das coisas. Já o desejo dos redatores de associar os dois ritos é tanto mais notável (ver Ex 29,43-46; 30,26-30; 40,9-13). Se o santuário é santo em sua totalidade, nem todos os seus componentes o são em grau semelhante. Esta gradação é observável na estrutura do edifício, mas também nas técnicas de fabricação, na riqueza de cada material utilizado, na qualidade e brilho das cores escolhidas. O sacerdócio entra neste sistema de participação desigual à santidade.
O sacerdócio de Aarão
A recorrência da fórmula "consagrado para exercer o sacerdócio para mim" (Ex 28,3.41; 29,1.44; 30,30; cf. 40,13) torna manifesta a dependência do sacerdote em relação a uma consagração, bem como seu vínculo exclusivo ao Senhor. A consagração transmitida pela mediação de Moisés estabelece Aarão em um estado de santidade que o torna apto a aproximar-se de Deus no culto. E a figura de Aarão que incorpora o valor eminente do sacerdócio.
O ritual compreende banho de purificação, vestidura e unção (Ex 29,4-7; 40,13; Lv 8,6-12). Aarao traz oito vestes, as quatro primeiras lhe são próprias: o efod, o peitoral, o manto do efod e o diadema colocado sobre o turbante. A técnica de fabricação, o emprego do ouro e a utilização das três cores -púrpura violeta, escarlate e carmezim - elevam Aarão ao mais alto grau de santidade que um homem poderia alcançar. Os trajes de Aarão fazem entrever a função simbólica que ele ocupa: o efod contém os nomes dos israelitas para que deles se lembre diante do Senhor; por outro lado, o turbante recupera elementos reais. A herança da mediação real aparece ainda mais nitidamente no caso da unção, que, antes do exílio, era o principal rito da entronização real. A investidura - literalmente: o gesto de "encher a mão" - é muitas vezes mencionada ao lado da unção (Ex 28,41; 29,29; cf. Lv 16,32 e 21,10); lembramos do antigo rito de Jz 17,5.12. A cerimônia comporta três sacrifícios na ordem seguinte: sacrifício pelo pecado, holocausto e um terceiro, específico, o sacrifício da investidura (Ex 29,22-28; Lv 8,22-29). O conjunto das festividades dura sete dias. O oitavo dia marca o início das novas funções (Lv 9).
No fim da celebração, Aarão ergue as mãos sobre o povo e o abençoa (Lv 9,22); a bênção é, efetivamente, uma das funções sacerdotais. Ele usa o peitoral do julgamento ao qual estão presos o urim e o tummim: sinal de que ele assume as funções judiciárias e oraculares. O sacerdote recém-investido inaugura suas atividades pelos sacrifícios (Lv 9) e é, sem dúvida, a função sacrifical que passa para primeiro plano. O ritual dos sacrifícios (Lv 1-7), integrado mais tardeao conjunto sacerdotal, deixa entender que o sucessor de Aarão não participa de todos os sacrifícios, mas se requer sua intervenção, quando é preciso levar o sangue à Tenda da Reunião (Lv 4,5.16). No grande dia das Expiações, ele adentra atrás do véu, para cumprir rito de incenso e, com o dedo, aspergir o sangue diante do propiciatório (Lv 16,11-14; cf. Ex 26,31-37). E necessário conhecer essa cerimônia para se compreender o alcance dos desdobramentos da carta aos Hebreus. Eleazar, filho e sucessor de Aarão, preside o ritual da água lustral, e os sumos sacerdotes do século tenderão a essa cerimônia. De maneira geral, o papel expiatório do sacerdócio irá reforçando e aprofundando-se. Reservaram-se a Aarão três atividades principais dentro do santuário: queimar o incenso aromático, preparar as lâmpadas, dispor os pães sobre a mesa (Ex 30,7-8; Lv 24,1-7). Mas a tradição posterior associa-lhe os filhos (Ex 27,21; Nm 4,7).
O sacerdócio dos filhos de Aarão
	O código reconhece a Aarão e à sua família o direito exclusivo de exercer o sacerdócio. Quatro filhos de Aarão lhe são associados nos ritos de investidura: Nadab e Abiú, Eleazar e Itamar. Somente Eleazar herdará o encargo supremo. Seus irmãos representam o segundo grau do sacerdócio e a segunda classe, na ordem de gradação da santidade. Suas vestes, mais simples, reduzem-se a quatro. A participação deles na unção, atestada em passagens secundárias, não é historicamente certa.
	Texto mais recente do livro dos Números enuncia o fundamento de suas atividades: o encargo do santuário e do altar (Nm 18,5). A função sacrifical tem prioridade. Segundo a lei sobre os sacrifícios (Lv 1-7), a função compreende essencialmente os gestos que supõem contato com o altar e a manipulação do sangue. Assim, é o sacerdote que queima os sacrifícios sobre o altar e derrama o sangue em sua base.
	Os sacerdotes conservam funções de ensino. A expressão mais sintética desse fato é dada em Lv 10,10-11, que acrescenta à declaração sacerdotal sobre sagrado e profano, puro e impuro, o ensino dos decretos de Javé (comparar Lv 10,8-11 e Ez 44,21-23). O termo "sacerdote" é confirmado mais de cem vezes na lei de pureza (Lv 11-15): O discernimento a respeito de um caso de impureza opera-se por declaração do sacerdote, que é, também, o principal agente nos rituais de purificação.
	As informações sobre os proventos e meios de subsistência dos sacerdotes encontram-se em composições tardias. Segundo Lv 7,28-34, recebem o peito e a coxa dos sacrifícios de comunhão. O texto de Nm 18,8-19 é mais desenvolvido e mais circunstanciado. Os sacerdotes recebem diversas reservas dos sacrifícios, as primícias da gordura, do vinho novo e do trigo; tudo o que foi atingido pelo anátema, todo primogênito trazido a Javé - ficando claro que o primogênito do homem é resgatado.
O estatuto dos levitas
Desqualificados pela Torá de Ezequiel, ignorados pela lei de santidade, os levitas são nitidamente diferenciados dos sacerdotes pelos escritores sacerdotais. O código sacerdotal não lhes especifica o estatuto; torna-se necessário recorrer aos diversos textos sacerdotais suplementares, esparsos no livro dos Números. Os levitas não pertencem ao mesmo círculo de santidade dos sacerdotes, por conseguinte não podem servir no altar, muito menos por detrás do véu. Situados entre o sacerdócio e o povo, são elos indispensáveis da comunicação com Deus.
Os levitas são designados para o serviço da Habitação ou da Tenda, inclusive de seu mobiliário e transporte (Nm 1,48-53; 3,5-9; 18,2-4). São anexados aos sacerdotes, ao serviço deles, a título de "doados". Seu ministério em Israel depende de eleição por Deus, que os escolhe no lugar dos primogênitos (Nm 3,11-13.40.51). Sua pertença a Javé, substituindo os primogênitos, encontra sua expressão numa cerimônia de consagração descrita em Nm 8,5-22; menos solene que a dos sacerdotes e sem vestidura nem unção. Como proventos terão o dízimo (Nm 18, 20-24).
Separados, os levitas são purificados e ofertados através de gestos de apresentação. São repartidos em clãs: caatitas, gersonitas, meratitas, cuja história mergulha no período do segundo templo.
o sacerdócio do segundo templo
A restauração do sacerdócio
Os programas de restauração completados por Ezequiel, seus discípulos e os escritores da escola sacerdotal testemunham a esperança que invadia os sacerdotes deportados para a Babilônia. O edito de Ciro deixa entrever a realização concreta dessas aspirações, tanto mais que a política do soberano persa favorece o restabelecimento dos cultos. O primeiro ato significativo dos exilados, de volta a sua terra, é a construção de altar no antigo local, condição necessária para a retomada do culto (Esd 3,1-6). Os trabalhos do novo templo se iniciam em 520 e celebra-se a dedicação em 515 (Esd 6,13-18).
A volta do pessoal do templo
A lista dos repatriados é apresentada em Esd 2, que procede indiscutivelmente de seu dúplice em Nm 7. As diferentes maneiras de reagrupar os nomes pode fazer pensar tanto em um amálgama de diversos grupos como em um único retorno a Jerusalém. O documento é principalmente uma espécie de registro dos membros da comunidade judaíta pós-exílica, nas duas primeiras décadas do governo persa.
Os sacerdotes - em número de 4.289 - pertencem a quatro famílias somente; a de Jedeías, de onde é oriundo o sumo sacerdote Josué, é citada em primeiro lugar. O cargo sacerdotal é hereditário e os que não podem provar sua ascendência são excluídos como impuros, até decisão através do urim e tummim (Esd 2,59-63). As fortes rivalidades entre as famílias sacerdotais tornavam espinhosa a reorganização do sacerdócio. Sadoc opusera-se a Abiatar, e Aarão a Moisés (cf. Ex 32; Nm 12). Tempo houve em que os coreítas - um dos clãs levitas da antiga lista de Nm 26,58- reivindicaram o sacerdócio (Nm 16). Um compromisso seria necessário entre os sadocitas, que tinham exclusividade do sacerdócio, segundo a Torá de Ezequiel, e os aaronidas, únicos sacerdotes reconhecidos pelos outros escritos sacerdotais. Mais difícil do que se poderia crer, a sucessão de Aarão é processada por eliminações. Assim, uma disputa sobre o direito de incensar mostra como foram afastadas as famílias dos dois filhos mais velhos de Aarão (Lv 10,1-3). Depois, a família de Eleazar obteve o cargo supremo à custa da de Itamar, reduzido a um papel secundário. Muitas questões teriam de ser resolvidas, na volta do exílio.
Os levitas são diferentes dos sacerdotes. O futuro parece menos promis​sor para eles, em Jerusalém, visto serem apenas 74 indivíduos. Será também difícil para Esdras recrutá-los (Esd 8,15-20). A lista consta de uma única família de cantores, os filhos de Asaf. A assimilação aos levitas dos cantores e porteiros ainda não foi efetuada; na época de Neemias, por volta do século V, os cantores são reconhecidos como levitas e divididos em dois grupos: os filhos de Asaf e os filhos de Idutum (Ne 11,15-18; 1 Cr 9,14-16).
Na classe inferior encontramos os "dados" (cf. Js 9,27) e os filhos dos escravos de Salomão (cf. 1 Rs 9,15-24). Sua história permite compreender a maneira como muitos estrangeiros puderam ser introduzidos no serviço do templo. Ezequiel reage contra essa situação de fato (Ez 44,9).
Josué e os sadocitas
Duas figuras emergem na lista dos repatriados: o sacerdote Josué e Zorobabel, descendente de Davi. Josué é filho de Josedec e neto de Saraías, o último sacerdote-chefe do templo salomônico. São, pois, os sadocitas que retomam o poder.
O programa de restauração do templo recebe o apoio dos profetas contemporâneos Ageu e Zacarias. Ageu indica, respectivamente, Josué e Zorobabel para sumo sacerdote e governador. O título de sumo sacerdote adquiriu, sem dúvida, cidadania no círculo de Josué e acabou impondo-se. Três passagens da primeira parte do livro de Zacarias (Zc 1-8) situam essas duas personagens e suas funções na evolução da estrutura da sociedade. A visão do candelabro de ouro e das duas oliveiras (4,1 -6a.10b-14) designa-oscomo "filhos do óleo", mas numa linguagem que não é exatamente a da unção. São colocados no mesmo plano. Uma ação simbólica (6,9-15) evoca a coroação do sumo sacerdote Josué; é, pelo menos, a lição conservada pela edição definitiva. O vocabulário e o contexto recomendariam, de preferência, a coroação de Zorobabel. O tato aplicado a Josué pode ser um comentário antigo, registrando o desaparecimento da realeza e a promoção do sacerdó​cio. A quarta visão sobre a vestidura de Josué (3,1-7) parece ter sido acrescentada ao esquema das sete visões primitivas. Com o desaparecimento de Zorobabel, esta passagem consagra a importância de Josué, que se torna chefe de sacerdócio renovado e herda algumas prerrogativas reais.
Comunidade dirigida por sacerdotes
O sistema hierocrático estabelecido funcionará durante muitos séculos. No Sinai, preparou-se a instituição do santuário e do sacerdócio aaronida numa breve introdução, que contém uma promessa às afinidades sacerdotais perceptíveis. A declaração que Deus dirige aos israelitas: "Vós constituireis para mim um reino de sacerdotes, uma nação santa" (Ex 19,6), não pretende estabelecer sacerdócio universal do povo, mas apresenta problema de governo: a comunidade restaurada vive como comunidade-templo dirigida por sacerdotes. A contestação do sacerdócio em nome da consagração de todos os membros da comunidade (Nm 16,3) não se impôs.
o sacerdócio e as reservas do cronista
O papel indispensável do rei
O cronista apresenta precioso testemunho sobre a evolução do sacerdócio no fim do período persa (cerca de 350). Firmemente preso ao culto do templo, regulador necessário da vida da comunidade, ele mantém inabalável confiança na salvação, visto os filhos de Aarão serem sacerdotes a serviço de Javé, os levitas oficiarem e o cerimonial do templo desenrolar-se normalmente (2Cr 13,10-12). O autor das Crônicas não segue, porém, a linha de pensamento que cedia aos sumos sacerdotes todas as prerrogativas reais. A maneira como exalta em Davi o organizador do culto, revela um traço característico de sua teologia. Apesar de seu desaparecimento efetivo do cenário político, a realeza mantém lugar de destaque na visão e na esperança do cronista. Sem dúvida, um sumo sacerdote pode entrar em conflito com um rei culpado por ter-se atribuído funções tipicamente sacerdotais (2Cr 26,16-23). Não resta dúvida de que os reis sabem controlar e orientar os assuntos do culto, conforme o demonstram, de modo especial, os exemplos de Ezequias e de Josias. Mesmo o sacerdote Jojada é principalmente lembrado por sua obra de restauração da realeza (2Cr 23-24). O cronista não parece contentar-se unicamente com a supremacia do sumo sacerdote.
As simpatias Levíticas do cronista
O cronista conserva a distinção entre os sacerdotes e os levitas e segue fielmente o ensinamento da Torá, que concede o primeiro lugar aos sacerdotes. Por certos indícios, porém, ele deixa perceber tendência mais favorável aos levitas, e menor entusiasmo quando se refere aos sacerdotes. Não se cala, porém, diante da pouca solicitude dos levitas, em determinada ocasião (2Cr 24,5). Mas não hesita em mostrar o auxílio prestado pelos levitas aos sacerdotes, em seu serviço, porque "estavam mais bem dispostos a se santificar do que os sacerdotes" (2Cr 29,34). Observa, especialmente, que as infidelidades dos chefes dos sacerdotes e do povo macularam o templo e precipitaram a ruína da nação.
Concretamente, uma primeira apresentação sintética das respectivas funções dos sacerdotes e dos levitas é exposta em 1Cr 6,33-34. Davi baseia sempre suas instituições na fidelidade às diretrizes de Moisés, mas ele tem de inovar, quando o estabelecimento da arca na Habitação torna inútil seu transporte. O cronista consagra aos levitas o dobro da atenção dispensada aos sacerdotes e, particularmente, às duas ordens mais significativas: os cantores e porteiros (1Cr 25-26). Atribui-lhes, então, duas funções que lhe são especialmente caras: o louvor dirigido ao Senhor, na alegria e no regozijo, e a inspiração profética, doravante aclimatada no templo (cf. 2Cr 20,14). De outro lado, apresenta-os num papel de juizes ao lado de sacerdotes e chefes de famílias (2Cr 19,8), escribas (2Cr 19,11), ensinantes (2Cr 17,8). Não significa que os sacerdotes tenham abandonado o ensino (2Cr 15,3), mas que os levitas muitas vezes lhes estão associados.
A organização do templo
Na volta do exílio, a situação era confusa, dado o emaranhado de tradições sacerdotais complexas, até contraditórias. Os sadocitas retomam a organização do sacerdócio que detinham antes da ruína do templo, ao passo que a Torá impõe um clero aaronida. O tempo realizou sua obra e o cronista pode operar uma síntese. Levi é o antepassado de onde vieram Aarão e Moisés; a herança de Aarão transmite-se a Eleazar, depois a Pinhas; Sadoc entra na lista que prossegue, sem interrupção, até o pai de Josué (1 Cr 5,27-41). As três classes de cantores, Emá, Asaf e Etá, são ligadas aos três filhos de Levi: Caat, Gersam e Merari (1 Cr 6,16-32). A assimilação aos levitas de diversas funções no serviço da Habitação acha-se atestada nos três versículos que comandam a nova organização do templo (1 Cr 23,3-5). Salvo a menção em lCr 9,2, os livros das Crônicas não se referem aos "dados", que só são citados nos livros de Esdras e de Neemias.
Os capítulos 24 a 27 introduzem novidade na história do sacerdócio: a divisão em 24 classes, que se perpetuará até a época do Novo Testamento. As quatro famílias do tempo de Josué tornaram-se 21, sob seu sucessor Joaquim (Ne 12,12-21). A apresentação das classes sacerdotais registra o acordo firmado entre as famílias sacerdotais: a família de Sadoc é integrada à classe dominante de Eleazar, ao passo que a de Abiatar permanece ligada ao ramo restante de Itamar (1Cr 24,1-6). Joiarib antecede Jedeías no topo da lista: ele é o antepassado dos Macabeus (24,7). Estes capítulos apresentam marcas de duas fases redacionais. A segunda redação seria atribuída a um revisor pró-sacerdotal, que reencontramos em Esd 1-6. Seu fito seria o de justificar a legitimidade do templo de Jerusalém e de seu culto, após provável divisão de seu sacerdócio, o estabelecimento da comunidade samaritana e os primeiros movimentos para a construção de um templo sobre o monte Garizim. O sistema das 24 classes, estendido aos levitas, poderia remontar aos primeiros anos do governo grego, ou mais remotamente, inteiramente ao fim do período persa.
As infidelidades do sacerdócio
A ação dos reformadores do século V
Participando, em graus diferentes, da santidade do lugar onde serve a Deus, o sacerdote é submetido a exigências de pureza específicas. Esta noção de pureza dominava os sacerdócios do Antigo Oriente Médio. Em geral, esta pureza era de ordem ritual e não evitava, na vida privada, comportamentos muito diferentes, segundo a mentalidade de cada um. Em Israel, exige-se a santidade do sacerdote na proporção de sua proximidade de Deus, no cumprimento dos ritos sacrificais. Por outro lado, desde as origens, é forte a insistência na responsabilidade do sacerdote quanto ao ensino da Lei. Ora, um fato importante marca o fim do século V: o reconhecimento da Torá - nosso Pentateuco- como lei de Estado, como texto normativo da vida religiosa judaica. Atribui-se essa canonização ao sacerdote-escriba Esdras, cuja genealogia foi levantada através de Sadoc até Aarão. O vínculo entre o sacerdócio e a Torá é forte demais para deixar de gerar uma conduta prática exemplar.
Os fatos ficam longe de corresponder ao ideal. Ao longo de sua segunda missão, em 433, Neemias teve de intervir inúmeras vezes. Numa comunidade cujas crises internas exigiam afirmação mais enérgica de sua própria identidade, impunha-se o afastamento de estrangeiros. O alto sacerdócio dava mau exemplo, pactuando com os inimigos de Neemias e da comunidade (cf. Ne 2,10). Neemias usa de energia para expulsar Tobias, o amonita, que fora acolhido em uma das salas do templo (Ne 13,4-9). Ele deve expulsarum dos filhos do sumo sacerdote Joiada que se tornara genro de Sanabalat, o horonita (Ne 13,28). No contexto da época, o casamento com mulheres estrangeiras revestia-se de importância primordial e a lista de Esd 10,18-24 atesta as irregularidades que os sacerdotes se permitiam.
Malaquias e a purificação do sacerdócio
A situação enfrentada por Malaquias, por volta do século V, é semelhante à que Neemias encontra (pouco anterior). Seu texto parece apoiar-se mais no Deuteronômio do que na lei sacerdotal, da qual não conhece ainda as aplicações. Duas séries de censuras (1,6-14 e 2,10.16) enquadram a advertência de castigo (2,1-9). Referem-se, essencialmente, às negligências dos sacerdotes que oferecem para os sacrifícios vítimas inaceitáveis e aos casamentos mistos, no caso de a fórmula de 2,11 fazer alusão ao casamento de um sacerdote com uma estrangeira.
O julgamento baseia-se numa realidade cuja expressão é única na Bíblia, a aliança com Levi (Ml 2,3). Enquanto os textos tardios de Jr 33,20-26 e Ne 13,29 falam de aliança com levitas, a anotação em Nm 18,19 especifica "uma aliança eterna pelo sal diante de Javé para ti e tua descendência". Por exaltar a função de ensino de Levi, os versículos que seguem estão na linha de Dt 33,8-11. Esta menção da aliança abre perspectivas teológicas interessantes. As críticas de Malaquias testemunham alto conceito do sacerdócio. Para parafrasear sentença conhecida, ele não critica os sacerdotes por serem sacerdotes, mas por não mais o serem.
o Dêutero-Zacarias e a crítica dos pastores
Existe consenso geral para desligar Zc 9-14 dos oráculos e visões do profeta do retorno do exílio. Há, porém, tanta divergência sobre a datação desse conjunto, que acabamos diante de uma coleção de elementos de proveniência diversa. Esses capítulos não se referem ao sacerdócio, mas a alegoria dos pastores (Zc 11,4-17) poderia ocultar algumas alusões aos sacerdotes. A multiplicidade das proposições traduz a dificuldade da interpretação e a identificação dos pastores permanece hipotética. Os dois pontos anunciados na palavra de Javé, em 11,4-6, são retomados na continuação do texto: 4-5 em 7-14 e 6 em 15-17. Sabemos que o rei é tradicionalmente representado pela imagem do pastor, e a vacância do poder real depois do exílio transferiu para os sacerdotes algo das prerrogativas do rei. Vimos, entre outros, nos vendedores de 11,4 negociantes sem escrúpulos pertencentes às classes dirigentes sacerdotais, ao passo que pastores poderiam aspirar a sumos sacerdotes. O mesmo se daria com os três pastores que Deus fez desaparecer em um mês (v. 8a), mas essa sentença é reconhecida como glosa e qualquer precisão permanece arriscada. Dado o uso que o Novo Testamento faz de Zc 9-14, é tentador ver sacerdotes por trás da imagem de pastores. De qualquer forma, as críticas dos profetas exprimem certo mal estar no sacerdócio - no fim da época persa e inicio da dominação grega - do qual o cisma samaritano não é o menor sintoma. 
O SUMO SACERDOTE (apêndice)
	O Sumo Sacerdote era o chefe da nação judaica, visto que possuía contemporaneamente a autoridade religiosa e a autoridade civil.
	Do ponto de vista religioso o seu prestígio e os seus poderes provinham da própria natureza do cargo: o Sumo pontificado era uma função santa e era um privilégio dos descendentes de Aarão: ‘À morte de Aarão, lhe sucederam seus filhos, e em seguida esta honra foi dado a seus descendentes: por isso, ninguém podia se tornar sacerdote de Deus se não pertencesse ao sangue de Aarão; ninguém de outra família, nem mesmo o rei, podia aspirar o sacerdócio’. O sumo sacerdote era o representante oficial do povo diante de Deus, o guarda dos direito do Templo, o ministro do culto nacional, o chefe dos sacerdotes e dos levitas.
	Teoricamente e legalmente, o cargo era vitalício e hereditário; porém no tempo de Jesus, os procuradores romanos nomeavam e destituíam os Sumos Sacerdotes ao próprio gosto, como tinha feito Herodes, o Grande, e 15 Pontífices se sucederam do ano 37 aC. Ao ano 36 dC. Todavia, pelo caráter indelével, os ex titulares conservavam o seu título e tinham uma notável influência.
	O autor do Eclesiástico nos deixou a descrição das vestes litúrgicas do Sumo Sacerdote (45,6-13) e o quadro de uma cerimônia celebrada no Templo pelo Sumo Pontífice (50,5-21). Do tempo de Herodes, as vestes e as insígnias pontificais eram conservadas na fortaleza Antônia e entregues ao titular somente para as festas; esta medida vexatória terminou no 36 dC., depois da deposição de Pilatos.
	No campo dos afazeres temporais o Sumo Sacerdote exercia uma influência predominante. Como chefe do Sinédrio, exercia as funções de primeiro magistrado do estado judaico, e a sua autoridade em matéria política era limitada somente por aquela dos procuradores.
 O Sumo sacerdote depois dos Asmoneus
	Desaparecidos os Asmoneus, que faziam de rei e Sumo Sacerdote simultaneamente, os titulares do supremo pontificado foram escolhidos entre algumas famílias particularmente influente, que constituíam em Jerusalém uma espécie de ierocracia. Este apego ao cargo supremo provocava ciúmes e lamentos, dos quais se encontra ecos no Talmud (Cfr. O sacerdócio na Biblia, p.54 — Cadernos Bíblicos, 61).
	Os membros mais destacados destas famílias eram chamados sumo sacerdotes, mesmo quando não tinham nunca tido a honra de sê-lo. 
	Entre os sumos sacerdotes que ocuparam o cargo durante o tempo de Jesus, dois são particularmente conhecidos: Anás e Caifás. Anás ou Hanan (Lc 3,2; Jo 18,13) devia sua nomeação a Quirino, que o designou para o supremo pontificado no ano 6 dC., e também por uma habilidade extraordinária. Destituído no ano 15 pelo procurador Valério Graco, conservou um crédito considerável até o fim de sua longa existência. O histórico Flávio Josefo (José) nos apresenta Anás como um homem de sorte, porque cinco de seus filhos foram sucessivamente elevados à honra do supremo pontificado, como também o seu genro Caifás. Este foi constituído sumo sacerdote pelo mesmo procurador que tinha deposto seu sogro. Era o quarto sucessor de Anás. Ele soube inspirar confiança à administração romana porque permaneceu no cargo de 18 a 36, quando foi deposto por Vitélio. Caifás era o sumo sacerdote no tempo da paixão de Jesus (Mt 26,3; Jo 11,49; 18,13).
OS SACERDOTE E OS LEVITAS
	O serviço no Templo era assegurado por um colégio sacerdotal numeroso e dividido em sacerdotes e levitas. Todos pertencentes à antiga tribo de Levi. Formavam dois grupos claramente distintos pela importância e pelas funções.
Os sacerdotes
	Eram divididos em 24 classes que serviam a turno. Lc (1,5) recorda a classe da Abias à qual pertencia Zacarias. Os sacerdotes eram designados por sorteio para os diferentes ofícios (Lc 1,9). Algumas tarefas particularmente importantes que exigiam titulares permanentes eram confiados aos membros das famílias sacerdotais que viviam estavelmente na Cidade santa e constituíam a aristocracia sacerdotal. A maior parte dos outros sacerdotes residiam seja em Jerusalém seja na redondeza (Lc 1,23). Alguns habitavam nos burgos e nos vilarejos agrícolas da Judéia. O seu número era considerável; Flávio José fala de 20.000 sacerdotes.
	O seu ministério consistia em funções litúrgicas complicadíssimas. A sua ciência era exclusivamente aquela dos ritos e das cerimônias. O caráter sagrado, do qual eram revestidos, garantia a eles o respeito dos fiéis. Os sacerdotes juravam de honrar e praticar a Lei, que garantia a sua situação e os seus privilégios, mas não se interessavam nem do estudo da Torá nem das discussões escolásticas. Os representantes do alto sacerdócio eram particularmente ciumentos em conservar a sua autoridade e de aumentar o seus ganhos, invés de desenvolver o sentimento religioso do povo e de trabalhar pelo advento do reino de Deus sobre a terra. Os aristocratas do clero judaico, satisfeito por um estado de coisas cuja duração era interessante, professavam quase todos as doutrinas dos saduceus em matériadogmática, moral e política.
Os levitas
	Eram os auxiliares e os servos dos sacerdotes no serviço cultual e na manutenção material do Templo. Pela natureza de suas funções, estavam sob ordem e não tinham nenhuma influência sobre a vida espiritual e política da nação. Para viver tinham uma parte do dízimo; mas a sua situação material não era muito abundante, porque a coleta do dízimo era muito irregular, e a parte mais maior era destinada aos sacerdotes.
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1.2. O NOVO TESTAMENTO
1.2.1. O SACERDÓCIO DE CRISTO
A discrição do N.T. sobre o sacerdócio de Cristo
Existência não sacerdotal
	A não ser na carta aos Hebreus, Jesus nunca é chamado sacerdote ou sumo sacerdote no N.T. Ele não possui título algum que possa reivindicar o sacerdócio, visto que provém da tribo de Judá e, se permanecesse na terra, não seria sacerdote (cf. Hb 7,14;8,4). Freqüenta o Templo como fiel entre os fiéis; vai para purificá-lo ou anunciar sua mensagem, provocando grande escândalo entre as autoridades. Nunca realiza serviços no templo. Purifica os leprosos, pratica exorcismo, redime pecados, independentemente de um contexto de rito, ao até envia pessoas ao sacerdote, após a cura (Mc 1,44). Os evangelistas colocaram algumas pistas para uma interpretação sacerdotal do ministério de Jesus, como a bênção ministrada aos seus, no momento de sua partida, que evoca a bênção do sumo sacerdote Simão (Lc 24,51; Eclo 50,20s), ou ainda a túnica inconsútil que faz pensar na do sumo sacerdote (Jo 19,23). No entanto, estes indícios são inexpressivos.
Vida totalmente ofertada
	Mais próxima do contexto sacerdotal é a interpretação sacrifical que se dá à vida e morte de Jesus. A comunidade cristã viu em Jesus o modelo de oferente, convencida que sua doação pessoal constituía oferta perfeita. A morte de Jesus livremente assumida, é a finalização de vida totalmente dedicada ao Pai, na oração e na obediência confiante; ao mesmo tempo é entrega total aos homens, no testemunho da misericórdia divina e na pregação incansável da Palavra.
Se a oferta perfeita de Jesus é da ordem do compromisso existencial e não do sacrifício ritual, os cristãos dispunham de vocabulário sacrifical suscetível de esclarecer alguns aspectos.
- na ceia, Jesus se referiu ao “sangue da aliança” (Mc 14,24; 1Cor 11,25).
- utilizam o registro de resgate, remissão (Mc 10,45), de imolação (1Cor 5,7)
- a tradição afirma que “Cristo morreu pelos nossos pecados” (1Cor 15,3). Os textos judaicos punham cada vez mais em destaque o papel expiatório do sacerdócio. Seguindo esta linha, Paulo declara que Jesus é exposto “como instrumento de propiciação, por seu próprio sangue, mediante a fé” (Rm 3,15). Ef 5,2 “Cristo se entregou por nós a Deus, como oferta e sacrifício de suave odor”. Se existem conotações sacerdotais, nenhum desenvolvimento sistemático é proposto; a carta aos Hebreus conserva toda a sua originalidade.
A consagração na verdade
	Se discute sobre o alcance sacerdotal da oração de Jesus: para que seus discípulos sejam consagrados na verdade, em união com sua própria consagração (Jo 17,17-19). As traduções hesitam entre o sentido de “santificar” e “consagrar”, mais ritual. A consagração existe em função de um serviço. 
A verdade da qual se trata é a revelação do nome do Pai, antes de tudo ao Filho, transmitida aos discípulos, pelo Filho no Filho. O v.17 poderia significar a santificação dos discípulos na verdade, isto é, na participação sempre mais intensa a esta vida, em sua relação com o Pai. Tal santificação é necessária à missão mencionada no v. 18 (cf. Jo 10,36).
O SACERDÓCIO DE CRISTO NA CARTA AOS HEBREUS
Filho e Sumo Sacerdote 
	A aplicação a Jesus do vocabulário sacerdotal representa a maior inovação da carta aos Hebreus. (30 X o título “sacerdote” e “Sumo sacerdote”).
	Logo de início Jesus é chamado de modo absoluto “o Filho”, este título alicerça todos os outros, compreendendo a criação e recapitulação da história da salvação. É o mais apropriado para definir a situação de Cristo, o Filho de Deus e irmão dos homens, Deus plenamente solidário com a humanidade. Esta dupla pertença constitui-se em autêntica mediação: o mediador não é ser intermediário, e este ponto é nitidamente estabelecido desde o início (Hb 1-2). O autor apoia sua convicção na fé pascal esclarecida pela Escritura. A utilização do Sl 2,7 e Sl 110,1 orienta para a vitória celeste do Filho. Mas no simbolismo do abaixamento-elevação, o autor coloca no centro de sua reflexão teológica o sentar-se do Filho à direita do Pai (Hb 1,3; 8,1; 10,12; 12,22). Os outros títulos da profissão de fé cristã, como Senhor e Cristo, integram-se neste belo edifício que manifesta a riqueza da filiação divina de Jesus.
	A carta aos Hb acrescenta outros traços mais originais à figura de Jesus: retoma o título de chefe ou iniciador (At 3,15; 5,31) que etimologicamente, evoca as idéias de começo, de comando de caminhada (Hb 2,10). Acrescenta em 12,2 o termo, único no N.T., de “consumador”, “cumpridor”, aquele que perfaz ou leva a termo. O vocabulário da perfeição apresenta conotações sacerdotais evidentes: o verbo cumprir (alcançar a perfeição) era utilizado para a investidura dos sacerdotes. Na doxologia final (Hb 13,20-21) que corresponde ao prólogo (Hb 1,1-4), Jesus é designado o grande Pastor, o que vem a significar que o filho assumiu a responsabilidade pelos homens. Originalidade se percebe, também, na fórmula “apóstolo e sumo sacerdote de nossa profissão de fé” (Hb 3,1), que põe mais em evidência a mediação da Palavra.
Sumo Sacerdote digno de fé e misericórdia	
	O título de Sumo sacerdote aparece no fim do díptico que estabelece a situação de Cristo em relação a Deus e aos homens. O sacerdócio é aí definido por sua intenção última, a expiação dos pecados do povo, e por duas qualidades que se realizam de maneira eminente em Cristo (Hb 2,17). Jesus é o sumo sacerdote acreditado e o melhor termo de comparação é Moisés, a quem Deus confiou a condução de seu povo. A superioridade de Jesus vem de sua qualidade de Filho e pelo fato de ser estabelecido ‘sobre’ a casa e não ‘na’ casa. A referência mais aparente é Nm 12,7. 
	O segundo qualificativo implica misericórdia que se traduz em atos concretos. A participação na fraqueza, na provação e até na tentação confere a Jesus um sentido agudo da necessidade da graça e do socorro divino que os homens tem. Poder-se-ia dizer que a ausência de pecado torna-o menos solidário com a humanidade, visto marcar uma diferença. No entanto, ela suprime as distâncias e destrói os muros que separam os homens. Por não ter conhecido o pecado Jesus é qualificado para expiar os pecados dos homens. Existe profunda coerência entre misericórdia e expiação.
	Enfim, a autoridade de Jesus lhe vem da força da Palavra de Deus, viva e eficaz (Hb 4,12-13), que transmitida nos salmos, habilita-o como Filho e sacerdote (Hb 5,5-6). Melhor que ninguém Jesus corresponde à definição de sacerdote.
Sumo sacerdote tornado perfeito para a eternidade
	A Escritura homenageia Jesus com o título de sumo sacerdote à maneira de Melquisedec, tornado perfeito, causa de salvação eterna (Hb 5,9-10). O autor prepara o auditório para acolher seus ensinamentos que não provém da catequese rudimentar, mas do árduo aprofundamento teológico (Hb 5,11-6,20). Ao evocar as personagens de Abraão e de Melquisedec e as noções de promessa e juramento, as últimas frases permitem uma retomada e progressão do pensamento (cf. Hb 5,19-20).
	A primeira parte (Hb 7,10) retoma Gn 14. Três argumentos fundamentam a superioridade de Melquisedec: a falta de genealogia favorece principalmente a assimilação ao Filho de Deus; o pagamento do dízimo por Abraão afeta o sacerdócio levítico, do qual ele é o predecessor e a antítese opõe homens mortais àquele que vive; enfim, quando Melquisedec abençoa Abraão, age como superior a ele.
	A parte central (vv 11-19) apresenta-se como midraxe sobre o Sl 110,4, que aplica a Jesus as considerações precedentes. A imperfeição do

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