Buscar

GUSMÃO, PAULO DOURADO DE INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 559 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 559 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 559 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

INTRODUÇÃO AO ESTUDO 
DO DIREITO 
90 
ANOS 
rn Nn 
f Ok ENSE 
<012> 
PAULO DOURADO DE GUSMÃO 
Desembargador  do  Tribunal  de  Justiça  do  Estado  do  Rio  de  Janeiro.  Ex­ 
Professor contratado 
de  Filosofia  do Direito  na  antiga  Faculdade Nacional  de Direito. Da Asociación 
Latinoamericana 
de Sociologia (Buenos Aires). Do Instituto Argentino de Filosofia Jurídica y Social 
(Buenos Aires). 
Da Sociedad de Ciencias Criminales y Medicina Legal (Tucumán, Argentina). Da 
Internationale 
Vereinigung für Rechts­und Sozialphilosophie. Do Instituto Brasileiro de Filosofia. 
Introdução 
ao 
1052 
Estudo do Direito 
20a edição 
Revista com alteraç<*­*>es. 
FORENSE 
Rio de Janeiro 
1997 
<012> 
Titulo até a i edição:
INTRODUÇÃO À CIêNCIA DO DIREITO 
7'edição ­ 1976 !5'edição ­1992 
8'edição ­ 1978 16'edição ­1993 
9'edição ­1982 3 tiragens 
10' edição ­ 1984 17' edição ­1995 
11'edição ­1986 l8'edição ­ I995 
12'edição ­ l986 19'edição ­1996 
I3' edi Fão ­1988 20' edição ­ l997 
14' edição ­1990 
mCopyright 
Paulo Dourado de Cusmão 
CIP ­ Brasil. Catalogação­na­fonte. 
Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ. 
Gusmão, Paulo Dourado de. 
G991  Introdução ao estudo do direito  / Paulo Dourado de Gusmão ­ 20' ed. rev. 
Rio de 
Janeiro: Forense,1997. 
Bibliografia 
1. Direito ­ Filosofia I. Tftulo II. Tftulo: Introdução ao estudo do direito 
CDU ­ 340.12 
/340.14/ 
Proibida  a  reprodução  total  ou parcial, bem como a  reprodução de apostilas a 
partir deste livro, 
de qualquer forma ou por qualquer meio eletrônico ou mecânico, inclusive através 
de processos 
xerográficos, de fotocópia e de gravação, sem permissão expressa do Editor. (Lei 
n" 5.988, de 
14.12.1973.) 
A violação de direito autoral constitui  crime, passível de pena de detenção, de 
três meses a um 
ano, ou multa. Se houver reprodução, por qualquer meio, da obra intelectual, no 
todo ou Šm parte, sem 
autorização expressa do autor, com intuito de lucro, a pena será de reclusão, de 
um a quatro anos, e 
multa. Incorre na mesma pena quem vende, exp<*­*>e à venda, aluga, introduz no 
país, adquire, oculta, 
empresta,  troca  ou  tem  em  depbsito,  com  intuito  de  lucro,  obra  intelectual, 
importando assim violação 
de  direito  autoral.  Na  prolação  de  sentença  condenatória,  ojuiz  determinará  a 
destroição da produção 
ou reprodução criminosa. (Art. I 84 do Código Penal brasileiro, com nova redação 
dada pela Lei n"
8.635, de 16.03.1993.) 
A  EDITORA  FORENSE  não  se  responsabiliza  por  conceitos  doutrinários, 
concepç<*­*>es ideoló­ 
gicas,  referências  indevidas  e  possfveis  desatualizaç<*­*>es  da  presente  obra. 
Todos os pensamentos aqui 
exarados são de inteira responsabilidade do autor. 
Reservados os direitos de propriedade desta edição pela 
COMPANHIA EDITORA FORENSE 
Av. Erasmo Braga, 299, ­1", 2" e 7" ands. ­ 20020­000 ­ Rio de Janeiro ­ R1 
Rua Senador Feijó,137 ­ 01006­OOI ­ São Paulo ­ SP 
Rua Guajajaras,1.934 ­ 30180­101­ Belo Horizonte ­ MG 
A meu pai, Chrysolito de Gusmão, meu modelo, 
a Laura Autran Dourado de Gusmão, minha mãe, 
e a Francisca Dourado de Gusmão, que a substituiu. 
A Izabel (Isá), aos nossosfilhos, Teresa Cristina e Paulo, 
e aos nossos netos, Maria Izabel, Laura Beatriz, 
Lucas e Luiz Henrique. 
Impresso no Brasil 
Printed in Brazil 
<012> 
DO MESMO AUTOR 
<*­*>  Curso  de  Filosofia  do  Direito,  Rio  de  Janeiro,  Freitas  Bastos,1950 
(esgotado). 
<*­*>  El  Pensamiento  Juridico  Contemporáneo,  Buenos  Aires,  Abeledo,  1953, 
(com prefácio de Cados 
Cossio). 
<*­*>  O  Pensamento  Juridico  Contemporâneo,  São  Paulo,  Saraiva,1955 
(esgotado). 
<*­*>  Manual  de  Direito  Constitucional,  Rio  de  Janeiro,  Freitas  Bastos,1957 
(esgotado). 
<*­*> Introdução à Sociologia, Rio de Janeiro, Dasp,1959 (esgotado). 
<*­*> Introdução à Teoria do Direito, Rio de Janeiro, Livraria Freitas Bastos,1962 
(esgotado). 
<*­*> Filosofia do Direito, Rio de Janeiro, Freitas Bastos,1966 (esgotado).
<*­*> Filosofia Atual da História, Rio de Janeiro, Forense,1968 (esgotado). 
<*­*> Elementos de Direito Civil, Rio de Janeiro, Freitas Bastos,1969 (esgotado). 
<*­*> Teorias Sociológicas, 3' ed., Rio de Janeiro, Forense,1972. 
<*­*>  Introdução  à  Ciência  do  Direito  de  A  a  Z,  Forense,  Rio  de  Janeiro,1972 
(esgotado). 
<*­*> Manual de Sociologia, 6' ed., Rio de Janeiro, Forense,1983. 
<*­*> Dicionário de Direito de Familia, 2' ed., Rio de Janeiro, Forense,1987. 
<*­*> Filosofia do Direito, Rio de Janeiro, Forense,1994. 
<*­*>  `  `La  definizione  del  diritto''  (Rivista  Internazionale  di  Filosofia  del 
Diritto,1950). 
<*­*>  `  `Prolegbmeoos  a  la  filosofía  del  derecho''  (Revista  de  la  Facultad  de 
Derecho, Tucumán,1954, 
n"  11.  Foi  também  publicado  na  Revista  de  Derecho  Público,  Tucumán,1954, 
n"<*­*> I­2). 
<*­*> ` `Prolegomeni alla filosofia del diritto'' (Rivista Internazionale di Filosofia del 
Diritto,1956). 
<*­*> 
"Derecho como cultura " (Humanitas, Tucumán,1956, n" 7). 
<*­*>  "Norme,  fait  et  droit"  (Archivfiir  Rechts­und  Sozialphilosophie, 
Wiesbaden,1959, XLV­I). 
<*­*> ` `O homo juridicus'' (Estudos Juridicos­Sociales, homenage al Profesor Luis 
Legaz y Lacambra, 
Universitad de Santiago de Compostela,1960, tomo I). 
<*­*>  "Droit,  expression  de  la  culture.  Structure  et  caractŠre  du  droit  comme 
oeuvre cúlturelle. 
Connaissance  juridique''  (Mélanges  en  I'Honneur  de  Paul  Roubier,  Paris, 
Librairies Dalloz & 
Sirey,1961, tome I, PremiŠre Partie, p. 221). 
<*­*>  `  `Droit  comparé''  em  Études  offertes  à  Jacques  Lambert,  Paris,  Éditions 
Cujas,1974. 
<012> 
SUMÁRIO 
Nota à 20" Edição. . 
Nota à 19"Edição. . 
Notaà 18"Edição. . . 
Nota à 17"EdigãO. .
Nota à 16"Edição. . . 
Nota à 15" Ediçâo. . 
PRIMEIRA PARTE ­ INTRODUÇÃO 
I ­ Ciência do Direito. Técnicajuridica Presunç<*­*>es e ficç<*­*>es. Métodos. 
Sistemajuridico.FilosofiadoDireito .................. ....... ..... 
II ­ Relaç<*­*>es da Ciência Juridica com outras ciências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 
III ­ Direito e sociedade. Natureza e cultura. Direito, fenômeno 
sociocultural .. .............. .................. ......... ...... 
SEGUNDA PARTE ­ TEORIA DO DIREITO 
IV ­ Direito. Definição e elementos. Direito positivo e Direito natural. 
Direito objetivo. Instituiç<*­*>es e ordem juridica. lícito e ilicito. 
Validade, vigência, eficácia e legitimidade. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 
V ­ Direito e moral. Direito, eqüidade ejustiça. Direito, <*­*>normas sociais 
e lei fisica.Normatécnica .................... . ..... ........... . 
VI ­ Normajuridica. Caracteres; sanção e classificação. Destinatários 
da normajuridica ....................... .......... ..... . ...... 
VII ­ Direito comum e particular. Direito geral, especial e de exceçâo. 
Direito singular e uniforme. Privilégio. Direito coercitivo e dispositivo. 
Normafundamental, secundária e derivada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 
VIII ­ Lei constitucional e lei ordinária. Lei auto­aplicável e lei regulamentável. 
Lei rígidaeleielástica ... ................... ...... ......... . ... 
IX ­ Fontes materiais efontesformais do Direito. Matéria das regras 
de Direito ..... ...................... .......... ....... ........ 
X ­ Fontes estatais do Direito. Constituição. lei. Regulamento, medida 
provisória e decreto­lei. 
XI  Direito  consuetudinári<*­*>o.  Valoreprova  do  costume.  Evolução  do<*­ 
*>costume<*­*>. . . . . . . . . 
XII ­ Fontes infra­estatais do Direito. Contrato coletivo de trabalho. 
Jurisprudênciaedoutrina .. ........... . ......... .......... .. .. 
105 
115 
121 
<012> 
X
Paulo Dourado de Gusmão 
XIII ­ Fontes supra­estatais do Direito. Tratadointernacional. Costume 
internacional e principios gerais do Direito dos povos civilizados. . . . . . . . . . 129 
XIV ­ Codificação. Recepção de Direito estrangeiro. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 133 
TERCEIRA PARTE ­ ENCICLOPÉDIA JURÍDICA 
XI
Introdução ao Estudo do Direito 
medieval. Direito privado na Idade Média. Direito feudal, c  as cidades e das 
corporaÇ<*­*>es de mercadores. Os glosadores. Direito canônico. Formação do 
Direito privado ocidental. Do Direito moderno ao Direito contemporâneo. . 269 
XXXII ­ Evolução de institutosjuridicosfundamentais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 
291 
XXXIII ­ Sistemajurídico brasileiro. Formação e evolução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 
. . 305 
XXXIV ­ Evoluçãodosregimespoliticos ...................... ..... ......... 315 
XV  ­ Divisâo do Direito. Direito público e Direito 
privado. Direito misto.SÉTIMA PARTE ­ ESTADO E DIREITO 
Direito interno e Direito internacional. . .  . . . . . . . 
. . . . . . . . . .  . . . .  .  .  141 
XVI  ­  Direito  internacional  e  suas  divis<*­*>es.  Orga1sizaç<*­*>es 
internacionais.    .  ..      ..      147      XXXV  ­  Estado  e  Direito..      ......................    . 
.......................  327 
XVII ­ Direito público interno e suas divis<*­*>es. . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 
. . . .  163 
XVIII ­ Direito privado e suas divis<*­*>es........ ...                   .............. ........... 
177                  OITAVA PARTE ­ CONCEITO E FuNDAMENTO DO DIREITO 
XIX ­ Direitomistoesuasdivisôes ......     .....   ...................   ......    .    183 
XX  ­  Inter­relaç<*­*>es  entre  os  vários  Direitos.  Pluralismo  de  Direitos. 
Antinomia.  .  .  .    195      XXXVI  ­  Conceito  efundcimento  do Direito.  Direç<*­*>es 
dopensamentojuridico. . . . . . . . . . .  351 
QUARTAPARTE­HERMENêUTICAJURÍDICA 
Bibliografia ...................... 
............ .........  .. .......... .....  387 
Índice de Nomes .........................................................  399 
XXI  ­  AplicaçãodoDireito.Obrigatoriedadedalei.ErrodeDireito  .............. 
205
ÍndicedeMatérias................  .......... ........................  .......  407 
X  XII 
Índice Geral.........................................................  425 
­  Métodos  de  interpretação  da  lei.  Revelação 
cientifica do Direito. 
Direitolivre  ..  ...  .  ........  ....  ......    .  .  ...  ................ 
211 
XXIII  ­ Interpretação da lei. Espécies e resultados                      . .. ...... . ............  . 
217 
XXIV  ­ Lacunas do Direito. Analogia e principios 
gerais do Direito. Criação 
do Direito .....................................................  221 
XXV  ­ Eficácia da lci no tempo. Revogação da lei. 
Desuso. Retroatividade e 
irretroatividade ..............................................  227 
XXVI  ­ Eficácia da lei 1to espaço. Principio do 
domicilio e da nacionalidade. 
Teoria  dos  estatutos.  Aplicação  do  Direito 
estrangeiro...  ................  231 
QUINTA PARTE ­ RELAÇÃO JURÍDICA 
XXVII  ­ Relaçãojuridica, noção e espécies. Prescrição e decadência. Tutela 
dasrelaç<*­*>esjuridicas ..................... ...............                237 
XXVIII  ­ Direito subjetivo. Teorias e classificação. Aquisição, modificação e 
extinção de direitos. Faculdade, estado e posiçãojuridica. 
Deverjuridico, espécies. Abuso do Direito.. ... . .... ... .. . . .....   243 
XXIX  ­ Eleinento pessoal da relação juridica. Pessoa riatural e pessoa 
juridica ............... ...............................  253 
XXX ­ Fontes do Direito subjetivo. Fato, ato e negóciosjuridicos. Ato ilicito. 
ObjetodoDireito ...... ...... ... .... .. . .... ..... ........ .         259 
SEXTA PARTE ­ HISTÓRIA DO DIREITO 
XXXI ­ Evolução do Direito positivo. Formalismo do Direito arcaico. Direito egipcio, 
babilônico e hebraico. Código de Manu. Direito grego arcaico, romano e 
<012> 
NOTA À ZOg EDIÇÃO 
Ao  entregar  ao  editor  esta  edição,  lembrei­me  da  preocupação  que  tive,  por 
ocasião de seu 
lançamento,  com  a  sua  acolhida  pelos  leitores  (professores  e  alunos).  Desde 
então, em cada edição, 
posiciono­me como crítico de meu próprio trabalho, revendo­o com o objetivo de 
tomá­lo mais
límpido,  claro,  preciso  e,  se  possível,  completo.  Eis,  por  um  lado,  a  razão  das 
sucessivas revis<*­*>es, por 
outro, talvez porque, como disse Gilles Deleuze, "escrever 6... sempre inacabado, 
sempre em vias de 
fazer­se". Seja porque for, deles, professores e alunos, devo as seguidas ediç<*­ 
*>es deste livro, razão por 
que a eles meus agradecimentos. 
Rio de Janeiro, maio de 1996 
Paulo Dourado de Gusmão 
<012> 
XIV 
Paulo Dourado de Gusmão 
XV 
Introdução ao Estudo do Direito 
A preocupação com a precisão dos conceitos, com a clareza e a exposição com 
síntese das idéias 
levou­nos  a  emendar  novamente  as  provas  tipográficas,  fato  que  retardou  a 
publicação desta edição e 
que obrigou a Forense a lançar duas tiragens da 16a edição. 
Agradecemos, mais uma vez, a professores e alunos pela acolhida desta obra. 
Rio de Janeiro, dezembro de 1994 
NOTA À 19a EDIÇÃO 
O leitor, perplexo, há de dizer: "Será que o autor não acaba de rever esta obra?! 
pois cada edição 
(ejá são dezenove!) é apresentada como sendo revista...". 
Tem razão esse imaginário leitor de estar perplexo; mas o fato é que não posso 
satisfazer de uma 
vez o meu desejo de perfeição, que me induz, a cada edição, a encontrar forma de 
aperfeiçoar o meu 
estilo,  o  modo  de  transmitir  o meu  pensamento  e  (quantas  vezes)  considerá­lo 
incompleto, levando­me 
a desenvolvê­lo, respeitando a finalidade deste livro.
Explicada  a  razão  das  constantes modificaç<*­*>es do  texto,  que  decorrem da 
impossibilidade de 
ser alcançada a perfeição desejada, agradeço a professores e alunos a acolhida 
desta obra. 
Rio de Janeiro, novembro de I 995 
Paulo Dourado de Gusmão 
Paulo Dourado de Gusmão 
NOTA À 16a EDIÇÃO 
A presente edição, apesar da brevidade de tempo que a separa da precedente, 
foi revista pelo 
autor para obter maior clareza e precisão. Além desse retoque, muitos parágrafos 
tiveram acréscimos, 
como, por exemplo, o  referente a  "Direito e Economia''  (§ 24), à  `  `Comunidade 
Européia'' (§ 96), ao 
` `Direito Comum'' (§ 166), a ` `Negócio Jurídico'' (§ 155), o que trata "Do Direito 
Modemo ao Direito 
Contemporâneo'' (§ 166) etc. 
Terminando, além do reconhecimento da enorme dívida para com a Biblioteca do 
Tribunal de 
Justiça  do  Estado  do  Rio  de  Janeiro,  nossos  agradecimentos  à  Izabel,  esposa 
paciente e incentivadora 
de nosso trabalho, bem como a professores e alunos pela acolhida deste manual, 
cuja finalidade 
principal é toroar acessível os caminhos do Direito aos que estão se iniciando em 
seu estudo. 
Rio de Janeiro, novembro de 1992 
NOTA À 18a EDIÇÃO 
Esgotada antes do tempo previsto a edição anterior, conseguimos apesar disso, 
aprimorá­la 
literariamente e retificá­la em alguns pontos. 
Agradecemos, mais uma vez, a professores e alunos pela acolhida desta obra. 
Rio de Janeiro, maio de 1995
Paulo Dourado de Gusmão 
NOTA À 17a EDIÇÃO 
Emile Faguet (1847­1916), abrindo a sua Petit Historie de la Littérature, escreve: 
"Este livro 
destina­se, como o seu título indica, a abrir caminho ao principiante, a satisfazer e 
estimular as suas 
primeiras curiosidades". Aproveitando o que escreveu o acadêmico francês, temos 
a dizer que 
entregamos  mais  esta  edição,  com  alguns  acréscimos  erevista,  que,  como  as 
anteriores, tem porobjetivo 
"estimular as primeiras curiosidades" do `principiante' nas letras jurídicas. 
Paulo Dourado de Gusmão 
NOTA À 15' EDIÇÃO 
Por duas vezes esta obra sofreu profundarevisão: a primeira, na preparação da 
terceira edição, e a 
segunda,  agora.  Aquela  motivada  pelo  fato  de  as  duas  ediç<*­*>es  anteriores 
terem­na transformado em obra 
teórica  num  grosso  volume,  contendo muita  erudição  e  amplo  desenvolvimento 
dos temas, servindo, assim, 
mais  à  consulta  do  que  à  introdução  do  estudante  nas  letras  jurídicas.  Não 
atendia, pois, ao que indicava o 
seu título e, muito menos, ao nosso propósito. Foi, assim, que a pahir da terceira 
edição transferimos a 
erudição  para  notas  de  rodapé,  enquanto  o  texto  foi  enxugado,  sendo 
praticamente reescrito com espírito de 
síntese, tendo presentes a clareza e a precisão dos conceitos, observando plano 
mais ordenado, partindo da 
noção de ciência do direito para as noç<*­*>es filosóficas, tendo de entremeio os 
conceitos fundamentais, a idéia 
dos  vários  campos  jurídicos,  a  hermenêutica  comum  a  todos,  e  noç<*­*>es  de 
sociologia e história do direito 
indispensáveis ao estudojuridico. Procuramos, portanto, dar, na medida de nossas 
possibilidades, uma visão
global  de  todo  o  panorama  jurídico  para  que  o  iniciante  tivesse  conhecimentos 
úteis ao curso jurídico. 
Naquela época, tínhamos tempo para executar essa tarefa Mas as ediç<*­*>es se 
sucederam ganhando notas de 
rodapé, salvo a sétima ( 1976), que teve algumas alteraç<*­*>es, dentre as quais a 
inclusão do capítulo ` `Direito 
e Sociedade". Entr<*­*>anto, o nosso tempo já havia se encurtado com o exereício 
da magistratura, que 
<012> 
XVI 
Paulo Dourado de Gusmão 
passamos a exercer, bem como com a aventura em que nos metemos de escrever 
um dicionário de 
Direito,  que  acabou  no  Dicionário  de Direito  de  Fc<*­*>?ia.  Safiam  ediç<*­*>es 
posteriores desta obra, e o projeto 
de reexaminá­la cuidadosamente foi adiado. 
Agora,  aposentado,  não  poderfamos  permitira  publicação  da  15'  edição,  que, 
mais ou 
menos,  corresponde a  quinze anos  de presença desta  obra  nos meios  jurídico­ 
universitários, sem 
revê­la. Foi assim que nos entregamos ao trabalho cansativo de revisão do texto e 
de noç<*­*>es, da 
primeira  à  última  página  do  livro,  atualizando­o,  levando  em  conta  até 
acontecimentos históricos 
recentes  importantes  para  a  ordemjurídica.  Para  isso,  sacrificamos  nosso  O 
Pensamento Juridico 
Contemporâneo,  há  muito  esgotado,  que  estávamos  reescrevendo,  bem  como 
adiamos a atualiza­ 
ção  do  nosso  Dicionário  de  Direito  de  Fcnnilia.  Mas,  no  final,  verificamos  ser 
necessário o 
sacrifício  dessas  obras  e  de  horas  de  lazer,  porquanto  a  obra  precisava  de 
revisão, como o leitor 
poderá verificar comparando­a com a edição anterior. 
Mais  uma  vez  ­  e  é  sempre  bom  quando  se  pode  repetir  ­  nossos 
agradecimentos a professores 
e alunos pela acolhida desta modesta obra, que tem por único propósito tornar o 
Direito acessível aos 
que iniciam o curso jurídico. 
Não  podemos  deixar  de  manifestar  também  os  nossos  agradecimentos  à 
Biblioteca do Tribunal 
de  Justiça  do  Estado  do Rio  de  Janeiro,  especialmente  às  bibliotecárias Telma 
Sevalho de Almeida
Neves,  Maria  do  Carmo  de  Almeida  Silva,  Liane  Maria  de  Abreu,  Sônia  Maria 
Teixeira de Melo, Sheila 
Faria  e  Renata  Mônica  Requião  Strong,  que  nos  ajudaram  muito  em  nossas 
pesquisas, e a Izabel (Isá), 
a esposa que nos incentivou sempre com o seu carinho e compreensão. 
Rio de Janeiro, março de 1991 
Paulo Dourado de Gusmão 
Primeira Parte 
INTRODU<*­*>ÃO 
<012> 
I 
CIÊNCIA DO DIREITO ­ TÉCNICA JURÍDICA­ 
. 
PRESUNÇÊES E FICÇÊES ­ METODOS­ 
, 
SISTEMA JURIDICO ­ FILOSOFIA DO DIREITO 
1. CIÊNCIA DO DIREITO 
De modo muito geral, pode­se assim definir a ciência do direito: conheccmen­ 
tos, metodicamente coordenados, resultantes do estudo ordenado das normas 
juridicas com o propósito de apreender o scgncficudo objetivo das mesmas e de 
construir o sistema juridico, bem como de descobrir as suas raizes sociais e 
históricas.' Cabe­Ihe, principalmente, construir o sistema jurídico, também de­ 
nominado ordenamento jurídico, ou seja, a ordenação das normas do direito de 
um país (brasileiro, francês etc.), bem como formular conceitos e teorias jurídi­ 
cas. As idéias dos juristas que a construíram, isto é, dos jurisperitos, ou, como 
são entre nós conhecidos, jurisconsultos, como, por exemplo, as de Clóvis 
Beviláqua ou de Pontes de Miranda, muitas vezes tomaram­se fontes paradecis<*­ 
*>es 
judiciais. Nesse sentido, os juristas desde Roma são autoridades jurídicas. 
Discute­se a sua natureza, bem como a sua própria possibilidade. 
O objeto dessa ciência são as normas jurídicas, dado concreto que faz parte da 
realidade  histórico=social,  ou,  se  quisermos,  da  realidade  cultural,  em  que  se 
acham 
também as obras de arte, literatura, filosofia, ciência etc. Por isso, a ciênciajuridica 
é ciência que trata de realidades, desde que se faça a distinção da realidade 
físico­natural (natureza), independente da ação humana, da realidade criada pelo 
homem, contida em suas obras (cultura). Não usa o método das ciências dos
O termo ciência do direito conesponde à jurisprudentia dos romanos, mais restrito 
do que 
jurisprudence  dos  anglo­americanos,  que  conesponde  mais  à  Teoria  Geral  do 
Direito acrescida 
de Filosofia do Direito. Denomina­se em alemão Rechtswissenschaft. Devido ao 
sentido restrito 
em que usualmente é empregado o termo jurisprudência na Europa continental e 
na América 
Latina,  como  conjunto  uniforme  e  reiterado  de  decis<*­*>es  judiciais,  deve­se 
evitá­lo para afastar 
confus<*­*>es, preferindo­se "ciência do direito" quando se tratar de conhecimento 
científico do 
direito, e "jurisprudência" quando se tratar dejulgados uniformes dos tribunais. 
<012> 
4 
Paulo Dourado de Gusmão 
fenômenos naturais, pois, sendo conhecimento de normas, procede por interpreta­ 
ção, e não descrição, salvo quando versar sobre o direito como fenômeno social 
ou fato 
histórieo­social. Serve­se  de  vários métodos,  inclusive  da  intuição. Utiliza­se do 
método 
sociológico quando indaga as raízes sociais do direito ou quando o estuda como 
fenômeno 
social;  do  método  histórico,  ao  tratar  de  suas  origens  históricas;  do  método 
comparativo 
sempre,  além  dos  métodos  lógicos,  dentre  os  quais  o  analógico,  e  da 
compreensão 
(interpretação),  para  descobrir  o  sentido  objetivo  da  normajurídica.  Sentido  não 
alcançado 
com métodos  das  ciências  físico­naturais e nem com o sociológico ou histórico, 
que, no 
entanto, podem facilitar a pesquisa. Dito isto, é de se perguntar pela sua natureza. 
Se situarmos, com carradas de razão, o direito no mundo da cultura, na 
dependência de interpretação, a ciência do direito é ciência cultural. Mas, se 
focalizarmos o direito por outro ângulo, como fenômeno social que é, acabaremos 
definindo­a como uma das ciências sociais. Tanto uma como a outra não estão 
erradas e não se excluem por não se conflitarem, porque, depois de Max Weber e 
de Sorokin, o estudo do social como coisa, na forma preconizada por Durkheim, 
não
está mais em moda. A Sociologia, hoje, parte do sentido objetivo das aç<*­*>es e 
dos 
fatos sociais em suas investigaç<*­*>es. 
Finalmente, quanto à natureza científica do estudo do direito, reconhecida pela 
maioria  dos  estudiosos,  há  alguns  opositores.  Desde  1848,  foi­lhe  negado  o 
caráter 
científico, quando Kirchmann (El carácter a­cientifico de la llamada ciencia del 
derecho,  trad.),  em conferência  célebre, disse: a  `  `ciência do direito,  tendo por 
objeto 
o contingente, é também contingente: três palavras retificadoras do legislador 
tornam inúteis uma inteira biblioteca jurídica'' .2 Assim, segundo Kirchmann, uma 
simples lei derrogadorade um sistema jurídico terminaria com a ciência jurídica. 
Mas tal contingência, comum ao histórico, só tornaria anacrônica uma forma de 
saber jurídico, que seria substituída por outra tendo por objeto o novo direito. 
Anacrônico,  mas  não  sem  validade,  por  ter  valor  histórico.  Capograssi,  (Il 
Problema 
della Scienza del Diritto), em 1937, respondendo a essa objeção clássica, admitiu 
poder ser sustentada a natureza científica do estudo do direito, apesar de sua 
mutabilidade, desde que não se considere a norma jurídica, que é mutável, como 
o 
objeto  da  ciência  do  direito,  mas  a  experiênciajurídica3  dotada  de  certa 
estabilidade, 
Aliás,  antes  de  Cristo,  na  Grécia,  Protágoras,  filósofo  nascido  em  490  a.C., 
sustentava permane­ 
cerei<*­*> "justas e boas as leis para a cidade somente durante o tempo em que 
ela assim as 
considerasse''. 
A experiênciajuridica, como objeto de estudo da ciência ou da filosofia do direito, 
não se reduz à 
notma  jurídica,  ao  comportamento  jurídico,  aos  atos  jurídicos  ou  aos  valores 
jurídicos, apesar de 
englobá­los.  Colocá­la  como  `  `objeto''  do  saber  jurídico  signi  ica  colocar­se  na 
posição antinormati­ 
vista, sem negar o normativismo; antiestatal, sem negar a  importância do direito 
do Estado; antijusna­ 
turalista, sem negar o valor do Homem pelos que a defendem; antüntelectualista e 
anti­rãcionalista, 
não  obstante  admitir  o  papel  da  razão  no  processo  de  conhecimento;  anti­ 
empicista, por não abraçar 
5 
Introdução ao Estudo do Diceito
semelhante à dos demais fatos históricos, pois, pelo menos, ao se modificar, não 
anula a experiência passada, que, como tradição, se mantém viva. Diga­se de 
passagem: não é a norma que é mutável, mas o seu conteúdo. Gény (Science et 
Technique  du  Droct  Privé  Positif,1914­24),  antes  de  Capograssi,  sem  se 
impressionar 
com Kirchmann, reduziu o estudo científico do direito à transformação da matéria 
não  juridica em matériajuridica, deixando à técnica a tarefa de torná­la precisa e 
eficaz. 
Poderíamos continuar apresentando argumentos pró e contra a cientificidade da 
ciência 
jurídica, mas achamos desnecessário, pois, comojá dissemos há anos, o físico faz 
Física 
sem se interessar em saber se ela é ou não ciência. Igualmente, ojurista deve se 
interessar 
em  conhecer  o  direito,  tomá­lo  eficaz,  sem  se  preocupar  com  essa  questão 
acadêmica 
oriunda da época em que o conceito de ciência se confundia com o das ciências 
físico­naturais, hoje abandonado ' 
Continuando, temos a dizer que o estudo do direito pode apresentar­se como 
ciência jurídica teórica, formuladora de conceitos e princípios gerais do direito, 
denominada Teoria Geral do Direito, síntese do conhecimento jurídico de uma 
época, e ciênciajuridica particularizada, também denominada dogmáticajuridica, 
que,  versando  sobre  o  conteúdo  das  normasjurídicas,  se  subdivide  em  tantas 
ciências 
quantos forem os ramos do direito (ciência do direito penal, ciência do direito 
constitucional etc.). "Dogmática", por ser o seu objeto (lei, precedente judicial) de 
antemão estabelecido, e não por ser dogma para o jurista, como nos séculos XVIII 
e XIX  foi  compreendido pela Escola da Exegese (§ § 137,196 e 199). Por outro 
lado, 
quando o jurista indaga as origens históricas dessas normas ou de todo o sistema 
jurídico, verificando os seus efeitos históricos, ou seja, considerando­os como fato 
histórico,  fato  que  não  é  mais  atual,  mas  quejá  produziu  os  seus  efeitos,  faz 
História 
do Direito. Mas, se usar os resultados desse estudo histórico para, com o método 
comparativo, compará­lo com o direito atual ou confrontar direitos de pazses 
diferentes,  perquirindo  semelhanças,  para  propor  unificaç<*­*>es  de  legislaç<*­ 
*>es ou para 
qualquer  forma de empirismo ou de posítivismo, ainda que reconheça o valor da 
experiência 
global no conhecimento jurídico; antüdealista, apesar de não negar a importância 
da idéia, da
mente e do espírito na criação do direito; anti­sociológica, não obstante ter nascido 
da Sociologia; 
anti­realista, por não considerar o direito um dado da realidade, mas construção, 
de certa forma, 
fato  normativo  ou  objeto  cultural.  Colocou­a  no  centro  das  investigaç<*­*>es 
jurídicas Gurvitch 
(L'Expérience Juridique et la Philosophie Pluraliste du Droit,1935), mas Capogtassi 
(Analisi dell' 
Esperienza Comune, 1930, Studi sull'Esperienza Ciuridica, 1932, II Problema della 
Scienza del 
Diritto,1937),  partindo  de  outros  pressupostos  filosó  ficos,  dela  tratou  mais 
profundamente, e entre nós 
Reale (O Direito como Experiência,1968). 
4 Sobre a cientificidade do direito e de seu lugar no sistema de ciências, ainda são 
atuais: Bobbio 
(Teoria della Scienza Giuridica, Torino, 1950) e Opocher (Lezioni di Filosofia del 
Diritto. II 
Problema della Natura della Giurisprudenza, Patlova,1953). 
<012> 
6 
Paulo Dourado de Gusmão 
abrir o horizontejurídico graças à doutrina e à experiênciajurídica de outros povos, 
estará fazendo Direito Comparado. Finalmente, se encarar o direito como fato 
social, fará Sociologia Juridica. Mas, se, com os resultados e auxílio do Direito 
Comparacto, da História do Direito e da Sociologia Jurídica, entregar­se à crítica 
construtiva do direito vigente, com o objetivo de propor reformas jurídicas, ocupar­ 
se­á de Politica Juridica. 
2. MÉTODOS JURÍDICOS 
O problema do método ou dos métodos da ciência jurídica, ou seja, dos 
procedimentos  lógicos  adequados  ao  conhecimento  do  direito,  é  o  problema 
central 
da Metodologia Juridica. Problema importante, porque, segundo Kant, do 
método depende o objeto do conhecimento, oumelhor, o conhecimento resulta 
do método empregado. Tradicionalmente, foi considerado o método dedutivo 
como sendo o específico da ciência jurídica, por dever o jurista partir do geral 
para  o  particular,  ou  seja,  das  normas  gerais  para  os  casos.  O  silogismo 
(silogismo 
juridico) seria, conseqüentemente, a forma típica do raciocínio jurídico. Esse 
método construtivo foi usado e abusado pela jurisprudência conceptual, que 
construiu a metodologia do direito privado, por obra dos pandetistas alemães, que
serviu  de  modelo  para  a  metodologia  dos  demais  setores  do  direito.  Ihering 
(Zweck 
im Recht, traduzido para o português com o título: A Evolução do Direito,1953) 
dele se afastou, defendendo o método teleológico, por considerar o escopo a força 
criadora  do  direito,  através  do  qual  poder­se­ia  compreendê­lo  melhor.  O 
historicis­ 
mo carreou para o direito, além do método histórico, o princípio da compreensão, 
ou  seja,  doconhecimento  do  direito  através  de  seu  sentido,  enquanto  o 
sociologismo, 
com o método comparativo, introduziu no jurídico os métodos sociológicos. O 
estudo  dos  casos,  para  criar  standard's,  modelos,  tipos,  conceitos,  graças  a 
genera­ 
lizaç<*­*>es,  exigiu  o  emprego  do  método  indutivo.  Por  influência  da  moderna 
Sociolo­ 
gia, em que, pioneiramente, Sorokin defende o "método integral" de conhecimento 
(vide nosso Manual de Sociologia e nossas Teorias Sociológicas), por ser o social 
composto  de  três  elementos  (significação,  veículo  e  agentes),  pertencentes  a 
reinos 
diferentes, a moderna ciência jurídica passou a adotar uma metodologia múltipla, 
apesar de alguns juristas, como, exemplificando, Carlos Cossio (La Teoria Egoló­ 
gica del Derecho y el Concepto Juridico de Libertad), pensar dever o jurista 
inicialmente empregar o método empirico­dialético, de tipo circular, que parte da 
norma  p<*­*>ra  o  seu  sentido  e  deste  para  aquelae  assim  indefinidamente,  até 
obter um 
conhecimento integral. Apesar de reconhecermos depender o conhecimento do 
humano e do social da compreensão ou da interpretação,ou melhor, do conheci­ 
mento pelo sentido objetivo, contido na obra humana, na ação e no fato social, 
reconhecemos  que  o  problema  do  método  jurídico  depende  da  natureza  da 
investi­ 
gação  que  se  pretende  realizar.  Se  partirmos  do  geral  (norma),  utilizaremos  o 
método 
dedutivo, raciocinando através de silogismos; se de casos singulares para o geral, 
o 
7 
Introdução ao Estudo do Direito 
método indutivo; com muita freqüência o método comparativo; se a investigação 
tiver por objetivo as raízes sociais ou os efeitos sociais do direito, o método 
sociológico  terá  de  ser  usado, mas,  se  o  passado  do direito  estiver  na mira  do 
jurista, 
deverá ser empregado o método histórico. 
Mas em todos esses casos ojurista partirá da compreensão ou da interpretação, 
para captar o sentido do objeto de seus estudos (norma, conduta, sentença etc.).
3. TÉCNICA JURÍDICA 
A ciência do direito, como qualquer ciência, tem sua técnica (técnicajuridica), 
que pode ser entendida como conjunto de procedimentos por meio dos quais são 
mais  perfeitas,  fáceis  e  eftcazes a  criação  e  aplicação  do direito, bem como se 
torna 
mais completo o seu conhecimento.5 Se distinguirmos aforma do conteúdo ou da 
matéria da regra de direito, acabaremos, com Gény, dizendo que a técnica jurídica 
dá a ` `forma'' do direito, construindo­a, enquanto a ciência fornece o seu conteúdo 
, 
dando os elementos para que a técnica o formule com o auxílio das ciências afins 
do  direito,  bem  como  do  Direito  Comparado  e  da  História  do  Direito.  Nesse 
sentido, 
a técnicajurídica é a arte deformular a regra de direito com precisão, objetividadé, 
clareza  e  espirito  de  sintese.  Pensamos  que  a  técnicajurídica  é  tripartida:  la, 
técnica 
deformulação  do  direito;  2a,  técnica  da  ciência  do  direito,  e  3a,  técnica  de 
aplicação 
do direito. A primeira e a segunda se servem de um vocabuláriojuridico, que deve 
ser  simples,  preciso  e  uniforme,  composto  de  vocábulos  oriundos  de  outras 
ciências, 
bem  como  de  palavras  que  têm  sentido  jurídico  próprio  e  de  palavras  que 
pertencem 
ao vocabulário comum. Outro recurso da técnica deformulação do direito são as 
fórmulas,  que  outrora  eram  sagradas,  apesar  de  ainda  em  uso  no  direito, 
geralme<*­*>te, 
Coube  a  Gény  (Science  et  Tecnique  du  Droit  Privé  Positif,  Paris,1914­24) 
distinguircom precisão 
a  técnica  da  ciência  jurídica.  À  ciência,  segundo  Gény,  compete  estabelecer  a 
matéria do direito, 
enquanto à técnica, aforma dessa matéria, a sua criação, interpretação, aplicação 
e revogação. 
Mas na determinação da matéria do direito a opinião de Gény tornou­se discutível. 
Para ele, à 
ciência jurídica compete descobrir os dados do direito, de quatro espécies: donné 
"real" ou 
"material",  formado  de  "condiç<*­*>es  de  fato  em  que  se  encontra  colocada  a 
humanidade", sejam 
de "natureza física ou moral" (clima, solo e seus produtos, constituição anatômica 
e fisiológica 
do  homem,  estado  psicológico,  aspiraç<*­*>es  morais,  sentimentos  religiosos 
etc.), de condiç<*­*>es 
econômicas  que  intluem  sobre  a  sua  atividade  e  de  forças  políticas  ou  sociais 
existentes; donné
"histórico", formado de "fatos e circunstâncias da vida humana e social" (tradiç<*­ 
*>es, precedentes, 
costumes,  leis,  doutrina,  jurisprudência,  solidamente  estabelecidos);  donné 
"racional", constituí­ 
do pela essência das coisas, apreendida pela razão, tendo por reduto o "irredutível 
direito natural", 
imutável e absoluto; donné ` `ideal' ', captado pela intuição, formado pelos ideais 
sociais, que 
iniluem sobre a conceituação histórica desses "dados'', contribuindo assim para o 
processo 
histórico­social do direito. Vide, sobre Gény, §§ 137,196 e 199, nota 52. 
<012> 
8 
Paulo Dourado de Gusmão 
a  fórmula  imperativa.  Não  deve  ser  esquecido  outro  recurso,  construído  pela 
técnica 
jurídica, destinado a dar certeza às relaç<*­*>es jurídicas e a facilitar as provas: a 
presunção e a ficção. A presunção, baseada na verossimilhança, generaliza o que 
normalmente ocorre em certos casos, estendendo as conseqüências jurídicas de 
um 
fato conhecido a um desconhecido. Daí Brethe de la Gressaye e Laborde­Lacoste 
(Introduction Générale à l 'Étude du Droit) dizerem que na presunção considera­se 
como verdadeiro o que é provável. Exemplos de presunção: 1", presumem­se 
concebidos na constância do casamento os ftlhos nascidos 180 dias, pelo menos, 
depois de estabelecida a convivência conjugal, bem como os nascidos dentro dos 
300 dias subseqüentes à dissolução da sociedade conjugal por morte, desquite 
(separação  judicial)  ou  anulação  do  casamento;  2",  quando,  em  virtude  de 
desastre 
, 
duas pessoas ligadas por vínculo de parentesco (pai e filho, irmãos etc.), falecem, 
não se podendo precisar qual delas faleceu primeiro, presume­se então terem 
falecido simultaneamente. Presunção dispensa prova. 
Já aficção, outro recurso muito empregado pelo legislador e pelo jurista, atribui 
realidade  ao  que  não  tem,  considerando  verdadeira  uma  criação  artificial  do 
pensamento. 
Daí Ihering (L'esprit du droit romain, trad.) tê­la definido como mentira técnica 
consagrada pela necessidade. A ficção, como esclarece Ferrara (Trattato di Diritto 
Civile Italiano), não transforma em real o que não tem realidade, mas só lhe dá as 
mesmas conseqüências, como se fosse real. Caracteriza­se ­ diz Ferrara ­ por dar 
igual 
tratamento  a  relaç<*­*>es em si materialmente diversas. Exemplos de  ficção: os 
acessórios 
de um imóvel, móveis por natureza, são juridicamente imóveis.
O legislador emprega também a técnica da publiccdade, de modo a poder 
presumir conhecida a lei por todos, bem como exige a publicidade de certos atos 
jurídicos. Para dar­lhe eficácia hájornais oficiais (Diário Oficial), que publicam leis, 
decretos, decis<*­*>es judiciais, atos etc., e o sistema de registro público de atos 
jurídicos, destinado a dar­Ihes publicidade, prioridade e segurança, bem como 
facilitar  a  prova  dos mesmos.  Usa,  também,  a  técnica  daforma,  que  visa  a  dar 
certeza 
e segurança à relação  jurídica, sendo, em certos casos, essencial ao ato, como, 
por 
exemplo, a escritura pública. 
Já a técnica da ciência do direito se destina a concentrar, sistematizar e unificar 
a matéria jurídica. Para tal, serve­se da redução e da concentração dessa matéria, 
de modo a reduzir o número de princípios, regras e conceitosjurídicos. A redução, 
por 
exemplo, das coisas a móveis e imóveis é uma forma de concentração da matéria 
jurídica. Outra é a técnica da formulação de categoriasjuridicas, que, levando em 
conta 
a  natureza,  elementos  comuns  e  específicos,  distribui  a  matériajuridica  em 
quadros bem 
definidos.  Tais  categorias,  segundo  Gaius,  jurista  romano,  são  as  seguintes: 
pessoas, 
coisas  e  aç<*­*>es.  Hoje,  podemos  ampliá­las:  pessoas,  coisas,  aç<*­*>es, 
direitos, atos e fatos 
jurídicos,  propriedade,  responsabilidade  civil,  poder  legislativo  etc.  São  assim 
consti­ 
tuídas  de  um  conjunto  de  regras  jurídicas  que  disciplinam  matéria  jurídica 
autônoma, 
9 
Introdução ao Estudo do Direito 
integrada em um corpo mais amplo de direito. Assim, por exemplo, a propriedade 
é uma categoria do direito civil, que é um corpo mais amplo de direito. Como bem 
notou Roubier (Théorce Générale du Droit, 2a ed., Chapitre Préliminaire, § 3o letra 
A), 
muitas categorias  jurídicas são  também  instituiç<*­*>es  jurídicas, como é o caso 
da 
propriedade. Mas, prossegt<*­*>e Roubier, nem toda categoriajurídica é instituição 
jurídica, 
sendo, contudo, verdadeira a recíproca. 
No que tange às categorias, é possível concentrá­las, unificá­las, reduzi­las e 
simplificá­las com o empregoda técnica de classcficação, agrupando elementos 
jurídicos  em  quadros  bem  definidos  segundo  suas  recíprocas  relaç<*­*>es, 
levando em
conta suas finalidades, seus traços comuns e suas diferenças. Finalmente, outro 
procedimento técnico é a cnstctucionalizaÇão, que cria categorias mais amplas e 
orgânicas.  Empregando­a,  constroem­se  as  cnstituiç<*­*>esjurcdicas,  como,  por 
exem­ 
plo,  a  família  ou  a  propriedade.  Instituição  é  um  núcleo  de  regras  jurídicas, 
unificadas 
por  valores  e  princípios  comuns,  tendo  a  mesma  finalidade,  compreendendo 
ampla 
e  perene  matéria  jurídica.  São  dotadas,  geralmente,  de  realidade  social, 
constituída, 
muitas vezes, antes de o legislador discipliná­las, como é o caso da farmlia. 
Prosseguindo: na construção das categorias e das instituiç<*­*>es jurídicas, a 
técnicajurídica  serve­se  da  técnica  de  conceituaÇão  para  formular  conceitos 
extraí­ 
dos  das  regras  de  direito  ou  da  experiênciajurídica.  Procedimento  muito 
importante, 
porque, como nota Dabin (Théorie Générale du Droit), um ` `direito não deftnido, 
ou insuficientemente definido" é de difícil aplicação, "dando lugar a dúvidas e 
controvérsias geradoras de insegurança''. Os conceitos jurídicos podem ser formu­ 
lados pelo legislador, mas de preferência devem ser pela ciência do direito. São 
indispensáveis ao pensamento jurídico, como, por exemplo, o conceito de contrato 
ou de propriedade. 
Para a elaboração desses conceitos, serve­se a ciência da técnica de generafi­ 
zação  e  de abstração.  <*­*> Assim,  partindo  de  regras de direito esparsas, que 
versam 
sobre  uma  mesma  matériajurídica,  chega  o  jurista  ao  conceito  que  lhe 
corresponde. 
Todavia, os conceitos jurídicos petrificam o direito, principalmente quando formu­ 
lados pelo legislador, apesar de darem certeza às relaç<*­*>es jurídicas. Por isso, 
muitas 
vezes tornarr<*­*> difícil ajustar o direito aos casos e aos novos tempos. Por esse 
motivo, 
o legislador não deve deles abusar, deixando à ciência do direito a tarefa de 
formulá­los. Porém, como são eles passíveis de envelhecimento, em virtude das 
transformaç<*­*>es sociais, a doutrina deve, sempre que  for necessário, renová­ 
los ou 
atualizá­los. Se não proceder assim, manterá de pé um direito fossilizado, quando 
compete­lhe  mantê­lo  vivo.  Como  a  doutrina  e  ajurisprudência  dos  tribunais 
podem 
6 Segundo Max Weber, a generalização constitui uma das formas do racionalismo, 
calcada no 
casuísmo, que Ihe serviu de ponto de partida. 
<012>
10 
Paulo Dourado de Gusmão 
manter vigente o sentido anacrônico do direito dado por conceitos envelhecidos, 
não 
atualizados, pode­se dizer que tais conceitos nem sempre estão adaptados aos 
quadros sociais aos quais se destinam. Daí Gurvitch (Traité de Sociologie, tome 
second) ter dito: os juristas são obrigados muitas vezes a lançar mão de uma 
`  `sociologia  espontânea  do  direito'',  como  ocorreu  `  `durante  os  primeiros 
decênios 
do  século  XX,  quando  se  abriu  um  abismo  entre  as  categorias  jurídicas 
consagradas 
e  o  agitado mar  da  vida  social  do  direito  com  suas manifestaç<*­*>es  inéditas, 
imprevi­ 
síveis, que surgiam com uma espontaneidade elementar''. O mesmo hoje ocorre 
com 
a Revolução da Informática, com o telex, fax, as redes de computadores, o capital 
computadorizado,  a  celebração  ou  o  distrato  de  contratos  no  terreno  financeiro 
com 
o  simples  toque  do  teclado  do  computador,  tornando­se  muito  rápidas  as 
comunica­ 
ç<*­*>es jurídicas no terreno contratual, exigindo instrumentos novos para garantir 
a 
força dos contratos, a segurança dos negócios e a estabilidade da economia, sem 
nos 
esquecermos  do  progresso  da  engenharia  genética  ("  bebês  de  proveta", 
clonagem 
de embri<*­*>es, inseminação artificial, etc.). 
Por último, temos a técnica de aplicação do direito,' que sup<*­*>e a técnica de 
interpretação do direito, estabelecedora do sentido objetivo da regra de direito, e 
a  técnica  de  integração  do  direito,  usada  no  caso  de  lacuna  do  direito. Ambas 
serão 
examinadas em outra parte deste livro (vcde §§ 132,135 e 136).g 
Do exposto, chegamos à conclusão de a técnica jurídica ser o conjunto de 
procedimentos e artificios aptos não só a construir, com clareza eprecisão, normas 
juridicas, como, também, capazes defacilitar a interpretação, aplicaÇão e o aper­ 
feiçoamento das mesmas y 
Segundo Max Weber, pode ser imacional ou racional o processo de aplicação do 
direito. O pcimeiro
depende  de  fé  e  de  procedimentos  extraordinários  (oráculos,  ordálio  etc.), 
enquanto o segundo, da 
lógica jurídica e da construção de um sistema jurídico. 
O direito arcaico usou e abusou dos aforismos ou adágios, que é uma técnica de 
redigir máximas 
j<*­*>rídicas, concisas e gerais, que resumem uma regra de direito. São máximas 
proverbiais, forma areaica 
de  legislar.  Exemplos:  `  `ninguém  pode  transferir  mais  direito  do  que  possui'' 
(nemo adalii<*­*>m plusjuris 
trnnsfere potest quam ipse possident),  `  `nas coisas móveis, a posse vale título'' 
ou, então, ` `a ninguém 
é lícito ignorar a lei' '. No Código de Manu (vide § 140), foram as máximas juridicas 
muito usadas. 
O  vocábulo  direito  é  empregado  exclusivamente  neste  parágrafo  no  sentido  de 
Ciência do Direito. Nos 
demais  capítulos  e  parágrafos  é  usado  como  norma  ou  conjunto  de  normas 
jurídicas. Antecipando 
o que trataremos depois, temos a dizer que o termo direito é empregado em três 
sentidos: norma 
jurídica, ciência do direito é direito subjetivo  (poder,  faculdade, prerrogativa que 
tem o titular, ou 
seja,  a  pessoa que  tem um direito, como o proprietário, o comprador, o  locador 
etc.). No Capítulo 
X daremos maiores esclarecimentos sobre os referidos significados. 
11 
Introdução ao Estudo do Direito 
4. SISTEMA JURÍDICO 
Pode­se  dizer  que  um dos  objetivos  da  ci<*­*>ncia  do  direito  é  construir  o  `  ` 
sistema 
jurídico", por muitos denominado ordenamento jurídico. O direito encontra­se 
disperso  em  várias  normas,  aparecidas  em  épocas  diferentes,  destinadas  a 
satisfazer 
necessidades  criadas  por  variadas  situaç<*­*>es  sociais  e  a  solucionar os mais 
diversos 
conflitos de interesses. Por isso, umas são mais importantes do que outras, como 
a 
normaconstitucional  ;  outras,  em  suamaioria,  são  informadas  porprincípios 
comuns, 
que possibilitam agrupá­las em conjuntos regidos pelos mesmos princípios. O 
legislador formula as normas, enquanto compete à ciência do direito reduzi­las a 
unidades  lógicas,  evitando  assim  as  contradiç<*­*>es  dentro  de  uma  ordem 
jurídica.
Sistema jurídico é, pois, a unificação lógica das normas e dos princípios jurídicos 
vigentes em um país, obra da ciência do direito. Para obtê­la, elimina o jurista 
contradiç<*­*>es porventura existentes entre normas e entre princípios; estabelece 
hierarquia entre as fontes do direito, escalonando­as; formula conceitos, extraídos 
do  conteúdo  das  normas  e  do  enunciado  nos  princípios  ;  agrtzpa  normas  em 
conjuntos 
orgânicos  e  sistemáticos,  levando  em  conta  a  função  que  devem  elas  cumprir, 
como 
é o caso das instituiç<*­*>es (§ 3"); estabelece classificaç<*­*>es, ou seja, aponta 
o lugar de 
cada norma no sistema. Os códigos modernos são exemplos de sistemas jurídicos 
parciais. Martínez Paz (Tratado de Filoso<*­*>a del Derecho), com razão, diz que 
sistema é a unidade lógica de conceitos homogêneos decorrentes de um princípio 
fundamental. Aliás, Cogliolo (Filosofia do Direito Privado, trad.), anteriormente, 
já havia dito que sistema é a ordem lógica do direito. Inconcebível, logicamente, 
haver mais de um sistema jurídico, isto é, de cada país (direito brasileiro, francês,italiano, alemão etc.) e de cada matéria jurídica (sistema de direito civil brasileiro, 
de direito penal etc.). Para construi­lo, agrupam­se, por afinidade de matérias, 
conceitos  e  princípios,  buscando os  laços que  os  unem ou os aproximam, para 
depois 
inferir deles princípios muito gerais e compreensivos que os informam e que os 
tornam afms. O verdadeiro sistema, conclui Cogliolo, não é um índice esquemático 
a  seguir,  mas  a  organização  científica  da matériajurídica,  que,  com  precisão  e 
rigor, 
formula conceitos, delimitando o alcance dos mesmos, bem como atribui o valor e 
a importância de cada norma, entrelaçando­as e subordinando­as, de modo a que 
cada  uma  tenha  o  lugar  que  lhe  compete,  sem destacar  umas  com prejuízo  de 
outras. 
Além disso, ojurista parte desses dados para os princípios gerais e fundamentais 
das 
várias instituiç<*­*>es jurídicas, conciliando­os, quando necessário. Partindo deles 
entrega­se à tarefa de formular os princípios gerais do direito. A construção do 
sistema tem por objetivo, nota Cogliolo, descobrir os pontos obscuros e contraditó­ 
rios ou incompletos contidos nos princípios e nas normas, bem como harmonizar e 
coordenar as tendências opostas de dois ou mais institutos. 
Cada país tem seu sistema jurídico. Se sistema jurídico é unidade lógica do 
direito,  impossível,  logicamente,  como  dissemos,  haver  mais  de  um 
sistemajurídico 
em um país. 
Pode, no entanto, a ciência construir um sistemajurídico mais amplo do que o 
nacional,  levando  em  conta  os  princípios  que  informam  os  sistemas  de  vários 
países 
<012> 
12 
Paulo Dourado de Gusmão
e os conceitos formulados pela doutrina estrangeira com base nesses princípios. 
Assim, por exemplo, é lícito falar em sistemajurídico europeu (§ 163), formado 
pelos direitos da América Latina e da Europa Continental, inspirados no regime 
democrático e nos códigos civis europeus, que, como nota René David (Traité 
Élémentaire  de Droit Civil Compare<*­*>,  "nascidos de uma origem comum,  têm 
todos 
atualmente  uma  estrutura  análoga  e  utilizam  os  mesmos  conceitos'',  estando 
vinculados 
entre si,  `  `porque estão  fundados no direito romano''. Mas, na Europa dos anos 
90, com 
a União Européia (§ 96), os países que a comp<*­*>em, além de seus respectivos 
direitos 
nacionais, estão submetidos a um sistema jurídico comum, comunitário, europeu, 
ora 
em formação. 
5. DIREITO COMPARADO 
O direito comparado consiste no esforço do Racionalismo para unificar o 
direito de um mundo dividido. Não é um ramo tradicional da ciênciajuridica; não foi 
cogitado  pelos  romanos,  mestres  construtores  dos  alicerces  do  direito  privado 
ocidental. 
É um ramo da ciência  jutídica ocidental, e, se quisermos precisar, da ciência do 
direito 
de nossa época. Pode­se dizer ­ se é possível nesses casos ixar datas ­ que o ano 
de 
1900 marca, com o Congresso Internacional de Direito Comparado, realizado em 
Paris, 
o momento de sua aparição oficial no cenáriojuridico mundial."' 
Todavia, antes de 1900, os estudos etnológicos de Bachofen, Post e Summer 
Maine,  no  terreno  das  organizaç<*­*>es  jurídico­sociais  dos  povos  arcaicos, 
podem ser 
considerados como de direito comparado. Porém, foi com a obra de Lambert ­ Lci 
Fonction du Droit Civil Comparé ­, aparecida em 1903, portanto depois do Con­ 
gresso de Paris,  que  se  iniciou,  na França,  como nos demais países europeus, 
uma 
série de estudos metodologicamente rigorosos, comparativos do direito. 
Devemos esclarecer, desde logo, que o direito comparado, apesar de ter por 
objeto direitos de diferentes países ou de diferentes épocas e sociedades, não é 
normativo, não sendo, assim, aplicável obrigatoriamente pelos tribunais, apesar de 
servir, entretanto, para fundamentar decis<*­*>es de seus órgãos, principalmente 
no caso 
de lacuna da lei (§ 139). Serviu­se dele o Autor, como desembargador, ao julgar
10 Devemos esclarecer, com Cândido Luís Maria de Oliveira (Curso de legislação 
comparada, Rio 
de  Janeiro,1903),  que  em  1830,  na  França,  Lerminier,  no Colégio  de  França, 
inaugura a cadeira 
de  História  Geral  das  Legislaç<*­*>es  Comparadas  e,  em  1837,  Ortolan,  na 
Faculdade de Direito de 
Paris, profere a primeira lição de legislação penal comparada. No Brasil, continua 
o ilustrejurista 
pátrio, o Decreto no 7.427, de 19 de abril de 1879, prescrevia que o "estudo do 
direito 
constitucional,  criminal,  civil,  comercial  e  administrativo  será  sempre 
acompanhado da compa­ 
ração da  legislação pátria com a dos povos cultos". O estudo comparativo das 
leis foi feito por 
alguns legisladores e pensadores ao longo da História. Licurgo, segundo Plutarco 
(Vidas), 
comparou as legislaç<*­*>es de Creta com as dosjônios e de outras cidades para 
legislar para Esparta. 
13 
Introdução ao Estudo do Direito 
recurso  para  reforma  de  sentença  que  não  dera  indenização  pela  rescisão 
unilateral 
e  abrupta  de  contrato,  de  prazo  indeterminado,  celebrado  entre  fábrica  de 
automóveis 
e revendedor autorizado, por bastar, segundo a decisão recorrida, aviso prévio de 
30 
dias, que fora dado. A sentença estava certa à luz da disciplina legal dos contratos 
típicos, previstos na lei, e não em relação aos atípicos e novos, que o legislador 
não 
havia  disciplinado. O  Autor  valeu­se  da doutrina  francesa para  conceder, muito 
antes 
da lei nacional específica, a indenização pretendida, definindo como concessão 
comercial o contrato rescindido, por compreender vários negócios, cuja rescisão 
unilateral  e  abrupta  não  seria  possível,  mesmo  sendo  indeterminado  o  prazo 
contra­ 
tual,  pelos  prejuízos  consideráveis  que  causaria  (Revista  de  Jurisprudência  do 
TJERJ, 
n" 45, ps. 87 a 110). 
O direito comparado pode ser investigação científica pura, destinada a facilitar 
a  obra  de  intérpretes,  legisladores  e  juristas  que  pretenderem  possuir 
conhecimento 
mais vasto do direito. "Todos os dias", escreve Paulo Ferreira da Cunha (Direito,
Porto,1990, p. 94), ` `sucede que, para fazer ou alterar legislação, se vai consultar 
a 
de outros países, em busca de exemplo e inspiração'' sem abandonar, entretanto, 
a 
tradição jurídica (obra citada, p. 94) de cada país. 
Há quem pense não se tratar de uma ciência, ou seja, de uma parte da ciência 
jurídica ao lado da Sociologia Jurídica, da Criminologia, da Teoria Geral do Direito 
e da dogmática juridica. Daí preferirem alguns juristas chamarem­na de ` `método 
comparativo'', ou, como dizem os alemães, Rechtsvergleichung, ou ` `comparação 
de direitos", em vez de "direito comparado"." Entre estes está René David, 
entendendo  ser  o  direito  comparado  a  `  `comparação  de  direitos  diferentes, 
método 
comparativo aplicado às ciências jurídicas''. Outra não é a posição do ilustre 
comparatista inglês Gutteridge (El derecho comparado, trad.), definindo­o como 
"método de estudo e investigação, e não ramo ou divisão especial do direito'z 
, 
porquanto, continua Gutteridge, sendo o ` `direito conjunto de regras, é evidente 
que 
não  pode  existir  direito  comparado  na  forma  de  legislação.  O  processo  de 
comparar 
normas de distintos sistemas legislativos não origina novas regras aplicáveis às 
relaç<*­*>es humanas''. (De certa maneira o exemplo citado refuta essa tese.) 
Como vemos, grandes comparatistas, como René David, na França, e Gutte­ 
ridge, na Inglaterra, seguidos por De Francisci, na Itália, e Kaden, na Alemanha, 
para citar só os pioneiros, negam cientificidade ao direito comparado, consideran­ 
do­o simplesmente método de estudo jurídico. 
11  Alguns  juristas  denominaram  os  estudos  jurtdicos  comparativos  de 
comparativejurisprudence 
(Pollock), enquanto outros, de législation comparée, que teve certa aceitaçãona 
França, empre­ 
gada, algumas vezes, por Lambert. 
<012> 
14 
Paulo Dourado de Gusmão 
Mas  em  sentido  oposto  encontram­se  outros  precursores,  considerando­o 
ciência. 
Entre estes, destacam­se Lambert, Lévy­Ulmann e Saleilles, na França; Kohler e 
Rabel,
na Alemanha; Summer Maine, Salmond, Wigmore, Holland, Pollock e Bryce, na 
Inglatena.  A  maioria  desses  juristas  compreende  o  direito  comparado  como  o 
estudo 
das  semelhanças  e  diferenças  existentes  entre  os  direitos,  com  o  objetivo  de 
aproximar 
os  povos  (Lévy­Ulmann)  e  de  formular  os  princípios  comuns  aos  direitos 
civilizados 
(Saleilles), ou, então, com o fim de descobrir os elementos comuns dos diversos 
direitos, 
a  fim  de  facilitar  o  trabalho  de  unificação  legislativa  (Lambeit).  Rasga,  assim, 
novos 
horizontes  à  filosofia  do  direito  (Kohler,  Holland  e  Salmond),  eniiquecendo  a 
experiên­ 
cia jurídica (Ascarelli). 
Finalmente, há quem, como Saifatti e Hug, admita uma ciência comparativa 
dos direitos dos povos primitivos, ramo da etnologia jurídica, diversa da ciência 
comparativa dos direitos dos povos civilizados. Próximas da primeira estão a 
História Comparada do Direito, de Lambert, o Estudo Histórico­Comparado do 
Direito,  de  Pollock,  a  Teoria  Geral  Etnológica  do  Dcreito,  de  Rabel,  as 
investigaç<*­*>es 
de Summer Maine e a jurisprudência etnológica de Hermann Post. 
A  nosso  ver,  devemos  separar  método  é  ciência.  Esta  sup<*­*>e  sempre  um 
método 
e, em  função deste, varia a sua natureza.  Inegavehnente o estudo do direito de 
um país, 
por exemplo, do direito brasileiro ou do alemão, é científico. Neste caso, o método 
empregado não é o comparativo. Mas, se empregarmos este método no estudo do 
direito 
de  diferentes  países,  acabaremos  atingindo  resultados  mais  amplos  e  diversos 
dos 
obtidos  com  o  estudo  de  um  só  deles.  Ora,  tais  resultados  sistemáticos,  com 
coerência 
lógica, compatíveis entre si, não podem ser confundidos com o método que os 
estabelece.  São  diversos  dos  resultados  obtidos  com outros métodos.  Formam, 
assim, 
um ramo novo da Ciência. Como o objeto foi semprejurídico, constituem ramo da 
ciência 
jurídica. Mas, como o método empregado foi o comparativo, deve­se denominá­la: 
Direito 
Comparado, ou, então, querendo­se: legisla<*­*>ão comparada. 
Qual o fim prático dessa ciência? Primeiro, foroecer visão mais ampla do 
direito,  indispensável  às  investigaç<*­*>es  jurídicas  mais  profundas.  Facilitar, 
como 
esclarecem  Salmond  e  Holland,  as  investigaç<*­*>es  filosófico­juridicas,  bem 
como a 
Sociologia do Direito. Abrir caminho para a Teoria Geral do Direito. Depois, facilitar
a compreensão de regras, instituiç<*­*>es e princípios jurídicos de cada país, pois 
o 
direito de cada país, refletindo o tipo de civilização em que está integrado, tem 
afinidade com direitos de outros países integrados no mesmo tipo de civilização, 
como  é  o  caso  dos  direitos  brasileiro,  francês,  alemão,  italiano  etc.,  que  têm 
pontos, 
de contato, por pertencerem à mesma cultura (ocidental). Mas não é só, pois se 
destina,  também,  a  facilitar  a  obra  do  legislador  e,  dentro  de  uma  civilização, 
como, 
por exemplo, a ocidental, a uniformizar algumas regras jurídicas. 
Segundo os maiores comparatistas, devem ser seguidas algumas regras no 
estudo comparado do direito. Eis algumas: le, nem sempre é vantajoso comparar 
15 
Introdução ao Estudo do Direito 
grande  número  de  sistemas  jurídicos;  2a,  devem­se  descobrir  as  fontes  dos 
direitos 
que se pretende comparar. Nesse caso, deve­se verificar primeiro a natureza do 
direito (codificado, consuetudinário ou jurisprudencial); 3a, reconhecer que as 
definiç<*­*>es  legais  estão  vinculadas  à  sociedade  ou  ao  país  em  que  foram 
formuladas ; 
4a,  os  direitos  estrangeiros  devem  ser  interpretados  à  luz  de  sua  doutrina  e 
jurispru­ 
dência, e não em função dos conhecimentos jurídicos do comparatista; 5a, devem 
ser consultadas as obras dos jurisconsultos e a jurisprudência dos tribunais que 
aplicaram os direitos a serem estudados comparativamente. 
Finalmente, para nós, o direito comparado é a parte da ciência juridica que 
tem  por  objeto  a  compara<*­*>ão  de  direitos  de  diferentes  paises,  soccedades, 
civiliza­ 
<*­*><*­*>es ou de épocas diversas com o objetivo de descobrir seus prcncipios 
comuns e 
suas  diferenças  e,  excepcionalmente,  quandopossivel,  propor  uniformizaç<*­ 
*>esjuri­ 
dicas ou unificaç<*­*>es de legisla<*­*><*­*>es. Tem grande impoitância em nossa 
época, em face 
do desenvolvimento das  relaç<*­*>es  internacionais, pois pode contribuir para a 
solução de 
problemasjurídicos  oriundos  dessas  relaç<*­*>es  (contratos  internacionais  etc.). 
Neste fnal 
de século, se não houver guerra, será de grande importância na União Européia (§ 
96). 
6. TEORIA GERAL DO DIREITO
A Teoria Geral do Direito,'z na época de sua aparição no cenáriojurídico, isto 
é,  no  século  XIX,  estava  para  a  ciênciajurídica  como  aphilosophiepositive  de 
Comte 
para a filosofia. 
Destinou­se a substituir a Filosofia do Direito, ou melhor, a filosofia ` `meta­ 
física'' do direito. 
Era, portanto, dentro do positivismojurídico, a filosofia positiva do direito para 
uma ` `época positiva''. 
Foi considerada a ciência por excelência que, com método científico, deverra 
explicar o direito e construir os conceitos jurídicos fundamentais, tendo por base o 
direito  positivo  (leis,  códigos,  precedentesjudiciais  etc.),  bem  como  coroar  a 
ciência 
do  direito  com  a  síntese  dos  resultados  das  ciênciasjurídicas  paiticulares, 
fornecendo 
visão global, sistemática e unitária do direito. 
Mas as "teorias gerais do direito", aparecidas até 1914, confundiram Socio­ 
logia do Direito com Direito Comparado e Filosofia do Direito, confusão feita 
12  A  Teoria Geral  do Direito  data  de  1874  quando  foi  publicado  o  trabalho  de 
Merkel, que trata das 
relaç<*­*>es da filosofia do dire  to com a ciência do direito positivo. Foram então 
lançadas, com esse 
trabalho, as bases da nova disciplina sob a influência do positivismo. Aderem a 
essa nova posição 
Filomusi Guelfi, na Itália, Somló mais tarde, e, em I917, Roguin; partindo de outra 
posição 
filosófica, Kelsen. 
<012> 
16 
Paulo Dourado de Gusmão 
também  depois  da  Segunda  Guerra  Mundial  por  Haesaert,  Dabin  e  Roubier.  A 
Teoria 
Geral do Direito de Kelsen talvez seja a única que assim possa ser rotulada. 
Kelsen,  no  prólogo  de  sua General  Theory  of  Law and State  (1945),  sustenta, 
com 
muita precisão, lembrando Austin, que o objeto da Teoria Geral do Direito é o 
estabelecimento  de  conceitos  gerais  facilitadores  da  interpretação  do  direito 
positivo de 
qualquer país.
Mas,  fora  o  caso  de  Kelsen  (  §  §  197  e  200),  que,  em  virtude  da  `  `pureza 
metódica'', 
que adota, não empregou `  `julgamentos de valor'' na ciênciajuridica, e, de certa 
forma, 
de  Carnelutti,  os  demais  juristas  de  nossa  época,  como  Dabin,  Haesaert, 
Perticone, 
Cesarini Sforza, Groppali, I.evi, ou Roubier, confundiram, como dissemos, o objeto 
da 
Teoria Geral do Direito com os da Filosofia do Direito e os da Sociologia Jurídica. 
Bobbio (Studi sulla Teoria Generale del Diritto), o melhor crítico das Teorias 
Gerais do Direito contemporâneas, diz que a relação que há entre a Teoria Geral 
do 
Direito  e  as  demais  disciplinas  particulares  não  é  uma  relação  de  gênero  e 
espécie, 
mas deforma e conteúdo. Assim, a Teoria Geral do Direito é uma teoriaformal do 
direito, distinta das demais disciplinas jurídicas particulares, que têm por objeto o 
conteúdo das normas. É, antes de tudo, ` `teoria do direitopositivo''. 
A nosso ver, a Teoria Geral do Direito destina­se a estabelecer os elementos 
formais, essenciais e comuns a qualquer norma juridica, independente de seu 
conteúdo, bem como formular os conceitosjuridicosfundamentais, indispensáveis 
ao raciocinio juridico. É, como disse Kelsen (Teoria Ceral do Direito e do 
Estado), Teoria Geral do Direito Positivo, resultante da ` `análise comparativa dos 
direitos". 
Não se ocupa do problema dos fins, dos valoresjurídicos e dajustiça, da alçada 
da Filosofia do Direito, nem de quest<*­*>es sociológicas, pertinentes à Sociologia 
Jurídica. 
Não é teoria do direito de um país, mas teoriajuridica comum a vários direitos. 
Não é, entretanto, teoria de direito universal, visão positivista da ciência do direito 
natural, fora do espaço­tempo, mas teoria do direito histórico. 
7. SOCIOLOGIA JURÍDICA 
Pode­se dizer que a Sociologia Juridica é ciência muito jovem, estando ainda 
em estado de formação. Daí ter razão Timasheff (Introduction a la Sociologie 
Juridique) quando diz estar a Sociologia do Direito em plena infância. 
Sendo ciência recente, é natural que os principais estudos de Sociologia 
Jurídica versem sobre problemas metodológicos, a respeito dos quais juristas e 
sociólogos não chegaram ainda a um acordo. 
17 
Introdução ao Estudo do Direito 
Com muita precisão e razão Timasheffreconhece ser necessário definir a Socio­
logia Juridica como ciência nomográfica, por pressupor o princípio de causalidade 
e por 
ocorrer regularidade no processo histórico modelador do direito. 
Não há acordo, também, quanto à tarefa da Sociologia Jurídica, talvez porque, 
como dissemos, historicamente, a Sociologia do Direito é ciência muito nova. '3 
Gurvitch vê em Aristóteles, Hobbes e Spinoza os precursores da Sociologia do 
Direito.  Já  Ehrlich  pensa  que  o  Esprit  des  Lois,  de  Montesquieu,  `  `deve  ser 
conside­ 
rada a primeira tentativa para elaborar uma sociologia juridica''. 
Para nós, é com Montesquieu, Maine, Durkheim e Max Weber que a Sociologia 
Jurídica se constitui como ciência autônoma. 
Entendemos por Sociologia Jurídica aparte da Sociologia que estuda o direito 
como fenômeno social, ou, ainda, como fenômeno sociocultural, indagando os 
fatores de sua transformação, desenvolvimento e declinio, de modo a que, com o 
estudo comparativo desses fatores em várias sociedades, possa: 1", solucionar o 
problema da gênese social do direito; 2", descobrir as estruturas socioculturais 
correspondentes  aos  diversos  tipos  de  direito,  bem  como  explicar, 
sociologicamente, 
as idéias e instituiç<*­*>es jurídicas, desvendando suas bases sociais. 
Assim, a Sociologia do Direito, para não se afastar do pensamento sociológi­ 
co,  deverá  levar  em  conta  os  resultados  da  sociologia  geral,  da  sociologia  da 
moral, 
da sociologia política, da sociologia da cultura e da sociologia do conhecimento. 
Sociologicamente compete­lhe:1', apurar as condiç<*­*>es sociais e econômicas, 
morais, geográficas e demográficas etc. do direito; 2a, encontrar os fatores sociais 
das  transformaç<*­*>es  jurídicas;  3',  elaborar  uma  teoria  sociológica  do 
conhecimento 
jurídico, do saber jurídico, encontrando a motivação social das idéias jurídicas; 4a, 
verificar os resultados sociais das regras, teorias e instituiç<*­*>es jurídicas, a fim 
de 
facilitar o trabalho do legislador, do juiz e do jurista na reforma, interpretação e 
p ç 
a lica ão do direito; 5, estabelecer a função e o fundamento sociais do direito em 
tese e dos direitos históricos; 6a, apurar os fatores sociais dos fatos jurídicos 
(divórcio, casamento, crimes etc.) e a inter­relação entre esses fatos e a realidade 
social;  7a,  descobrir  os  tempos  e  espaços  socioculturais  (§  28)  do  direito;  88, 
verificar 
os  fatores  sociais  da  presença  em  diferentes  direitos  de  elementos  comuns  a 
todos 
os direitos e de elementos jurídicos espeçíficos a alguns; 9a, definir o direito em 
termos 
sociológicos,
l  3  Entre  nós,  a  Sociologia  Jurídica  foi  tratada por Pontes  de Miranda, Queiroz 
Lima, Carlos Campos, 
Cláudio Souto, Djacir Menezes, Evaristo de Moraes Filho, Cândido Mendes de 
Almeida, Nélson 
Nogueira Saldanha, Miranda Rosa etc. Pela originalidade com que a versaram na 
América Latina, 
devem ser lembrados os argentinos Herrera Figueroa, Pedro David e o mexicano 
L. Mendieta y 
Nunez. 
<012> 
18 
Paulo Dourado de Gusmão 
Considerando a Sociologia Jurídica o direito como fato social, como fenômeno 
social, serve­se dos métodos das ciências nomográficas, isto é, das ciências que 
pesquisam regularidades além, é claro, do método sociológico propriamente dito, 
deixando  o  estudo  das  `  `significaç<*­*>es'',  dos  `  `sentidos''  e  dos  `  `valores'', 
embutidos 
nas normas e nos fatos jurídicos, à Filosofia do Direito. 
8. HISTÓRIA DO DIREITO 
É a parte da História que tem por objeto o direito considerado como fato histórico. 
É,  assim,  uma  história  particular,  e  não  geral,  por  ser  o  direito  um  dos 
componentes da 
Cultura.  Como  históriaparticular,  a  do  direito  só  pode  ser  traçada  com  o 
conhecimento 
da História da Cultura, em que o direito estiver inserido, bem como da História da 
nação 
a qual ele pertencer por não ser fenômeno histórico­social autônomo, mas um dos 
elementos do fenômeno sócio­cultural global, encaixado em um contexto histórico. 
Como o  direito  varia  com as  sociedades,  as  naç<*­*>es e  as  civilizaç<*­*>es,  a 
História do Direito 
não é história universal do direito, mas a história do direito de uma civiliza<*­*>ão, 
podendo 
ser  também  História  do  direito  de  um  pais.  Há,  assim;  a  História  do  Direito 
ocidental 
ou europeu, como há a História do Direito grego antigo, do direito sumeriano, do 
direito 
romano, do direito brasileiro, etc. Por isso, tem razão Kohler quando diz que cada 
civilização  tem seu direito,  conseqüentemente  a História de seu direito, da qual 
depende 
o sentido dos direitos dos países nela integrados, como, em nosso caso, depende 
do
direito português e do direito romano. 
Por outro lado, a História do Direito não é só a História do direito petrificado nas 
normas, escritas ou costumeiras, mas também dajurisprudência dos tribunais, da 
ciência 
jurídica  e  dos  documentos  que  dão  vida  ao  direito.  Assim,  tem  por  matéria 
documentos 
juridicos  históricos,  sejam  leis,  códigos  etc.,  sejam  contratos,  testamentos, 
sentenças 
etc., não só o direito estratiflcado, como, também, o direito vivo. Não se restringe, 
pois, 
à história da  legislação. Tem sempre em vista o direito positivo,  isto é, o direito 
que foi 
eficaz, ou seja, que produziu efeitos históricos. 
Grande é a importância dos estudos históricos do direito, pois, revelando os 
efeitos históricos das  legislaç<*­*>es, da  jurisptudência, dos negócios jurídicos e 
da 
doutrina,  facilitam a compreensão do direito atual, além de fornecer aos juristas, 
ao 
legislador e ao juiz liç<*­*>es que devem ser aproveitadas. 
Serve­se a História do Direito do mesmo método da História in genere: critica 
dos  doç<*­*><*­*>mentos.  A  primeira  tarefa  do  historiador  do direito  deve  ser  a 
descoberta 
de  documentos,  seguida  da  "crítica"  dos  mesmos,  isto  é,  da  análise  do 
documento, 
verificando inicialmente a sua autenticidade, para depois, então, entregar­se à sua 
hermenêutica ou interpretação. Por documentosjuridicos entendemos leis, senten­ 
ças,  obrasjurídicas,  testamentos,  contratos,  portarias  etc.  Partindo  desses 
documen­ 
tos,  o  historiador  do  direito  pode  estabelecer  generalizaç<*­*>es,  reconstituir 
épocas e 
explicar o passado do direito. 
19 
Introdução ao Estudo do Direito 
9. INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO 
Disciplina destinada a dar ao iniciante na ciênciajurídica as noç<*­*>es e os 
princípios  jurídicos  fundamentais,  indispens<*­*>veis  ao  raciocínio  jurídico,  bem 
como 
noç<*­*>es  sociológicas,  históricas  e  filosóficas  necessárias  à  compreensão  do 
direito 
na totalidade de seus aspectos. Foroece uma visão de conjunto, bem como as 
possíveis raízes sociais e históricas do direito e o seu fundamento filosóftco. É, 
portanto, uma disciplina enciclopédica, motivo por que já fora denominada de
Enciclopédia Juridica. Dando os conceitos fundamentais do direito, tem pontos de 
contato com a Teoria Geral do Direito, apesar de com ela não se confundir. 
Denominada,  entre  nós,  anteriormente,  IntroduÇão  à  Ciência  do  Direito, 
denomina­ 
ção ainda usada em outros países. 
A importância dessa disciplina tem sido ressaltada por muitos juristas e 
professores.  Confirma  essa  assertiva  a  Circular,  de  29  de  junho  de  1840,  do 
Ministre 
de 1'Instruction da França, Guizot, transcrita no prefácio do Prof. F. Larnaude, da 
Universidade de Paris, à tradução francesa do Curso de Teoria Geral do Direito, 
de 
Korkounov (Paris, V. Giard E. Briére,1903). Na referida circular, justificando a 
criação da cadeira de Introduction générale à I'étude de droit, na Faculdade de 
Direito de Paris (25 .06.1840), Guizot assim se pronunciou: há uma lacuna grave 
no 
ensino jurídico (em 1840), os "alunos, que ingressam na Faculdade, não têm uma 
cadeira preliminar que os faça conhecer o objeto e o fim da ciência jurídica, as 
diversas  partes  que  a  comp<*­*>em,  os  laços  que  as  unem,  a  ordem  em  que 
devem ser 
sucessivamente estudadas, e, sobretudo, o método que preside essa ciência. . . ''. 
Esse 
é o propósito dessa disciplina: fornecer uma visão de conjunto do direito como 
ciência e como sistema de normas. Com esse propósito foi escrito este livro. 
10. FILOSOFIA DO DIREITO 
A questão de saber o que seja a Filosof'ia do Direito é, como em toda filosofia," 
o primeiro problema do filosofar. 
A problematicidade da filosof'iajurídica desafia o jurista, como a questionabi­ 
lidade da filosofia preocupa os filósofos. 
Até o século XIX, no Ocidente, os juristas filosofaram sobre o direito, sem se 
preocuparem se era ou não filosofia o que faziam. 
A crise da teoria jurídica clássica (teoria do direito natural) e da metafísica, 
aliada à crise do Iluminismo, acarretou a problematicidade da própria Filosof'ia do 
Direito. Esta, confizndida com a teoria do direito natural, não pôde resistir aos 
impactos do historicismo e do positivismo. Foi assim que a f'<*­*>losofia jurídica, 
pela 
14  Simmel,  "Pc'oblemas  Fundamentales  de  la  Filosofia",  Madri,  Revista  de 
Occidente,1946, trad., p.11. 
<012> 
20 
Paulo Dourado de Gusmão
primeira vez,  foi posta à prova. Desde então os juristas começaram a desconfiar 
de 
suas filosofias. 
Surgiram, para substituí­la, a Teoria Geral do Direito (Allgemeine Rechtslehre) 
dos alemães, a Enciclopédia Juridica dos italianos e a Analytical Jurisprudence do 
inglês  Austin,  como  filosofias  do  direito  positivo,.  segundo  o  modelo  do 
positivismo. 
Seus propugnadores consideravam­nas como filosofias apropriadas para a época 
cien­ 
tífica  do  Ocidente,  isto  é,  para  um  período  histórico  que  depositava  grande 
confiança 
no progresso das ciências e na possibilidade de cientificamente serem resolvidas 
todas 
as quest<*­*>es. 
Mas, como o cientificismo aspirava a um tipo de conhecimento claro, ordena­ 
do, sistemático, inquestionável, o que se viu, depois da crise do jusnaturalismo, foi 
a problematicidade da ciência do direito e o entrechoque de enorme variedade de 
teorias jurídicas. 
Por isso, os juristas­filósofos continuam e continuarão formulando filosofias 
jurídicas. 
Como entendê­la? De modo geral, dizendo estar a Filosofia do Direito fora do 
domínio da ciência do direito, sem confundi­la com a Teoria do Direito Natural, que 
nada mais é do que um de seus modos de ser. Pode­se hoje entendê­la como o 
conhecimento resultante da auto­reflexão sobre o ser, o sentido, o fundamento, a 
finalidade e os valores do direito, sem deixar de ser o tribunal do direito positivo. 
De modo muito amplo: o saber decorrente da auto­refiexão sobre o direito sem 
qualquer limitação, por não ser limitável opensamentofilosófico. Querendo: o saber 
que,  pondo  à  prova  o  conhecimento  jurídico,  sem  dar  soluç<*­*>es  definitivas, 
suscita 
problemas. Estes, e não as  respostas, é que, desde Atenas, desafiam o  tempo. 
Em 
nossa Filosofia do Direito (1985) assim escrevemos: "O valor da filosofia reside 
mais nas perguntas ­ que são eternas ­, nas quest<*­*>es que suscita, do que nas 
respostas'' que dá historicamente. A ` `pergunta é mais importante, lança a dúvida, 
quebra o gelo que encobre a realidade jurídica, abre novos horizontes, novas 
perspectivas, colocando em questão o estabelecido por respostas do passado. As 
perguntas  são  os  temas,  as  respostas,  as  fllosofias",  e  não  a  Filosofia 
propriamente 
dita, inexaurível. A ` `filosofia que pretender ter resposta definitiva para os eternos 
problemas é dogma, incompatível com o espírito filosófico"... ou, como disse Paul 
Valéry, um dos "desejos idiotas do homem". 
Antes de Hegel, foi tratada por filósofos, incluída em seus sistemas, como fez 
o própria Hegel. Depois dele, tem sido obra de juristas. Stammler foi o jurista que 
primeiro construiu um sistema filosófico do direito. O primeiro, quiçá o último.
II 
RELAÇÊES DA CIÊNCIA JURÍDICA 
COM OUTRAS CIÊNCIAS 
11. O DIREITO E AS CIÊNCIAS SOCIAIS 
Os séculos XIX e XX modificaram profundamente a noção do homem culto e 
de  fonte  do  saber.  Assim,  até  bem  pouco  tempo,  bastava  ao  jurista,  para  ter 
cultura 
geral compatível com o seu papel social, ser iniciado em Filosofia e História. Hoje, 
a Filosofia, que perdeu muito de sua supremacia, é somente uma das  fontes do 
saber 
utilizada pelo  jurista para compreender, em sua totalidade, a  realidade social de 
seu 
tempo. 
Desta forma, em nossa época, não mais se pode pensar em estudar o direito 
sem o conhecimento de outras ciências que facilitam a exegese, a aplicação e, 
principalmente, a criação do direito. 
Daí não ser exagero afirmar: o desconhecimento dessas ciências muito tem 
contribuído  para  a  perda  do  papel  social  que  desempenhou  o  jurista  no  nosso 
passado 
até  os  anos  60,  para  a  qual  concorreu  também  a  crise  do  ensino  jurídico, 
divorciado das 
demais  ciências  sociais,  destinado  exclusivamente  a  formar  profissionais 
eficientes, 
"doutores em leis", e não juristas. 
Para que ojuristatenhaumavisão atual do direito é necessário que sejainiciado 
nas  ciências  sociais  dentre  as quais destacamos a Sociologia, pela  importância 
que 
tem para o direito, pois, hoje, não se pode formular, interpretar ou aplicar o direito 
sem o conhecimento dessas ciências e, muito menos, construir a ciência jurídica, 
como autêntica ciência, sem uma visão sociológica. Basta, para comprovar nosso 
pensamento, meditar sobre o que é a Sociologia, que, como nota Sorokin, é não 
só
a ciência das "relaç<*­*>es e correlaç<*­*>es entre várias classes de fenômenos 
sociais 
(correlaç<*­*>es entre os fatores econômicos e os religiosos; a família e a moral; o 
jurídico e o econômico; a mobilidade e os fenômenos políticos etc.)", como, 
também, o estudo das relaç<*­*>es "entre os fenômenos sociais e os não­sociais 
(geográ­ 
ficos,  biológicos  etc.)",  que  a  habilita  a  dar  as  "características  gerais  comuns a 
toda 
classe de  fenômenos sociais''  (vide Capítulo  lln e a entendê­los como realmente 
são. 
<012>
22 
Paulo Dourado de Gusmão 
E assim é porque a Sociologia estuda os fatos sociais, ou seja, os fenômenos 
sociais. Ora, o direito é um fato social, resultante do impacto de diversos fatores 
sociais (religião,

Outros materiais