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Economia e Gestão do Setor Público Professor conteudista: Marcos Paulo de Oliveira Sumário Economia e Gestão do Setor Público Unidade I 1 ESTADO, PODER E GOVERNO ..................................................................................................................... 10 1.1 Dois pontos de vista: o sociológico e o jurídico ..................................................................... 10 1.2 O Estado .................................................................................................................................................. 10 1.2.1 Elementos do Estado ............................................................................................................................ 12 1.2.2 Governo ...................................................................................................................................................... 14 1.2.3 Política ......................................................................................................................................................... 17 1.2.4 Sociedade ................................................................................................................................................... 18 1.3 Teoria da burocracia ........................................................................................................................... 19 1.4 Administração pública ...................................................................................................................... 22 1.5 Resumo ..................................................................................................................................................... 23 2 TEORIA DE FINANÇAS PÚBLICAS E SEUS CONCEITOS ...................................................................... 23 2.1 Conceitos básicos ................................................................................................................................ 24 2.2 Falhas de mercado ............................................................................................................................... 26 2.2.1 Bens públicos ............................................................................................................................................ 27 2.2.2 Externalidades .......................................................................................................................................... 29 2.2.3 Poder de mercado e assimetria ......................................................................................................... 30 2.2.4 Política fiscal ............................................................................................................................................. 31 2.2.5 Inflação e déficit público ..................................................................................................................... 32 2.2.6 Teoria da tributação ............................................................................................................................... 33 2.3 Resumo ..................................................................................................................................................... 40 3 O CASO BRASILEIRO ....................................................................................................................................... 40 3.1 Necessidade de Financiamento do Setor Público - NFSP ................................................... 40 3.2 NFSP: conceitos de caixa x competência .................................................................................. 42 3.3 NFSP: conceito operacional ............................................................................................................ 43 3.4 NFSP: conceito nominal ................................................................................................................... 44 3.5 NFSP: conceito primário .................................................................................................................. 45 3.6 DLSP: Dívida Líquida do Setor Público (estoque) ................................................................... 46 3.7 Resumo ..................................................................................................................................................... 47 Unidade II 4 SISTEMA TRIBUTÁRIO BRASILEIRO ........................................................................................................... 48 4.1 Os tributos no Brasil ............................................................................................................................ 48 4.1.1 Dados históricos ..................................................................................................................................... 49 4.2 Carga tributária brasileira ................................................................................................................. 54 4.3 Distribuição por nível de governo ................................................................................................. 55 4.4 Problemas e desafios do modelo brasileiro ................................................................................ 58 4.5 Resumo ..................................................................................................................................................... 61 5 SISTEMA FEDERATIVO E A DESCENTRALIZAÇÃO DO ESTADO BRASILEIRO ................................. 62 5.1 Conceituando a federação ............................................................................................................... 63 5.2 Estrutura federalista ............................................................................................................................ 64 5.2.1 O poder e a política ................................................................................................................................ 65 5.3 A descentralização de fato ............................................................................................................... 66 5.3.1 Modelos de descentralização ............................................................................................................ 69 5.4 Resumo ......................................................................................................................................................71 6 SEGURIDADE SOCIAL .................................................................................................................................... 72 6.1 Seguridade Social ................................................................................................................................. 73 6.1.1 Programas sociais ................................................................................................................................... 76 6.2 Sistemas previdenciários ................................................................................................................... 77 6.2.1 Causas do déficit previdenciário ....................................................................................................... 80 6.3 Resumo ..................................................................................................................................................... 82 7 DEMOCRACIA E ACCOUNTABILITY .......................................................................................................... 83 7.1 Governo e democracia ....................................................................................................................... 83 7.1.1 Financiamento de campanhas eleitorais ..................................................................................... 85 7.1.2 Processo orçamentário e prestação de contas por parte do Poder Executivo ............. 85 7.1.3 Mecanismos de restrição orçamentária eaccountability, com destaque para a LRF ........ 86 7.1.4 Tribunal de contas ................................................................................................................................. 86 7.1.5 Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) ............................................................................ 87 7.1.6 Orçamento Participativo (OP) ........................................................................................................... 87 7.2 Resumo ..................................................................................................................................................... 87 8 TEORIA DE ESCOLHA PÚBLICA ................................................................................................................... 88 8.1 Corrupção e a figura do rent seeking .......................................................................................... 88 8.2 Teoria de escolha pública (public choice) ................................................................................... 89 8.3 Resumo ..................................................................................................................................................... 91 Unidade III 9 LEGISLAÇÃO E EXECUÇÃO ORÇAMENTÁRIA ........................................................................................ 92 9.1 Origens do orçamento ........................................................................................................................ 92 9.1.1 Origens no Brasil ..................................................................................................................................... 94 9.2 Leis orçamentárias no Brasil ............................................................................................................ 95 9.2.1 Lei orçamentária ..................................................................................................................................... 96 9.3 Orçamento Programa no Brasil ...................................................................................................... 97 9.3.1 Os primeiros programas no Brasil e sua implementação oficial ......................................... 98 9.4 Lei de Responsabilidade Fiscal – LRF ..........................................................................................103 9.5 Plano Diretor ........................................................................................................................................104 9.6 Resumo ...................................................................................................................................................106 10 POLÍTICAS PÚBLICAS, PRESENTE E PASSADO ..................................................................................107 10.1 Políticas públicas: gênese do Estado ........................................................................................108 10.1.1 Políticas públicas no contexto internacional ...........................................................................111 10.2 Teoria da regulação ......................................................................................................................... 112 10.2.1 Efeitos imprevistos da regulação ................................................................................................. 114 10.2.2 Aspectos da regulação ..................................................................................................................... 115 10.2.3 Regulação no Brasil ........................................................................................................................... 118 10.3 Resumo ................................................................................................................................................ 119 11 CONSELHO DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL - CDES ......................................120 11.1 Conselhos de desenvolvimento e democracia......................................................................120 11.2 Estado e sociedade no Brasil: patrimonialismo, autoritarismo e exclusão ...............121 11.3 A experiência brasileira ..................................................................................................................122 11.3.1 Malogros e insucessos na experiência brasileira ................................................................... 124 11.4 Resumo .................................................................................................................................................126 1 ECONOMIA E GESTÃO DO SETOR PÚBLICO Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 Unidade I 5 10 15 20 25 Apresentação Prezado aluno, Este texto foi elaborado com o propósito de lhe oferecer uma visão dinâmica e contemporânea da gestão pública e, sendo assim, alinharemos o tema ao seu curso de administração de empresas, para que possa usá-lo como importante ferramenta de gestão e parâmetro organizacional. Nosso esforço será transmitir este conhecimento sem partir da impressão natural que usualmente temos, a de que o Estado vive seu dia a dia em um ambiente sistêmico . Pois bem, no universo da gestão pública encontraremos tudo o que estamos aprendendo na gestão privada, e sabe por quê? Porque o mundo corporativo ou privado, como aqui chamamos, pouco difere em sua estrutura de mando organizacional, no entanto, o Estado se separa destas coincidências quando o mesmo é chamado a apresentar seus objetivos. Quando constituímos uma empresa ou negócio próprio, este negócio ou empresa tem como missão a geração de lucros para a remuneração dos investidores, que neste caso somos nós, ou caso prefira, os donos das empresas (empresários). Neste exato instante, a gestão pública, que também é tratada aqui como uma grande, mega, hiper organização, tem como objetivo o lucro. O lucro? Pergunta você... Que tipo de lucro? Ela não é uma ”empresa pública”, de todos que 2 Unidade I Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 pagam impostos, como ela poderá auferir lucro contra seus próprios sócios? Espera lá caro amigo, já vamos explicar esta charada. O tipo de “lucro” que tratamos na empresa privada é bem diferente da empresa pública. Na empresa privada temos como missão a remuneração efetiva do “capital (dinheiro)” e na empresa pública o “lucro” é o bem-estar das pessoas (welfare state), como verá mais adiante em nosso trabalho. Um dos princípios da boa gestão pública é, sem dúvida alguma, aplicar corretamente os impostos arrecadados, evitar o desperdício de verba pública, tratar o Estado como se fosse sua própria empresa e atender seus “clientes” (contribuintes) como se fossem os últimos, enfim, utilizar a gestão pública na busca incansável da igualdade social e do respeito à cidadania. Por isso acreditamos que tratar do tema economia e gestão do setor público, um tema tão cotidiano, de forma acadêmica, histórica, sem perder sua noção de praxis, é inseri-lo zelosamente na condição de cidadão e pessoa da sociedade. A estrutura deste trabalho está distribuída em onze módulos, divididos em quatro grandes unidades. Visão geral do conteúdo UNIDADE I – Fundamentos do Estado, das formas e das funções do governo Nesta primeira parte, serão contextualizados o Estado orgânico, sua missão e objetivos, de forma escatológica ou histórica, como preferir, buscando-se a fundação do Estado em suasformas e origens (gênese do poder). Neste exato ponto, espera-se uma melhor compreensão sua a respeito da sociedade organizada em torno deste poder do Estado. 5 10 15 20 25 30 3 ECONOMIA E GESTÃO DO SETOR PÚBLICO Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 Ainda veremos teorias e conceitos de gestão pública, à luz do Estado brasileiro, na organização do mercado interno e sua consolidação econômica e, por fim, na consolidação do Estado como árbitro na promoção da cidadania e do bem-estar social. 1 – Estado, poder e governo Reconhecer os fundamentos do Estado, suas estruturas e a influência do Iluminismo francês através do Barón de La Bréde et de Montesquieu ou, como é mais conhecido, Montesquieu, em sua obra L’Espirit de Lois1; buscar em Thomas Hobbes2 sua grande contribuição em separar o poder do Estado do poder da sociedade ou comunidade sobre a qual aplica seu poder político e, simultaneamente, dos poderes de governante. 2 – Teoria de finanças públicas e seus conceitos Para este módulo, recuperaremos os principais conceitos e teorias sobre as finanças públicas. Para isso, iremos contextualizar que a teoria das finanças públicas representa um ramo da ciência econômica, em que se trata dos gastos do setor público e das formas de financiamento desses gastos. Podemos dizer que as finanças públicas abrangem a captação de recursos pelo Estado, sua gestão e seu gasto para atender às necessidades da coletividade e do próprio Estado. 3 – O caso brasileiro Aqui trataremos especialmente do caso da teoria de finanças públicas imerso na gestão pública brasileira; entendendo a economia brasileira como um pequeno laboratório sobre tais teorias, você terá a oportunidade de observar algumas peculiaridades do nosso modelo e entender se são justos os motivos e críticas que se fazem a respeito do nosso setor público. 1 Montesquieu escreveu em 1734 esta obra que traz na essência, como o próprio título diz, o espírito das leis, na qual contextualiza as motivações e caráter que constroem um tipo de governo, suas virtudes políticas, a honra e o temor. 2 Filósofo inglês (1588 – 1679), cujas obras, especialmente Leviatã (1651), influenciaram fortemente toda a subsequente filosofia moral e política inglesa. 5 10 15 20 25 4 Unidade I Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 UNIDADE II – Sistema tributário e federativo brasileiro O Código Tributário Nacional , em seu art. 3º, preceitua que “tributo” é “toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada”. O Sistema Tributário Brasileiro é composto pelos tributos instituídos no Brasil, e pelos princípios e normas que regulam tais tributos. No Brasil adota-se o princípio da estruturalidade orgânica do tributo, pelo qual a espécie tributária é determinada pelo seu fato gerador. Neste módulo, estaremos interessados em descobrir como o nosso sistema tributário foi criado e sob quais premissas econômicas. A partir daí, pularemos para a compreensão da hierarquia tributária hoje no Brasil, seus mandos e desmandos, e porque a descentralização deu mais poderes aos estados e municípios. 4 – Sistema Tributário Brasileiro Entende-se por sistema tributário o complexo orgânico formado pelos tributos instituídos em um país ou região autônoma e os princípios e normas que os regem. Podemos concluir então, que o Sistema Tributário Brasileiro é composto dos tributos instituídos no Brasil, dos princípios e das normas que regulam tais tributos. Entretanto, cabe aqui contextualizarmos os principais conceitos do sistema tributário que norteiam o Estado brasileiro e suas principais características. 5 - Sistema federativo e a descentralização do Estado brasileiro Atribui-se o nome de “federação” a um Estado composto por diversas entidades territoriais autônomas dotadas de governo próprio, geralmente conhecidas como “estados”. 5 10 15 20 25 30 5 ECONOMIA E GESTÃO DO SETOR PÚBLICO Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 Como regra geral, os estados (“estados federados”) que se unem para constituir a federação (o “Estado federal”) são autônomos, isto é, possuem um conjunto de competências ou prerrogativas garantidas pela Constituição que não podem ser abolidas ou alteradas de modo unilateral pelo governo central. Entretanto, apenas o Estado federal é considerado soberano, inclusive para fins de direito internacional. Normalmente, apenas estes possuem personalidade internacional; os estados federados são reconhecidos pelo direito internacional apenas na medida em que o respectivo Estado federal os autorizar. O sistema político pelo qual vários estados se reúnem para formar um Estado federal, cada um conservando sua autonomia, chama-se federalismo. UNIDADE III – Gasto público e falhas do governo Aqui, aprenderemos que os mercados perfeitamente competitivos são muito raros, em geral há falhas de mercado como a existência de bens públicos, externalidades, poder de mercado e assimetria de informações. A existência dessas falhas de mercado justifica a intervenção do governo na economia, como uma forma de diminuir suas consequências para a sociedade, principalmente para as classes menos favorecidas. Exercer nossa percepção em relação ao papel do Estado brasileiro será nosso maior esforço neste módulo, sobretudo na questão da manutenção dos direitos sociais a partir da renda e dos serviços básicos a sua população. 6 – Seguridade social Neste módulo, exploraremos os conceitos da seguridade social, em que a Previdência Social (no Brasil) consiste num conjunto de políticas sociais, cujo fim é amparar e assistir o cidadão e a sua família em situações como a velhice, a doença e o desemprego. 5 10 15 20 25 30 6 Unidade I Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 Já a Previdência Social, é uma política pública integrante da seguridade social, e, portanto, não deve ser entendida como seguridade social. Segundo a legislação brasileira, seguridade é muito mais do que a palavra expressa, é o conjunto de ações envolvendo não só a previdência, mas também a saúde pública e a própria assistência social. No entanto, é bom que você saiba que a previdência é um seguro social mediante contribuições previdenciárias, utilizada para substituir a renda do trabalhador quando o mesmo tenha efetiva perda de sua capacidade de trabalho. 7 – Democracia e accountability Accountability3 é um termo ligado à gestão pública moderna, que está relacionado à responsabilidade social e à ética da boa gestão ou, ainda, à gestão cidadã. Os políticos que fazem parte da área executiva dos governos passaram a ser obrigados a relatar suas práticas e filosofias de gestão por meio da contabilidade social. Podemos chamar esta expressão xenófoba de prestação de contas social. Ao olharmos a construção dessa palavra, percebe-seque o account vem de conta, que sugere confiança, e o ability, a questão da habilidade, isto é, os políticos passam a ter que incorporar o papel da confiança e da habilidade técnica em executar as propostas colocadas em seus planos de governo. 8 – Teoria de Escolha Pública Neste módulo observaremos como uma das falhas de governo, batizada de corrupção e com dimensões desastrosas 3 Expressão em língua inglesa, que usualmente é aplicada na contabilidade de fatos quantitativos, e neste caso de gestão pública, em fatos qualitativos, medindo a eficiência dos governantes. 5 10 15 20 25 7 ECONOMIA E GESTÃO DO SETOR PÚBLICO Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 sobre a eficiência econômica dos Estados, transforma as relações impessoais em relações pessoais, conduzindo, como tais, para a “teoria da escolha pública”. Inspirada como uma disciplina independente, ou quase independente da economia política, James Buchanan4 a define como uma perspectiva do campo político que emerge de uma extensão da aplicação de ferramentas e métodos econômicos para decisões coletivas ou tomada de decisões fora do mercado. Em resumo, a escolha pública não é nada mais do que a aplicação de ferramentas econômicas à política. UNIDADE IV – Planejamento na gestão pública Nesta última unidade, veremos como o planejamento e a gestão do setor público nasceram a partir de um instrumento criado ainda no século XII, em meio ao Feudalismo, na Idade Média, chamado de orçamento público. O orçamento público remonta à Constituição Inglesa, outorgada em 1217 pelo rei João Sem Terra, e que em seu artigo 12 estabelecia restrições para a criação de tributos, os quais deveriam ser aprovados pelo Conselho Comum do Reino. Podemos considerar esse fato como escatologicamente correto, e a gênese do planejamento público. Apesar de dispormos, como veremos aqui nesta derradeira unidade, de instrumentos capazes de controlar e guiar a boa administração pública, tal desafio se manifesta na não garantia de estarmos caminhando para uma sociedade mais justa por conta dos rent seeking5, como vimos na unidade anterior. 4 James M. Buchanan Jr. nasceu em Murfreesboro, Tenessee, no dia 3 de outubro de 1919. Esteve vinculado durante a maior parte de sua vida acadêmica a George Mason University, no estado de Virginia, onde foi diretor do Center for the Study of Public Choice. Foi laureado com o Prêmio Nobel de Economia em 1986. 5 Caçadores de renda, dentro da Teoria de Escolha Pública, com objetivo de maximizar o individual e privado, em detrimento do público. 5 10 15 20 25 8 Unidade I Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 9 – Legislação e execução orçamentária Ainda que em 1827 se tenha produzido a primeira lei orçamentária no Brasil, foi em 1831, mediante aprovação do Decreto Legislativo de 15/12/1830, que se consolidou o primeiro orçamento público brasileiro, considerado uma lei de iniciativa do Poder Executivo, estimadora da receita e fixadora da despesa da administração pública para o período de um ano, já que as dificuldades de comunicação e os deficientes mecanismos arrecadadores em relação às províncias frustraram a lei orçamentária de 1827. Com o advento da República surge a Constituição de 1891, passando a ser privativa do Congresso Nacional a elaboração do orçamento, assim como foi instituído o Tribunal de Contas para a fiscalização das contas do Executivo e para auxiliar o Congresso no controle. De lá para cá, o Brasil constituiu um modelo orçamentário composto por um conjunto de procedimentos padronizados a serem seguidos pelos entes da federação, com a missão de arrecadarem suas receitas e efetuarem as suas despesas. 10 – Políticas públicas, presente e passado As iniciativas e políticas governamentais destinadas a criar condições favoráveis ao desenvolvimento econômico quase sempre se limitam às grandes políticas macroeconômicas (monetária, cambial e fiscal), ou, na melhor das hipóteses, a políticas setoriais, cujo objetivo é também de natureza macroeconômica, tais como as políticas industrial, energética, de tecnologia, de promoção de exportação, entre outras. Da mesma forma, as políticas específicas de fomento à atividade empresarial, incluindo financiamentos, eventuais vantagens fiscais (principalmente para investimentos e exportações), são, em geral, definidas de forma “universal”, 5 10 15 20 25 30 9 ECONOMIA E GESTÃO DO SETOR PÚBLICO Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 ou seja, em princípio qualquer empresa que atenda aos objetivos e exigências do programa poderia qualificar-se, independentemente do porte, da região, do setor etc. No caso deste módulo, destacaremos a formulação destas políticas públicas, considerando a literatura e os autores que vêm se dedicando ao estudo e ao debate acerca do tema, e, não obstante a isto, elucidaremos casos práticos brasileiros e o planejamento sob a ótica da sociedade em rede. 11 – Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social - CDES Fazem parte deste conselho, o governo, empregadores e empregados, geralmente sob uma atmosfera nem sempre focada em uma pretensa negociação entre capital e trabalho. Em alguns casos isolados, temos a participação de intelectuais e personalidades ligadas a alguma comunidade. Neste último módulo, conflitaremos opiniões e situações que dimensionem tal iniciativa tripartite, a fim de encerrarmos este curso ouvindo, lendo e pesquisando todas as possibilidades que tangenciam e contribuem com o sucesso ou fracasso da gestão pública. Observação Uma informação que merece ser destacada é que a referência maior para a elaboração do conteúdo de todos os módulos são as obras citadas no final deste livro-texto como referências bibliográficas, destacando mais uma vez os autores Ciro Biderman, Paulo Arvate, Ana Claudia Além e Fabio Giambiagi, que vêm sendo utilizados por diversos centros universitários de renome deste país; devido a uma linguagem fácil, interativa, objetiva, e, fundamentalmente, pela qualidade da pesquisa executada nestas obras. Bons estudos, Professor Marco Antonio Dias 5 10 15 20 25 30 10 Unidade I Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 FUNDAMENTOS DO ESTADO, DAS FORMAS E DAS FUNÇÕES DO GOVERNO 1 ESTADO, PODER E GOVERNO Objetivos do módulo Reconhecer os fundamentos do Estado, suas estruturas e a influência do Iluminismo francês através do Barón de La Bréde et de Montesquieu, ou, como é mais conhecido, Montesquieu, em sua obra L’Espirit de Lois; buscar em Thomas Hobbes sua grande contribuição em separar o poder do Estado dos da sociedade ou comunidade sobre a qual aplica seu poder político e, simultaneamente, os poderes de governante. 1.1 Dois pontos de vista: o sociológico e o jurídico Centro da hierarquização da sociedade, o Estado possui duas linhas teóricas que se multiplicam, porém, fundamentalmente, constituem duas árvores de conhecimento;uma de cunho jurídico, outra sociológico. Na abordagem jurídica, o Estado cuida dos direitos civis, políticos e sociais, configurando, assim, três grupos de direitos fundamentais divididos em igualdade e liberdade, manutenção do Estado de direito e necessidades fundamentais como saúde, educação e assistência social. No entanto, a abordagem sociológica está fundamentada no Estado como centro organizador, sob a ótica do Estado orgânico. 1.2 O Estado O Estado surgiu a partir da evolução das famílias; primeiro com a horda, depois com o clã, a tribo, a polis grega e as civitas romanas. 5 10 15 20 11 ECONOMIA E GESTÃO DO SETOR PÚBLICO Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 Enquanto no Feudalismo o feudo era um pequeno Estado dominado pelo senhor feudal, que era o dono das terras e as explorava; na monarquia, o rei tinha todo o poder e era o próprio Estado. No século XIII, na Inglaterra, foi imposta a Carta Magna ao Rei João Sem-Terra pelos cidadãos ingleses, obrigando-o a consultar a sociedade. Maquiavel,6 um dos grandes pensadores políticos, foi o primeiro a utilizar a palavra Estado em suas obras. Thomas Hobbes menciona, em sua obra Leviatã, a palavra Estado e a compara a um monstro gigantesco que devora e absorve todos os direitos individuais das pessoas. Para Jean Jacques Rousseau, o Estado nasceu de um contrato social, pelo qual o homem renunciou o estado de natureza em que vivia, com parcela de sua liberdade, para obter do Estado o mínimo de segurança e bens indispensáveis a sua sobrevivência tranquila. A lei passou a ser a expressão da vontade geral e esses ideais foram observados na Revolução Francesa de 1789 (liberdade, igualdade e fraternidade). Embora o conceito de Estado tivesse origem nas antigas cidades-estados que se desenvolveram na Antiguidade, nas mais variadas e longínquas regiões do mundo, como a Suméria, a América Central e o Extremo Oriente. Em muitos casos, estas mesmas cidades-estados foram, a certa altura da história, reféns de um governo nada democrático, seja por interesses econômicos mútuos, seja por dominação pela força. O Estado como unidade política no mundo tem evoluído para algo parecido com o supranacionalismo, na forma de 6 Nicolau Maquiavel (1469-1527), um dos mais conhecidos filósofos políticos de todos os tempos, se tornou famoso por defender a visão de que um governante, se necessário, deveria ser cruel e fraudulento para obter e manter o poder. Seus críticos o denunciam como um homem que foi desprovido de moralidade, porém, seus admiradores afirmam que ele foi um dos únicos realistas que verdadeiramente entendiam o mundo político e que teve a coragem de descrevê-lo como ele realmente é. 5 10 15 20 25 12 Unidade I Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 organizações regionais, como é o caso da União Europeia. Desse modo, o Estado representa a forma máxima de organização humana, somente transcendendo a ele a concepção de Comunidade Internacional. A definição de Estado é a de instituição organizada de forma política, social e jurídica, que ocupa um território definido onde a lei máxima é uma Constituição escrita e dirigida por um governo, capacitado de soberania reconhecida internamente e externamente. 1.2.1 Elementos do Estado • O povo que é o conjunto de pessoas submetidas à ordem jurídica estatal, que compreende o nacional residente e o que está fora dele. • Território é o elemento material, espacial ou físico do Estado. Compreende a superfície do solo que o Estado ocupa, seu mar territorial e o espaço aéreo (navio, aeronaves, embaixadas e consulados). • Governo é a organização necessária ao exercício do poder político. • Soberania é o poder de organizar-se juridicamente e de fazer valer dentro de seu território a universalidade de suas decisões nos limites dos fins éticos de convivência. Um Estado soberano é sintetizado pela máxima “Um governo, um povo, um território”. Como já vimos, o conceito de Estado é jurídico e o de nação é sociológico, em que “nação” é a sociedade natural de pessoas, dentro de um território ou não, com mesma origem, costumes, língua e comunhão de vida. Vejamos ainda, que “nação” é a semente do Estado vinculada à sociedade e à união de indivíduos com objetivos comuns. 5 10 15 20 25 13 ECONOMIA E GESTÃO DO SETOR PÚBLICO Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 O fim do Estado é assegurar a vida humana em sociedade, garantir a ordem interna, assegurar a soberania na ordem internacional, elaborar as regras de conduta e distribuir a justiça. Para que você possa dimensionar o Estado na praxis, lembramos que os objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil, que é um Estado democrático de direito, são: • construir uma sociedade livre, justa e solidária; • garantir o desenvolvimento nacional; • erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; • promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação (art. 3º, CF). O Estado pode ser: • unitário ou simples, quando só existe uma fonte de direito, que é no âmbito nacional, estendendo-se uniformemente sobre todo o seu território (França, Bélgica, Itália e Portugal são unitários); • composto, como o Estado federado, onde há a reunião de vários estados-membros que formam a federação. Existem várias fontes de direito: federal, estadual e a municipal (Brasil e EUA são federados). O Estado é responsável pela organização e pelo controle social, pois detém o monopólio legítimo do uso da força (coerção). O reconhecimento da independência de um Estado em relação a outros, permitindo ao primeiro firmar acordos 5 10 15 20 25 14 Unidade I Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 internacionais, é uma condição fundamental para o estabelecimento da soberania. O Estado pode também ser definido em termos de condições domésticas (internas), especificamente no que diz respeito ao monopólio do uso da violência ou força (conforme descreveu Max Weber, entre outros). 1.2.2 Governo O governo é a instância máxima de administração executiva, geralmente reconhecida como a liderança de um Estado ou uma nação. Normalmente, dá-se o nome de governo ou gabinete ao conjunto dos dirigentes executivos do Estado, ou ministros (por isso, também se chama Conselho de Ministros). O regime de governo pode ser a república ou a monarquia, e o sistema de governo pode ser o parlamentarismo, o presidencialismo, o constitucionalismo ou o absolutismo. Uma nação sem governo é classificada como anárquica. Pode-se dizer que forma de governo é um conceito que se refere à maneira como se dá a instituição do poder na sociedade e como se dá a relação entre governantes e governados. Sistema de governo, por outro lado, não se confunde com a forma de governo, pois este termo diz respeito ao modo como se relacionam os poderes.Formas de governo Em ciência política, dá-se o nome “forma de governo”, ou “regime político”, ou “sistema político” ao conjunto de instituições políticas por meio das quais um Estado se organiza de maneira a exercer o seu poder sobre a sociedade. Cabe notar que esta definição é válida mesmo que o governo seja considerado ilegítimo. 5 10 15 20 25 15 ECONOMIA E GESTÃO DO SETOR PÚBLICO Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 A forma de governo adotada por um Estado não deve ser confundida com a sua forma de Estado (Estado unitário ou federal) ou com o seu sistema de governo (presidencialismo ou parlamentarismo, dentre outros). Outra medida de cautela a ser observada ao estudar-se o assunto é ter presente o fato de que é complicado categorizar as formas de governo. Cada sociedade é única em muitos aspectos e funciona segundo estruturas de poder e sociais específicas. Assim, alguns estudiosos afirmam que existem tantas formas de governo quanto há sociedades. Tendo em mente a dificuldade de classificar-se as formas de governo, estas são tradicionalmente categorizadas em: • monarquia (rei ou monarca é o chefe de Estado); • república (um representante é escolhido pelo povo para ser o chefe de estado). Outras formas de exercício do poder: • anarquismo (abolição do Estado como autoridade detentora do uso da força); • autocracia (governo por si próprio); • autoritarismo (instituição ou pessoa que excede a autoridade que lhe é dada); • fascismo (doutrina totalitária italiana de extrema direita); • absolutismo (dá ao rei poder ilimitado independente de seu estado); • despotismo (o poder se encontra nas mãos de apenas um governante); • despotismo esclarecido (governam pela felicidade dos povos); 5 10 15 20 25 16 Unidade I Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 • ditadura (regime político oposto à democracia); • ditadura militar (regimes militares opostos à democracia); • monarquia (o rei ou monarca é o chefe de Estado); • monarquia absoluta (historicamente, o mesmo que absolutismo); • totalitarismo (baseado no poder do Estado sobre a sociedade); • estados comunistas (sistema econômico que nega a propriedade privada dos meios de produção); • nacional-socialismo (ditadura que governou a Alemanha de 1933 a 1945 - nazismo); • tirania (governo com poder ilimitado representando a vontade do povo). Democracia (“governo do povo, pelo povo e para o povo”): • democracia direta (o povo expressa sua vontade por voto direto); • democracia representativa (através da eleição de representantes do povo); • parlamentarismo (o poder Executivo depende do apoio direto ou indireto do parlamento para ser constituído e para governar); • presidencialismo (o líder do poder executivo é escolhido pelo povo); • semi-presidencialismo (o chefe de governo e o chefe de Estado são eleitos separadamente e por partidos rivais). 5 10 15 20 25 17 ECONOMIA E GESTÃO DO SETOR PÚBLICO Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 Oligarquia (governo de poucos em benefício próprio): • aristocracia (poder dos melhores, dos sábios); • cleptocracia (literalmente: “Estado governado por ladrões”); • corporativismo (o poder legislativo é dado às corporações econômicas); • gerontocracia (governada por líderes mais velhos da população adulta); • meritocracia (forma de governo baseada no mérito); • plutocracia (o poder é exercido pelo grupo mais rico); • tecnocracia (governo dos técnicos). Teocracia: o povo é controlado por um sacerdote ou líder religioso. 1.2.3 Política O termo política é derivado do grego antigo politeía, que indicava todos os procedimentos relativos a polis, ou cidade- estado. Por extensão, poderia significar tanto Estado quanto sociedade, comunidade, coletividade e outras definições referentes à vida urbana. O livro de Platão traduzido como A República é, no original, intitulado Πολιτεία (politeía). “O homem é um animal político” (Aristóteles). O termo política pode ser entendido e empregado em seis acepções: 1. No uso trivial, vago e às vezes um tanto pejorativo, política, como substantivo ou adjetivo, compreende as ações, 5 10 15 20 18 Unidade I Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 comportamentos, intuitos, manobras, entendimentos e desentendimentos dos homens (os políticos) para conquistar o poder, ou uma parcela dele, ou um lugar nele: eleições, campanhas eleitorais, comícios, lutas de partidos etc. 2. Conceituação erudita, de certa forma síntese da anterior, considera política a arte de conquistar, manter e exercer o poder, o governo. É a noção dada por Nicolau Maquiavel, em O Príncipe. 3. Política denomina-se a orientação ou a atitude de um governo em relação a certos assuntos e problemas de interesse público: política financeira, política educacional, política social, política do café etc. 4. Para muitos pensadores, política é a ciência moral normativa do governo da sociedade civil. (Alceu Amoroso Lima – Política, 4º edição, pág. 136). 5. Outros a definem como conhecimento ou estudo “das relações de regularidade e concordância dos fatos com os motivos que inspiram as lutas em torno do poder do Estado e entre os Estados” (Eckardt – Fundamentos de la Política, p. 14). 6. Atualmente, a maioria dos tratadistas e escritores se divide em duas correntes. Para uns, política é a ciência do Estado. Para outros, é a ciência do poder. Em suma, política é objeto de estudo da ciência política. 1.2.4 Sociedade Em sociologia, uma sociedade é o conjunto de pessoas que compartilham propósitos, gostos, preocupações e costumes, e que interagem entre si constituindo uma comunidade. A sociedade é o objeto de estudo das ciências sociais. 5 10 15 20 25 19 ECONOMIA E GESTÃO DO SETOR PÚBLICO Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 A origem da palavra sociedade vem do latim societas, uma “associação amistosa com outros”. Societas é derivado de socius, que significa “companheiro”, e assim o significado de sociedade está intimamente relacionado àquilo que é social. Está implícito no significado de sociedade que seus membros compartilham interesses ou preocupações mútuas sobre um objetivo comum. Como tal, o conceito de sociedade é muitas vezes usado como sinônimo para o coletivo de cidadãos de um país governado por instituições nacionais que lidam com o bem-estar cívico. Pessoas de várias nações unidas por tradições, crenças ou valores políticos e culturais comuns, em certas ocasiões também são chamadas de sociedades. Um país, de uma forma geral, é um território social, político, cultural e geograficamente delimitado. A maioria dos países é administrada por um governo que mantém a soberania sobre seu povoe seu território, garantindo, assim, o funcionamento e a ordem do fluxo de atividades que envolvem a sua economia e a sua sociedade. A definição de país não é necessariamente compatível com as definições de reino, império, república, nação e Estado, mas, na atualidade, independentemente da forma de governo adotada, todos os Estados soberanos são considerados países. 1.3 Teoria da burocracia Burocracia é um conceito administrativo amplamente usado, caracterizado, principalmente, por um sistema hierárquico, com alta divisão de responsabilidade, no qual seus membros executam invariavelmente regras e procedimentos padrões, como engrenagens de uma máquina. É também usado com sentido pejorativo, significando uma administração com muitas divisões, regras e procedimentos redundantes, desnecessários ao funcionamento do sistema. 5 10 15 20 25 30 20 Unidade I Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 De acordo com Max Weber,7 os atributos da burocracia moderna incluem a impessoalidade, a concentração dos meios da administração, um efeito de nivelamento entre as diferenças sociais e econômicas e a execução de um sistema da autoridade que é praticamente indestrutível. A análise de Weber da burocracia relaciona-se: • às razões históricas e administrativas para o processo da burocratização (especialmente na civilização ocidental); • ao impacto do domínio da lei no funcionamento de organizações burocráticas; • à orientação pessoal típica e à posição ocupacional dos oficiais burocráticos como um grupo de status; • aos atributos e às consequências mais importantes da burocracia na organização burocrática no mundo moderno. A teoria da burocracia desenvolveu-se dentro da administração ao redor dos anos 1940. Segundo essa teoria, um homem pode ser pago para agir e se comportar de certa maneira preestabelecida, a qual lhe deve ser explicada, muito minuciosamente e, em hipótese alguma, é permitido que suas emoções interfiram no seu desempenho. A partir daí, surge a teoria da burocracia na administração. Então, a burocracia é uma forma de organização que se baseia na racionalidade, isto é, na adequação dos meios aos objetivos (fins) pretendidos, a fim de garantir a máxima eficiência possível no alcance dos objetivos. 7 Max Weber (1864-1920) foi o autor que melhor trabalhou esse processo de racionalização, entendido como “o resultado da especialização científica e da diferenciação técnica peculiar à civilização ocidental”. Consiste na organização da vida, por divisão e coordenação das diversas atividades, com base em um estudo preciso das relações entre os homens, com seus instrumentos e seu meio, com vistas à maior eficácia e rendimento. 5 10 15 20 25 21 ECONOMIA E GESTÃO DO SETOR PÚBLICO Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 Max Weber identifica três fatores principais que favorecem o desenvolvimento da moderna burocracia: 1. o desenvolvimento de uma economia monetária, pois na burocracia, a moeda assume o lugar da remuneração em espécie para os funcionários, permitindo a centralização da autoridade e o fortalecimento da administração burocrática; 2. o crescimento quantitativo e qualitativo das tarefas administrativas do Estado Moderno; 3. a superioridade técnica – em termos de eficiência – do tipo burocrático de administração que serviu como uma força autônoma para impor sua prevalência. A burocracia é baseada: • no caráter legal das normas; • no caráter formal das comunicações; • na impessoalidade no relacionamento; • na divisão do trabalho; • na hierarquização de autoridade; • nas rotinas e procedimentos; • na competência técnica e mérito; • na especialização da administração; • na profissionalização; • na previsibilidade do funcionamento. Consequências previstas: • previsibilidade do comportamento humano; • padronização do desempenho dos participantes. 5 10 15 20 25 22 Unidade I Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 Objetivos: máxima eficiência da organização: • uma organização é racional se os meios mais eficientes são escolhidos para a implementação das metas; • a racionalidade funcional é atingida pela elaboração – baseada no conhecimento científico – de regras que servem para dirigir, partindo de cima, todo comportamento de encontro à eficiência; • Weber usa o termo burocratização em um sentido mais amplo, referindo-se também às formas de agir e de pensar que existem não somente no contexto organizacional, mas que permeiam toda a vida social. 1.4 Administração pública Administração pública (ou gestão pública) é, em sentido orgânico ou subjetivo, o conjunto de órgãos, serviços e agentes do Estado, bem como das demais pessoas coletivas públicas (tais como as autarquias locais) que asseguram a satisfação das necessidades coletivas variadas, tais como a segurança, a cultura, a saúde e o bem-estar das populações. A administração pública difere de forma fundamental da administração privada. Seu objetivo é atender, de forma continuada, às necessidades mais essenciais da coletividade, ela tem a obrigatoriedade de atender às necessidades públicas. Na administração pública não há liberdade pessoal. Enquanto na administração particular é lícito fazer tudo que a lei não proíbe, na administração pública só é lícito fazer o que a lei autoriza. Administração pública é todo o aparelhamento do Estado, preordenado à realização de seus serviços, visando à satisfação das necessidades coletivas. 5 10 15 20 25 23 ECONOMIA E GESTÃO DO SETOR PÚBLICO Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 Administrar é gerir os recursos públicos; significa não só prestar serviços e executá-lo, como também dirigir, governar, exercer a vontade com o objetivo de obter um resultado útil. Uma pessoa empregada na administração pública diz-se servidor público ou funcionário público. 1.5 Resumo Como pudemos ver neste módulo, conceituamos o Estado e seus elementos; abordamos todas as formas de governo, evidenciando os casos práticos e os exemplos históricos; fizemos referências a todos os conceitos acadêmicos a respeito da política, e quando foi possível trouxemos mais de um autor para a consolidação do tema. Ainda recuperamos Weber na teoria da burocracia e administração pública, conceitos que nortearam os demais tópicos desenvolvidos ao longo deste trabalho. 2 TEORIA DE FINANÇAS PÚBLICAS E SEUS CONCEITOS Objetivos do módulo Para este módulo, recuperaremos os principais conceitos e teorias sobre as finanças públicas. Para isso, iremos contextualizar que a teoria das finanças públicas representa um ramo da ciência econômica, que trata dos gastos do setor público e das formas de financiamento desses gastos. Podemos dizer que as finanças públicas abrangem a captação de recursos pelo Estado, sua gestão e seu gasto para atender às necessidades da coletividade e do próprio Estado. Ponto de reflexão Você é capazde diferenciar um político de um tecnocrata ou burocrata? 5 10 15 20 25 24 Unidade I Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 2.1 Conceitos básicos A teoria das finanças públicas representa um ramo da ciência econômica, que trata dos gastos do setor público e das formas de financiamento desses gastos. Podemos dizer que as finanças públicas abrangem a captação de recursos pelo Estado, sua gestão e seu gasto para atender às necessidades da coletividade e do próprio Estado. A partir daí, são desenvolvidos estudos, teorias e modelos que procuram explicar: • a evolução da participação do setor público na economia; • as formas de intervenção do Estado na atividade econômica; • as fontes e origens das receitas públicas, bem como a evolução crescente dessas receitas relativamente ao produto/renda nacional. A alocação de recursos determinada pelo mercado livre é desejável? Existe espaço para que a intervenção do Estado melhore a vida das pessoas? De forma geral, são quatro as funções do Estado: • função alocativa, que visa à provisão de bens públicos; • função distributiva, voltada à geração de uma distribuição de renda mais adequada que aquela que o mercado por si mesmo faria; • função estabilizadora, através da condução de políticas de estabilização de preços e emprego; 5 10 15 20 25 25 ECONOMIA E GESTÃO DO SETOR PÚBLICO Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 • função de desenvolvimento, com o objetivo de crescimento com alterações estruturais e elevação do padrão de vida da sociedade como um todo (países não desenvolvidos ou subdesenvolvidos). A principal razão de existência da estrutura federativa encontra-se na função alocativa. A questão central está na provisão de bens e serviços públicos compatíveis com as preferências dos habitantes da região beneficiada e que por eles seja financiada. Alguns bens e serviços públicos, como a segurança nacional e a política externa, beneficiam toda a população do país e, portanto, devem ser providos pela União. Por outro lado, existem serviços, como iluminação pública, coleta de lixo e saneamento básico, que beneficiam diretamente um grupo restrito, sendo, assim, bens públicos locais. Portanto, se levarmos em consideração a eficiência de todo o setor público, cada nível de governo deve ser responsável pela provisão dos bens e serviços públicos cujos benefícios são auferidos apenas dentro de sua jurisdição. Caso contrário, incorrer-se-á em ineficiências. Se a provisão do bem ou serviço público não atender a toda a comunidade, algumas famílias pagarão impostos sem, no entanto, consumirem o bem, reduzindo o benefício total percebido por elas e levando também a um aumento da demanda por aqueles que o consomem, visto não pagarem totalmente por esses bens e serviços públicos. Por outro lado, a racionalidade indica que os bens e serviços públicos devem ser providos e financiados pelo mais baixo nível de governo possível, de forma que os benefícios sejam absorvidos pela comunidade local e que eventuais vazamentos sejam corrigidos através de transferências. 5 10 15 20 25 30 26 Unidade I Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 Dessa forma, o comportamento dos grupos de pressão ou dos caçadores de renda que competem entre si por recursos provenientes do governo federal configura uma ação racional e, portanto, natural e recorrente num ambiente de competição política por transferências. Dada a existência de transferências num sistema federativo, a restrição aos gastos públicos estaria, em princípio, mais flexibilizada, gerando maiores condições para um aumento do déficit ótimo (Werneck, 1995), justificando, assim, o comportamento rent-seeking dos governos locais. A função distributiva é resultante, em determinado momento, das dotações dos fatores de produção – capital, trabalho e terra, e a venda dos serviços desses fatores no mercado pode não ser a desejada pela sociedade. A função estabilizadora passou a ser defendida com a publicação do livro Teoria geral do juro, do emprego e da moeda, em 1936, de John Maynard Keynes. Neste caso, Keynes deu ênfase ao papel do Estado mediante as políticas monetárias e principalmente fiscais, para promover um alto nível de emprego na economia. 2.2 Falhas de mercado De uma forma geral, a teoria das finanças públicas gira em torno da existência das falhas de mercado, que tornam necessária a presença do governo, o estudo das funções do governo, da teoria da tributação e do gasto público. As falhas de mercado são fenômenos que impedem a economia de alcançar o ótimo de Pareto8, ou seja, o estágio de 8 Vilfredo Pareto, economista e sociólogo italiano de origem francesa, nascido em Paris.Considerado um dos ideólogos do movimento fascista, elaborou a teoria de interação entre massa e elite e aplicou a matemática à análise econômica, mais conhecido por sua dedicação à matemática voltada para a economia e a sociologia. Educado na Itália, estudou matemática e literatura e graduou-se em física e matemática (1867) e em engenharia (1870) no Instituto Politécnico de Turim. 5 10 15 20 25 27 ECONOMIA E GESTÃO DO SETOR PÚBLICO Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 welfare economics, ou estado de bem-estar social, através do livre mercado, sem interferência do governo. São elas: • Existência dos bens públicos: bens que são consumidos por diversas pessoas ao mesmo tempo (ex.: rua). Os bens públicos são de consumo indivisível e não excludente. Assim, uma pessoa adquirindo um bem público não tira o direito de outra adquiri-lo também. • Existência de monopólios naturais: monopólios que tendem a surgir devido ao ganho de escala que o setor oferece (ex.: água, energia). O governo acaba sendo obrigado a assumir a produção ou a criar agências que impeçam a exploração dos consumidores. • As externalidades: uma fábrica pode poluir um rio e ao mesmo tempo gerar empregos. Assim, a poluição é uma externalidade negativa, porque causa danos ao meio ambiente e a geração de empregos é uma externalidade positiva por aumentar o bem-estar e diminuir a criminalidade. O governo deverá agir no sentido de inibir atividades que causem externalidades negativas e incentivar atividades causadoras de externalidades positivas. • Desenvolvimento, emprego e estabilidade: principalmente em economias em desenvolvimento, a ação governamental é muito importante no sentido de gerar crescimento econômico através de bancos de desenvolvimento, criar postos de trabalho e buscar a estabilidade econômica. 2.2.1 Bens públicos Bens públicos são aqueles cuja escolha é socializada para toda a população. Esses bens são também conhecidos como bens não rivais e podem ser divididos em: a) bens tangíveis, como ruas; e b) bens intangíveis, como leis. Bens gratuitos (tipo segurança pública) são um desafio para a análise econômica. 5 10 15 20 25 30 28 Unidade I Re visã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 Para os bens alocados em mercado, que são a maioria em nossa economia, os preços são os sinais que guiam as decisões de compradores e vendedores. Entretanto, quando os bens são gratuitos, as forças de mercado deixam de funcionar e não servem como guia. Bem não rival: um bem não rival é aquele no qual o consumo do bem por um consumidor não impede o consumo do mesmo por outro consumidor. Ex.: ondas de rádio, paisagem e outros usos não consuntivos da água. Bem rival: um bem é dito rival quando seu uso por uma pessoa ou firma prejudica seu uso por outras pessoas ou firmas. Ex.: uma peça de vestuário feita para uma pessoa, não pode ser usada por duas pessoas ao mesmo tempo, entretanto, pode ser partilhada, desde que o tempo e uso sejam divididos. Bem excluível: aquele em que é possível impedir uma pessoa de usá-lo. Ex.: pedágio. Bem não excluível: um bem não exclusivo é aquele que não é possível/viável excluir as pessoas de consumi-lo. Ex.: luz solar, peixes para pesca. Rival? sim não Bens privados • Roupas • Carros • Estradas congestionadas com pedágio. Monopólios naturais • Corpo de bombeiros • TV a cabo • Estradas não congestionadas com pedágio. Recursos comuns • Peixes no mar • Meio ambiente • Estradas congestionadas sem pedágio. Bens públicos • Defesa nacional • Justiça • Estradas não congestionadas sem pedágio. sim Exclusível? não 5 10 15 20 29 ECONOMIA E GESTÃO DO SETOR PÚBLICO Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 Free rider: uma pessoa que se utiliza de um bem, mas se recusa a pagar por ele. Um exemplo é alguém que se recuse a pagar uma taxa para a queima de fogos no final do ano, mas sempre assiste ao espetáculo. Devido ao problema do carona, o setor privado não consegue ofertar bens públicos em uma quantidade socialmente desejável. O governo pode resolver o problema da provisão de bens públicos produzindo estes bens e financiando os custos por meio de tributação. Tragédia dos comuns: uma parábola que ilustra porque os recursos comuns são mais utilizados do que seria desejável do ponto de vista social. A solução para o problema de uso excessivo de recursos comuns é recorrer ao direito de propriedade. Caso não seja possível o governo pode criar impostos que diminuam o uso do recurso. 2.2.2 Externalidades Uma externalidade ocorre quando alguma atividade de produção ou consumo possui efeitos indiretos sobre outras atividades de produção ou de consumo que não estejam diretamente refletidas nos preços de mercado. O termo “externalidade” é empregado porque os efeitos sobre os outros itens (custos ou benefícios) são externos ao mercado. Por exemplo, uma usina que despeje seus poluentes num rio, tornando sua água inadequada para consumo, pesca ou natação das comunidades próximas, estará produzindo externalidades negativas (custos) para elas. Na presença de uma externalidade negativa da produção, o custo social é maior que o custo privado, de forma que a “oferta 5 10 15 20 25 30 Unidade I Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 social” fica à esquerda da oferta privada. O resultado é que a produção do mercado é maior do que a socialmente desejável. Os custos de produção estarão sendo absorvidos por outros agentes que não o inicial. A melhor medida alocativa é a imposição de um tributo sobre a produção, de modo que esta seja inibida. Ex: uma fábrica de cimento que esteja gerando poluição do ar pela emissão de partículas através de suas chaminés, pode ser obrigada, por atos regulatórios, a instalar equipamentos de controle da poluição, de forma a evitar efeitos negativos (custos) para outros produtores e moradores próximos. Na presença de uma externalidade positiva da produção, o custo privado é maior que o custo social, de forma que a “oferta social” fica à direita da oferta privada. O resultado é que a produção do mercado é menor do que a socialmente desejável. Benefícios sociais de um produto excedem os benefícios privados. Nesta situação, a firma produtora irá produzir menos que o necessário, porque os benefícios que concede à sociedade são maiores que aqueles a que fará jus via mecanismos de mercado. A medida alocativa neste caso é fazer a correção da oferta pela concessão de um subsídio à firma para incentivar maior produção e consumo. Teorema de Coase: se os agentes privados puderem negociar sem custos a respeito da alocação de recursos, eles podem resolver por si próprios o problema das externalidades. Imposto de Pigou: imposto implementado para corrigir os efeitos de uma externalidade negativa. 2.2.3 Poder de mercado e assimetria Informações incorretas ou imperfeitas são identificadas nas teorias econômicas como informações assimétricas e, ainda, normalmente provocam um estado de mal econômico ao fazerem as pessoas tomarem decisões erradas. 5 10 15 20 25 30 31 ECONOMIA E GESTÃO DO SETOR PÚBLICO Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 É comum que alguma parte envolvida em uma transação, geralmente o consumidor, não possua informação completa sobre o produto que está negociando. Nestes casos o governo deve agir obrigando que toda informação relevante a respeito de um determinado produto seja conhecida por todos os participantes do mercado. Um caso clássico de assimetria são os balanços de empresas que apresentam resultados pouco condizentes com a saúde financeira, induzindo ao erro, como mencionado no primeiro parágrafo, os agentes econômicos e destruindo parte ou toda a riqueza acumulada pelos mesmos. 2.2.4 Política fiscal Do ponto de vista da análise econômica, as finanças públicas se materializam na chamada política fiscal, que se constitui, sem dúvida, num dos principais instrumentos de intervenção na atividade econômica de que dispõe o governo, consistindo, basicamente, de: • aumentos ou cortes das despesas do governo, como, por exemplo, construção de escolas, de hospitais, de estradas, ou, ainda, gastos com o funcionamento da máquina administrativa e com o pagamento de funcionários; • aumentos ou reduções do nível de impostos. Estas duas medidas alteram a: Demanda Agregada (DA = C + I + G + (X-M)). Demanda Agregada = Consumo privado + Investimentos das empresas + Gastos do governo + eXportações - iMportações. C C Política fiscal → ↑ G → ↑ Y expansionista I I 5 10 15 20 25 32 Unidade I Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 Em uma situação de insuficiência ou excesso de demanda agregada, teremos uma política fiscal expansionista através da elevação dos gastos do governo e, por consequência, a elevação do consumo (C) e do investimento (I), que, por sua vez, elevará a renda (Y) e o consumo (C) e os investimentos privados(I), resultando em um ciclo de crescimento econômico. Ainda que de forma diferente, enquanto os aumentos ou reduções dos gastos se refletem, na equação da demanda agregada, em um G maior ou menor, as variações no nível de impostos afetam a “renda pessoal disponível” dos indivíduos e, consequentemente, o nível de consumo privado C. É através da política fiscal, espelhada no seu orçamento, que o governo: • interfere na alocação de recursos, oferecendo bens e serviços (segurança nacional, polícia etc.) que se deixados às forças do mercado não seriam produzidos pelo setor privado; • procura melhorar a distribuição da renda no país, tributando mais os que ganham mais e realizando “transferências” para os menos favorecidos da sociedade. 2.2.5 Inflação e déficit público Quando o governo gasta mais do que arrecada, o déficit orçamentário resultante reduz a poupança nacional. Isto reduz a oferta de fundos emprestáveis à disposição das firmas e das famílias. Para financiar seus gastos sem aumentar os impostos nem vender títulos no mercado o governo pode imprimir moeda. A “receita” obtida com a impressão de moeda é chamada senhoriagem. Ao imprimir moeda para financiar gastos causa 5 10 15 20 25 33 ECONOMIA E GESTÃO DO SETOR PÚBLICO Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 inflação, e a inflação pode ser vista como um imposto sobre as pessoas que guardam dinheiro. Efeito Oliveira-Tanzi: o aumento da inflação reduz o valor real da arrecadação de outros impostos, devido à existência de uma defasagem entre o fato gerador do imposto e a sua coleta. Efeito Patinkin: taxas de inflação altas ajudam a reduzir o déficit público, devido à queda do valor real dos gastos públicos. 2.2.6 Teoria da tributação O Código Tributário Nacional define tributo em seu art. 3 da seguinte forma: Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada. Os tributos podem tomar a forma de impostos, taxas, contribuições de melhorias e contribuições sociais. Apesar de não aparecer como tributo nem na Constituição Federal nem no Código Tributário Brasileiro, as contribuições sociais são consideradas como tributos por vários autores. Isto decorre da importância crescente que estas contribuições passaram a ter no Brasil. Os tributos formam a receita da União, estados e municípios e abrangem impostos, taxas, contribuições e empréstimos compulsórios. Eles podem ser diretos ou indiretos. No primeiro caso, são os contribuintes que devem arcar com a contribuição, como ocorre no Imposto de Renda. Já os indiretos incidem sobre o preço das mercadorias e serviços. 5 10 15 20 25 34 Unidade I Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 Para poder funcionar regulando atividades do mercado e ofertando bens públicos, o Estado precisa de receitas. Estas receitas são obtidas por meio de tributos. A implementação de um tributo deve considerar dois aspectos fundamentais: a neutralidade e a equidade. A equidade deve ser de tal forma que garanta que indivíduos iguais recebam o mesmo tratamento – equidade horizontal – e que exista algum critério capaz de diferenciar indivíduos, de modo que pessoas diferentes recebam um tratamento diferente – equidade vertical. Critério do benefício: propõe atribuir a cada indivíduo um ônus equivalente aos benefícios que ele usufrui dos programas governamentais. Critério da capacidade de contribuição: defende que a repartição do ônus tributário deve ser feita em função das respectivas capacidades individuais de contribuição. Progressivo: o valor da contribuição aumenta de forma mais que proporcional à renda. Proporcional: o valor da contribuição aumenta de forma proporcional à renda. Regressivo: o valor da contribuição aumenta de forma menos que proporcional à renda. Tributos sobre o patrimônio: ITR, IPTU, IPVA. Tributos sobre fluxos de renda: IRPF, IRRF, Contribuição para Previdência Social, IRPJ, IOF. Tributos sobre vendas de mercadorias e serviços: ICMS, PIS, Cofins, II, IPI, ISS. 5 10 15 20 25 35 ECONOMIA E GESTÃO DO SETOR PÚBLICO Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 • Conceito da equidade: cada indivíduo deve contribuir com uma quantia “justa”. • Conceito da progressividade: as alíquotas devem aumentar à medida que são maiores os níveis de renda dos contribuintes. Imposto sobre a renda do trabalho Salário Salário pago Salário recebido Cunha tributária Peso morto Oferta de trabalho Demanda por trabalho Horas trabalhadas Fonte: Elaborado pelo autor (2009). • Conceito da neutralidade: a tributação não deve desestimular o consumo, produção e investimento. Se considerarmos a renda como Y e a arrecadação via impostos como T, temos: É neutro, pois não afeta a eficiência nas decisões de alocação de recursos. ↑ Y → ↑ T IR ↓ Y → ↓ T Não neutralidade em casos específicos: ↑ T sobre cigarros e bebidas alcoólicas ↑ T de produtos importados = similares qualidade modelo preço 5 10 15 36 Unidade I Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 • Conceito da simplicidade: o cálculo, a cobrança e a fiscalização relativa aos tributos devem ser simplificados a fim de reduzir custos administrativos. – imposto de fácil entendimento para quem tiver que pagá-lo; – cobrança, arrecadação e processos de fiscalização não devem representar custos administrativos elevados para o governo. 1. Quanto mais elástica a curva de demanda e menos elástica a curva de oferta, maior parcela dos impostos recai sobre os produtores. 2. Quanto menos elástica a curva de demanda e mais elástica a curva de oferta, maior será o ônus tributário para os consumidores. Quanto mais inelástico, menos será possível escapar do aumento de T. A quantidade de imposto paga pelo consumidor será tanto maior quanto menor for a elasticidade preço da demanda e maior for a elasticidade preço da oferta. Nos casos-limite, o ônus será totalmente transferido para o consumidor quando a demanda for perfeitamente inelástica, e totalmente suportado pelo produtor quando a oferta for totalmente inelástica. Elasticidade-preço da demanda = Variação percentual da qtde. demanda Variação percentual do preço 5 10 15 20 37 ECONOMIA E GESTÃO DO SETOR PÚBLICO Re vi sã o: J ul ia na - D ia gr am aç ão : F ab io - 2 0/ 01 /1 0 — 2 ª R ev isã o: J ul ia na - C or re çã o: F ab io - 0 9/ 02 /1 0 Quem paga um imposto sobre as vendas? Preço 10 Transferência ao consumidor Peso morto Oferta Demanda Quantidade 6 5 4,5 80 100 Oferta com imposto Fonte: Elaborado pelo autor (2009). 2.2.6.1 Curva de Laffer A relação ambígua
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