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1 ANESTÉSICOS LOCAIS O que é um anestésico local? Não têm ação ao nível central. Agem ao nível periférico sem promover inconsciência. Por que a maioria das pessoas que tomam anestesia local fica inconsciente? Porque, geralmente, são administrados sedativos junto com eles. Os anestésicos locais agem numa área circunscrita, bloqueando os canais de sódio. Bloqueiam reversivelmente a geração e a condução do impulso ao longo da fibra nervosa, abolindo a sensibilidade e, até a atividade motora. Nesse sentido ele é inespecífico, pois abole a dor, promove analgesia e bloqueio da atividade motora. É uma anestesia diferencial por não acontecer de uma vez única. Primeiro ela vai atingir os nervos sensoriais e depois os nervos motores. E, mesmo nessa ação motora, ela é diferenciada, pois primeiro pode atingir algumas fibras que são finas para depois atingir fibras mais longas. Mas, essencialmente elas atingem primeiramente as fibras que conduzem a dor. Cocaína Desde o século passado os indígenas sul-americanos mastigam a folha da coca, pois ela promove excitação e, assim, eles podiam caminhar por longos períodos. É um alcalóide. Freud foi o primeiro cocainomano (dependente de cocaína). Ela foi sendo utilizada como anestesia local, no entanto, por provocar dependência, promovendo óbito por uso excessivo. PROCAÍNA – não possui efeito de dependência. A cocaína não é utilizada clinicamente, pois, apesar de ser bom anestésico local, ela promove vasoconstricção (diferentemente dos outros tipos de anestésicos locais) e promove a dependência. Anestesia Peridural ou Subaracnóidea – é carreada, difundida pelo LCR atingindo os nervos específicos agindo do umbigo para baixo ou do diafragma para baixo. 2 Classificação quanto à estrutura química Basicamente todos os anestésicos têm um grupamento aromático que determina a lipossolubilidade da molécula; um grupamento amina que determina o tempo de ação, ou seja, o tempo de latência, de indução da anestesia; e, a cadeia intermediária que pode ser éster ou amida e é quem vai determinar o padrão farmacocinético, pois os ésteres, por exemplo, são bem absorvidos, mas eles sofrem um processo de metabolização através das esterases (pseudocolinesterases ou butirilcolinesterase). Enquanto que a acetilcolina, que também é um éster, só é degradada pelas duas esterases, particularmente, pela acetilcolinesterase, que é específica. ÉSTERES – cocaína (prototipo não mais utilizada clinicamente) que tem como principal característica o seu poder de vasoconstricção, o que permite que a droga aja por mais tempo no local; drogas que não necessitam de associação com vasoconstrictor (ação de efeito mais curta, pois o anestésico vai se difundir pela circulação e perder seu efeito localizado): benzocaína, tetracaína, procaína, clorprocaína, propoxicaína que se diferenciam pela duração de efeito. AMIDAS – têm sua metabolização (oxi-redução) no fígado, citocromo P450, sistema microssomal hepático; dentre as amidas: lidocaína, mepivacaína, bupivacaína, ropivacaína, etidocaína, prilocaína, articaína, diferenciadas pela duração de efeito. Por exemplo, bupivacaína, ropivacaína e etidocaína são de longa duração, por isso muitas vezes são utilizadas em cirurgias buco-maxilar e a bupivacaína, às vezes, na peridural; a prilocaína tem uma ação muito curta e é muito utilizada em odontologia em pacientes grávidas, em casos onde o profissional suspeita de alergias, pois o grupo amida tem a característica de não provocar alergias, diferente dos ésteres que em grandes quantidades promovem intoxicação. - A ocorrência de choques anafiláticos pelo uso de anestésicos locais, muitas vezes, é devido à injeção direta no vaso, ao invés de ser subperióstea (região da gengiva próxima ao dente). Ou ainda, o paciente pode ter reação ao conservante, o bissulfito de sódio. Características físico-químicas Geralmente, se há alergia a um grupo, por reação cruzada, deve-se ter alergia aos outros, pois a estrutura química entre eles é muito semelhante. Toda substância, em excesso, age sobre o SNC, provocando alucinação, convulsão. Os efeitos do excesso da cocaína são deletérios. Todos os outros derivados são vasodilatadores (propriedade intrínseca), o que faz com que , na maioria das vezes, seja necessária a associação com um vasoconstrictor (adrenalina, noradrenalina, fenilefrina, metoxamina) que vem associados em pequenos tubetes. Se o paciente tem problemas hepáticos, as amidas não serão indicadas; assim como se o paciente tiver defiências de pseudocolinesterase, não poderão ser usados, os ésteres. 3 POSSÍVEL QUESTÃO: EXPLIQUE ATRAVÉS DA EQUAÇÃO DE HANDERSON-HASSELBACH POR QUE NUM PROCESSO INFLAMATÓRIO, UM ANESTÉSICO LOCAL DE PH 8 OU 9 NÃO TEM O MESMO EFEITO QUE NO PH FISIOLÓGICO. Os anestésicos locais são bases fracas ou sais neutros pouco solúveis em água, porém muito solúveis em lipídeos. Por isso, facilmente atravessa a barreira membranar atingindo o alvo (canal de sódio). Quando ele chega ao alvo se dissocia e, ao se dissociar, promove um bloqueio mais intenso. A forma de cloridrato melhora a solubilidade e aumenta a estabilidade em meio aquoso. Dessa maneira, é possível concluir que o pH do meio influencia na ação do anestésico. Na prática, isso é visto quando há um processo inflamatório que gera um meio ácido. Os macrófagos migram para o local de ação juntamente com os leucócitos (liberando histamina, promovendo vasodilatação, hiperemia - aumento do fluxo sanguíneo - com o objetivo de cicatrização e metabolizanção da bactéria que está no local) e há uma reação de liberação de radicais livres, hidroperóxidos, que produzem H+, acidificando o meio. O anestésico, por ser uma base fraca, em contato com o meio ácido, vai se ionizar e, assim, não consegue atravessar a membrana e bloquear o canal de sódio. Esse fato promove a utilização, incosequente, de vários tubetes de anestésicos, promovendo a anestesa de todo o rosto sem anestesiar o local objetivo. O procedimento correto seria esperar a desinflamação, pelo uso de anti-inflamatórios, para, então, fazer o procedimento. Quem explica a ação do pH? A equação de Handerson-Hasselbach. Farmacocinética ABSORÇÃO – quanto mais vascularização, ocorre uma maior absorção. VASCULARIZAÇÃO – se é utilizado um anestésico local sem a associação com um vasoconstrictor o tempo de ação é muito curto, pois uma alta vascularização promove a saída do fármaco para a circulação (absorção). LIPOSSOLUBILIDADE – quanto mais lipossolúvel, maior é a absorção. DOSE AÇÃO VASODILATADORA – se está associado a um processo inflamatório em que há um quantitativo maior de histamina na área, então, vai haver maior absorção para a circulação. Associação com vasoconstrictores – ação mais localizada. 4 Ésteres - São metabolizados pela pseudocolinesterase. - Alto potencial alérgico - as alergias são mais comuns nesses compostos, pois quando eles são metabolizados formam um metabólito ativo, o PABA (ácido paraaminobenzóico) que possui grande capacidade de promover alergias. - Baixo risco de toxicidade – a pseudocolinesterase se encontra, também, no plasma, ou seja, a degradação é mais rápida. Amidas- São metabolizadas pelo fígado formando a Xilidida que é muito tóxica. Entretanto, quantitativos normais de derivados de amodas formam uma pequena quantidade de metabólitos. - Alta toxicidade – só quando administradas grandes doses ou quando o paciente é um metabolizador lento (cirrose hepática, esteatose). Duração de efeito em odontologia Curta duração: Mepivacaína a 3% sem vasoconstrictor e a Lidocaína também sem vasocontrictor (duração de efeito menor do que 5 minutos) – utilizadas em procedimentos muito rápidos. Média duração: Mepivacaína, pirilocaína, lidocaínna associadas ao vasoconstrictor (duração de 40 min – 1h). Longa duração – Bupivacaína com vasoconstritor (diluição de 1:200000) – procedimentos mais duradouros e o vasoconstrictor geralmente é a adrenalina (4 – 5h). Mecanismo de ação Ligam-se aos canais de sódio voltagem-dependentes. Bloqueiam a geração e condução do impulso, bloqueando a abertura i inativando os canais de sódio. Fatores que afetam a ação dos anestésicos locais pH – se o pH é muito ácido há a ionização e não ocorre a passagem pela membrana. Ligação protéica - se ele está ligado não vai agir. Presença de um vasoconstrictor – para promover a circunscrição da ação do anestésico. 5 Ações farmacológicas SNC - Atravessam a barreira hematoencefálica promovendo o efeito de estabilização de membranas. - Em baixas concentrações, leva a excitação com agitação e tremores. - Em altas concentrações promove sono e coma, depressão dos centros vasomotor e respiratório. Aparelho cardiovascular - Redução da condução auricular e átrio-ventricular. - Depressão da contratilidade. Efeitos adversos Imediatos: - Desmaio (“ataque vagal”); - Hipersensibilidade a adrenalina. Posteriores: - Choque anafilático; - Hipersensibilidade a efeitos centrais. Técnicas anestésicas Aplicações tópicas ou superficiais (mucosa e pele): - Pele intacta: efeito insignificante; - Pele ou mucosa lesada: absorção rápida; - Benzocaína, lidocaína, tetracaína (úteis para uso tópico) – na amigdalite, por exemplo. Os anestésicos que são usados topicamente, geralmente, estão associados a um antibiótico. Isso facilita a possibilidade de alergias. Muitas vezes, o uso contínuo promove a alergia. Infiltrativa - Injeção na região próxima às fibras nervosas a serem bloqueadas – a anestesia local ocorre na região mais proximal à infiltração e depois ela se difunde para regiões mais distantes. Esses efeitos foram bem observados pela ação de dois anestésicos (protótipos de ultra-longa duração): a saxitoxina (STX) e a tetradotoxina (TTX) – ferramentas farmacológicas do descobrimento do funcionamento dos canais iônicos. O TTX é uma toxina encontrada no baiacu que bloqueia o canal de sódio, então, não vai haver despolarização, nem potencial de ação. Em caso de contato com essa toxina, deve-se tomar uma providência imediata. Os pescadores, em alto mar, amputam o membro, para evitar que a toxina se propague pela circulação. Se houver possibilidades de ir a um hospital, deve-se ser feito um garroteamento, para diminuir o fluxo sanguíneo. 6 A região ungueal é extremamente vascularizada. Se, nesse local, for utilizado um anestésico associado à adrenalina, por exemplo, pode promover necrose. E, como se trata de uma área vascularizada, a tendência é aumentar a dose do anestésico. A adrenalina faz vasocontricção diminuindo, então, a oxigenação local e, conseqüentemente, promovendo necrose. Muitas vezes se usa a anestesia local sem o vasoconstrictor, mas com garroteamento, para que o anestésico permaneça mais tempo naquele local. Se não, o efeito será muito pequeno. Troncular - Injeção próxima aos troncos nervosos: a concentração ou a dose anestésica é bem maior. Anestesia espinhal (espaço sub-aracnóide ou raquia) - Anestesia abaixo do diafragma (tetracaína). Bloqueio epidural (espaço entre a dura-máter e o tecido conjuntivo) - Paralisia sensitiva parcial abaixo do nível do umbigo (sem dor, mas com sensação tátil e pressórica): Bupivacaína, ropivacaína. Em caso de anestesia em área abaixo da “cauda eqüina” pode gerar dor no paciente. A medula espinhal é um sistema fechado. Quando há a introdução de um anestésico é necessário que se tenha a mão leve, pois se houver uma introdução muito rápida haverá uma formação de “bolhas” que pode atingir as meninges, provocando uma inflamação sem o elemento estranho, por lesão. Isso leva a dor de cabeça intensa no pós-cirúrgico, podendo, até, provocar enxaquecas para o resto da vida. Além de facilitar a entrada de micro- organismos. 7 Se houver uma lesão na região sacral, haverá comprometimento parassimpático que pode ser de trato gastrointestinal e ereção, no homem, entre outros. O ideal é que a anestesia seja feita com o paciente sentado, ou numa posição que promova um ângulo de 90° com as costas retas, ou até deitado de lado. Anestesia peridural Única aplicação ou contínua por catéter. Combinação com anestesia geral para analgesia pós-operatória. Uso: Isoladamente para anestesia cirúrgica, analgesia de trabalho de parto, tratamento de dor crônica. Início mais lento do que a raquia (10-20 min). Infiltração e bloqueio nervoso: lidocaína, bupivacaína, ... Vias de infiltração em odontologia: intracanal (tratamento de canal quando o nervo está necrosado) e subperióstea. O paciente está consciente. Questões orientadoras 01. Justifique através as equação de Handerson-Hasselbach a importância do pH na ação dos anestésicos locais. 02. Compare farmacocineticamente a LIDOCAÍNA e a TETRACAÍNA. 03. Comente sobre o mecanismo de ação dos anestésicos locais, citando a importância da TETRODOTOXINA como ferramenta farmacológica. 04. Classifique quanto a estrutura química os anestésicos locais. Exemplifique. 05. Comente sobre os parâmetros farmacocinéticos que orientam a escolha do anestésico local a ser utilizado. 06. Justifique as ações farmacológicas dos anestésicos locais. 07. Comente sobre a importância da estrutura química no metabolismo dos anestésicos locais. 8 08. Cite os principais efeitos adversos da BUPIVACAÍNA e da TETRACAÍNA. 09. Classifique os anestésicos locais quanto a duração de efeito. TÔ ANESTESIADA DE TANTA FARMACOLOGIA! FIM...NALMENTE!
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