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ANEMIAS CARENCIAIS Prof. Dr. Célio Ribeiro Anemias Carenciais São causadas pela deficiência de um ou mais nutrientes essenciais para a produção de glóbulos vermelhos, como o ácido fólico, vitamina B12 ou ferro. CTH BFU-E CFU-E PEB EPC CFU-GEMM EB EOC Ret ERI Compartimento de multiplicação (ácido fólico e vitamina B12) Compartimento de maturação (ferro) → → → → → → → → → Anemias Carenciais anemia megaloblástica : deficiência de ácido fólico e/ou vit. B12 anemia perniciosa: deficiência de fator intrínseco (vit. B12): anemia ferropriva: deficiência de ferro ANEMIA MEGALOBLÁSTICA ANEMIA PERNICIOSA ANEMIAS MACROCÍTICAS MEGALOBLÁSTICAS NÃO MEGALOBLÁSTICAS Anemias não megaloblásticas As anemias macrocíticas não-megaloblásticas não possuem um mecanismo patogenético comum, apenas representam a anemia macrocítica em que os precursores eritrocitários são normais e a síntese de DNA está intacta Estão associadas à eritropoese acelerada (anemia hemolítica ou hemorragia), etilismo, doenças hepáticas e hipotireoidismo, entre outras. Caracterizam-se por VCM situado entre 100 a 105 fL A contagem de reticulócitos pode estar normal (estilismo, doenças hepáticas) ou aumentada (anemia hemolítica ou hemorragia) Anemias megaloblásticas As anemias macrocíticas megaloblásticas resultam da síntese deficiente de DNA, devido a deficiência de ácido fólico e/ou vitamina B12 e/ou fator intrínseco, ocasionando um atraso de maturação do núcleo em relação ao citoplasma (assincronismo de maturação) Apesar da divisão celular estar restringida, a síntese de RNA permanece intacta, consequentemente, componentes citoplasmáticos, especialmente a hemoglobina, são sintetizados em quantidades excessivas durante esses atrasos entre as divisões celulares, o que resulta num aumento do tamanho da célula (megaloblastos, megaovalócitos, macrócitos) São de instalação lenta e passam de normocíticas/normocrômicas a macrocíticas e posteriormente megaloblásticas; caracterizam-se por VCM acima 110 fL e reticulopenia Ácido fólico O ácido fólico também é conhecido como vitamina B9, uma vitamina hidrossolúvel que serve como base para um grande grupo de compostos dele derivado: os folatos. São encontrados em alimentos frescos de origem vegetal e/ou animal (fígado, rim, vegetais verdes frescos, feijão, nozes e algumas frutas), conjugados com múltiplos resíduos de ácido glutâmico, formando os “poliglutamatos” O cozimento prolongado pode destruir até 90% do folato alimentar O folato da dieta é absorvido pelo duodeno e jejuno proximal É armazenado, principalmente, no fígado, em pequenas quantidades na forma de poliglutamato. Participa da síntese de precursores purínicos de DNA (timina) Reservas limitadas e facilmente esgotáveis (2 a 3 meses) Vitamina B12 É uma vitamina hidrossolúvel, sintetizada exclusivamente por microrganismos (bactérias). É encontrada em alimentos de origem animal como carnes, aves, peixes, fígado, ovos, leite e laticínios, mas não ocorre em frutas, verduras e cereais É encontrada em praticamente todos os tecidos animais e estocada, primariamente, no fígado Participa como cofator enzimático na síntese de DNA Requerimento diário pequeno, porém é necessário de 3 a 4 anos para que a incapacidade de absorção ou ingestão inadequada leve à deficiência de vitamina B12. Vitamina B12 A absorção da vit. B12 ocorre predominantemente no íleo terminal e depende de uma glicoproteína produzida pelas células parietais da mucosa gástrica, denominada fator intrínseco (FI). A vit. B12 é liberada pela digestão de proteínas de origem animal e combina-se com FI, em seguida o complexo FI-B12 é captado pelos receptores das células epiteliais do íleo e a vitamina B12 é absorvida Na circulação a vitamina B12 é transportada pela transcobalamina II, sintetizada pelo fígado ácido fólico & vitamina B12 condensação (ATP) desmetilação hidrólise TIMINA (DNA) + ADENOSINA Metionina sintase ATP ̶ CH3 hidrólise ácido fólico & vitamina B12 No organismo humano, tanto a vitamina B12 quanto o ácido fólico estão envolvidos no metabolismo da homocisteína (HCY). A enzima metionina sintase promove a metilação da HCY, tendo o 5-metiltetraidrofolato (5-MTHF) como doador de grupamento metil e a metilcobalamina (vit. B12) como cofator. Após a metilação da HCY, a metionina (MET) formada é condensada com o ATP resultando na S-adenosilmetionina (SAM). Em seguida, por uma reação de desmetilação, forma-se a S-adenosil-homocisteína (SAH) com posterior hidrólise para liberar a adenosina e HCY, completando o ciclo. ácido fólico & vitamina B12 A metilação da HCY serve para repor os estoque de SAM quando a metionina dietética estiver em baixos níveis. A SAM é o único doador de grupamentos metil para numerosas reações de metilação, incluindo algumas essenciais para a manutenção da mielina Assim a deficiência de vitamina B12 causará diminuição da SAM e consequente redução de importantes reações de transmetilação do organismo, provocando defeitos desmielinizantes no sistema nervoso ácido fólico & vitamina B12 Outro problema consequente à interrupção da conversão de HCY em MET é que o 5- MTHF, doador de grupamentos metil na reação, não pode ser convertido em tetraidrofolato (THF), ocasionando um sequestro de folatos na forma de 5-MTHF, ocorrendo, um cofator importantíssimo e fundamental na síntese de bases purínicas de DNA (timina) Desse modo gerará um defeito na síntese de DNA, dificultando a divisão celular na medula, enquanto que o RNA e a síntese de componentes celulares permanecem inalterados, produzindo macrocitose. Deficiência de Vit. B12 1) Ingesta inadequada 2) Má absorção - Prejuízo da liberação de vitamina do alimento (acloridria, gastrectomia parcial) - Produção inadequada de FI (anemia perniciosa, gastrectomia total, ausência congênita do FI) - Desordens do íleo terminal (ressecção ileal, doença de Chron, doença de Imerslund) 3) Outras causas - Deficiência de transportadores (transcobalamina II) - Exposição ao óxido nitroso - Defeitos enzimáticos Deficiência de Folato 1) Ingesta inadequada: etilistas, adolescentes 2) Aumento das necessidades: gravidez, hemólise, malignidade, hemodiálise, doenças exfoliativas crônicas – psoríase 3) Má absorção: espru tropical, doença celíaca, drogas (fenitoína, ácido valpróico, primidona, barbitúricos) 4) Prejuízo no metabolismo: inibidores da diidrofolato redutase (metotrexato, pirimetamina, pentamidina, trimetoprim), etanol, deficiências enzimáticas (raras) Anemias megaloblásticas Causas da deficiência de vitamina B12 : deficiência de fator intrínseco (anemia perniciosa), vegetarianos exclusivos, deficiência proteína transporte Causas da deficiência de ácido fólico: dieta pobre, aumento da demanda (gestações repetidas, anemia hemolítica crônica), etilismo Anemia perniciosa É uma doença caracterizada pelo desenvolvimento de autoanticorpos que atacam as células do corpo e fundo gástrico (células parietais), reduzindo tanto a produção de ácido clorídrico e pepsina quanto de fator intrínseco (FI) Instala-se um quadro de gastrite atrófica, devido a inflamação crônica e atrofia da mucosa gástrica Os autoanticorpos anticélulas parietais estão presentes em 90% dos pacientes, enquanto os anticorpos anti-FI são encontrados em 60% dos pacientes O resultado é o desenvolvimento de hipocloridria e anemia megaloblástica por má absorção de vitamina B12Anemia perniciosa É a causa mais comum de deficiência de cobalamina O diagnóstico é feito pelo teste de Schilling Afeta indivíduos entre 45 – 65 anos, sendo rara antes dos30 anos É ligeriramente mais comum em mulheres (1.6:1) de origem nórdica, com olhos azuis e que possuem cabelos brancos precocemente Há uma correlação médica entre anemia perniciosa e adenocarcinoma gástrico: o primeiro é fator de risco para o segundo Deficiência nutricional A deficiência de folatos, concomitante ou não, com vitamina B12, durante a gravidez aumenta o risco de malformação fetal, ocasionando defeito no tubo neural em recém- nascidos Deficiência nutricional A deficiência de folatos ou B12 na mãe predispõe a outros defeitos congênitos: anencefalia, espinha bífida ou encefalocele Deficiência nutricional A deficiência de folatos ou B12 na mãe predispõe a outros defeitos congênitos: anencefalia, espinha bífida ou encefalocele Fisiopatologia DEFICIÊNCIA (Vit. B9 ou B12) ASSINCRONISMO DE MATURAÇÃO ↑ ERITROPOES INEFICAZ AUMENTO CELULAR ↓ HEMOGLOBINA MACROCITOSE ANEMIA MEGALOBLÁSTICA Fisiopatologia Anemia megaloblástica Tanto os folatos quanto a vitamina B12 são indispensáveis para a síntese de timina, um dos nucleotídeos que compõem o DNA, e a carência de um deles tem como consequência menor síntese de DNA A síntese inadequada de DNA tem como consequência modificações no ciclo celular, retardo da duplicação e defeitos no reparo do DNA Fisiopatologia Anemia megaloblástica Por outro lado, o metabolismo de RNA não está alterado, pois a timina não é necessária para sua síntese, não há, portanto, redução da formação de proteínas citoplasmáticas e do crescimento celular Devido, principalmente, à lentidão da divisão celular na fase S do ciclo e a consequente dissociação da maturação núcleo-citoplasmática (assincronismo de maturação) há a produção de células de tamanho aumentando Fisiopatologia Anemia megaloblástica A intensa desordem de maturação nuclear das 3 linhagens, mais evidente na série vermelha, produz um aumento de morte celular intramedular Apenas 10 a 20% dos eritrócitos sobrevivem e tornam-se viáveis para o sangue periférico (eritropoese ineficaz) Manifestações clínicas Anemia megaloblástica A instalação dos sintomas, em geral, é insidiosa com sintomas e sinais gradativamente progressivos de anemia: fraqueza, dispneia e graus variados de palidez, com pele cor de limão (combinação de palidez com leve icterícia) Uma das manifestações clássicas é a glossite, que cursa com perda das papilas, deixando-a lisa, brilhante e intensamente vermelha (“língua careca”), além de queilite e perda do apetite pode ser encontrada discreta a moderada esplenomegalia Manifestações clínicas palidez cutaneomucosa + icterícia leve glossite queilite angular Manifestações clínicas Deficiência de vitamina B12: Manifestações hematológicas: anemia macrocítica (palpitações, fraqueza, cefaleia, irritabilidade) Manifestações digestivas: diarreia e perda ponderal, glossite, queilite Manifestações neurológicas: parestesias nas extremidades, diminuição da sensibilidade profunda (proprioceptiva e vibratória), desequilíbrio, marcha atáxica, fraqueza e espasticidade nos membros inferiores com sinal de Babinski, hiperflexia patelar, déficits cognitivos, demencia e psicoses. anemia megaloblástica + distúrbios neuropsiquiátricos + glossite Manifestações clínicas Deficiência de ácido fólico: As manifestações clínicas são semelhantes às da anemia por deficiência de vitamina B12, exceto por 2 fatores importantes: 1) Os achados do aparelho digestivo são mais exuberantes 2) Não ocorrem manifestações neurológicas anemia megaloblástica + glossite Alterações hematológicas A alteração mais característica de anemia megaloblástica no esfregaço de sangue periférico é a hiperssegmentação dos neutrófilos, que pode ser definida pelos seguintes critérios: 1) achado de apenas 1 neutrófilo contendo 6 lobos ou mais e 2) presença de pelo menos 5% de neutrófilos com 5 lobos Outras alterações incluem a presença de anisocitose e poiquilocitose e dos macrovalócitos, que são eritrócitos grandes e ovais, completamente hemoglobinizados. Os macrócitos das outras anemias não possuem esta característica Pode-se ter uma neutropenia e trombocitopenia associada à anemia (pancitopenia) Alterações hematológicas Hemograma: macrocitose (VCM > 110 fL) Alterações hematológicas As principais alterações morfológicas no esfregaço do sangue periférico são: 1) eritrócitos: macrovalócitos1, poiquilocitose com esquizócitos2 e/ou dacriócitos3 1 2 3 Alterações hematológicas As principais alterações morfológicas no esfregaço do sangue periférico são: 1) eritrócitos: corpúsculos de Howel-Jolly4, anel de Cabot5 e eritroblastos6 4 5 6 Alterações hematológicas As principais alterações morfológicas no esfregaço do sangue periférico são: 2) granulócitos: hiperssegmentação nuclear com presença de neutrófilos polissegmentados, reconhecidos no mínino 5% de neutrófilos com 5 lobos ou 1 neutrófilo com 6 ou mais lobos. Alterações hematológicas Outras alterações morfológicas no esfregaço do sangue periférico incluem: 3) leucócitos: leucopenia (2.000/μL) com neutropenia 4) plaquetas: trombocitopenia com 30.000 a 100.000/μL 5) reticulócitos: A contagem é normal ou baixa, mas a correção (CRC) indica anemia hipoproliferativa Diagnóstico Anemia megaloblástica Para o diagnóstico correto, em geral, 3 são as abordagens nesses pacientes: 1ª) reconhecer ser a anemia megaloblástica está presente 2ª) distinguir entre as deficiências de vitamina B12 e folato 3ª) determinação da causa Diagnóstico laboratorial Hemograma: anemia macrocítica - ↑ VCM : macrocitose - CHCM: normal - ↑ RDW: anisocitose Contagem de reticulócitos: diminuída (anemia hipoproliferativa) Dosagem de ácido fólico e/ou vitamina B12: diminuídos, porém na deficiência isolada de vitamina B12 os níveis de ácido fólico estão elevados Teste de Schilling (absorção vitamina B12) Diagnóstico Laboratorial Mielograma Anticorpos anti-células parietais, anti-FI (anemia perniciosa) Dosagens homocisteína, LDH, Bilirrubinas Endoscopia gástrica com biopsia (gastrite atrófica) Tratamento Resposta ao tratamento O paciente sente-se melhor depois de 24 a 48 h do tratamento com a vitamina correta A hemoglobina deve aumentar em 2 a 3 g/dL a cada quinzena As contagens de leucócitos e de plaquetas normalizam-se em 7 a 10 dias Os reticulócitos elevam-se entre o 2º e o 3º dia, atingindo o pico máximo entre o 5º e o 8º dia, acompanhado de queda dos níveis séricos de LDH Referências Bibliográficas HOFFMAN, A. V.; MOSS, P. A. H. Fundamentos em Hematologia. 6ªed. Porto Alegre: Artmed, 2011. 454 p. SILVA, P.; H.; HASIMOTO, Y.; ALVES, H. B. Hematologia Laboratorial. Rio de Janeiro: Revinter, 2009. 466 p. ZAGO, M. A.; FALCÃO, R. P.; PASQUINI, R. Hematologia: Fundamentos e Prática. 2ªed. Rio de Janeiro: Atheneu, 2013. 899 p. PANIZ,C. et al. Fisiopatologia da deficiência de vitamina B12 eseu diagnóstico laboratorial. J Bras Patol Med Lab. v. 41, n. 5, p. 323-334, 2005. ANEMIA FERROPRIVA Anemia Ferropriva Definição A anemia ferropriva (AF) é um estado em que as baixas concentrações de hemoglobina são uma consequência da deficiência de ferro. Essa condição pode ser definida como a ausência de estoques de ferro mobilizáveis para a eritropoese, o que, em estados mais avançados, resultará em anemia. Anemia Ferropriva Aspectos Epidemiológicos A carência de ferro é a deficiência nutricional mais prevalente no mundo. Estima-se que quase 2 bilhões de pessoas sejam afetadas por ela. A AF afeta 24,8% da população mundial, sendo que a maior prevalência ocorre em crianças da faixa etária pré-escolar. Atualmente, cerca de 45% das crianças brasileiras apresentam anemia por deficiência de ferro Os grupos mais susceptíveis são lactentes, pré-escolares e adolescentes, mulheres em idade fértil (gestantes). Em homens adultos é rara (grande reserva), mas pode acontecer em caso de sangramentos crônicos Metabolismo do Ferro Tanto a deficiência como o excesso de ferro causa disfunção celular e do organismo como um todo - deficiência : a anemia é a manifestação mais relevante - excesso: o ferro livre promove a síntese de espécies reativas de oxigênio que são toxicas e lesam proteínas, lípides e DNA Metabolismo do Ferro Metabolismo do Ferro O ferro utilizado pelo organismo é obtido de duas fontes principais: 1) dieta 2) reciclagem de hemácias senescentes O ferro da dieta apresenta-se de diversas maneiras, sendo tipicamente classificado como ferro heme e não-heme O ferro heme, também chamado de ferro orgânico é encontrado nas carnes, ovos e laticínios O ferro não-heme, também conhecido por ferro inorgânico é encontrado nos vegetais e cereais O processo de hemocaterese recicla a maior parte do ferro necessário para nosso organismo Metabolismo do Ferro Metabolismo do Ferro A absorção de ferro consiste de sua captação pelas células da mucosa, de seu movimento através da célula e, finalmente, de sua liberação pela célula, para que possa atingir a circulação Na circulação a transferrina (Tf) é a principal proteína de transporte de ferro. Em condições normais, a Tf plasmática tem a capacidade de transportar até 12 mg de ferro, mas essa capacidade raramente é utilizada e, em geral, apenas 3 mg de ferro circulam ligado à Tf, ou seja, 30% (+ ⅓) da Tf está saturada com o ferro O ferro fica estocado nas células reticuloendoteliais do fígado, baco e MO, nas formas de ferritina e hemossiderina Anemia Ferropriva anemia ferropriva Anemia Ferropriva Fisiopatologia da Anemia ferropriva O heme é sintetizado por uma via catalisada por 8 enzimas e o passo final consiste na inserção do ferro ao anel de protoporfirina O heme é exportado da mitocôndria através de um transportador e incorporado às cadeias de globina para formar a hemoglobina A síntese do heme está comprometida com a síntese de hemoglobina Na carência de ferro o heme e a Hb não são sintetizados, consequentemente instala-se um quadro de anemia ferropriva. Anemia Ferropriva Fatores predisponentes Baixo peso ao nascer Crescimento intrauterino restrito Gestações gemelares Sangramento perinatal Baixo nível socioeconômico Baixa escolaridade materna Más condições de saneamento básico Anemia Ferropriva Causas Dieta inadequada Aumento da demanda Perdas sanguíneas Má absorção do ferro Outras Anemia Ferropriva Dieta inadequada O ferro está presente em muitos alimentos, na forma heme, (carnes, ovos, laticínios) e na forma não-heme (vegetais, cereais) A forma não-heme apresenta baixa biodisponibilidade (encontra-se complexada com vários produtos da digestão que podem facilitar ou dificultar a sua absorção) O ferro heme apresenta alta biodisponibilidade e a deficiência de ingestão de alimentos ricos em ferro hemínico (carnes, ovos e laticínios) constitui fator importante para AF Suspensão precoce do aleitamento materno exclusivo Anemia Ferropriva Aumento da demanda Crianças em idade escolar Gestação (3º trimestre) Parto Puerpério Anemia Ferropriva Perdas sanguíneas O sangramento gastrointestinal é a principal causa de anemia ferropriva em homens e a segunda nas mulheres e caracteriza-se por sangramento crônico, constante e de pequena intensidade. Qualquer sangramento no TGI (esofagite, hérnia de hiato, úlcera péptica ou duodenal, gastrites, hemorróidas, anomalias vasculares, neoplasias e parasitas intestinais) causam AF Nas mulheres, a perda de ferro é três vezes maior que nos homens devido ao fluxo menstrual Outras perdas: epistaxes, hematúrias, hemossidenúria Anemia Ferropriva Má absorção Alteração do pH gástrico (uso de antiácidos, inibidores da bomba de prótons, bloqueadores histamínicos H2) Doença de Chron Doença Celíaca Doenças hepáticas Ressecção cirúrgica gástrica (gastrectomia, gastroplastia redutora) ou intestinal Anemia Ferropriva Outras causas Procedimentos como hemodiálise, cirurgias, flebotomias e doações de sangue Ingestão excessiva de fitatos (cereais), compostos fenólicos (chá preto, café, refrigerantes) e leite e seus derivados. Parasitoses (Necator americanus, Ancylostoma duodenale, Schistossoma mansoni, Strongiloides stercorlais) Doenças descamativas de evolução crônica levam à perda de ferro da pele (psoríase) Manifestações clínicas Anorexia, palidez cutaneomucosa, fadiga, dispnéia de esforços, taquicardia Perversão alimentar (desejo e consumo de gelo, terra, sabão argila) Alterações no desempenho cognitivo e motor da criança Precárias condições imunológicas (mais chance de infecções) Manifestações clínicas queilite angular glossite coiloníquia Manifestações clínicas queilite angular glossite coiloníquia Manifestações clínicas Anemia Ferropriva A deficiência de ferro desenvolve-se, na maioria da vezes, de maneira lenta e progressiva e, didaticamente, pode ser dividida em 3 estágios. ESTÁGIOS DA DEFICIENCIA DE FERRO 1º ESTÁGIO: Depleção dos depósitos de ferro 2º ESTÁGIO: Deficiência de ferro sem anemia ou com anemia discreta 3º ESTÁGIO: Anemia ferropriva Anemia Ferropriva 1º estágio: depleção dos depósitos de ferro (↓ferritina) O ferro é estocado no organismo humano nos hepatócitos e macrófagos do fígado, do baço e da MO. No 1º estágio ocorre depleção dos estoques de ferro (ferritina) mas a concentração do ferro sérico e os níveis de Hb são normais Todo ferro absorvido é destinado à formação de hemoglobina e não para os depósitos A anemia começa a se instalar porque o balanço do ferro é negativo, ou seja, a absorção é menor que o consumo Anemia Ferropriva 2º estágio: deficiência de ferro sem anemia ou com anemia discreta O 2º estágio caracteriza-se por uma deficiência de ferro, geralmente, sem anemia com diminuição ou ausência dos estoques de ferro Ocorre uma diminuição dos níveis de Hb, mas ainda sem anemia grave Neste estágio a ferritina já está diminuída e a concentração de ferro sérico começa a baixar. Anemia Ferropriva 3º estágio: anemia ferropriva instalada Caracteriza-se pela anemia ferropriva instalada, que é a formamais avançada da deficiência de ferro Os estoques de ferro (ferritina) estão ausentes ou bastante diminuídos A concentração de ferro sérico está baixa A capacidade total de ligação do ferro (CTLF) está aumentada O índice de saturação de transferrina (IST) está diminuído Há diminuição da hemoglobina e dos índices hematimétricos (VCM, HCM, CHCM) Índices Hematimétricos O 1º estágio caracteriza-se como normocítico e normocrômico (nVCM e nHCM) O 2º estágio apresenta microcitose e hipocromia discretas ou sem hipocromia (↓VCM e ↓HCM ou nHCM) O 3º estágio caracteriza-se como microcítico e hipocrômico (↓VCM e ↓HCM) A anisocitose (↑RDW) é o primeiro sinal morfológico da anemia ferropriva Um hemograma que apresente anemia com microcitose e hipocromia e RDW aumentado é sugestivo de anemia ferropriva. Índices Hematimétricos O aporte inadequado de ferro faz com que os eritrócitos produzidos sejam pequenos (microcíticos - ↓VCM), pálidos (hipocrômicos - ↓HCM e ↓CHCM) e com grande variação no tamanho (anisocíticos - ↑RDW) O RDW aumenta precocemente na AF, podendo detectar a carência incipiente de ferro, antes mesmo de ocorrer alterações no VCM, sendo o melhor índice discriminador de AF. Alterações hematológicas As alterações morfológicas observadas na lâmina são a microcitose/hipocromia e, eventualmente, esquizócitos, além de eliptócitos finos e alongados microcitose/hipocromia esquizócitos eliptócitos Cinética do ferro Ferro sérico Ferritina Capacidade total de ligação de ferro Índice de saturação de transferrina Cinética do ferro Ferro sérico A determinação do ferro sérico é usada no diagnóstico diferencial de anemias, hemocromatose e hemossiderose Níveis baixos ocorrem na anemia ferropriva, glomerulopatias, menstruação e fases iniciais de remissão da anemia perniciosa Níveis aumentados são encontrados na hemossiderosee, hemocromatose, talassemias, anemias hemolíticas, lesão hepática aguda, uso de estrógenos, anticoncepcionais e alcool Cinética do ferro Ferritina A ferritina é uma proteína de fase aguda, portanto pode estar aumentada nos processos infecciosos e inflamatórios e também pode estar aumentada em etilistas ativos. Na presença de doenças hepáticas, em estados inflamatórios como artrite reumatóide, doenças malignas a deficiência de ferro pode não ser refletida pela ferritina sérica A ferritina sérica não exibe variação diurna e é pouco influenciada por ingestão exógena de ferro ou por contaminação Valores de referência: homens – 29 a 300 ng/mL mulheres – 10 a 280 ng/mL Cinética do ferro Capacidade total de ligação de ferro Praticamente toda capacidade de ligação é devida à transferrina, mas normalmente somente ⅓ dos sítios de ligação da transferrina estão ocupados por ferro; deste modo a transferrina plasmática tem uma considerável reserva de ligação do ferro A CTLF aumenta em patologias que reduzem as reservas de ferro (deficiência do metal ou perda sanguínea), ou elevam a produção hepática de transferrina (gestação e uso de anticoncepcional oral). A CTLF diminui nas patologias em que o ferro sobe, como na hemocromatose ou quando ocorre redução da produção hepática de transferrina (cirrose hepática) e nas perdas protéicas (síndrome nefrótica) Valores de referência: 250 a 410 μg/dL Cinética do ferro Índice de saturação de transferrina Valores de referência: em condições normais 20 a 50 % dos sítios de ligação do ferro na transferrina estão ocupados ferro CTLF x 100 IST = Cinética do ferro CTLF IST IST CTLF IST CTLF Fe2+ normal Fe2+ baixo Fe2+ alto Diagnóstico laboratorial HEMOGRAMA: anemia microcítica e hipocrômica (↓VCM, ↓HCM, ↓CHCM) CINÉTICA DO FERRO: - ferro sérico: ↓ - ferritina: ↓ - CTLF: ↑ - IST: ↓ Contagem de reticulócitos: ↓ Trombocitemia (plaquetas aumentadas em número) Tratamento Identificação e correção da causa determinante Orientação nutricional Administração oral ou parenteral de compostos de ferro - sulfato ferroso - neutrofer - noripurum # o uso de preparações líquidas de ferro pode ocasionar escurecimento dos dentes; isso pode ser evitado com a escovação após cada administração # o escurecimento das fezes também pode ocorrer, devendo-se orientar a família sobre a benignidade do fato Monitoração Tratamento Redução ou desaparecimento de sintomas como fadiga e cansaço Maior tolerância a exercícios já na primeira semana de tratamento Aumento de pelo menos 2 g/dL na dosagem de Hb após 2 a 3 semanas de tratamento Reticulocitose, que pode ser observada entre 3º e 5º dia, com pico máximo em 8 a 10 dias após o início do tratamento A normalização da ferritina sérica indica reconstituição das reservas normais de ferro e sinaliza a suspensão do tratamento Referências Bibliográficas FAILACE, R. Hemograma: manual de interpretação. 5ªed. Porto Alegre: Artmed, 2009. 424 p. SILVA, P.; H.; HASIMOTO, Y.; ALVES, H. B. Hematologia Laboratorial. Rio de Janeiro: Revinter, 2009. 466 p. BRAGA, J. A. P.; TONE, L. G.; LOGGETTO, S. R. Hematologia para o pediatra. Rio de Janeiro: Atheneu, 2007. 506 p. ZAGO, M. A.; FALCÃO, R. P.; PASQUINI, R. Hematologia: Fundamentos e Prática. Rio de Janeiro: Atheneu, 2013. 1081 p. CANÇADO, R. D.; CHIATTONE, C. S. Anemia ferropênica no adulto – causas, diagnóstico e tratamento. Rev Bras Hematol Hemoter. 32(3), 2010. p. 240-246. FERRAZ, S. T. Anemia ferropriva na infância: uma revisão para profissionais da atenção básica. Rev APS. 14(1), 2011, p. 101-110
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