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Aula 1 Português Nossa língua materna

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1 
 
 
CEDERJ – CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR A DISTÂNCIA 
DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 
 
 
CURSO: Letras DISCIPLINA: Português VIII 
 
CONTEUDISTA: 
Monika Benttenmüller Amorim 
José Carlos Gonçalves 
 
 
 
Aula 01 – PORTUGUÊS: NOSSA LÍNGUA MATERNA? 
 
META 
 
Nesta aula, responderemos a essa indagação, refletindo sobre a língua que se fala no Brasil. 
A partir da dinamicidade da língua, vamos verificar, juntos, os processos de variação e 
mudança e como a norma se delineia no sistema linguístico do português. Além disso, 
vamos nos debruçar sobre os falares formais, mais “fechados” e os informais, mais 
“abertos”. 
 
OBJETIVOS 
 
Esperamos que, ao finalizar essa lição, você seja capaz de: 
 
1. Perceber a diferença entre o Português e o Vernáculo; 
2. Reconhecer os diferentes tipos de norma; 
3. Identificar os processos de variação linguística; 
4. Reconhecer o processo de mudança na língua. 
2 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
Afinal, que língua falamos? Com esta pergunta, você deve estar se questionando: como 
assim? A resposta é simples, porém surpreendente: o português não é a nossa língua 
materna. "Há duas línguas no Brasil: uma que se escreve (e que recebe o nome de 
“português”); e outra que se fala (e que é tão desprezada que nem tem nome)” (PERINI, 
Mário, 1997:36). 
 
VERBETE 
Língua é uma atividade social, concretizada, na fala, por todos os seus falantes, quando da 
interação oral ou escrita. 
FIM DO VERBETE 
 
1. PORTUGUÊS OU VERNÁCULO? 
 
Você sabe o que é vernáculo? Se alguém te dissesse que falamos o vernáculo brasileiro e 
não o português, o que você pensaria? Será uma brincadeira? Segundo o dicionário Caldas 
Aulete, vernáculo é definido como: 
 
a) característico de um país, uma região etc.; 
b) sem incorreções ou alterações, ou inclusão de estrangeirismos (diz-se de uma 
língua); 
c) língua falada pelo povo de um país ou por um dos grupos sociais existentes no 
mesmo. 
 
Para ficar mais claro, entende-se vernáculo como o português falado. Podemos, então, 
afirmar que falamos o “português vernáculo brasileiro”. Assim sendo, em geral, o 
vernáculo constitui a fala informal; é a língua que aprendemos com nossos pais, irmãos, 
mas não é a que escrevemos. 
 
3 
 
 
Bernstein (1971) estabeleceu uma diferença entre a linguagem formal, mais fechada, e a 
linguagem que ele chamou de “pública”, mais aberta. A linguagem pública, segundo o 
autor, apresenta frases curtas, gramática simples, sentenças inacabadas, uso de conjunções, 
uso limitado de adjetivos e advérbios, afirmações formuladas com questões implícitas, 
enfim, é uma linguagem de significados implícitos, utilizada nos círculos “abertos” de 
nossa comunicação. De maneira diferente, a linguagem formal ou mais elaborada apresenta 
um alto grau de planejamento. Dessa forma, a linguagem formal, mais elaborada, constrói 
seus significados por meio de princípios que são acessíveis apenas a certos grupos, os mais 
escolarizados. 
 
Outro renomado autor, William Labov, importante nome da Sociolinguística variacionista, 
atribui, para “vernáculo”, o seguinte significado: “o estilo em que se presta o mínimo de 
atenção ao monitoramento da fala”. 
 
VERBETE 
Sociolinguística é uma das subáreas da Linguística, que estuda a língua em uso. 
FIM DO VERBETE 
 
BOXE EXPLICATIVO 
Leia mais sobre os estudos de Bernstein no link 
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0100-15742003000300003&script=sci_arttext 
FIM DO BOXE EXPLICATIVO 
 
A fala é espontânea, não “monitorada”. Você já deve ter percebido diferenças na expressão 
oral da língua, como: 
“Você viu ela fazendo caras e bocas? Eu vim o tempo todo pensando como falar pro meu 
irmão que ela tava mentindo! A gente vai dar um jeito nessa situação! Ele pediu pra mim 
ficar de olho nela e eu obedeci, mas já tô arrependida...” 
 
4 
 
 
Nesse pequeno trecho de uma reprodução da fala espontânea, expressões como vi ela (em 
vez de a vi);a ausência da preposição “em” (pensando como falar); preposição pro(em vez 
de para o); redução de “estava” (tava); o pronome nós substituído por a gente; o pronome 
“mim” funcionando como sujeito; a regência obedecer o (em vez de obedecer ao); a 
contração “tô” para “estou”, são apenas alguns exemplos de expressões da linguagem oral, 
não monitorada. 
 
Além desses exemplos, poderíamos apresentar muitos outros. Todos esses fazem parte de 
nosso vernáculo, da comunicação utilizada em nossa rotina, sem a menor dificuldade, ou 
seja, nosso processo natural de comunicação. 
 
ATIVIDADE 01 
Faça uma pesquisa (poderá ser em casa, com colegas, em livros, na internet) e transcreva 
um pequeno diálogo que contenha, pelo menos, três exemplos de fala espontânea. Ao final, 
analise os exemplos encontrados. 
(10 linhas) 
 
ATIVIDADE 02 
Lembrando do conceito de vernáculo, não se pode afirmar que as línguas, na forma 
padronizada, sejam um vernáculo. Comente essa afirmativa. 
(04 linhas) 
 
RESPOSTA COMENTADA 
As línguas, quando na forma padronizada, ou seja, seguindo a forma monitorada, não 
podem ser consideradas vernáculos porque há uma grande diferença entre o falar seguindo 
a norma e o falar espontâneo, natural. O vernáculo se insere no segundo tipo, é a língua 
falada, utilizada sem monitoramento, com fluidez e naturalidade. 
 
 
 
5 
 
 
1.1 PORTUGUÊS 
 
E o Português? O português é a língua que se escreve. Como você pode observar nos 
exemplos acima citados, será que falamos a mesma língua que escrevemos e lemos? As 
diferenças entre o vernáculo e o português são muitas e já podemos desconfiar por que 
temos tanta dificuldade em escrever textos em português. 
Nas relações entre fala e escrita, é necessário que se levem em conta as condições de 
produção para a efetivação dessa fala ou dessa escrita. Nos textos escritos, por exemplo, 
decidimos em que ordem as partes, parágrafos serão dispostos, podemos corrigir, avaliar, 
modificar; é o momento do “monitoramento” da língua, como postula Labov. 
 
BOXE EXPLICATIVO 
É interessante observar que uma carta pessoal escrita num estilo descontraído pode ser 
comparada a uma narrativa oral espontânea, enquanto que se constata muita diferença entre 
uma narrativa oral e um texto acadêmico escrito. Assim, em uma conferência científica 
escrita, o autor preocupa-se com a elaboração de um texto consistente e defensável, o qual 
pode se assemelhar mais a um texto escrito do que a uma conversação espontânea. 
(FERRONATO, Vera Lúcia) 
http://alb.com.br/arquivo-morto/edicoes_anteriores/anais16/sem10pdf/sm10ss02_09.pdf 
FIM DO BOXE EXPLICATIVO 
 
Não devemos, no entanto, generalizar, já que nem toda mensagem que nos chega aos 
ouvidos é, na verdade, uma mensagem falada. Há textos “falados” que são lidos, isto é, 
foram escritos para serem lidos posteriormente. É o caso dos discursos políticos, de 
formaturas, telejornais e textos de telemarketing, por exemplo. A diferença é que os textos 
tipicamente falados são produzidos e consumidos simultaneamente no momento da 
interação, de sua produção, por isso mais espontâneos. Exemplos desse gênero são muitos: 
chats, e-mails informais, bate-papo em geral, tais como os que ocorrem no facebook ou 
whatsapp. 
 
6 
 
 
Agora, novamente a pergunta inicial: qual é a nossa língua materna ou, que língua falamos? 
Sem sombras de dúvida, nossa língua materna é o vernáculo, língua falada por mais de 
cento e cinquenta milhões de pessoas, que o utilizam constantemente em situações do dia a 
dia, com muita naturalidade. 
 
O Português, portanto, é usado na escrita formal, tem de seraprendido na escola e 
“permanecerá sempre, no imaginário coletivo, no senso comum, como algo superior, mais 
sublime e mais digno de veneração do que a língua falada” (BAGNO, Marcos, 2011:364). 
 
Mas por que, então, a nomenclatura “língua portuguesa”? Essa não é somente uma questão 
linguística, mas, principalmente política. “A atribuição do rótulo de língua a um modo de 
falar já é um ato político.” (BAGNO, Marcos, 2011:371). No próximo item, nos 
debruçaremos mais sobre essa questão. 
 
BOXE CURIOSIDADE 
Durante muitos séculos, as línguas maternas europeias foram chamadas de “vulgares”. [...] 
Somente a partir do Renascimento as línguas vulgares passarão a ser valorizadas, como 
instrumentos que permitem a comunicação direta do poder com seus súditos. E para isso, 
elas precisam de um nome. (BAGNO, Marcos, 2011:370) 
FIM DO BOXE CURIOSIDADE 
 
Podemos afirmar, sem medo, que alguns falantes alteram a forma de se expressar, de seus 
“falares”, adaptando-os às circunstâncias. Outros, no entanto, só têm o domínio ou 
conhecimento de uma forma de falar, a informal. O falante, portanto, adapta, de forma 
sistemática, sua fala a situações mais ou menos formais, desde que possua esse domínio. A 
realidade nacional de nosso idioma é, assim, extremamente diversificada, seja no espaço 
geográfico, seja no espaço social. Nossa língua constitui um patrimônio histórico e cultural, 
um bem de que devemos nos orgulhar. Para tratarmos melhor as questões relacionadas às 
variedades linguísticas, vamos ao próximo item. 
 
7 
 
 
2. VARIAÇÃO LINGUÍSTICA TEM ALGO A VER COM O VERBO “VARIAR”? 
 
A língua, na concepção dos sociolinguistas, é heterogênea, variável, instável e, como vimos 
anteriormente, uma atividade social. Se os seres humanos e a sociedade são heterogêneos, 
sujeitos a conflito e a mudanças, a variação linguística é um processo natural, inerente ao 
nosso sistema comunicativo. O verbo “variar” tem, portanto, tudo a ver com nosso 
repertório comunicativo, ou seja, com as escolhas linguísticas que fazemos para nos 
comunicar, cujo reflexo pode ser observado no fenômeno da variação linguística. 
 
A variação ocorre em todos os níveis da língua. Nesta lição, observaremos as variações 
condicionadas linguisticamente, ou seja, aquelas que envolvam o uso do português como 
sistema de organização da língua. Posteriormente, em outra lição, você estudará as 
variações condicionadas extralinguisticamente, ou seja, por algum fator de ordem social, 
tais como classe social, idade, religião, contexto, região etc. 
 
2.1 VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS: 
 
As variações, na língua, podem ocorrer de diversas formas. Abaixo, exemplos de variações 
condicionadas linguisticamente: 
 
a) Fonético-fonológica – perceptível nas diversas realizações dos fonemas, como no 
“R” das palavras “porta”, “porco”, percebidas nos falares dos mineiros e dos 
paulistas, por exemplo. No “S” chiado ou não, percebido em algumas localidades do 
país, como no Rio de Janeiro. 
b) Morfológica – percebida nos morfemas da palavra. Os afixos, ou seja, prefixos e 
sufixos diferentes podem expressar mesma ideia, como os prefixos “-in”, “-a”, 
indicando negação, em palavras como “infeliz” e “amoral”. 
c) Sintática – organização sintática das palavras nos sintagmas. Ex: Uma história que 
gostamos do final / Uma história que do final gostamos/ Uma história cujo final 
gostamos. 
8 
 
 
d) Semântica – significados distintos para uma mesma palavra, a depender da região 
de origem do falante. “Sinal de trânsito” significa “semáforo” no Rio de Janeiro, 
mas não em São Paulo. 
e) Lexical – palavras distintas que se referem ao mesmo objeto. Mandioca ou aipim, 
para os cariocas; macaxeira para os nordestinos. 
f) Estilístico-pragmática – refletem maior ou menor grau de formalidade entre os 
interlocutores. O uso de “senhor/senhora” ou “você”, por exemplo. 
 
Na atividade abaixo, há um poema de Oswald de Andrade pontuando uma das várias 
possibilidades da nossa língua. 
 
ATIVIDADE 03 
 
Leia o poema abaixo: 
 
Vício na Fala 
Para dizerem milho dizem mio 
Para melhor dizem mió 
Para pior pió 
Para telha dizem teia 
Para telhado dizem teiado 
E vão fazendo telhados. 
(Oswald de Andrade, História do Brasil, in: Andrade, O. Pau-Brasil – Obras completas de 
Oswald de Andrade. São Paulo: Globo, 1991, p.80) 
 
Qual é o objeto (tema) do poema de Oswald de Andrade? Justifique sua resposta com base 
na língua falada no Brasil. Como estudante da disciplina Português VIII, você acha que as 
formas usadas no poema acima constituem um vício de linguagem? (07 linhas) 
 
 
9 
 
 
RESPOSTA COMENTADA 
O poema apresenta, como tema, as várias possibilidades da língua, ou seja, os distintos 
falares. Os diversos gêneros não seguem, necessariamente, as regras prescritas pelas 
gramáticas normativas. Vamos construindo nossa língua, nossos “telhados”, por meio das 
misturas, das interações linguísticas, como bem exemplifica o poema. 
 
No próximo item, verificaremos como a variação linguística está estreitamente relacionada 
ao prestígio social. 
 
2.2 VARIAÇÃO LINGUÍSTICA E A QUESTÃO DO PRESTÍGIO SOCIAL 
 
A variação linguística deve ser entendida como um fenômeno normal. No entanto, se por 
um lado temos a variação linguística, permitindo a espontaneidade e fluidez da língua, por 
outro temos a “norma”, um modelo a ser seguido. Você já percebeu que há situações 
socialmente relevantes, as quais requerem um falar ou um escrever seguindo modelos 
prestigiados? 
 
Nesses momentos, que modelo ou forma de uso da língua escolher para se comunicar? 
Aqui, um pouco de história nos ajuda bastante. Em um passado distante, mais precisamente 
no século III a.C., na cidade de Alexandria, no Egito, que nesse tempo era um importante 
centro de cultura grega, os célebres filólogos da Biblioteca de Alexandria estavam 
preocupados em preservar, na maior “pureza” possível, a língua dos grandes autores da 
literatura grega. 
 
Para alcançar seu objetivo, esses estudiosos, chamados filólogos (fil=amigo, amante + 
logia=estudo, ciência), resolveram descrever as regras gramaticais empregadas pelos 
grandes autores clássicos para que elas servissem de modelo. Foi assim que nasceu a 
gramática, palavra grega que significa exatamente “a arte de escrever”. 
 
 
10 
 
 
VERBETE 
Logos 
Por Dicionário inFormal (SP), em 03/11/2008. 
O Logos (em grego, palavra), no grego, significava inicialmente a palavra escrita ou falada 
- o Verbo. Mas a partir de filósofos gregos como Heráclito passou a ter um significado mais 
amplo. Logos passa a ser um conceito filosófico traduzido como razão, tanto como a 
capacidade de racionalização individual ou como um princípio cósmico da Ordem e da 
Beleza. 
Na teologia cristã, o conceito filosófico do Logos viria a ser adotado no Evangelho de João, 
o evangelista se refere a Jesus Cristo como o Logos, isto é, a Palavra: "No princípio era a 
Palavra, e a Palavra estava com o Deus, e a Palavra era Deus" João 1:1. 
FIM DO VERBETE 
 
Nas gramáticas “normativas”, há o estabelecimento de regras com o objetivo de orientar os 
leitores no “bom” uso da linguagem. Quando nos perguntamos onde o gramático se pauta 
para delimitar as regras que servirão de modelo à linguagem, verificamos que essa fonte 
provém da língua das pessoas cultas ou, melhor dizendo, dos grandes escritores. Muito da 
gramática normativa é conhecimento intuitivo do gramático, as regras são tiradas da sua 
cabeça, ou inventadas, e não usam dados empíricos, reais, provindos de gravações e ou 
transcrições de eventos de fala reais. 
 
BOXE EXPLICATIVO 
A gramática descritivaé uma gramática que se propõe a descrever as regras de como uma 
língua é realmente falada, a despeito do que a gramática normativa prescreve como 
"correto". É a gramática que norteia o trabalho dos linguistas que pretendem descrever a 
língua tal como é falada. 
As gramáticas descritivas estão ligadas a uma determinada comunidade linguística e 
reúnem as formas gramaticais aceitas por estas comunidades. Como a língua sofre 
mudanças, muito do que é prescrito na gramática normativa já não é mais usado pelos 
falantes de uma língua. A gramática descritiva não tem o objetivo de apontar erros, mas sim 
11 
 
 
identificar todas as formas de expressão existentes e verificar quando e por quem são 
produzidas. 
Chama-se gramática normativa a gramática que busca ditar, ou prescrever, as regras 
gramaticais de uma língua, posicionando as suas prescrições como a única forma correta de 
realização da língua, categorizando as outras formas possíveis como erradas. 
Frequentemente as gramáticas normativas se baseiam nos dialetos de prestígio de uma 
comunidade linguística. 
Embora as gramáticas normativas sejam comuns no ensino formal de uma língua, a 
sociolinguística vem favorecendo o estudo da língua como ela realmente é falada, e não 
como ela deveria ser falada. 
http://viverportugues.blogspot.com.br/2009/06/gramatica-descritiva-e-normativa.html 
FIM DO BOXE EXPLICATIVO 
 
Você já deve ter ouvido as expressões “norma-padrão”, “norma culta”. Vários livros 
didáticos e muitos enunciados envolvendo questões sobre o uso da língua portuguesa fazem 
uso dessas expressões. Vamos, no próximo item, estudar e refletir uma pouco mais sobre 
essas nomenclaturas. 
 
3. NORMA-PADRÃO OU NORMA CULTA? 
A língua, atividade social, concretizada na fala, é objeto de um trabalho de codificação, ou 
seja, padronização. Daí a nomenclatura “norma-padrão”, isto é, uma referência, uma 
espécie de modelo ou lei que normatiza o uso da língua, falada ou escrita. 
 
Norma-padrão é, na verdade, um “modelo”, um parâmetro proposto. E como denominamos, 
então, a norma de uso real na língua, a que se concretiza? Essa é a norma culta, variedade 
que mais se aproxima da norma-padrão e é empregada pelos falantes urbanos mais 
escolarizados, também conhecida como variedade urbana de prestígio. 
 
 
 
12 
 
 
BOXE CURIOSIDADE 
Leia um pouco mais sobre a norma culta no link abaixo. 
http://revistalingua.com.br/textos/blog-abizzocchi/o-que-e-e-para-que-serve-a-norma-culta-
265019-1.asp 
FIM DO BOXE CURIOSIDADE 
 
Percebemos, então, que existe um abismo entre a norma idealizada e a norma efetivamente 
praticada, mesmo pelos falantes mais escolarizados.Usos como o de “ter” por “haver” em 
construções existenciais, como em “tem muitos livros na estante”, ou do pronome objeto na 
posição de sujeito como em “para mim fazer o trabalho”, ou ainda da não-concordância das 
passivas com “se”, como em “aluga-se casas”, são indícios da existência, não de uma 
norma única, mas de uma pluralidade de normas, entendida “norma” como conjunto de 
hábitos linguísticos, sem a preocupação ou, melhor, sem julgamento do que seria “certo” ou 
“errado”. 
 
Na norma culta, observam-se as regras do “bom uso” da língua, as quais são ensinadas e 
trabalhadas pela escola. Assim, entenderemos “norma” como um conjunto de fenômenos 
linguísticos, ou seja, fonológicos, morfológicos, sintáticos e lexicais (veja 2.1) que são 
normais porque são habituais, costumeiros. 
 
Mais adiante, estudaremos, nas unidades 04, 05 e 06, as questões que envolvem a norma 
(urbana culta, objetiva, subjetiva, prescritiva, dentre outras). 
 
ATIVIDADE 04 
Leia o pequeno trecho abaixo e comente-o, segundo sua experiência enquanto aluno(a). 
 
“Língua padrão: um peixe ensaboado? 
Entretanto, se todos concordam com a existência e as vantagens da língua padrão, pouca 
gente – se é que há alguém – será capaz de descrevê-la rigorosamente. Pode-se dizer que 
aquilo que se chama „língua padrão‟ é um peixe ensaboado! E tanto mais difícil será 
13 
 
 
definir, quanto mais transformações sociais, políticas e econômicas se passem em curto 
espaço de tempo em uma sociedade, como é o caso do Brasil. De tal modo que um 
gramático conservador, munido de compêndios, que passasse um mês diante de noticiários 
de televisão ou lendo jornais e revistas acabaria por declarar, desesperado, que ninguém 
mais sabe falar e escrever português no país.” 
(FARACO, Carlos Alberto e TEZZA, Cristóvão. 1992) 
(08 linhas) 
 
4. MUDANÇA NA LÍNGUA 
 
Já vimos que é na interação que a língua funciona, concretiza-se. Há de se esperar, 
portanto, que, a partir do uso, haja mudanças percebidas no ato da comunicação. Desta 
maneira, os usuários, no momento da interação, escolherão termos disponíveis no sistema 
linguístico, sejam palavras, sejam expressões ou estruturas que contemplem a intenção 
comunicativa que eles pretendem. 
 
Segundo a perspectiva da Sociolinguística Variacionista, toda mudança pressupõe um 
período de variação. Então, precisamos ficar atentos à diferença entre variação e mudança! 
Seguindo as palavras de Martelotta (2011), “variação é de natureza individual, social, 
regional, sexual, entre outras, que convive em um mesmo momento do tempo, e mudança se 
manifesta com o passar do tempo.” A variação, portanto, poderá, com o passar do tempo, 
levar à mudança linguística. 
 
Não é tão fácil determinar se um fenômeno variável está em processo de mudança, como 
bem afirma Martellota (2011). Para isso, os sociolinguistas observam fatores como, gênero, 
escolaridade, faixa etária, nível de escolaridade, dentre outros. Uma forma prática de 
verificar o fenômeno de mudança é a produção verbal de pessoas pertencentes a faixas 
etárias distintas. Alguns vocábulos utilizados por seus avós, com certeza, em alguns 
momentos, devem ter causado a você algum “estranhamento”. Gírias como “ele é um pão” 
é um exemplo desse possível “estranhamento”, 
14 
 
 
Martellota aponta exemplos de palavras que, no processo de mudança, seguem na direção 
concreto > abstrato, direção esta sendo a mais recorrente. O autor cita, como exemplo, o 
item “cabeça”, compreendido originalmente como parte superior do corpo (concreto), 
possibilitar usos como os que vemos em Ele perdeu a cabeça (juízo) e Ele é o cabeça 
(líder) do grupo. 
 
A mudança na língua deve ser entendida como reflexo de três aspectos distintos: a 
passagem do tempo, o comportamento do falante e sua necessidade de usar a língua de 
forma diferenciada, dependendo das circunstâncias e, finalmente, a frequência do uso da 
nova forma escolhida e aceita. 
 
CONCLUSÃO 
Ao pensar sobre a língua portuguesa, raramente nos perguntamos se é essa realmente a 
língua que falamos. Verificamos que, na realidade, a língua que é por nós falada, 
naturalmente e espontaneamente, não é o português, mas o vernáculo, palavra que significa 
“língua falada pelo povo de um país”. O português é a língua em sua modalidade escrita. 
No entanto, há momentos em que a língua se apresenta diferente, formal, mais cuidada, já 
que o contexto assim o exige. Assim como há momentos em que a língua informal é a 
apropriada, seja por conta do contexto social, seja por conta do grau de familiaridade 
percebido entre os interlocutores. Somos diferentes, refletiremos, pois, em nossos falares, 
as variedades possíveis de nosso sistema linguístico. 
Os estudiosos da ciência da linguagem sabem como ela é fluida, variável, modificável. Há, 
na verdade, uma realidade em que conflitam o idealizado e o praticado na língua. O 
idealizado é o relativamente estático. O praticado é o constantemente móvel. Não importa,se há uso, haverá possibilidades diferentes de uso da língua e, por conseguinte, mudanças 
ocorrerão. 
 
 
15 
 
 
RESUMO 
Língua é uma atividade social, concretizada na fala. A fala, em geral, apresenta-se mais 
espontânea e natural, enquanto a escrita se apresenta mais comedida, dependendo dos 
nossos propósitos. No entanto, numa apresentação oral formal, a fala será mais cuidada, é o 
momento em que monitoramos nossa língua. O mesmo ocorre com a escrita, isto é, será 
mais espontânea e menos monitorada se o nosso objetivo for criar um texto nessa 
modalidade. 
No processo comunicativo, percebemos as variedades linguísticas que se dividem em: 
fonético/fonológicas, morfológicas, lexicais, sintáticas, semânticas e estilístico-
pragmáticas. 
A norma-padrão é uma referência, uma espécie de modelo ou lei que normatiza o uso da 
língua, falada ou escrita. A norma culta é empregada pelos falantes urbanos mais 
escolarizados, também conhecida como variedade urbana de prestígio. 
A mudança na língua é um processo que deve ser entendido como consequência da 
variação da língua ao longo do tempo, em conjunto com o comportamento do falante e sua 
necessidade desse novo uso. Além disso, a frequência do uso da nova forma escolhida e 
aceita será decisiva para consolidação da mudança. 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
ANDRADE, Oswald de. História do Brasil, in: Andrade, O. Pau-Brasil – Obras completas 
de Oswald de Andrade. São Paulo: Globo, 1991. 
AULETE, Caldas. Minidicionário contemporâneo da língua portuguesa. Rio de Janeiro: 
Editora Brasil, 2009. 
BAGNO, Marcos. O que é uma língua? Imaginário, ciência & hipóstase. São Paulo: 
Parábola Editorial, 2011. 
BAGNO, Marcos. Nada na língua é por acaso: por uma pedagogia da variação 
linguística.São Paulo: Parábola, 2007. 
BERNSTEIN, B. Class, code and control. Londres: Routledge & Kegan Paul, 1971. 
16 
 
 
FARACO, Carlos Alberto. Norma culta brasileira: desatando alguns nós. São Paulo: 
Parábola, 2008. 
ILARI, Rodolfo; BASSO, Renato. O português da gente: a língua que estudamos/a língua 
que falamos. São Paulo: Contexto, 2007. 
LABOV, William. Padrões sociolinguísticos. São Paulo: Parábola, 2008. 
MARTELLOTA, Mário. Mudança Linguística: uma abordagem baseada no uso. São 
Paulo: Cortez, 2011. 
MARTELLOTA, Mário. A mudança linguística. In: FURTADO DA CUNHA, Maria 
Angélica; RIOS DE OLIVEIRA, Mariangela; MARTELLOTA, Mário (org.). Linguística 
funcional: teoria e prática. Rio de Janeiro: DP&A editora, 2003. 
MATTOS E SILVA, Rosa Virgínia. Ensaios para uma sócio-história do português 
brasileiro. São Paulo: Parábola, 2004. 
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