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Irrigação: Princípios e Métodos. CAPÍTULO 4 IRRIGAÇÃO LOCALIZADA 4.1. Introdução Sistema de irrigação em que a água é aplicada diretamente na região radicular em pequenas intensidades (volumes e baixa vazão) e alta freqüência (turno de rega pequeno), mantendo esse solo próximo à CC; Os dois principais sistemas: gotejamento e microaspersão; Gotejamento: gotejadores, com vazões de 2 a 10 L/h. Microaspersão: microaspersores, com vazões de 20 a 250 L/h; Culturas permanentes e de grande espaçamento, os emissores são peças individuais, acopladas à linha lateral, formando círculos molhados; Culturas anuais e de pequeno espaçamento, os emissores são fabricados em uma única peça, formando faixas molhadas. Tabela 4.1 - Comparação entre os dois principais sistemas de irrigação localizada Sistema: Gotejamento Microaspersão Lançamento no Brasil 1972 1982 Vazão (l/h) 2-10 20-150 Forma de aplicação Gota a gota Spray ou peq. jatos Cultivos mais comuns Café Tomate Morango Melão Pimenta Mamão Em vasos Outras Abacate Citros Banana Manga Uva Mamão Outras Observação: 1) Evolução constante e a utilização varia de região para regiao � 4.2 Vantagens da Irrigação Localizada ( Possibilidade de controle rigoroso da quantidade de água fornecida às plantas; ( Grande economia de água e energia (bem manejado); (Os sistemas são usualmente semi-automatizados ou automatizados, necessitando de menor mão-de-obra para o manejo do sistema; ( Redução da incidência de pragas e doenças e do desenvolvimento de plantas daninhas; ( Permite a quimigação (aplicação de produtos químicos via água de irrigação); ( Otimização do uso de fertilizante; ( Possibilidade de uso de água com maior salinidade; ( Possibilidade de cultivo em áreas com afloramentos rochosos e, ou, com declividades acentuadas; ( Excelente (potencial) de uniformidade de aplicação de água. ( Desvantagens da Irrigação Localizada ( Alto custo inicial; ( Elevado potencial de entupimento dos emissores; ( Necessidade de sistema de filtragem; ( Inviável em águas com altos níveis de ferro e carbonato; ( Manutenção com maior freqüência. 4.3. Componentes da Irrigação Localizada � � Figura 4.3 – Vista parcial de dois cabeçais de controle. 4.4. Tipos de emissores de água ( Gotejador Ação: dissipar a pressão da água, aplicando vazão pequena e uniforme; Tipo de gotejador: depende da vazão requerida, a qualidade da água de irrigação e a eficiência do sistema de filtragem; O espaçamento entre os gotejadores irá variar principalmente com a cultura a ser irrigada, ou seja, o espaçamento e a disposição na área; Podem formar um “bulbo molhado” ou uma faixa molhada contínua; Modelos: � � � Figura 4.4 - Gotejadores de longo percurso para serem inseridos sobre a linha lateral. � Figura 4.5 - Tubo gotejador . Figura 4.6 - Tape ou fita gotejadora. ( Microaspersores Semelhantes aos aspersores, porém seu tamanho reduzido; Modelos: de braço oscilante ou de placa defletora; (A) (B) � Figura 4.7 – Microaspersores: (A) defletor e (B) oscilante. 4.5 Entupimento dos emissores e filtragem da água Causas do entupimento: Física, Química ou Biológica; A qualidade da água: define o tipo e a dimensão do sistema de filtragem; A principal conseqüência dos entupimentos é a baixa uniformidade de emissão, causando danos às culturas devido à ocorrência de um déficit de água no solo em alguns pontos e excesso em outros. Tabela 4.2 - Classificação da qualidade da água em relação ao potencial de entupimento de gotejadores, segundo Gibert e Ford (1986). Fator de entupimento Risco de Entupimento Baixo Moderado Severo Físico Sólidos em suspensão (mg/L) < 50 50 - 100 > 100 Químico pH < 7,0 7,0 – 8,0 > 8,0 Sólidos dissolvidos1 < 500 500 - 2000 > 2000 Manganês1 < 0,1 0,1 – 1,0 > 1,0 Ferro1 < 0,2 0,2 – 1,5 > 1,5 Sulfetos1 < 0,2 0,2 – 2,0 > 2,0 Biológicos (nº bactérias/L) População bacteriana < 1.0000 1.0000–5.0000 > 5.0000 1Concentração máxima medida com um número representativo de amostras de água, usando-se procedimentos-padrão para análise, em mg/L. FONTE: Bernardo (2005) ( Filtragem da água de irrigação Irrigação localizada: prévio tratamento da água a ser utilizada; A magnitude do tratamento depende da qualidade da água; Filtragem se dá no cabeçal de controle: filtros de areia, tela e discos; O tipo e o número de filtro irão depender da qualidade da água; Depende do tamanho das partículas. Tipos de filtros: Tanque de decantação Tanque retangular: dimensões de acordo com o vazão a ser tratada; Baixa velocidade: sedimentação das partículas (principalmente Ferro); É um tratamento feito antes da captação da motobomba (Figura 4.8); Figura 4. 8 - Detalhe de tanques de re-bombeamento de água de irrigação. Separador centrífugo Remove partículas sólidas em suspensão; A água entra no separador centrífugo em forma tangencial, formando uma força centrífuga que separa a água dos outros elementos; Por meio de um turbilhão, empurra as partículas mais pesadas para baixo, fazendo com que elas se depositem no filtro coletor; � Figura 4.9 - Separador centrífugo, como componente de um cabeçal de controle. Filtro de areia São grandes e pesados: sobrepostas várias camadas de areia (Fig 4.10); Filtragem das partículas orgânicas e mais grosseiras; Alto custo tanto de aquisição quanto de manutenção. � � Figura 4.10 - Filtro de areia, como componente de um cabeçal de controle. Filtro de tela Simples, de custo mais acessível e extremamente eficientes para a filtragem de partículas menores (minerais); De plástico e com elemento filtrante (tela de aço inoxidável ou plástico); Tem seu efeito de filtragem definido pelo tamanho da malha; Especificação: “mesh” do elemento filtrante possui; Exemplo: filtro com 200 mesh (200 furos/pol2) tem maior poder filtrante do que um com 100 mesh (100 furos/pol2 ); � � Figura 4.11 - Esquemas e filtros de tela utilizados na irrigação localizada. Filtro de discos Desempenham a mesma função que filtros de tela; Elemento filtrante: pilha de discos plásticos sobrepostos (ranhuras em ambos os lados); Filtragem em dois estágios: superfície externa retém as partículas maiores; ranhuras no interior dos discos permitem a retenção das partículas mais finas, principalmente à matéria orgânica. A B C � � � Figura 4.12 - Corte transversal de um filtro de discos (A), filtros de discos (B), funcionamento como filtragem (C). 4.6. Quantidade de água necessária Turno de rega: deve ser pequeno, normalmente variando de 1 a 4 dias; Umidade do solo próxima à “CC” e transpiração máxima; Intervalo entre irrigações: afetam a formação de bulbos molhados (adequado desenvolvimento do sistema radicular); Conceitos importantes que devem ser observados no projeto de irrigação localizada: PAM e PAS ( Percentagem de área molhada (PAM) Percentagem da área molhada, em relação à área total da planta; Ame = área molhada pelo emissor, m2. AT = área total da planta, m2. Determinação da PAM, dois casos: Quando se irriga uma faixa contínua do solo (mais comum); e Quando se irriga por árvore, quando se formarão bulbos molhados. Exemplo 4.1 Café: - Espaçamento de 3,0 x 0,75 m - Irrigação por gotejamento: formação de faixa molhada de 1,0 m de largura ( PAM = 1,0 m / 3,0 m ( PAM = 0,33 ou 33% Laranja: - Espaçamento de 4,0 x 7,0 m - Irrigação por microaspersão: um emissor por pé e raio molhado de 2 m Área molhada: 3,14 * 22 = 12,56 m2 Área da planta: 4,0 * 7,0 = 28 m2 ( PAM = 12,6 m2 / 28 m2 ( PAM = 0,45 ou 45% O valor mínimo da PAM: Clima úmido (maiores precipitações)> 20%, Clima árido e semi-árido > 33%; Levar em consideração a interação do sistema radicular nesse processo. ( Porcentagem de área sombreada (PAS)) Relação entre a área sombreada e a área total ocupada pela planta. AS - área sombreada pela planta, m2 AT - área total da planta, m2 ( Exemplo 4.2 Café: - Espaçamento de 3,8 x 0,75 m - Faixa sombreada: 1,50 m ( PAS = 0,39 ou 39% Laranja: - Espaçamento de 4,0 x 7,0 m - Diâmetro de copa: 3,2 m ( ( 0,29 ou 29% (Evapotranspiração Na irrigação localizada não se molha toda a área → redução da evapotranspiração (redução da evaporação direta do solo); De forma simplificada, a evapotranspiração (localizada) pode ser representada pela equação a seguir: Método de Fereres: culturas com maior espaçamento (fruteiras); Método de Keller, para culturas com maior densidade de plantio; Método de Keller-Bliesner: uso geral; Keller e Bliesner (1990) Figura 4.13 - Valores do fator de correção KL, em função da PAM ou da PAS. ( Exemplo 4.3: Para a situação apresentada a seguir, calcule: a) PAM, b) KL, c) ETcLoc, d) Ia do sistema. Cultura: Café Espaçamento = 3,8 x 0,75 m PAS = 50% Fase adulta e Kc = 0,9 Clima: ETo = 5,0 mm/dia Irrigação: Gotejamento Vazão do emissor: 2,3 L/h Espaçamento entre emissores: 0,75 m (um por planta) Espaçamento entre linhas laterais: 3,80 m (uma linha por fileira) Faixa molhada: 0,90 m a) PAM ( PAM = 0,9 m / 3,8 m ( P = 0,25 ou 25% b) KL Na Figura 4.13 empregou-se o maior valor entre PAS e PAM – no caso, PAS = 50% – obtendo-se: KL = 0,58 pelo método de Keller. KL = 0,71 pelo método de Keller-Bliesner. KL = 0,84 pelo método de Fereres. Para este caso o método de Keller-Bliesner; assim: KL = 0,71 c) ETcLoc d) Ia (mm/h) Observação: É equivocado pensar que o cálculo da lâmina seria realizado dividindo-se pela área molhada ou sombreada. A correção destes fatores é feita na evapotranspiração e não na lâmina aplicada. 4.7 Lâmina e Intervalo de Irrigação - Calculo da água disponível: necessário ajustes em função do não-molhamento total da área; - Caso a umidade do solo no dia da irrigação seja conhecida, o cálculo da lâmina de irrigação seria: - O turno de rega máximo recomendado (TR), em dias, é obtido dividindo-se a ITNLoc pela ETcLoc: ou Irrigação localizada: é comum prefixar um valor adequado de TR ( Exemplo 4.5 Considere as seguintes informações referentes a uma área irrigada por gotejamento: ( Solo: - CC = 30,1 % (em peso) - PMP = 16,2 % (em peso) - Da = 1,32 g/cm3 Umidade atual do solo = 27% (em peso) ( Cultura: Tomate - Kc = 1,1 - Profundidade radicular de 25 cm - f = 0,4 - PAS = 40% ( Clima: - ETo = 5 mm/dia ( Irrigação: Gotejamento - Eficiência = 92% e PAM = 50% Resolução a) IRN e ITN máximo b) IRN e ITN para o dia amostrado c) Turno de rega máximo Calculando a KL e ETcLoc : KL: Na figura 4.13 empregou-se PAS=50% e o método de Keller-Bliesner, obtendo-se: KL = 0,71 Com os valores de ETo, Kc. KL pode-se calcular: Assim: OB: Aproximando para o valor inteiro inferior, tem-se TR = 2 dias, que é o intervalo máximo que se pode esperar entre duas irrigações sucessivas;]. 4.8. Dimensionamento Utiliza os mesmos conceitos da irrigação por aspersão convencional; Linha principal: critério do limite de velocidade 1,0–2,0 m/s Linha lateral: critério da máx perda de carga admissível (P: 5 a 10% PS; Equação do dimensionamento mais recomendada: Darcy-Weibach; Pode se utilizar Hazen-Williams: C passa a ser 144 (polietileno); Considerar a perda de carga devido a inserção dos emissores: novo coeficiente Cg (80 a 140); Diferentemente do dimensionamento da aspersão, se efetuam os cálculos mediante os diâmetros previamente conhecidos e comerciais; Portanto, basta efetuar os cálculos de perda de carga, dividir os setores de irrigação e equilibrar as pressões para que se encontre a potência requerida pelo conjunto motobomba. Equações: ( Exemplo 4.9 Calcule o diâmetro da linha lateral para um sistema de irrigação por gotejamento com as seguintes características: Vazão do gotejador: 2,8 L/hora Número de plantas na linha: 60 Pressão de serviço: 10 mca Espaçamento entre plantas: 5 m Um emissor por planta Cg = 100 Cálculo da perda de carga permitida (hfP) Critério: (variação de pressão) (P= 5 – 10% x PS ( assumindo o valor de 10% ( hf ( DN = 0,10 x PS Para linhas laterais em nível (DN = 0) ( hf = 0,10 x 10 = 1,00 mca Cálculo da perda de carga permitida fictícia (hf´) Considerando uma linha com diâmetro de ½” (0,016 mm), um comprimento de linha de 300 metros e uma vazão de 0,000047 m3/s (2,8 L/hora x 60 emissores = 168 litros/hora): Cálculo da perda de carga real (hfR) hfR = hf´ x F = 1,78 x 0,359 = 0,6395 mca Cálculo da perda final ( inclui o efeito da inversão do gotejador (hfloc) Como o hfloc foi maior que o hfP, (1,0 mca) procede-se aos cálculos novamente, com o diâmetro imediatamente superior ao de ½”. Para o diâmetro de ¾” (25 mm), ter-se-á: Cálculo da perda de carga permitida fictícia (hf´) �� EMBED Equation.3 � Cálculo da perda de carga real (hfR) hfR = hf´ x F = 0,20 x 0,359 = 0,07 mca Cálculo da perda de carga localizada (hfL) Como o hfloc foi menor do que o hfP, o diâmetro de 3/4 é aceito para utilização. Na verdade, nos problemas de custo final a solução mais viável seria reduzir o conjunto de 300 m para que fosse possível a utilização do diâmentro de ½”. A seguir apresenta-se um resumo de projetos de irrigação por microaspersão e gotejamento, para que o leitor tenha idéia dos valores normalmente utilizados em condições de campo. Resumo de um Projeto de Irrigação por Microaspersão Propriedade: Fazenda Santa Lúzia – SP Proprietário: J. B. Agropecuária Responsável técnico: Precisão Sistemas de Irrigação Informações técnicas do projeto: Cultura Citros Microaspersor/tubogotejador Microaspersor Lâmina bruta aplicada 3,2 e 3,5 mm/dia Número de setores a serem irrigados 5 Tempo de irrigação do setor (média diária) 4,5 e 6 horas Tempo de irrigação por dia 24 horas Distância entre as laterais 8 metros Distância entre os microaspersores Um micro/planta Distância entre árvores/plantas 5; 4,6 e 4,5 metros Distância entre linhas de plantio 8 metros Taxa de aplicação 0,72 e 0,6 mm/hora Pressão de trabalho do microaspersor 10 a 35 mca Vazão nominal do microaspersor 26 e 20 litros/hora Vazão máxima de projeto 50,7 m3/hora Pressão de trabalho na saída do filtro 65,9 mca Pressão de trabalho na saída da bomba 81 mca Área do projeto 34 ha VER TAMBEM: Resumo de um Projeto de Irrigação por Gotejamento � 4.9 Avaliação do Sistema - Avaliação de um sistema de irrigação localizada: mesmo princípio de outros sistemas. - Coleta de vazões e, ou, lâminas aplicadas e as efetivamente utilizadas pelas plantas. Cálculo do CUC e do CUD: = vazão de cada gotejador (L/h). � = vazão média dos gotejadores (L/h). n = número de gotejadores. q25% = média de 25% dos menores valores de vazões observadas (L/h). - Metodologia 1: Keller e Karmeli (1975) Coleta das vazões em quatro emissores: Inicio, 1/3; 2/3 e final da linha; São escolhidas quatro linhas dentro do setor; (Figura 4.14). Figura 4.14: Método KELLER Metodologia 2: Denículi (1980)Coleta das vazões em oito emissores: Inicio, 1/7; 2/7; 3/7; 4/7; 5/7; 6/7 e final; Figura 4.15: Método Denículi. �PAGE � �PAGE �17� _1203842664.unknown _1203914349.unknown _1204199377.unknown _1206088823.unknown _1206088888.unknown _1204199704.unknown _1206088667.unknown _1204199684.unknown _1204030973.unknown _1204031633.unknown _1204031943.unknown _1204032074.unknown _1204031514.unknown _1203914989.unknown _1203916586.unknown _1203914540.unknown _1203843004.unknown _1203843424.unknown _1203843435.unknown _1203843294.unknown _1203842693.unknown _1195278857.unknown _1203841349.unknown _1203841361.unknown _1203841318.unknown _1203312912.unknown _1179095867.unknown _1193250698.unknown _1193649916.unknown _1191839428.unknown _929639914.unknown _1179069172.unknown _1058525743.unknown _929639913.unknown _929639912.unknown
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