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Ação de Consignação em Pagamento - novo CPC

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AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO
1. Direito de pagar – a dívida é uma limitação temporária na liberdade de uma pessoa. O fim da obrigação é a cessação do vínculo obrigacional mediante adimplemento, que se manifesta como forma natural de extinção da obrigação. A lei não só obriga o devedor ao pagamento, como também lhe assegura o direito de pagar. 
 1.1. Pagamento voluntário – é um ato jurídico bilateral, que reclama a participação do devedor, que cumpre a obrigação, e do credor, que recebe a prestação devida. 
 1.2. Da consignação em pagamento – arts. 334 e 335, CC. Confere-se ao devedor uma forma cômoda e prática para realizar uma espécie de pagamento que, prescindindo da cooperação do credor, atinge todos os efeitos jurídicos do adimplemento. 
2. Natureza jurídica – ação declaratória e, eventualmente, executiva (força o cumprimento de uma obrigação).
3. Prestações possíveis – art. 539, CPC: “Nos casos previstos em lei, poderá o devedor ou terceiro requerer, com efeito de pagamento, a consignação da quantia ou da coisa devida. § 1o Tratando-se de obrigação em dinheiro, poderá o valor ser depositado em estabelecimento bancário, oficial onde houver, situado no lugar do pagamento, cientificando-se o credor por carta com aviso de recebimento, assinado o prazo de 10 (dez) dias para a manifestação de recusa. § 2o Decorrido o prazo do § 1o, contado do retorno do aviso de recebimento, sem a manifestação de recusa, considerar-se-á o devedor liberado da obrigação, ficando à disposição do credor a quantia depositada. § 3o Ocorrendo a recusa, manifestada por escrito ao estabelecimento bancário, poderá ser proposta, dentro de 1 (um) mês, a ação de consignação, instruindo-se a inicial com a prova do depósito e da recusa. § 4o Não proposta a ação no prazo do § 3o, ficará sem efeito o depósito, podendo levantá-lo o depositante”.
 3.1. Obrigação de fazer – o puro facere não dispõe de corporalidade necessária para permitir o seu depósito em juízo. Mas, se a prestação de fazer é daquelas em que a prestação de serviço redunda na criação de algum objeto corpóreo, o devedor terá meios de se utilizar da consignação para libertar-se, judicialmente, da obrigação contraída. 
4. Hipóteses de cabimento – arts. 335, CC e 164, CTN.
 4.1. Impossibilidade de pagamento voluntário – por recusa injusta de receber a prestação por parte do credor; ou por ausência, desconhecimento ou inacessibilidade do sujeito ativo da obrigação.
 4.2. Insegurança ou risco de ineficácia – por recusa do credor de fornecer a quitação devida; por dúvida fundada quanto à pessoa do credor; por litigiosidade em torno da prestação entre terceiros; por falta de quem represente legalmente o credor incapaz.
5. Pressupostos – mora do credor; ou o risco de pagamento ineficaz. 
 - Incumbe ao autor da ação de consignação em pagamento demonstrar na petição inicial e provar na fase de instrução processual a ocorrência de alguma das hipóteses, sob pena de ser havido como improcedente o seu pedido, e como inoperante o depósito do débito em juízo.
6. Liquidez – somente a dívida líquida e certa se mostra exigível. A liquidez apresenta-se como requisito da consignatória devido a impossibilidade de se pagar o ilíquido. Bem como, não pode o credor executar o devedor por obrigação ilíquida (art. 783, CPC).
7. Consignação principal e incidental – diante do art. 327, CPC, torna-se admissível a cumulação de pedido consignatório com outros pedidos diferentes, num mesmo processo, desde que, desprezado o rito especial da ação de consignação em pagamento, e verificada a unidade de competência, observe-se o procedimento comum. Art. 327, CPC: “É lícita a cumulação, em um único processo, contra o mesmo réu, de vários pedidos, ainda que entre eles não haja conexão. § 1o São requisitos de admissibilidade da cumulação que: I - os pedidos sejam compatíveis entre si; II - seja competente para conhecer deles o mesmo juízo; III - seja adequado para todos os pedidos o tipo de procedimento. § 2o Quando, para cada pedido, corresponder tipo diverso de procedimento, será admitida a cumulação se o autor empregar o procedimento comum, sem prejuízo do emprego das técnicas processuais diferenciadas previstas nos procedimentos especiais a que se sujeitam um ou mais pedidos cumulados, que não forem incompatíveis com as disposições sobre o procedimento comum. § 3o O inciso I do § 1o não se aplica às cumulações de pedidos de que trata o art. 326”. 
 7.1. Ação consignatória principal – é a que tem por único objetivo o depósito da res debita para extinção da dívida do autor.
 7.2. Ação consignatória incidental – é quando o depósito em consignação é postulado em pedido cumulado com outras pretensões do devedor. E
8. Sujeitos legítimos – são sujeitos legítimos as pessoas envolvidas na lide, ou seja, os titulares dos interesses conflitantes.
 8.1. Legitimidade ativa – devedor e seus sucessores; Prevê, o art. 539, CPC, a legitimidade ativa, igualmente, para terceiros, muito embora estranhos à relação obrigacional que se deduz em juízo. O terceiro pode ser interessado ou não na solução da dívida, conforme art. 304, CC. Art. 539, CPC: “Nos casos previstos em lei, poderá o devedor ou terceiro requerer, com efeito de pagamento, a consignação da quantia ou da coisa devida”. Art. 304, CC: “Qualquer interessado na extinção da dívida pode pagá-la, usando, se o credor se opuser, dos meios conducentes à exoneração do devedor. Parágrafo único. Igual direito cabe ao terceiro não interessado, se o fizer em nome e à conta do devedor, salvo oposição deste”.
 8.1.1. Quanto aos cônjuges – no regime de comunhão de bens, e perante as dívidas consideradas comuns, o cônjuge tem legitimidade para consignatória na qualidade de parte devedora e não como terceiro. Na consignação de bem imóvel, por importar ato de disposição, torna-se indispensável a anuência de ambos os cônjuges. 
 8.2. Legitimidade passiva – se refere ao credor que recusou receber o pagamento ou que se absteve de tornar as providências necessárias à sua concretização. No caso de incerteza quanto a titularidade do crédito, são todos os possíveis interessados, havendo lugar até mesmo para a citação-edital de interessados incertos, quando o devedor não conseguir definir todos os possíveis pretensos credores. 
 8.2.1. Imobiliária que gesta contrato de aluguel – quando recebem o aluguel, não o fazem em nome próprio, mas sim em nome do verdadeiro locador, de quem são representantes. Se o domicílio do locador é desconhecido, incide a regra do art. 424, §1º, que permite a citação do mandatário ou administrador que ajustou o contrato em nome do réu: “A citação será pessoal, podendo, no entanto, ser feita na pessoa do representante legal ou do procurador do réu, do executado ou do interessado. § 1o Na ausência do citando, a citação será feita na pessoa de seu mandatário, administrador, preposto ou gerente, quando a ação se originar de atos por eles praticados”. A parte demandada, porém, será sempre o locador. 
9. Competência – art. 540, CPC: “Requerer-se-á a consignação no lugar do pagamento, cessando para o devedor, à data do depósito, os juros e os riscos, salvo se a demanda for julgada improcedente”. O foro do local onde a satisfação deve ser satisfeita, é o competente para a ação relativa ao seu cumprimento. O credor tem o direito de exigir que o depósito só se faça no local convencionado para pagamento, ainda que haja foro contratual diverso. 
 9.1. Cumulação de pedidos – se o depósito é requerido em cumulação com outros pedidos, em ação ordinária, as regras de competência a observar serão as comuns (arts. 46 a 53, CPC) e não a específica da consignação. 
 9.2. Entrega postal (frete, etc) – se o devedor assume o risco de remeter por sua conta a mercadoria, o lugar de pagamento é o de destino, ou seja, o foro do devedor; se a remessa é feita por conta e risco do credor, o lugar de pagamento é o da expedição, ou seja, foro do credor. 
 9.3. Local em que se acha a coisa devida – se o objeto da prestação é umimóvel, ou um rebanho apascentado em terras do vendedor, mesmo que se tenha estipulado foro contratual diverso, ou que outro seja o domicílio do credor, terá o devedor direito de propor consignatória no local em que se encontra a res debita, se a natureza dela indicar. 
10. Da mora
 10.1. Mora do credor – enquanto for possível o pagamento, haverá de ser, também, possível o depósito consignatório, para superar qualquer obstáculo injusto à realização do pagamento voluntário. Se o obrigado tentou pagar no vencimento e foi injustamente obstaculizado pelo credor, a mora que se configurou é a accipiendi (mora do credor em receber). Não incorre em mora o devedor, em hipótese alguma, quando o retardamento não lhe é imputável. Enquanto perdurar a mora do credor, sempre será tempo de consignação pelo devedor. 
 10.2. Mora do devedor
 10.2.1. Inadimplemento absoluto – se ocorreu o inadimplemento absoluto, a prestação tornou-se imprestável para o credor e o vínculo obrigacional está totalmente rompido. A solução da pendência resvalará, necessariamente, para a dissolução do vínculo obrigacional, mediante reparação de perdas e danos. Exemplo: devia entregar panfletos até tal data do evento, mas não ocorreu, então, após a data do evento, os panfletos não tem mais utilidade, cabendo assim perdas e danos. 
 10.2.2. Mora solvendi – se o que ocorreu foi a mora solvendi (mora do devedor em pagar), a prestação ainda é útil ao credor e o devedor tem o direito de se furtar da situação incômoda gerada pela inadimplência. Se o devedor moroso pode, ainda, efetuar o pagamento, é evidente que, igualmente pode promover o depósito em consignação, se o credor recusar a oferta do principal mais os prejuízos da mora (art. 401, CC: “Purga-se a mora: I - por parte do devedor, oferecendo este a prestação mais a importância dos prejuízos decorrentes do dia da oferta; II - por parte do credor, oferecendo-se este a receber o pagamento e sujeitando-se aos efeitos da mora até a mesma data”.
 10.3. Cumulação de mora – não se concebe que, simultaneamente, possam coexistir a mora do credor e a mora do devedor. O devedor purga a sua mora no momento em que oferece ao credor a prestação vencida mais os prejuízos decorrentes até o dia da oferta; no caso de recusa pela parte do credor, quem passa a ficar em mora é este, ao não aceitar o pagamento; bem como, se o credor resolve aceitar, e o devedor não paga, a conversão da mora é realizada, passando a pertencer ao devedor. 
11. Objeto da consignação – art. 400, CC: “A mora do credor subtrai o devedor isento de dolo à responsabilidade pela conservação da coisa, obriga o credor a ressarcir as despesas empregadas em conservá-la, e sujeita-o a recebê-la pela estimação mais favorável ao devedor, se o seu valor oscilar entre o dia estabelecido para o pagamento e o da sua efetivação”. Além de atribuir a mora ao credor, isenta o devedor pela responsabilidade de conservação da coisa devida. 
 - A consignação pressupõe a mora accipienci e, por isso, não é o depósito que faz cessar os juros moratórios, mas a própria ocorrência da mora do credor. O sujeito passivo da obrigação terá, então, de consignar apenas a prestação, ou a prestação mais os juros contados até o momento em que o credor recusou a oferta real de pagamento voluntário. 
12. Obrigações sucessivas – art. 541, CPC: “Tratando-se de prestações sucessivas, consignada uma delas, pode o devedor continuar a depositar, no mesmo processo e sem mais formalidades, as que se forem vencendo, desde que o faça em até 5 (cinco) dias contados da data do respectivo vencimento”. A incidência da regra pressupõe negócio jurídico material único com preço desdobrado em sucessivas prestações, como por exemplo: aluguéis, salários, vendas a crédito, etc. Ao fazer o depósito inicial de uma prestação, o autor já pode obter a abertura da conta judicial onde serão repetidos os depósitos periódicos, a seu devido tempo. O depósito deve ser efetuado até cinco dias após cada vencimento. 
13. Procedimento – o sistema brasileiro exige que o devedor faça a oferta particular prévia ao credor, e, após sua recusa, terá de renovar a oferta real em juízo, no limiar do procedimento: o depósito precede à citação e já é requerido na inicial. 
 13.1. Objetivo da citação – convocar o credor para receber a prestação devida, já sob depósito judicial, e ensejar-lhe oportunidade de contestar a ação, caso não aceite o depósito nos termos em que se deu. 
 - A falta de depósito inviabiliza a consignatória, provocando sua extinção imediata (art. 542, parágrafo único, CPC). 
 13.2. Petição inicial – o deferimento da inicial far-se-á por despacho em que o juiz determinará o depósito requerido pelo autor e ordenará a citação do credor para a dupla finalidade de receber o pagamento oferecido ou contestar a causa. 
 - A aceitação da oferta real, por parte do credor, importa extinção do processo com solução de mérito, derivada de reconhecimento da procedência do pedido, de forma tácita, pelo réu (art. 546, parágrafo único, CPC: “Julgado procedente o pedido, o juiz declarará extinta a obrigação e condenará o réu ao pagamento de custas e honorários advocatícios. Parágrafo único. Proceder-se-á do mesmo modo se o credor receber e der quitação”.
14. Valor da causa – é o valor da prestação devida, principal e juros, nas dívidas de dinheiro; ou o valor da coisa, nas obrigações de dar. O valor da coisa é igual a importância da consignação. No caso de obrigações com parcelas, o valor da causa será o somatório das prestações vencidas e vincendas (art. 292, § 1º, CPC: “O valor da causa constará da petição inicial ou da reconvenção e será: I - na ação de cobrança de dívida, a soma monetariamente corrigida do principal, dos juros de mora vencidos e de outras penalidades, se houver, até a data de propositura da ação; § 1o Quando se pedirem prestações vencidas e vincendas, considerar-se-á o valor de umas e outras”.
15. Resposta do demandado – o credor, diante da citação, pode: a) aceitar a prestação oferecida; b) conservar-se inerte (revelia); c) contestar a ação ou responder à pretensão do autor. 
 15.1. Aceitação do pagamento – extinção com procedência do pedido e sucumbência para o réu (art. 546, parágrafo único, CPC).
 15.2. Revelia – só ocorrerá quando o prazo de resposta transcorrer sem que produza contestação. Art. 546, CPC. Reconhecida a força liberatória do depósito, terá o juiz de condenar o réu, revel ou não, ao pagamento das custas e honorários advocatícios. 
 15.3. Contestação – os temas que o demandado pode utilizar para contrapor ao pedido do promovente são, conforme o art. 544, CPC: a) inocorrência da recusa ou mora em receber a prestação; b) houve a recusa, mas foi justa; c) depósito feito fora do prazo ou do lugar do pagamento; d) depósito não integral (nesse caso, a defesa somente será admitida se o réu indicar, na contestação, o montante que entende devido). 
 - É único o prazo para receber ou contestar e conta-se normalmente da citação (art. 542, II, CPC).
 - Uma vez contestada, a ação segue o procedimento comum, com observância dos detalhes estabelecidos nos arts. 347 e ss, CPC.
16. Possibilidade de complementação – art. 544, IV, parágrafo único e art. 545, CPC. Para que o depósito complementar seja eficaz, exige-se que: seja feito no prazo de dez dias, a contar da intimação ao autor dos termos da resposta do réu; e que o negócio jurídico não esteja sujeito à cláusula comissória, isto é, não tenha se resolvido necessária e diretamente pelo inadimplemento.
 16.1. Não complementação – art. 545, §2º, CPC: se a sentença concluir pela insuficiência do depósito, determinará, sempre que possível, o montante devido e valerá como título executivo, facultando ao credor a execução forçada nos próprios autos da consignatória, após a liquidação, se necessária. 
17. Hipótese de dúvida – art. 547, CPC: “Se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o pagamento, o autor requererá o depósito e a citação dos possíveis titulares do créditopara provarem o seu direito”. Se o credor for desconhecido, a citação será feita por edital, na forma dos arts. 256 e 257, CPC. Se não aparecer, será disposto em coisas vagas; Se aparecer um, poderá aceitar o valor, contestar ou ter sua legitimidade indeferida; Se aparecer mais que um, libera-se o autor da parte incontroversa e permanece a ação entre os credores. 
18. Depósito extrajudicial – só pode ter por objeto obrigações em dinheiro. O devedor deposita o valor em uma instituição bancária no local de pagamento. É enviada uma notificação por AR ao credor que, em 10 dias, deve manifestar sua recusa (art. 539, §1º, CPC). A recusa deve ser manifestada por escrito ao estabelecimento bancário, devendo ser fundada. Não havendo recusa no prazo, o devedor fica liberado da obrigação. Se houver recusa, o devedor deve ajuizar ação de consignação no prazo de 1 mês, a partir da data em que toma ciência da recusa do credor.

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