Buscar

BARBOSA e ALMEIDA A ROTA DOS GRANDES PROJETOS NO MA A DINÂMICA ENTRE O LOCAL, O REGIONAL E O TRANSNACIONAL

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 3, do total de 9 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 6, do total de 9 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 9, do total de 9 páginas

Prévia do material em texto

Anais do V Simpósio Internacional Lutas Sociais na América Latina 
“Revoluções nas Américas: passado, presente e futuro” 
ISSN 2177-9503 
10 a 13/09/2013 
 
GT 4. Imperialismo, nacionalismo e militarismo na América Latina 38 
 
GT 4. Imperialismo, nacionalismo e militarismo na América 
Latina 
 
 
 
 
 
A rota dos grandes projetos no 
maranhão: a dinâmica entre o 
local, o regional e o transnacional 
Zulene Muniz Barbosa1 
Desni Lopes Almeida2 
Resumo: Este artigo examina como que no bojo do atual processo de transnacionalização 
do capitalismo o regional, e o transnacional se articulam e se materializam numa formação 
social concreta como Maranhão. O foco da análise é o Maranhão e a estruturação de um 
capitalismo “moderno” impulsionado pela força dos grandes projetos que se desenvolveram 
no bojo do Projeto Grande Carajás a partir dos anos 1980 (projetos mineros- metalúrgicos, 
agropecuário e de reflorestamento e seus polos industriais instalados em vários municípios 
do Estado Rosário, Santa Inês, Açailândia e Imperatriz) e que permitiram um tipo de 
capitalismo que engendrou a combinação de formas modernas (tecnologia avançada e 
trabalho manual). 
Palavras-chave: Grandes Projetos; Exploração; Desenvolvimento. 
 
 
Introdução 
No final década de 1960, a decisão de modernizar o Maranhão implicava para o então 
governo Sarney dispor de recurso que o Estado tinha em abundância, “terras” devolutas. 
Segundo Asselin (2009) incorporar as" terras livres" do Maranhão ao modelo de propriedade 
da sociedade capitalista tornou-se uma tarefa urgente a ser executada. Luna (1985) ressalta 
que o Maranhão possuía grandes extensões de terras livres que permaneceram ás margens do 
processo de exploração na época colonial. Estas terras é que foram ocupadas pela pequena 
produção logo após a libertação dos escravos . 
 
1 Coordenadora do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Socioespacial e Regional, da Universidade 
Estadual do Maranhão; . 
2 Mestre em Desenvolvimento Socioespacial e Regional. 
 
Anais do V Simpósio Internacional Lutas Sociais na América Latina 
“Revoluções nas Américas: passado, presente e futuro” 
ISSN 2177-9503 
10 a 13/09/2013 
 
GT 4. Imperialismo, nacionalismo e militarismo na América Latina 39 
Na década de 1920 uma grande extensão de terras foi ocupada espontaneamente por 
camponeses nordestinos que fugiam da seca. Esta corrente migratória de nordestino para o 
Maranhão segundo Manuel Correia de Andrade (1998) foi responsável pela formação da 
"frente pioneira agrícola" nas áreas controladas ou parcialmente ocupadas pelo processo 
anterior de colonização . A partir de 1950 o Maranhão torna-se centro de um processo mais 
geral de abertura de frentes de expansão agrícola - ocupação privada da terras por 
empresários e pecuaristas e especuladores que avançavam sob as terras já trabalhadas pelos 
camponeses. Esse processo desencadeou diversos conflitos (roça x gado) que ao se politizar 
culminou com a formalização legal e não mais o trabalho incorporado a terra. 
 No final dos anos 1960, a questão da terra assumia termos 
radicais, na medida em que o confronto com o campesinato põe 
em jogo algumas forças institucionais manipuladas para a 
efetivação da política agrária do Estado (..) estes impasses 
eram originados das contradições entre a implantação de um 
tipo de estrutura fundiária voltada primordialmente para os 
interesses da ocupação racional das terras devolutas (pelas 
grandes empresas ) aos quais a política oficial subordina a 
questão da ordenação da ocupação espontânea), conceituando, 
a partir dos interesses das grandes empresas, as regras 
institucionais criadas para dar conta das tensões em torno da 
terra (LUNA, 1985, p. 6) 
A instituição da Lei de Terras em 1969 foi o suporte legal que reforçava a 
expropriação do campesinato uma vez que destinava terras publicas do estado para fins de 
exploração agropecuária e florestal, transformando estas terras em foco de interesse de 
grupos econômicos que podiam se apoiar nos incentivos fiscais concedidos pela SUDENE e 
SUDAM ( Luna, 1985, p. 6). A combinação terra e capital tornava-se o fio condutor da 
expansão capitalista no Maranhão pela incorporação de grandes extensões territoriais. No 
rastro desse projeto chamado "Maranhão novo" foi criada a infraestrutura que possibilitou a 
entrada desses capitais médios e grandes, oriundo do Sul do país. 
Essa política instituiu , também, a grilagem de imensas áreas camponesas com a 
conivência dos cartórios que forneciam títulos de propriedade (ARCANGELIS, 1987). Da 
grilagem de pequenas propriedade agrícolas, áreas devolutas, formavam-se grandes fazendas 
 
Anais do V Simpósio Internacional Lutas Sociais na América Latina 
“Revoluções nas Américas: passado, presente e futuro” 
ISSN 2177-9503 
10 a 13/09/2013 
 
GT 4. Imperialismo, nacionalismo e militarismo na América Latina 40 
na encosta das principais rodovias federais e estaduais. A paisagem geográfica se modificou 
com os cercamentos das áreas destinadas ao cultivo agrícola. 
Com isso o produtor da pequena unidade camponesa passou a morar entre as 
rodovias e as cercas, quadro que se completou com a criação do gado bubalino desenvolvido 
em grande parte da baixada maranhense. A chamada “economia do gado“, no dizer 
Arcangelis (1987), foi modo concreto de inserção da economia maranhense no sistema 
nacional de trocas ou na divisão nacional do trabalho no auge da fase do “milagre” (1968-
1973) e que se caracterizou pelo acirramento da luta entre o grande proprietário e os posseiros 
para definir o caráter da propriedade privada da terra. 
Pressionada pela tal economia do gado e pelas desapropriações de terras, as 
fronteiras agrícolas perderam a capacidade de incorporar o pequeno agricultor, ao mesmo 
tempo em que proliferou a sua expulsão pelas cercas de arame farpado. Essa dinâmica criou 
novas categorias no campo: o meeiro, o arrendatário, o parceiro, e um extenso proletariado 
rural em êxodo em todo o estado. No plano estadual foi criado a Companhia Maranhense de 
Colonização (COMARCO), em 1971, para promover as negociações das terras do Maranhão, 
no mercado regional, nacional. A justificativa: "ocupar racionalmente as terras improdutivas e 
devolutas do Estado" (Arcangelis, 1987). 
A frente de expansão caracterizada pela distribuição generosa de grandes extensões 
territoriais foi desse modo responsável pela ocupação dos “espaços vazios” amazônicos, 
acionada como política governamental de integração nacional, sobretudo a partir do II Plano 
Nacional de Desenvolvimento - PND. Em nome dos grandes projetos agropecuários 
(subsidiados por órgãos do governo) a grilagem tornou-se corriqueira na região que, mais 
tarde, se tornaria reconhecida como área de influência do Projeto de Ferro Carajás. 
De 1975 a 1979 abriu-se um novo ciclo de desenvolvimento, onde a periferia 
nacional (regiões Norte e nordeste) passavam á condição de protagonistas. Nesse processo, as 
oligarquias regionais e locais tiveram papel decisivo articulando os interesses transnacionais, 
regionais e locais. 
 
 
A dinâmica entre o local o regional e o transnacional 
 
Anais do V Simpósio Internacional Lutas Sociais na América Latina 
“Revoluções nas Américas: passado, presente e futuro” 
ISSN 2177-9503 
10 a 13/09/2013 
 
GT 4. Imperialismo, nacionalismo e militarismo na América Latina 41 
Nos anos 1980, esta política de modernização passou por transformações 
qualitativas, sobretudo a partir do II PND quando as regiões Norte e Nordeste, finalmente, 
passavam a ser o carro chefe de grandesprojetos industriais (baseados na exploração e ou 
produção de ferro, aço, celulose e alumínio). A dinamização desse processo permitiu a 
instalação de mega projetos industriais hegemonizado pelo Programa Grande Carajás (PGC), 
no bojo do qual o Maranhão se reestrutura e volta a se inserir na dinâmica do capitalismo 
internacional como corredor de exportação de minério de ferro. 
A partir da inauguração da Estrada de Ferro Carajás (1985) intensifica-se a instalação de 
vários empreendimentos ao longo do corredor de exportação numa área que cobre uma 
superfície de 32.242 quilômetros quadrados - faixa geográfica que se estende do oeste á parte 
litoral norte do estado distribuída 14 municípios - microrregiões de diversidade geológica 
bastante demarcada. A estrada de Ferro Carajás possui uma extensão de 890 quilômetros ( 
dos quais 590 estão em território maranhense) 
 
No caso dos projetos minero metalúrgicos, a Ferrovia Carajás e o Porto do Itaqui 
cumprem uma função estratégica porque por meio deles é feita a exportação de commodities, tal 
como o ferro de Carajás e a soja no sul do estado que simbolizam o chamado Maranhão 
moderno. Esse processo de modernização, tem como principal desdobramento o avanço do 
agronegócio3, que na prática expulsa os camponeses do campo. 
 
Em várias regiões do estado, grandes grupos se instalam para a exploração de matéria 
prima, visando a ampliação dos seus lucros. Nesse sentido, não é de causar espanto a presença 
de grandes empresas nacionais e multinacionais como a Cargill Agrícola S/A, Bunge Alimentos 
S/A, ABC INCO S/A, CEAGRO Agronegócios, Fazenda Parnaíba S/A, SLC Agrícola S/A, 
Weisil Agrícola Ltda. e empresas Joint Ventures4 como a Multigrains (Multigrain S/A e 
Multigrain Comércio, Exportação e Importação), serem alguns dos nomes que controlam o 
agronegócio no Maranhão. (CARNEIRO, 2008). 
De acordo com Delgado (2010: 50) 
 
 
3 Aqui entendido conforme o conceito de Teubal (2008, p.140) como “um modelo cujo modo de funcionamento 
global, com predomínio do capital financeiro, orienta-se, em grande parte, rumo a uma especialização crescente 
em determinadas commodities orientadas para o mercado externo e com uma tendência à concentração em 
grandes unidades de exploração”. 
4 Refere-se a um tipo de associação em que duas entidades se juntam para tirar proveito de alguma atividade, por 
um tempo limitado, sem que cada uma delas perca a identidade própria. (Andréa Wolffenbütte). Disponível em: 
http://www.ipea.gov.br/desafios/index.php?option=com_content&view=article&id=2110:catid=28&Itemid=23 
 
Anais do V Simpósio Internacional Lutas Sociais na América Latina 
“Revoluções nas Américas: passado, presente e futuro” 
ISSN 2177-9503 
10 a 13/09/2013 
 
GT 4. Imperialismo, nacionalismo e militarismo na América Latina 42 
No estado do Maranhão a inserção e expansão do agronegócio a partir dos 
anos 1990 se tornou um agravante para a questão agrária, considerando o 
contexto histórico de expropriação e exploração vivido pelos trabalhadores 
camponeses desse estado. Seguindo este viés, identificamos a realidade 
desse estado como uma particularidade da questão agrária brasileira, que 
expressa a expansão do capitalismo nas regiões periféricas do país, ocorrida 
com a instalação do capital transnacional em um contexto sociopolítico que 
tem o domínio de um grupo oligárquico há mais de 40 anos. [...] Os 
impactos da entrada do Maranhão na rota do capital mundial incidiram 
sobremaneira no campo, complexificando a questão agrária. Nesse 
movimento, foram dinamizados e ampliados os investimentos de capital para 
a expansão e modernização da produção no campo visando, sobretudo, a 
exportação. Logo no inicio da referida fase, esses investimentos foram 
realizados, prioritariamente, na modernização da lavoura, na dinamização 
industrial e na pecuária. 
 
Mais especificamente na região da Amazônia Legal Maranhense, a cultura do 
eucalipto no oeste do Maranhão se inicia nos anos 1980, principalmente nas cidades de 
Açailândia e Imperatriz (Pré-Amazônia maranhense), como fonte de produção de carvão 
vegetal, para alimentar as fábricas que produzem ferro gusa. 
Nos anos 1990, com a implantação da empresa Suzano S/A5, há um aumento dessa 
produção que deveria ser voltada para a produção de celulose, mas que acabou por servir à 
produção de carvão vegetal. No entanto, o projeto de implantação de uma fábrica de celulose 
não foi deixado de lado pela Suzano e nem pelo governo estadual, conforme se pode 
confirmar no documento O Maranhão e a próxima década (2010:10) que cita a indústria de 
celulose como um dos maiores empreendimentos no estado, no período 2010-2020. 
A Suzano Papel e Celulose é o carro-chefe do novo Polo Industrial de 
Imperatriz. A Suzano pretende investir R$ 4 bilhões e iniciar em 2011 a 
construção de sua fábrica de celulose no estado. A nova unidade terá 
capacidade de produzir 1,5 milhão de toneladas de celulose de eucalipto por 
ano e deve gerar 3,5 mil empregos diretos, sendo mil na área industrial, além 
de 15 mil postos de trabalho indiretos. Oito mil empregos deverão ser 
gerados durante a fase de construção da fábrica. A produção deverá ser toda 
voltada para exportação. A escolha da cidade de Imperatriz para abrigar a 
nova unidade permitirá à Suzano a utilização da Estrada de Ferro Carajás - 
EFC para escoar a produção pelo terminal portuário a ser construído em São 
Luís. A nova fábrica deverá ser transformada na principal referência 
em produção de celulose no mundo. Além disso, a Suzano criou uma nova 
empresa - Suzano Energia Renovável - que já iniciou negociações para a 
implantação, no interior do estado, de duas unidades de produção de pellets 
de madeira com capacidade de 1 milhão de toneladas/ano, cada. (Grifo meu). 
 
E importante destacar que a implantação desse tipo de empreendimento, que dá lugar a 
imensas áreas verdes de eucaliptos, é seguida da exploração da força de trabalho de um 
 
5 A Suzano adquiriu a área de eucalipto de propriedade da empresa CELMAR S/A. 
 
Anais do V Simpósio Internacional Lutas Sociais na América Latina 
“Revoluções nas Américas: passado, presente e futuro” 
ISSN 2177-9503 
10 a 13/09/2013 
 
GT 4. Imperialismo, nacionalismo e militarismo na América Latina 43 
grande contingente de trabalhadores com baixa qualificação e que acabam por se submeter a 
uma realidade degradante de trabalho, muitas vezes análoga à escravidão. 
Em relação à soja, é nos anos 1990 que a produção ganha maior impulso, pois, 
inicialmente cultivada no sul maranhense, hoje avança no sentido do serrado leste 
maranhense, constituindo-se como um dos principais produtos de exportação do Maranhão, 
compondo a tríade de commodities que representam em torno de 90% de tudo o que é 
exportado no estado. 
Em virtude da necessidade de expandir seus espaços de exploração, grandes empresas 
que atuam no estado vêm ampliando os investimentos no agronegócio de modo que tanto a soja 
quanto o eucalipto já deixaram a área da Amazônia Maranhense e estão se espalhando por outras 
regiões do estado. 
 Esse dinamismo segundo o IMESC provoca substanciais alterações na dinâmica da 
economia maranhense. Instituto maranhense de estudos socioeconômico indica que na ultima 
década a economia maranhense cresceu em velocidade maior que a média brasileira e media do 
Nordeste. Os dados mostram que a expansão das exportações de commodities minerais e 
agrícolas (ferro, alumínio e soja) foram decisivas pois por meio delas o Maranhão se reconecta 
com a economia mundial . 
Capturado por esta lógica, desde os anos 1980conforme indica Barbosa (2006), é 
importante compreender o Maranhão como parte constitutiva de uma totalidade social - a 
sociedade brasileira com seus vínculos de dependência externa e de subordinação ao 
capitalismo internacional - o que permite verificar o modo como as políticas da esfera local 
articulam a realização dos interesses do capital transnacional, numa precisa articulação entre o 
local, o nacional e o transnacional. 
Definido como meio norte por ser uma zona de transição entre o Norte e o Nordeste, o 
estado do Maranhão possui uma enorme diversidade e riquezas naturais. No entanto, a 
maioria do povo vive uma situação de miséria, que se reflete nos indicadores sociais. Segundo 
o IBGE, em 2003 a incidência de pobreza no Maranhão era de 56,38%; havia 64,6% dos 
domicílios considerados em situação de insegurança alimentar, sendo 14,8% em situação 
grave. 
Na análise do Índice de Desenvolvimento Humano - IDH é o penúltimo estado da 
federação com o pior índice (0, 683), ficando atrás apenas de Alagoas (0,677). Também é esta 
a mesma posição ocupada quando o assunto é o ranking de mortalidade infantil: com 39,6%, 
fica a frente apenas de Alagoas que apresenta 50% no mesmo índice. Outro aspecto relevante 
 
Anais do V Simpósio Internacional Lutas Sociais na América Latina 
“Revoluções nas Américas: passado, presente e futuro” 
ISSN 2177-9503 
10 a 13/09/2013 
 
GT 4. Imperialismo, nacionalismo e militarismo na América Latina 44 
na análise do estado é a questão agrária, devido a grande concentração de terras que faz do 
latifúndio a base social sobre a qual se firmam as oligarquias locais. 
Tais indicadores sociais, em um estado que coaduna grandes investimentos (projetos 
de grande porte, um processo de modernização da agricultura e das indústrias), margeado por 
um alto índice de pobreza extrema, reflete a relação intrínseca existente entre o moderno e o 
arcaico, caracterizado pela influência de uma oligarquia6 que tem dominado o Maranhão nos 
últimos 47 anos. Com o discurso do “Maranhão Novo”, propagandeado e transformado em 
“Tempo Novo” e “Novo Tempo”, o Maranhão se constitui um espaço de reajustamento do 
capital conforme a tematização de Harvey (2005). 
 
Com um ritmo forte de crescimento, o Maranhão detém na atualidade um 
dos maiores volumes de investimentos privados entre todos os estados 
brasileiros. Alguns desses projetos já estão em fase de conclusão, enquanto 
outros estão sendo implantados ou projetados. São empreendimentos nas 
áreas de refino de petróleo, exploração de gás e petróleo, geração de energias 
limpas e fabricação de celulose, biomassa, cimento, aço, alumínio, 
alimentos, dentre outros relevantes setores da economia, que já estão 
gerando emprego e renda em diversos polos distribuídos por todas as regiões 
do estado. Com volumes que ultrapassa a casa dos R$ 100 bilhões, entre 
recursos públicos e privados, o novo Maranhão já está em construção. 
(MARANHÃO, 2010:4). 
 
A Refinaria Premium, cuja implantação e funcionamento será no município de 
Bacabeira, localizado a 60 quilômetros da Ilha de São Luís, já está promovendo alterações 
socioeconômicas e ambientais no cenário de sua área de abrangência, a microrregião de Rosário. 
Segundo o documento “O Maranhão na Nova Década", os números previstos para essa nova 
década são superlativos – cerca de R$ 100 bilhões em investimentos públicos e privados que 
irão ofertar aproximadamente 240 mil novos empregos nos próximos cinco anos. O Estado 
investirá ainda em infraestrutura de logística e no estabelecimento de um complexo portuário 
(superporto) de nível internacional para o escoamento da produção de derivados de petróleo e 
gás, mineral e do agronegócio. 
A Refinaria Premium – será a maior das Américas – terá capacidade de produzir 600 
mil arris/dia. Cabe ressaltar que a nova unidade da Petrobras no Maranhão, além de aumentar 
a capacidade de refino do país, vai adicionar valor ao petróleo nacional. A produção será 
 
6 O termo aqui utilizado indica não um sistema de governo, uma instituição, mas serve para demarcar o fato de 
que “o poder supremo está nas mãos de um restrito grupo de pessoas propensamente fechado, ligadas entre si por 
vínculos de sangue, de interesse ou outros, e que gozam de privilégios particulares, servindo-se de todos os 
meios que o poder pôs ao seu alcance para os conservar”, conforme Bobbio (1998:835). 
 
Anais do V Simpósio Internacional Lutas Sociais na América Latina 
“Revoluções nas Américas: passado, presente e futuro” 
ISSN 2177-9503 
10 a 13/09/2013 
 
GT 4. Imperialismo, nacionalismo e militarismo na América Latina 45 
escoada pelo Terminal Portuário do Mearim, cuja construção foi iniciada em 2011. De olho 
nesse intenso comercio, o atual governo do estado retoma a velha política 
desenvolvimentista investindo na instalação de novos empreendimentos econômicos. A 
consequência como pode ser verificado é uma realidade contraditória. De um lado, a dinâmica 
econômica dos grandes projetos e, por outro, os baixos índices de desenvolvimento humano 
 
 
 
 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS 
ARCANGELI. Alberto. O Mito da Terra (Uma análise da colonização Pré-Amazônia 
maranhense). São Luís: UFMA/PPG/EDUFMA. 1987. 
ALMEIDA, Lúcio Flavio. (2001) “Corrosões da cidadania: contradições da ideologia 
nacional na atual fase de internacionalização do capitalismo”. In Lutas Sociais, 1. 
 
ALMEIDA, Desni Lopes. Os trilhos do desenvolvimento na Amazônia maranhense: 
Conflitos e contrastes e o caso Piquiá de Baixo. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-
graduação em Desenvolvimento Socioespacial e Regional – UEMA. 2012. 
ASSELIN, Victor. Grilagem: corrupção e Violência em terras do Carajás. Editora Ética: 
Imperatriz, 2009. 
BARBOSA, Zulene Muniz. Maranhão, Brasil: luta de classes e reestruturação produtiva em 
uma nova rodada de transnacionalização do capitalismo. São Luís – UEMA/2006. 
___________. As “Temporalidades” da Política no Maranhão. Disponível em 
http://www.pucsp.br/neils/downloads/v9_artigo_zulene.pdf. Acesso: 27/09/2012 
CARNEIRO, M. Sampaio. A expansão e os impactos da soja no Maranhão. In.: 
SCHLESINGER, Sergio; NUNES, S. Presotto; CARNEIRO, M. Sampaio (Org.). A 
Agricultura Familiar da Soja na Região Sul e o Monocultivo no Maranhão: duas faces do 
cultivo da soja no Brasil. Rio de Janeiro: FASE, 2008. 
COSTA, Wagner Cabral. Do “Maranhão Novo” ao “Novo Tempo”: a trajetória da 
oligarquia Sarney no Maranhão. Disponível em 
http://www.fundaj.gov.br/images/stories/observanordeste/cabral2.pdf . Acesso em 
28/07/2009. 
DELGADO, Laurinete Rodrigues da Silva. A Relação Serviço Social e Questão Agrária Na 
Contemporaneidade: Inserção e prática de Assistentes Sociais no MST e na FETAEMA no 
 
Anais do V Simpósio Internacional Lutas Sociais na América Latina 
“Revoluções nas Américas: passado, presente e futuro” 
ISSN 2177-9503 
10 a 13/09/2013 
 
GT 4. Imperialismo, nacionalismo e militarismo na América Latina 46 
Maranhão. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas, 
Universidade Federal do Maranhão, São Luís, Maranhão, 2010. 
HARVEY, David, O “Novo Imperialismo”: ajustes espaço-temporais e acumulação por 
desapossamento. In Lutas Sociais. São Paulo, Nº 13/14 – 1º semestre. 2005. 
LUNA, Regina , Celi Miranda Reis. A Terra era liberta. São Luis , EDUFMA 
MARANHÃO. Secretaria de Planejamento. O Maranhão e a Nova Década - Planejamento 
(2010-2020): oportunidades e desafios. São Luís, 2010.

Outros materiais