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Contribuição da Tribologia para a Redução do Consumo de Combustíveis e Emissões de Poluentes Marcos B.Garcia 1 , João C.Godinho Mª 1 , Gaston R. Spina Schweizer 2 1 Energy Plus Treinamentos & Consultorias 2 Repsol YPF Brasil S/A E-mails: marcos@clickenergy.com.br, joao@clickenergy.com.br, grspinas@repsol.com RESUMO A escassez de petróleo e a busca por novas fontes de energia são hoje preocupações globais, principalmente devido à crescente demanda e suas conseqüências no aumento do consumo serão no futuro próximo os grandes desafios. Novos desenvolvimentos em sistemas de engenharia vêm ocorrendo desde a segunda metade do século, em uma constante busca por equipamentos mais duráveis, utilização de combustíveis alternativos e tecnologias para atendimento das emissões de poluentes, todos aliados a um menor impacto ambiental. Neste trabalho serão apresentados estudos sobre a influencia do atrito nos componentes de motores que revelam dados que determinam para onde vai à energia oriunda da queima do combustível. Estima-se que 12% da energia avaliada nos veículos encontram-se no contato dos pneus com o pavimento, o motor contribui com aproximadamente 62% da perda mecânica dissipada principalmente por atrito. Como os exemplos mais dramáticos estão nos parques automotivos, o conhecimento tribológico vem contribuindo para a redução de perdas energéticas e da poluição com perspectivas otimistas a âmbito mundial. INTRODUÇÃO Em todos os cantos do globo – na terra e nas águas, no gelo que se derrete e na neve que desaparece, durante as secas e as ondas de calor, no olho do furacão e nas lágrimas dos refugiados – vemos provas crescentes e inegáveis de que os ciclos da natureza estão passando por profundas transformações [1] . O conceito de sustentabilidade ambiental refere-se às condições sistêmicas segundo as quais, em nível regional e global as atividades humanas não devem interferir nos ciclos naturais, em que se baseiam tudo o que a resiliência (que acumula energia) do planeta permite e ao mesmo tempo, não devem empobrecer este capital natural, que deverá ser transmitido às futuras gerações. Após a revolução industrial no final do século XIX, os anos seguintes foram marcados por agressões antropogênicas ao meio ambiente tornando-se mais evidente em relação ao crescimento populacional e aumento no consumo per capita, nas áreas de interesse do campo ambiental sendo este o objeto de estudos e de muita preocupação, principalmente no que tange aos impactos [2] ilustrados na figura 1. Figura 1 – Impactos ambientais e os danos acumulados O processo de transformação de energia, no qual o homem utiliza as mais diversas formas para realização de suas tarefas, algumas das quais ele se beneficia da energia muscular animal para tracionar carroças e arados; a energia elétrica para uma infinidade de afazeres, principalmente na iluminação ambiente, e aquela proveniente do combustível fóssil, derivados de petróleo utilizados para propulsão de equipamentos. Neste contexto, o consumo de derivados de petróleo no Brasil apresentou altas taxas de crescimento na década de 70, no plano cruzado em 1986 (congelamento de preços) e nos cinco primeiros anos do Plano Real (1994 a 1998). O baixo crescimento econômico e as substituições por fontes alternativas, inclusive a substituição de gasolina por álcool, são as causas do pouco ou nenhum aumento nos demais períodos. A partir de 1999, o uso do gás natural em veículos passa a contribuir, também, para a redução do consumo de derivados. Em 2007, o consumo final de derivados de petróleo, excluindo-se o uso nos centros de transformação, apresentou crescimento de 4,5%. A figura 2 apresenta a evolução do consumo setorial dos derivados de petróleo, que indica o setor de transportes como o segmento mais importante representando 50,5% deste consumo, seguido pela indústria que incluindo o setor energético responde por 19,1% [3] . bep – barril equivalente de petróleo (6,28981 barris = 1 m3) Figura 2 - Consumo dos Derivados de Petróleo por Setor, Brasil 1970 a 2007 Atualmente em todo mundo, grandes pressões sobre o consumo de combustíveis são exercidas por conta do efeito estufa, devido ao aquecimento global proveniente principalmente pela emissão de CO2, como indicado na figura 3. tep – tonelada equivalente de petróleo 1 tep = 7,04 bep = 0,848 m 3 de óleo diesel = 0,891m 3 de lubrificante 1 tep = 10 Mcal/kg = 11,63x10 3 KWh Figura 3 - Indicadores de Emissões de CO2 e de Energia – Brasil e Mundo 2006 O panorama energético global 2006 indica que os grandes consumidores per capita de petróleo (tep/hab) foram os Estados Unidos seguido por Austrália e OECD, conseqüentemente também tiveram uma maior contribuição na emissão de CO2 por habilitante. Na relação tCO2/ tep, a Austrália e a China se destacam possivelmente devido a outras fontes de energia, como a produção de lenha/carvão vegetal e a expansão das fronteiras agrícola e pecuária [4] . Diversas estratégias tecnológicas estão sendo adotadas em todo o mundo visando a redução dos níveis de CO2, algumas são: • Restrição no uso de veículos (rodízios) • Combustíveis alternativos • Melhoria da eficiência do Powertrain • Melhoria no peso, aerodinâmica e perdas por atrito A Tribologia e a Redução do Atrito Por volta de 1966 na Inglaterra foi investigado e atribuído pelo Jost Committee uma nova palavra derivada do grego, denominada tribologia, formada pelo radical “tribos” que significa esfregar mais o sufixo “logos”– estudo. O primeiro estudo dos impactos econômicos usando os conhecimentos da tribologia foi um marco da criação deste comitê, conforme indica a figura 4. As perdas econômicas totais estimadas na Inglaterra neste período seriam de 515 milhões de libras, correspondendo a 0,5 % do PNB [5] . Figura 4 - Economias devidas à aplicação da tribologia no Reino Unido 1966 Trata-se de uma ciência interdisciplinar que estuda a interação de superfícies em movimento relativo, considerando a condição de atrito, desgaste e como conseguinte a lubrificação. O tema foi mais centralizado como um fator unificador através da aplicação dos conhecimentos básicos para prever o comportamento de sistemas físicos, ou seja, de tribosistemas que são utilizados na engenharia [6] , figura 5. (em milhões de libras) Figura 5 – Exemplos de tribosistemas, configurações e estruturas elementares As condições de desgaste e atrito do tribosistema são determinadas por alguns parâmetros, nos quais a predominância de um ou outro depende das condições de funcionamento (carga, velocidade e temperatura), das condições de interface (meio triboquímico como a lubrificação, subprodutos da combustão e gradientes de temperatura) e das condições estruturais (características geométricas, materiais e tratamentos superficiais) do par tribológico ou triboelementos. O exemplo clássico é a influencia da carga normal e da velocidade sobre os regimes de desgaste, pois os mesmos influem na taxa de deformação plástica e temperatura induzida por atrito nas superfícies, podendo modificar a constituição da microestrutura e também alterar a propriedade mecânica das superfícies, ou ainda, interferir na taxa de oxidação superficial quanto submetido a determinadas temperaturas [7] . A exigência do mercado com a regulamentação dos níveis de emissões e a durabilidade dos motores está voltada para efeitos adversos que requerem a redução de atrito,e também nos quesitos de vibração e ruídos. Estudos sobre a influencia do atrito nos componentes de motores, revelam dados que determinam para onde vai a energia oriunda da queima do combustível. A figura 1 mostra que aproximadamente 12,6% da energia avaliada encontra-se no contato dos pneus com o pavimento, o motor contribui com 62,4% da perda mecânica dissipada, principalmente por atrito[2]. De forma subjetiva, a proporção de perda total por atrito nos motores está estimada em 40% para o conjunto do pistão. A figura 6 indica a comparação das principais categorias de perdas por atrito de motores com 4 cilindros e 1.6 litros [8] . Figura 6 – Pressão média efetiva de atrito (fmep) para diferentes cargas e velocidades de um motor automotivo 1.6 litros e 4 cilindros, com configurações de ignição SI e CI A durabilidade do par tribológico anel-cilindro talvez seja um dos fatores que determinam a vida efetiva dos motores, e as condições a que são submetidos os anéis de pistão torna este o componente mais complexo da câmara de combustão interna, devido aos carregamentos (carga, velocidade e temperatura) e pela variação no suprimento de óleo lubrificante, principalmente do anel de compressão alojado no primeiro canalete do pistão. RESULTADOS E DISCUSSÕES A variação na espessura do filme de óleo lubrificante ao longo de um ciclo é a razão das alterações do regime de atrito dos anéis de pistão, variando da condição de lubrificação limite (R1/2 boundary) até a hidrodinâmica (R3) como mostra a figura 7. Regime 1, lubrificação limite [contato superficial] Regime 2, lubrificação de filme fino [EHD] Regime 3, lubrificação de filme espesso [HD] Figura 7 – Diagrama de Stribeck e os regimes de lubrificação O contato das superfícies (regime 1) envolve eventos tais como adesão, deformação plástica, formação de junções, transferência de material (fragmentos), resultando em uma alteração na rugosidade superficial e conseqüentemente aumento no coeficiente de atrito. Alguns estudos utilizando adequações no regime de lubrificação serão apresentados a seguir. 1. Otimização da Topografia de Superfície Na busca por uma lubrificação mais adequada que contribua para redução do desgaste e da potencia dissipada, experimentos foram realizados com segmentos de aço inoxidável martensítico (18%Cr) submetido a tratamento termoquímico de nitretação (gasosa), com espessura que variam de 60 a 80 μm, e na seqüência foram efetuadas modificações na topografia da superfície de contato, de modo que haja uma manutenção/retenção eficiente do filme de óleo para os diferentes regimes de lubrificação. Condições das topografias de superfícies: a) Normal de Produção (NP) – retificado e lapidado; Rz 0,40 μm b) NP + Jateamento úmido (1 ciclo); Rz 1,18 μm c) NP + Jateamento + Reversão eletroquímica (5 min) + escovamento; Rz 1,41 μm A característica da superfície após a modificação da topografia resulta em partículas duras dispersas e salientes sobre a matriz martensítica, formando plates e depósitos que visam a melhoria da lubrificação e retenção de fragmentos de desgaste, principalmente no período de amaciamento (break-in). A figura 8 apresenta o aspecto de uma superfície modificada através da imagem de microscopia eletrônica de varredura (MEV). Figura 8 – Aspecto superficial da topografia modificada de aço inoxidável martensítico (18%Cr), observa-se os carbonetos de cromo em relevo [8] Os experimentos com as três condições de topografias foram ensaiados em um tribometro, com geometria tipo block on ring modificado para fixar o segmento de aproximadamente 10 mm, contra um anel padrão de ferro fundido cinzento perlítico similar aos utilizados em cilindros de motor. Retificado com uma rugosidade Ra 0,6 e dureza média de 225 e 310HB, para os ensaios de desgaste lubrificado (SAE 15W40 API CF) e atrito (sem lubrificação) respectivamente. As figuras 9 e 10 apresentam os resultados dos ensaios de atrito e desgaste. Figura 9 – O gráfico indica os valores da força de atrito e da carga aplicada para as três condições de superfície Figura 10 – Apresenta o gráfico com os valores de desgaste (perda de massa) das três condições de superfície e dos respectivos anéis padrões 2. Lubrificantes Fuel Economy Os óleos lubrificantes denominados “fuel economy”são produzidos com óleos básicos específicos (semi ou totalmente sintéticos) e modernas tecnologias de aditivos, que conferem de algumas características para a redução do atrito dos componentes contidos nos motores, e utilizados nas mais variadas aplicações. As categorias destes lubrificantes indicados para redução do consumo de combustível são consideradas de baixa viscosidade, ou HTHS (high temperature and high shear) e para determinadas aplicações baixo SAPS (sulphated ash, phosphorus and sulphur). A figura 11 apresenta um gráfico com valores de desgaste de segmentos de pistão e economia de combustível, em relação ao HTHS Figura 11 – Variação de HTHS em relação ao desgaste de segmento de pistão e na economia de combustível CONSIDERAÇÕES GERAIS A descoberta do campo de Tupi, localizada a cerca de 7 mil metros abaixo da linha d'água, em rochas denominadas pré-sal, abrangendo as Bacias do Espírito Santo, Campos e Santos, está sendo considerada como uma das mais importantes do mundo. Estudos preliminares apontam que as reservas de petróleo e gás do país, que somam hoje 14 bilhões de barris, receberão um acréscimo de pelo menos 50%. A meta da Petrobras é iniciar a produção a partir de 2010, com um projeto-piloto de 100 mil barris por dia. Esse volume equivale atualmente a 5% da produção nacional. Em relação ao gás natural, a descoberta do campo de Júpiter deverá contribuir, no médio prazo, para a auto-suficiência na produção de gás natural. O setor vem recebendo investimentos para desenvolver e ampliar a participação na distribuição. A Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) continuará promovendo rodadas de licitações, ofertando inclusive blocos localizados em novas fronteiras e também em bacias maduras. As recentes descobertas são importantes por representarem grandes reservas estimadas, e também por estarem próximas a São Paulo. Sendo o principal mercado consumidor de derivados de petróleo, algumas estimativas foram realizadas visando prever as perdas econômicas devido ao atrito e sua respectivas proporção de CO2 que poderão ser emitidos na região metropolitana de São Paulo [10] . [mPas] Nesta análise não está sendo considera a contribuição de poluentes como os compostos de nitrogênio, hidrocarbonetos e monóxido de carbono, uma vez que a formação e liberação destes estão relacionados a eficiência da combustão e não na eficácia dos sistemas mecânicos. Estima-se que uma redução de 10 % no atrito de acionamento do automóvel resultaria em até 3% de economia de combustível, embora expressivo uma pequena fração das perdas térmicas dos motores são devido à ineficiência dos mesmos. Por outro lado, considerando imediatas melhorias em torno de 20 % baseado apenas nos conhecimentos disponíveis, a economia seria na casa de 300 milhões de reais por ano, para reduzir a emissão de CO2 em 37.500 toneladas, apenas na cidade de São Paulo. As tendências tecnológicas e o vasto campo de atuação dos tribologistas assim como de outras áreas envolvidas no escopo da engenharia de superfície indicam atenção especial para os componentes que são submetidos ao regime de lubrificaçãomisto (boundary), principalmente no período de amaciamento e no diagnóstico das análises de óleo lubrificante ao longo da vida do equipamento, determinando a confiabilidade para a aplicação CONCLUSÃO • Os impactos ambientais globais são resultantes de diversos fatores que contribuem para o processo de degradação da terra, causando irreparáveis danos ao longo do ciclo de vida das espécies. • Nos próximos anos, a demanda crescente por energia e as conseqüências no aumento de consumo serão um grande desafio para a sustentabilidade do planeta. A politização aliada ao consumo e aos elevados preços do petróleo tornaram o sistema altamente vulnerável. • A poluição urbana e a chuva ácida são danos ambientais locais e regionais causados principalmente pela queima de combustíveis fosseis oriundos dos transportes de cargas e passageiros. • Nos países em desenvolvimento, outros danos ambientais são devidos a depredação das florestas pelo desmatamento, avanço de fronteiras agrícolas e pecuárias, urbanização e principalmente pela poluição oriunda das queimadas. • O grande desafio na busca pela redução do desgaste e atrito dos componentes veiculares está voltado para os conjuntos trem de válvulas, mancais de virabrequim e principalmente no conjunto dos pistões. A utilização de partículas duras dispensas na matriz dos materiais e tratamentos superficiais, associadas a uma determinada topografia de contato, manifesta-se como uma alternativa promissora para a redução do desgaste e atrito. Em 2030 o consumo de energia no mundo será 75% maior do que o atual. A demanda por petróleo, por sua vez, será 50% maior. Pais como a China e Índia precisarão de muito combustível para continuar no mesmo ritmo de crescimento econômico de hoje. Para esclarecimentos adicionais, contatar: AEA - Associação Brasileira de Engenharia Automotiva Rua Salvador Correia, 80 - Aclimação São Paulo - SP - 04109-070 Tel.: (011) 5575-9043 – Ramal 25 E-Mail: eventos@aea.org.br REFERÊNCIAS [1] GORE, Al – Livro: Uma verdade inconveniente, Editora Manole, 2006 [2] GOLDEMBERG, J.; VILLANUEVA, L. D. Energia, Meio Ambiente e Desenvolvimento, 2ª edição, 2003. [3] MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA; Balanço Energético Nacional 2008, ano base 2007, Disponível em http://www.mme.gov.br [4] BASE DE INDICADORES; Estimado pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) e Agência Internacional de Energia (IEA) 2006 [5] DOWSON, D. History of Tribology, London: Longman, 1979 [6] BLAU, P. J. Metals Handbook v. 18: Friction Lubrication and Wear Technology. Ed.Philadelphia: ASM International, 1995 [7] GARCIA, M.B.; AMBRÓZIO Fº, F.; VATAVUK, J.;Wear Mechanisms Behavior of Different Surface Treatment Piston Rings, São Paulo SAE 2003-01-3589 [8] HEYWOOD, J.B.; Internal Combustion Engine Fundamentals, McGraw-Hill Ed. 1988 [9] GARCIA, M.B.; Anel de pistão e processo de obtenção, patente INPI PI9702729-4ª depositada em 1997 [10] de PAOLA, J. C. C. Análise ambiental de aços forjados. 2004. 140 f. Tese (Doutorado em Engenharia) - Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2004. NHTSA's responsibilities in the fuel economy area include: (1) establishing and amending average fuel economy standards for manufacturers of passenger cars and light trucks, as necessary; (2) promulgating regulations concerning procedures, definitions, and reports necessary to support the fuel economy standards; (3) considering petitions for exemption from established fuel economy standards by low volume manufacturers (those producing fewer than 10,000 passenger cars annually worldwide) and establishing alternative standards for them; (4) enforcing fuel economy standards and regulations; and (5) responding to petitions concerning domestic production by foreign manufacturers, and other matters. CAFÉ – Economia de combustivel definida pela milhagem média percorrida por um veiculo por galão de gasolina ou combustível equivalente, medidas de acordo com o protocolo da EPA.
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