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Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2016 Sidney Ferreira de Moraes Neto Módulo Envelhecimento Campo Grande 2016 Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2016 Resumo de Envelhecimento Problema 1 Senescência ou senectude e senilidade Senescência ou senectude é resultado do somatório de alterações orgânicas, funcionais e psicológicas próprias do envelhecimento normal. Senilidade é caracterizado por modificações determinadas por modificações determinadas por afecções que frequentemente acometem a pessoa idosa. Diferenciar os dois pode ser extremamente difícil. O limite entre esses dois estados não preciso e caracteristicamente apresenta zonas de transição frequente, dificultando distinguir cada um deles. Essa dificuldade, enfrentada no dia a dia, que está presente em todas as áreas que compõem a ciência gerontológica é consequência da indefinição da idade biológica, de grande variabilidade de comportamento do idoso perante fatores estressantes e de um fator genético, com importância já referida.. Nos idosos portadores de doenças, que frequentemente são múltiplas, somam-se os efeitos das alterações fisiológicas próprias do envelhecimento normal e os decorrentes de modificações funcionais produzidas pela presença de doenças concomitantes. Os efeitos da primeira podem atuar sobre os da última, induzindo graus variáveis de interação, a ponto de produzir ação deletéria muito acentuada. Com o número crescente de pessoas muito idosas, esta situação tende a ganhar mais atenção e levou a um novo foco de abordagem, utilizando o conceito de fragilidade. Fisiologia do Envelhecimento No envelhecimento, ocorre aumento da desordem molecular das células dos órgãos vitais. Essa modificação ocorre em algum ponto indeterminado da vida do indivíduo adulto. Não envolvendo todas as funções no mesmo grau nem ao mesmo tempo. Sua progressão segue um ritmo que difere para cada pessoa dependendo de fatores genéticos e ambientais, entretanto, ela é universal, declinante e intrínseca, não havendo até hoje nenhum recurso que possa evitá-la. Composição Corporal Por volta dos 25 anos, já é observável modificações na composição corporal. Toda a celularidade diminui, assim como a função dos órgãos, continuamente. Ocorre redução da água intracelular fazendo com que o organismo do idoso seja desidratado, Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2016 fisiologicamente. Por isso devemos ficar em alerta quando prescrevermos medicamentos hidrossolúveis pois estarão em maior concentração, podendo causar efeitos indesejáveis. A musculatura diminui, especialmente as fibras do tipo 2, de contração rápida, como as encontradas nas mãos. Com isso a força muscular diminui, e na 8º década de vida, está 40% menor quando comparada à 2º década. Em substituição à musculatura, há aumento proporcional da gordura, especialmente em torno da cintura pélvica, provocando modificações da silhueta. Aqui também teremos que dar atenção às regras farmacológicas, pois os medicamentos lipossolúveis, como os de ação central, terão seu tempo de ação aumentado. Pele A pele se torna seca, por diminuição das glândulas sebáceas, e espessada, com as papilas dérmicas menos profundas, levando a menor junção entre a epiderme e a derme, facilitando a formação de bolhas e predispondo a lesões. O número de melanócitos diminui de 8 a 20%, por década, após os 30 anos. Esse fato associado ao retardo da reposição das células da epiderme, ao maior tempo de exposição aos raios UV e à redução das células de Langerhans (células mediadoras da resposta imunológica na pele) contribuem para o aumento da incidência do câncer de pele. Na derme do idoso, observa- se menor número de fibras elásticas e colágenas levando a uma perda da resiliência (capacidade de voltar ao normal) e à formação de rugas. Também há diminuição da vascularização justificando a palidez e a diminuição da temperatura da pele aumentando frequência de dermatites. Pálpebras A flacidez das pálpebras superiores leva a uma limitação do campo visual lateral, podendo impedir a pessoa de não ver objetos ao seu lado, não ver um veículo se aproximar ao atravessar a rua, aumentando o risco de sofrer acidentes. Já essa flacidez nas pálpebras inferiores desloca o orifício do canal lacrimal provocando um lacrimejamento contínuo e incomodativo, obrigando a pessoa limpar os olhos – nem sempre com as mãos limpas –, provocando infecções oculares. O tratamento para essas modificações é simples. Fâneros A diminuição do número das glândulas sudoríparas somada à diminuição dos vasos sanguíneos da derme e à diminuição da espessura do tecido celular subcutâneo dificultam a termorregulação. As glândulas sebáceas mantêm seu número Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2016 constante, mas seu tamanho aumenta enquanto a liberação de gordura, assim como a produção de cera, diminuem. O embranquecimento dos cabelos ocorre pela perda progressiva de melanócitos nos bulbos capilares. As alterações do crescimento e da aparência dos cabelos são devidas a um processo complexo representando um estado de saúde. O número dos corpúsculos de Pacini e Meissner, responsáveis pela sensação de pressão e tato leve, diminui, predispondo a lesões e diminuindo a destreza para certos movimentos com as mãos. O crescimento longitudinal das unhas diminui, elas se tornam mais quebradiças e frágeis. Musculatura A partir dos 25-30 anos, em que a força muscular é máxima, há um declínio, constante e universal. Entretanto, a força muscular do diafragma sofre pouca alteração, enquanto a força da musculatura da panturrilha diminui significativamente ao longo dos anos. O trabalho muscular é necessário para a manutenção de quase todas as funções do corpo, como postura, locomoção, respiração e digestão. A atividade física, independente da idade, aumenta a força e a velocidade muscular além de prevenir a perda óssea, as quedas e melhorar a função articular. Os exercícios praticados com regularidade diminuem os fatores de risco para doenças cardíacas, diabetes e alguns tipos de câncer. Promovem o bem-estar, melhoram o ritmo do sono e alcançam benefícios para além do físico, como maior integração social, ajudando na esfera psicológica. Estruturas Cardiovasculares Alteradas com o envelhecimento Contração prolongada Diminuição da resposta beta-adrenérgica Aumento da rigidez miocárdica e vascular Controle do sistema nervoso autônomo Diminuição dos barorreflexos arteriais Aumento do fluxo simpático Diminuição do fluxo vagal Diminuição do Vo2 Mantidas com o envelhecimento Contratilidade miocárdica Fluxo sanguíneo coronariano Vasoconstrição alfa-adrenérgica mediata Controlo do sistema nervoso autônomo Barorreflexos cardiopulmonares Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2016 Alterações Cardiovasculares O envelhecimento compromete severamente algumas partes do sistema cardiovascular e outras são mantidas sem alterações. ➔ Estrutura cardíaca: ocorre hipertrofia do ventrículo esquerdo, provocando um aumento da pressão arterial dependente da idade. O aumento médio é de 1 g/ano nos homens e 1,5 g/ano nas mulheres. O volume diastólico final diminui somente nas mulheres e, portanto, não está correlacionado com a idade. Também observa-se aumento no número e na espessura das fibras colágenas presentes no miocárdio. Nos muito velhos, a massa ventricular esquerda pode diminuir, provavelmente devido ao extremo sedentarismo. O acúmulo da proteína amiloide é encontrado em aproximadamente 50% dos pacientesacima de 70 anos. Ainda é discutível se faz parte do processo de envelhecimento. Alterações cardíacas com o envelhecimento Endocárdio e valvas Aumenta lipofuscina (quanto mais tem, mas velha é) Aumenta fibrose Aumenta lípidios Aumenta calcificação Miocárdio Aumenta lipofuscina (quanto mais tem, mas velha é) Aumenta fibrose Aumenta amiloidose (acumulo proteico anormal) Aumenta apoptose Aumenta miosina isoenzima beta Aumenta mutações genéticas Diminui tecido conjuntivo ➔ Estrutura arterial: o aumento da rigidez da parede arterial é um fenômeno universal e contribui para muitas alterações do sistema cardiovascular. A diferença se dá na camada média, diferentemente do que ocorre na aterosclerose, onde o comprometimento está na camada íntima. Com o aumento da rigidez das paredes, as artérias aumentam de diâmetro e de espessura. Após os 60 anos a elasticidade está bem diminuída, aumentando a resistência do fluxo sanguíneo durante a sístole. O aumento da velocidade da onda de pulso aórtico e a diminuição da pressão diastólica são outras consequências da rigidez aórtica. Como a perfusão coronariana acontece Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2016 durante a diástole, pode-se provocar um dano ao paciente coronariopata ao prescrevermos anti-hipertensivos. Alterações arteriais com o envelhecimento Dilatação da aorta e grandes artérias Aumenta espessura da parede arterial Aumento o número de fibras colágenas na parede arterial Diminui conteúdo de glicoproteína Aumenta mineralização da elastina Aumenta rigidez arterial Aumenta resistência periférica Aumenta pressão sistólica do pulso Aumenta pressão arterial média ➔ Parâmetros funcionais: a frequência cardíaca de repouso é modulada pelo equilíbrio entre a inervação simpático e parassimpático, sendo a última dominante. A frequência cardíaca máxima durante o exercício vai diminuindo com o avanço da idade e tem sido definida pela fórmula 220 – idade. Um estudo mostrou que a frequência cardíaca máxima esta relacionada com a idade e não a doenças ou sedentarismo, sendo determinada pela equação 208 – 0,7 × idade. A sensibilidade ao sistema nervoso autônomo não é uniforme no organismo, podendo estar preservado em um local e comprometido em outro. Existe marcante diminuição na resposta do sistema cardiovascular a estimulação beta-adrenérgica com consequente diminuição da frequência cardíaca máxima. Para compensar essa baixa resposta, há aumento das catecolaminas plasmáticas (nora/adrenalina), especialmente durante exercícios físicos. Entretanto, a resposta é tímida, havendo aumento do volume diastólico final. Sistema nervoso Os avanços técnicos têm permitido aumentar o número de anos que vivemos na faixa etária idosa, na qual as doenças neurológicas são mais prevalentes. Por isso o conhecimento do processo biológico do envelhecimento do sistema nervoso é fundamental. ➔ Alterações estruturais: a diferença de tamanho do cérebro entre adultos e idosos tem pequeno significado funcional. O cérebro do adulto tem Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2016 aproximadamente 10 milhões e 10 a 15 vezes o número de células gliais. Cada neurônio tem, em média, 10.000 conexões. A perda do volume cerebral é de 2 a 3% por década depois dos 50 anos, e o peso diminui 8% comparado ao peso máximo quando adulto. Com o envelhecimento, a perda neuronal está limitada a algumas áreas. No idoso, sem déficits, no córtex e no cerebelo o número de células permanece o mesmo ao longo da vida. Em outras áreas, pode haver perdas, como no locus ceruleus (neurônios catecolaminérgicos), na substância negra (neurônios dopaminérgicos) e no hipocampo (neurônios colinérgicos). Já as células da glia aumentam. com o envelhecimento em resposta ao dano neuronal. Esse acúmulo de células gliais, denominado gliose, representa uma resposta compensatória protegendo a função neuronal e a plasticidade. O número de células da micróglia, pertencentes ao sistema imune, permanece sem mudanças. Há perda dos axônios e redução da mielina que cobre esses axônios levando à rarefação da substância branca periventricular denominada no exame de ressonância magnética de leucoairose. Estudos mostraram alterações no metabolismo cerebral, associadas ao envelhecimento, como diminuição do metabolismo de glicose nos lobos temporais e em outras áreas. Em algumas pessoas, o número de dendritos diminui, perdendo, assim, as sinapses, alterando a neurotransmissão, piorando a comunicação do sistema nervoso. Entretanto, em decorrência da plasticidade cerebral, pode ocorrer aumento da densidade dos dendritos assim como seu prolongamento, como uma reação de manutenção da função cerebral. Nos quadros demenciais, a perda dendrítica é acentuada e progressiva diminuindo a plasticidade e a dinâmica dos processos cerebrais. Além das alterações do SNC, há também a alteração dos nervos periféricos e da musculatura. As células do corno anterior da medula diminuem e ocorre redução da mielina nos nervos sensoriais. As consequências dessas mudanças incluem perda da sensação vibratória, do tato e da dor, assim como a disfunção autonômica, a qual afeta a reatividade pupilar, a regulação da temperatura corporal e o controle vascular cardíaco e periférico. Parte da cognição pode sofrer certa deterioração nas pessoas idosas saudáveis, como a velocidade do processamento cognitivo, menor destreza para executar movimentos finos e problemas com a memória recente. ➔ Alterações bioquímicas: A comunicação celular dentro do sistema nervoso se dá por meio de neurotransmissores. A transmissão química requer uma série de etapas: síntese do neurotransmissor no terminal nervoso pré-sináptico; depósito Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2016 do neurotransmissor em vesículas; liberação do neurotransmissor para o espaço sináptico; presença de receptor específico na membrana pós-sináptica; ligação do neurotransmissor ao receptor; liberação do neurotransmissor para a ação que pode ser de inibição ou de estimulação. Além do número e integridade celular, a função dos neurônios depende de suas conexões com outras células e da disponibilidade do neurotransmissor específico. Na mesma célula, podem coexistir o neurotransmissor e o peptídio que modulará a ação do neurotransmissor. O equilíbrio dessas ações é fundamental para a manutenção da função do sistema nervoso. O comprometimento das funções está mais ligado ao desequilíbrio desse processo do que a alteração de um neurotransmissor isoladamente. Além disso, cada neurotransmissor tem seu tempo de envelhecimento. Por isso, o desequilíbrio dessas substâncias ocorre anos antes da detecção clínica da doença. Aminas Aminoácidos Peptídeos Outros Acetilcolina Glutamato Eucefalina Óxido nitrico Catecolaminas Aspartato Colecistocinina Monóxido de carbono Norepinefrina Glicina Substância P Zinco Epinefrina GABA VIP Sinapsinas Dopamina Taurina Somatostatina Moléculas de adesão celular Serotonina Histamina TRH Neurotropinas Outros ➔ Alterações metabólicas e circulatórias: além dos neurotransmissores, outras substâncias estão alteradas no SNC. No cérebro, há diminuição tanto da água extracelular quanto da intracelular; lentidão da síntese proteica; aumento na oxidação das proteínas e sua glicolização, com aumento do acúmulo intraneural (emaranhados neurofibrilares); diminuição da síntese lipídica pela variação dos substratos lipídicos; alteração na membrana lipídica e na condução nervosa; alterações circulatórias relacionadascom a aterosclerose; diminuição do fluxo sanguíneo cerebral e da utilização da glicose. Componentes alterados no SNC com o envelhecimento Água total Espaço extra e intracelular Lipídios DNA, RNA e proteínas Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2016 Aminoácidos Carboidratos Circulação Metabolismo energético Oxigênio Reentrada de glicose Barreira hematencefálica O cérebro produz sua energia de oxidação anaeróbia da glicose. O fluxo sanguíneo e o consumo de oxigênio são iguais no adulto jovem e no idoso na ausência de doenças. Entretanto, na presença de aterosclerose, o fluxo sanguíneo é reduzido e o cérebro, para se proteger, extrai mais oxigênio do sangue. Isquemia, hipoxia e hipoglicemia ativam os receptores glutamato induzindo toxicidade com consequente morte neuronal. A barreira hematencefálica protege, por meio do endotélio, a entrada de substâncias tóxicas do sangue no cérebro. Com o envelhecimento, essa barreira torna-se permeável a muitas substâncias, podendo ser uma das causas de demência. Apesar das alterações o SNC se mantêm integro graças à sua plasticidade e à sua capacidade de compensar e reparar os danos ocorridos. ➔ Marcha, postura e equilíbrio: o SN participa de todas as funções orgânicas. Uma das mais importantes para a pessoa idosa é o controle da marcha e do equilíbrio. A instabilidade postural representa um dos gigantes da geriatria devido às suas complicações. Várias são as estruturas centrais e periféricas responsáveis por essa função de independência motora. Estruturas e fatores responsáveis pela marcha e equilíbrio Córtex cerebral Gânglios da base Cerebelo Sistema vestibular Visão Propriocepção Sistema límbico Medula espinhal Musculatura esquelética Ossos Articulações Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2016 Hormônios Circulação sanguínea Nutrição Atividade física Com o avanço da idade, a marcha se altera. Na maioria das vezes a mulher, tanto adulta jovem quanto idosa, tem um desempenho pior quando comparada ao homem. É comum uma certa hesitação no andar, menor balanço dos braços e passos menores. Ao mudar de direção no caminho, faz a volta com o corpo em bloco. A postura típica, mais rígida, como se estivesse em alerta para se defender de alguma queda, caracteriza-se pela base alargada, retificação da coluna cervical, um certo grau de cifose torácica, flexão do quadril e dos joelhos. Esse conjunto de fatores indica piora da estabilidade, podendo até nos fazer pensar em parkinsonismo. A assimetria dos passos faz pensar em artrite ou hemiplegia; a falta de movimentos dos ombros em parkinsonismo; aumento da base em comprometimento do cerebelo; uma flexão mais acentuada do tronco pode revelar dificuldade de visão ou de propriocepção ou algum dano no sistema vestibular. Para vencer essas dificuldades, o idoso diminui o tamanho dos passos e anda mais devagar. O grande problema nos distúrbios da marcha é a queda com todas as complicações posteriores. A prática regular de exercícios físicos é uma forma de driblar essas modificações impostas pela natureza trazendo ainda benefícios tanto neurológicos quanto mentais, promovendo sensação de bem-estar e de saúde. ➔ Sono: o marca-passo circadiano está no hipotálamo acima do quiasma. O ciclo sono-vigília se modifica com o envelhecimento. Há a tendência de dormir mais cedo e acordar mais cedo. As queixas de insônia, sonolência diurna, despertares durante a noite e sono pouco reparador são frequentes. Isso ocorre porque existem dois tipos de sono:No idoso, o sono REM não se altera Já no sono não REM ocorre aumento dos estágios 1 e 2 (facilidade no despertar) e diminuição dos estágios 3 e 4 que são exatamente os dois períodos de sono mais profundo. Os períodos de apneia ocorrem no sono REM. São mais frequentes nos idosos, particularmente, no homem idoso e obeso. Durante uma noite, um homem de 24 anos faz, em média, cinco períodos de apneia, enquanto que um aos 74 anos chega a 50 vezes. Isso leva a um sono entrecortado, pois a pessoa acorda para restabelecer a respiração. Com a noite Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2016 mal dormida, ocorre sonolência durante o dia, mal humor, diminuição da memória, cefaleia e até depressão. Podem ser observadas nesse período arritmias cardíacas e hipertensão pulmonar. Não se sabe se essas alterações do sono, especialmente a hipoxia noturna, causam efeitos adversos na função cerebral. Outra consequência da alteração da respiração durante o sono é a ocorrência do ronco. Outro distúrbio do sono observado é a síndrome das pernas inquietas. É um desconforto sentido a cada 30 segundos durante uma grande parte da noite. Parece que corresponde a uma incoordenação entre a excitação e a inibição motora. A hipófise secreta melatonina, um hormônio derivado do neurotransmissor serotonina. Sua secreção é regulada pelo ritmo circadiano e ajuda na sincronia interna das funções orgânicas. Nos idosos, ela está baixa. E não estudo que mostre efeitos da reposição de melatonina em idosos. ➔ Memória: as partes do cérebro responsáveis pela memória envolvem o hipocampo, o tálamo, o córtex temporal, frontal e pré-frontal e o cerebelo. Os neurotransmissores, como a acetilcolina (ACh) e o glutamato, transmissor excitatório que atua no cérebro e na medula espinal, estão envolvidos nos processos de memória e aprendizado. É atribuído ao glutamato acúmulo de radicais livres nos neurônios com consequente degeneração neuronal. O ácido g-aminobutírico (GABA) é o principal neurotransmissor inibitório no cérebro. O equilíbrio entre o glutamato – excitatório – e o GABA – inibitório – é essencial para o funcionamento normal do SNC. É importante reconhecer as principais categorias em que as habilidades da memória são agrupadas. A memória pode ser dividida, de acordo com o tempo que ela é guardada, em memória a curto prazo, longo prazo, memória prospectiva e memória remota. Também pode ser dividida de acordo com o tipo de material arquivado – memória visual, verbal, para fatos ou eventos ocorridos ou assistidos pela pessoa. Ainda pode ser vista de acordo com o processo envolvido na codificação do arquivamento, o próprio arquivo e a recuperação do arquivo. As memórias reflexa medular, sensorial e implícita pouco se alteram com o envelhecimento. Já a episódica começa a diminuir por volta dos 30 anos e declina, progressivamente, enquanto a semântica responsável pela recordação de nomes, palavras e memória espacial pode ser mantida por toda a vida. Ainda não se sabe a combinação dos neurotransmissores responsáveis pela atividade da memória. Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2016 Três tipos (de acordo com o tempo guardado) Sensorial – a imagem é lembrada em menos de um segundo Primária (a curto prazo) – a informação é retida durante alguns minutos Secundária (a longo prazo) – a informação pode permanecer para sempre Cinco tipos Não declarativa ou reflexa medular – condicionada, não consciente Perceptiva ou sensorial – responsável pelo processamento sensorial Implícita – responsável pelas habilidades motoras Declarativa – Explícita episódica – lembra de um evento autobiográfico Declarativa – Explícita semântica – lembra de fatos ocorridos no mundo Sistema respiratório ➔ Alterações morfológicas no tórax e pulmões com o envelhecimento: com o envelhecimento, há grandes modificações na arquitetura e função pulmonar. Os primeiros sinais de piora da respiração pulmonar já podem ser vistos por volta dos 25 anos. Os pulmõesse tornam mais volumosos, os ductos e bronquíolos se alargam e os alvéolos se tornam flácidos com perda do tecido septal. A consequência é o aumento de ar nos ductos alveolares e diminuição do ar alveolar com piora da ventilação e perfusão. Entretanto, não há interferência na capacidade pulmonar total. Alterações pulmonares com o envelhecimento Aumenta espaços aerados Diminui superfície de troca gasosa Perda do tecido de suporte das vias respiratórias periféricas, diminuindo a elasticidade alveolar, chamado de enfisema senil (não mais) Aumenta tecido fibroso Modificações do surfactante pulmonar Sinais precoces de envelhecimento pulmonar Diminui capacidade máxima respiratória Diminui progressivamente a pressão parcial de O2 Perda de elasticidade pulmonar Enfraquecimento da musculatura pulmonar Diminui elasticidade da parede torácica Aumenta rigidez da estrutura interna pulmonar Diminui volume pulmonar expirado Fadiga fácil Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2016 Colaboram para o declínio da capacidade respiratória os maus hábitos de vida, a população do local de moradia e trabalho e as doenças concomitantes. ➔ Respiração: A inspiração e expiração se dão da mesma forma do adulto. Na inspiração, participam os músculos intercostais externos que elevam as costelas e o diafragma, responsável por 75% do aumento do volume torácico durante a respiração de repouso. A expiração se faz de forma passiva, mas envolve os músculos intercostais internos que, ao se contraírem, puxam as costelas para baixo e para dentro, diminuindo o volume torácico. Caso precise, a musculatura abdominal e dos ombros pode participar como músculos auxiliares dos movimentos respiratórios. Além das alterações citadas, ocorre falha no controle central (medula e ponte) e nos quimiorreceptores carotídeos e aórticos com diminuição da sensibilidade a pCO2, pO2 e ao pH, limitando a adaptação da pessoa idosa ao exercício físico. A maioria dos músculos sofre um certo grau de sarcopenia (perda de massa e força muscular), daí a capacidade da função pulmonar piorar em algumas pessoas pela diminuição da força e da resistência da musculatura respiratória. Todas as modificações do aparelho respiratório são lentas, mas progressivas. A partir dos 25 anos a Vo2 máxima diminui em 5 ml/kg/min/década. O tórax se torna enrijecido devido à calcificação das cartilagens costais e os pulmões distendidos pela diminuição da capacidade das fibras elásticas retornarem após a distensão na inspiração. Com isso o volume pulmonar e a capacidade ventilatória diminuem. A capacidade vital pode chegar a diminuir 75% entre a 2 a e a 7 a décadas, enquanto o volume residual aumenta em torno de 50%. A consequência é uma inadequada oxigenação do sangue enquanto a pCO2 não se altera. ➔ Surfactante: sua está diminuída nos idosos. Na deficiência do surfactante, os alvéolos poderão colaborar na expiração fazendo atelectasias. O surfactante também tem função protetora impedindo a entrada de partículas e aumenta a capacidade dos macrófagos pulmonares destruírem bactérias. Ainda na deficiência de surfactante, há o aumento da permeabilidade alveolar, podendo levar ao edema pulmonar. Apesar de sua perda progressiva, a maioria dos idosos é capaz de levar uma vida normalmente ativa. Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2016 Sistema hematopoético Parece que o processo de envelhecimento é mais lento nas células hematopoéticas quando comparadas com as outras células. Especula-se que a reserva das células pluripotenciais possa ser poupada contribuindo para a explicação da longevidade do indivíduo. Já a função da medula óssea não se modifica. No nascimento, quase toda a medula óssea apresenta atividade hematopoética, mas desde a infância ela começa a ser progressivamente substituída por tecido adiposo. No adulto, sua atividade concentra-se na pelve e no esterno. Por volta dos 70 anos, a celularidade da medula óssea no osso ilíaco é 30% menor que no adulto. Apesar dessa modificação, a contagem celular no sangue periférico é mantida. ➔ Multiplicação celular: o potencial proliferativo da maioria das células-tronco hematopoéticas é limitado e diminui com o envelhecimento. Uma vez que a célula entre no ciclo de divisão torna-se mais suscetível a mutações devido à redução da fidelidade de reparo do DNA. A perda de telômero em tecidos normais começa no adulto jovem e progride, gradualmente com o envelhecimento. A perda sequencial do DNA telomérico da parte final do cromossomo a cada divisão celular poderia alcançar um ponto crítico que serviria de gatilho para o envelhecimento e para influenciar o equilíbrio entre renovação e multiplicação das células-tronco. O encurtamento do telômero é observado nos portadores da síndrome de Werner onde ocorrem alterações precoces do envelhecimento. Alterações hematológicas com o envelhecimento Diminui hemoglobina Diminui hematócrito Diminui número de hemácias Diminui resposta eritropoética à administração de eritropoetina Demora para iniciar eritropoese após vultuoso sangramento ➔ Eritropoese: as hemácias duram 120 dias e por isso exige renovação contínua. Embora o envelhecimento não seja causa de anemia, é observado mudança do perfil hematológico sugerindo uma exaustão das células-tronco hematológicas pluripotenciais, tornando os idosos mais suscetíveis a essa doença. Também ocorre aumento da produção de radicais livres, os quais alteram as funções celulares e a integridade de suas membranas. Com isso, as hemácias deformadas são retiradas de circulação e a medula óssea acelera a produção Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2016 em uma tentativa de reparar o dano. Entretanto, a aceleração desse processo pode alterar a composição das membranas das hemácias, não conseguindo o equilíbrio da renovação dessas células, podendo surgir anemia e agregação dos eritrócitos. Os principais moduladores hormonais da eritropoese são a eritropoetina (EPO), testosterona e IL-3, e não há alterações nos níveis dessas substâncias em idosos. O (feedback entre hemoglobina e eritropoetina está mantido, mas a secreção de EPO em resposta à anemia por deficiência de ferro está diminuída. Isso ocorre porque as citocinas pró-inflamatórias, como a IL-6, aumentam com o avanço da idade reduzindo a resposta das células-tronco. Há maior produção de IL-6 por monócitos, células T, células endoteliais e células ósseas. Sistema urinário Por volta dos 30 anos, a função renal começa a diminuir progressivamente, chegando a metade aos 85 anos. Aos 60 anos, o rim pesa em média 250 g, aos 70 anos, 230 g e aos 80 anos, 190 g. Paralelamente, ocorre uma diminuição do fluxo plasmático de 600 ml/min para 300 ml/min. A avaliação renal é feita por meio de simples exames de urina e sangue facilitando os estudos das alterações que acontecem com o envelhecimento. O rim pode ser afetado diretamente em caso de lesões do néfron ou indiretamente, em caso de doenças cardiovasculares. A lesão renal pode levar a alterações à distância, como distúrbios hidreletrolíticos e hipertensão arterial. O declínio da função renal pode levar a intoxicação medicamentosa, particularmente perigosa no idoso. ➔ Função renal: o glomérulo filtra o plasma formando o filtrado glomerular, o qual praticamente não tem proteínas. Em condições normais, 99% do filtrado é reabsorvido, havendo a produção de mais ou menos um litro de urina por dia. Podemos medir o filtrado por meio do (clearance plasmático e a excreção na urina de inulinaou creatinina, pois essas substâncias são filtradas, mas não são secretadas nem reabsorvidas. Uma pessoa jovem tem uma taxa de filtração em torno de 125 ml/min. A dosagem de inulina e creatinina são trabalhosas de se fazer, embora sejam parâmetros bons. Por isso, o clearance (liberação) da creatinina (ClCr) é calculado facilmente usando-se uma fórmula onde só precisamos saber o peso, a idade, o sexo e a creatinina plasmática do paciente e aplicar os dados seguindo a fórmula: Clearance de creatinina = (140−Idade )×Peso corporalemKg 72×creatininaplasmática emmg Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2016 Entretanto o resultado do ClCr para as pessoas idosas não é uma medida precisa, pois a creatinina é uma proteína muscular e pode estar diminuída, falseando possível comprometimento renal. como guia para ajuste de dose de medicamentos eliminados pela filtração glomerular, a equação de Cockcroft and Gault leva em conta a massa magra corporal (MMC). ClCr para homens = As mulheres têm 10% menos que os valores encontrados nos homens. O (clearance da creatinina para mulheres é o ClCr para os homens multiplicado por 0,85. A massa magra corporal é calculada de acordo com a fórmula abaixo: MMC para homens = 50 kg + 2,23 kg para cada 2,54 cm acima de 152,4 cm; MMC para mulheres = 45,5 kg + 2,3 kg para cada 2,54 cm acima de 152,4 cm. ➔ Diurese: O padrão do ritmo urinário apresenta-se modificado na pessoa idosa, que passa a eliminar água e eletrólitos mais a noite que durante o dia. Essa alteração, conhecida como poliúria noturna, ocorre por múltiplos fatores, como a diminuição da capacidade renal de concentração e conservação do sódio, assim como a alteração da função do sistema renina-angiotensina-aldosterona. Fatores que alteram o ritmo urinário na pessoa idosa Diminui capacidade de concentração renal Diminui habilidade de conservação de sódio Alterações nos receptores de ADH Diminui produção e excreção de ADH Modificações na produção e função de ANP (peptídeo natriurético atrial) ➔ Alterações das funções glomerular e tubular: As alterações ocorridas com o envelhecimento na função glomerular não comprometem o bem-estar da pessoa idosa. Entretanto não há reserva para seu pleno funcionamento em caso de sobrecarga. Sob estresse, como infecção ou dieta rica em proteína, a taxa de filtração glomerular piora significativamente, aumentando a permeabilidade celular com perda de proteína bem maior que os traços normalmente observados na urina. É possível manter a função tubular em nível suficiente ao longo dos anos. Entretanto, muitas pessoas idosas sofrem perda da habilidade de concentrar ou diluir a urina de tal monta que se tornam incapazes de equilibrar o organismo frente a uma desidratação ou a uma (140−Idade)×MMCemKg 72×creatinina plasmática emmg Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2016 sobrecarga hídrica. o problema de concentração urinária não é devido à diminuição do ADH e sim pela diminuição de resposta do túbulo coletor ao ADH. Para manter o funcionamento do rim adequadamente, a pessoa idosa deverá ingerir 2,5 a 3 l de líquidos ao dia. É difícil para essas pessoas seguirem tal orientação, pois, muitas vezes evitam, de propósito, beber líquidos por medo de sofrerem constrangimentos devido à incontinência. Existem outros fatores que corroboram para a dificuldade em manterem-se hidratados, como a diminuição do reflexo da sede, a solidão, a imobilidade e outros. Há diminuição da capacidade renal de concentração e conservação do sódio, estando os idosos mais propensos à hiponatremia e à hipopotassemia quando em uso de diurético ou na vigência de dietas restritivas. A ureia contribui para estabelecer um gradiente osmótico na medula renal e concentra a urina nos túbulos coletores. Como a pessoa idosa, muitas vezes, faz uma dieta pobre em proteínas e tem deficit na produção hepática de ureia, a uremia também pode estar diminuída. Sistema endócrino ➔ Tireoide: os valores de T4 e T3 estão em níveis normais baixos e os do TSH normais altos. O TSH elevado e T4 normal pode ser devido à manutenção da imunorreatividade do TSH nas análises laboratoriais, porém com ação biologicamente menos ativa. A diminuição dos hormônios tireoidianos, especialmente a conversão de T4 em T3 sugere uma ação protetora para o organismo contra o catabolismo levando à diminuição da taxa do metabolismo basal (46 kcal em homens de 14 a 16 anos para 35 kcal de 70 a 80 anos, e 43 kcal em mulheres de 14 a 16 anos para 33 kcal de 70 a 80 anos) e ao aumento progressivo do tecido adiposo corporal, o qual, metabolicamente menos ativo que a massa magra, diminui a demanda pelo hormônio tireoidiano, fechando o ciclo. Os hormônios tireoidianos estimulam o consumo de oxigênio em quase todos os tecidos e aumentam a taxa do metabolismo celular, contribuindo para a manutenção da temperatura corporal. Seu efeito calorigênico diminui com o aumento da idade, elevando a suscetibilidade de hipotermia nos idosos. A resposta ao calor também está comprometida devido à menor sudorese. A redução da resposta febril ao ataque de diferentes agentes se dá pela incompetência termorregulatória observada onde a participação dos hormônios tireoidianos junto com a resposta termostática do hipotálamo é fundamental. O aumento do colesterol sérico, assim como das lipoproteínas de baixa densidade Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2016 observadas no envelhecimento, podem ser devidas ao declínio da função tireoidiana. ➔ Paratireoide: as glândulas paratireoidianas secretam os hormônios paratireoidianos (PTH – reabsorção óssea, reabsorção renal de cálcio, e formação de VitD) e calcitonina, e parece que não alteram suas funções de forma marcante. Mulheres negras e asiáticas, pós-menopausa, apresentam baixos níveis de PTH e elevados níveis de cálcio em relação às mulheres brancas. Os homens mantêm baixos níveis desse hormônio, coincidindo com menor incidência de osteoporose que as mulheres. Já o aumento do PTH pode ser devido à piora do (clearance renal ou acúmulo de fragmentos biologicamente inativos. Pode ser ainda uma resposta compensatória pela redução de cálcio intestinal. Os níveis do cálcio sérico são mantidos ao longo da vida, porém o mecanismo da regulação muda com o avanço da idade. a manutenção dos níveis plasmáticos do cálcio, na infância e na fase adulta, é mantida por meio da ingesta de cálcio sem perda óssea. Na idade avançada, a calcemia é mantida pela reabsorção do cálcio ósseo, mais do que pela absorção intestinal do cálcio ofertado pela dieta ou pela reabsorção do mineral pelo rim. Uma explicação para essa mudança pode ser uma diminuição na capacidade do PTH de estimular a produção da forma ativa da vitamina D, a qual estimula a absorção de cálcio intestinal. Embora a reabsorção óssea seja reconhecida quando o PTH está elevado, existem evidências de que a administração intermitente do PTH aumenta a força mecânica e a massa óssea pela transformação das células precursoras em osteoblastos. Esse hormônio também aumenta a formação óssea, prevenindo a apoptose dos osteoblastos. ➔ Hipófise: com o envelhecimento, a hipófise aumenta de volume e as alterações bioquímicas que ali ocorrem variam de indivíduo para indivíduo. Os níveis de melatonina, tanto diurnos quanto noturnos, diminuem na maioria das pessoas e interferem no sono, visto que esse hormônio tem efeito hipnótico. Além disso, ele possui uma ação protetora contra os danos oxidativos. ➔ Pâncreas: as alterações morfológicasobservadas são pequenas no pâncreas com o envelhecimento, o mesmo não ocorre com os hormônios. É esperado um leve aumento da glicemia de jejum relacionado com a idade (1 mg/dl/década). Para os idosos ativos pode não haver essa diferença. Entretanto, após ingesta Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2016 de alimentos, a glicemia alcança níveis mais elevados e o tempo de retorno ao normal é mais longo quando comparado com adultos jovens. A intolerância à glicose com o envelhecimento é devido a vários fatores além da diminuição da insulina. Os mecanismos que levam ao surgimento da intolerância à glicose com o envelhecimento ainda não estão completamente esclarecidos. O fato é que ocorre menor resposta dos tecidos à glicose e à insulina. Fatores responsáveis pela intolerância à glicose com o envelhecimento Alterações nos receptores de insulina Diminui número das unidades transportadoras de glicose Aumenta proporcionalmente secreção de pró-insulina em relação à insulina Diminui musculatura e aumenta tecido adiposo Diminui atividade física Aumenta gluconeogênese hepática Aumenta níveis de glucagon Trato gastrintestinal ➔ Boca: Como as pessoas idosas vão mais ao médico do que ao dentista, é importante que identifiquemos precocemente problemas orais para o devido encaminhamento, evitando não só problemas na boca como também as repercussões sistêmicas por eles causados. A boca está para o corpo assim como o fundo de olho está para a circulação. A Organização Mundial da Saúde define saúde oral pela presença de, no mínimo, 20 dentes. ➔ Caries: As cáries dentárias continuam sendo um dos principais problemas dos idosos, inclusive na raiz pela retração das gengivas, raramente encontradas nos adultos jovens. As cáries radiculares e coronais foram preditores significativamente mais importantes de perda dentária do que a condição periodontal. Esse fato justifica a aplicação de flúor nos idosos em paralelo à adição de flúor na água. A baixa mineralização óssea observada em várias partes do esqueleto, na boca, manifesta-se pela perda do osso alveolar que, associado à gengivite, constitui outra causa da perda dentária em adultos. Por volta dos 40 anos, a circunferência da arcada dentária poderá estar 1 centímetro menor, fazendo com que os dentes tenham maior atrito entre si, com lesão do esmalte, provocando cáries e fazendo aparecer o amarelado da dentina. Esse amarelado associado às manchas do esmalte originam o Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2016 escurecimento dos dentes que vemos com o envelhecimento. A maior alteração na maxila e na mandíbula com a idade é consequente às extrações dentárias com atrofia do osso alveolar trazendo como resultado a diminuição da altura da face, mudando seu perfil. Contribui para essa alteração a diminuição da força de mastigação pela redução da massa muscular do masseter e pterigoide. as cáries ou a periodontite não são importantes para a perda dentária. Os fatores socioculturais e econômicos, o acesso à assistência e a disponibilidade da mesma é que constituem a verdadeira barreira para mantermos uma dentição saudável. ➔ Mucosa oral: A mucosa oral se torna fina, lisa e seca. Perde a elasticidade e parece edemaciada. A língua também é lisa devido à perda das papilas podendo trazer alterações no paladar e sensação de queimação. Isso pode ocorrer também devido à deficiência de ferro e das vitaminas B. É comum o aparecimento de varicosidades, principalmente na língua, não estando associada a outras doenças. A capacidade de cicatrização da mucosa oral mantêm-se inalterada. ➔ Glândulas salivares: A função das glândulas salivares permanece sem alterações na ausência de doenças e uso de medicamentos. Associada à dentição estável, há manutenção adequada da mastigação e da deglutição dos alimentos. Quando a mastigação está prejudicada, pode ocorrer comprometimento da saúde geral e do bem-estar. A xerostomia (secura da boca), associada a muitos medicamentos que o idoso toma, pode nem ser mencionada pelo paciente ou não ser valorizada pelo examinador. Porém, alguns pacientes se queixam frequentemente desse desconforto. O uso de estimuladores das glândulas salivares ou os substitutos de saliva aliviam esse sintoma. Na presença de estomatodinia (ardência na boca), pensar em baixa de vitamina do complexo B ou candidíase oral subclínica. A queilite angular, inflamação com ulceração nas comissuras, pode ser por má oclusão da mandíbula, como nos pacientes edentados (sem dentes) ou por deficiência de vitaminas e/ou xerostomia. Pode ser porta de entrada para fungos e bactérias levando a infecções mais sérias, como celulite de face. Um simples exame oral digital poderá identificar infecções, lesões e até câncer. Uma prótese dentária bem-adaptada, pelo trauma contínuo, poderá provocar uma lesão. Devemos Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2016 estimular a escovação diária para prevenção das cáries, da gengivite e das doenças periodontais. ➔ Orofaringe: O ato de deglutir é bastante complexo, estando envolvidos a boca, a faringe e o esôfago coordenados por seis nervos cranianos. Todas essas estruturas ainda são organizadas no centro da deglutição do sistema nervoso central para seu perfeito funcionamento. Embora alterações funcionais possam ocorrer, elas não causam problemas com o envelhecimento. ➔ Esôfago: A motilidade esofágica pode ser anormal no idoso pela redução da amplitude da contração muscular após a deglutição e pelas contrações terciárias, raramente associadas a queixas. Por serem assintomáticas, o termo presbiesôfago foi abandonado por alguns autores. Em 35% das pessoas entre 50 e 75 anos de idade, pode ocorrer a incompetência esfincteriana, permitindo o refluxo do conteúdo ácido do estômago para a porção distal do esôfago. Em consequência, pode surgir dor torácica, por vezes exigindo diferenciação com problemas cardíacos, e sensação de queimação, pirose. ➔ Estômago: há diminuição da secreção do ácido clorídrico e de pepsina, dificultando a digestão de alimentos, principalmente, os ricos em proteína. Outras enzimas também estão envolvidas diretamente com a digestão como, por exemplo, a gastrina. Elas sofrem modificações em todas as fases desde a síntese, passando pela liberação e resposta devido às alterações dos receptores. Ainda pode ocorrer a ruptura da barreira da mucosa gástrica, permitindo que o ácido clorídrico e a pepsina da luz do estômago entrem nas células da mucosa destruindo-as. O rompimento dessa barreira acontece também com o uso de anti-inflamatórios, álcool, cafeína e na presença de bactérias. Corroborando com a lesão celular a prostaglandina, um lipídio que estimula a secreção de bicarbonato protegendo as células da mucosa, está diminuído. Além disso, observa-se dificuldade do esvaziamento gástrico pela diminuição de sua mobilidade normal, a gastroparesia. Em decorrência de todas essas modificações fisiológicas, o estômago fica mais exposto a lesões, como a gastrite e a úlcera péptica sendo responsáveis por metade dos sangramentos digestivos altos ocorridos nos pacientes acima de 60 anos. Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2016 ➔ Intestino delgado: Com o avanço da idade, as vilosidades que cobrem toda a mucosa intestinal, em camada única de epitélio colunar, diminuem de altura. A absorção de várias substâncias está diminuída, dificultando a compensação nos casos de carência de algum elemento, como acontece com as pessoas antes dos 60 anos. Más-formações vasculares são comunsno trato digestivo alto, provocando sangramentos. A nomenclatura utilizada para essas alterações é confusa, pois utiliza vários termos indistintamente, como angiodisplasia, malformação arteriovenosa e ectasia vascular. ➔ Intestino Grosso: As alterações encontradas no intestino grosso são praticamente exclusivas do envelhecimento. A mais prevalente é a presença de divertículos que podem variar de 3 mm a 3 cm, sendo encontrados em 30 a 40% das pessoas acima de 50 anos. Eles surgem devido a um aumento da pressão intraluminal herniando a mucosa entre as camadas das fibras musculares lisas. Complicam com sangramentos digestivos baixos e processos inflamatórios, a diverticulite. Com a alteração para uma dieta com mais fibras, a peristalse se dá normalmente sem aumentar a pressão dentro da alça intestinal. A constipação intestinal, uma das queixas mais comuns, ocorre por alimentação pobre em fibras, baixa hidratação oral e falta da prática de exercícios físicos regulares. A diminuição do tônus e da força do esfíncter anal associados à menor complacência retal aumentam a chance de incontinência fecal nas pessoas idosas. ➔ Pâncreas: O pâncreas diminui de tamanho, endurece pelo aumento da fibrose e torna-se mais amarelado pelo depósito de lipofucsina (pigmento de digestão incompleta de restos celulares). Produz o suco pancreático, auxiliar na função digestiva, onde se encontram as enzimas amilase, lipase e as proteases, sendo a tripsina a mais importante. A amilase se mantém em volume constante, porém a lipase e a tripsina têm a sua produção bastante diminuída. A despeito da queda dramática da produção dessas enzimas, não há expressão clínica, pois precisamos somente de 1/10 da produção da secreção pancreática para fazermos uma digestão normal. ➔ Fígado: durante a vida os hepatócitos se dividem duas a três vezes apenas e sua capacidade de regeneração com o envelhecimento ainda é controversa. Entre os 24 e 90 anos o fígado diminui de volume em aproximadamente 37% e Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2016 também diminui seu fluxo sanguíneo em 35%. Como no pâncreas, escurece pelo depósito da proteína lipofucsina, o qual também é visto em outros órgãos, notadamente no cérebro devido à diminuição da proteólise intracelular própria do envelhecimento. O sistema retículo endoplasmático liso dos hepatócitos diminui e está correlacionado com a redução da capacidade de metabolizar medicamentos contribuindo para aumentar a suscetibilidade do idoso à intoxicação por medicamentos. Já a síntese proteica é mantida. A síntese do colesterol diminui e há redução da bile total. Como a função da bile é garantir uma boa digestão e absorção dos lipídios, essa diminuição da produção biliar hepática pode agravar a deficiência de vitaminas lipossolúveis, já comprometida nas pessoas idosas que, por diferentes motivos, alimentam-se mal, fazendo dieta pobre em vitaminas lipossolúveis. Apesar dessas modificações as provas de função hepática não se alteram. Alterações psicológicas que acometem idosos O envelhecimento psíquico ou amadurecimento não é naturalmente progressivo nem ocorre inexoravelmente, como efeito da passagem de tempo. Depende também da passagem do tempo, mas, sobretudo, do esforço pessoal contínuo na busca do autoconhecimento e do sentido da vida. O autoconhecimento, o estudo da estrutura e dinâmica do psiquismo e a superação dos conflitos do cotidiano são indispensáveis para que se possa atingir a independência psíquica, condição indispensável para a sabedoria. O amadurecimento é conquista individual e se traduz pela modificação dos valores de vida ou pela aquisição da consciência (para que vivemos?). “Só é consciente a pessoa que se conhece, que conhece os reais motivos do seu viver, sua capacidade de controle desses motivos e de organização desse controle”. É a personalização do indivíduo, harmonizando-o consigo mesmo e com o mundo. Com o envelhecimento psíquico há, portanto, redução da vulnerabilidade. A pessoa idosa torna-se suficientemente sábia para aceitar a realidade, tolerar a dor ou a perda da independência biológica, pois seus dispositivos de segurança são cada vez mais eficazes na relação com o mundo. É a liberdade plena ou independência psíquica, pois compreende o sentido da vida (para quê). Os valores que regem a sua vida (filosofia de vida) são cada vez mais elevados, racionais, inteligentes, enfim, conscientes. O idoso “entrega-se à existência com a pureza das crianças, mas sem a sua ingenuidade, com o vigor do adolescente, mas sem a sua pugnacidade, com a sensatez do homem maduro, Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2016 mas sem o seu orgulho. Torna-se cidadão do Universo com a astúcia da raposa e a malícia da serpente, o que faz dele um sábio”. A adultez velha (acima de 60 anos) ou velhice é a grande fase da vida, na qual o indivíduo, agora pessoa, atinge o grau máximo de compreensão do mistério da vida (consciência do absoluto) e do seu papel na unificação do universo. Vive a liberdade plena, permitindo-lhe compreender o lugar e a parte que cabem ao mal em um mundo em evolução. O sentido ético da sua existência permite a superação dos pre conceitos e a participação ativa na evolução das pessoas e dos grupos aos quais esteja ligado. Está, assim, cumprido o destino do ser humano adulto, cuja fé em si mesmo e no destino do mundo o faz viver em um permanente comungar e servir. A velhice é um processo contínuo e inevitável caracterizado por um conjunto complexo de fatores psicológicos, específicos de cada individuo. Os aspectos psicológicos, nesta etapa da vida, são muitos e por vezes difíceis de se lidar. A emoção torna-se mais complicada de gerir, a motivação que em alguns casos deixa de existir e é substituída por desilusão e a própria personalidade das pessoas idosas se altera porque há um desfasamento entre o ritmo e ao estilo da vida passada e o presente. Por vezes é difícil aceitar que já não se é a mesma pessoa pois já não se consegue fazer determinadas coisas como antes fazia. O “não envelhecer psicologicamente” por vezes torna-se complicado e pode levar à frustração, não usufruindo assim da vida em pleno e com qualidade. Os Idosos por vezes sentem dificuldade em adaptarem-se a situações novas. Planear o futuro e a motivação para se viver regridem e deixam de acreditar num futuro, o que lhes causa medo e vontade de não viver. À medida que envelhecemos, deparamo-nos com o surgimento de doenças crônicas deteriorando a saúde, a viuvez, morte de amigos e parentes próximos, essas são perdas que marcam nossas vidas. Assim como os papéis que desempenhamos que já não são valorizados, a aposentadoria e como consequência a dificuldade financeira, o isolamento, tudo isso afeta a nossa autoestima, desencadeando na maioria das vezes uma crise. Nesta fase da vida, o apoio dado por todas as pessoas deveria ser incondicional. A adaptação tem de ser bem-sucedida para que surja um envelhecimento feliz, pois a sociedade criou um preconceito negativo em volta do idoso e viver só não é fácil principalmente sem apoio. Devendo ensinar-se a aceitar o evoluir natural das “coisas” e saber viver o cotidiano. Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2016 São muitas as alterações psicológicas que o ser humano sofre com o passar dos anos. Assim sendo, e depois de várias pesquisas, apresento alguns itens sobre o tema, matéria dada em Psicologia do Envelhecimento: ➔ Certo declínio na manifestação da afetividade, dos interesses, das acções, das emoções e dos desejos; ➔ Prejuízo da memória de fixação,como, por exemplo, esquecer nomes de pessoas, coisas, ou mesmo onde colocou determinados objetos; ➔ Acentuação das características da personalidade. Traços do tipo, por exemplo: rigidez, egocentrismo, desconfiança, irritabilidade, avareza, dogmatismo, autoritarismo, que tenham existido na juventude, tendem a exacerbar-se; ➔ Dificuldade na assimilação ou mesmo aversão a ideias, coisas e situações novas; ➔ Apego maior aos valores já conhecidos e convencionados, aos costumes e às normas já instituídas; ➔ Depressão/ alteração de humor; É preciso ter em conta que todas estas manifestações podem transformar-se em graves patologias, impedindo o Idoso de viver a sua vida de maneira independente. Também é importante saber quais os aspectos psicológicos de risco no Idoso, como por exemplo: ➔ Deterioração gradual dos processos sensoriais; ➔ Solidão e/ou depressão; ➔ Risco de suicídio; ➔ Doenças mentais (Alzheimer); ➔ Baixa autoestima; ➔ Violência (em casa ou na rua) – física, psicológica, neglicencia ou financeira. Tendo em conta estas alterações psicológicas, o ser humano pode envelhecer bem, dependendo da maneira como aceita o seu desenvolvimento para geronte. É preciso ter em conta que o equilíbrio entre o envelhecimento psíquico e biológico é importante para melhorar a qualidade de vida e as relações com os outros. O processo de envelhecimento é diferente e indiferenciado de pessoa para pessoa. A velhice bem-sucedida é a consequência de uma vida bem-sucedida, ou seja, o processo de envelhecimento ocorre de forma natural na gravidez mãe e processa-se ao longo da vida. Envelhece-se desde que somos concebidos até a morte. O envelhecimento vai depender do estilo de vida que levarmos, dos hábitos e costumes praticados ao longo da vida. A fase de ser velho tem de ser pensada e valorizada por todos nós e, enquanto esse conceito não for valorizado pelo Idoso, a Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2016 sociedade também não o valorizará. É certo que a sociedade desvaloriza o Idoso e ao longo da vida não nos preocupamos com o processo de envelhecimento, a não ser quando estamos doentes ou quando os sintomas ou as mudanças ocorrem. Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2016 Metabolismo Ósseo O osso é um tecido dinâmico que é remodelado constantemente ao longo da vida. O arranjo do osso compacto e esponjoso proporciona força e densidade apropriadas tanto para a mobilidade quanto para a proteção. Além disso, o osso proporciona um reservatório para o cálcio, o magnésio, o fósforo, o sódio e outros íons necessários para as funções homeostáticas; abriga e regula a hematopoiese, proporcionando nichos para a proliferação das células hematopoéticas e a sua diferenciação. O esqueleto é vascularizado e recebe 10¢do débito cardíaco. A remodelação ósseo é feito por dois tipos de células: os osteoblastos que produzem matriz óssea, e os osteoclastos que a reabsorvem. Os componentes extracelulares do osso formam uma fase mineral sólida em íntima associação a uma matriz composta principalmente (90 a 95%) por colágeno tipo 1. A porção não colágenosa da matriz orgânica é heterogênea e contêm proteínas séricas como albumina e outras produzidas no local de funções desconhecidas. Algumas proteínas são as proteínas para ligação celular/sinalização (trombospondina, osteopontina e fibronectina), as proteínas ligantes de cálcio como a proteína gla da matriz e a osteocalcina, e proteoglicanos como biglicano e decorina. Algumas proteínas organizam- se em fibrilas colágenas, outras influenciam a mineralização e a ligação da fase mineral à matriz. A fase mineral é composta por cálcio e fosfato e se caracteriza melhor por uma hidroxiapatita precariamente cristalina. Essa fase é depositada inicialmente em íntima relação com as fibrilas colágenas e é encontrada em localizações específicas nos orifícios entre fibras colágenas. Essa organização do mineral e da matriz resulta em um material de duas fases capaz de suportar estresses mecânicos. Os osteoblastos sintetizam e secretam a matriz orgânica, e derivam de células de origem mesenquimal. Osteoblastos são encontrados na superfície do osso recém- formado. Conforme um osteoblasto secreta matriz, que é mineralizada, a célula é transformada em um osteócito, conectado com o suprimento sanguíneo por canalículos. Os osteócitos são a maioria das células do osso. Os osteócitos são os mecassensores que comunicam os sinais aos osteoblastos superficiais e aos progenitores pela rede de canalículos, atuando como principais reguladores da formação e reabsorção óssea. Os osteócitos secretam fator de crescimento de fibroblastos 2 (FGF23), que é regulador do metabolismo do fosfato. A mineralização da matriz, no osso trabecular (esponjoso) e nos ósteons (osteônios) do osso cortical compacto, começa logo depois que a matriz é secretada (mineralização primária), porém só é completada várias semanas depois ou após Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2016 períodos ainda mais longos (mineralização secundária). Embora a mineralização tire vantagem da alta concetração de cálcio e fosfato próximos da saturação no soro, a mineralização é um processo regulado que depende da atividade da fosfatase alcalina dos osteoblastos, que funciona hidrolisando os inibidores da mineralização. O Runx2 é um fator de transcrição que se expressa nos progenitores de condrócitos e dos osteoblastos, e nos condrócitos hipertróficos e nos osteoblastos maduros, regulando a expressão de várias proteínas importantes do osteoblasto, incluindo o rosterite (fator de transcrição necessário para a maturação do osteoblasto), osteopontina, sialoproteína óssea, colágeno tipo 1, osteocalcina e ligante de recptor- ativador de NfxB (RANK). A expressão do Runx2 é regulada pelas proteínas morfogênicas do osso (BMP). A molécula de sinalização parácrina do Indian hedgehog (Ihh) desempenha papel essencial no desenvolvimento dos osteoblastos. Vários fatores de crescimento afetam a função dos osteoblastos como os TGF-B, FGF 2 e 18, PDGF e IGF 1 e 2. Hormonios como paratormonio (PTH) e a 1,25- diidroxivitamina D ativam os receptores expressados pelos osteoblastos, garantindo a homeostase mineral e influenciando uma ampla variedade de funções das células ósseas. A reabsorção óssea é feita pelos osteoclastos, células multinucleadas que são formadas pela fusão de células que derivam do precursor comum dos macrófagos e osteoclastos. Fatores produzidos pelos osteoblastos ou pelas células estromais da medula óssea permitem aos osteoblastos. O fator estimulador de colônias de macrófagos (M-CSF) desempenha um papel crítico em várias etapas nessa via e acaba resultando em fusão das células progenitoras dos osteoclastos para formarem osteoclastos ativos multinucleados. O ligando do RANK, membro da família do TNF, se expressa na superfície dos progenitores dos osteoblastos e dos fibroblastos estromais. Em um processo de interações o ligante do RANK se liga ao receptor RANK sobre os progenitores dos osteoblastos, estimulando a diferenciação e a ativação dos osteoclastos, estimulando a diferenciação e a ativação dos osteoclastos. Um receptor chamariz solúvel, chamado de osteoprotegerina, pode se unir ao ligante do RANK, inibindo a diferenciação dos osteoclastos. Vários fatores de crescimento e citocinas (IL-1, 6 e 11, TNF e o IFN-y) modulam a diferenciação e a função dos osteoclastos. Amaioria dos hormônios que influenciam a função dos osteoclastos não agem diretamente pera essas células, porém influencia a sinalização do M-CSF e do ligante do RANK pelos osteoblastos. O PTH e a vitamina D induzem aumentos no número e na atividade dos osteoblastos, enquanto o estrogênio reduz o número e a atividade dos osteoclastos por esse mesmo mecanismo indireto. Já a calcitonina se une ao seu receptor sobre a superfície basal dos osteoclastos e inibe diretamente sua função. Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2016 A reabsorção feita pelos osteoclastos se processa em espaços bem delineados (lacunas de Howship), onde os osteoclastos se unem atráves de uma integrina especifica aB, ao componentes da matriz óssea, como a osteopontina. O osteoclasto forma uma barreia impermeável para a matriz subjacente e secreta prótons, através de uma ATPase especializada da bomba de prótons, que secreta ácido e solubiliza a fase mineral. A matriz óssea é reabsorvida no ambiente ácido adjacente à borda enrugada por proteases que atuam em um pH baixo, como a catepsina K. No embrião e na criança em crescimento, o osso se desenvolve por remodelamento e substituição da cartilagem previamente calcificada (formação óssea endocondral), ou é formado sem uma matriz cartilaginosa (formação óssea intramembranosa). Metabolismo do Cálcio Mais de 99% dos 1-2 Kg de cálcio presentes no corpo humano adulto estão localizados no esqueleto, onde proporciona estabilidade mecânica e funciona como um reservatório que se torna necessário ocasionalmente para preservar a concentração de cálcio no liquido extracelular (LEC). O acréscimo de cálcio esquelético se torna significativo pela primeira vez no terceiro trimestre de vida, é acelerado em toda a infância e a adolescência, alcança um pico no início da vida adulta e, gradualmente, declina daí em diante com ritmos que só raramente ultrapassam 1 a 2% ao ano. A concetração de cálcio ionizado no LEC deve ser mantida dentro de uma variação estreita, por causa do papel extremamente importante que desempenha em uma ampla gama de funções celulares, especialmente na atividade neuromuscular, na secreção e transdução dos sinais. Os níveis de cálcio livre citosólico intracelular são de cerca de 100 nmol/L e 10000 vezes mais baixos que a concentração de cálcio ionizado no sangue e no LEC. O cálcio citosólico tem função de sinalização. A concentração de cálcio de fora para dentro da célula promove o influxo rápido de cálcio através de vários canais de cálcio da membrana que podem ser ativados por hormônios, metabólitos ou neurotransmissores, modificando rapidamente a função celular. O controle da concetração de cálcio ionizado no LEC em geral é feito por ajustes nos ritmos de movimentação do cálcio através dos epitélios intestinais e renais. Esses ajustes são mediados por mudanças nos níveis de sanguíneos dos hormônios PTH e vitamina D. O cálcio ionizado no sangue suprime diretamente a secreção de PTH por ativar os receptores sensíveis ao cálcio nas paratireoides (CaSR). Além disso, o cálcio ionizado afeta indiretamente a secreção de PTH por seus efeitos sobre a produção de 1,25(OH)2D. Esse metabólito ativo da vitamina D inibe a produção de PTH por um Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2016 mecanismo incompletamente explicado de feedback negativo. A absorção passiva do cálcio não é saturável e aproxima-se de 5% de sua ingestão diária e a absorção ativa envolve a entrada apical de cálcio através de canais iônicos específicos, com a expressão controlada pela 1,25(OH)2D, variando de 20% a 70%. O transporte ativo do cálcio ocorre principalmente no intestino delgado proximal (duodeno e jejuno proximal). A regulação hormonal controlada por retroalimentação da eficiência absortiva intestinal resulta em uma absorção diária global de cálcio, constante de cerca de 5 a 7,5 mmol/dia (200 a 400 mg/dia). Os níveis sanguíneos aumentados de PTH e 1,25(OH)2D ativam a reabsorção óssea osteoclástica para obter do osso o cálcio necessário, o que resulta em perda progressiva de osso e equilíbrio negativo do cálcio. Os maiores níveis de PTH e 1,25(OH)2D também aceleram a reabsorção renal de cálcio e a 1,25(OH)2D acelera a absorção de cálcio no intestino. Metabolismo da Vitamina D A 1,25-diidroxivitamina D (1,25(OH)2D) é o principal hormônio esteroide envolvido na regulação da homeostase mineral. A vitamina D e seus metabólitos são mais hormônios e precursores hormonais que vitaminas pois podem ser sintetizadas por mecanismos endógenos. Em resposta a radiação ultravioleta da pele, uma clivagem fotoquímica forma a vitamina D a partir de 7-dehidrocolesterol. A produção cutânea de vitamina D é reduzida pela melanina e pelos altos bloqueadores solares produzidos da pela luz ultravioleta. A vitamina D de fontes vegetais existe na forma de vitamina D2 e a de fonte de animais existe na forma de vitamina D3. As duas formas possuem uma atividade biológica equivalente e são ativadas igualmente bem pelas hidroxilases da vitamina D em humanos. A vitamina D penetra na circulação, independe se foi absorvida pelo intestino ou sintetizada na pele, ligada na proteína carreadora de vitamina D, uma alfa-globulina sintetizada no fígado. Depois a vitamina D é 25-hidroxilada no fígado por enzimas semelhantes ao citocromo P450 nas mitocôndrias e nos microssomos. A atividade dessa hidroxilase não é regulada de forma rígida e o metabólito resultante, 25-hidroxivitamina D [25(OH)D], é a principal forma circulante e de armazenamento da vitamina D. E a maioria é transportada ligada a proteína carreadora de vitamina D. A segunda hidroxilação, necessária para a formação do hormônio maduro, ocorre no rim. A 25-hidroxivitamina-D-1a-hidroxilase é uma oxidase que função mista semelhante ao citocromo P450 controlada de forma rígida que se expressa nas células do túbulo Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2016 proximal do rim. O PTH e a hipofosfatemia são os principais indutores dessa enzima microssomal, já o cálcio, o FGF23 e o produto da enzima, 1,25(OH)2D, inibem essa enzima. A principal via de inativação dos metabólitos da vitamina D é uma etapa adicional de hidroxilação por parte de 24-hidroxilase da vitamina D, enzima expressa na maioria dos tecidos. A 1,25(OH)2D é o principal indutor dessa enzima, portanto, esse hormônio promove sua própria inativação, limitando dessa forma seus efeitos biológicos. Os metabólitos polares de 1,25(OH)2D são secretados e lançados na bile e reabsorvidos pela circulação êntero-hepática. O comprometimento dessa recirculação acarreta perdas aceleradas dos metabólitos da vitamina D. Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2016 Ações da vitamina D (1,25(OH)2D) A 1,25(OH)2D medeia seus efeitos biológicos se ligando a um membro da superfamília de receptores nucleares, o receptor da vitamina D (VDR). Esse receptor é da família que inclui os receptores dos hormônios tireoidianos, os receptores retinoides e os receptores ativados pelo proliferador de peroxissomo. O VDR se expressa em várias células e tecidos. As ações moleculares da 1,25(OH)2D foram estudadas mais extensamente nos tecidos que participam da homeostase mineral. Esse hôrmonio é o principal indutor de calbindina 9K, uma proteína ligadorado cálcio que se expressa no intestino, e considerada como desempenhando um papel importante no transporte ativo do cálcio através do enterócito. Os dois principais transportadores de cálcio expressos pelo epitélio intestinal TRPV5 e TRPV6, também SidneyFerreira de Moraes Neto - Med2020 - 2016 respondem à vitamina D. Por induzir a expressão desse e de outros genes no intestino delgado, a 1,25(OH)2D aumenta a absorção do cálcio, e foi também constatado que ela exerce várias ações importantes no esqueleto. O VDR é expressado nos osteoblastos, regulando a expressão de vários genes nessa célula. Esses genes incluem as proteínas da matriz óssea, osteocalcina e osteopontina, que sofrem uma regulação ascendente por parte de 1,25(OH)2D, e o colágeno tipo 1 que sofre uma repressão transcricional por parte de 1,25(OH)2D. A 1,25(OH)2D e o PTH induzem a expressão do ligante do RANK, que promove a diferenciação dos oesteoblastos e aumenta sua atividade, por se ligar ao RANK nos progenitores dos osteoclastos, assim como nas formas maduras dessas células. Esse é o mecanismo pelo qual 1,25(OH)2D induz a reabsorção óssea. O VDR é expressado na paratireoide e mostrou-se que a 1,25(OH)2D tem efeitos antiproliferativos sobre as células paratireoideas e suprime a transcrição do gene do paratormônio. A 1,25(OH)2D exerce efeito antiproliferativo sobre vários tipos de células, incluindo queratinócitos, células do câncer de mama e células do câncer de próstata. Osteoporose (OP) É uma doença caracterizada pela alteração da qualidade óssea e por sua baixa massa, podendo levar ao desenvolvimento de fraturas atraumáticas em homens e mulheres. A fratura não traumática tem sido definida como decorrente de um trauma causado por uma queda da própria altura ou de menor intensidade. No estado pré-clínico, a OP é caracterizada simplesmente pela baixa massa óssea sem fraturas, e, geralmente, é assintomática, não levando o paciente e o médico ao diagnóstico precoce. Para realizar o diagnóstico precocemente, temos a densitometria óssea (DO), método não invasivo e de rápida execução. Tratando-se de exame de grande exatidão e precisão, determinados cuidados técnicos se fazem necessários durante a sua realização. A osteoporose é uma das doenças osteometabólicas mais comuns em países desenvolvidos. As fraturas osteoporóticas afetam qualquer parte do esqueleto, exceto o crânio. Ocorrem mais comumente na porção distal do antebraço (fratura de Colles), vértebras torácicas e lombares e no fêmur proximal. O aumento da morbidade e da mortalidade pela OP está associado a custos econômicos significativos relacionados com a hospitalização, cuidados ambulatoriais, institucionalização, incapacidades e mortes prematuras. Definição Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2016 Osteoporose é uma desordem esquelética crônica e progressiva, de origem multifatorial, que acomete principalmente pessoas idosas, tanto homens quanto mulheres, geralmente após a menopausa. É caracterizada por resistência óssea comprometida, predispondo ao aumento do risco de fratura, à dor, à deformidade e à incapacidade física. A resistência óssea reflete a integração entre densidade e qualidade óssea, que, por sua vez é determinada por vários fatores: microarquitetura trabecular interna, taxa de remodelamento ósseo, macroarquitetura, acúmulo de microdanos, grau de mineralização e qualidade da matriz. É comum conceituar OP como sendo sempre o resultado de perda óssea. Entretanto, uma pessoa que não alcançou seu pico máximo durante a infância e a adolescência, por desnutrição ou anorexia nervosa, por exemplo, pode desenvolver OP sem ocorrência da perda óssea acelerada. Portanto, otimizar o pico de massa óssea na infância e adolescência é tão importante quanto a perda óssea no adulto. A OP é classificada como primária, subdividida em tipos 1 e 2 ou secundária: Epidemiologia A prevalência varia segundo a influência de vários fatores sobre a massa óssea e a facilidade de se realizar o diagnóstico, entretanto, atualmente, a literatura registra incidência de 50% para as mulheres na oitava década e 20% para os homens da mesma idade. O terceiro National Health and Nutrition Examination Survey (NHANES III) estimou que 12 milhões (41%) de mulheres americanas brancas, por volta de 50 anos, apresentam osteopenia, enquanto 5 milhões (15%) sofrem de OP. Para as de 80 anos, a incidência sobe para 70%. A prevalência de OP nas mulheres brancas mexicanas é Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2016 semelhante. Para as mulheres negras, a taxa é menor (8%), porém ainda substancial. Fisiopatologia O osso é uma forma rígida de tecido conjuntivo, formado por células, osteócitos, osteoblastos (Ob) e osteoclastos (Oc). Os osteócitos encontram-se embebidos em uma matriz proteica de fibras colágenas impregnadas de sais minerais, especialmente de fosfato de cálcio. A matriz se apresenta na fase orgânica, constituída de colágeno, proteínas e glicosaminoglicanos; na fase inorgânica, encontram-se, principalmente, hidroxiapatita (fosfato de cálcio) e menores quantidades de outros minerais. Os Ob e os Oc estão no periósteo e no endósteo, formando a matriz óssea. As fibras colágenas dão elasticidade, e os minerais, resistência. Na infância, dois terços da substância óssea são formados por tecido conjuntivo. Na velhice, são os minerais que predominam. Essa transposição de conteúdo leva a menor flexibilidade e aumenta a fragilidade do osso. Na composição do esqueleto, há aproximadamente 80% de osso cortical ou compacto, com funções mecânica e protetora, portanto mais resistente, e 20% de osso trabecular ou esponjoso, mais frágil, responsável pela função metabólica. Remodelação óssea Embora a imagem do esqueleto seja uma estrutura inerte, de suporte corporal, o osso é um tecido dinâmico, que está em remodelação constante, não uniforme, por toda a vida. O processo de remodelação é realizado pelos Oc e Ob, coordenado com fases de formação e reabsorção óssea, renovando o esqueleto e mantendo sua estrutura. A remodelação ocorre na face interna do osso e é realizada por um conjunto celular justaposto com os Oc, na frente, e os Ob, atrás, formando a unidade básica multicelular (UBM). A velocidade da destruição e reposição de osso velho ou danificado é determinada pelo número de UBM que está funcionando em dado momento. Geralmente, é maior no osso trabecular (esponjoso). Os osteoclastos são células diferenciadas da linhagem macrófago/monócito, multinucleadas, dirigidas para uma sequência de eventos que inclui proliferação, diferenciação, fusão e ativação. Esses eventos estão sob controle de hormônios e citocinas locais, junto ao microambiente ósseo. Interleucinas (IL-1, IL-6, IL-4, IL-7, IL-11, IL-17), fator de necrose tumoral (TNFa), fator de transformação do crescimento b (TGFb), prostaglandina E2 e hormônios atuam em conjunto para controlar os osteoclastos. Sidney Ferreira de Moraes Neto - Med2020 - 2016 RANKL é um membro da superfamília TNF, expressa pelos Ob e seus precursores imaturos. Essa citocina ativa seus receptores RANK, promovendo a formação e ativação dos Oc, prolongando sua sobrevivência por meio da supressão da apoptose. Os efeitos do RANKL são bloqueados pela osteoprotegerina (OPG), a qual atua como receptor solúvel, agindo como antagonista do RANKL. O equilíbrio entre RANKL e OPG é regulado pelas citocinas e hormônios e determina as funções dos Oc. Alterações da relação entre RANKL/OPG são críticas na patogênese das doenças ósseas reabsortivas. Deficiência de estrogênio, uso de corticosteroide, ativação das células-T (artrite reumatoide e outras) e doenças malignas (mieloma e metástase) alteram a relação RANKL/OPG, promovendo a osteoclastogênese,
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