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AULA 16 PROCESSO PENAL I DIREITO PROCESSUAL PENAL I AULA 16 Competência ratione personae; ratione loci; forum domicilii; competência pela natureza da infração. Pela prevenção. Pela distribuição. Causas Modificadoras da Competência e Seus Efeitos. Taxatividade. Conexão. Conceito. Espécies e subespécies. Efeitos. Continência. Conceito. Espécies: cumulação subjetiva e cumulação objetiva. DIREITO PROCESSUAL PENAL I AULA 16 Regras para fixação do forum attractionis. Exceções. Perpetuatio jurisdicionis, a prevenção e a desclassificação (arts. 74, § 3º, 2ª parte; 419 e 492, § 1º e 2º, CPP) no procedimento por crime da competência de júri. DIREITO PROCESSUAL PENAL I AULA 16 Competência pelo lugar da infração (arts. 70 e 71 do CPP) Segundo o art. 70 do CPP, a competência, em regra, é fixada de acordo com o local da consumação ou, se o crime for tentado, a competência é fixada de acordo com o local do último ato executório. Caso concreto da semana 9: Joca está sendo acusado pela prática de homicídio simples consumado. DIREITO PROCESSUAL PENAL I AULA 16 O crime foi praticado na Comarca X. Entretanto, a vítima foi levada para um hospital situado na Comarca Z, aonde veio a falecer. A denúncia foi oferecida pelo membro do Ministério Público em exercício na Vara Criminal do Júri na Comarca Z, local onde o crime se consumou, mas o Juiz declinou de sua competência para o Juízo Criminal do Júri da Comarca X. O Magistrado dessa comarca, invocando o art. 70 do Código de Processo Penal, suscitou conflito negativo de competência. Decida o conflito. Obs: Homicídio plurilocal, que é aquele que ocorre quando a conduta é praticada em um local e o resultado ocorre em outro local. DIREITO PROCESSUAL PENAL I AULA 16 Competência pelo domicílio do réu (arts. 72 e 73 do CPP) O art. 72 do CPP prevê um critério subsidiário, o qual apenas é aplicado quando não se conhece o local da consumação, havendo crime consumado, ou não se conhece o local do último ato executório, havendo crime tentado. DIREITO PROCESSUAL PENAL I AULA 16 O art. 72, §§ 1º e 2º, do CPP, traz critérios alternativos de difícil aplicação prática, mas de fácil entendimento. Exemplo: José, que mora quinze dias por mês no Rio de Janeiro e os outros quinze dias em Parati, durante uma viagem de ônibus, no trajeto Niterói-Itaperuna, pratica o crime de furto; não se sabe ao certo o local da consumação do furto, o qual só foi descoberto quando a vítima, ao descer em Itaperuna, sentiu falta de seus pertences; como não se sabe o local do furto, são igualmente competentes as comarcas do Rio de Janeiro e de Parati; se o juiz de Parati homologar a prisão em flagrante, ele fixará a competência de Parati. DIREITO PROCESSUAL PENAL I AULA 16 Exemplo: José, cujo domicílio é desconhecido, durante uma viagem de ônibus, no trajeto Niterói-Itaperuna, pratica o crime de furto; não se sabe ao certo o local da consumação do furto, o qual só foi descoberto quando a vítima, ao descer em Itaperuna, sentiu falta de seus pertences; é lavrado o auto de prisão em flagrante em Itaperuna, o qual é homologado pelo juiz de Itaperuna; como não se sabe o local do furto e não se sabe o domicílio do agente, a competência fica fixada em Itaperuna. DIREITO PROCESSUAL PENAL I AULA 16 Por fim, o art. 73 contempla uma exceção da exceção. A regra: conhecido o local da consumação ou do último ato executório, a competência é fixada neste local. A exceção: não se conhecendo o local da consumação ou do último ato executório, a competência é fixada no domicílio do réu. A exceção da exceção: no caso de ação exclusivamente privada, mesmo sendo conhecido o local da consumação ou do último ato executório, a competência é fixada no local da consumação ou do último ato executório e também é fixada no local do domicílio do agente, cabendo a vítima optar por um dos locais. DIREITO PROCESSUAL PENAL I AULA 16 Competência pela natureza da infração (art. 74 do CPP) Em se tratando de competência pela natureza da infração, é importante fazer a seguinte distinção básica: (a) competência do tribunal do júri: A competência do tribunal do júri é fixada para os crimes dolosos contra a vida, segundo o art. 5º, XXXVIII, da CF. DIREITO PROCESSUAL PENAL I AULA 16 (b) competência do juizado especial criminal: O juizado especial criminal foi previsto no art. 98, I, da CF, no âmbito da justiça estadual, com competência para os crimes de menor potencial ofensivo, os quais inicialmente não foram definidos pelo legislador. A discussão em torno da competência do juizado especial criminal, por fim, foi resolvida com a Lei 11313/06 que, alterando o art. 61 da Lei 9099/95, fixou a competência do juizado especial criminal estadual para todas as contravenções penais e para todos os crimes com pena máxima até dois anos. DIREITO PROCESSUAL PENAL I AULA 16 (c) competência da vara criminal singular: Por último, é preciso esclarecer que a competência da vara criminal singular é residual, ou seja, o que não for da competência do tribunal do júri e do juizado especial criminal, em regra, será da vara criminal singular, salvo exceções isoladas (ex. competência da auditoria militar, da justiça eleitoral etc.). DIREITO PROCESSUAL PENAL I AULA 16 Por fim, cabe o exame do art. 74, §§ 2º e 3º, do CPP. O art. 74, § 2º, do CPP, dispõe que, no caso de desclassificação da imputação, os autos serão enviados para o juízo competente, salvo se as normas de organização judiciária dispuserem em sentido contrário. O art. 74, § 3º, do CPP, só é melhor entendido quando se estuda o rito do tribunal do júri. DIREITO PROCESSUAL PENAL I AULA 16 Se o juiz, ao final do juízo da acusação, entender que deva desclassificar a imputação, com base no art. 419 do CPP, ele deixará de enviar a causa para os jurados, enviando-as para a vara criminal singular ou para o juizado especial criminal. Se o juiz, ao final do juízo da acusação, entender que deve enviar a causa aos jurados, ele proferirá a decisão de pronúncia. No dia do julgamento, se os jurados desclassificarem a imputação, os autos não serão enviados para a vara criminal singular ou para o juizado especial criminal. É que caberá ao próprio juiz que presidiu o julgamento proferir a sentença, como se estivesse numa vara criminal singular ou num juizado especial criminal. DIREITO PROCESSUAL PENAL I AULA 16 Competência por distribuição: O art. 75, caput, do CPP, prevê um critério de desempate a ser empregado quando, segundo as normas de organização judiciária, existe mais de um juiz igualmente competente. Para desempatar, é feita a distribuição, a qual vincula o juízo para os demais atos processuais. DIREITO PROCESSUAL PENAL I AULA 16 Competência por conexão ou continência: A conexão e a continência são critérios que modificam a competência. Esta modificação é realizada para que dois ou mais crimes ou dois ou mais réus sejam julgados na mesma oportunidade. O legislador criou critérios segundo os quais os crimes e os réus têm o mesmo processo e o mesmo julgamento. Dessa forma, cumprem-se dois objetivos principais: facilita-se a colheita da prova e evitam-se decisões contraditórias. DIREITO PROCESSUAL PENAL I AULA 16 A conexão pode ser classificada da seguinte maneira: (a) conexão subjetiva por simultaneidade: É o caso do art. 76, I, 1ª parte, do CPP: “se, ocorrendo duas ou mais infrações, houverem sido praticadas, ao mesmo tempo, por várias pessoas reunidas”. Aqui não se trata de concurso de agentes porque não há vínculo subjetivo entre os agentes. DIREITO PROCESSUAL PENAL I AULA 16 (b) conexão subjetiva por concurso: É o caso do art. 76, I, 2ª parte,do CPP: “se, ocorrendo duas ou mais infrações, houverem sido praticadas por várias pessoas em concurso, embora diverso o tempo e o lugar”. Neste caso, há vínculo entre os agentes, mas suas condutas são praticadas em locais distintos. (c) conexão subjetiva por reciprocidade: É o caso do art. 76, I, 3ª parte, do CPP: “se, ocorrendo duas ou mais infrações, houverem sido praticadas por várias pessoas, umas contra as outras”. Isso ocorre raramente e, nestes casos, a situação é curiosa porque os réus são, ao mesmo tempo, acusados e vítimas. DIREITO PROCESSUAL PENAL I AULA 16 (d) conexão objetiva para facilitar: É o caso do art. 76, II, 1ª parte, do CPP: “se, ocorrendo duas ou mais infrações, houverem sido umas praticadas para facilitar as outras”. (e) conexão objetiva para ocultar: É o caso do art. 76, II, 2ª parte, do CPP: “se, ocorrendo duas ou mais infrações, houverem sido umas praticadas para ocultar as outras”. DIREITO PROCESSUAL PENAL I AULA 16 (f) conexão objetiva para conseguir impunidade: É o caso do art. 76, II, 3ª parte, do CPP: “se, ocorrendo duas ou mais infrações, houverem sido umas praticadas para conseguir impunidade em relação a qualquer delas”. (g) conexão objetiva para conseguir vantagem: É o caso do art. 76, II, 4ª parte, do CPP: “se, ocorrendo duas ou mais infrações, houverem sido umas praticadas para conseguir vantagem em relação a qualquer delas”. DIREITO PROCESSUAL PENAL I AULA 16 (h) conexão probatória: É o caso do art. 76, III, do CPP: “quando a prova de uma infração ou de qualquer de suas circunstâncias elementares influírem na prova de outra infração”. DIREITO PROCESSUAL PENAL I AULA 16 A continência pode ser classificada da seguinte maneira: (a) continência por concurso de agentes: É o caso do art. 77, I, do CPP: “duas ou mais pessoas forem acusadas pela mesma infração”. (b) continência por concurso formal: É o caso do art. 77, II, 1ª parte, do CPP: “no caso da infração cometida nas condições previstas no art. 51, § 1º, do CP”. Cabe ressaltar que o concurso formal, atualmente, é tratado no art. 70 do CP. DIREITO PROCESSUAL PENAL I AULA 16 (c) continência por erro na execução ou aberratio ictus com resultado múltiplo: É o caso do art. 77, II, 2ª parte, do CPP: “no caso de infração cometida nas condições previstas no art. 53, segunda parte, do CP”. Cabe ressaltar que o erro na execução ou aberratio ictus, atualmente, é tratado no art. 73 do CP. DIREITO PROCESSUAL PENAL I AULA 16 (d) continência por resultado diverso do pretendido ou aberratio criminis com resultado múltiplo: É o caso do art. 77, II, 3ª parte, do CPP. Cabe ressaltar que o resultado diverso do pretendido ou aberratio criminis, atualmente, é tratado no art. 74 do CP. DIREITO PROCESSUAL PENAL I AULA 16 Foro atrativo (art. 78 do CPP) (a) art. 78, I, do CPP: José pratica um homicídio e uma ocultação de cadáver, ambos em conexão; os dois crimes serão julgados no tribunal do júri. (b) art. 78, II, a, do CPP: José pratica um roubo em Niterói e um furto em Maricá, ambos em conexão; os dois crimes serão julgados em Niterói. DIREITO PROCESSUAL PENAL I AULA 16 (c) art. 78, II, b, do CPP: José pratica dois roubos em Miracema e um roubo em Cambuci, todos em conexão; os três crimes serão julgados em Miracema. (d) art. 78, II, c, do CPP: José pratica um latrocínio em Queimados e outro latrocínio em Nova Iguaçu, ambos em conexão; o juiz de Queimados decreta a prisão temporária; os dois crimes serão julgados em Queimados. DIREITO PROCESSUAL PENAL I AULA 16 (e) art. 78, III, do CPP: José, promotor de justiça, e João, porteiro, praticam roubo, em continência; ambos serão julgados no tribunal de justiça. (f) art. 78, IV, do CPP: José pratica um crime eleitoral e um furto, ambos em conexão; os dois crimes serão julgados na justiça eleitoral (a “jurisdição especial” abrange as jurisdições trabalhista, militar e eleitoral; a trabalhista não tem competência criminal; a militar é referida no art. 79, I, do CPP; logo, o termo “jurisdição especial” usado no art. 78, IV, do CPP, apenas se refere à jurisdição eleitoral). DIREITO PROCESSUAL PENAL I AULA 16 Causas de separação obrigatória do processo (art. 79, CPP): (a) art. 79, I, do CPP: José pratica um roubo e um crime militar; o roubo será julgado na justiça comum, enquanto o crime militar será julgado na justiça militar. (b) art. 79, II, do CPP: José pratica um roubo na companhia de um menor; José responderá na vara criminal pelo crime de roubo; o menor responderá na vara da infância e da juventude pelo ato infracional análogo ao crime de roubo. DIREITO PROCESSUAL PENAL I AULA 16 (c) art. 79, § 1º, do CPP: José e João são denunciados por roubo; no curso do processo, José torna-se inimputável; o processo ficará suspenso com relação a José, mas João será julgado normalmente. (d) art. 79, § 2º, 1ª parte, do CPP: José e João são denunciados por homicídio; José foge da prisão; o processo ficará suspenso com relação a José, mas João será julgado normalmente. DIREITO PROCESSUAL PENAL I AULA 16 (e) art. 79, § 2º, 2ª parte, do CPP: José e João são denunciados por homicídio; no dia do julgamento, a defesa de José recusa um jurado; o julgamento será desmembrado; João será julgado; posteriormente, José será julgado. O art. 80 do CPP trata de hipóteses de separação facultativa de processos. DIREITO PROCESSUAL PENAL I AULA 16 Competência por prevenção: O art. 83 do CPP trata da prevenção, a qual constitui um critério de desempate quando dois ou mais juízos são igualmente competentes, nos casos do art. 70, § 3º, do CPP, do art. 71 do CPP, do art. 72, § 2º, do CPP, e do art. 78, II, c, do CPP. Prevalece a competência do juiz que se antecipa aos outros. DIREITO PROCESSUAL PENAL I AULA 16 Competência pela prerrogativa da função: Exercício suplementar da semana 9: 1- Municípios, estabelecendo que “os prefeitos serão julgados pelo Tribunal de Justiça”. José, Prefeito do Município Y, pertencente ao Estado X, está sendo acusado da prática de corrupção ativa em face de um policial rodoviário federal. Com base na situação acima, o órgão competente para o julgamento de José é: a) a Justiça Estadual de 1ª Instância. b) o Tribunal de Justiça. c) o Tribunal Regional Federal. d) a Justiça Federal de 1ª Instância. DIREITO PROCESSUAL PENAL I AULA 16 Nestes casos, a denúncia não é oferecida na primeira instância. O seu oferecimento é feito diretamente nos tribunais. A competência do STF é fixada no art. 102, I, b e c, da CF. A competência do STJ é fixada no art. 105, I, da CF. A competência do TRF é fixada no art. 108, I, da CF. A competência do TJ é fixada nos arts. 29, X (prefeito), 96, III (juiz e MP), e 125, § 1º, (simetria) da CF. DIREITO PROCESSUAL PENAL I AULA 16 No entanto, vale mencionar que as pessoas que têm foro fixado na CR, em praticando um crime doloso contra a vida devem ser julgados onde o foro determina, mas se as regras estão nas constituições estaduais o júri, por estar previsto na CR, prevalecerá. DIREITO PROCESSUAL PENAL I AULA 16 O art. 85 traz uma situação curiosa, que é esclarecida com o seguinte exemplo. Exemplo: José pratica o crime de calúnia contra o juiz Marco; Marco oferece queixa-crime contra José na primeira instância; José, em sua defesa, utiliza a exceção da verdade prevista no art. 138, § 3º, do CP; na exceção da verdade, José é o excipiente, enquanto o juiz Marco é excepto; por isso, a exceção é deslocada para o tribunal de justiça, já que Marco tem prerrogativa da função, conforme o art. 96, III, da CF; o tribunal de justiça julgará a exceção da verdade; depois, a primeira instânciajulgará José.
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