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AULA 13 PROCESSO PENAL I DIREITO PROCESSUAL PENAL I AULA 13 Ação Penal de Iniciativa Privada. Titularidade. Queixa: Prazo, requisitos, rejeição, aditamento. Princípios: oportunidade, disponibilidade, indivisibilidade e intranscendência. Renúncia, perdão e perempção. Ação Penal nos crimes contra dignidade sexual. Ação penal privada personalíssima. Condições específicas para o exercício da ação penal privada. Sucessão processual. Aditamento à queixa exclusiva pelo Ministério Público e pelo querelante. DIREITO PROCESSUAL PENAL I AULA 13 Ação civil ex delicto. Sistemas processuais de reparação do dano: arts. 186, 187, 927/930 e 935 do CC, arts. 265, IV “a”?, 475, N, inc. II do CPC, art. 91,I do CP e arts. 63, 64, 387, IV do CPP. Efeitos da sentença penal condenatória e absolutória. Causas de exclusão de ilicitude penal e o dever de reparar o dano. DIREITO PROCESSUAL PENAL I AULA 13 Classificação básica das ações penais Embora cada uma das espécies de ação penal seja estudada em detalhes posteriormente, é preciso desde já mencioná- las porque isso facilitará o estudo dos princípios aplicáveis às ações penais. Dessa forma, é possível dividir as ações penais em: (a) ações penais de iniciativa pública, que abrangem a ação pública incondicionada, a ação pública condicionada à representação da vítima e a ação pública condicionada à requisição do Ministro da Justiça; DIREITO PROCESSUAL PENAL I AULA 13 (b) ações penais de iniciativa privada, que abrangem a ação exclusivamente privada, a ação privada subsidiária da pública e a ação privada personalíssima. DIREITO PROCESSUAL PENAL I AULA 13 Princípios aplicáveis às ações de iniciativa privada (a) Princípio da oportunidade: Havendo as condições da ação (legitimidade, interesse de agir, possibilidade jurídica do pedido e justa causa), cabe à vítima decidir se oferecerá ou não a queixa-crime em juízo. Ora, se o legislador excepcionou a regra geral, segundo a qual cabe ao Ministério Público exercer o direito de ação penal, para conferir à vítima tal direito, é razoável que a vítima não seja obrigada a oferecer a queixa-crime. DIREITO PROCESSUAL PENAL I AULA 13 Existem, dessa forma, dois mecanismos através dos quais a vítima (querelante) pode evitar o oferecimento da queixa- crime. A renúncia ao direito de queixa (artigos 49, 50 e 57, CPP) é um ato voluntário da vítima, a qual, antes de oferecer a queixa-crime, se manifesta no sentido de que não pretende oferecê-la. A renúncia independe da aceitação do indiciado. A renúncia pode ser tácita ou expressa A renúncia acarreta a extinção da punibilidade, de acordo com o art. 107, V, do CP. DIREITO PROCESSUAL PENAL I AULA 13 A decadência (art. 38, CPP) é uma punição estatal à vítima desidiosa que deixa fluir o tempo que lhe é destinado ao oferecimento da queixa-crime. É certo que, nos casos de ação privada, o legislador prestigia a vontade da vítima. Mas é fixado um prazo (6 meses) para que a vítima exerça o direito de ação. A decadência acarreta a extinção da punibilidade, conforme o art. 107, IV, do CP. DIREITO PROCESSUAL PENAL I AULA 13 (b) Princípio da disponibilidade: Mesmo após o oferecimento da queixa-crime, cabe à vítima (querelante) decidir se o processo deve seguir até a prolação da sentença ou se irá abandonar o processo, evitando o julgamento do autor do crime (querelado). Qual é a lógica: na ação pública, o MP é obrigado a oferecer a denúncia e, depois de oferecê-la, não pode abandonar o processo; na ação privada, a vítima decide se vai oferecer a queixa e, depois de oferecê-la, decide se levará o processo até o julgamento de mérito. DIREITO PROCESSUAL PENAL I AULA 13 Existem, dessa forma, dois mecanismos através dos quais a vítima (querelante) pode evitar a prolação da sentença de mérito. O primeiro mecanismo é o chamado perdão (artigos 51 a 59, CPP) do ofendido, ou seja, perdão da vítima (querelante). Trata-se de ato voluntário através do qual, após oferecer a queixa, a vítima (querelante) perdoa o acusado (querelado). Em se tratando de ato bilateral, o perdão só produz efeito jurídico quando o acusado (querelado) concorda. É possível, embora raro, que o acusado (querelado) não concorde com o perdão, na expectativa de ser julgado e absolvido. DIREITO PROCESSUAL PENAL I AULA 13 Havendo o perdão da vítima (querelante) e a concordância do acusado (querelado), cabe ao juiz declarar extinta a punibilidade, com base no art. 107, V, do CP. O segundo mecanismo é a chamada perempção. Trata-se de uma punição estatal à vítima (querelante) desidiosa, que ocorre nas hipóteses do art. 60 do CPP. A perempção independe da aceitação do acusado (querelado). Por isso, é possível que a vítima (querelante) provoque uma das situações do art. 60 do CPP e, assim, evite o julgamento de mérito. Havendo perempção, cabe ao juiz declarar extinta a punibilidade, a teor do art. 107, IV, do CP. DIREITO PROCESSUAL PENAL I AULA 13 (c) Princípio da indivisibilidade: Caso concreto, semana 7: Marco Aurélio, Rafael, Glauco e Ricardo foram indiciados por crime de ação privada. A investigação penal foi frutífera, pois foram colhidos fortes indícios de autoria e materialidade delitivas. Dentro do prazo decadencial, movida por interesses econômicos, a vítima propôs queixa apenas contra três dos indiciados. Pergunta-se: como deve posicionar-se o MP, quando tiver vista da queixa? Responda, fundamentadamente, explicitando lei, doutrina. DIREITO PROCESSUAL PENAL I AULA 13 O art. 48 do CPP prevê a indivisibilidade da ação penal privada, dispondo que “a queixa contra qualquer dos autores do crime obrigará ao processo de todos”. Mas quem fiscalizará a observância de tal princípio? O próprio art. 48 do CPP dispõe que o Ministério Público fiscalizará a indivisibilidade. Então, a pergunta é a seguinte: de que forma o MP fiscalizará? Existem três entendimentos. DIREITO PROCESSUAL PENAL I AULA 13 O primeiro entendimento é no sentido de que o MP deva aditar a queixa-crime para que o outro agente também seja processado. O segundo entendimento é no sentido de que o MP deva sustentar a existência de renúncia tácita com relação àquele que não foi incluído na queixa. A renúncia tácita ocorre quando a vítima pratica ato incompatível com a vontade de processar. É óbvio que, havendo dois agentes e tendo a vítima oferecido a queixa apenas com relação a um deles, houve renúncia tácita com relação ao outro. DIREITO PROCESSUAL PENAL I AULA 13 Como o art. 49 dispõe que a renúncia é indivisível, ela seria extensiva ao agente incluído na queixa. Logo, haveria renúncia com relação a ambos, cabendo ao juiz extinguir a punibilidade com base no art. 107, V, do CP. O terceiro entendimento é no sentido de que o MP deva, antes de qualquer coisa, notificar o querelante para confirmar que ele sabia da existência do outro querelado que não foi incluído na queixa-crime, para, só então, diante da inércia do querelante, se posicionar pela renúncia tácita com relação a todos. DIREITO PROCESSUAL PENAL I AULA 13 (a) ação penal exclusivamente privada: Neste caso, cabe à vítima decidir se a ação penal será exercida e, se for o caso, cabe à vítima providenciar o seu exercício. O legislador prestigiou, ao máximo, a vontade da vítima, tanto que lhe deu poderes para, independente da vontade do MP, oferecer a queixa-crime e deflagrar o processo criminal. Mas o Estado não pode ficar indefinidamente aguardando a manifestação da vítima. ESPÉCIES DE AÇÃO PENAL PRIVADA DIREITO PROCESSUAL PENAL I AULA 13 Por isso, o art. 38 do CPP fixou, como regra, o prazo de seis meses para o oferecimento da queixa. Ao final do prazo, ocorre a decadência, que é uma causa de extinção da punibilidade,conforme o art. 38 do CPP. E se a vítima, no prazo decadencial, morrer ou for declarada ausente? O direito de ação será sucedido pelo cônjuge, ascendente, descendente ou irmão, conforme os arts. 31 e 36 do CPP. DIREITO PROCESSUAL PENAL I AULA 13 No caso de ação exclusivamente privada, após o oferecimento da queixa-crime, o MP acompanhará todo o processo na qualidade de fiscal da lei. Não custa lembrar: na ação exclusivamente privada, a vítima oferece a petição inicial, chamada de queixa-crime, em juízo. DIREITO PROCESSUAL PENAL I AULA 13 (b) ação penal privada subsidiária da pública: Na verdade, neste caso, a ação é de iniciativa pública. Isso significa que não há dispositivo afirmando que um ou outro crime seja de ação privada subsidiária da pública. O art. 5º, LIX, da CF, é que disciplina genericamente o tema, afirmando que “será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada no prazo legal”. O dispositivo mencionado deu status constitucional ao art. 29 do CPP. A doutrina atual afirma que só é possível o oferecimento da queixa subsidiária quando o MP fica inerte, ou seja, não oferece a denúncia, não determina a realização de novas diligências e não pede o arquivamento dos autos. DIREITO PROCESSUAL PENAL I AULA 13 O prazo para o oferecimento da queixa subsidiária, em regra, é de seis meses, conforme o art. 38 do CPP, sendo certo que o prazo começa a fluir do dia em que expira o prazo para o oferecimento da denúncia previsto no art. 46 do CPP. E se a vítima, no prazo decadencial, morrer ou for declarada ausente? O direito de ação será sucedido pelo cônjuge, ascendente, descendente ou irmão, conforme os arts. 31 e 36 do CPP. DIREITO PROCESSUAL PENAL I AULA 13 (f) ação penal privada personalíssima: Trata-se de ação exclusivamente privada que apresenta uma particularidade: não ocorre a sucessão processual. Hoje, temos apenas um tipo penal que é de ação penal privada personalíssima, que é o art. 236 do CP, ou seja, crime de induzimento a erro essencial. DIREITO PROCESSUAL PENAL I AULA 13 Exercício suplementar da semana 7: 1- Acerca da ação civil ex delicto, assinale a opção correta: a) Segundo o CPP, a sentença absolutória no juízo criminal impede a propositura da ação civil para reparação de eventuais danos resultantes do fato, uma vez que seria contraditório absolver o agente na esfera criminal e processá- lo no âmbito cível. b) O despacho de arquivamento do inquérito policial e a decisão que julga extinta a punibilidade são causas impeditivas da propositura da ação civil. AÇÃO CIVIL DIREITO PROCESSUAL PENAL I AULA 13 c) A execução da sentença penal condenatória no juízo cível é ato personalíssimo do ofendido e não se estende aos seus herdeiros. d) Ao proferir sentença penal condenatória, o juiz fixará valor mínimo para a reparação dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido, sem prejuízo da liquidação para apuração do dano efetivamente sofrido. DIREITO PROCESSUAL PENAL I AULA 13 A sentença penal condenatória transitada em julgado tem como efeito principal a imposição da pena ao réu, a qual pode ser privativa de liberdade, restritiva de direitos ou multa. Além disso, o art. 91, I, do CP, prevê como efeito secundário da sentença a obrigação do réu de reparar o dano causado à vítima, ou seja, além de cumprir a pena imposta na sentença, cabe ao condenado indenizar a vítima. Logo a chamada actio civillis ex delicto é o direito da vítima de dirigir-se ao Estado buscando a indenização que lhe é devida como consequência do crime praticado pelo réu. DIREITO PROCESSUAL PENAL I AULA 13 Com a reforma de 2008, através da Lei 11.719, em se tratando de condenação criminal, o juiz já poderá fixar parte da indenização (aquela que restar demonstrada de plano nos autos) ao prolatar a sentença condenatória (387, IV, CPP), sendo que o restante deverá ser pleiteado no cível. De acordo com Marcellus Polastri a indenização aqui se baseia somente no dano patrimonial e não no moral, pois este será discutido no cível. DIREITO PROCESSUAL PENAL I AULA 13 Segundo o art. 63 do CPP, a vítima pode aguardar o trânsito em julgado da sentença condenatória, a qual tem natureza de título executivo judicial, nos termos do art. 584, II, do CPC, e ingressar diretamente com a ação de execução no juízo cível. DIREITO PROCESSUAL PENAL I AULA 13 Questões interessantes. (a) se tiver sido reconhecida a prescrição após o trânsito em julgado, ou seja, a prescrição da pretensão executória, é possível ajuizar diretamente a ação cível executória; mas, se tiver sido reconhecida a prescrição antes do trânsito em julgado, ou seja, a prescrição da pretensão punitiva, será necessário ajuizar a ação cível de conhecimento. (b) (b) no caso de sentença que declara extinta a punibilidade pelo perdão judicial, a maioria (Mirabete) e o STF entendem que se trata de título executivo, razão pela qual basta o ajuizamento da ação cível executória; DIREITO PROCESSUAL PENAL I AULA 13 entretanto, a minoria (Frederico Marques) entende que inexiste título executivo judicial, motivo pelo qual é necessária a ação cível de conhecimento. (c) no caso de anistia, cessam apenas os efeitos penais da sentença, mas não o dever de indenizar do réu, razão pela qual basta o ajuizamento da ação cível de execução. (d) no caso de sentença que aplica medida de segurança, ou seja, sentença absolutória imprópria, é necessária a ação cível de conhecimento, visto que não se trata de sentença condenatória. DIREITO PROCESSUAL PENAL I AULA 13 Segundo o art. 64 do CPP, a vítima pode ajuizar a ação cível de conhecimento, não sendo necessário que aguarde o desfecho do processo criminal. Dessa forma, a ação cível pode ser ajuizada antes mesmo do ajuizamento da ação penal ou concomitante com esta. Para evitar decisões contraditórias, o art. 64, parágrafo único, do CPP, e o art. 265, IV, a, e § 5º, do CPC, facultam que o juiz cível suspenda a ação cível de conhecimento por até um ano, aguardando o julgamento da ação criminal. DIREITO PROCESSUAL PENAL I AULA 13 O art. 386, do CPP, prevê os fundamentos que o juiz pode usar no momento da sentença absolutória. Apenas o inciso I (“estar provada a inexistência do fato”) veda por completo o ajuizamento de ação cível de conhecimento, conforme o art. 66 do CPP. Por fim, o art. 68 do CPP fixa um caso de substituição processual, conferindo ao Ministério Público legitimação para a ação cível de conhecimento ou de execução, quando o titular do direito à reparação for pobre. DIREITO PROCESSUAL PENAL I AULA 13 A jurisprudência e a doutrina majoritárias afirmam que existe a chamada inconstitucionalidade progressiva no art. 68 do CPP, ou seja, à medida que a Defensoria Pública se organizar nos estados, a legitimação para o ajuizamento da ação cível de conhecimento ou de execução passa a ser da Defensoria Pública.
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