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1 Farmacologia II - Aula 5 – 28.02.2018 – Yala Figueiredo e Vitória Leal – Medicina XXXIV Antipsicóticos Prof. Gersika Bittencourt INTRODUÇÃO Neuroléptico, tranquilizante maior e antiesquizofrênico são a mesma coisa que antipsicótico – atendo-se apenas para o detalhe de que os antiesquizofrênicos são uma classe mais limitada porque a esquizofrenia é o principal transtorno antipsicótico que existe. ESQUIZOFRENIA Classifica-se o paciente entre dois sintomas e é muito comum que o paciente tenha ciclo entre eles: Positivo: agitação psicomotora, alucinação, mania de perseguição, agitação fisica e pisiquica, delírios, comportamento violento e distúrbios de pensamento. Negativo: isolamento social, embotamento afeitvo, introversão, déficit da fuinção cognitiva e negativismo. Ela pode ter várias causas – uma delas é carga genética. Por exemplo, em casos de gêmeos monozigóticos com um irmão com esquizofrenia, o outro tem 50% de chance de também ter – o segundo tem uma base genética, mas não quer dizer que ele tenha. Fatores ambientais podem disparar a doença, mas, se você não passa por um gatilho para disparar a atividade, não necessariamente você vai ter os sintomas. Sendo genético ou não, todo paciente tem uma base neuroquímica que é uma disfunção de neurotransmissor – o principal é a dopamina. O individuo tem excesso de dopamina na via mesolímbica e redução de dopamina na via mesocortical, sendo o excesso na via mesolímbica o que caracteriza os sintomas positivos da doença, já os sintomas negativos são caracterizados pela falta de dopamina na vida mesocorical. Ambas as vias controlam as nossas emoções, nossos comportamentos, sendo o nivel adequado de dopamina importante para isso. A dopamina, em quantidades ideiais, na via nigroestrigtal, é importante para controlar o movimento do paciente – o indivíduo com Parkison tem redução desse neurotransmissor nessa via, causando dificuldade de controle de movimento. Informação importante sobre o Parkison: a dopamina, nessa via, inibe a liberação de acetilcolina, ou seja, se existe uma queda de dopamina, a liberação de acetilcolina aumenta. Ela se liga nos receptores nicotícnicos no musculo, alterando contração muscular e por consequencia, sua movimentação. Ou seja, eu preciso ter uma quantidade adequada de dopamina em cada uma das vias para ter ou um comportamento adequado ou um controle de movimento adequado. Na via túbero-infundibular, a dopamina é importante para inibir a liberação de prolactina. Na esquizofrenia, esse controle não acontece. Existe uma desregulação nas vias de dopamina. Aula 5 - Antipsicóticos Yala Figueiredo e Vitória Leal - Medicina UNIFENAS XXXIV 2 CLASSIFICAÇÃO DOS ANTIPSICÓTICOS Antipsicótico típico Mais antigos. Os principais são haloperidol, clorpromazina, flufenazina, halopedirol, droperidol e tioridazina. Todos eles são antagonistas de receptores dopaminérgicos do tipo D2, ou seja, eles bloqueiam os receptores dopaminérgicos pós- sinápticos. Por isso, quando se utiliza um antipsicótico típico, ao chegar ao SNC, ele bloqueia os receptores dopaminérgicos pós- sinápticos, impedindo que esse excesso de dopamina se ligue a esses receptores, tratando os sintomas positivos. Se eu bloqueio seu receptor, o excesso não tem aonde ligar e então tratamos os sintomas positivos da doença - receptores da via mesolímbica. O problema é que os antipsicóticos típicos podem piorar os sintomas negativos por não serem seletivos. Além de bloquear os receptores dopaminérgicos da via mesolímbica, eles também bloqueiam o da via mesocortical. Ainda, ele também bloqueia o receptor dopaminérgico na via nigroestrital, aumentando a liberação de acetilcolina. Isso se assemelha ao que acontece no Parkison, acarretando sintomas extrapiramidais (dificuldade de movimentação). Ainda, eles também bloqueiam os receptores na via túbero-infundibular, aumentando a produção de prolactina – o paciente pode ter hiperprolactinemia, caracterizando alguns problemas endócrinos: galactorréia, ginecomastica, libido. O tratamento é mudança de classe medicamentosa, mudando para os atípicos. Antipsicótico atípico Mais novos. Mecanismos de ação Bloqueia receptor dopaminergico pós- sináptico, além de também bloquear os receptores serotoninérgicos nas vias dopaminérgicas, aumentando a liberação de dopamina e reduzindo os efeitos colaterais. Ou seja, a dopamina é o agonista natural, total, daquele receptor. Ela desloca o medicamento do receptor e a dopamina se liga no receptor dopaminérgico, assumindo sua função e inibindo, por consequência, a liberação de prolactina. Então, o paciente que toma antipsicótico atípico não tem hiperprolactinemia. A serotonina, nas vias dopaminérgicas, inibe a liberação de dopamina e aumenta a liberação de prolactina. Nesta classe, a dopamina em excesso consegue se ligar na via nigroestrital e exerce sua função, que é inibir a liberação de acetilcolina. Dessa forma, o paciente não terá dificuldade de movimentação, sem sintoma extrapiramidal. Ainda, o antipsicótico atípico trata os sintomas negativos por aumentar a liberação de dopamina na fenda sináptica. Então, dessa forma, ele piora o sintoma positivo? A via mesolímbica é uma via dopaminérgica que possui menor expressão de receptores serotoninérgicos. Se ela tem uma quantidade baixa de dopamina, quer dizer que se houver bloqueio de um receptor, não haverá uma liberação de dopamina suficiente para competir com o medicamento porque seu receptor continuará bloqueado – não é suficiente para deslocar o medicamento antipsicótico do seu receptor e então o receptor dopaminérgico continuará bloqueado. Então, posso dizer que o antipsicótico atípico trata os positivos e os negativos sem produzir efeitos colaterais. Ainda assim, os típicos ainda são muito utilizados nas clínicas neuropsiquiátricas, mesmo pruduzindo uma série de feitos colaterais, por serem capazes de bloquear os receptores histaminérgicos e produzindo, assim, sedação, sonolência e aumento de apetite. Além disso, ele também bloqueia receptores muscarínicos, produzindo efeitos anticolinérgicos e receptores adrenérgicos, acarretando hipotensão postural. Aula 5 - Antipsicóticos Yala Figueiredo e Vitória Leal - Medicina UNIFENAS XXXIV 3 Isso faz com que essas clínicas o utilizem por causa da sedação produzida por eles. O paciente ficará quieto, dopado, trazendo menos problemas de cuidado com o paciente. O custo também émais baratos. Quando um paciente tem um tumor na hipófise chamado prolactinoma, ele terá excesso de liberação de prolactina. A mulher, portanto, terá dificuldade para engravidar. O tratamento precisa ter um medicamento que tenha um agonista dopaminérgico para inibir a liberação de prolactina, diminuindo o tumor ou sintomas do tumor. Toda a vez que se bloqueia o receptor dopaminérgico, se aumenta a liberação de prolactina. FARMACOCINÉTICA Depois de administrados por via oral, por serem muito lipossolúveis, os antipsicóticos sofrem uma rápida absorção e atingem um pico de concentração plasmática dentro de 2 a 3 horas. Porém, a biodisponibilidade desses medicamentos é consideradabaixa, porque eles sofrem um intenso metabolismo de primeira passagem. Por exemplo: a biodisponibilidade da clorpromazina chega de 25 a 35 % apenas, enquanto a do haloperidol é um pouco maior por sofrer menos metabolismo de primeira passagem. A meia vida de eliminação dos antipsicóticos é de entorno de 24 horas, por isso, a concentração plasmática constante ou o steady state é alcançado dentro de 5 a 7 dias após a utilização do medicamento. Porém, como o fármaco é muito lipossolúvel, a duração de ação dos antipsicóticos tende a ser mais prolongada do que a sua meia vida de eliminação, devido a deposição ou ao armazenamento desse medicamento no tecido adiposo. Observação explicativa: como os fármacos são muito lipossolúveis, eles ficam armazenados no tecido adiposo e são liberados na corrente sanguínea gradativamente, então mesmo eles tendo uma meia vida de eliminação de entorno de 24 horas, a duração de ação tende a ser mais lenta, pois a liberação pelo tecido adiposo também é mais lenta. Por ser um fármaco muito lipossolúvel, ele necessita passar pelo processo de metabolização no fígado para ser inativado e formar metabolitos hidrossolúveis para ser eliminado por via renal. Os dois antipsicóticos típicos mais importantes e mais usados na clínica são: Clorpromazina (Amplictil) Haloperidol (Haldol) Comparativo entre eles: A clorpromazina é um antipsicótico de baixa potência, enquanto o haloperidol é alta potência. Então, é necessário utilizar uma dose maior de clorpromazina para produzir um efeito antipsicótico quando comparada ao haloperidol. Por exemplo: para 25mg de clorpromazina, se necessita apenas de 5mg de haloperidol para produzir o mesmo efeito. A clorpromazina tem maior tendência de produzir efeitos anticolinérgicos e maior capacidade de bloquear os receptores histaminérgicos H1, por isso é um fármaco mais sedativo que o haloperidol. Os efeitos colaterais anticolinérgicos produzidos pela clorpromazina são xerostomia, retenção urinária e constipação, quando comparada ao haloperidol. Por ter mais efeitos anticolinérgicos, a clorpromazina bloqueia mais os receptores de acetilcolina (não esquecer que os efeitos extrapiramidais acontecem pela redução de dopamina e excesso de acetilcolina) e por isso ela tem menor tendência de produzir efeitos extrapiramidais quando comparada ao haloperidol. Os antipsicóticos típicos ainda são usados, mas estão caindo em desuso, principalmente nos consultórios particulares, devido à preferência na prescrição dos atípicos. EXEMPLOS DE ANTIPSICÓTICOS ATÍPICOS Aula 5 - Antipsicóticos Yala Figueiredo e Vitória Leal - Medicina UNIFENAS XXXIV 4 CLOZAPINA Antipsicótico atípico que foi desenvolvido na década de 50 e depois da sua utilização clínica, foi retirado do mercado devido a sua grande capacidade de produzir a agranulocitose, principalmente a neutropenia (redução do número de neutrófilos no organismo do paciente). Por esse motivo, o fármaco não foi considerado seguro. Então, a clozapina voltou ao mercado por causa da sua grande eficácia com a intenção de tratar os pacientes refratários e sem melhora clínica, porém devido ao seu efeito colateral ela não é utilizada como primeira escolha. Caso seja administrada, deve-se estar atento à sua capacidade de produzir a agranulocitose, principalmente nas primeiras 18 semanas de tratamento com maior recorrência. Dessa forma, é necessária a realização de hemogramas semanais. Após esse período de 18 semanas, como a susceptibilidade de desenvolver a agranulocitose diminuirá, os hemogramas passam a ser mensais. Se durante a análise desse hemograma, o paciente apresentar queda no nível de leucócitos abaixo de 3000 mm³ e de neutrófilos abaixo de 1500 mm³, é necessário suspender o uso da clozapina. Depois de suspenso, o paciente pode até voltar a fazer o uso da clozapina após refazer suas células sanguíneas, porém a monitorização deve ser mais constante e o aumento da dose gradativo. Normalmente, o tratamento começa com a dose de 12,5 a 15mg e vai aumentando até chegar a uma dose terapêutica de 300 a 400mg – têm pacientes que utilizam doses de 900mg e é logico que ao aumentar a dose, se aumenta também o risco do paciente desenvolver os efeitos colaterais – consequentemente há maior necessidade de fazer uma monitorização cada vez melhor. Efeitos colaterais da clozapina Tem capacidade de diminuir o limiar de excitabilidade neuronal, aumentando o risco de crises convulsivas. Se o paciente apresentar essas crises, pode se tratar com anticonvulsivantes, porém evita se utilizar como anticonvulsivante a carbamazepina, porque ela causa uma supressão de medula óssea. Taquicardia, que é melhorada com a utilização de betabloqueadores, como o propanolol, atenolol. Hipersalivação, que é melhorada com a utilização de fármacos anticolinérgicos. Aumento do peso corporal em até 9 % nas primeiras 16 semanas do tratamento. Nesse caso, é importante orientar o paciente a realizar exercícios físicos para diminuir esse aumento. QUETIAPINA Tem características farmacologias e estrutura química similar com a clozapina, porém sem a capacidade de produzir a agranulocitose e por isso não é necessária a realização periódica de exames laboratoriais. A principal vantagem da quetiapina é a baixa capacidade de produzir efeitos colaterais, como efeitos anticolinérgicos e efeitos extrapiramidais. Porém, existem pacientes refratários a essa droga e nesse caso é necessário usar a clozapina. RISPERIDONA Possui todas as vantagens dos antipsicóticos atípicos (trata os sintomas positivos e os sintomas negativos sem produzir efeitos colaterais). É prescrita com uma dose inicial de 1 a 2mg de 12 em 12 horas até atingir uma dose de manutenção que é de 3mg duas vezes ao dia. Nessa dose, o efeito farmacológico é garantido sem apresentação de efeitos colaterais. Porém, se a dose for aumentada para mais de 8mg por dia, o paciente começa a apresentar distúrbios de movimentação. ZIPRASIDONA Aula 5 - Antipsicóticos Yala Figueiredo e Vitória Leal - Medicina UNIFENAS XXXIV 5 Fármaco utilizado para tratar crises psicóticas agudas de esquizofrenia devido ao seu início de ação rápido. Pacientes que possuem prolongamento de intervalo QT devem ter cuidado ao serem medicados, pois o próprio fármaco é capaz de prolongar esse intervalo. O grupo de risco contará com paciente com insuficiência cardíaca descompensada; que teve infarto agudo do miocárdio; ou que utiliza algumas classes de medicamentos que são capazes de prolongar o intervalo QT devido ao risco de apresentação de arritmias graves. Vantagens Não influencia no peso corporal. Beneficia o perfil lipídico do paciente (reduz o LDL e o TG, tornando-se interessante para pacientes obesos, e dislipidêmicos). ARIRIPRAZOL É o antipsicótico mais novo no mercado e é o único antipsicótico atípico que tem o mecanismo de ação diferente. Ele controla os níveis de dopamina em todas as vias e consequentemente não produz efeito colateral, tratando sintomas positivos e negativos. O aririprazol age como um agonistaparcial dopaminérgico. Ou seja, num local ou numa via dopaminérgica que se tem um excesso de dopamina na fenda sináptica, ele se ligará ao receptor como um antagonista (ocupa o receptor evitando que o excesso de dopamina se ligue), enquanto se o mesmo fármaco estiver numa via dopaminérgica que possui pouca dopamina – caso do esquizofrênico – o aririprazol se ligará ao receptor dopaminérgico, agindo como um agonista. Em resumo, o aririprazol reduz a função dopaminérgica na via mesolimbica porque ele bloqueia o receptor não deixando o excesso de dopamina se ligar, tratando o sintoma positivo; ao mesmo tempo ele se liga ao receptor dopaminérgico desocupado na via mesocortical e por ser um agonista parcial irá produzir 50% da ação da dopamina e não deixará o receptor livre, tratando os sintomas negativos. Uma caixa desse fármaco de 30mg contendo 30 comprimidos pode chegar a 900 reais. Existe paciente que faz manutenção do tratamento de esquizofrenia com o aririprazol e todo mês tem que gastar cerca de 1000 reais. Dessa forma, a farmacoeconomia deve que avaliar a situação econômica do paciente, mostrar as vantagens e desvantagens de cada medicamento, para então prescrever da forma mais adequada.
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