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IDENTIFICAÇÃO JWBM, sexo masculino, 56 anos, natural de Nova Soure, procedente de Salvador, solteiro, cabeleireiro. QUEIXA PRINCIPAL ´´Diarréia.`` HISTÓRIA DA DOENÇA ATUAL Paciente refere que apresenta episódios de diarréia desde a infância, com tontura e desmaios associados. Refere piora do quadro há 9 anos, com episódios mais freqüentes de diarréia líquida, 04 evacuações ao dia, fezes líquidas a pastosas, sem sangue, muco, pus ou restos alimentares, associada a náuseas, vômitos e astenia. Refere também perda de peso de cerca de 10 kg neste período, com inapetência e alguns episódios de febre alta. Relata internamentos anteriores, com necessidade de transfusão sanguínea, porém sem elucidação do diagnóstico. ANTECEDENTES PESSOAIS Nega HAS, DM e outras patologias. Refere internamentos prévios devido à atual patologia. Nega cirurgias. Refere 4 transfusões sanguíneas e nega alergias medicamentosas. Nega etilismo, tabagismo e uso de drogas ilícitas. Apresenta fatores de risco para Esquistossomose . Epidemiologia negativa para Doença de Chagas. Em uso de: Loperamida 2 mg 4/4h e Omeprazol 20 mg 02 comp 1x/dia (Refere uso destas medicações quando necessário. ANTECEDENTES FAMILIARES Refere pai hipertenso e diabético. Relata que mãe faleceu por neoplasia de mama. INTERROGATÓRIO SINTOMATOLÓGICO Geral: Nega febre há 1 mês , refere astenia e perda de peso de 10 kg em 9 anos. Cabeça e pescoço: Nega queixas. Aparelho cardiovascular: Nega palpitações e dor torácica. Aparelho respiratório: Refere dispnéia e tosse produtiva com expectoração esbranquiçada há uma semana. Trato gastrointestinal: Refere diarréia aquosa, sem restos alimentares, sem sangue, com cerca de 4 dejeções/dia, com fezes sem alteração de coloração. Aparelho genitourinário: Nega disúria, polaciúria e outros sintomas urinários. Aparelho osteoarticular: Relata artralgia e mialgia. Psiquiátrico: refere quadros de depressão, não tratados. HPS: Refere que mora sozinho e não tem uma rede de apoio familiar. EXAME FÍSICO ECTOSCOPIA: Paciente com estado geral e nutricional ruim, bastante emagrecido, lúcido e orientado no tempo e espaço, mucosas hipocoradas +++/+4, desidratado, acianótico, anictérico, eupnéico. FC: 72 bpm FR: 16 ipm PA: 80 x 40 mmHg IMC:15.79 Peso: 43Kg Altura:1.65 Pele: pele com ressecamento. AR: Tórax simétrico, expansibilidade preservada. Murmúrio vesicular distribuído bilateralmente, sem ruídos adventícios. Expansibilidade preservada. ACV: Precórdio calmo. Ictus não visível, palpável em 4º EIC esquerdo, LMC. Bulhas rítmicas e normofonéticas em 02 tempos, sem sopros. Abd: escavado, RHA+, flácido, sem dor à palpação superficial e profunda, não palpei visceromegalias, Traube livre. Ext: Bem perfundidas, aquecidas, sem edemas. Sistema Neurológico: Paciente comunicativo e orientado. Motricidade, tônus e sensibilidade preservados 01/02/13 Hb/Ht 8,7/25,7 Leuco 9840 Meta/Bas/seg /linf 0/5/89/4 PLT 146000 Ureia/creat 32/1 Na/K/MG/Fe/Ca 132/4,9/-/2/- TGO/TGP 16/12 GGT/FA 19/239 BT/BD 0,24/0,17 PT/Alb/Glob 5,8/2/3,8 TP/RNI/TTPa 61/1,36 PCR/VHS 32/60 Sorologias (25/08/11): anti-HIV NR; AgHBs e Anti-HCV NR; Anti-endomísio e Anti-gliadina NR TC de abdome (16/09/11): adenopatia retroperitoneal, ascite, ateromatose calcificada no segmento aorto-ilíaco. 20/11/12 Parasitológicos de Fezes: Sem alterações. 21/11/12: Fe: 18, TIBC: 167, Pesquisa de Parasitas Oportunistas nas Fezes: Negativa. Teste rápido para HIV (23/11/12): negativo. Endoscopia Digestiva Alta (04/12/12): Pangastrite Atrófica Intensa. Edema difuso da mucosa do bulbo com perda do padrão vilositário e a presença de pontilhado esbranquiçado difuso intenso que se estende para segunda porção duodenal, de acometimento contínuo, sem poupar áreas da mucosa. Doudenite Edematosa Intensa com Linfangiectasia Intestinal Difusa Intensa. Realizou Bx Colonoscopia (04/12/12): Íleo terminal exibia a presença de acometimento difuso e contínuo de sua mucosa com edema de vilosidades e exacerbação de criptas vilositárias (Ileíte Edematosa Inespecífica). Doença hemorroidária. Realizou Bx Estômago, duodeno, íleo, ceco, transverso, sigmoide, reto: Gastrite crônica discreta sem atividade. Duodeno: macrófagos vacuolados contendo grânulos PAS positivos na lâmina própria, compatível com doença de Whipple. Íleo com macrófagos vacuolados contendo grânulos PAS positivos na lâmina própria, compatível com doença de Whipple. Ceco, transverso, sigmoide e reto: normais. Biópsias 05/12/12 As fotos C e D (coradas com PAS) mostram microorganismos dentro do macrófago. As fotos A e B mostram a lâmina própria repleta de macrófagos (HE). Evolução Ecocardiograma transtorácico (18/02/13): câmaras cardíacas com diâmetro e espessuras normais. Função sistólica global e segmentar preservada no repouso. Esclerocalcificação da valva aórtica com insuficiência de grau leve. Esclerose de valva mitral com insuficiência discreta. Insuficiência mínima de valva tricúspide. Não foi observado sinais de vegetações. Foi avaliado por neurologista, que afastou envolvimento neurológico. Paciente fez uso de ceftriaxone 2g/dia, durante 2 semanas. Foi prescrito SMZ-TMP durante 01 ano. DIARRÉIA Eliminação de fezes não moldadas ou anormalmente líquidas,commaior frequênciaque o habitual ( > 3 vezes/dia). Nos adultos com dieta ocidental: peso fezes > 200 g/dia. InHarrison Nos adultos com dieta ocidental, peso das fezes >200g/dia é geralmente considerado diarreia mas geralmente só se quantificam as fezes em doentes com diarreia crónica assim, a definição mais utilizada no dia a dia, pelos clínicos, é o aumento da frequência de evacuação (>3 vezes por dia) ou emissão de fezes líquidas. Sintoma muito frequente (1episódio/pessoa/ano – países desenvolvidos) É uma das causas mais comuns de morte nos países subdesenvolvidos, com alta prevalência entre as crianças (10-18 episódios/ano , contrastando com 2-3 casos/criança/ano nos países desenvolvidos) A diarreia é um sintoma muito subjectivo, podendo ser confundida com: Pseudodiarreia- perda frequente de pequenos volumes de fezes, frequentemente associada a urgência; ocorre geralmente no S. do cólon irritável ou patologias ano-rectais (ex: proctites) Incontinência fecal- eliminação involuntária de fezes; devida a patologias neuromusculares ou alterações estruturais ano-rectais A diarreia e a urgência podem exacerbar ou causar incontinência. A pseudodiarreia e a incontinência ocorrem com taxas ≥ às da diarreia crónica, tendo de ser tidas em conta sempre que o paciente se queixa de diarreia. Daí a importância de uma anamnese e exame objectivo cuidadosos. Sintomas associados Febre Dor abdominal Urgência - Tenesmo – espasmos rectais dolorosos, associados a urgência para defecar, mas com pouca eliminação fecal. Vómitos Distensão abdominal Flatulência Falsas vontades- o doente tem vontade mas não consegue defecar, ou se o faz é somente muco ou sangue 13 Classificação Duração Aguda <2 semanas Persistente 2 - 4 semanas Crónica > 4 semanas Fisiopatologia Secretória Osmótica Má Absorção Inflamatória AlteraçõesdaMotilidade Factícia Quero lá saber da classificação!!! FEZES Intestino delgado Cólon Aparência Aquosa Muco, pus ou sangue Volume Volumosas Pouco volumosas pH < 5,5 > 5,5 Frequência Poucas vezes ao dia Várias vezes ao dia Sintomas anorretais Geralmente ausentes Dor anorretal, tenesmo 15 DIARRÉIA CRÔNICA Duração > 4 semanas Maioria não tem causa infecciosa Identificação mecanismo fisiopatológico Avaliação cuidadosa para excluir patologiasubjacente ClassificaçãoFisiopatológicaDiarreias Secretória Inflamatória Osmótica Alteraçõesmotilidade Má Absorção Fictícia Ao contrário das diarreias agudas, a maioria das diarreias crónicas não tem origem infecciosa É importante identificar o mecanismo fisiopatológico subjacente à diarreia para direccionar o tratamento. Muitas doenças causam diarreia crónica por mais do que um mecanismo. 16 Diarréia Secretória Desequilíbrio no transporte hidro-electrolítico através da mucosa intestinal Clinicamente Fezes aquosas de grande volume (> 500mL) Geralmente indolores Persistem com o jejum(*) Isotónicascom o plasma ↑ Na+e K+fezes Causas Exemplos Xenobióticos Medicamentos (laxantes),Álcool Superfíciede reabsorção inadequada Ressecção intestinal, doenças da mucosa (D.Crohn Hormonas eNeurotransmissores(secretagogosintestinais)(*) Tumorescarcinóides, gastrinoma, vipoma, carcinoma medulartiróide Existe um equilíbrio dinâmico entre o fluxo de absorção e fluxo de secreção em relação aos líquidos e electrólitos contidos no lúmen intestinal. Na diarreia secretória existe um desequilíbrio no transporte hidro-electrolítico através da mucosa intestinal, tanto por aumento da secreção de água e electrólitos, como por diminuição da sua absorção, levando a uma emissão de fezes > 500 mL. O aumento da secreção encontra-se associado a uma activação da secreção de Cl- pela mucosa do intestino delgado. Este ião passa da corrente sanguínea para os enterócitos por intermédio de um simporte 2Cl-, K+ e Na+ existente na membrana basolateral. O Cl- é subsequentemente secretado para o lúmen intestinal via canais de Cloro existentes na membrana luminal dos enterócitos. Estes canais são activados pelo AMPc intracelular. Certas hormonas e neurotransmissores, laxantes e toxinas, que promovem um grande aumento do AMPc intracelular, são responsáveis pelo desenvolvimento de uma diarreia secretória, com perda de água (devido às perdas de Na+), Na+, K+ e Cl-. Uma vez que não existe má absorção de solutos, a osmolalidade das fezes depende dos electrólitos endógenos normais, por isso estas são isotónicas com o plasma. 17 Diarréia Osmótica Devido à ingestão de solutos pouco absorvíveis e osmoticamente ativos Causas Exemplos MedicamentosOsmóticos Antiácidos com Mg2+, suplementosvitamínicos Má absorçãode HC Deficiência delactase Clinicamente Perda de fezes >500mL Alivia com jejum/ suspensão do agente causador Débitohídrico fecal directamente proporcional à quantidade de soluto ingerida Distensão abdominal,flatulência(*) A diarreia osmótica ocorre quando há ingestão de solutos pouco absorvíveis e osmoticamente activos, que atraem para o lúmen intestinal uma quantidade de líquido que excede a capacidade de reabsorção do cólon. Desta forma, o débito hídrico fecal aumenta proporcionalmente à quantidade de soluto ingerida. Clinicamente, este tipo de diarreia cessa com o jejum ou com a suspensão da ingestão oral do agente causador. Causas: Medicamentos Osmóticos – Antiácidos que contenham magnésio, suplementos vitamínicos ou laxantes pode induzir diarreia osmótica, caracterizada por um gap osmótico > 50 mosmol/L. A osmolalidade estimada das fezes é calculada pelo dobro da soma de [Na+] e [K+] fecais. Sendo assim, o gap osmótico corresponde à diferença entre a osmolalidade fecal medida e a osmolalidade fecal estimada. Geralmente, é inferior a 50 mosmol/L. Esta medida é pouco recomendada, porque, mesmo se for feita imediatamente após a evacuação, pode não ser exacta, uma vez que os HC são metabolizados por bactérias do cólon e aumentam a sua osmolalidade. Má absorção de Hidratos de Carbono – A má absorção de HC pode dever-se a defeitos congénitos ou adquiridos nas dissacaridases do prato estriado ou outras enzimas e leva a uma diarreia osmótica com pH baixo: quando há má absorção de HC, ocorre diminuição do simporte de Na+ com glicose ou galactose, o que vai levar a uma diminuição da absorção de Na+ e, consequentemente, de água. Por outro lado, os açúcares não absorvidos, osmoticamente activos, levam adicionalmente a uma secreção de água. No entanto, as bactérias existentes no cólon, conseguem metabolizar até cerca de 80 g/dia de HC não absorvidos, convertendo-os em ácidos orgânicos que, juntamente com água, são absorvidos no cólon. Como tal, a única evidência de uma má absorção de HC é a produção aumentada de gases (distensão abdominal e flatulência). Apenas quando a quantidade de açúcares não absorvidos excede os 80 g/dia, ou quando ocorre diminuição da flora intestinal por uso de AB, se verifica diarreia por má absorção de HC. Uma das causas mais comuns de diarreia crónica em adultos é a deficiência de lactase (75% população não branca). Existem outros açúcares, como o sorbitol, a lactulose e a frutose, que são universalmente mal absorvidos. Assim, ocorre diarreia com a ingestão de grandes quantidades de medicamentos, doces, pastilhas elásticas que contenham estes açúcares. 18 Diarreia por Má Absorção Deficiências na absorção de lípidos, aminoácidos e vitaminas ↑ débito fecal devido ao efeito osmótico dos AG hidroxilados pelas bactérias intestinais Causas Exemplos Má digestãointraluminal Insuficiência pancreática exócrina, proliferação bacteriana ID, cirrose/obstrução biliar Má absorção namucosa D. Celíaca,SprueTropical,D.Whipple,Abetalipoproteinémia Obstrução linfática Linfagiectasiaintestinal congénita,obstrução linfática adquirida Clinicamente Esteatorreia–gordura fecal > 7 g/dia Fezesgordurosas, pastosas, claras, brilho oleoso, flutuantes, cheiro fétido Défices nutricionais (↓ absorção vitaminas e AA) –osteomalácia(↓vit.D); défices de coagulação (↓vit.K) Perdaponderal Aumentodo débito fecalcom alimentação Diarréia Inflamatória Clinicamente Diarréiaassociada a febre, dor, hemorragia e outras manifestações inflamatórias Persiste no jejum Volume das dejecções pode ou não estar aumentado Fezes mucosas /mucopurulentas Inflamaçãograve –anasarca Análisefecal – presença de leucócitos ou produtos derivados Mecanismo pode não estar apenas associado a exsudação (↓ absorção lípidos, hidroelectrolítica, hipersecreção e hipermotilidade) Indivíduosde meia idade ou idosos – AVALIAÇÃO CUIDADOSA (DD tumorcolorretal) As diarreias crónicas inflamatórias estão associadas a sinais inflamatórios, nomeadamente febre, dor, hemorragia, etc. O mecanismo da diarreia pode não estar apenas associado à exsudação. Dependendo do local da lesão, pode incluir má absorção lipídica, diminuição da absorção de água e electrólitos e hipersecreção ou hipermotilidade devido à libertação de mediadores inflamatórios. No exame das fezes, observa-se a presença de leucócitos ou proteínas leucocitárias. Com uma inflamação grave, pode ocorrer anasarca devido à elevada perda proteica por exsudação. Indivíduos de meia idade ou idosos com diarreia crónica inflamatória, sobretudo com sangue, devem ser avaliados para excluir um tumor colorrectal. 20 Causas Exemplos Doença InflamatóriaIntestinalIdiopática Doença deCrohn,ColiteUlcerativaCrónica ImunodeficiênciasPrimárias ou Secundárias Giardíaseassociada aHipogamaglobulinémia OutrasEtiologias Gastroenteriteeosinofílica, GVHD crónica, S. deBehçet Diarréia Inflamatória Causas: Doença Inflamatória Intestinal Idiopática – são das causas mais frequentes de diarreia crónica em adultos, de gravidade variável, e incluem a Doença de Crohn e a Colite Ulcerativa Crónica. Podem associar-se a manifestações sistémicas como uveíte, poliartalgias, doença hepática colestática e lesões cutâneas (como eritema nodoso e pioderma gangrenoso). A Doença Inflamatória Intestinal (Doença de Crohn e Colite Ulcerativa Crónica) é uma condição inflamatória crónica associada a um estado de resposta imunitária desregulada à flora endógena intestinal, podendo ter ou não componente auto-imune. Resulta de uma interacção entre factores genéticos, endógenos (função de barreira das células epiteliais intestinais) e exógenos (flora intestinal, fumo). Durante a evolução de uma inflamação intestinal num indivíduo normal, ocorre activação do GALT, sendo que a resposta imunitária é rapidamente controlada por mecanismos de supressão imunitária e subsequente regeneração tecidual. Nos indivíduos com DII, este controlo não ocorre devidamente. Doença de Crohn – afecta todo o TGI, desde a boca até ao ânus, afectando mais frequentemente a porção terminal do ID e cólon. Frequentemente, o recto é poupado. É um processo transmural, que pode apresentar desde ulcerações de pequenas dimensões e superficiais, até lesões de grandes dimensões, que se fundem e delimitam ilhas de mucosa. Apresenta granulomas não caseosos em todas as camadas da parede intestinal e fissuras. O processo inflamatório pode evoluir para dois padrões da doença: um componente fibro-estenótico obstrutivo; ou um padrão penetrante-fistuloso. Clinicamente manifesta-se por episódios intermitentes de diarreia, febre, dor abdominal e hemorragia digestiva baixa, bem como manifestações sistémicas como poliartrite, espondilinte anquilosante, eritema nodoso e pioderma gangrenoso. Colite Ulcerativa Crónica – limitada ao cólon e recto. Geralmente afecta apenas a mucosa e a submucosa, mas em casos mais graves pode afectar camadas mais profundas, estendendo-se de forma contínua do cólon para o recto e adiante. Provoca ulceração com formação de ilhas de mucosa que regenera e forma pseudo-pólipos. Apresenta também um componente inflamatório (infiltração de linfócitos e neutrófilos), sendo que o processo inflamatório pode originar a formação de tecido granular, com fibrose e alteração da arquitectura. Clinicamente, manifesta-se por episódios intermitentes de diarreia sanguinolente e com muco, que podem persistir por dias ou meses, tendo também manifestações extra-intestinais, como poliartrite migratória, espondilite anquilosante, uveíte e lesões cutâneas. Se a inflamação atingir a camada muscular própria, afectando os plexos nervosos, provoca diminuição da função neuromuscular, com evolução para megacolon tóxico. Pode evoluir para cancro. Formas Primárias e Secundárias de Imunodeficiência – podem levar a uma diarreia infecciosa prolongada. Por exemplo, a diarreia por Giardia na hipogamaglobulinémia. Gastroenterite Eosinofílica – infiltração eosinofílica da mucosa ou serosa em qualquer nível do TGI, podendo provocar episódios de diarreia, dor, vómitos ou ascite. Outras Etiologias – Doença do enxerto versus hospedeiro crónica, síndrome de Behçet (perivasculite sistémica, caracterizada por ulcerações aftosas recorrentes orais, lesões oculares, lesões cutâneas, ulcerações genitais e manifestações gastro-intestinais muito semelhantes à Doença de Crohn – ulcerações da mucosa intestinal), enterocolite por irradiação. 21 Abordagem ao Paciente Anamnese Início Incontinênciafecal Duração Febre Padrão Dor abdominal Factores agravamento (dieta) Perda ponderal Factores alívio Exposições (viagens, medicamentos, contactos) Característicasfezes Manifestações extra-intestinaiscomuns (alterações cutâneas,artralgias, aftas orais) Exame Objectivo Massatiroideia, sibilos, edema,hepatomegália, massas/ sensibilidade abdominal,linfadenopatias, fístulasperi-anais, alterações mucosa rectal, flacidez esfíncter anal, alterações cutâneas comodermatite(D. Celíaca),eritemanodoso (RCU), úlceras orais A avaliação diagnóstica deve ser dirigida por uma anamnese e exame objectivo cuidadosos, bem como análises de rotina. Os procedimentos devem caracterizar o mecanismo da diarreia, identificar possíveis associações para o diagnóstico, bem como avaliar o estado hidroelectrolítico e nutricional do doente. Anamnese: deve ser perguntado ao início dos sintomas, a duração, o padrão, factores de agravamento (sobretudo mais relacionados com a dieta), factores de alívio, características das fezes diarreicas. Também deve ser inquerida a presença/ausência de incontinência fecal, febre, dor abdominal, perda ponderal, exposições (viagens, medicamentos, contactos com diarreia) e se existem ou não manifestações extra-intestinais comuns (alterações cutâneas, artralgias, aftas). Também é importante perguntar sobre antecedentes familiares de DII ou Sprue Tropical. Exame Objectivo: os achados físicos também podem fornecer indícios importantes, nomeadamente uma massa tiroideia, sibilos, sopros cardíacos, edema, hepatomegália, massas ou sensibilidade abdominal, linfadenopatias, anomalias mucocutâneas, fístulas peri-anais, alterações na mucosa rectal, flacidez do esfíncter anal, alterações cutâneas como dermatite (D. Celíaca), eritema nodoso (RCU), úlceras orais. Hemograma: Leucocitose, aumento taxa sedimentação ou aumento da PCR sugestivos de inflamação Anemia sugere perda hemática ou défices nutricionais Eosinofilia parasitoses, neoplasia, gastroenterite eosinofílica, alergia, doença vascular do colagénio. Após esta etapa, normalmente é sugerida uma proposta terapêutica, face ao diagnóstico específico que é sugerido com a Anamnese, EO e Complementares, logo na consulta inicial. Por exemplo, um jovem com diarreia aquosa, crónica, que cessa com o jejum prova de dieta com cessação de lactose. Caso não haja alteração dos sintomas, deve-se considerar o diagnóstico incerto. No entanto, podem ser necessárias avaliações adicionais específicas para confirmar o diagnóstico ou caracterizar a gravidade e extensão da doença. Nos pacientes com SII, faz-se uma avaliação inicial com proctosigmoidoscopia e biópsia. Assegura-se o tratamento empírico e, caso não haja resolução, deve-se tomar o diagnóstico como incerto, de novo. Em pacientes com hematoquézia e diarreia crónica, deve-se realizar avaliação com exames microbiológicos das fezes e colonoscopia. Em 2/3 dos casos, a causa real não é diagnosticada após a primeira consulta, sendo necessária a realização de mais exames colheita quantitativa e análise das fezes. Isto pode fornecer dados importantes que orientem melhor o diagnóstico. Caso o peso fecal seja > 200 g/dia, deve-se fazer análises adicionais para medir concentração electrólitos, pH, pesquisa sangue oculto, leucócitos e proteínas leucocitárias, quantificação de lípidos e triagem para laxantes. A partir destes resultados, para: Diarreia Secretora: considerar efeitos medicamentosos / uso clandestino de laxantes; Exame Microbiológico – cultura bactérias fecais (Aeromonas e Pleisiomonas); Exame Parasitológico (ovos, parasitas e Ag da Giardia) DD com proliferação bacteriana – aspirados intestinais com quantificação; testes respiratórios para medir metabolitos bacterianos no ar expirado Avaliação para hormonas peptídicas EDA, colonoscopia com biópsias – excluir doença inflamatória ou estrutural Osmótica – Testes intolerância à lactose e Mg; avaliação má absorção lactose teste com lactose no ar expirado; prova terapêutica com exclusão lactose na dieta. Níveis aumentados de Mg ou laxantes – ingestão inadvertida ou clandestina Se pH fecal estiver baixo sugere má absorção HC Esteatorreia: - Endoscopia com biópsia ID (com aspirado para Giardia e métodos quantitativos) Radiografia ID quando é inconclusivo - Quando exames ID são inconclusivos/ suspeita doença pancreática exames para excluir doença pancreática exocrina Inflamatórias: deve-se suspeitar quando há presença de sangue ou leucócitos nas fezes - Coproculturas, Exame parasitológico das fezes para detectar ovos e parasitas, ensaio para toxina do C.difficile, colonoscopia com biópsias e exames do ID com contraste oral. TratamentO: Para todos os doentes com diarreia cronica deve efectuar-se avaliação fluidos e electrolitos. Dependerá da etiologia. Pode ser curativo (ex. Resseção de um tumor, AB), supressor (ex. Eliminação da lactose da dieta, gluten, glucocorticoides para suprimir inflamação) Tratamento empirico: opiacio (ex. Difenoxilato, loperamide). Se mais severo agentes anti-motilidade (ex. Codeine, tintura de opio) Evitar anti-motilidade se inflamatoria porque pode percipitar megacolon toxico. 22 Abordagem ao Paciente 23 Abordagem ao Paciente Tratamento: Para todos os doentes com diarreia cronica deve efectuar-se avaliação e reposição de fluidos e electrolitos. Dependerá da etiologia. Pode ser: Curativo quando a causa pode ser irradicada (ex. Resseção de um tumor, AB na doença de Whipple) Supressor a causa não pode ser irradicada; a diarreia pode ser controlada pela supressão do seu mecanismo subjacente (ex. Eliminação da lactose da dieta, gluten, glucocorticoides para suprimir inflamação na DII) Empírico quando não se consegue diagnosticar a causa ou o mecanismo específico da diarreia crónica, a terapêutica empírica pode ser benéfica. Ex: opiáceos na diarreia leve (ex. Difenoxilato, loperamida). Se for mais severa: agentes anti-motilidade (ex. Codeína, tintura de opio). Evitar anti-motilidade na doença inflamatória intestinal, porque pode precipitar megacolon tóxico; diarreia diabética – clonidina. 24 Epidemiologia 241 crianças com gastroenterite – 15% D. Whipple, 1/3 eram co-infectadas com outros patógenos. Detectado nas fezes e saliva de indivíduos assintomático Mais frequente em pessoas que trabalham com esgoto (12-26%) Início tardio é raro Homens brancos de ascendência européia Patogênese Ocorre invasão do organismo em todo corpo: intestino delgado e grosso, endotélio capilar e linfático, fígado, cérebro, coração, pulmão, membrana sinovial, rim, medula óssea e pele. Falta de resposta inflamatória ao bacilo acumulação maciça nos locais de infecção Fatores do hospedeiro Falta de resposta imunológica* ↓atividade Th1 Deficiência de C3 Diminuição da capacidade de degradar organismos intracelulares Produção diminuída de IL-12 * Apesar dos pacientes com doença de Whipple não serem propensos a infecções oportunistas ou malignidade Diminuição da regulação imune induzida pela bactéria Manifestações clínicas Início tardio: Artralgias Perda de peso Diarréia Dor abdominal Manifestações clínicas Artralgias Migratórias de grandes articulações Oligoartrite migratória não deformante Poliartrite Pode preceder outros sintomas por muitos anos 52 pctes - articular (67%), gastrointestinal (15%), sistêmica (14%) e do SNC (4%) Sintomas músculo esqueléticos (67%), destes 55% artralgias 45% artrite Manifestações clínicas Diarreia, distensão abdominal, perda de peso, ascite. Adenopatia maciça Demência, oftalmoplegia supranuclear, nistagmo, e mioclonias Sintomas menos comuns Febre Hiperpigmentação da pele Má absorção de vitamina D hiperparatireoidismo secundário Má absorção de B12 Manifestações clínicas Doença cardíaca Dispneia, Pericardite Endocardite com cultura negativa – D. Whipple é a causa + comum de endocardite de cultura Diagnóstico diferencial com Febre Q (Coxiella burnetii) e Bartonelose Não é associada a apresentação clássica da doença Derrame pleural Manifestações clínicas SNC – envolvimento neurológico isolado é raro e difícil de reconhecer Disfunção cognitiva Mioarritmia oculomastigatória: achado patognomônico Mioarritmia óculo-facial-esquelética Ataxia cerebelar Demência, mioclonia, hemiparesia, neuropatia periférica, convulsões e desordens dos neurônios motores superiores Pctes com sintomas é necessário realizar TC ou RM, pode revelar lesões focais que resolvem com a terapia Sintomas Clínicos que sugerem DW Febre de origem obscura Serosite crônica Doença progressiva do sistema nervoso central (mioclonia ou oftalmoplegia, poliartropatia migratório) Linfadenopatia generalizada Deficiência de vitamina ou anemia ferropriva Hipoalbuminemia Linfopenia relativa Diagnósticos diferenciais Hipertireoidismo Doença do tecido conjuntivo Doença inflamatória intestinal com poliartralgia migratória SIDA Diagnóstico EDA com biópsia de delgado (TP antes da biópsia deve ser observado, pela má absorção de vitamina K) Na literatura há poucos estudos que documentam os achados endoscópicos e imagens da DW. Eritema da mucosa Edema Pregas duodenais dilatadas Linfagiectasias Diagnóstico Biópsia Coloração com PAS + , improvável que seja confundido com outras doenças Diagnóstico definitivo: Macrófagos corados com PAS positivo na lâmina própria Atrofia das vilosidades Diagnóstico Biópsia Se houver dúvida diagnóstica a microscopia eletrônica confirmará a presença de T. whipplei PCR limitado a laboratórios de pesquisa EDA: mucosa levemente edemaciada. Foi realizada a magnificação da imagem (115, Olympus Q160Z; Olympus Europe, Hamburg, Germany): vilosidades duodenais edemaciadas, com aspecto ligeiramente achatadas, e algumas delas foram preenchidos com um material branco (Figura A). Biópsia duodenal: macrófagos com grânulos intracelulares de material "espumoso" O ácido periódico de Schiff (PAS) foi positivo (aumento original, 200x) (Figura B). CLINICAL GASTROENTEROLOGY AND HEPATOLOGY 2008;6:xxxii Tratamento Era fatal antes da possibilidade do tratamento 1952: relatado caso de tto bem sucedido com cloranfenicol Ceftriaxona seguida de terapia de manutensão oral durante 1 ano – permite completa erradicação do organismo, reduzindo probabilidade de recidivas. Ceftriaxona x Meropenem Reação de Jarisch-Herxheimer 1-2 h após uso inicial de ceftriaxona (febre de 39 º -40 º C, calafrios, dor de cabeça, hipotensão, dor abdominal grave ou dor pleurítica ) Tratamento Resposta ao tratamento Hematócrito Peso Resolução dos sintomas Vigilância endoscópica e biópsias não são necessárias – material PAS + podem estar presente durante muito tempo (organismos mortos) Tratamento Reconstituição imune: nas primeiras semanas após inicio do tto alguns desenvolve sintomas de recaída ou progressão da doença Uso prévio de terapia imunossupressora para a doença reumática Envolvimento do SNC
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