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Psicologia, Religião e Ética

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Universidade Federal do Rio de Janeiro
Instituto de Psicologia
Ética Profissional
Professor: Rodolfo Ribas Jr.
Psicologia, Religião e Ética
Andrea Liliam Silva Paixão DRE: 100121475
Ana Deak DRE: 098136803
Camila Augusto Pereira Rego DRE 100179800
Rafael F. de Carvalho DRE:103104032
Rio de Janeiro, 26 de Novembro de 2008
Índice
	Introdução
	Pág 3
	
	
	Desenvolvimento
	Pág 4
	
	
	Caso Estudado
	Pág 11
	
	
	Embasamento Ético
	Pág 12
	
	
	Conclusões e Comentários
	Pág 13
	
	
	Referências Bibliográficas
	Pág 16
Introdução
O presente trabalho visará estudar as interfaces presentes nos atravessamentos dos estudos envolvendo a Psicologia, aplicada e teórica, a Religião e seu dimensionamento na vida e no bem -estar dos indivíduos e a Ética, no ponto de encontro entre a terapêutica e as (multi) possibilidades de funcionamento religioso dos sujeitos.
Iniciaremos com a revisão bibliográfica dos conceituações sobre Religião, citando alguns exemplos dos estudos feitos sobre os cruzamentos de doenças mentais, comportamentos auto destrutivos com a prática (ou não) de alguma manifestação de religiosidade.
Perpassando por citações de profissionais da área Psi, que demonstraram interesse e necessidade de estudo e compreensão desse campo tão fértil apresentado como o trato da religiosidade no campo de trabalho psicológico, levantaremos também algumas posturas destes perante o cenário profissional atual.
Como exemplo prático para o nosso embasamento teórico, haverá a explanação de um caso inédito de um profissional da Psicologia que tratou da saúde mental de seu cliente associando a religiosidade como alternativa diagnóstica.Esta apresentação do caso nos levará, em seguida, ao debate ético a respeito dessa postura. 
Por fim, concluíremos com comentários sobre esses atravessamentos que implicam e contribuem no extenso e constante debate sobre o tema na área. 
Ética, Religião e Psicologia
Na enciclopédia Wikipédia, buscamos a definição de ética assim como da palavra religião. Para a primeira, segue: “A palavra Ética é originada do grego ethos, (modo de ser, caráter) através do latim mos (ou no plural mores) (costumes, de onde se derivou a palavra moral). Em Filosofia, Ética significa o que é bom para o indivíduo e para a sociedade, e seu estudo contribui para estabelecer a natureza de deveres no relacionamento indivíduo - sociedade.”
Já religião é definida como um conjunto de crenças relacionadas com aquilo que a humanidade considera como sobrenatural, divino, sagrado, e transcendental. 
A origem da palavra é latina e deriva do vocábulo religio que significa:
Prestar culto a uma divindade;
Ligar novamente, religar.
O termo também se refere a um estilo de comportamento marcado pela rigidez e pela precisão, ao menos se consideramos o período anterior ao cristianismo.
“A palavra religião foi usada durante séculos no contexto cultural da Europa marcado pela presença do cristianismo que se apropriou do termo latino religio”(Wikipédia).
 Nascimento (2007) afirma que o os sistemas religiosos propõem alguma explicação ao ser humano sobre seu próprio universo psíquico refletido no mundo manifesto, uma alternativa diante da angústia existencial, bem como perante o medo do aniquilamento do eu (indivíduo) pela morte. Inclusive cita Frankl, que alega que a religião apresenta uma possível solução, a partir de regras e leis, sobre como se harmonizar com o invisível e o imponderável, e pode ser vista como algo que não se refere somente a relação circunscrita entre o ser humano e a divindade, mas tambem, como fenomeno que ajuda a orientar os passos e caminhos do ser humano pelas normas morais e de conduta em uma sociedade.
 Cícero afirma que o termo deriva de releger, ou seja , reler e se refere ao aspecto da atenção que os religiosos utilizam na releitura das escrituras a respeito dos deuses.[0: .Marco Túlio Cícero: orador, filósofo, advogado e político romano, morto em 43 a. C.]
 Para Lactâncio o termo é derivado de religare e se refere a um laço de piedade que liga o ser humano a Deus.[1: . Lucio Célio Firmiano Lactâncio: autor cristão (240 – 320 d.C.)]
 Santo Agostinho a princípio afirma que o termo deriva de religere, reeleger, referindo-se como a humanidade reelege a Deus do qual tinha se separado, mas posteriormente concorda com Lactâncio.[2: . Aurélio Agostinho: bispo católico, teólogo e filósofo (354 – 430 d.C.)]
“O que nós chamamos de religião tem se manifestado, no decorrer da história e em todas as partes do mundo, em diversificações e diferenças múltiplas. De acordo com essa complexidade não considero adequado pensar em uma definição fechada de religião e opto por um conceito aberto capaz de superar um entendimento pré-teórico que generaliza fenômenos religiosos, sobretudo os de origem cristã, com os quais nós estamos culturalmente acostumados. Isso é somente necessário por que, por exemplo, para chineses, hindus e muçulmanos nem existem sinônimos em suas línguas que correspondam exatamente com nosso termo religião. A partir dessas considerações meu conceito de religião contém quatro elementos:
Primeiro – religiões constituem sistemas simbólicos com plausibilidades próprias;
Segundo – do ponto de vista de um indivíduo religioso, a religião caracteriza-se como a afirmação subjetiva da proposta de que existe algo transcendental, algo extra-empírico, algo maior, mais fundamental ou mais poderoso do que a esfera que nos é imediatamente acessível através do instrumentário sensorial humano;
Terceiro – religiões se compõem de várias dimensões: particularmente temos que pensar na dimensão da fé, na dimensão institucional, na dimensão ritualista, na dimensão da experiência religiosa e na dimensão ética;
Quarto – religiões cumprem funções individuais e sociais. Elas dão sentido para a vida, elas alimentam esperanças para o futuro próximo ou remoto, sentido esse que algumas vezes transcende o da vida atual, e com isso tem a potencialidade de compensar sofrimentos imediatos. Religiões podem ter funções políticas, no sentido ou de legitimar e estabilizar um governo ou de estimular atividades revolucionárias. Além disso, religiões integram socialmente, uma vez que membros de uma comunidade religiosa compartilham a mesma cosmovisão, seguem valores comuns e praticam sua fé em grupos” (Usarki, 2002).[3: . Professor no programa de pós-graduação em ciências da religião na PUC/SP ]
 De acordo com Cambuy et. al.(2006), alguns psiquiatras e psicólogos clínicos consideram a religião como perigosa e até mesmo nociva para a saúde mental. Essas convicções estavam mais disseminadas na primeira metade do século XX do que hoje. Como argumentos para esta posição alegavam os delírios religiosos, a culpabilização da sexualidade e as neuroses coletivas de culpa, o encorajamento de experiências suspeitas e perigosas como visões e aparições. Em contrapartida, outros profissionais acreditam que a religião é necessária e útil à saúde mental. Entre eles é possível distinguir duas tendências: A primeira seria representada por alguns católicos nos EUA desenvolvem o que chamam de psicoteologia. A necessidade da religião para a saúde mental é afirmada com base nas convicções religiosas. A segunda vertente demonstra interesse em juntar as teorias psicológicas com os conhecimentos religiosos. Ainda Cambuy (op. Cit) salienta que muitos líderes religiosos procuram responder aos pedidos de ajuda religiosa acreditando, muitas vezes, que estes pedidos são, no fundo, igualmente psicológicos, mesmo que os consulentes não tenham consciência disso. Por sua vez, os psicólogos clínicos destas tendências combinam a ajuda religiosa com o auxílio psicológico solicitado, uma vez que acreditam implicitamente na necessidade da natureza religiosa subjacente aos sofrimentos da psicopatologia.
Sanchez & Nappo (2008) citando Dalgalarrondo e outros, mencionam que estudos quantitativos epidemiológicos associam a religiosidade a menor consumode drogas e a melhores índices de recuperação para pacientes em tratamento médico para dependência de drogas. Segundo levantamento bibliográfico para sua pesquisa, a religiosidade atua como protetora ao consumo de drogas entre as pessoas que:
Freqüentam a igreja regularmente;
Praticam os preceitos da religião professada;
Crêem na importância da religião em suas vidas;
Tiveram educação formal religiosa na infância.
Embora tenha sugerido que questões sociais como a re-socialização por meio de reestruturação da rede de amigos e mudança para um ambiente sem oferta de drogas seriam a via por meio da qual a religiosidade auxilia no processo de recuperação de dependentes de drogas.
 O trabalho de revisão bibliográfica para o estudo ainda indicou que:
A religiosidade facilita a recuperação da dependência de drogas:
Diminui os índices de recaída de pacientes.
Costa (2008) realizou estudo que verificou a relação entre qualidade de vida e bem estar espiritual em universitários de psicologia. Nele sugere que não há com desconsiderar o aspecto benéfico da espiritualidade, e indica que deve tornar-se essencial aproximar a formação profissional das experiências de religiosidade e espiritualidade, considerando-se os aspectos sociais e culturais dos contextos nos quais os indivíduos estão inseridos. O estudo aponta para a aproximação entre o transcendente e a ciência, proporcionando assim um aprendizado que irá considerar as dimensões do ser humano.
Koenig (2007) considera a importância que crença religiosa apresenta no tratamento de pacientes psicóticos com delírio de caráter religioso. Para ele, pacientes com doença mental grave e persistente freqüentemente se apresentam para tratamento com delírios religiosos. Crença e atividade religiosa não-psicótica são também bastante comuns entre pessoas com doença mental grave, e essas crenças freqüentemente são usadas para lidar com o intenso estresse psicossocial causado por tal doença. Intervenções espirituais, especialmente quando aplicadas em grupo, podem influenciar o curso da doença mental grave de vários modos, incluindo fornecimento de apoio, focalizando as suas preocupações espirituais e aumentando as suas habilidades para relacionar-se com outros. 
Ainda nos estudos entrelaçado entre doença mental e religiosidade, Koenig cita que Freud (1962), em o Futuro de uma Ilusão, escreveu: “Religião seria assim a neurose obsessiva universal da humanidade... A ser correta essa conceituação, o afastamento da religião está fadado a ocorrer com a fatal inevitabilidade de um processo de crescimento… Se, por um lado, a religião traz consigo restrições obsessivas, exatamente como, em um indivíduo, faz a neurose obsessiva, por outro, ela abrange um sistema de ilusões plenas de desejo com um repúdio da realidade, tal como não encontramos, em forma isolada, em parte alguma senão na amência, em um estado de confusão alucinatória beatífica”,
 Esta nota mostra o lado de controle e ajustamento impositivo associado aos grupos religiosos, que em sua época, mostrava-se de maneira muito mais rigorosa e rígida que atualmente, salvos alguns exemplos exaltados das civilizações e culturas do oriente.
Volcan (2003) considera que, embora não seja possível determinar com exatidão os mecanismos de interação da espiritualidade na saúde, especialmente a mental, vários estudos sugerem que o exercício de atividades espirituais (a oração e outros rituais, por exemplo) podem influenciar, psicodinamicamente, através de emoções positivas (como a esperança, o perdão, a auto-estima e o amor). Assim recomenda o incentivo a pratica de atividades espirituais e religiosas materializado em ações que, além de benéficas, não são onerosas aos sistemas de saúde.
Desta forma, percebemos que as discussões sobre o assunto foram e são influenciadas pelos atravessamentos sócio-históricos de seus autores, assim, encontrando posicionamentos favoráveis e contrários a prática da religiosidade pelos sujeitos. Entretanto, é preciso dizer que cada autor toma para si um ponto de vista extremo e particular, que nem podem ser negados, muito menos discutidos. Este cenário conflituoso foi retratado ainda por Koenig:
 “Esta visão negativa de religião no campo da saúde mental permaneceu até os tempos modernos por meio das obras de Ellis (1988) e Watters (1992), que enfatizaram a natureza irracional das crenças religiosas e o seu potencial malefício. As crenças religiosas pessoais de psiquiatras e psicólogos (especialmente quando comparados com as da população em geral) refletiam igualmente a visão secular , geralmente, negativa da religião, que são prevalentes nessas profissões.” (Neeleman e King, 1993; Curlin et al. 2005).”
Simpósio “Psicologia e Religião - A Ética Laica da Psicologia
Em 2003, nos dia 17 e 18 de outubro em São Paulo aconteceu o simpósio “Psicologia e Religião” para tratar de discussões a respeito das possibilidades de relações entre Psicologia e Religião. O simpósio foi realizado pelo Conselho Federal e Conselho Regional de Psicologia de São Paulo e se deu a partir de demandas de psicólogos cristãos e religiosos. Abaixo, segue alguns dos dizeres dos participantes do evento:
“Todo dia se deve cuidar para que a religião não invada a ciência” (Madel Therezinha Luz);
“A religião pretende a verdade; e a ciência sabe que é provisória. A religião nos mergulha no passado, a ciência é sempre nova” (Antônio Flávio Pierucci);
“Mas na prática profissional, percebemos que há controvérsias sobre como essa religiosidade do psicólogo pode comprometer a relação terapêutica e em que medida a religiosidade atravessa as técnicas psicológicas” (Wanda Maria Junqueira de Aguiar);
“A razão que funda a ética que não é religiosa, nem científica, é autonômica. A base da ética é o reconhecimento de que todos são sujeitos autonômicos”; “A convicção do terapeuta não pode prevalecer sobre a autonomia do cliente” (Carlos Drawin);
“Misturar psicologia e religião em sessões de terapia é uma das infrações cada vez mais cometidas por psicólogos. Ela explica que problemas políticos e econômicos, a violência e o desemprego, interferem no trabalho terapêutico do psicólogo, que, movido por um mecanismo de defesa diante da insegurança perante a vida, pode chegar a cometer transgressões” (Chica Hatakeyama);
“A ética da psicologia é laica, não religiosa, o que evita, inclusive, que uma religião tome conta da prática profissional” (Marcos Ferreira);
É uma pré-condição para que ele entenda que está diante de uma outra pessoa com seu próprio histórico. Por isso, quem tem de falar é o cliente, nós terapeutas temos de acompanhar o outro”.( Ageu Heringer Lisboa);
“A teoria é que dá legitimidade à prática psicológica e não a religião” (Sérgio Leite).
Koltai (2002) em seu artigo fala do perigo dos fundamentalistas, classificando-os como os responsáveis pelo ataque ao World Trade Center, em 2001, mas também os israelenses que, segundo a autora, querem recriar “O Grande Israel Bíblico” e os cristãos, que atuam através das tele-evangelizações. Para a autora, o que todos esses movimentos têm em comum é a recusa de aceitar que as sociedades de hoje recebem suas leis dos homens e não de Deus ou das tradições. Koltai afirma que o desenvolvimento da ciência moderna desalojou a autoridade religiosa e produziu um novo laço social em que a razão passou a ser priorizada em detrimento da fé.
Caso Estudado
A conversa foi informal, mas a revelação bombástica. A psicóloga já é formada há muitos anos e faz clínica em consultório e trabalha também junto a uma ONG. Acredita que o campo para o psicólogo já foi bom, mas hoje não dá para viver só com o que o psicólogo ganha porque as pessoas não têm dinheiro para pagar terapia. 
Conversávamos e eu revelei que gostei muito de ter feito estágio em CAPS e de ter atendido psicóticos.
“Eu não gosto de atender pacientes psicóticos. Problema psiquiátrico é na realidade algum problema de natureza espiritual e a pessoa tem que resolver se aquilo fica atrapalhando. Caso de pacientepsiquiátrico é problema espiritual, eu já atendi um rapaz que eu acabei encaminhando para procurar ajuda espiritual, não mandei ir a algum lugar específico, ele que escolheu onde achou melhor ir, eu não influenciei sua escolha, e fiz o encaminhamento explicando o que estava acontecendo. O rapaz no início continuou vindo ao consultório, depois ficou só lá no seguimento religioso. Mais tarde ele retornou e não tinha mais o problema.”
“Encaminhamento com o CRP e tudo?”
“Claro, eu me identifiquei: o psicólogo tem que se responsabilizar pelo que ele faz, .tem que dar a cara a bater.”
“Você não acha arriscado este tipo de procedimento?”
“Eu só fiz isso depois que eu tive certeza, foram mais de 8 meses, e ele não progredia. Eu avaliei bem o caso, é claro que não dá para fazer isso em poucas semanas. O psicólogo tem que fazer o que é o melhor para o cliente. Eu não vou ficar atendendo indefinidamente uma pessoa. Eu quero trabalhar e ver o efeito da terapia, e dar alta para o paciente seguir a vida dele. Eu não me sinto bem em ficar recebendo dinheiro e o paciente não apresentar melhora, não vou ficar enrolando. Eu sou psicanalista, mas nunca atendi com psicanálise; a pessoa fica em terapia durante anos e é sempre a mesma coisa não tem progresso. Eu gosto da TCC porque é rápida. O cliente não fica comigo muito tempo, foram raros os casos que fiquei atendendo mais de 1 ano”.
O Código de Ética
O código de ética possui vários artigos que vão nos ajudar a pensar sobre o caso apresentado. Logo nos princípios fundamentais encontramos o item IV: “O psicólogo atuará com responsabilidade, por meio de contínuo aprimoramento profissional, contribuindo para o desenvolvimento da psicologia como campo científico de conhecimento e prática”. Em seguida, no item VI: “O psicólogo zelará para que o exercício profissional seja efetuado com dignidade, rejeitando situações em que a psicologia esteja sendo aviltada”. 
O dispositivo que versa sobre as responsabilidades do psicólogo também traz contribuições para a discussão. No art. 1º, que fala sobre os deveres fundamentais dos psicólogos, o item b: “assumir responsabilidades profissionais somente por atividades para as quais esteja capacitado pessoal, teórica e tecnicamente”; o item c: “Prestar serviços psicológicos de qualidade, em condições de trabalho dignas e apropriadas à natureza desses serviços, utilizando princípios, conhecimentos e técnicas reconhecidamente fundamentadas na ciência psicológica, na ética e na legislação profissional; o item h: “Orientar a quem de direito sobre encaminhamentos apropriados, a partir da prestação de serviços psicológicos, e fornecer, sempre que solicitado, os documentos pertinentes ao bom termo do trabalho”; item j: “ter para com o trabalho do psicólogo e de outros profissionais, respeito, consideração e solidariedade, e, quando solicitado, colaborar com estes, salvo impedimentos por motivos relevantes”; item k: “Sugerir serviços de outros psicólogos, sempre que, por motivos justificáveis, não puderem ser continuados pelo profissional que os assumiu inicialmente, fornecendo ao seu substituto as informações necessárias à continuidade do trabalho”.
O artigo 2°, item b veda ao psicólogo “induzir a convicções políticas, filosóficas, morais, ideológicas, religiosas, de orientação sexual ou a qualquer tipo de preconceito, quando do exercício de suas funções profissionais”; e item f o impede de “prestar serviço ou vincular o título de psicólogo a serviços de atendimento psicológico cujos procedimentos, técnicas e meios não estejam regulamentados e reconhecidos pela profissão”.
Conclusões e Comentários 
O psicólogo não está desamparado em sua prática profissional, existe um instrumento de apoio e orientação que é o Código de Ética. A vida pessoal e as crenças particulares do psicólogo, embora tenham peso em sua postura profissional, não podem fazê-lo ignorar o código que respalda sua profissão. O caso exposto coloca várias questões éticas. Ao procurar atendimento psicológico, o paciente faz uma demanda específica. O psicólogo percebendo que o caso se trata de algo que não se sente preparado para atender, tem o apoio do código para encaminhá-lo a alguém apto a fazê-lo. No entanto, este encaminhamento terá que se embasar em postulados apropriados, que tenham a anuência da profissão. Ao partir de um princípio como o de que “paciente psiquiátrico tem na realidade um problema espiritual” está trazendo uma crença particular, não comprovada nem empírica e nem teoricamente em nenhuma comunidade científica. Além de desconsiderar a nosologia, nosografia e semiologia psiquiátricas e o trabalho de outros psicólogos que atuam nestes casos, com resultados atestados e publicados, desrespeitando, assim, sua profissão e seus colegas. Desta forma está indo contra as disposições do item VI dos princípios fundamentais e do item j do art. 1º das responsabilidades do psicólogo. Ao fazer um encaminhamento na condição de psicólogo, com CRP e descrição do caso para um atendimento cujos procedimentos e meios não estão comprovados cientificamente, ele está infringindo o código de ética e pondo em risco a saúde daquele que o procurou (item c, h e k do art. 1º e item f do art. 2º). [4: . Estudo das manifestações que caracterizam as doenças e permite classificá-las.][5: . Maneira pela qual um determinado agravo à saúde recebe o mesmo diagnóstico em qualquer lugar do mundo.][6: . Meio e modo de se examinar um doente.]
Não estamos aqui nos colocando numa postura contra a religião, nem negando que em alguns casos ela pode assumir um papel fundamental na vida do sujeito, papel este que deve ser respeitado pelo psicólogo. Abrir diálogo com atores da rede social de seu cliente ou propiciar que essas redes sejam construídas não é o problema. Faz parte de o trabalho clínico favorecer, quando preciso, o apoio social necessário ao bem-estar do paciente. O aconselhamento será feito caso a caso, sempre respeitando a crença e a postura do sujeito em questão e não deixando de observar os casos em que a religião e a pressão exercida pelos membros da comunidade religiosa podem agravar ou mesmo ser causa dos sintomas. O problema principal, a nosso ver, não é o psicólogo ter considerado um suporte religioso para o paciente, acreditando que a religião poderia favorecer o bem-estar do sujeito. Entretanto, valer-se de descrições específicas de uma linha religiosa para embasar um quadro clínico é, sem dúvida, uma postura questionável, mesmo baseada no discurso de que “o psicólogo precisa pensar no que é melhor para o cliente”.
Além disso, ao diagnosticar que o problema era espiritual, enquanto psicólogo ele não estava capacitado técnica e teoricamente, já que a questão extrapola os limites do campo de atuação do psicólogo, claramente orientado pelo Código de Ética em seu artigo 1º, letra b.
Para finalizar, levanta-se um questionamento necessário: “Teria o fato deste cliente aparecer ‘curado’ após o ‘tratamento’ sugerido pelo terapeuta, a justificativa para motivar essa prática?” Acreditamos que não. Concordar com essa assertiva seria compreender que, grosso modo, “os fins justificam os meios”. Entretanto, sendo o objetivo da terapia promover bem-estar e ajustamento psíquico, não se pode descartar a forma pela qual este alvo será atingido. Valendo-se disso, pela mesma linha lógica, tornar-se-ia corriqueiro e comum a indicação de lobotomia para os casos de sociopatias graves, apenas embasando-se nos estudos de mudança de personalidade e comportamento ligados a acidentes no lobo pré-frontal do córtex. 
É muito necessário o envolvimento dos profissionais de Psicologia nas regras éticas norteadoras de sua conduta. Tanto por que, são elas que garantem a integridade das práticas e, portanto, dos profissionais envolvidos. Acreditamos que a Psicologia será muito beneficiada pela adoção do pensamento e condutas éticas em suas rotinas, diminuindo e quiçá, revertendo a percepção comum sobre nossa classe profissional, contaminada de esoterismo e misticismo, numa área já (re) comprovadamentecientifica. 
A atualização profissional é orientada no código e se o profissional não procura saber o que acontece em seu meio científico, mantendo-se a par das publicações feitas, não pode eximir-se de responsabilidade alegando desconhecimento. O mesmo serve para todas as questões sobre as quais versam o código de ética profissional. 
ψ UFRJ - Psicologia, Religião e Ética
Referências
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