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MARGINALIDADE E SAÚDE MENTAL FAMÍLIA E EDUCAÇÃO

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
INSTITUTO DE PSIQUIATRIA
DEPARTAMENTO DE PSIQUIATRIA E MEDICINA LEGAL
PSICOPATOLOGIA ESPECIAL II
PROFESSORES: JOÃO FERREIRA E RITA LOUZADA
ANDRÉA LILIAM SILVA DA PAIXÃO – DRE: 100121475
MARGINALIDADE E SAÚDE MENTAL – FAMÍLIA E EDUCAÇÃO – 
RIO DE JANEIRO, 12 DE DEZEMBRO DE 2005
“É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária”.
( Estatuto da Criança e do Adolescente, art. 4o )
“Se há uma criatura que tenha necessidade de formar e manter constantemente firme uma personalidade segura e complexa, essa é o professor.
Destinado a pôr-se em contato com a infância e a adolescência, nas suas mais várias e incoerentes modalidades, tendo de compreender as inquietações da criança e do jovem, para bem os orientar e satisfazer sua vida, deve ser também um contínuo aperfeiçoamento, uma concentração permanente de energias que sirvam de base e assegurem a sua possibilidade, variando sobre si mesmo, chegar a apreender cada fenômeno circunstante, conciliando todos os desacordos aparentes, todas as variações humanas nessa visão total indispensável aos educadores. 
É, certamente, uma grande obra chegar a consolidar-se numa personalidade assim.
Ser ao mesmo tempo um resultado – como todos somos – da época, do meio, da família, com características próprias, enérgicas, pessoais, e poder ser o que é cada aluno, descer à sua alma, feita de mil complexidades, também, para se poder pôr em contato com ela, e estimular-lhe o poder vital e a capacidade de evolução.
E ter o coração para se emocionar diante de cada temperamento. E ter imaginação para sugerir. E ter conhecimentos para enriquecer os caminhos transitados.
E saber ir e vir em redor desse mistério que existe em cada criatura, fornecendo-lhe cores luminosas para se definir, vibratilidades ardentes para se manifestar, força profunda para erguer-se ao máximo, sem vacilações nem perigos. Saber ser poeta para inspirar. 
Quando a mocidade procura um rumo para a sua vida, leva consigo, no mais íntimo do peito, um exemplo guardado, que lhe serve de ideal.
Quantas vezes entre esse ideal e o professor, se abrem enormes precipícios, de onde se originam os mais tristes desenganos e as dúvidas mais dolorosas!
Como seria admirável se o professor pudesse ser tão perfeito que constituísse, ele mesmo, o exemplo amado de seus alunos!
E, depois de ter vivido diante dos seus olhos, dirigindo uma classe, pudesse morar para sempre na sua vida, orientando-a e fortalecendo-a com a inesgotável fecundidade da sua recordação”. 
Cecília Meireles 
( Crônicas de Educação 3 )
MARGINALIDADE E SAÚDE MENTAL – FAMÍLIA E EDUCAÇÃO
Por Andréa Liliam Silva da Paixão
APRESENTAÇÂO
O presente trabalho destina-se ao cumprimento de requisito para conclusão e avaliação com atribuição de nota da disciplina Psicopatologia Especial II coordenada pelo professor João Ferreira.
Com este trabalho pretendo demonstrar como projetos que visem promover a educação podem contribuir para a formação de uma personalidade sadia na criança bem como contribuir para o combate e prevenção do ingresso de crianças, adolescentes e jovens para a marginalidade. E como é importante considerar para se obter sucesso nos processos de educação o contexto familiar e social onde a criança está inserida. E a necessidade se serem implementadas políticas públicas que tenham a responsabiliadade de manter uma continuidade nos projetos de educação e saúde e voltados para a atender a população em geral.
MARGINALIDADE E SAÚDE MENTAL – FAMÍLIA E EDUCAÇÃO
Por Andréa Liliam Silva da Paixão
INTRODUÇÃO
Gomes ( 2003 ) afirma que a criança sem carinho, sem alimento, sem saúde, sem higiene, sem os estímulos de toda ordem que ela necessita, fica pelo meio do caminho: não chega a ser uma pessoa feliz, equilibrada, realizada, ficando de certa forma mutilada na sua personalidade, na sua capacidade de trabalho, de produção mental, de criatividade, de compreensão de sua vida e do mundo.
A inserção na sociedade começa a se dar a partir de um certo relacionamento que é gerado no convívio familiar entre a criança e seu(s) cuidador(res). E as impressões que chegam a essa criança no ambiente familiar poderão conduzi-lo por toda a vida a ir tomando um posicionamento perante a sociedade, pois no ambiente familiar começam a ser modelados seu comportamento e seus pensamentos. Segundo Mead ( 1972 ), o que garante os limites de uma pessoa são as interações sociais. A unificação psíquica de uma criança é uma emergência, não está lá desde sempre, é produzida. A pessoa é essencialmente uma estrutura social e surge na experiência social.
Barreiros ( 2001 ), lembrando Caplan, comenta que a “família é um suporte para o indivíduo, insuficientemente preparado ao nascer não apenas do ponto de vista físico, mas também, em termos de aperfeiçoamento gregário; dessa forma a família se torna intermediária entre a criança e o meio, o coletor e disseminador de informações, a fonte de ideologias, de controle social e de referência, proteção econômica e social, além de referência na idealização e programação de sua família futura”.
Segundo Leite ( 1998 ), a vida da família, contraposta pelo imaginário à vida mundana, vem significando ao longo dos tempos uma vida íntima, no interior de uma casa simbolizada como um “templo sagrado” e de felicidade doméstica. A vida mundana, a perdição, teria como símbolo as ruas, os cabarés, os bares , os largos, as esquinas e as praças públicas. Dentro de seu papel ideal, a família imaginária seria a primeira instância de refúgio das ameaças e perigos advindos do lado público, externo ao lar. Mas por outro lado a família real e concreta, juntamente com a proteção, muitas vezes tem representado uma instância de opressão, de dominação e de controle de seus membros.
Os homens da ciência tentaram, no início do século XX, igualar culturalmente toda a população brasileira, anunciando uma suposta harmonia social. Foram os meninos de rua os primeiros a se expor e a mostrar a vulnerabilidade dessa imagem harmônica, daí a insistência com que seu comportamento foi definido como doença, o que autorizou o Estado a sistematicamente retirá-los das ruas e interná-los em instituições fechadas, durante quase uma século. Todos sabemos que nenhum país pode se desenvolver se não educar suas crianças e jovens, e é fácil constatar que a escola brasileira tem fracassado em promover a educação das crianças pobres. O resultado do vazio educacional criou um mito que coloca as razões do fracasso das políticas públicas nos próprios meninos, afinal como todos acreditam eles são carentes, e têm patologias mentais que os impedem de aprender qualquer coisa (2001).
Josef ( 2002 ) enfatiza a existência de influência de fatores relativos ao meio familiar na gênese de comportamentos criminosos, em geral, e violentos, especificamente. Considerando que a família é o primeiro agente de controle social da conduta, bem como a fonte de laços afetivos e identificações que estruturam a personalidade e lembra alguns autores que tratam do mesmo tema como:
Monahan – que correlacionou lares rompidos, quaisquer que fossem as causas, com posterior delinqüência;
Convit e colaboradores – que correlacionaram “ambiente familiar desviante” com posterior comportamento violento em pacientes psiquiátricos internados, em modelo que incluía variáveis como hospitalização psiquiátrica de pai ou mãe do paciente, uso parental excessivo de álcool e drogas, espancamentos na infância e ausência da família intacta.
Em pesquisa realizada pelo autor em uma delegacia Policial do Rio de Janeiro com 34 detentos que possuíam como perfilos seguintes atributos: culpa formada ou condenados por homicídio ou tentativa de homicídio, no que refere a história pessoal e familiar, um bom número de indivíduos referiu problemas precoces no desenvolvimento psicossocial, assim como meio familiar problemático e tumultuado, em consonância com o que a literatura aponta para populações delinqüentes de forma geral e, mais especificamente, criminosos violentos. Um outro dado que surge na amostra é a proporção de educados no meio familiar original – 62%, enquanto que 48,27% foram educados por ambos os pais. Ocorre que, dos que relataram haver sido educados por ambos os pais, 14 no total, 6 ( 42% ) se referiram a um ambiente na infância positivamente marcado por brigas, discussões e violência constante.
Fatores de Risco
Cruz e Ferreira ( 2001 ) comentam que nas últimas décadas do século XX, importantes modificações aconteceram no panorama político e econômico no Brasil e no mundo. As garantias trabalhistas e outras formas de suporte social foram progressivamente abandonadas, enquanto a reestruturação das empresas produzia, no mundo todo, desemprego crescente e concentração de renda. Com o advento da política neo-liberal, o uso perverso de avanços tecnológicos e a reestruturação das empresas a função exercida pela parcela de pobres perde sua utilidade: aqueles indivíduos passam a ser desnecessários, retira-se o suporte social e eles são simplesmente excluídos. Desaparece ou se perde a estabilidade, progressivamente, a própria idéia de emprego. E como não há mais empregos como tais, os projetos de vida, na sociedade ocidental, fortemente ligados à vida profissional, tornam-se impossíveis, inviabilizando a constituição de identidades, num processo que tem papel central na determinação social das escolhas individuais.
A partir da década de 80, mudanças seguiram se ao período de crescimento econômico com maior concentração de renda, corrosão de salários em função da inflação e conseqüente desigualdade na distribuição da riqueza. Paralelamente, observa-se crescimento dos índices de criminalidade, principalmente nas grandes cidades, assim como da população carcerária ( 2001 ).
Uma das portas de entrada para a criminalidade, segundo os autores, são as dívidas contraídas por drogaditos com traficantes, furtos e assaltos são cometidos como forma de pagamento. Segundo os autores, lembrando Zaluar, o conjunto: baixa escolaridade/baixos salários/ atração pelas quadrilhas, como os fatores que corroboram para a entrada do jovem para o tráfico: não necessariamente de necessidade de ajudar a família na complementação da renda ou a falta de inserção no mercado de trabalho, mas a valorização atual do consumismo e do hedonismo, a procura pela sensação e pela fama que alcançam no seu meio ao entrarem para as quadrilhas aparecem como aspectos subjetivos importantes nas escolhas relacionadas tanto ao consumo como ao tráfico de drogas, por exemplo. Os autores atribuem a escolha individual pela criminalidade ao processo de construção de uma identidade a qual dirige o indivíduo ao encontro de seus pares e que principiam tais relações via de regra, no núcleo familiar, sendo gradativamente ampliadas. A integração de um indivíduo no grupo, o processo de socialização, necessariamente exige que se submeta o indivíduo a uma certa ordem, certos ritos iniciáticos. Toda a possibilidade de ingresso, construção e associação na história humana deve levar em consideração o cumprimento de pactos onde se comprometem ambas as partes envolvidas. A aproximação do jovem de grupos onde outros jovens excluídos de emprego e de projetos para o futuro também será uma des possíveis estratégias para lidar com as situações adversas. 
Há um contexto social atual que com certeza tem contribuído para a entrada de jovens e crianças para a marginalidade, não oferecendo um suporte para a criança ser educada a família se encontra sem recursos para manter os jovens e as crianças longe das ruas. Embora esse problema não seja novo, pois desde o império encontram-se crianças ligadas ou envolvidas com as atividades do crime, ou simplesmente perambulando ou vivendo pelas ruas, o que pode vir a favorecer seu envolvimento com atividades ilegais. No entanto hoje isso é cada vez mais comum. Como os autores apontaram fatores diversos confluem para essa situação:
Desejo de consumo – não é só a questão de fome ou passar necessidades, o desejo de consumir um determinado produto ou bem que se encontra em evidência na mídia, e é símbolo de status social, pode vir a induzir a criança e o jovem a sair de casa ou se envolver com o crime.
Desemprego ou sub emprego dos pais – que leva muitas crianças a abandonarem suas casas em busca de uma vida melhor, devido a falta de recursos em casa como alimentação;
Maus tratos – algumas crianças já possuem o histórico de uma família violenta. A falta de preparo das famílias para educar as crianças pode vir também de um despreparo da família original, também em cuidar da sua prole. O fatores provenientes do desemprego na família pode agravar essa situação, no sentido de que o adulto por sentir-se fracassado e projetar na criança a raiva pela situação de incapacidade de prover o sustento e o cuidado da família. Problemas como dependência química também pode vir a corroborar a falta de cuidado com a prole, além de abandono do lar por parte de um dos cuidadores;
Uma outra questão pode ser a falta de tempo que os adultos passam com as crianças. Pelo fato de estarem a maior parte do tempo sozinhas as crianças acabam por criar o hábito de ficarem pelas ruas, e se afastam dos vínculos familiares. Muitas crianças se encontram em situação de estarem sendo cuidadas pelos vizinhos ou por que seus pais trabalham ou por que não se sentem responsabilizados pelos filhos.
Situações como estas podem ser verificadas por muitos profissionais e estagiários que já tiveram oportunidades de trabalharem em creches comunitárias, escolas públicas etc. mas é preciso lembra que estar envolvido com o crime, ou estar vivendo pelas ruas não é privilégio de crianças oriundas de classes de baixa renda, pois há a possibilidade deste problema estar ligado só ao desejo de consumo, e aventura também, como já foi apontado por autores como Zaluar. No entanto algo da ordem dos valores morais encontrados no seio familiar também tem grande influência . 
A família é de suma importância para o desenvolvimento saudável da criança, no entanto a família não tem podido desempenhar o seu papel de maneira eficaz, constituindo-se ela, então, o centro do alvo das políticas públicas para a promoção do bem estar social, pois é nela que se constitui o sujeito, famílias doentes ( com problemas de fome, miséria, vícios, violência ) certamente estarão incapazes de gerar uma pessoa saudável. A identidade é formada no meio familiar, quem eu sou? O que sou? São questões que começam a ser respondidas na convivência da família, se essa família não oferece uma resposta adequada, se a família não tem uma imagem adequada, consequentemente a auto-imagem da criança e do jovem não será adequada, boa e com certeza refletirá isso, no convívio social e na forma que constituirá mais tarde sua própria família e conduta.
Talvez uma das formas de se enfrentar o problema seja o desenvolvimento de políticas públicas voltadas para e educação. Dessa forma atuando junto ás famílias que apresentam falta de suporte adequado e consequentemente fragilidade social, como forma de prevenção e junto aos jovens, crianças e adolescentes sob risco social.
Como exemplo de atuação junto aos meninos de rua como forma de promover a inclusão social, e o resgate da cidadania podemos tomar o trabalho realizado junto a meninos de rua na Escola Tia Ciata .
Breve Histórico da Escola Tia Ciata 
Segundo Leite ( 2001 ), a experiência da escola Tia Ciata foi desenvolvida entre 1983 e 1989, com o objetivo principal de atuar no cerne do problema da adolescência e infância pobres. O começo foi patrocinado via governador Darcy Ribeiro,que defendia a necessidade primordial da escolarização dos jovens como modo de promover sua inserção social e profissional. Em 1987, o prefeito Saturnino Braga transformou o projeto em uma escola da rede municipal. Em 1988, a escola ganha novo prédio no centro do Rio. Em 1989, com a posse do prefeito Marcelo Alencar, a escola foi desestruturada, sua equipe de coordenação e planejamento foi destituída. Devido as mudanças administrativas, os alunos abandonaram a escola. 
Projeto Pedagógico da Escola Tia Ciata
O projeto pedagógico era voltado para as necessidades específicas dos alunos que freqüentariam a escola. Segundo Leite ( 2001 ), tanto a formulação quanto a implementação da Escola Tia Ciata tiveram por base estudos sobre a realidade educacional do Rio de Janeiro, especialmente os que enfocavam os livros didáticos utilizados nas classes se alfabetização das escolas públicas, nas zonas mais pobres da cidade, ignoravam a origem cultural e social do aluno que iria aprender com ela – o que conduzia ao insucesso do aluno que continuava analfabeto e não raro assumia a culpa pela repetência.
Para Leite, o projeto piloto da Escola Tia Ciata visava em primeiro lugar à escolarização de adolescentes analfabetos e partia da idéia de que uma escola pública pode e deve escolarizar os alunos, quaisquer que sejam suas origens ou condições socioeconômicas e foi adotado um conteúdo pedagógico que incentivasse o aluno a persistir nos estudos e o ajudasse a se integrar profissionalmente à sociedade como forma de responder as necessidades financeiras urgentes daqueles alunos bem como combater o risco de delinqüência .
A escola possuía uma proposta de atrair os alunos e motivá-los, combatendo assim o fascínio que o crime exercia sobre os alunos e para isso ser possível considerado no projeto pedagógico a realidade de onde esses jovens eram oriundos e na qual estavam inseridos, suas vivências, histórias de vida, expectativas, de modo que eles se sentissem sujeitos de sua própria aprendizagem e progredissem nos estudos. Considerou – se também nesse projeto o ritmo que cada um dos alunos possuía para aprender e este aspecto conduzia a forma de avaliação de cada aluno em particular bem como sua evolução pedagógica e uma coordenação pedagógica e interdisciplinar supervisionava e orientava os professores na elaboração e desenvolvimento dos planos de aula. 
Um ponto diferencial nesse projeto foi o fato dos alunos terem uma participação ativa no projeto pedagógico da escola, terem voz ativa e terem sido ouvidos quanto aos seus desejos, quanto ao que eles tinham a dizer sobre eles mesmos. 
Paralelamente ao trabalho pedagógico, segundo Leite, a Escola Tia Ciata procurou propiciar outras oportunidades aos alunos, como a de obter certidão de nascimento e demais documentos, assim como oportunidades de emprego – era necessário enfrentar a preemência financeira dos alunos e o desejo deles de reencontrar a família e mostrar que haviam mudado de vida, segundo a autora. Ao todo foram encaminhados mais de 250 jovens, destes, cerca de 25% conseguiram seguir carreira dentro das empresas que os contrataram.
Outros Exemplos de Possibilidades de Atuação e Intervenção Pedagógica
Os relatos que se seguem foram extraídos da revista Nova Escola ( 156, 2002 ) e mostram como a educação, pode estar inserida no processo de prevenção ao envolvimento de crianças a criminalidade, motivando a permanência na escola.
Com o objetivo de construir uma auto-imagem positiva, identidade e aprender a respeitar as diferenças, duas professoras de pré-escola, em Cuiabá, Maria Auxiliadora de Oliveira e Isabel Cristina Corrêa Ribeiro, utilizando o tema gerador: ”Eu tenho valor” ajudaram seus alunos a elaborarem, cada um, uma auto-biografia ( um total de 48 crianças ). Cada aluno pesquisou sua própria história e cada história virou um livro.
 Através de diversos questionários, que eram enviados regularmente para as famílias, as histórias de vida eram montadas. 
Os questionários exploravam informações, tais como: nome, características físicas e psicológicas. Através dos questionários as crianças conheciam melhor a família, de onde vieram seus antepassados, quem eram os avós, como os pais se conheceram, a profissão deles. Os relatos ouvidos em casa eram compartilhados em classe, atividade que conduzia as crianças a se sentirem importantes pelo que cada uma delas era.
Aos relatos eram agregados documentos como certidão de nascimento, carteirinhas de vacinação, fotografias que registravam vários momentos da vida das crianças, desenhos produzidos pelas crianças e que também registravam o trabalho.
Durante o decorrer do trabalho, as preferências das crianças levantadas pelos questionários eram inseridas nas atividades pedagógicas. As crianças aprenderam a reconhecer o nome escrito e escrevê-los. 
Segundo as professora, “o objetivo inicial dessa proposta foi começar a construir noções de auto-conhecimento, a conhecer a própria história, a valorizar-se e a respeitar os outros. Mas as expectativas foram ultrapassadas e as crianças aprenderam também a ser críticas e a expressar sentimentos”.
Um outro exemplo, que trago é o trabalho realizado pela professora Daniele Rocha da Silva, em Belém, cujo objetivo era construir nas crianças uma auto-imagem positiva, promover a socialização dos conhecimentos e experiências, superar problemas de preconceito e envolver a comunidade num trabalho de integração social, em uma classe de 25 alunos de 2 e 3 anos.
Daniele julgou que havia uma agressividade excessiva no comportamento das crianças e elaborou um projeto de intervenção.
A brincadeira preferida dessas crianças era brincar de casinha, e foi justamente a partir dessa brincadeira que tudo começou. Um outro fato era que todas as crianças queriam ocupar o papel do pai na brincadeira, inclusive as meninas, pois o pai era quem sempre mandava.
Para conhecer melhor a realidade dos alunos Daniele, convocou uma reunião com todos os pais, e dessa reunião surgiu a necessidade de se trabalhar as relações interpessoais das crianças.
Improvisando uma casinha com lençóis e tatame foi criado um espaço confortável para cada uma das crianças falarem sobre a família, hábitos e preferências. Como a maioria das crianças não mencionava quintal, mas maré, a professora deduziu que moravam em sua maioria em palafitas. A partir daí surgiu a idéia de se fazer uma visita ao bairro. E para trabalhar mais essa proposta foram elaboradas atividades onde a criança falava sobre como era rotina em casa, e fazerem desenhos sobre a família.
Aos poucos a agressividade observada no início do ano deu lugar à manifestações de carinho, e então o passeio pode acontecer, com o intuito de aproximar mais escola e comunidade.
Todo o projeto foi acompanhado por reuniões semanais com os pais. E esta parceria para a professora, segundo seu relato, foi o fator determinante do sucesso do projeto.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para Gomes ( 2003 ), o objetivo da educação infantil é o desenvolvimento global e harmônico. Global, porque inclui todos os aspectos da pessoa: o corpo, a mente, a afetividade, a consciência moral e a integração social. Harmônico, porque todos esses aspectos devem se desenvolver de maneira equilibrada, paralelamente, sem exagero de um em detrimento do outro.
Com os exemplos trazidos espero ter conseguido demonstrar a importância que a educação pode desempenhar no processo de formação da personalidade do indivíduo e cidadão. Embora este papel a princípio devesse ser atribuído á família, quando esta falha não é necessariamente uma sentença de má formação e delinqüência o que deve acompanhar o transcorrer da vida da criança. Há meios de se impedir o desenvolvimento desse processo e é claro isto deve passar pela instituição familiar, pois é nela que se forma e se desenvolve a personalidade da criança, a princípio. E porque a criança mais tarde terá seus próprios filhos, sendo ela moradora de rua ou não, oriundas de famílias violentas ou não, que oferecem suporte ou não, famíliasestarão sendo formadas todos os dias. E as histórias de sofrimento, abandono, evasão escolar, desemprego e envolvimento com o crime vão se repetindo ao longo dos anos, sem que as pessoas reflitam a respeito disso e criem estratégias para burlarem a continuidade desse ciclo.
Vale a pena lembrar que na experiência da Escola Tia Ciata, aqueles alunos lembraram de voltar para casa e mostrar para os familiares que haviam mudado de vida, a importância do contexto familiar para aqueles jovens ainda era significativa, queriam investir nela ainda. Ao se visar a família na elaboração implementação de políticas públicas que promovam qualidade de vida, saúde, e principalmente educação se estará promovendo o bem estar de seus integrantes, bem como as crianças que estão sendo geradas em seu meio, e formadas nele. Note-se que educação é um projeto que vise atingir toda a família, em qualquer idade e situação, mas cujo conteúdo esteja repleto de implicações de cidadania, saúde, e cuidado mútuo e sejam uma resposta ao que é a necessidade de cada família. Ou começamos a investir em um projeto de educação que vise atender as necessidades das pessoas a serem atingidos por ela ou continuaremos assitindo perplexos, ao crescimento das filas de crianças, adolescentes e jovens que seguem uma rota uma rota que conduz a criminalidade, a marginalidade. Segundo Leite mais de 50% dos jovens que estavam matriculados na Escola Tia Ciata, devido as mudanças administrativas por que passo a escola, vieram a engrossar as estatísticas dos jovens que acabam por ser exterminados. Um final trágico para um trabalho tão promissor e que apresentou resultado positivo em tão pouco tempo. Idéias cujo objetivo é atingir as camadas mais sofridas da população, proporcionado lhes uma vida mais digna, não são raras. Como a experiência com as crianças da pré-escola que aprenderam entre outras coisas a exercerem a prática da crítica e o envolvimento que foi conseguido entre família e escola pelas professoras. O maior problema não tem sido nem mesmo como levar as idéias a cabo, mas como dar continuidade a esses processos que visam a cidadania e a inclusão social. 
REFERÊNCIAS
Barreiro, C. ( 2001 ). “A escuta da demanda na clínica com crianças”. Cadernos Pestalozzi, 3 ( 1 ), 34 – 36.
Cruz, M. & Ferreira, S. ( 2002 ). “Determinantes socioculturais do uso abusivo de álcool e outras drogas: Uma visão panorâmica” In: Cruz, M. & Ferreira, S. ( orgs ) Álcool e drogas – usos, dependência e tratamento. RJ: Edições IPUB, 2001.
CEBRID ( 1998 ). IV Levantamento sobre o Uso de Drogas entre crianças e Adolescentes em situação de rua de seis capitais brasileiras, nos anos de 1987, 1989, 1993 e 1997.www.unifesp.br/dpsicobio/cebrid/meninos_de_rua/htm
Estatuto da Criança e do Adolescente ( Lei 8069 de 13/07/1990 )
Gomes, G.M.P. ( 2003 ). “Educação infantil: brincando e aprendendo”. Revista do Curso de Pedagogia, jan-jun. 1 ( 2 ), 19 – 24.
Josef, F. ( 2000 ). Homicídio e Doença Mental. Rio de Janeiro: Editora Forense.
Leite, L. C. ( 1998 ). A razão dos invencíveis: meninos de rua – o rompimento da ordem ( 1554 – 1994 ). Rio de Janeiro: Editora UFRJ/ IPUB. 
 Leite, L. C. ( 2001 ). Meninos de rua – a infância excluída no Brasil. São Paulo: Atual.
Marangon, C. ( 2002 ). “O valor de uma brincadeira”. Nova Escola, outubro, 156, 6A – 8A.
Mead, G. H. (1972 ). Espirity, Persona y Sociedad. Buenos Aires: Paidos. 
Meireles, C. ( 2001 ). Crônicas de Educação 3. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, p. 147 – 148.
Pellegrine, D. ( 2002 ). “Quem sou eu?” Nova Escola, outubro, 156, 4A – 5A

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