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PRATICA CLINICA o cuidado do terapeuta na clínica fenomenológica

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An ai s d o C on g r esso d e F e n om e n olog i a d a r eg ião C en tr o -Oe s te 
Cad er no de tex tos - I V C o ng res s o de F e n o me n olog ia d a reg ião C entr o - O este - 1 9 – 2 1 de S etemb r o d e 2 0 1 1 
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O C UIDA D O DO TE R A PE UTA NA C LÍN IC A FE NOME NOLÓGIC A 
Gu ilhe r me Nogu e ir a 
L a r issa R od r igue s Mor e ir a 
Estu d a n tes d e Gr a d u a ç ã o e m Psic olo gia 
Univ e r sid a d e F e de r a l de Goiá s 
gu y lhe r me gyn@h otmail .com 
Eix o T e má tico 2: F e n ome n olo gia e C lí nic a 
Res u mo 
A F e nome nol ogia pe r m ite pe n sa r a pa r tir e c om c u id a d o sob r e c om o v iv e mo s. H e id e gge r d iz o c u id a d o fa z 
pa r te d a c ond iç ã o hu m a na , e e stá d iv id id o e m oc u pa ç ã o – c u ida d o c om o m u nd o e e ntes simp le sme nte d a d os 
– e pr e oc u pa ç ã o – c u ida d o c om q u e m nos r e la c iona m os .A P sic oter a pia E xiste nc ia l tem su a fu nd a ç ã o ba se a d a 
no “c u id a d o”, e nq u a nt o “se r - n o- mu nd oc om - o- ou tro ”, nã o se ba se a nd o e m inter pr e taç õe s a d q u ir id a s a pr ior i 
ou e xplic a ç õe s c a u sa is s obr e a r e a lid a de v iv id a pe lo c lie nte e nã o e nq u a d r a nd o - o e m pa d r õe s mor a is . 
P od e mos a na li sa r q u e o tra ba l ho d o ter a pe u ta na c lí nic a fe n ome n ológ ic o c o nsi ste e m u sa r d o c u id a d o pa r a 
c om o c lie nte e pe r mitir q u e e le r e stau r e se u cu id a d o c onsigo e c om os ou tros . 
P a la v r a s - c ha v e : C u id a d o; P sic ologia C lí nic a ; C lí nic a F e nom e n o lógica . 
Todo e qua lque r comportam e nto hum a no é cui d ado e se cumpre como cuida do. 
(FE R NA NDE S, 2 0 11) Viv e m os ce rca dos por inform aç õe s que tenta m nortea r a nossa 
v isã o a c e rc a de nós m esm os e d o m undo que nos rod eia . Quando pa ramos pa ra pe nsa r, 
nã o te mos ce rte z a d e que esses pe nsa m entos sã o rea lm ente nossos, ou sã o fruto da intensa 
massific a ç ã o soc ia l que v iv e mos por pa r te d a mí d ia que tenta glo ba liz a r o pe nsa mento. 
Nesse mome nto histó rico, pod em os refle tir sob re com o temos cui da do de nós mesmo s, 
tanto do fí sic o qua nto d o psic ológ ic o, e com o tem os cui d a do da s pe s soa s a o nosso redor e 
do a mbie n te que nos a barca . E a Fenomenol ogia , com o uma forma de pe nsa r, nã o deseja 
a pe na s fa la r sobre o cui d a d o, e sim fa la r a pa rtir do cui d a do e com cui da do que esta á rea 
re que r (FE R NA ND E S, 20 1 1) . 
O home m nã o v iv e isola do, el e tem a nece ssid a d e de se rela ci ona r com os outros, e, 
a ssim, fa ze r pa rte d e u m grupo. Um a v e z inserid o ne sse grupo po r el e escol hido, é tra ça do 
um c a minho de a cord o com sua s d e ci sõe s e escol ha s. E xistir, pa ra o home m, é esta r no 
mundo em inte rdepe ndênci a com os outros, um a vez que o homem é o único ser ca paz de 
e scolhe r e , ge ra lmente , e scol he cui da r d o outro, iss o oc orre porque nós nos en ga ja mos, nos 
fa milia riza mos e a prendem os a lid a r e com preend e r o outro (FE R NANDES , 2011; 
MA R TINS, 2009 ) . N ess e sentid o, podem os pe nsa r o cui da do nos senti dos ôntico e 
ontológ ic o. Ontic a mente, cui d a d o possui os sign ifica dos de a tenç ã o, ca utela, zelo, 
re sponsa bili da de , a ssim , rela ci ona -se a o ente , o ex istente conc reto da rea lida de ; já no 
se ntido ontológic o, o cui da d o refere -se à essênc ia de ca d a pa rtic ula ridade ex istente e, ne ssa 
pe rspe c tiv a , a pre senta nd o, e ntão, o sentido d e rel a ção (PA LA , 20 10) . 
He i de gge r ( 2 0 0 1 ) ente nd e o cui d a d o com o um conce ito ontológic o -existenc ia l, que 
nã o de v e se r c ompree nd id o por um a ace itaçã o comum do termo. O cui dado é algo da 
e ssê nc ia do huma no que está sem pre subja ce nte a tudo o que e mpree ndemos, projeta mos e 
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fa ze mos, nomei a dessa forma um modo de ser (FE R NA NDE S, 2011 ) . O cuida do é uma 
dimensão do ser, e que Hei de gger (2001) a credi ta ser uma condi çã o próp ria do huma no. 
Desta forma, o cuida do é esta r à frente de si mesmo e env olv er -se com entes no mundo. 
C uida r constitui -se, pois, n o ex ercí ci o da pre -oc upaçã o com o aconte ce r. 
Não podemos pe nsa r o cui da do como este ou a quel e comporta mento, pois este se 
mostra como o mod o d e ser presente em todo e qua lque r comporta mento huma no, 
mesmo que este comporta mento sej a positiv o ou ne ga tiv o, se mpre se cumprirá como uma 
rea liz açã o do cui da do (FER NA NDE S, 2 011) . 
O ser huma no tem em sua raiz primordial o cui da do e este é quem o norteia 
durante a sua v ida , nã o é el e que tem o cui da do, mas é o cui da do que o tem (BOFF, 1999 ; 
FE R NA NDE S, 2011; HE IDEGGE R , 2001) . O cui da do de ve ser v isto, seg undo Boff 
(1999) , como uma a titude de responsa bili za çã o e de env olv i mento a fetiv o com um e nte. 
Podemos distinguir dois modos de cui da do: oc upa çã o (Besorge n) e preoc upa çã o 
(Fürso rge) . O primei ro m odo refere -se a o cui da do no mundo e rela ci ona do com o mundo 
dos ente s simple smente da dos, sua ex pressã o está no ser -a í a o rela ci ona r -se com outra s 
pe ssoa s. A preoc upa çã o seria o cui da do com os seres de ste mundo que s e rela ci ona m 
consta nteme nte, é o cui da r propriame nte dito, dir ec iona do à existênc ia do outro e nã o a 
uma c oisa de qu e se ocupa (HEIDE GGER , 2001) . 
Nosso tempo é oc upa do pe la s oc upa çõe s que temos pe la s coi sa s qua n do a s 
tra ze mos pa ra o enl a ce do nosso cui da do e, a ssim, fa ça mos com que ela s se torne m 
fa milia res a o nosso mundo. O homem pode se construir a pa rtir de sua s oc upa çõe s, mas é 
prec iso ca utela pa ra que nã o fique de tal modo imerso no mundo da s sua s oc upa çõe s, que 
a ca be se di spe rsa ndo e m sua multiplic ida de (FER NA NDES , 20 11) . 
A preoc upa çã o pode ser div i dida em dois mo dos: substituiç ã o e a nteposiç ã o. Na 
substituiç ã o o ser se col oca no lug a r do outro e tende a substituí -lo, e a ssim irá resolv e ndo 
os obs tác ulos e a s dif ic ulda de s pa ra el e, é retira da , porta nto, do outro a sua 
responsa bili da de consigo mesmo, col oc a ndo -o à p a rte e, a ssim, rea liz a ndo por el e o que el e 
nã o pode rea liz a r soz inho. Na a nteposiç ã o o outro v ai se a ntepuser a o ser, col oc a ndo -se a 
sua frente pa ra de v olv ê -lo a o cui da do de si mesmo e de ixa ndo -o dia nte da s sua s próp rias 
possibil ida de s ex istênc ia s, o outr o é remetido pa ra responsa bili da de do ser, a juda ndo este a 
torna r-se, em seu cui da do, compree nsív e l pa ra si mesmo e liv re pa ra o seu cui da do, pa ra 
sua s oc upa çõe s (FE R NADES , 2011 ; HE IDEGGE R a pud PA LA , 2010 ) . Pa la (2010) usa 
uma metá fora pa ra ex plica r essa d iv isão usa ndo o dita do “nã o da r o pe ixe, mas ensina r a 
pe scá -lo” , a substituiç ã o consistiria em “da r o pe ixe ” e a a nteposiç ã o seria “ensina r a pe scá -
lo” . 
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O c ui da do fa z pa rte da constituiç ã o ontológic a d o homem, e possui dois a spe ctos: 
o cui da do c onsig o na sua própria constituiçã o ex istenc ia l no mundo (estrutura de “ser -e m -
sime smo”) e o c ui d a d o com o ser no seu d e sd obra mento no outro (estrutu ra de “ser -junto -
a ooutro”) (HEIDE G G ER , 20 0 1 ) . N a essênc ia humana está o cui da do, com isso o ser 
huma no c ui da de si m es m o um a v e z que esta m os no m undo com responsa bili da de sobre 
nós me smos, e o ser h umano tam bé m se oc upa d e a lgo, os outros se res huma nos 
(MA R TINS, 20 09) . 
Na obra Se r e Tem po, Hei d e gger (2 0 0 1) nos a presenta uma fá bula que diz que o 
home m é formado por um corp o d e a rgila que foi m old a do pe lo cui da do, e este pe diu a 
J úpite r pa ra soprar um es pí rito sobre a obra cria d a . J úpiter, a terra e o cui da do disputav a m 
qua l nome a cria çã o recebe ria, Sa turno foi o á rbitro que esta be le ceu que após a morte o 
c orpo v olta sse pa r a a terra , o espí rito pa ra J úpiter e em v ida pe rtence ria a o cui da do, e 
també m e sc olhe u o nome de hom em pa ra o ser, d e v ido a o el eme nto de que consiste 
(húmus) . 
Nasc ime nto (2 0 1 0) a na lisa esta fá bula d iz end o que prima zi a do cui da do proposta 
por He i de g ge r e stá d ireci ona da a um ser que é com posto de corpo e espí rito; que o homem 
te m e sse nome nã o pel o s eu ser, m as pel a m até ria d e que se c onstitui. A yres ( 2004 ) ta mbém 
re fle te sobre a mesm a e a cha curioso o fa to d o c uid a d o ter a cha do a a rgila pa ra molda r 
e nqua nto se mov ia sobre o le ito d o rio, o que el e rela ci ona com a formaç ã o da ide ntidade 
do huma no, que tam bém é fruto d o m ov im e nto d a v ida , que fa z com que ela seja 
c onstruí da no e pe lo a to de v iv e r, e e sta se fa z na presenç a do outro. 
A pre senç a d e Sa turno na fá b ula é d e fund a menta l importânc ia pa ra a compreensão 
do c ui da do c om o Se r. Sa turno na m itologia representa o senhor do tempo e oferec er 
te mpora lida de é seu pa pel na fá bula . O Ser pe rtence a o cui da do enqua nto continua r v iv o, 
ou se j a , é se mpre na pe r spe ctiv a d e que há um tempo flux o que há sentid o em fa la r de 
c ui da do, a o me smo tem po em que o cui d a d o é a cond i çã o de possibil ida de da repa rtiç ã o 
te mpora l da e x istênc ia d o huma no (A Y RE S, 2 0 0 4 ; NA S C IME NTO, 201 0) . 
O c ui da do nã o é o Ser, m as é só a tra v é s de le que este pode ex istir; el e nã o é o 
e spí rito ne m a maté ria, m as é a ca usa de rela çã o entre el es; o cui da do é uma dá div a do 
te mpo, mas este só ex iste gra ça s a el e (A YR E S, 20 0 4 ) . Hei degg er (2001) suge re que o 
c ui da do se j a a c a tegoria possibil itad ora d e col oc a r em sin tonia esse pla no sem come ço nem 
fim, no qua l o se r d o hum ano seria o resulta d o d e sua ocupa çã o de si como resulta do de si. 
C uida r nã o é a pe na s proje tar, seria um proje tar responsa bili za ndo -se, o cuida do 
pode se r també m um a a titud e d e solic itude, d e a tençã o pa ra c om o outro, de preoc upa çã o e 
de inquie taçã o, uma v e z que a pe ssoa que sente cui da d o por a lgu ém, sente -se env olv i da e 
a fetiv a me nte liga da a o outro (AY R E S, 2 004 ; BOFF, 1 9 9 9 ) . Nessa pe rspe ctiv a o cui da do se 
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a presenta a o ser de sde o momento da sua conce pçã o. Uma mulhe r dev e cuida r do ser que 
está ge rando pa ra que este possa na sce r com sa úde. Somos muito frág ei s ao na sce r, sem 
que ha ja um cui da dor nã o seria possív e l um ple no de senv olv i mento fí sic o e cogni tiv o, pois 
prec isa mos de a lgu ém que nos ensine como podemos nos torna r huma n os. Quando já 
inde pe ndente s e nos de paramos com um proble ma de sa úde, prec isa mos dos cui da dos de 
a lgu ém. Isso tudo mostr a como cui da do constitui o ser e mostra que el e rea lmente 
a compa nha o ser dura nte toda a v ida . 
Preci sa mos consta nteme nte cui da r de nosso cui da do, o que pode ser ente ndido 
como um resga te de no sso cui da do. Muita s v e ze s somo s le v a dos pe la s nossa s v á rias 
oc upa çõe s, de ixa ndo que o nos so ser -no -mundo se dispe r se e dist raia de si mesmo, 
fa ze ndo com nos distanci emos de nós mesmos a té o ponto de ca usa r uma possív e l 
a lie naçã o. A lé m da s nossa s oc upa çõe s com a s coisa s, a s nossa s preoc up a çõe s com os 
outros pode fa v orec er esse distanc ia mento do nosso ser -no -mundo, pois pre -oc upa r-se do 
outro també m ex ige que fa ça mos a manutenç ã o do nosso próprio cui da do 
(FE R NA NDE S, 2 011) . 
A preoc upa çã o é uma forma de cui da do muito de lic a da , pois pode fa ci lmente 
toma r dimensões errônea s. E m muitos momentos a substituiç ã o se fa z ne cessá ria, pois o 
indiv í duo pode nã o ser capa z no momento de tomar de c isõe s e prec ise que a lgué m o a jude 
nisso, el e pode nã o ser ca pa z a inda de a prende r a pe sca r, mas em ce rto momento, el e 
de v e rá toma r nov a mente a s rédea s. A a nteposiç ã o també m pode força r o indiv í duo a se 
de pa rar com ba rrei ras que el e nã o está pronto pa ra su porta r, entã o é prec iso usa r prudênc ia 
(PA LA , 20 10) . 
Lev a ndo em considera ção que o cui da do é ine rente a condi çã o huma na, “é a 
v e rdade ira essênc ia do ser huma no” (LE LOUP e BOF F, 2007 ) é v á lido a na lisar a 
conj untura da cl í nica fenome nológic a no conte xto em q ue esta mos v iv endo. Muitos 
de ba tes sã o fei tos a ce rca da ide ntidad e da psic ologia cl í nica , confusõe s a ce rca do lug ar 
onde esse a tendime nto oc orre, qua nto a o suje ito que é a tendido e a quele que a tende sã o 
comuns e, porta nto, a ética , o ethos do cuida do é pro posto como uma ide ntida de sa udáv el 
à psic olog ia c lí nic a (SILVA , 2001 ) . 
O cui da do trá s uma nov a dimensão à prá tica psic ológ ic a , pois o cui da do diz de um 
a col himen to que é busca do pe lo suje ito que va i a té a cl í nica , e, porta nto prec isa ser 
escuta do (SILV A , 2 001; DUTR A , 2004 ) . Nesse sentido a cl í nic a psic ológ ica “de v olv e ao 
homem o cui da do por sua ex istência , ou sej a , a sua própria tutel a ” e no exe rcí c io da clí ni ca 
fenome nológ ic o -ex istenc ia l o cl í nic o acol he o outro como el e se most ra, suspe ndend o 
todos os e sc la reci mentos prév ios, inc lusiv e dia gnóstic os (FR E J OO e PR OTA SIO, 201 0) . 
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O proc e sso d e constituiçã o d a Psic olog ia C lí ni ca em nosso pa í s é marca do por 
div e rsa s influênc ia s, o term o cl í nic a, que sign ifica “à be ira do le ito” nos remete à influência 
do model o médico ne ssa á rea d e conhe ci mento e de a tuaçã o do psic ólog o. A inda hoje a 
c onc e pçã o de que o psicólog o cl í nico tem com o obje tiv o a compree nsã o e tra tame nto de 
de te rmina da doe nça a partir d a d e m and a da quele que o proc ura faz pa rte da v isã o que o 
se nso c omum tem d a á rea , be m com o a v isã o de que o psic ólog o clí nico cui da dos 
“doe nte s me nta is”, o que por v e ze s restring e o a ce sso d a quel es que julg a m nã o ne ce ssitar 
de tal c ui da do (DUT RA , 2 0 0 4 ) . 
A c l í nic a fenom e nológica se constitui com o u ma a lterna tiv a a o modelo da 
psic olog ia c l í nic a tra d ici ona l, justam e nte d ev id o a com pree nsã o do cui da do como essênc ia 
huma na e nã o som ente com o nec essid a de d e algu ns. 
A c l í nic a ex istenc ia l surge em um m om ento histórico em que os resulta dos dos 
tra ba lhos de Fre ud ge rav a m ce rta ins a tisfa çã o, sur gin d o nã o como um co mpleme nto ou 
v isã o à Psic a ná lise, m as com o um a m ane ira d e prioriza r a ex istênc ia conc reta do homem, e, 
a ssim sa ir de c onc epç ões teórica s que sã o, m uitas v e ze s, a bstra tas e distantes da rea lida de 
do c l ie nte (LE SSA e S Á , 20 0 6) . 
A Psic oterapi a E xistenc ia l tem sua fund a çã o ba sea da no “c uida do”, enqua nto 
“ serno- mundo-com -o -ou tro”, nã o se ba sea nd o e m interpreta çõe s a dquirida s a priori ou 
e x plic aç õe s c a usa is sobre a rea lid a de v iv id a pelo c liente. Q ua ndo há interpretaçã o, “ ela de ve 
se r fruto de uma el a boraçã o tem á tica d e um a ex istênc ia que se expl ic ita enqua nto proje to”. 
O psic ote rape uta tem com o foc o rem ete r o ind iv í duo a si, pa ra que este r ec onheça sua 
impe ssoa lida de e se questione no sentid o d e encontra r sua s próprias res p ostas pa ra a s 
situaç õe s que a v id a lhe a presenta . A Psic oterapi a E xistenc ia l nã o tem como obje tiv o 
e nqua dra r o c l ie nte em pad rõe s m ora is ou em m od elos teóricos, mas busca a compree nsã o 
da s possibil ida de s ex istenc ia is d e ca d a um e com o é a ex pe rimentaçã o de ssa s possibil ida de s 
e m sua s re la ç õe s com a s pe ssoa s e a s coi sa s que se a presenta m no mundo (LE SSA & SÁ , 
2006 ) . 
Se g undo Ma y ci tad o em Lessa e Sá (2 0 0 6) o enc ontro que a conte ce entre o 
te rape uta e o c l iente “é uma ex pressã o d e ser”, pois ne sse momento se esta be le ce um 
re la c i ona me nto tota l entre dua s pe ssoa s. N esse s entid o ca be uma pe rgunta : quem é o 
te rape uta? Ma s a ntes d e respond e r a essa pe rgunta va m os retoma r o sentido etimológ ic o da 
pa la v ra. Te ra pia vem do greg o Tera peia que sign ifica cui da do e cura , mas també m 
a pre se nta outro sentid o, d e orige m he bra ica , a tra vés d a pa la v ra Terufa , que tem o mesmo 
sign ific a do de Tera pe ia , porém a presenta um sentido prev entiv o e pros pe ctiv o. Tomando 
c omo ponto de pa rtid a o sentid o g rego da pa la v ra tera pia que i nc orpora o sentido he bra ic o, 
An ai s d o C on g r es so d e F en om e n olog i a d a r eg ião C en tr o -Oe s te 
Cad er no de tex tos - IV Co ng res so de Fe n o me n olog ia d a reg ião Centr o - O este - 1 9 – 2 1 de S etemb r o d e 2 0 1 1 
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“c a be a o terape uta cui da r do ser e ensiná -lo a cui da r de si e nã o somente tra tar a doença” 
(RE HFE LD, 200 0) . 
O terape uta de v e a tuar como um ja rdineiro que cul tiv a uma pla nta. O ja rdineiro 
nã o produz a pla nta como se produz um a utomóv e l, nã o cria a terra ne m a seme nte, nem 
pla ne ja os pa ssos que de v e m ser seg uidos pe la pla nta pa ra a tingir a maturida de , florir e 
frutifica r. E le somente cria mel hores condi çõe s de solo, a briga a muda , qua ndo muito 
pe quena , contra condi ções cl imá tica s a dv e rsa s, pr oteg e -a na medi da do possí v e l contra 
insetos, liv ra -lhe a á rea de crescime nto, pa ra que ela nã o morra por fa lta de espaç o ou luz . 
Ma s nã o é el e que a fa z cresce r. O crescime nto da pla nta é de la própria. C a be a ca da 
homem ser o gua rdião do próprio de stino, ca be a o terape uta, consta ntemente , a lertá -lo 
pa ra e sta ta refa . (CY TR YNOW IC Z a puf RE HFE LD, 200 0) 
Dura nte o proc esso de terapia , o terape uta pa ssa rá por div e rsos tipo s de cui da do 
com o seu cl ie nte. No iní cio o cl ie nte cheg a a o consultório frág il, sem sa be r o que f a ze r, ele 
busca a juda , ele prec isa ser cui da do, prec isa recebe r preoc upa çã o do terape uta. Nesse 
momento de frag ilid a de , ca be a o terape uta usa r a substituiç ã o, mas el e nã o irá toma r 
de ci sõe s pa ra o cl ie nte, a pena s orie ntá -lo e da r um suporte, é uma substitu iç ã o de ca minhar 
junto e possibil itar que o cl ie nte rea dquira sua a utoconfia nç a . Hei degg er (2001) a firma que 
somos seres do cui da do e Ferna ndes (2011) no s m ostra que prec isa mos sem pre cui da r do 
nosso cui da do, e é isso q ue o terape uta fa rá com o cl ie nte: a j uda rá que este enc ontre uma 
forma de cui da r do seu cuida do, v e rifica ndo como a ndam a s oc upaçõe s do cl ie nte, se ele 
de ixo u que sua s oc upa ções fiz essem -no se a fa star d e si mesmo, se el e a nda se preoc upa ndo 
muito com a s pe s soa s que o ce rca m e esquec endo -se de si mesmo. C om i sso será fei to um 
proc esso de a rag em do s olo, de busca de uma bo a ilumina çã o, um a mbiente com cl ima 
fa v oráv el . 
E m ce rto momento, o terape uta dei xa de usa r a substituiç ã o pa ra começ a r a usa r a 
a nteposiç ã o, uma v ez que a pla nta tem que cresce r por si mes ma. Desta forma, a o 
conseg uir tra ze r a consciê nc ia do cl ie nte tudo a quilo que da nifica o seu cui da r de si, o 
cl ie nte preci sa recebe r estí mulos de que é c a paz de venc er esses obstác ulos. Cabe ca utel a a o 
terape uta pa ra nã o que ele nã o force muito o cl ie nte, que respe ite os seus limites pa ra que 
tudo oc orra na tura lmente , pois, se o cl ie nte é instiga do a a lgo que el e a inda não está pronto 
pa ra rea liza r, pode ha v e r trauma s, e ntão tudo de v e ser fei to com ba stante cui da do. 
O resulta do da terapia pe rpa s sa ndo por todas essa s formas de cui da do de v e ser um 
cl ie nte que tenha condi ções de cui da r do seu de stino, que sa iba se ocupa r da quilo que faz 
be m pa ra si, mas sempre da ndo manutenç ã o a esse cui da do pa ra que ele nã o fique 
de sga stado. O cui da do tera pê utico p ermite a o corpo recompor -se e a lc a nça r sua sa úde 
(FE R NA NDE S,2 011) , que de v e ser o esta do na tura l do homem. O cl iente també m será 
An ai s d o C on g r esso d e F e n om e n olog i a d a r eg ião C en tr o -Oe s te 
Cad er no de tex tos - I V C o ng res s o de F e n o me n olog ia d a reg ião C entr o - O este - 1 9 – 2 1 de S etemb r o d e 2 0 1 1 
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c a pa z de se pre oc upa rd e form a sa d ia d a s pe s soa s que estã o a o seu redo r, sem fa ze r 
substituiç õe s que po ssa m toma ro lug a r d o outr o, ne m a nteposiç õe s que possa m ca usa r 
frust raç õe s nos outro s a o força r alé m d o que e stes sã o ca paze s. 
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