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UFPE | CAA Curso de Design | 2017.2 Disciplina História da Arte | TURNO: DIURNO Aluno(a): Mariana Batista Remígio TRABALHO FINAL Para realização do trabalho, os três textos escolhidos foram “O Triunfo da Música” de Tim Blanning, “Indústria Cultural e Sociedade” de Theodor Adorno e o capítulo “Lost in translation” do livro “Mainstream”, escrito por Frederic Martel. Relacionou-se os textos à indústria musical coreana, sendo esta diretamente abordada no texto de Martel. Ao tratar da história da música, Blanning inicia sua narrativa afirmando que a mesma, desde os tempos antigos como no Egito e na Grécia, era vista com bons olhos e associada a dons divinos. No entanto, seus intérpretes, os músicos, não apresentavam o mesmo prestígio. Foram então relatados vários casos de abusos e injustiças nos séculos passados por parte dos monarcas e nobres que, por estarem pagando para que os músicos trabalhassem, acreditavam que estes deveriam se adequar aos seus gostos. Os soberanos achavam-se no direito de ditar que instrumentos deveriam ser utilizados pelos músicos, que tipo de música seria tocada, que roupas deveriam vestir e até a maneira de agir. Os contratos eram injustos, permitindo que os protetores despedissem a qualquer momento seus servos, mas, em contrapartida, estes não estavam livres para escolher mudar de senhor ou compor para outras pessoas. O texto fala de situações de prisões de músicos, como foi o caso ocorrido entre o duque de Weimar e o artista Bach em 1717, ou privação de direitos, à exemplo de Frederico, o Grande que no ano de 1780 impediu que uma de suas cantoras se tratasse ao ficar doente, ambos sofreram tais consequências pelo simples fato de terem pedido para serem liberados de seus postos. Os cantores eram obrigados a trabalhar por muitas horas, tendo pouquíssimo tempo para descanso ou lazer. O pagamento, por vezes, podia se dar não em dinheiro, mas em forma de comida, bebida ou lenha. Tal realidade foi relacionada por mim com a indústria musical coreana, que em geral se mostra tão abusiva quanto nos séculos passados. Os artistas são submetidos a contratos de longuíssima duração, exemplificado pelo boygroup TVXQ que em seu primeiro acordo com a S.M. Entertainment foi estabelecido um vínculo de 13 anos, afirma matéria da Superinteressante (2017). A quebra de contrato e saída prematura do grupo, assim como no passado, não sai barata. Segundo a revista KoreanIN (2015), um projeto de lei proposto pela deputada Choi Min-Hee nomeado “lei JYJ” se fez necessário após um caso entre o grupo JYJ – que dá nome ao projeto de lei – e, novamente, a S.M. Entertainment. Os integrantes do JYJ são ex-membros do grupo TVXQ e romperam o vínculo com a agência por considerarem seus contratos muitos longos. Como consequência, a empresa pressionava emissoras de televisão para não darem espaço ou permitirem participações dos mesmos em seus programas, dificultando o reestabelecimento dos garotos no mercado. Assim como eles, vários outros idols são punidos indiretamente pelas suas ex-agências. Os artistas do pop coreano são conhecidos por serem extremamente talentosos não apenas no canto, mas também na dança, atuação, domínio de línguas e trabalhos como modelos. Tal característica faz parte da estratégia de divulgação da S.M., e relatada pelo autor Frederic Martel, ao comentar o que foi dito em seu encontro com Lee Soo-Man, diretor-presidente da empresa. Para que os garotos e garotas alcancem tamanha habilidade, é investido muito dinheiro com treinamentos, dietas e roupas - em 2012, o The Wall Street Journal informou que o custo de treinamento de um único idol da S.M. Entertainment custou em média US$ 3 milhões de dólares. Ao formarem os grupos e iniciarem suas vidas de astros, todo o lucro produzido pelos jovens é retornado à empresa como pagamento pelo que foi gasto no período de treinees, assemelhando-se com os pagamentos substanciais aos músicos do século XVIII. Ao longo do seu texto, Blanning também afirma que a imagem foi um fator imprescindível para que o envolvimento dos espectadores deixasse de ser apenas admiração e se tornasse idolatria, como foi experienciado por Beethoven no fim do século XVIII e reforçado pelos ídolos de K-pop: imagem é tudo. Artistas são submetidos a regimes, exercícios e até mesmo cirurgias, uma vez que vivem de sua aparência. Essa imagem muitas vezes é utilizada de maneira sensual como forma de apelar ainda mais pelo o interesse do público, método usado tanto por Liszt no século IX, como pelos famosos coreanos. A falta de liberdade artística permanece, o que mudou foi o responsável por ela. Se antes eram os nobres que determinavam cada passo tomado pelos artistas, hoje em dia quem dita isso é o mercado. Adorno, ao falar da indústria cultural, afirma que a arte sob a ótica capitalista perde seu caráter identitário, sua sensibilidade, sua forma de expressão e tudo passa a ser negócio. As características adotadas pelos idols devem ser de acordo com os gostos do público, público este que é incessantemente bombardeado por novos singles, clipes de músicas, álbuns, participações em premiações e programas de variedade na televisão. A onipresença dos cantores coreanos em diversas mídias é uma forma que as empresas encontraram de nunca satisfazer os fãs: sempre há algo novo a ser visto e consumido, como já era observado por Adorno como realidade do modelo econômico vigente. Em concordância com Adorno, Martel afirma na introdução de seu livro que seu estudo é focado na cultura de mercado, em quantidade e não exatamente qualidade. Ao justificar o título de sua obra, Mainstream, define o termo como o inverso de contracultura e, como alguns afirmam – Adorno com certeza o faria – o contrário da arte. A expressão comunica algo que é produzido para todos e com foco comercial. Além das abordagens já mencionadas que são utilizadas pela S.M. e por outras agências de K-idols para conquistar o mercado, é interessante comentar sobre como os japoneses e coreanos, diferentemente dos Estados Unidos, não exportam seus produtos de maneira padronizada, impondo sua cultura sobre as outras. A força do pop coreano em toda Ásia se justifica pela forma que os grupos se adaptam à cultura do país estrangeiro. Ainda no período de treinees, os jovens aprendem japonês, mandarim e inglês, que serão utilizados nas divulgações e shows nesses países, como é exemplificado por Martel ao relatar o caso da cantora BoA “a superestrela sul-coreana que canta em coreano para o público coreano, em japonês para os jovens de Tóquio, em inglês para os de Cingapura e Hong Kong e mandarim em Taipé” (MARTEL, 2013, p. 250). A técnica também é utilizada por grupos, que muitas vezes são divididos em sub-units que simultaneamente divulgam em vários lugares do continente, como acontece com o grupo Super Junior, aponta o livro, tendo os chamados Super Junior-K e Super Junior-M que cantam, respectivamente, coreano e mandarim. De acordo com o fã site brasileiro SUJUBr, dedicado ao grupo, há ainda outras sub-units com outros focos, como o Super Junior-t que canta “trote”, um estilo musical típico da Coréia, voltado para o público mais velho, Super Junior-happy, com canções infantis e ainda as que consistem na união de integrantes com características vocais e/ou musicais semelhantes como o Super Junior-KRY e o Super Junior-D&E. Dessa maneira, há uma produção maior de álbuns, shows e eventos, gerando também mais lucro. Outros grupos da S.M. também apresentam sub-units ou trabalhos solos de seus artistas, como os integrantes do SHINee, EXO, NCT, Girls Generation, entre outros. Gruposde outras agências adotaram essa técnica, que se mostrou eficaz, à exemplo do fenômeno BTS, da gravadora Big Hit, que diferentemente dos grupos da S.M. não mantem seu foco de expansão na Ásia, mas no ocidente, tendo recentemente aproximado seu estilo do popular pop americano, realizando parcerias com DJs ocidentais, como The Chainsmorkers, Steve Aoki e Desiiner, e investindo pesado na divulgação no país do continente americano. A participação no grupo nas premiações Billboard Awards e American Music Awards no ano de 2017 já mostram os frutos dessa investida. Outro exemplo de resultados obtidos pelo BTS na expansão ocidental é a música escolhida para apresentação de dança em classe, o último single do boygroup em parceria com Steve Aoki, Mic Drop (remix), na sua edição voltada para os Estados Unidos com mais linhas em inglês, havendo também gravações em coreano e japonês da mesma canção. A coreografia, realizada simultaneamente à exposição do videoclipe, seria um pequeno exemplo de toda a realidade de produção cultural do país descrita neste trabalho. Concluindo, para atender ao que pede o mercado global, a indústria musical coreana (e japonesa) ousou fazer o que o rival norte-americano nunca fez: abriu mão de sua própria língua e singularidade nacional para se tornarem MAINSTREAM, mesmo que sua identidade tenha ficado, nas palavras de Martel, “lost in translation”. Referências ADORNO, Theodor. Indústria cultural e sociedade. 5 ed. São Paulo, Paz e Terra, 2002. BLANNING, Tim. O triunfo da música: a ascensão dos compositores, dos músicos e de sua arte. São Paulo: Cia. das Letras, 2011. CAROLINA, Amanda. A “lista negra” da indústria musical coreana e a “Lei JYJ”. Revista KoreaIN, Goiânia, 20 mai. 2015. Disponível em: <https://revistakoreain.wordpress.com/2015/05/20/lista-negra-da-industria- musical-coreana-lei-jyj/>. Acesso em: 20 nov. 2017. MARTEL, Frédéric. Mainstream - a guerra global das mídias e das culturas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2013. MULLER, Andreas; GARATTONI, Bruno. K-Pop: o campo de concentração de popstars. Superinteressante, São Paulo, 29 mar 2017. Disponível em: <https://super.abril.com.br/cultura/o-campo-de-concentracao-de- popstars/>. Acesso em: 20 nov. 2017. SUJUBr. Sub-grupos. Super Junior Brasil. Disponível em: <http://www.suju.com.br/sub-grupos/>. Acesso em: 08 dez. 2017. TORRES, Leonardo. BTS na América: grupo de K-Pop investe na conquista do Ocidente. Portal POPLine. São Paulo, 08 nov. 2017. Disponível em: <http://portalpopline.com.br/bts-na-america-grupo-de-k-pop-investe-na- conquista-ocidente/>. Acesso em: 08 dez. 2017. YANG, Jeff. Can Girls' Generation Break Through in America?. The Wall Street Journal, Nova Iorque, 6 fev. 2012. Disponível em: <https://blogs.wsj.com/speakeasy/2012/02/06/can-girls-generation-break- through-in-america/>. Acesso em: 08 dez. 2017.
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