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Aula 3 Educação – Trabalho, Alienação e Ideologia

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Educação – Trabalho, Alienação e Ideologia
Na aula anterior conceituamos o trabalho como sendo ato intencional do homem com a finalidade de produzir os bens materiais e não-materiais da existência humana. Portanto, estamos entendendo o trabalho num sentido amplo, ou seja, como atividade prática e teórica. Para entendermos a problemática do trabalho, iremos apresentar brevemente a relação histórica entre trabalho e educação.
Trabalho e Educação: um breve histórico
No modo de produção comunal, homens e mulheres produziam sua existência em comum e se educavam neste processo. Ao se relacionarem com a terra, com a natureza, estabeleciam relações entre si e se educavam. A partir do momento em que o homem se fixa na terra, estabelece novas relações de poder e de produção, ou seja, define a terra como propriedade privada e acaba promovendo a divisão social de classes: a dos proprietários e dos não-proprietários de terra. Esta divisão abriu a possibilidade de se estabelecer uma educação diferenciada, ou seja, uma educação formal para os que viviam do ócio – os proprietários de terra – e uma educação que se dava no próprio processo de trabalho manual, com o manuseio físico da matéria, dos objetos, da realidade e da natureza. Este tipo de educação é característico da Grécia e Roma na antiguidade.
Na Idade Média, os homens viviam no campo e do campo e o trabalho característico desta época é o trabalho servil. Tendo uma sociedade estratificada em classes sociais composta pelos senhores feudais (clero e nobreza) e pelos trabalhadores (servos ou vassalos), estrutura um modelo de educação diferenciada. A classe dominante preocupava-se em ocupar o ócio com dignidade através de atividades consideradas nobres e não com atividades consideradas indignas (como é o caso do trabalho manual). A classe dominante ao se preocupar com as atividades de guerra centrava a educação na formação da cavalaria, envolvendo dois pontos fundamentais: o da arte militar e o da vida aristocrática.
O trabalho como categoria fundante do ser social
Para compreendermos esta temática, evidenciaremos duas questões fundamentais:
a) o que diferencia o ser social da natureza?
b) qual o conteúdo que constitui a origem do mundo dos homens para além da natureza?
Além disso, vale ressaltar que estamos vivendo um processo de mercantilização das relações humanas em geral, como por exemplo: a mercantilização da fé, da política, do lazer (como é o caso da indústria de entretenimento), do corpo, da vida privada (veja o caso dos realit shows e da exposição de cada um através da internet) e etc.
Atrelado a isto, vivenciamos uma lógica baseada na produtividade do ser humano como um ser eficiente, flexível e condena-se todo e qualquer tipo de ociosidade. Se o ócio era motivo de status na Antigüidade e na Idade Média ele é condenado na sociedade moderna. Tanto que, aquele que não trabalha ou produz é visto como malandro, vagabundo, indolente, preguiçoso, marginal.
Alienação e Ideologia
Conceitos importantes sobre alienação e ideologia...
Alienação: É vista por Marx como o fato econômico principal de sua época, da seguinte forma: “O trabalhador torna-se tanto mais pobre quanto mais riqueza produz, quanto mais a sua produção aumenta em poder e extensão. O trabalhador torna-se uma mercadoria tanto mais barata, quanto maior número de bens produz. Com a valorização do mundo das coisas, aumenta em proporção direta a desvalorização do mundo dos homens. O trabalho não produz apenas mercadoria; produz-se também a si mesmo e ao trabalhador como uma mercadoria, e justamente na mesma proporção com que produz bens” (Manuscritos Econômico-Filosóficos, p.111).
Ideologia: Pesquise sobre a obra de Marx: A Ideologia Alemã – teses sobre Feuerbach. O texto aqui apresentado é inspirado no capítulo: Marx e a crítica da Ideologia do livro História da Filosofia – dos pré-socráticos à Wittgenstein de Danilo Marcondes. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor; 1998: págs. 230-31
Alienação vem do latim alienus, que veio dar na palavra “alheio”, significando “o que pertence a um outro”. Tanto que no campo do direito é compreendido como ato de transferência de posse ou do direito de propriedade de alguma coisa para outrem, seja por doação ou por venda. Já na psiquiatria é sinônimo de doença mental grave, ou seja, a perda da noção quer da identidade pessoal quer da realidade a qual o indivíduo esteja inserido. Na filosofia o termo Alienação foi introduzido por Hegel e retomado posteriormente por Feuerbach e por Marx no século XIX. Tal temática no século XX foi abordada por pensadores como: Luckács, Marcuse e Sartre. No sentido que lhe é dado por Marx, a alienação é a ação pela qual um indivíduo, um grupo, uma instituição ou uma sociedade se tornam ou permanecem alheios aos resultados ou produtos de sua própria atividade e da natureza na qual vivem os seres humanos. 
Na sociedade urbano-industrial em que prevalecem as relações de dominação e exploração da força de trabalho, que introduziu o fenômeno da divisão social do trabalho, criando a especialização, o trabalhador se encontra alienado por perder o controle e o domínio daquilo que produz, ou seja, o produto do trabalho encontra-se separado, alienado de quem produziu. Passemos agora para a compreensão da ideologia. Este termo tem sua origem na obra “Lês élement de l´idéologie”, do francês Antoine Destutt de Tracy, que tinha como proposta formular uma ciência das idéias com a finalidade de examinar a origem e o processo de formação das idéias no homem.
Marx é o primeiro pensador a tratar a problemática da ideologia do ponto de vista filosófico.
 De acordo com ele, a ideologia tem um sentido negativo, ou seja, de mascaramento ou falseamento da realidade, de uma realidade opressora, que faz com que seu caráter negativo seja ocultado -, tornando-se assim mais aceitável a ter uma justificativa aparente. Portanto, se constitui como mais uma forma de dominação e decorre de uma estrutura social desigual. Sendo assim, a ideologia é uma falsa consciência ou uma consciência ilusória cujo papel é o de criar uma visão aparente da realidade, objetificando as representações da classe dominante como correspondentes à realidade, ou seja, tornar os princípios dominantes como algo natural e impedir a compreensão  histórica de tais princípios no plano da consciência. Em uma de suas teses Marx afirma: “As idéias da classe dominante são, em cada época, as idéias dominantes, isto é, a classe que é a força dominante da sociedade é, ao mesmo tempo, sua força espiritual dominante. A classe que tem à sua disposição os meios de produção material dispõe, ao mesmo tempo, dos meios de produção espiritual,  o que faz com que a ela sejam submetidas (...) as idéias daqueles aos quais faltam os meios de produção espiritual. As idéias dominantes nada mais são do que a expressão ideal das relações materiais dominantes concebidas como idéias; portanto, a expressão das relações que tornam uma classe a classe dominante; portanto, as idéias de sua dominação”. Mediante a problemática da ideologia, Marx propõe uma filosofia crítica que tem por finalidade revelar o processo pelo qual a ideologia se produz, ou seja, serviria como desmascaramento da mesma.
Por fim, podemos considerar que: em uma sociedade em que prevalece a divisão social de classes, a divisão do trabalho, as relações de dominação e exploração da força de trabalho, a alienação e a ideologia são fatores que também se fazem presentes em modelos educativos que visam reproduzir tais relações.
Educação, Alienação e Ideologia
É comum em nosso cotidiano afirmações tais como:
- o espaço escolar é neutro e a educação é apolítica;
- ser professor ou um profissional da área da educação é um dom, uma dádiva, uma vocação, ou seja, o professor é alguém provido de uma natureza pré-determinada por um Ser Superior;
- o professor deve ser neutro e objetivo diante do processo de ensino-aprendizagem.
Essas compreensões não se sustentam tanto do ponto de vista histórico quando do ponto de vista filosófico.Do ponto de vista histórico, sinalizamos que a história da educação na cultura ocidental revelou que, os modelos de educação desenvolvidos da antiguidade até a modernidade se constituíram como privilégio de poucos, ou seja, das classes dominantes de sua época.
Do ponto de vista filosófico, entendemos que o princípio da neutralidade e objetividade é uma crença estabelecida para camuflar as razões do trabalho científico e das práticas sociais modernas a partir de uma visão dominante e naturalizante.
No que diz respeito ao professor, podemos salientar que tanto a sua formação acadêmica quanto a sua prática pedagógica está alicerçada em princípios que expressam determinadas compreensões do mundo, da natureza, Além disso, o pensar e o fazer pedagógico não são obras de um indivíduo isolado, mas sim resultados de um processo histórico, social e cultural em que somos formados, ou seja, o professor, como ser social, ao ser educado, incorporou determinadas verdades construídas pelos seus antepassados ou por pessoas  de sua própria época.Em outras palavras, o pensar e o fazer pedagógico são intencionais e decorrem da conformação, manutenção, modificação ou transformação
Maria Lúcia Arruda Aranha aponta três aspectos sobre a prática educativa e a questão da ideologia: a primeira no que se refere à organização escolar; a segunda, no que diz respeito ao livro didático e; a terceira, a problemática do currículo. Veja a seguir cada uma delas:
a) A organização escolar pode exercer um papel ideológico em que a hierarquia exige o exercício do autoritarismo e da disciplina estéril, que educam para a passividade e a obediência. A excessiva burocratização desenvolve o “ritual de domesticação”, que vai desde o controle da presença em sala de aula, as provas, até a obtenção do diploma.
b) Entre os recursos utilizados na prática educativa, o livro didático não pode ser considerado um veículo neutro, objetivo, mero transmissor de informações. O risco de sua utilização ideológica ocorre, sobretudo, quando os textos mostram à criança uma realidade esteriotipada, idealizada e deformadora.
c) A abordagem das disciplinas do currículo adquire, muitas vezes, um caráter ideológico. O ensino de história, por exemplo, torna-se ideológico quando se restringe à seqüência cronológica dos fatos, sem a análise da ação das forças contraditórias que agem na sociedade.
Por fim, reflita sobre as seguintes questões:
1 – Qual a concepção de mundo, homem e natureza que perpassam os conteúdos trabalhados nas disciplinas e nas mais diferenciadas práticas pedagógicas?
2 – Qual a finalidade da educação? Educar para autonomia ou para a subserviência?
3 – Como compreendemos o trabalho educativo diante de uma realidade social concreta em que prevalecem as relações de poder e dominação?

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