Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
DANIEL ZARPELON LEOBERTO DANTAS ROBINSON LEME A NR-18 COMO INSTRUMENTO DE GESTÃO DE SEGURANÇA, SAÚDE, HIGIENE DO TRABALHO E QUALIDADE DE VIDA PARA OS TRABALHADORES DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO São Paulo 2008 FICHA CATALOGRÁFICA Leme, Robinson A NR-18 como instrumento de gestão de segurança, saúde, higiene do trabalho e qualidade de vida para os trabalhadores da indústria da construção / R. Leme, D. Zarpelon e L. Dantas. -- São Paulo, 2008. 122 p. Monografia (Especialização em Higiene Ocupacional). Es- cola Politécnica da Universidade de São Paulo. Programa de Educação Continuada em Engenharia. 1. Construção civil (Medidas de segurança) 2. Saúde ocu- pacional 3. Qualidade de vida no trabalho I. Zarpelon, Daniel II. Dantas, Leoberto III. Universidade de São Paulo. Escola Politéc- nica. Programa de Educação Continuada em Engenharia IV. t. DANIEL ZARPELON LEOBERTO DANTAS ROBINSON LEME A NR-18 COMO INSTRUMENTO DE GESTÃO DE SEGURANÇA, SAÚDE, HIGIENE DO TRABALHO E QUALIDADE DE VIDA PARA OS TRABALHADORES DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO Monografia apresentada à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo para a obtenção do título de Especialista em Higiene Ocupacional São Paulo 2008 RESUMO O principal objetivo deste trabalho é analisar a aplicação e implementação da NR-18 como instrumento de gestão de segurança, saúde, higiene do trabalho e qualidade de vida para os trabalhadores da Indústria da Construção. O setor é caracterizado por seu potencial de empregabilidade e absorção de mão-de-obra não qualificada, porém traz em seu perfil o retrato de um setor desorganizado, com dificuldades em utilizar novas abordagens de gestão: construtivas, gerenciais e de segurança e saúde, impossibilitando a modernização e melhoria da produtividade, em detrimento ao crescimento profissional dos trabalhadores. Os canteiros de obras são considerados locais perigosos e com pouca qualidade de vida para os trabalhadores. A NR-18, por sua vez, é uma legislação discutida e aprovada de forma tripartite (empregadores, trabalhadores e governo), que revisada em 1995 traz em seu texto medidas para a melhoria das condições e meio ambiente de trabalho na Indústria da Construção. Apesar de 12 anos de sua publicação, a NR-18 ainda não é aplicada e implementada em sua totalidade, principalmente nas pequenas construções e nas localidades com pouca fiscalização do trabalho e atuação dos sindicatos dos trabalhadores. A norma é considerada: detalhista, minuciosa e técnica por alguns profissionais das áreas de engenharia civil e de segurança e saúde do trabalho. Com isto, buscou-se analisar que embora a NR-18 apresente algumas deficiências, mas através da aplicação e implementação de suas diretrizes e do Programa de Condições e Meio Ambiente do Trabalho na Indústria da Construção é possível avançar nas questões de segurança e saúde, o que resultará na redução dos acidentes de trabalho, com maior produtividade e melhoria contínua da qualidade de vida para os trabalhadores do setor. Palavras-chave: Construção civil (Medidas de Segurança); Saúde ocupacional; Qualidade de vida no trabalho. ABSTRACT The present paper aims at analyzing the application and implementation of NR-18 as an instrument of security management, health, and work hygiene and life quality to the workers from Construction Industry. Such sector is characterized by its potential for employment of workforce which is not qualified, although bringing in its profile the portrait of a disorganized sector, with some difficulties when using new approaches of management: constructive, health and security ones. These difficulties make impossible the modernization and improvement of productivity, being harmful to the professional improvement of the workers. The places where they work are considered dangerous and with little life quality to the workers. The NR-18 is a legislation discussed and approved by the employers, workers and government, which was revised in 1995 and it brings in its text measures to improve the conditions and environment of the work in the Construction Industry. Although it has been 12 years since its publication, the NR-18 is still not applied and implemented in its totality, mainly in the small constructions and in the places with little work supervision and labor union performance. The norm is considered detailed and technical by some professionals from civil engineering area and work security and health area. Based on that, it was analyzed that, although the NR-18 presents some deficiencies, it is possible to move forward in the issues concerning health and security through the application and implementation of its rules and the Program of Conditions and Environment of Work in the Construction Industry, which will result in a reduction of work accidents, with a bigger productivity and continuous improvement of life quality to the workers of the sector. Key words: civil construction (security measures); occupational health; life quality in the work. SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS LISTA DE TABELAS LISTA DE QUADROS LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS LISTA DE SÍMBOLOS 1. INTRODUÇÃO.............................................................................................. 12 1.1 Objetivos..................................................................................................... 14 1.2 Justificativa.................................................................................................. 14 2. REVISÃO DE LITERATURA........................................................................ 15 2.1 Acidentes de Trabalho................................................................................ 18 2.2 Conceito Legal do Acidente de Trabalho.................................................... 21 2.3 Conceito Prevencionista do Acidente de Trabalho..................................... 22 2.4 NR 18 – Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção........................................................................................................ 25 3. METODOLOGIA........................................................................................... 28 3.1 Análise Setorial da Indústria da Construção............................................... 28 3.2 Estatísticas de Acidente de Trabalho......................................................... 33 3.3 Estatísticas de Acidentes de Trabalho no Brasil......................................... 34 3.4 Estatísticas de Acidentes de Trabalho na Indústria da Construção........... 36 3.5 Autuações de Segurança e Saúde do Trabalho na Indústria da Construção no Estado de São Paulo (NR-18) - 2001 a 2007........................... 42 3.6 Metodologias de Proteção.......................................................................... 43 3.6.1 Equipamentos de Proteção Coletiva – EPC’s.......................................... 44 3.6.2 Equipamentos de Proteção Individual – EPI’s......................................... 45 3.7 Programas de Gestão de Segurança e Saúde no Trabalho....................... 47 3.8 Riscos Ambientais na Indústria da Construção.......................................... 49 3.8.1 Riscos Físicos.......................................................................................... 50 3.8.2 Riscos Químicos......................................................................................52 3.8.3 Riscos Biológicos..................................................................................... 56 3.8.4 Riscos Ergonômicos................................................................................ 57 3.8.5 Riscos de Acidentes ou Mecânicos......................................................... 59 3.9 Reconhecimento dos Riscos na Indústria da Construção por Fase da Obra.................................................................................................................. 60 3.9.1 Demolição................................................................................................ 61 3.9.2 Movimentação de Terra........................................................................... 63 3.9.3 Fundações e Estruturas........................................................................... 66 3.9.4 Coberturas............................................................................................... 70 3.9.5 Fechamento e Alvenaria.......................................................................... 72 3.9.6 Instalações e Acabamentos..................................................................... 74 3.9.7 Máquinas de Elevação............................................................................. 76 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES................................................................. 79 4.1 A Implementação da NR-18 como Instrumento de Gestão de Saúde, Segurança e Higiene do Trabalho.................................................................... 79 4.2 A Aplicação Prática da NR-18 nos Canteiros de Obras............................. 83 4.3 Qualidade de Vida na Indústria da Construção – Áreas de Vivência............................................................................................................. 85 4.3.1 Dimensionamento das Áreas de Vivência............................................... 87 4.3.1.1 Instalações Sanitárias........................................................................... 88 4.3.1.2 Vestiário................................................................................................ 89 4.3.1.3 Alojamento............................................................................................ 90 4.3.1.4 Local para as Refeições....................................................................... 91 4.3.1.5 Cozinha................................................................................................. 93 4.3.1.6 Lavanderia............................................................................................ 94 4.3.1.7 Área de Lazer....................................................................................... 94 4.3.1.8 Ambulatório........................................................................................... 95 4.4 A Aplicação e Implementação da NR-18 nos Canteiros de Obras............. 97 4.5 Propostas de Revisões na NR-18............................................................... 100 5. CONCLUSÕES............................................................................................. 104 6. RECOMENDAÇÕES.................................................................................... 106 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................ 108 LISTA DE FIGURAS Figura 1 Relação Comprimento X Diâmetro de Partícula........................... 53 Figura 2 Obra de Demolição....................................................................... 63 Figura 3 Movimentação de Terra e Terraplenagem................................... 66 Figura 4 Operação de Bate-estacas........................................................... 66 Figura 5 Operação de Concretagem.......................................................... 70 Figura 6 Serra Circular de Bancada........................................................... 70 Figura 7 Andaime Tubular Móvel................................................................ 72 Figura 8 Operação de Cobertura de Telhado............................................. 72 Figura 9 Operação de Fechamento e Alvenaria Interna............................. 74 Figura 10 Quadro de Força em Canteiro de Obras...................................... 75 Figura 11 Elevador com Sistema de Pinhão e Cremalheira......................... 77 Figura 12 Grua.............................................................................................. 77 Figura 13 Canteiro de obra que implementa a NR-18.................................. 83 Figura 14 Canteiro de Obra que não implementa a NR-18.......................... 83 Figura 15 Vaso Sanitário.............................................................................. 88 Figura 16 Lavatório e Mictório...................................................................... 88 Figura 17 1 Chuveiro para cada grupo de 10 trabalhadores........................ 89 Figura 18 Piso provido de estrados de madeira........................................... 89 Figura 19 Vestiário com armários individuais, bancos e iluminação natural 90 Figura 20 Alojamento em canteiro de obra................................................... 91 Figura 21 Local destinado às refeições (refeitório)....................................... 92 Figura 22 Lavatório instalado dentro do refeitório........................................ 92 Figura 23 Aquecimento de refeições............................................................ 92 Figura 24 Lavanderia com tanques coletivos............................................... 94 Figura 25 Televisão colocada no refeitório................................................... 95 Figura 26 Área de lazer organizada no canteiro de obra............................. 95 Figura 27 Ambulatório.................................................................................. 96 Figura 28 Medicamentos destinados a primeiros socorros.......................... 96 Figura 29 Fornecimento de vestimenta de trabalho..................................... 96 Figura 30 Fornecimento de vestimenta de trabalho e EPI’s......................... 96 LISTA DE TABELAS Tabela 3.1 Distribuição dos trabalhadores do setor de Construção, segundo classe de atividade em 2006 - São Paulo e Brasil........ 29 Tabela 3.2 PIB Brasil e participação da Indústria da Construção Civil no PIB 2004 a 2006........................................................................... 30 Tabela 3.3 Distribuição dos ocupados na construção, segundo a posição na ocupação no trabalho principal - Brasil – 2006....................... 33 Tabela 3.4 Acidentes de Trabalho ocorridos no Brasil, de 1999 a 2006.............................................................................................. 36 Tabela 3.5 N° de Trabalhadores da Indústria da Construção – Brasil e São Paulo – 1999 a 2006.................................................................... 39 Tabela 3.6 Acidentes do Trabalho na Indústria da Construção – Brasil – 1999 a 2006.................................................................................. 39 Tabela 3.7 Acidentes do Trabalho na Indústria da Construção – Brasil – Afastamentos e Incapacidades de 1999 a 2006.......................... 40 Tabela 3.8 Acidentes de Trabalho na Indústria da Construção no Estado de São Paulo – 1999 a 2006........................................................ 40 Tabela 3.9 Acidentes de Trabalho na Indústria da Construção no Estado de São Paulo – 1999 a 2006........................................................ 41 Tabela 3.10 Taxa de Mortalidade – Brasil e Estado de São Paulo – 1999 a 2006..............................................................................................41 Tabela 3.11 Subitens mais autuados da NR-18 pelo MTE no Estado de São Paulo - 1999 a 2006..................................................................... 43 Tabela 3.12 Riscos Físicos na Indústria da Construção.................................. 51 Tabela 3.13 Riscos Químicos na Indústria da Construção.............................. 54 Tabela 3.14 Riscos Biológicos na Indústria da Construção............................. 56 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ACGIH American Conference of Governmental Industrial Hygienists ADC Investigação e Análise de Acidentes de Trabalho Pelo Método da Árvore de Causas AF Acidente Fatal ANS Agência Nacional de Saúde Suplementar APAEST Associação Paulista de Engenheiros de Segurança do Trabalho ART Anotação de Responsabilidade Técnica AT Acidente de Trabalho CAT Comunicação de Acidente de Trabalho CBO Código Brasileiro de Ocupações CID Código Internacional de Doença CIPA Comissão Interna de Prevenção de Acidentes CF/88 Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 CLT Consolidação das Leis do Trabalho CNAE Código Nacional de Atividade Econômica CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente CNTI Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria CPN Comitê Permanente Nacional Sobre Condições e Meio Ambiente do Trabalho na Indústria da Construção CPR/SP Comitê Permanente Sobre Condições e Meio Ambiente do Trabalho na Indústria da Construção do Estado de São Paulo CREA/SP Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura do Estado de São Paulo CTPP Comissão Tripartite Paritária Permanente CTPS Carteira de Trabalho e Previdência Social DOU Diário Oficial da União EPC’s Equipamentos de Proteção Coletiva EPI’s Equipamentos de Proteção Individual EPR Equipamento de Proteção Respiratória FAP Fator Acidentário Previdenciário FETICOM-SP Federação dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção e do Mobiliário do Estado de São Paulo FGTS Fundo de Garantia por Tempo de Serviço GPL Gás Liquefeito de Petróleo IBGE Instituto Brasileiro de Geografia Estatística MS Ministério da Saúde IN Instrução Normativa INSS Instituto Nacional de Seguro Social MPAS Ministério da Previdência e Assistência Social MTE Ministério do Trabalho e Emprego NR Norma Regulamentadora NR-4 Norma Regulamentadora – Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho – SESMT NR-5 Norma Regulamentadora – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes – CIPA NR-9 Norma Regulamentadora - Programa de Prevenção de Riscos Ambientais – PPRA NR-15 Norma Regulamentadora – Atividades e Operações Insalubres NR-17 Norma Regulamentadora – Ergonomia NR-18 Norma Regulamentadora - Condições e Meio Ambiente do Trabalho na Indústria da Construção NR-24 Norma Regulamentadora - Condições Sanitárias e de Conforto nos Locais de Trabalho NR-31 Norma Regulamentadora – Segurança e Saúde no Trabalho na Agricultura, Pecuária, Silvicultura, Exploração Florestal e Aqüicultura NTEP Nexo Técnico Epidemiológico Previdenciário OIT Organização Internacional do Trabalho OMS Organização Mundial da Saúde ONU Organização das Nações Unidas PAIC Pesquisa Anual da Indústria da Construção PCMAT Programa de Condições e Meio Ambiente do Trabalho na Indústria da Construção PCMSO Programa de Controle Médico e Saúde Ocupacional PED Pesquisa de Emprego e Desemprego PIB Produto Interno Bruto PPP Perfil Profissiográfico Previdenciário PPRA Programa de Prevenção de Riscos Ambientais PTA Plataforma de Trabalho Aéreo PVC Poli Cloreto de Vinila SAT Seguro de Acidente de Trabalho SEBRAE/RJ Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Estado do Rio de Janeiro SESMT Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho SINDUSCON-SP Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo SGSST Sistema de Gestão de Segurança e Saúde do Trabalho SST Segurança e Saúde do Trabalho LISTA DE SÍMBOLOS m2 Metro quadrado µm Micrômetro 12 1. INTRODUÇÃO A Indústria da Construção é um dos ramos de atividade mais antigos do mundo, em que desde quando o homem vivia em cavernas até os dias de hoje passou por um grande processo de transformação, seja na área de projetos, de materiais, de equipamentos, seja na área de pessoal (SAMPAIO, 1998a). Nos últimos 200 anos grandes obras foram construídas, com construções que atualmente são símbolos de muitas cidades e países, as quais se sobressaem pela beleza, pelo tamanho, pelo custo, pela dificuldade de construção, como também pelo arrojo do projeto (SAMPAIO, 1998a). No Brasil podem-se destacar como grandes obras a Hidroelétrica de Itaipu, a Rodovia dos Imigrantes, a Cidade de Brasília e o Estádio do Maracanã (Sampaio, 1998a), e mais recentemente a construção da pista sul da Rodovia dos Imigrantes. A obra foi construída em quatro anos e três meses e inaugurada 150 dias antes do prazo contratual. Esta exigiu investimentos de U$ 300 milhões e transformou-se em referência para a engenharia nacional, por utilizar soluções tecnológicas inéditas, aliada a sofisticadas práticas de gestão ambiental, valendo o Certificado Ambiental ISO-14001 à Concessionária ECOVIAS (JORNAL PERSPECTIVA, ed. 115, 2002). A construção civil representa um dos segmentos empresariais de maior absorção de mão-de-obra e forte poder econômico que gera grande oportunidade de emprego. Com característica de não continuidade do processo industrial, pois a cada obra as equipes são mobilizadas e desmobilizadas, e sofrendo com a pouca profissionalização da sua mão-de-obra, a integridade física do trabalhador e a continuidade ao trabalho de prevenção de acidentes na construção civil é um desafio, e o processo de transformação cultural para empresários, trabalhadores e entidades envolvidas devem ser sistematicamente incorporados no cotidiano das pessoas e das instituições e ao processo produtivo da Construção Civil (SINDUSCON/SEBRAE, 2003 apud GONÇALVES, 2006). O setor, em todo o mundo, está sujeito a riscos devido às suas singularidades características de indústria sem linha de montagem e destinada a gerar produtos sem as condições aparentemente mais seguras das fábricas industriais. Por tais características, há bastante tempo, a Indústria da Construção tem se destacado na geração de acidentes do trabalho (POZZOBON, HEINECK, PROTEÇÃO, 2006). 13 Para Pozzobon, Heineck (Proteção, 2006), a Indústria da Construção brasileira é, igualmente detentora de significativa contribuição no perfil acidentário nacional, respondendo por elevado índice de acidentes graves e fatais e suas conseqüências incapacitantes. De acordo com Ministério da Previdência Social - MPS (Brasil, 2008), no ano de 2006 foram registrados 31.529 Acidentes de Trabalho – AT no setor da construção, sendo 27.147 típicos, 3.417 de trajeto e 965 doenças ocupacionais. As estatísticas resumem-se às ocorrências informadas através da Comunicação de Acidente de Trabalho - CAT, a qual é emitida para os trabalhadores que possuem registro em Carteira de Trabalho e Previdência Social - CTPS, pois de acordo com a Organização Internacional do Trabalho - OIT, no Brasil estima-se que as ocorrências provocadas por AT podem ser multiplicadas por três. O setor da construção possui um alto índice de acidentes graves e fatais, no qual 33,30% dos acidentes registrados no ano de 2006 referem-se às ocorrências com lesões mais graves ou que geraram algum tipo de incapacidade, como a perda de membros ou a redução da capacidade de trabalho. Vários fatores contribuem para afalta de informação e o não preenchimento da CAT, entre eles pode-se citar a subnotificação, a não emissão do documento e o fato de que aproximadamente 70% dos trabalhadores do setor não contribuem para a Previdência Social (DIEESE, 2001), diminuindo o número dos registros e ocorrências acidentárias no setor. O setor possui algumas características que desafiam a melhoria das condições de Segurança e Saúde do Trabalho - SST, entre elas: transitoriedade de processos e instalações; opera sob intensa pressão de tempo e custos; emprego intensivo de mão-de-obra; precariedade na contratação de trabalhadores; terceirização; excesso de jornada de trabalho; baixa qualidade de vida nos canteiros de obras e pouco investimento em SST e formação profissional (NASCIMENTO, 2002). De acordo com Barkokébas Jr. et al (Proteção, 2007), as condições e meio ambiente de trabalho na construção civil podem ser citadas como fator de risco para a ocorrência de acidentes, pois apresentam diversos riscos devido à mutação constante do ambiente de trabalho e a confusão que se faz em acreditar que o provisório significa improvisado, no qual cada canteiro de obras tem a sua 14 particularidade, as obras de edificações levam a mudança constante do ambiente de trabalho. Ainda, segundo Barkokébas Jr. et al (Proteção, 2007), deve-se ter em mente que promover a Segurança do Trabalho é economicamente vantajoso, além de ser obrigação legal e moral devido aos aspectos sociais envolvidos, pode causar danos a todos os segmentos: empresas, trabalhadores e sociedade, e se aplicada resultará em menor custo econômico e humano. 1.1 Objetivos O trabalho tem como objetivo geral, analisar a aplicação e implementação da Norma Regulamentadora 18 – Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção (Brasil, 1995) como instrumento de gestão de segurança, saúde, higiene do trabalho e qualidade de vida para os trabalhadores da Indústria da Construção, bem como gerar subsídios para que a melhoria da SST seja um processo contínuo e duradouro. O trabalho também se propõe a analisar a que riscos ambientais os trabalhadores da Indústria da Construção podem estar expostos, e que medidas a NR-18 (Brasil, 1995) estabelece para sua prevenção. 1.2 Justificativa A discussão da NR-18 (Brasil, 1995) como instrumento de gestão de segurança, saúde, higiene ocupacional e qualidade de vida para os trabalhadores da Indústria da Construção, foi escolhido no intuito de valorizar a aplicação e implementação da norma nos canteiros de obras, não só por ser exigência legal estabelecida pela Portaria n° 3.214 (Brasil, 1978), mas para proporcionar uma visão crítica dos benefícios que podem ser produzidos para a redução dos acidentes de trabalho, o aumento da produtividade e a melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores. Espera-se contribuir, através da bibliografia pesquisada para a melhoria das condições de trabalho na Indústria da Construção, e estimular outros pesquisadores a buscarem maior entendimento sobre o tema, bem como contribuir para a formação de opiniões críticas dos profissionais do setor. 15 2. REVISÃO DE LITERATURA A Consolidação das Leis do Trabalho – CLT, aprovada pelo Decreto Lei n° 5.452, de 1 de maio de 1943 (Brasil, 1943) estabelece como preceito as normas que regulam as relações individuais e coletivas de trabalho no Brasil, a qual atinge os trabalhadores urbanos, rurais, domésticos e funcionários da União, dos Estado e dos Municípios, estes, quando não de regimes próprios de proteção ao trabalho. A CLT (Brasil, 1943) é o estatuto que regula as relações de capital e trabalho no Brasil, a qual estabelece os direitos e deveres do empregador1 e do empregado2. Na década de 70, com a necessidade de reduzir o número de Acidentes de Trabalho é publicada a Lei n° 6.514 de 22 de dezembro de 1977, a qual altera o Capítulo V do Título II da CLT (Brasil, 1943) e estabelece princípios mínimos relativos à Segurança e Medicina do Trabalho. Com a finalidade de atender a Lei n° 6.514 (Brasil, 1977), o Ministério do Trabalho e Emprego – MTE publica a Portaria n° 3.214 de 8 de junho de 1978, a qual aprova as Normas Regulamentadoras – NR’s relativas à Segurança e Medicina do Trabalho. Atualmente a portaria contempla 33 (trinta e três) NR’s. As Normas Regulamentadoras de Segurança e Medicina do Trabalho – NR’s aprovadas pela Portaria n° 3.214 de 8 de julho de 1978 estabelecem as condições mínimas de SST que devem ser aplicadas e implementadas nos ambientes de trabalho no Brasil, com a finalidade de proteger a vida e a saúde dos trabalhadores, sendo que atualmente existem 33 NR’s As ações de Segurança e Saúde do Trabalho na Indústria da Construção devem seguir as diretrizes estabelecidas pela NR-18 (Brasil, 1995), que traz em sua revisão ocorrida no ano de 1995 avanços significativos para a melhoria dos ambientes de trabalho. Saurin (1997) reconhece que a revisão da NR-18 (Brasil, 1995) representa um avanço importante no sentido de que o problema de segurança seja tratado seriamente pelas empresas, no qual ele espera que a norma atue como agente 1 Conforme a CLT (Brasil, 1943), considera-se empregador a empresa, individual ou coletiva, que, assumindo os riscos da atividade econômica, admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de serviços. 2 De acordo com a CLT (Brasil, 1943), considera-se empregado toda pessoa física que prestar serviços de natureza não eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante salário. 16 difusor de uma nova consciência sobre o assunto, de tal modo que se dispense à segurança a mesma importância dispensada aos assuntos da produção. Para Saurin (1997) a NR-18 (Brasil, 1995) é prescritiva e limitada, que são reflexos do atual estágio da normalização técnica no Brasil, a qual ainda está bastante atrasada em relação aos países desenvolvidos. A norma é dinâmica e tem evoluído de acordo com as inovações tecnológicas da Indústria da Construção, na qual esta mudança rápida é mérito do Comitê Permanente Nacional – CPN e dos Comitês Permanentes Regionais – CPR’s. Considera-se importante à necessidade de elaborar e implementar o Programa de Condições e Meio Ambiente do Trabalho na Indústria da Construção – PCMAT e observa que as exigências do programa pode ser um excelente ponto de partida para a elaboração de programas abrangentes de segurança do trabalho (SAURIN, 1997). A prevenção dos riscos, a informação e o treinamento dos operários podem ajudar a reduzir as chances dos acidentes e reduzir suas conseqüências quando são produzidos, e prioriza as questões voltadas ao projeto e aos métodos de execução da obra (SAMPAIO, 1998a). O PCMAT tem como objetivo principal garantir a saúde e a integridade dos trabalhadores, sendo que os riscos devem ser previstos e controlados no processo de execução de cada fase da obra (SAMPAIO, 1998a). Em sua elaboração, deve-se priorizar o envolvimento de todos os profissionais que terão responsabilidade direta pelo resultado do programa: direção da empresa, gerentes, engenheiros de produção, engenheiros e técnicos de segurança, médicos do trabalho, projetistas, orçamentistas, mestres-de-obras e encarregados (SAMPAIO, 1998b). Segundo Sherique (Proteção, 2003) durante a elaboração do PCMAT, os riscos de acidentes de trabalho devem ser priorizados, principalmente os relacionados com elevadores, lesões perfurantes, máquinas e equipamentos sem proteção, queda de altura, soterramento e choque elétrico, no qual as doenças do trabalho são aspectos importantes na elaboração do programa, em que deve existirinterface com o Programa de Prevenção de Riscos Ambientais - PPRA, Programa de Controle Médico e Saúde Ocupacional - PCMSO e a análise ergonômica dos postos de trabalho. O PCMAT deve contemplar as exigências contidas na NR-9 (Brasil, 1994), o qual visa preservar a saúde e a integridade dos trabalhadores através da 17 antecipação, reconhecimento, avaliação e controle dos riscos ambientais existentes ou que venham a existir no ambiente de trabalho, através da elaboração do PPRA. O PPRA deve contemplar obrigatoriamente os riscos físicos, químicos e biológicos, no qual os riscos ergonômicos e de acidentes podem ser inseridos no programa, ou serem identificados através do Mapa de Riscos3. Em relação aos riscos ergonômicos, além de identificados, deve ser elaborada uma análise ergonômica do trabalho, com a finalidade de avaliar as condições ambientais e de organização dos postos de trabalho com as características psicofisiológicas dos trabalhadores. As áreas de vivência para a qualidade de vida dos trabalhadores da Indústria da Construção, não só garantem a qualidade de vida, condições de higiene e integração dos operários na sociedade, mas também refletem na produtividade da empresa. As áreas de vivência é uma das mais importantes conquistas dos trabalhadores da Indústria da Construção, sendo estas responsáveis por garantir as boas condições humanas para o trabalho, influenciando o bem-estar do trabalhador, e conseqüentemente, o número de acidentes do trabalho (MENEZES; SERRA, 2003). Para Araújo (Proteção, 2005), Pontes (Proteção, 2005), Paiva (Proteção, 2005), Ramalho (Proteção, 2005) e Rosa (Proteção, 2005) a NR-18 (Brasil, 1995) mudou o perfil de Segurança e Saúde do Trabalho na Indústria da Construção, porém existem vários pontos que devem ser revistos, os quais atingem a qualidade de sua implementação e a forma descritiva e detalhada de seu texto. As Bancadas que compõem os comitês tripartites e os profissionais da área de Segurança e Saúde do Trabalho devem ter uma participação mais efetiva na discussão da NR-18 (Brasil, 1995) e em sua aplicação e implementação nos canteiros de obras (PEREIRA, PROTEÇÃO, 2005). Outro aspecto discutido após a reedição da NR-18 (Brasil, 1995) é em relação à dificuldade de aplicação e implementação da norma nos canteiros de obras, devido ao ônus que ela provoca no custo final do empreendimento. 3 O mapa de riscos é a representação gráfica dos riscos: físicos, químicos, biológicos e ergonômicos presentes nos locais de trabalho, inerentes ou não ao processo produtivo, de fácil visualização e afixado em locais acessíveis no ambiente de trabalho, para informação e orientação de todos os que ali atuam e de outros que eventualmente transitem pelo local, quanto às principais áreas de risco (SESI, 1994). 18 Em pesquisas realizadas por Araújo (2002), a autora cita que o custo de implementação da NR-18 (Brasil, 1995) não ultrapassa 1,5% do custo total da obra, porém, em contrapartida um canteiro bem organizado e planejado pode levar a uma economia de 10%. A certificação das organizações em Sistemas de Gestão de Segurança e Saúde do Trabalho – SGSST pode auxiliar as empresas a darem maior confiabilidade às partes interessadas (colaboradores, terceiros, sociedade) de que existe um comprometimento com a Segurança e Saúde do Trabalho e que é dada ênfase à prevenção, porém não garante a redução de acidentes e doenças ocupacionais (PROTEÇÃO, 2007b). De acordo com Barkokébas Jr. et al (Proteção, 2007), a implementação das diretrizes sobre sistemas de gestão de Segurança e Saúde no Trabalho – ILO-OSH 2001 (FUNDACENTRO, 2005) em uma empresa de grande porte, apresentou a redução de 97% nos riscos de acidentes de trabalho. Segundo os autores, o passivo trabalhista da empresa que em 2003 atingiu a cifra de R$ 305 mil, em 2005 chegou a R$ 18 mil, o que confirma a eficácia dos investimentos para a implementação de sistemas de gestão. A NR-18 (Brasil, 1995) foi pensada e elaborada para atender as obras de construção civil, deixando alguns setores da Indústria da Construção descobertos, como a construção pesada, porém, entende-se que os profissionais da área de engenharia e SST, bem como a sociedade pode apresentar suas propostas de melhoria e alteração da norma através do CPN e dos CPR’s (PROTEÇÃO, 2007a). 2.1 Acidentes de Trabalho O acidente de trabalho convive com toda a história da humanidade, ao lado dos métodos e formas de produção. Porém, como fenômeno social ampliado e reconhecido, é fruto do capitalismo que pode ser entendido como uma forma de organização econômica da sociedade que se fundamenta no trabalho livre e na extração de mais-valia, excedente em valor, fruto do trabalho, apropriada pelos proprietários dos meios de produção (BAUMECKER, 2000 apud GONÇALVES 2006). 19 As determinações que incidem sobre a saúde do trabalhador na contemporaneidade estão fundamentalmente relacionadas às novas modalidades de trabalho e aos processos mais dinâmicos de produção implementados pelas inovações tecnológicas e pelas atuais formas de organização do trabalho (RBSO, FUNDACENTRO, 2007). Profundas transformações que vêm alterando a economia, a política e a cultura na sociedade por meio da reestruturação produtiva e do incremento da globalização, entre outros motivos, implicam também mudanças nas formas de gestão do trabalho que engendram a precariedade e a fragilidade das questões que envolvem a relação entre saúde e trabalho e as condições de vida dos trabalhadores (RBSO, FUNDACENTRO, 2007). Os acidentes de trabalho constituem o principal evento mórbido entre os trabalhadores brasileiros no exercício do seu ofício. A morte de indivíduos causada por acidentes de trabalho, em plena fase produtiva de suas vidas, traz corrosivas repercussões para a qualidade de vida de suas famílias e, por extensão, para a economia brasileira (WÜNSCH, 1999 apud GONÇALVES, 2006). No Brasil, já no início da década de 70, quando as atenções se voltaram para a construção da Ponte Rio-Niterói, o país conquistou o triste recorde de detentor da maior taxa mundial de acidentes fatais na construção civil (PROTEÇÃO, 2005). Em 1972, quase 1/5 da força de trabalho formal, ou seja, trabalhadores inscritos na Previdência Social, havia se acidentado, e isso foi a pior marca na história acidentária do Brasil (USP, 2007f). Diante dos números elevados de Acidentes do Trabalho, o Governo Federal promulgou a Lei n° 6.514 (Brasil, 1977), que deu a redação atual aos artigos 154 a 201, que constituem o Capítulo V: Da Segurança e da Medicina do Trabalho, do Título II: Das Normas Gerais de Tutela do Trabalho da Consolidação das Leis do Trabalho - CLT (Brasil, 1943). A partir da alteração da CLT (Brasil, 1943), inicia-se a intensificação em escala nacional dos cursos de formação de profissionais em SST, os quais devem compor os Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho - SESMT, que ao exemplo das Comissões Internas de Prevenção de Acidentes - CIPA’s, devem ser organizados e mantidos em funcionamento nas empresas públicas e privadas que possuam empregados sujeitos ao regime da CLT, 20 conforme o grau de risco e o número de empregados que possuam, sempre objetivando a prevenção dos infortúnios laborais. No Brasil, o Sistema de Seguro de Acidente de Trabalho tem o monopólio Estatal, através do Instituto Nacional de Seguro Social – INSS, com a taxação da empresas de acordo com a probabilidade de ocorrer acidente de trabalho para aquela atividade econômica (USP, 2007c). Com a publicação do Decreton° 6.042 de 12/02/2007, que altera o Regulamento da Previdência Social aprovado pelo Decreto n° 3.048, de 06 de maio de 1999 cria-se o Fator Acidentário de Prevenção - FPA e do Nexo Técnico Epidemiológico Previdenciário – NTEP. O FPA consiste em um multiplicador variável num intervalo de 0,5 a 2,0 que será aplicado no Seguro de Acidente de Trabalho – SAT, o qual tem seu percentual definido no mesmo Decreto de acordo com a atividade preponderante da empresa, ou seja, se a empresa investe em SST, esta poderá ter sua alíquota reduzida, porém, se ela não coloca esta questão como prioridade terá sua alíquota elevada. O NTEP é a evidência causal entre a doença adquirida pelo trabalhador e o CNAE do segmento econômico a qual pertença, presumindo-se que seja ocupacional àquele beneficio cujo CID (Código Internacional de Doença) possua nexo epidemiológico com o CNAE da empresa empregadora do segurado, sem a necessidade da emissão da CAT – Comunicação de Acidente de Trabalho. A Comunicação de Acidente de Trabalho - CAT é a principal fonte de informação sobre Acidentes de Trabalho existente no Brasil, a qual é processada pela Previdência Social para fins de benefícios aos trabalhadores acidentados (USP, 2007c). Os sistemas de registro de acidente de trabalho existentes fornecem uma informação não suficientemente explorada. Seu aprofundamento requer estudos interdisciplinares específicos; práticas de vigilância, com busca ativa de casos, identificação e implementação de serviços de referência; análises epidemiológicas e de alternativas tecnológicas, bem como, o dimensionamento das repercussões sociais dos acidentes e, principalmente dos óbitos por acidente de trabalho (MACHADO E GOMEZ, 1994). 21 2.2 Conceito Legal do Acidente do Trabalho Conforme o Art. 2º da Lei n° 6.367 (MPAS, 1976), “Acidente do trabalho é aquele que ocorrer pelo exercício do trabalho a serviço da empresa, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte, ou perda, ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho”. Integram o conceito de acidente o ato lesivo à saúde física e mental, o nexo causal entre este e o trabalho e a redução da capacidade laborativa. A lesão é caracterizada pelo dano físico-anatômico, ou mesmo psíquico. A perturbação funcional implica dano fisiológico ou psíquico nem sempre aparente, relacionada com órgãos ou funções específicas. Já a doença se caracteriza pelo estado mórbido de perturbação da saúde física ou mental, com sintomas específicos em cada caso. Por seu turno, com a nova definição dada pela nova Lei nº 8.213 (MPAS, 1991), dispõe o Art. 19 deste Diploma Legal, “verbis”: Art. 19. Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa ou pelo exercício do trabalho dos segurados referidos no inciso VII do art. 11 desta Lei, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho. Analisando os dispositivos em comento infere-se que o conceito é sempre o mesmo. A diferença que se nota está na abrangência que a Lei n° 8.213 (MPAS, 1991) deu a uma classe especial de segurados4, até então sem direito aos benefícios pagos pela Previdência Social em caso de Acidentes de Trabalho. É preciso que para a existência do acidente do trabalho exista um nexo entre o trabalho e o efeito do acidente. Este nexo de causa-efeito é tríplice, pois envolve o trabalho, o acidente com a conseqüente lesão, e a incapacidade resultante da lesão. Deve haver um nexo causal entre o acidente e o trabalho exercido. Inexistindo esta relação de causa-efeito entre o acidente do trabalho, não se poderá falar em acidente do trabalho. Mesmo que haja lesão, mas que esta não venha a deixar o 4 Conforme a Lei n° 8.213 (MPAS, 1991), como segurados especiais para fins do inciso VII são considerados o produtor, o parceiro, o meeiro e o arrendatário rurais, o garimpeiro, o pescador artesanal e o assemelhado, que exerçam suas atividades, individualmente ou em regime de economia familiar, ainda que com o auxílio eventual de terceiros, bem como seus respectivos cônjuges ou companheiros e filhos maiores de 14 (quatorze) anos ou a eles equiparados, desde que trabalhem, comprovadamente, com o grupo familiar respectivo. (O garimpeiro está excluído por força da Lei nº 8.398, de 7.1.92, que alterou a redação do inciso VII do art. 12 da Lei nº 8.212, de 24.7.91). 22 segurado incapacitado para o trabalho, não haverá direito a qualquer prestação acidentária. De acordo com a Lei n° 6.367 (MPAS, 1976) no seu art. 2º, o acidente do trabalho tem que ocorrer pelo exercício do trabalho a serviço da empresa. Tem que haver casualidade para que haja infortúnio do trabalho. Para isso a causa do acidente ou doença tem que ter relação com o trabalho e tem que ser no exercício da atividade para que se tenha relevância jurídica. Dando uma interpretação legal do acidente do trabalho, resta-nos entender o que reza o inciso XXVIII do artigo 7º da CF (Brasil, 1988) “verbis”: Art. 7º “São direito dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social”. XXVIII – seguro contra acidentes do trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa; No artigo 194 da CF (Brasil, 1988) tratou o legislador de Seguridade Social destinada a assegurar os seus direitos relativos à saúde, à previdência e assistência social. Por seu turno, o inciso I do artigo 201, ao tratar da Previdência Social, mediante contribuição, atenderão nos termos da Lei, a: I – cobertura dos eventos de doença, invalidez, morte, incluídos os resultantes de acidentes do trabalho, velhice e reclusão; Na realidade, a Lei n° 8.213 (MPAS, 1991) estabeleceu as regras para o segurado ter direito aos benefícios da Previdência Social, trazendo significativas mudanças em matéria de acidente do trabalho, doenças profissionais e do trabalho (tecnopatias e mesopatias) e quanto à forma de indenizar a incapacidade laborativa. 2.3 Conceito Prevencionista do Acidente de Trabalho O acidente do trabalho definido pelo conceito prevencionista aborda o acidente do trabalho como uma ocorrência não programada, inesperada ou não, que interrompe ou interfere no processo normal de uma atividade, ocasionando perda de tempo útil e/ou lesões nos trabalhadores, e/ou danos materiais (GONÇALVES, 2002 apud RAGASSON 2002). 23 Segundo Pandaggis (2003), algumas visões e conceitos do acidente de trabalho contradizem o seu verdadeiro significado e seu entendimento como uma ocorrência multicausal, o qual depende de vários fatores para que este se materialize. Ainda, segundo o autor, a empresa deve ser considerada como um sistema, que interligada em toda a sua estrutura organizacional, processo produtivo, e sociedade, incluindo o trabalhador, o acidente é caracterizado como uma anomalia manifestada no sistema, revelando um não funcionamento ou um funcionamento defeituoso do seu processo de produção. O conceito prevencionista definido por Pandaggis (2003) torna-se mais abrangente na relação existente entre o trabalhador e o meio ambiente de trabalho que este está inserido, sendo que proporcionará melhores ferramentas para a busca de soluções de prevenção e não coincide com o conceito legal, o qual tem a finalidade de amparar o trabalhador na ocorrência de acidentes e doenças do trabalho. Historicamente, as causas dos acidentes de trabalho têm sido entendidascomo as circunstâncias ou os fatores que, se removidos a tempo, teriam evitado a ocorrência do infortúnio laboral. Por décadas, as causas acidentárias têm sido agrupadas em duas categorias básicas: Condições Inseguras e Atos Inseguros. Certamente, tal agrupamento possui relevância para fins didáticos, posto que muito simplista e, portanto, insuficiente para a efetiva compreensão da problemática (GONÇALVES, 2000 apud RAGASSON 2002). Condições Inseguras correspondem às deficiências, aos defeitos ou às irregularidades técnicas existentes nas instalações físicas, máquinas ou equipamentos, possíveis de ocasionar acidentes de trabalho. É da responsabilidade patronal a eliminação ou a neutralização das condições inseguras existentes nos locais de trabalho (GONÇALVES, 2000 apud RAGASSON 2002). Atos Inseguros são atitudes, ações ou comportamentos dos trabalhadores em desacordo com as normas preventivas e que põem em risco a sua saúde e/ou integridade física, ou a de outros companheiros de trabalho. Atos inseguros são geralmente definidos como causas dos acidentes que residem, predominantemente, no fator humano (GONÇALVES, 2000 apud RAGASSON 2002). De acordo com Almeida (1995), as análises das causas de infortúnio laboral sob a dualidade de condições e atos inseguros encontram-se superada pelos estudiosos da segurança e saúde no trabalho, que desenvolveram várias correntes 24 ou teorias abordando a questão de forma mais abrangente como outros métodos de análise, como árvore de causas. Modelos mais complexos de investigação de acidentes estão associados à conjugação de vários fatores, pode-se utilizar o método de análise como da Árvore de Causas – ADC, segundo Blinder, Almeida, Monteau (2003), que propõem uma abordagem sistêmica das causas dos acidentes observando distúrbios funcionais da empresa. Pode-se verificar que no processo iniciado na cadeia de incidentes intermediários descritos no sistema, este processo evolui até chegar à lesão do indivíduo. O método ADC possibilita a identificação de fatores de acidentes na categoria de fatores organizacionais que não estão previstos nas NR’s, e pode vir a constituir ferramenta de contraposição à cultura da culpa, tão enraizada nas investigações de acidentes de trabalho. O método também permite visualizar as medidas preventivas que devem ser adotadas para evitar a ocorrência de outros acidentes. Esse método tem sido recomendado pelo Ministério da Saúde - MS para análise de Acidentes de Trabalho (BLINDER, ALMEIDA, MONTEAU, 2003). Segundo Dwyer apud Gonçalves (2006), a noção de acidentes, de sua prevenção e indenização é produto de uma complexa articulação de processos sociais. O reconhecimento de que os custos dos acidentes do trabalho de todos os tipos estão estimados em 4% do Produto Interno Bruto - PIB nos países avançados e o fato de que os custos dos grandes acidentes recaem sobre a sociedade como um todo é outro fator que está influenciando as mudanças. Uma certeza: forças sociais já estão operando para fazer com que o futuro dos acidentes seja muito diferente do seu passado. Uma das causas da produção de acidente do trabalho é o nível de rendimento de incentivos financeiros, excesso de carga horária e incapacidade dos trabalhadores mal nutridos de executar tarefas com segurança. Para que o incentivo seja eficaz, as pessoas têm que ser orientadas a trabalhar mais para ganhá-los; para que os incentivos produzam mais acidentes, os trabalhadores precisam assumir riscos maiores para obtê-los. No trabalho extra, as pessoas trabalham um número maior de horas do que é seguro, trabalham além das suas capacidades físicas e, conseqüentemente, se acidentam (DWYER, 1994 apud GONÇAVES, 2006). Outro fator que também leva a incidência de acidentes segundo Dwyer apud Gonçalves (2006), é quando os trabalhadores não têm conhecimentos adequados 25 para evitar os efeitos produzidos fora do alcance da própria tarefa, pode-se dizer que seu trabalho está sendo gerenciado pela relação social de desorganização. Esta teorização é baseada na hipótese de que a gerência do relacionamento entre o trabalhador e os perigos de seu trabalho em cada nível está associada à produção de acidentes naquele nível. Em conseqüência, uma mudança neste gerenciamento seria associada a uma mudança na produção de acidentes. Como também, os sindicatos sendo forte o suficiente para exigir segurança no trabalho, a relação do autoritarismo produzirá menos acidentes. Os trabalhadores estarão menos sujeitos ao trabalho extra, quando o salário for suficiente para o sustento adequado. E nas empresas onde o empresário relacionar a prevenção dos acidentes à produtividade, pode-se esperar menos falta de qualificação e menos desorganização (DWYER, 1994 apud GONÇAVES, 2006). O pagamento de prêmios e o aumento de horas extras pelas empresas, maximizando sua eficácia produtiva e minimizando o custo de trabalho são fatores preponderantes no aumento do número de acidentes de trabalho, conduzindo a descentralizar um número crescente de tarefas e condições cada vez menos protegidas a cada vez mais precárias, incrementando o número de indivíduos que passam a buscar sua subsistência por meio de um trabalho informal (OLIVEIRA, 2004). 2.4 NR-18 – Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção A legislação sobre Segurança e Medicina do Trabalho no Brasil teve um significativo avanço no ano de 1978 com a elaboração e a publicação das Normas Regulamentadoras, tendo como específica para o setor da construção a NR-18 (Brasil, 1995). Esta norma foi aprovada pela Portaria nº 3.214 (Brasil, 1978), com o título de “Obras de Construção, Demolição e Reparos” e definia as regras de prevenção de acidentes de trabalho para a Indústria da Construção, porém, devido aos progressos tecnológicos e sociais seu texto tornou-se defasado, necessitando de modificações legais. A reedição da NR-18 (Brasil, 1995) introduziu inovações conceituais que aparecem a partir de sua própria formulação, com a inovação da criação dos 26 Comitês Tripartites, uma vez que é a primeira norma discutida e aprovada através de negociação nos moldes prescritos pela Organização Internacional do Trabalho - OIT. A discussão NR-18 (Brasil, 1995) deu-se início em meados de 1994, através de 10 (dez) grupos de trabalho formado por técnicos do Governo (Delegacia Regional do Trabalho) e FUNDACENTRO. A partir de um modelo técnico, várias reuniões foram realizadas com o objetivo de consolidar todas as propostas de alteração encaminhadas pela sociedade, representada por entidades de classe, empresas e profissionais. Em atendimento a recomendação da OIT, estas propostas foram rediscutidas em caráter tripartite, onde trabalhadores, empregadores e governo apresentaram o texto final para publicação, sendo então publicada pela Portaria nº 4 (Brasil, 1995). Pela primeira vez no Brasil, uma norma foi toda negociada com a participação de 03 bancadas, sendo estas compostas por representantes dos trabalhadores, empregadores e governo, cujo objetivo comum é a melhoria das Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção, contribuindo assim para melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores. Com a alteração do título inicial da norma de “Obras de Construção, Demolição e Reparos” para “Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção” foram instituídas alterações importantes. A norma deixou de abranger apenas os canteiros de obras, passando para todo o ambiente de trabalho da Indústria da Construção. Esta nova norma estabelece o seu caráter preventivo, cujo objetivo é “estabelecer diretrizes de ordemadministrativa, de planejamento e de organização, que objetivam implementar medidas de controle e sistemas preventivos de segurança nos processos, nas condições e no meio ambiente de trabalho na Indústria da Construção” (NR-18, BRASIL, 1995). Os objetivos da NR-18 (Brasil, 1995) são colocados em prática através do Programa de Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção - PCMAT, o qual implementado contribui para a padronização das instalações de segurança, sendo um excelente ponto de partida para a gestão de Segurança e Saúde do Trabalho - SST na Indústria da Construção. Atualmente a NR-18 (Brasil, 1995) sofre alterações constantes que são realizadas através das discussões no Comitê Permanente Nacional – CPN e nos Comitês Permanentes Regionais – CPR’s, os quais são constituídos por Unidades 27 da Federação. Essas alterações buscam adequar à implementação da norma nos canteiros de obras, bem como estabelecer condições mínimas de segurança às novas tecnologias que surgem na Indústria da Construção, inclusive com a eliminação de equipamentos que provocam acidentes e podem lesar os trabalhadores. As alterações somente são introduzidas no texto da NR-18 (Brasil, 1995) após intensa discussão realizada no CPN e nos CPR’s, onde as propostas são advindas dos próprios Comitês Regionais ou do Nacional, porém todas essas instâncias tripartites discutem o assunto, fazendo-se emendas ou rejeitando as propostas. No âmbito de cada proposta, são formados Grupos de Trabalhos específicos que vão discutir exaustivamente o assunto, adequando-o ao texto técnico da norma e levando em consideração sua aplicabilidade nos canteiros de obras. Depois de aprovada a proposta pelos CPR’s e CPN, o texto é encaminhado à Comissão Tripartite Paritária Permanente – CTPP, a qual é constituída de forma tripartite e paritária com as principais representações sindicais, patronais e do governo (MTE e FUNDACENTRO), contanto também com a participação de membros dos Ministérios da Saúde e Previdência e Assistência Social. Os membros da CTPP tem direito a voz e voto em igualdade de condições, cumprindo um mandato de dois anos, podendo ser reconduzidos. Cada bancada pode convidar para as reuniões três assessores técnicos, que podem fazer uso da palavra, mas não tem direito a voto. A CTPP foi criada pela Portaria SSST/MTb n° 02 (MTE, 1996), com a finalidade de tornar as discussões de Segurança, Saúde e Medicina do Trabalho acessíveis a toda a sociedade. Somente depois de discutida e aprovada pela CTPP, a proposta é encaminhada a Secretaria de Inspeção do Trabalho do MTE para ser publicada no Diário Oficial da União e ser introduzida no texto da NR-18 (Brasil, 1995). A NR-18 é parte integrante de um conjunto mais amplo de iniciativas no sentido de preservar a saúde e a integridade física dos trabalhadores, devendo estar articulada com o disposto nas demais normas regulamentadoras. 28 3. METODOLOGIA O trabalho foi produzido através de pesquisas bibliográficas de forma qualitativa, analisando-se a interação que a Indústria da Construção impõe sobre o meio acadêmico e as diferentes opiniões que muitos autores oferecem sobre o tema. 3.1 Análise Setorial da Indústria da Construção Numa visão macro-setorial, a Indústria da Construção pode ser classificada em três setores distintos: construção pesada, montagem industrial e edificações (LIMA, VALCÁREL, DIAS, 2005). A construção pesada compreende as seguintes categorias: obras viárias, obras hidráulicas, obras de urbanização e obras diversas. Pode-se considerar que as principais atividades desse setor compreendem, sobretudo, a construção de pontes, viadutos, contenção de encostas, túneis, captação, adução, tratamento e distribuição de água, redes coletoras de esgoto, emissários, barragens hidrelétricas, dutos e obras de tecnologia especial como usinas atômicas, fundações especiais, perfurações de petróleo e gás (LIMA, VALCÁREL, DIAS, 2005). Segundo Lima, Valcárel, Dias (2005), o setor de montagem industrial compreende a categoria de obras de sistemas industriais. Resumidamente, temos: montagens de estruturas mecânicas, elétricas, eletromecânicas, hidromecânicas, montagem de sistema de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica, montagem de sistemas de telecomunicações, montagem de estruturas metálicas, montagem de sistema de exploração de recursos naturais e obras subaquáticas. As edificações compreendem a construção de edifícios residenciais, comerciais, de serviços e institucionais, construção de edificações modulares verticais e horizontais e edificações industriais. As empresas que se autoclassificam nessa área podem ainda exercer trabalhos complementares e auxiliares como reformas e demolições (LIMA, VALCÁREL, DIAS, 2005). Nos trabalhos de edificações, os serviços são normalmente executados por subempreitada, contratando-se empresas especializadas nas diversas etapas da obra. Suas peculiaridades, entre outras, são altos índices de rotatividade de pessoal, baixa qualificação profissional, pequena duração das obras e/ou serviços, porte das 29 empresas pequeno, precarização na contratação dos trabalhadores, etc (LIMA, VALCÁREL, DIAS, 2005). Além desses três setores, pode-se dizer que há outro setor de serviços especiais e/ou auxiliares que engloba atividades bastante diferenciadas, dentre as quais se destacam, além de projetos, consultorias diversas em qualidade, meio- ambiente, segurança do trabalho, entre outras (LIMA, VALCÁREL, DIAS, 2005). Na tabela 3.1, apresenta-se à distribuição dos trabalhadores do setor no ano de 2006 no Estado de São Paulo e no Brasil, sendo possível observarmos que em São Paulo o setor de Construção de Edifícios emprega 37,26% do total de trabalhadores, contra 40,67% da média brasileira, o que significa que as empresas paulistas terceirizam mais as atividades do setor. Tabela 3.1 - Distribuição dos trabalhadores do setor de Construção, segundo classe de atividade em 2006 - São Paulo e Brasil. Nº. Trabalhadores Atividade São Paulo Brasil Incorporação de empreendimentos imobiliários 13.134 45.267 Construção de edifícios 138.968 585.143 Construção de rodovias e ferrovias 24.154 112.991 Construção de obras de arte especiais 5.307 39.615 Obras de urbanização - ruas, praças e calçadas 9.030 25.238 Obras para geração e distribuição de energia elétrica e para telecomunicações 18.407 105.728 Construção de redes de abastecimento de água, coleta de esgoto e construções correlatas 4.404 15.714 Construção de redes de transportes por dutos, exceto para água e esgoto 560 4.568 Obras portuárias, marítimas e fluviais 631 3.342 Montagem de instalações industriais e de estruturas metálicas 23.159 65.755 Obras de engenharia civil não especificadas anteriormente 38.224 141.562 Demolição e preparação de canteiros de obras 933 6.034 Perfurações e sondagens 1.041 5.094 Obras de terraplenagem 8.018 35.016 Serviços de preparação do terreno não especificados anteriormente 177 1.258 Instalações elétricas 16.180 45.255 Instalações hidráulicas, de sistemas de ventilação e refrigeração 9.075 23.005 Obras de instalações em construções não especificadas anteriormente 15.725 42.384 Obras de acabamento 28.110 63.676 Obras de fundações 6.919 22.560 Serviços especializados para construção não especificados anteriormente 10.830 49.508 Total 372.986 1.438.713 Fonte: MTE - RAIS 2006 Elaboração: DIEESE 30 O segmento da construção é determinante para o desenvolvimento sustentado da economia brasileira. No ano de 2006, o setor foi responsável por 4,68% do Produto Interno Bruto - PIB nacional e ocupou 5.741.064 pessoassegundo dados do IBGE (PNAD, 2006). A dimensão territorial do Brasil, e o tamanho da sua população determinam alto potencial de crescimento, principalmente no ramo das edificações. Observa-se que o crescimento do setor vem ocorrendo ano a ano. Na tabela 3.2, mostra-se à evolução do PIB nacional e do PIB da Indústria da Construção no período de 2004 a 2006, visto que segundo o SINDUSCON-SP (2007) a Indústria da Construção terminará 2007 com o seu melhor nível histórico já registrado nos últimos 20 anos. Tabela 3.2 - PIB Brasil e participação da Indústria da Construção Civil no PIB 2004 a 2006. Período PIB Total em R$ (milhões) PIB indústria construção civil em R$ (milhões) PIB Indústria da Construção Civil em % 2004 1.941.499,00 84.868,00 4,37% 2005 2.147.239,00 90.217,00 4,20% 2006 2.322.936,00 103.239,00 4,43% Fonte: Contas Trimestrais Nacionais - IBGE Elaboração: DIEESE De acordo com a Pesquisa Anual da Indústria da Construção - PAIC (IBGE, 2008), no ano de 2005 existiam no Brasil 105.459 empresas no CNAE 45 (Código Nacional de Atividades Econômicas - Versão 1.0), o qual engloba todo o setor da Indústria da Construção, sendo que 72,66% do total são empresas que possuem até 4 pessoas ocupadas; 20,18% são empresas que tem entre 5 e 29 pessoas ocupadas e somente 7,16% são empresas com mais de 30 pessoas ocupadas, onde 68% dos trabalhadores ocupados no período estão empregados nas empresas com mais de 30 pessoas ocupadas. Segundo o DIEESE (2001), quando se pensa no macro setor da construção civil, incluindo desde os subsetores de materiais de construção às atividades imobiliárias e de manutenção a participação do PIB passa a 14,8%, visto que em outras palavras, pode-se dizer que, a cada 100 postos de trabalho gerados na Indústria da Construção outros 285 são abertos nos demais setores econômicos. 31 O DIEESE (2001), elaborou estudo setorial – “A Reestruturação Produtiva na Construção Civil” que além de informações de âmbito nacional, contém dados comparativos de seis regiões metropolitanas: São Paulo, Porto Alegre, Recife, Salvador, Belo Horizonte e Distrito Federal. Relacionam-se a seguir, alguns dados importantes do estudo que caracterizam o setor. A maior parte das empresas (71%) e dos empregados (72%) atuam na construção de edifícios e obras de engenharia civil, sendo que cerca de 1/3 das empresas e 35,4% dos postos de trabalho encontram-se no Estado de São Paulo. Os vínculos de trabalho são tênues na construção civil, sendo que cerca de 60% dos assalariados estão à margem da legislação trabalhista, sem contar que quase 2 milhões de trabalhadores atuam por conta própria. Em torno de 50% dos trabalhadores do setor ultrapassam a jornada semanal de 44 horas e mais de 22% trabalham mais de 49 horas, isto sem considerar que grande parte da categoria faz trabalhos extras nos finais de semana. Os trabalhadores da construção civil têm baixa remuneração, onde 85% deles ganham menos de 5 salários mínimos e 44% recebem menos que dois salários mínimos. Nas regiões onde a pesquisa de emprego e desemprego é realizada, entre 3,9% e 8,3% dos ocupados atuam na construção civil, sendo que o percentual de desempregados cuja última atividade se deu no setor, porém é bem maior, e supera 10% em quatro regiões. Os dados do PED (Pesquisa e Emprego e Desemprego) confirmam que, no final dos anos 90 menos da metade da categoria contribuía para a Previdência, sendo que este dado indica uma alteração ocorrida ao longo da década. Na grande São Paulo, em 1988/1989 39,1% não pagava a Previdência, visto que dez anos depois esse percentual passou para 64,4%. Mais de 2/3 dos trabalhadores em construção, em São Paulo e Porto Alegre, atuam por conta própria ou não têm CTPS (Carteira de Trabalho e Previdência Social) assinada. A falta de vínculos formais contribui para rendimentos mais baixos no setor. Os autônomos têm rendimentos entre 20% a 40% menores que os assalariados, sendo que, além disso, há grandes diferenças entre o montante pago por região. Os maiores rendimentos estão em São Paulo e os menores em Recife. 32 Pela própria característica da construção civil, a rotatividade é muito grande no setor, visto que mais da metade dos trabalhadores está no emprego há menos de um ano e mais de 1/3 deles não completou 6 meses no emprego. O trabalhador da construção civil tem entre 35 e 38 anos e uma escolaridade média inferior ao do conjunto dos ocupados. O percentual de analfabetos chega a ser três vezes maior entre o total de pessoas trabalhando. A proporção de negros na construção civil é sempre superior à registrada no conjunto dos ocupados. Mesmo em regiões com São Paulo e Porto Alegre, onde metade da população quê está trabalhando é negra, a parcela deste segmento na construção é significativa e supera a encontrada no total de ocupados. A maior parte dos trabalhadores da construção civil é constituída por migrantes (somente em Recife o percentual de migrantes é inferior a 50%). No entanto, a maioria já se encontra na região metropolitana onde vive há mais de três anos. Entre 52% e 63% dos trabalhadores da construção civil exercem funções de pedreiro ou servente. Em ambas, a escolaridade média é a mesma (entre 3 e 5 anos de estudo), mas os pedreiros são normalmente mais velhos (39/40 anos) e ganham aproximadamente o dobro dos serventes. O estudo revela, que apesar de ter sido realizado com dados do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística - IBGE de 1999, não existe contradição com as características atuais do setor, onde, a baixa remuneração, o baixo nível de escolaridade, a grande rotatividade da mão-de-obra, a precarização do contrato de trabalho e a segmentação do setor, sejam através da terceirização, ou mesmo pelo grande emprego de mão-de-obra são fatores marcantes, os quais prejudicam a evolução social dos trabalhadores. Na tabela 3.3 observa-se que no ano de 2006, cerca de 51% dos trabalhadores declarados empregados continuam informais, ou sejam, sem registro na CTPS, bem como cerca de 42% dos ocupados na Indústria da Construção são autônomos ou trabalharam por conta-própria e não contribuem para a Previdência Social. Totalizando, em 2006 cerca de 70% dos ocupados na Indústria da Construção não contribuem para a Previdência Social. 33 Tabela 3.3 - Distribuição dos ocupados na construção, segundo a posição na ocupação no trabalho principal - Brasil – 2006. Freqüência Posição na Ocupação Absoluta Relativa Empregado com carteira 1.437.310 25,0% Empregado sem carteira 1.484.486 25,9% Conta-Própria 2.403.708 41,9% Empregador 250.384 4,4% Outros 165.176 2,9% Total 5.741.064 100% Fonte: PNAD 2006 Elaboração: DIEESE Para os trabalhadores, o processo de terceirização já não é uma simples tendência, mas uma realidade no setor. Esse processo significa precarização, sobre o eufemismo da “flexibilização” das condições de trabalho, perda de renda e dificuldades de fiscalização por parte do sindicato (DIEESE, 2001). 3.2 Estatísticas de Acidentes de Trabalho As estatísticas de acidentes de trabalho no Brasil são divulgadas pela Previdência Social, sendo que esta leva em consideração a quantidade de acidentes de trabalho registrados1 e liquidados2 em cada ano, os quais têm indicado quais setores ou atividades sofrem mais acidentes. As estatísticas de acidentes de trabalho são utilizadas para mensurar a exposição dos trabalhadores aos níveis de riscos inerentes à atividade econômica, viabilizando o acompanhamento das flutuações e tendências históricas dos acidentes e seus impactos nas empresas e na vida dostrabalhadores. Além disso, fornecem subsídios para o aprofundamento de estudos sobre o tema e permitem o planejamento de ações nas áreas de segurança e saúde do trabalhador. As estatísticas de acidentes de trabalho orientam entidades e empresas no 1 Acidentes Registrados correspondem ao número de acidentes cuja Comunicação de Acidentes do Trabalho – CAT foi cadastrada no INSS. Não são contabilizados: o reinício de tratamento ou afastamento por agravamento de lesão de acidente do trabalho ou doença do trabalho, já comunicados anteriormente ao INSS (INSS, 2008). 2 Acidentes Liquidados correspondem ao número de acidentes cujos processos foram encerrados administrativamente pelo INSS, depois de completado o tratamento e indenizadas as seqüelas (INSS, 2008) 34 planejamento e elaboração de programas de Segurança e Saúde do Trabalho (INSS, 2008). 3.3 Estatísticas de Acidentes de Trabalho no Brasil Os dados estatísticos de acidentes do trabalho no Brasil ocorridos nestes últimos 36 anos revelam um fato trágico e ao mesmo tempo preocupante na condição em que o país vivia na década de 70 como campeão mundial de acidentes do trabalho. Iniciou-se uma verdadeira operação para o decréscimo dos acidentes do trabalho. Com a participação dos profissionais da SST foi criado o Serviço Especializado em Segurança e Medicina do Trabalho - SESMT nas empresas com pessoal qualificado para a época em estudar os motivos e as formas de prevenir acidentes, através do uso de técnicas e equipamentos de proteção. Analisando-se a série histórica dos registros de acidentes do trabalho no Brasil junto a Previdência Social de 1970 até hoje, percebe-se a redução dos acidentes típicos3, acompanhada do aumento do tempo de incapacidade dos acidentados e a letalidade (USP, 2007c). A proporção dos acidentes notificados em relação ao número de trabalhadores segurados identifica uma queda vertiginosa na incidência dos acidentes do trabalho no país. Em 1970, ocorriam 167 acidentes para cada grupo de 1.000 trabalhadores; em 1980, esta relação reduz-se a 78 por 1.000; em 1990, a 30 por 1.000 e em 2.000 para 16 por cada 1.000 trabalhadores (USP, 2007c). A explicação para a queda dos acidentes de trabalho registrados são várias: sub-notificação dos acidentes, em especial dos acidentes leves, as variações cíclicas da economia brasileira no período, a terceirização com a diminuição dos trabalhadores registrados nas atividades mais perigosas e o crescimento do setor terciário da economia (WÜNSCH FILHO, 2000 apud USP, 2007c). O MPAS em parceria com o MTE vem disponibilizando o anuário estatístico de acidentes do trabalho edição 2006, a qual apresenta detalhes sobre os acidentes laborais no Brasil, trazendo detalhes do perfil acidentário município por município. Vêem-se nos dados à redução de óbitos como um dado significativo. De um ano 3 Acidentes Típicos: são os acidentes decorrentes da característica da atividade profissional desempenhada pelo acidentado (INSS, 2008). 35 para o outro, as mortes foram reduzidas em 1,8% (de 2.766 óbitos em 2005 caiu para 2.717 em 2006). Conforme o INSS (2008), no ano de 2006 foi registrado pela Previdência Social o total de 503.980 acidentes do trabalho. Comparando-se com 2005, o número de acidentes de trabalho registrados aumentou em 0,8%. Os acidentes típicos representaram 80% do total de acidentes; os de trajeto 14,7% e as doenças do trabalho 5,3%. As pessoas do sexo masculino participaram com 79,9% e as pessoas do sexo feminino 20,1% nos acidentes típicos e nos de trajeto, a faixa etária decenal com maior incidência de acidentes foi constituída por pessoas de 20 a 29 anos com, respectivamente 39,1% e 40,9% do total. Nas doenças de trabalho a faixa de maior incidência foi a de 30 a 39 anos, com 31,7% do total. Em 2006, os subgrupos do Código Brasileiro de Ocupações - CBO com maior número de acidentes típicos foram os trabalhadores de funções transversais, com 13,3% do total; nos acidentes de trajeto foram os trabalhadores de serviços, com 19,6%; e nas doenças do trabalho foram os escriturários, com 13,9% (INSS, 2008) Em 2006, a análise por setor de atividade econômica revela que o setor agrícola participou com 6,9% do total de acidentes registrados; o setor de indústrias com 47,4% e o setor de serviços com 45,7%, excluídos os dados de atividade “ignorada”. Nos acidentes típicos os subsetores com maior participação nos acidentes foram produtos alimentares e bebidas com 10,6%; saúde e serviços sociais com 8,3% do total. Nos acidentes de trajeto, as maiores participações foram do comércio varejista e dos serviços prestados principalmente às empresas, com respectivamente 12,4% e 11,9% do total. Nas doenças do trabalho foram os subsetores intermediários financeiros, com participação de 10% e o comércio varejista com 8,6% (INSS, 2008) A tabela 3.4 apresenta a evolução dos Acidentes de Trabalho no Brasil registrados pela Previdência Social nos últimos 9 anos (INSS, 2008). 36 Tabela 3.4 – Acidentes de Trabalho ocorridos no Brasil – 1999 a 2006. Ano Total Típico Trajeto Doenças Ocupacionais Óbitos 1998 414.341 347.738 36.114 30.489 3.793 1999 387.820 326.404 37.513 23.903 3.896 2000 363.868 304.963 39.300 19.605 3.094 2001 340.251 282.965 38.799 18.487 2.753 2002 393.071 323.879 46.881 22.311 2.968 2003 399.077 325.577 49.642 23.858 2.674 2004 465.700 375.171 60.335 30.194 2.839 2005 499.680 398.613 67.971 33.096 2.766 2006 503.980 403.264 73.981 26.645 2.717 Fonte: INSS (2008) 3.4 Estatísticas de Acidentes de Trabalho na Indústria da Construção Apesar dos inúmeros esforços que vêm sendo feitos no Brasil, a partir de campanhas de prevenção de acidentes, de comissões de estudo tripartites (representantes do Governo, Empregadores e Trabalhadores) e de estudos acadêmicos, o índice de acidentes do trabalho e doenças profissionais continua elevado em relação aos índices encontrados em outros países, principalmente na Indústria da Construção, o que causa inúmeros problemas sociais e econômicos. A Indústria da Construção é um dos setores de atividade econômica que mais registra acidentes de trabalho e onde o risco de acidentes é maior. De acordo com as estimativas da Organização Internacional do Trabalho - OIT, dos aproximadamente 355 mil acidentes mortais que acontecem anualmente no mundo, pelo menos 60 mil ocorrem em obras de construção (LIMA, VALCÁREL, DIAS, 2005). O tema da segurança e saúde na construção é relevante não só por se tratar de uma atividade perigosa, mas também é, sobretudo porque a prevenção de acidentes de trabalho nas obras exige enfoque específico, tanto pela natureza particular do trabalho de construção como pelo caráter temporário dos centros de trabalho (obras) do setor. Essa circunstância ganhou destaque com a adoção pela OIT em 1988 da Convenção n° 167 sobre segurança e saúde na construção, a qual foi promulgada pelo Decreto Federal nº 6.271 (Brasil, 2007) juntamente com a 37 Recomendação nº 175 da OIT sobre Segurança e Saúde na Construção (LIMA, VALCÁREL, DIAS, 2005). A ação do programa Safework da OIT, em matéria de segurança e saúde na construção, que se baseia na colaboração com os países na formulação, execução e reexame periódico das políticas e dos programas de ação nessa área, propícia: (a) a consideração da Indústria da Construção como uma das prioridades das políticas nacionais de SST; (b) a incorporação do tema da SST nas políticas nacionais de desenvolvimento da Indústria da Construção; (c) a especificidade da
Compartilhar