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Educação Infantil UNIDADE 1 1 Para início de conversa Olá estudante, seja bem-vindo a nossa disciplina Educação Infantil! Você vai iniciar agora os estudos referentes à Unidade I. Será um prazer estudar com você! Conto com seu comprometimento ao longo da nossa disciplina. orientações da disciPlina Prezado (a) aluno (a), antes de iniciar a leitura do seu guia, peço que faça a leitura do seu livro-texto ele irá nortear seus estudos. Assista também a nossa videoaula ela foi elaborada com o objetivo de facilitar seu aprendizado. Em alguns momentos vou indicar a leitura de alguns links e vídeos para que desta forma, você tenha outras fontes de conhecimentos além do livro-texto e o guia de estudo. Ao final da unidade acesse o AVA e responda a atividade avaliativa, em caso de quaisquer dúvidas não perca tempo, envie uma mensagem para seu tutor. Nesta I unidade estudaremos os seguintes tópicos: • A infância e a criança: seus significados no decorrer do seu processo histórico; • História da criança; • História da criança brasileira. Palavras do Professor Prezado (a) aluno (a), nesse guia de estudo você vai ler sobre a Infância e a criança dentro do seu processo histórico, onde vai ver principalmente as ideias do historiador francês Philippe Ariès sobre a história da criança e as concepções medievais sobre a infância, como as crianças eram vistas naquele período e como eram retratadas. Você também vai entender o “sentimento de infância” E vai ler sobre a história da criança no Brasil, desde antes do período em que os colonizadores portugueses chegaram aqui na terra tupiniquim até os dias atuais. E a exploração de crianças, será que parou? Você vai ver tudo isso nesta I Unidade. Lembre-se que você sempre pode recorrer ao seu livro-texto, na plataforma. Diz o adágio popular: “de criança, velho e louco, todos nós temos um pouco.” As crianças eram chamadas de muitas maneiras: meninos, crianças de peito, crianças de colo, parvoos, cachopos... (estou falando do período em que fomos colonizados pelos portugueses, lembra?) Muitos vocábulos ganharam variações com o passar do tempo. Mas, como a nossa língua não é estática, engessada, parada, hermética, ela também sofre transformações com o passar do tempo. 2 você sabia? As primeiras cartilhas usadas para alfabetizar as crianças foram publicadas no início do século XIX e eram escritas nos moldes portugueses, porque até 1808 não era permitida a publicação de livros nacionais. Você já ouviu falar em abecedário? Provavelmente não. Este era um livrinho usado para alfabetizar as crianças e também uma espécie de Dicionário. Pois bem, esse livrinho chamava a criança de moço, quando completava 7 anos, a idade da razão, quando poderia até ser preso ou condenados à morte. Muito forte, não é? Hoje não chamaríamos uma criança de 7 anos um moço. a infÂncia e a criança: seUs siGnificados no decorrer do seU Processo HistÓrico Essa divisão das diversas fases da vida foi feita primeiramente por Hipócrates (400 a.C), que especificava que o indivíduo seria criança até os 14 anos, e toda a existência humana seria dividida em 7 fases. Já na literatura medieval, o rei D. Duarte determinou que a infância iria até os 7 anos, dividindo as diversas fases da vida em 7 etapas também. Ariès (1914 – 1984), um importante historiador francês da era medieval, defende que a vida do ser humano pode ser dividida em 7 fases, assim como os outros. Assim, você pode ver que a infância pode ser compreendida de várias formas, de acordo com a sociedade a que se está inserida. A criança já foi vista apenas como uma distração para os adultos e até foi colocada em colégios internos, austeros, onde essas crianças poderiam ser protegidas e afastadas dos adultos e da sociedade em geral, assim elas poderiam ser vigiadas e até disciplinadas, caso fosse necessário. Ariès também nos informa que quando a criança era pequenininha, de colo mesmo, poderia ser “paparicada”. As pessoas se divertiam com essas crianças como se fossem uns animaizinhos, um macaquinho. Se essa criancinha morresse ela seria logo substituída por outra e continuaria anônima. Se ela morresse então, como muitas vezes acontecia, alguns podiam ficar até desolados, tristes, mas a regra geral era não fazer muito caso, pois outra criança logo a substituiria. A criança não chegava a ser considerada uma pessoa “de verdade”, era mais um bibelô, um brinquedinho, de acordo com esse historiador francês Ariès. Para sua melhor compreensão, assista ao vídeo: As escolas do século XIX. Duração do vídeo: 4:57. Clique aqui para assistir. Então, você pode ver que as crianças não eram cogitadas como indivíduos e não recebiam qualquer consideração. No mundo medieval a passagem da infância para a fase adulta foi acontecendo gradativamente e havia algumas etapas a serem concluídas durante esse processo. Foi exatamente essa ideia que levou a educação escolar a ser dividida em classes. Quando chegou a Modernidade, a criança ganhou o status de “aluno”, cuja idade determinava a sua classe na escola. E no início como você já viu, a criança era colocada na escola para ser “protegida” da sociedade, que era considerada “degenerada”. Além disso, poucas crianças estudavam em escolas. ??? https://www.youtube.com/watch?v=dM3QVib5iMM 3 A maioria era educada pelas próprias mães; inclusive, o comportamento dessas crianças era de pura imitação dos moldes adultos. Michiel van der Dussen com sua família. Hendrick Cornelisz Van Vliet (1611/1612 – 1675) Gemeente Musea Delft.1 Fonte: http://sereduc.com/jJDqCS Inicialmente a ideia de “prolongamento da infância” era defendida principalmente pelos padres, moralistas e pedagogos. Mas, a partir do século XIX, a Europa recebe inúmeras crianças e havia muitas propostas de instituições educacionais de diversas partes do mundo, ainda conforme Ariès (1984 apud FARIA FILHO, 2004). visite a PáGina A família: a chave para compreender a sociedade medieval - parte 2. Clique aqui para acessar. Contudo, essa ideia de que as crianças eram deixadas de lado e marginalizadas não tem o apoio de muitos historiadores. As críticas recaem para o fato de que Ariès não contempla as crianças pobres, filhos de operários, que foram arrastadas para as indústrias, por serem mão de obra barata, mas era um trabalho exaustivo (e protegido pela lei) podendo a criança trabalhar com turnos de 14 horas por dia; elas começavam às 5h da manhã e só largavam às 19h. Absurdo, não é? Igualmente absurdo era o salário que recebiam: apenas a 5ª. parte do salário de um adulto! Fonte: http://sereduc.com/Tg6Ns8 http://sereduc.com/jJDqCS http://ipco.org.br/ipco/familia-chave-para-compreender-sociedade-medieval-parte-2/# http://sereduc.com/Tg6Ns8 4 visite a PáGina Caro (a) aluno (a), acesse o link e saiba mais sobre A regulamentação do trabalho infantil. A difícil tarefa na regulamentação do trabalho infantil artístico. Clique aqui para acessar. A ausência de infância pode ser observada se você olhar um pouquinho para trás no tempo e verificar que muitas dessas mudanças foram decorrentes do capitalismo e das revoluções industriais. Nesse período, as mulheres (e seus filhos) começam a ser introduzidos no trabalho operário. Crianças no trabalho operário - Fontes: http://sereduc.com/Io0xgy - http://sereduc.com/vkXF4V Existiu até um documento, escrito em 1898 em que os meninos eram separados em três categorias: 1. Operários com menos de 12 anos; 2. Operários de 12 a 16 anos; 3. Operários com mais de 16 anos. E mesmo essa lei tendo sido criada para limitar os abusos, ainda assim, não serviu para exterminar a exploração do abuso infantil. Mas isso teve o poder de fomentar as ações voltadas à proteção da criança, resultando na mudança de paradigma quanto à idade que representasse a infância. Assim, ela estendeu- se até os 14 anos, passando a fase pueril a fazer parte da chamada infância. É importante também que você saiba que a fase dos 0 aos 6 anos passou a ser considerada fundamentalpara a educação. Para PesqUisar Uma história da infância: da Idade Média à época contemporânea no Ocidente. Clique aqui para acessar. Boa leitura! http://www.tst.jus.br/noticias/-/asset_publisher/89Dk/content/a-dificil-tarefa-na-regulamentacao-do-trabalho-infantil-artistico/pop_up?_101_INSTANCE_89Dk_viewMode=print http://sereduc.com/Io0xgy http://sereduc.com/vkXF4V http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-15742005000200014 5 Palavras do Professor A partir do finalzinho do século XIX e início do século XX, a infância e a educação ganham destaque na sociedade moderna. As escolas adquirem importância fundamental para o desenvolvimento da nação. Veremos ainda outras concepções de infância durante a nossa unidade. Mas observe que precisamos considerar aspectos espaciais e temporais para definir a infância, ou seja, é preciso que você esteja atento ao espaço e ao tempo de vida no contexto social em que a criança está inserida. Isso não quer dizer que a criança era estudada não como um problema em si, mas, era vista de acordo com o contexto histórico em que estava inserida. Na verdade, você pode ver que Ariès tinha uma visão um pouco diferente dos outros estudiosos. Ele afirma que não existia esse sentimento de carinho pela criança na Idade Média. Mas ele também destaca que isso não significa que elas eram abandonadas ou negligenciadas, mas que esse sentimento de ternura que uma criança desperta até hoje, inexistia na época. O problema nessa concepção de Ariès é que ele afirmava que não existia diferença entre um adulto e uma criança no que se refere ao mundo medieval, é o chamado “sentimento de infância”. Naturalmente que ele percebia que existia afeição pelas crianças, mas nada que diferenciasse a criança do adulto. O historiador, inclusive, pesquisou registros históricos artísticos e não encontrou representações de crianças na arte medieval. Ele cita até uma cena do Evangelho de Otto III que retratava Jesus com as crianças. Outros quadros representavam as crianças com feições adultas. Não havia uma percepção artística da criança com expressão infantil, o que nos leva a observar que essa característica adulta nas representações infantis, mostravam exatamente o que as pessoas da época pensavam: eram adultos. Na foto abaixo, observe que a criança representada é um menino de colo, mas veja a expressão do seu rosto e o desenho do cabelo. A virgem e a criança Fonte: http://sereduc.com/Uo2qDI http://sereduc.com/Uo2qDI 6 você sabia? Ainda agora no século XXI, “mais de 132 milhões de crianças dos 5 aos 14 anos, ajudam a produzir a maioria dos alimentos e bebidas que consumimos, a par da produção têxtil destinada ao vestuário», revelam a Organização Internacional do Trabalho e a IE/Europa. Como você viu, Ariès tinha uma percepção peculiar da criança na era medieval. Além das leituras baseadas nas representações artísticas, ele também conseguiu resgatar um conceito vindo do século XVII sobre a infância. Naquela época, a taxa de mortalidade infantil era muito alta. Por isso, a sociedade sentiu que precisava desenvolver um sentimento para que os adultos não se apegassem às crianças, pois poderiam morrer logo e isso evitaria que sofressem. Para resUmir O “sentimento de infância” não pressupunha que as crianças eram abandonadas, mas nada as diferenciava do adulto. Existia uma certa afeição por elas, mas nada que a particularizassem como indivíduo. Com relação às roupas que as crianças usavam na época, é muito curioso também que assim que deixavam as fraldas, já eram vestidas como adultos e inseridas na sociedade de acordo com a sua condição social. Isso afetou primeiramente as vestimentas dos meninos, que ganharam um traje especializado da infância, enquanto que as meninas continuaram a se vestir como as mulheres adultas por algum tempo. Children being cared of by a black nursemaid. (painting by Sir Joshua Reynolds) Fontes: http://sereduc.com/Zbrisq - http://sereduc.com/oB4Hgh Arièns salienta o atraso das mulheres em adotar essas formas visíveis da civilização moderna. As meninas continuaram a usar o traje de uma mulher adulta. ??? http://sereduc.com/Zbrisq http://sereduc.com/oB4Hgh 7 Para resUmir Por que o sentimento de infância está associado ao contexto social? Primeiro porque o índice de mortalidade diminuiu graças a algumas descobertas científicas que aumentaram e melhoraram a qualidade e o tempo de vida. Depois, existem pensamentos paradoxais. Ao mesmo tempo em que a criança é paparicada e considerada inocente e ingênua, ainda é considerada um ser incompleto e imperfeito. O interessante é que essa atitude dupla acontece ao mesmo tempo em que a família ganha um novo papel e significância na sociedade. A historiadora Kramer diz que o conceito de infância muda quando também a forma de organizar a sociedade também muda. Outras estudiosas, Pereira e Souza afirmam que o conceito de infância sofre influência de acordo com os aspectos culturais e históricos, mas isso você já deve ter percebido. Por isso, em cada época da história o discurso sobre a infância muda e mudam-se também as expectativas e isso acaba afetando o comportamento das crianças, porque a percepção da formação do sujeito também sofre alteração. Você já notou que as crianças passaram a ter uma agenda superlotada? São aulas de balé, de judô, reforço escolar; já percebeu a erotização das crianças vestindo-se como mocinhas? Muitos pais estão ausentes, e trocam a ausência por presentes; muitas crianças mandam nos pais é uma mudança radical no paradigma do conceito de infância. Com o afastamento dos pais e a presença de brinquedos eletrônicos como o celular, o ipod e outras gerigonças, já não existe o contato saudável e humano, o diálogo com os pais. Veja, então, como existe muita coisa para se pensar sobre a criança e a sociedade nos dias atuais. Assim, você pode perceber que é necessário pensar a criança como um sujeito influenciado pelo ambiente de mudanças. Desta forma, podemos identificar essas mudanças por 3 características: a forma como a sociedade se organiza; os meios como a criança é inserida no ambiente social e as relações de trabalho estabelecidas na sociedade que se modificam constantemente. veja o vídeo! Pai pedreiro ensina ao filho o seu ofício de pedreiro. Você concorda com isso? Clique aqui para assistir. HistÓria da criança Você e o resto do mundo inteiro já têm escutado histórias de crianças abandonadas em todo lugar. É uma realidade triste que tem sido vivenciada em muitos países. Já ouviu falar da tragédia grega, Édipo Rei? Conta a história de Laio, rei de Tebas e casado com Jocasta. Laio foi advertido pelo Oráculo de Delfos que não poderia ter nenhum filho, do contrário esse filho o mataria. A princípio, Laio não acreditou na história e teve um filho com Jocasta; depois, no entanto, arrependeu-se e abandonou a criança num monte chamado Citerão, com os tornozelos furados para que morresse. Bem, esse é só o início da história, mas outros relatos da Antiguidade têm se espalhado pelos séculos. https://www.youtube.com/watch?v=odY62WgrWD8 8 leitUra comPlementar Leia a história de Édipo Rei clicando aqui. Outra história bem conhecida e que você deve ter ouvido é a história de Moisés, narrativa contida nas Escrituras Sagradas. Na história, a mãe de Moisés tentou esconder o bebê Moisés, até que o Faraó decidiu matar todos os bebês do sexo masculino. Assim, para que o seu bebê não fosse morto pelos homens do Faraó, Joquebede, a mãe de Moisés, colocou o bebê dentro de um cestinho de vime e deixou-o às margens do rio Nilo. Segundo a Bíblia, a princesa do Egito encontrou o cestinho com o bebê e acabou chamando Joquebede, a mãe de Moisés, para ser a ama do bebê. Outro relato que você também deve ter escutado conta a história dos irmãos, Rômulo e Remo. De acordo com a lenda, os irmãos eram gêmeos, filhos do deus Ares com a mortal Reia Silvia. Reia era filha do rei Alba Longa, que sofreu um golpe de Estado do próprioirmão. Esse irmão, quando soube da existência das crianças tentou livrar-se dos bebês, jogando-os no rio Tibre. Porém, os bebês foram levados pela correnteza até a margem do rio. Uma loba encontrou os bebês e os amamentou até que fossem encontrados pelo pastor Fáustulo, que se tornou responsável pela criação das crianças. Veja que há muitas décadas essa questão de abandono de crianças já vem sido contada em histórias, na mitologia e outros relatos. Durante a Antiguidade, era o pai quem decidia se o filho viveria ou não. Algumas histórias contam que quando os filhos nasciam com deficiência eram sacrificados. Mas, além dessa justificativa, o infanticídio já se pratica por muitas outras razões. Talvez você já tenha ouvido histórias assim. Já os romanos resolviam facilmente a questão de filhos indesejados, abandonando-os ou até matando- os. Isso era tão frequente que, das janelas do palácio papal, Inocêncio III via horrorizado quando os pescadores puxavam as redes no rio Tibre e, entre os peixes, vinham cadáveres de criancinhas pequenas e de bebês afogados pelas próprias mães. Estarrecedor, não é? O papa ficou tão angustiado e assustado com aquela cena que pediu aos seus auxiliares que fossem à praia cedinho para verificar se alguma daquelas crianças ainda respirava para que ele pudesse benzê-la. Acreditava-se que se as crianças ou até bebês morressem sem serem batizadas, não entrariam no reino dos Céus. Dizem que foi por isso que o Papa Inocêncio III criou numa bula, o “limbo”, uma caverna escura que ficaria localizada entre o céu e o purgatório, onde esses pequenos inocentes que não havia sido batizado, mas inocentes, ficariam e não passariam pelo inferno e nem pelo purgatório. Essas histórias são estarrecedoras, não acha? Assim, você pode ver que o abandono e maus tratos conferidos às crianças já remonta de muitas décadas. Lembra que você leu trechos da obra de Ariès que contava que a mortalidade infantil era alta? A taxa chegava a 80% na época do Renascimento. Isso quer dizer que de 10 crianças nascidas, apenas duas sobreviviam. Triste realidade! Por causa disso, as expectativas eram as piores possíveis, tornando o planejamento familiar uma realidade cada vez mais longe. As mulheres eram apenas reprodutoras de bebês que, na grande maioria, não sobreviveriam às péssimas condições a que eram submetidos. Aqueles que sobrevivessem, provavelmente, seriam empregadas como mão de obra barata. O sentimento de infância que você já leu no início desta unidade, originou índices altos de abandono. https://filosofojr.wordpress.com/2008/09/30/o-mito-de-edipo-rei/ 9 A situação era realmente trágica para os bebês e as crianças pequenas. Para diminuir um pouco esse quadro terrível foi criada a roda dos expostos para receber os bebês rejeitados, seja por qual motivo fosse. Ali os bebês seriam colocados e depois, recolhidos para serem, supostamente, cuidados e alimentados. A roda dos expostos - Fonte: http://sereduc.com/RFTOo4 Você viu a figura? Medonha, não é? Essa roda dos expostos perdurou por séculos e, no Brasil, a última foi a da Santa Casa de São Paulo, extinta em 1951. Mulher deixando furtivamente um bebê na roda dos expostos Fonte: http://sereduc.com/ToEGzu Observe a figura. Essa roda dos expostos era como uma gaveta, com uma forma cilíndrica, com uma abertura dupla, para o lado de fora e outra para o lado de dentro. Essa roda ficava numa igreja ou numa instituição pública ou privada, que cuidasse de crianças. Geralmente, a criança era colocada à noite, quando não havia testemunhas, e assim, a mãe “livrava-se” do bebê indesejado. Depois que a pessoa colocava o bebê na gaveta, girava-a para dentro, tocava-se o sino e partia. Às vezes, o bebê era acompanhado de bilhetes com informações sobre o nome, batismo e algumas até com recomendações especiais. Veja como a situação era dolorosa para esses bebês, mas era algo aberto, às vistas da comunidade. Bilhete deixado junto ao bebe, na roda dos expostos. Fonte: http://sereduc.com/UczhNa http://sereduc.com/RFTOo4 http://sereduc.com/ToEGzu http://sereduc.com/UczhNa 10 Bem, a situação não podia continuar assim, não acha? Era muito abandono para essas crianças tão frágeis. Mas aí, chegaram as creches e muitas mães pobres e operárias podiam deixar seus filhos em um lugar em que fossem cuidadas enquanto trabalhavam. Assim, a roda dos expostos foi desaparecendo aos poucos; não foi de uma hora para outra, mas acabou sendo extinta pelos órgãos que possuíam uma nas suas dependências. leitUra comPlementar SILVA, Michelle Pereira da; CARVALHO, Carlos Henrique de.Infância e modernidade: redimensionando o ser criança. Clique aqui para acessar. Sabe quando essa situação começou a mudar? Quando o processo de modernidade começou a ser implantado. Ariès, nosso historiador francês, salienta que só nesse período é que a infância começou a sair do anonimato e tornou-se objeto de estudo de diversas áreas do saber. A modernidade queria mesmo era explicar, compreender e controlar toda a sociedade. Historicamente a modernidade começou no século XVII promovendo mudanças sociais e culturais dentro da sociedade. Mas só no século XVIII, com o Iluminismo e no ápice da Revolução Industrial. Você lembra as consequências do Iluminismo? Com a implantação do Capitalismo, o Absolutismo perde seu poder hegemônico, e também a igreja. Com isso, surge a burguesia..., mas isso é outra história. Palavras do Professor Caro (a) aluno (a), você estava lendo sobre a Antiguidade e o período Medieval. Agora entra em cena a Modernidade. Esse foi um período em que a razão tinha valor primordial. Isto é, a fé, o divino e os fenômenos sobrenaturais foram deixados para trás em prol da razão, do progresso e da moralidade. Aliás, um dos traços mais marcantes desse período de Modernidade é o desenvolvimento científico. Tal desenvolvimento foi a base para produzir conhecimentos acerca da realidade e do indivíduo. Os princípios religiosos que antes fundamentavam o saber foram deixados de lado em prol da razão. O que você acha que mudou na sociedade? Tudo! Os pensadores iluministas trabalharam bastante para instituir uma nova moralidade, uma lei universal e uma arte autônoma. Enquanto o Capitalismo predominava na Europa, o Iluminismo mudava os rumos da educação. A escola passou a ser um lugar para transmitir conhecimento científico e formar o cidadão. Por causa disso, era necessário um projeto escolar que preparasse as crianças para o mundo. John Locke, um dos estudiosos acerca da educação, afirmava que a criança era uma tábula rasa e a escola era responsável em preencher essa tábula com os conhecimentos que lhes preparassem para asa necessidades sociais da época. Assim, a criança passou a ser fruto da construção social. http://www.fucamp.edu.br/wp-content/uploads/2010/10/2-Inf%23U00c3%23U00a2ncia-e-modernidade-Michelle.pdf http://www.fucamp.edu.br/wp-content/uploads/2010/10/2-Inf%23U00c3%23U00a2ncia-e-modernidade-Michelle.pdf 11 Sabe o que significa essa expressão tábula rasa? A criança era vista como uma tábua onde se pudessem despejar os conhecimentos. Ela iniciava a vida do nada e a partir de nada. O grande desafio era preparar essa criança para que ela pudesse ficar “pronta” para aprender e para a escola. Ela era equipada com os conhecimentos, pronta para repetir. Assim, você pode ver que mesmo que o interesse pela criança seja um marco da modernidade, o verdadeiro interesse por trás disso tudo estava no próprio adulto. Em que adulto essa criança se tornaria? A criança seria privada de liberdade e desenvolvimento natural. Veja a diferença: enquanto que na Idade Média as crianças viviam coletivamente e, nesse convívio, elas adquiriam aos poucos os conteúdos da época; na Modernidade, as práticas e teorias se desenvolviam apenas para governar o sentimento de infância. Surge, então, a infância científica nos séculos XIX e XX, quando várias áreas do saber começam a desenvolver teorias sobre a infância. Assim, são divulgadas normasde higiene e cuidados com a saúde, há um investimento em relação à importância da amamentação, surgem as creches e os jardins da infância. Mas só para você lembrar, todos esses cuidados eram dirigidos às crianças da burguesia. E, ao mesmo tempo em que essas crianças recebiam tais cuidados, as crianças pobres eram abandonadas ou exploradas em fábricas. Mas o conceito sobre as necessidades das crianças, seu desenvolvimento e os cuidados necessários para com elas foi desenvolvido, tanto por parte das instituições, como por parte das famílias. A partir daí alguns saberes foram desenvolvidos, como a Psicologia do Desenvolvimento, que contribuía para a construção das imagens das crianças e também a construção e constituição de toda paisagem da infância. Além disso, institucionalizaram-se a infância e a escola pública; havia também um sentimento de proteção por parte dos familiares e a promoção da ideia da infância global, isto é, todas as crianças, independente do contexto, necessitam de cuidados especiais. HistÓria da criança brasileira Você só consegue entender a construção histórica da representação da infância no Brasil, se observar atentamente as várias categorias do referido conceito. Lembra que o Brasil fora colonizado logo depois do descobrimento? Naquela época os índios tinham suas próprias práticas culturais. Haviam várias línguas, costumes e formas de organização social que interferiam na entrada das crianças indígenas ao mundo adulto. Os meninos caçavam e pescavam com os pais e, algumas vezes, chegavam até a participar das guerras entre as tribos. As meninas faziam trabalho de menina, isto é, antes dos sete anos elas já começavam a fiar algodão, teciam redes, trabalhavam na roça, fabricavam farinha e cozinhavam. Quando os portugueses chegaram em 1.500 já trouxeram a cultura europeia e impuseram-na aos índios com a finalidade de usarem os índios como mão de obra e também para evangelização. Por causa dessa colonização, muitas crianças foram escravizadas e nem sempre estavam com os pais por perto. Mas, pior que isso, os indígenas vendiam seus próprios filhos entre os séculos XVI até há bem pouco, no início do século XX. Havia uma negociata. Índios e negros eram vendidos por um bom preço, mas depois, com a falta de comida, eles acabavam vendendo os filhos por um preço muito baixo. 12 A situação da criança antigamente não era fácil, não é? As caravelas que iam e vinham favoreciam o mercado dos índios. Selecionavam meninos de 9 a 16 anos (e até mais novo) para servirem como grumetes (limpavam o navio e ajudavam os marinheiros nas embarcações dos portugueses. Você acha que essas crianças tinham algum valor para os adultos? Parece que não. O valor desses pequenos indígenas estava relacionado apenas ao seu valor de mercado! Se elas ficassem em Portugal, o seu destino não seria diferente das crianças pobres e seriam levadas para o trabalho braçal nas lavouras. Lembra que você leu que a taxa de mortalidade infantil era altíssima? Essas crianças nas caravelas serviam para substituir aquelas que não sobreviviam. Para agravar mais a situação, essas crianças recebiam salários baixíssimos, eram maltratadas e também exploradas sexualmente. Começa o século XVIII e o problema das crianças escravizadas persiste. Mesmo preferindo-se os adultos, mais de 4% dos escravos eram crianças com menos de 10 anos de idade e desembarcavam no Rio de Janeiro, no porto de Volongo. Os mercenários e comerciantes que agiam no tráfico negreiro capturavam as crianças quando passavam por várias tribos africanas. Viajavam nos porões dos navios e quando desembarcavam, eram expostas no mercado para serem vendidas aos senhores de engenhos ou a quem tivesse poder aquisitivo suficiente para comprar. Mas esses fazendeiros também se interessavam pelas mulheres férteis, assim, garantiam que as crianças nascidas dentro das fazendas ficassem por lá. Às vezes as crianças eram arrancadas das mães a partir de 3 anos de idade e já eram exploradas nas atividades agrícolas. Você já leu o romance de Machado de Assis, intitulado Memórias Póstumas de Brás Cubas? Este romance reproduz o que as crianças faziam com os escravos na época. As crianças, filhas de famílias ricas, copiavam as atitudes de tirania dos pais com os escravos, adultos e crianças. Em um trecho do romance o narrador conta a história de Brás Cubas, um menino endiabrado, conforme conta o narrador. Um dia ele chegou a quebrar a cabeça de uma escrava porque ela não quis lhe dar uma colher de doce de coco que estava preparando. E, por pura birra, jogou um punhado de cinzas no tacho e correu para mãe para dizer que a escrava fora quem estragara o doce, de propósito. O escravo Prudêncio servia-lhe de cavalo, dando várias voltas, fustigando o escravo. Como você pode ver, a situação das crianças ricas e pobres era enorme. Enquanto as crianças pobres eram exploradas e maltratadas as crianças ricas eram protegidas de todo o trabalho braçal e a sociedade começa a valorizar o trabalho que exige mais esforço da capacidade intelectual. Mesmo depois da abolição dos escravos, as crianças continuam sendo exploradas até os dias de hoje. De vez em quando a mídia veicula informações dessa natureza. Palavras do Professor E o futuro dessas crianças, como ficava? Como a escola não fazia parte dos seus planos, muitas migravam para os espaços urbanos. Porém, isso não as livrava da exploração. No finalzinho do século XIX e início do século XX ainda se liam nos jornais de São Paulo anúncios buscando trabalhadores-mirins para tarefas delicadas com pagamento baixo. Vinham famílias em massa de várias partes, mas, especialmente da Itália com o sonho de “fazer a américa”. Mas quando chegavam no Brasil, com as péssimas condições de trabalho, viam-se obrigados a disponibilizarem os filhos também para o trabalho, a fim de aumentar a renda da família. 15% da mão de obra total era composta do trabalho de crianças e adolescentes. 13 Você deve ter se horrorizado com a situação da criança na Idade Média, não é? Mas, pense bem, as pessoas daquela época não tinham a consciência de infância. Mas, e agora no século XX? A consciência já existia, mas era deliberadamente ignorada em vários momentos da história. Para diminuir a delinquência, o Estado começou a criar estabelecimentos para ensinar trabalhos manuais e mecânicos, para onde essas crianças pobres eram enviadas. Mas essa divisão de classes sempre existiu no Brasil e essas ações serviam para mascarar a realidade que não existia acesso dessas crianças e adolescentes à sociedade. Assim, com as classes divididas, você mesmo pode ver que a pobreza definia o futuro dessas crianças, sem que houvesse qualquer perspectiva de mudança da condição social em que viviam. Moura escreveu um bom artigo em 2009 contando a história de um adolescente que morrera no local de trabalho. Chamava- se Arnaldo e enquanto esperava para entrar na fábrica, levou um choque tremendo e morrera. Acidentes eram comuns na época. Você sabe que muitos operários eram imigrantes no início do século XX. Em 1920 foi feito um recenseamento que indicou que 50% dos operários eram estrangeiros. E parte dos outros 50% eram filhos de imigrantes. Esse mesmo senso indicou que 7% da mão de obra secundária empregada era constituído por crianças e adolescentes. Os imigrantes que sonhavam em “fazer a América” foram obrigados a trabalhar em jornadas exaustivas, com péssimas condições de trabalho e quase nenhuma segurança. O ar era impregnado de partículas nocivas que acabavam com a saúde dos trabalhadores. Vários produtos passavam pelas mãos pequeninas daquelas crianças: comida, bebida, vidro, chapéus, charutos, tijolos, uma diversidade de mercadorias; sem que houvesse qualquer consideração para com as necessidades das crianças e adolescentes. E a situação era muito cruel para com essas crianças e adolescentes. Além dos diversos acidentes de trabalho, eles eram punidos severamente e sofriam maus tratos. E também havia as brincadeirasdentro das fábricas que quebravam um pouco a miséria a que estavam sujeitas. As crianças cresciam lá dentro, em meio a essas tragédias a que eram submetidos. Palavras finais Você viu aqui a triste realidade que as crianças têm enfrentado através dos séculos. Na Unidade II, você vai entrar em contato com a educação infantil que ainda engatinhava. Foi só em 1990, pouco tempo atrás, finalzinho do século passado, que o Brasil consegui dar um passo adiante contra a exploração de crianças. O Estatuto da Criança e do Adolescente foi criado nesse ano e estabeleceu direitos e impôs limites, a fim de direcionar a “pessoa em desenvolvimento”. Até lá! referências biblioGráficas MELLO, Vico Denis S. de; DONATO, Manuella Riane A. O Pensamento Iluminista e o Desencantamento do Mundo: modernidade e a Revolução Francesa como marco paradigmático. Revista Crítica Histórica, Ano II, nº 4, dezembro/2011
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