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Universidade Federal da Bahia Instituto de Ciências da Saúde Departamento de Biointeração Microbiologia Veterinária Raiva João Bernardo S. Moraes Histórico Deriva do latim rabies (loucura, insanidade) Por causa de sua natureza potencialmente violenta, a raiva é conhecida desde cerca de 2000 A.C. Sua prevalência era aterrorizante no século XIX; utilizavam-se ferros incandescentes diretamente nas feridas, na tentativa de cauterizá-las, destruindo o vírus. Não era incomum pessoas se sui- cidarem após serem mordidas por cães suspeitos de albergarem o vírus, ou serem mortas por outros. Gravura da Idade Média mostrando um cão raivoso. Histórico Louis Pasteur – 1885: Joseph Meister é brutalmente atacado por um cão raivoso após o mesmo ser provocado; ele se torna a primeira pessoa a ser inoculada por Pasteur com sucesso contra o vírus da raiva. Essa conquista cria uma base para a manufatura de muitas outras vacinas e leva à criação do primeiro Instituto Pasteur. Classificação Grupo: Grupo V (RNA de fita simples sentido negativo) Ordem: Mononegavirales Família: Rhabdoviridae Gênero: Lyssavirus Espécie: Rabies virus Vírions da raiva Morfologia Formato de projétil Proteínas codificadas: – Glicoproteína G adesão – RNA polimerase RNA-dependente (L) – Matricial (M) – Fosfoproteína (P) – Nucleoproteína (N) encapsidação viral Transmissão A transmissão já ocorre mesmo antes do animal infectado apresentar sintomas Transplante – relato de caso de raiva inter- humana após transplante de córnea Saliva do animal infectado – Mordidas, arranhões ou lambidas Intranasal – cavernas com populações significativas de morcegos Transmissão Vetores Canídeos – cães, raposas, lobos etc. Felídeos – gatos, gatos-do-mato etc. Morcegos Animais silvestres Animais de produção – bovinos, equinos, caprinos etc. Epidemiologia Zoonose – 50.000 mortes humanas anuais Mais comum na Ásia, América do Sul e África Oceania: livre da doença Reservatórios – Cães, gatos, morcegos, animais silvestres – Animais de produção Brasil – Região Nordeste tem o maior número de casos, seguido pela região Norte e Sudeste – Cão: principal transmissor (ciclo urbano) Epidemiologia Patogenia Entrada do vírus na corrente sanguínea após mordedura/lambedura/arranhão Vírus sofre replicação no músculo próximo ao local de entrada Infecta nervos do SNP e passa a se deslocar via transporte retrógrado (centrípeto) Vírus sofre replicação nos gânglios da raiz dorsal, e se desloca pela medula em direção ao encéfalo Infecção e encefalite O vírus então se desloca para outros tecidos, através das células nervosas, como olhos, rins e glândulas salivares www.bio.davidson.edu Ciclo 1. Adsorção viral (ligação da proteína G com receptores da célula hospedeira) 2. Penetração viral 3. Descapsidação viral 4. Transcrição viral (síntese dos RNA mensageiros a partir da transcrição do RNA sentido negativo em RNA sentido positivo utilizando a RNA replicase/RNA polimerase RNA- dependente) 5. Tradução viral (Síntese das 5 proteínas estruturais) 6. Processamento da proteína G (Glicosilação – a proteína G em si é sintetizada no retículo endoplasmático rugoso) 7. Replicação viral 8. Montagem dos vírions 9. Saída da célula por brotamento Patogenia Estágios da Doença – Incubação – Prodrômico – Neurológico – Coma – Morte Patogenia Estágios da Doença: Incubação – Humanos Tempo de incubação em humanos é variável; o mesmo depende do local de entrada do vírus. Há um relato de caso onde o período de incubação foi superior a 1 ano. Média (humanos): 13 a 90 dias – Animais Varia de acordo com a espécie. – Cães/gatos: 2 dias a 2 meses. – Bovinos: 30 a 90 dias. Patogenia Estágios da Doença: Prodrômico – Sinais leves da doença – Humanos Dura de 2 a 4 dias Sintomas: Dor de cabeça, sensação de mal- estar geral, náusea, mialgia – Animais Duração varia com a espécie. Cães/gatos: Duram em torno de 4 dias. Sintomas: Preferência por locais escuros, aumento de temperatura, comportamento anormal, anorexia, pupilas dilatadas Patogenia Estágios da Doença: Neurológico – Raiva furiosa Hiperagressividade, sialorreia, hidrofobia (espasmos da musculatura da deglutição ao ver ou tentar beber água), alucinações, inquietude, dilatação das pupilas É a forma mais comum em canídeos/felídeos. Patogenia Estágios da Doença: Neurológico – Raiva paralítica Forma mais comum em equinos, bovinos e suínos. Paralisia flácida, difusa, simétrica; a musculatura respiratória também é comprometida. Dificuldade para deglutir Coma e morte Diagnóstico Avaliação do comportamento – Manter o animal isolado e em observação por 10 dias. – Em caso de sobrevivência do animal (não apresentar sintoma nenhum), descartar a possibilidade de raiva. – Em caso de morte, deve-se fazer a análise post-mortem do animal. Diagnóstico Análise post-mortem do animal – Analisar o tecido encefálico – Imunofluorescência direta – PCR (Reação em cadeia da polimerase) – Localizar o corpúsculo de Negri (inclusão intracelular citoplasmática patognomônica para raiva) Diagnóstico Imunofluorescência – Detecta neurônios infectados e anticorpos anti- rábicos Tratamento Após o surgimento dos sintomas, a raiva é invariavelmente fatal – Caso de Jeanna Giese (2004) Protocolo de Milwaukee – Indução de coma com cetamina e midazolam para suprimir atividade cerebral – Administração de antivirais (ribavirin e amantadina) – Resposta do sistema imunológico: saída do coma em 6 dias. Tratamento Caso de Marciano Menezes (2008) – Pernambuco Mordido por um morcego enquanto dormia na casa de taipa Elaboração do Protocolo de Recife – Adaptado do Protocolo de Milwaukee de Rodney Willoughby Jr. Tratamento Tratamento Mesmo com o advento desses protocolos, a medida mais eficaz a ser tomada contra o vírus é a profilática. Vacinação Vacinas humanas – Inativadas (Fuenzalida & Palácios modificada) Inoculação intramuscular (deltoide); em crianças menores de 2 anos, pode ser administrada na região do vasto lateral da coxa. Região glútea: pode ocorrer falha no tratamento Vacinação Vacinas animais – Vacinas inativadas Administração subcutânea/intramuscular – Adjuvantes (maior tempo entre aplicação de reforços) – Vacinas atenuadas (modificadas) Instáveis (termoinstabilidade) Estão em desuso Profilaxia Lavar o local mordido com água e sabão em abundância. Procurar um posto de saúde Imunização – Passiva Soro antirrábico – Ativa Vacina de vírus inativados Administração subcutânea nos dias 0, 5, 7, 14, 30 e 90. Profilaxia Profilaxia pré-exposição – Utilizar 3 doses (dias 0, 7 e 28) – Fazer a titulação de anticorpos (>0,5 UI/mL) para confirmar soroconversão Prevenção / Controle Controle de vetores (animais silvestres, morcegos) Realizar contenção de cães e gatos de rua Vacinação dos animais – Reforço Vacinação pré-exposição em caso de trabalho que envolva risco de contração do vírus – Realizar titulação
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