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PDF Aula 01 Parte 02

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Direito Constitucional 
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula 
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários 
e na jurisprudência dos Tribunais. 
 
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Sumário 
1. Concepções das constituições (cont.) .................................................................... 2 
1.1 Concepção jurídica ou positivista (Hans Kelsen) (cont.) ................................... 2 
1.2 Concepção política (Carl Schmitt) ..................................................................... 5 
1.3 Concepção Sociológica (Ferdinand Lassalle) .................................................... 8 
1.4 Concepção normativa ou concretizadora ou concretista (Konrad Hesse) ....... 9 
1.5 Concepção histórico universal (Canotilho) ..................................................... 10 
1.6 Concepção axiológica (Dworkin) ..................................................................... 10 
 
 
 
Direito Constitucional 
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1. Concepções das constituições (cont.) 
 
1.1 Concepção jurídica ou positivista (Hans Kelsen) (cont.) 
A norma hipotética fundamental é uma norma destituída de conteúdo material 
próprio, é uma norma pressuposta, decorrente da lógica do direito e não uma norma 
positivada. 
Segundo a norma hipotética fundamental a Constituição deve ser cumprida. 
Imagine-se que a Constituição estabeleça que um determinado grupo étnico, uma 
determinada raça, por exemplo, é inferior e, por isso, pode ser exterminada ou deva ser 
exterminada. Em uma análise positivista, se a norma Constitucional determina isso não cabe 
ao intérprete valorar a norma, entendendo que a norma é absurda, injusta ou imoral, devendo 
ele apenas cumprir a norma. 
Essa aplicação da norma jurídica decorrente da norma hipotética fundamental a esses 
extremos e foi exatamente isso que ocorreu no contexto da segunda guerra mundial, quando 
alguns nazistas foram levados a julgamento no Tribunal de Nuremberg eles alegaram o 
cumprimento de ordens. Ordens são ordens e devem ser cumpridas, afinal foram emanadas 
de uma autoridade, que se fundamenta em uma norma, que se fundamenta em outra, que se 
fundamenta na Constituição. Se tudo está fundamentado, em termos positivistas, no direito, 
então tem que ser cumprido e não caberia a alegação de qualquer tipo de violação, por mais 
que os nazistas tivessem levado ao extermínio milhões de judeus, ciganos, negros, etc. 
Isso é uma situação paradoxal em relação ao pensamento de Kelsen, pois Kelsen é um 
juiz austríaco, de origem judaica que sai da Europa e vai para os EUA e ele vê parte do seu 
entendimento, do seu pensamento sendo utilizado como argumento de defesa dos próprios 
nazistas. 
Naquele momento a humanidade percebeu que se o direito posto, se o direito 
positivado não foi violado, alguma coisa fora do direito positivado foi violada. É nesse 
momento em que há uma reabertura para a aproximação ou reaproximação do direito com a 
moral. Essa reaproximação do direito com a moral é por muitos chamada de virada Kantiana 
do direito ou revolução Kantiana do direito ou viragem kantiana do Direito. Como o próprio 
nome já indica, seria uma busca pelas ideias de Kant, ou um retorno as ideias de Kant. 
Kant afirma que o Estado não é um fim em si mesmo, que o homem é um fim em si 
mesmo, logo o fim do Estado é o homem. O direito não é um fim em si mesmo, então o direito 
não se legitima em si mesmo, o fim do Direito é o homem. O fundamento último de validade 
do direito é o próprio homem. 
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O homem tanto deve ser compreendido como ponto de partida do Direito como ponto 
de chegada do Direito. 
Quando alguma coisa é ao mesmo tempo ponto de partida e ponto de chegada, 
traduzindo isso em uma expressão um pouco mais sofisticada, pode-se dizer que o homem é 
o fundamento teleológico do Direito (é o fundamento, no sentido de que é aquilo que dá a 
base, o ponto de partida; teleológico, a teleologia é o estudo dos fins, da finalidade; então, o 
homem é ao mesmo tempo o fundamento e o fim do direito, é o fundamento teleológico do 
direito). 
A melhor tradução jurídica ou principiológica desta ideia é o princípio da dignidade da 
pessoa humana. 
Um dos primeiros documentos jurídicos de relevância, produzidos após a 2ª Guerra 
Mundial, no tocante a esta temática, é a declaração universal dos direitos humanos (1948). O 
preambulo da Declaração universal dos direitos humanos usa a seguinte expressão: na 
dignidade inerente da todas as pessoas. 
PREÂMBULO 
Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente e dos direitos iguais e 
inalienáveis de todos os membros da família humana é o fundamento da liberdade, justiça 
e paz no mundo, 
Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos direitos humanos resultaram em atos 
bárbaros que ultrajaram a consciência da Humanidade e que o advento de um mundo no 
qual os seres humanos gozem de liberdade de expressão e de crença e da liberdade do 
medo e da miséria, foi proclamado como a mais alta aspiração do homem comum, 
Considerando que é essencial, para que o Homem não seja obrigado a recorrer, como 
último recurso, à rebelião contra a tirania e a opressão, que os direitos humanos sejam 
protegidos pelo estado de direito, 
Considerando que é essencial para promover o desenvolvimento de relações amistosas 
entre as nações, 
Considerando que os povos das Nações Unidas, na Carta, reafirmaram a sua fé nos direitos 
humanos fundamentais, na dignidade e no valor da pessoa humana e na igualdade de 
direitos entre homens e mulheres, e que decidiram promover o progresso social e melhores 
condições de vida em maior liberdade, 
Considerando que os Estados–Membros se comprometeram a promover, em cooperação 
com as Nações Unidas, a promoção do respeito universal e observância dos direitos 
humanos e liberdades fundamentais, 
Considerando que uma compreensão comum desses direitos e liberdades é da maior 
importância para o pleno cumprimento desse compromisso, 
Agora, portanto, 
A Assembleia Geral, 
Proclama a presente Declaração Universal dos Direitos do Homem como um ideal comum 
a atingir por todos os povos e todas as nações, a fim de que todos os indivíduos e todos os 
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órgãos da sociedade, tendo–a constantemente no espírito, se esforcem, pelo ensino e pela 
educação, por desenvolver o respeito desses direitos e liberdades e por promover, por 
medidas progressivas de ordem nacional e internacional, o seu reconhecimento e a sua 
aplicação universais e efectivas tanto entre as populações dos próprios Estados–membros 
como entre os povos dos territórios colocados sob a sua jurisdição. 
Já se encontra a dignidade como um valor fonte que fundamenta toda a declaração 
universal dos direitos humanos. 
Outra forma de expressar isso é dizer que a dignidade da pessoa humana é o epicentro 
do direito, ouo centro gravitacional do direito. O direito gira, gravita em torno de um centro 
gravitacional que é o ser humano e a tradução jurídica disso é a dignidade da pessoa humana. 
Daí surgir diversas teses de pós positivismo e um neoconstitucionalismo está inserido dentro 
desse debate, onde se tem uma abertura do Direito, sobretudo do direito constitucional e da 
Constituição para os influxos da moralidade crítica. 
Entenda-se moralidade crítica aqui no sentido de moralidade definida racionalmente, 
não é uma moralidade religiosa ou uma moralidade de um grupo particular, é uma moralidade 
definida racionalmente, uma moralidade crítica. 
Essa virada Kantiana e o desdobramento disso, que é o neoconstitucionalismo, leva a 
uma outra passagem, a uma outra virada: Há o fenômeno constituição como conhecido, ou 
seja, como um documento jurídico. O fenômeno constituição surge no constitucionalismo 
moderno, que se dá com a Revolução Francesa, com a independência americana. 
A primeira Constituição moderna é a Constituição Americana (1787), no final do século 
XVIII. Apesar de o fenômeno constituição já existir, a partir de já se estar, a partir do século 
XVIII, falando de um constitucionalismo moderno, com uma constituição que limita o poder 
político, apesar disso, a constituição, de forma geral, não era considerada a principal norma 
ou o principal conjunto de normas do direito, na prática era a lei ou as leis, especialmente o 
Código Civil. Tanto é que no século XIX boa parte do debate sobre a teoria do direito é feita 
por civilistas, não à toa, no Brasil, a Lei de introdução era chamada de Lei de Introdução ao 
Código Civil, como ela nunca foi uma ei de introdução ao código civil, pois na verdade era uma 
lei de introdução às normas do direito brasileiro, como hoje é o nome. 
 Porque Lei de Introdução ao Código Civil? Porque Código Civil? 
Porque na prática o Código Civil era o centro da regulação da vida em sociedade. Tudo 
emanava a partir do Código Civil. A Constituição ficava mais no plano político, ideológico, mas 
não tanto no plano efetivo. 
Isso significa dizer que com essa virada kantiana e com a formação do 
neoconstitucionalismo, a constituição passa a ser efetivamente o centro da ordem normativa, 
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se passa a enxergar todo o direito pela perspectiva constitucional. Gerando o fenômeno da 
constitucionalização do direito. 
Paulo Bonavides traduz isso de uma forma lapidar: ontem o Código Civil, hoje a 
Constituição. 
Em outras palavras, essa virada representa uma passagem do estado legislativo do 
direito para o Estado constitucional de Direito. Deixa de ser o Estado legal e passa a ser o 
Estado constitucional. 
Na língua portuguesa usa-se a expressão o Estado de Direito, quando vai para o Direito 
comparado, existem expressões que quando se traduz é traduzido como “estado de direito”, 
mas a literalidade não é estado de direito. 
Exemplo: A expressão rule of law não é traduzida literalmente (império da lei) é 
traduzida para o português dentro do que conceitualmente significa, que é Estado de Direito. 
No direito francês se fala état legal, que é o Estado legal, o Estado de Lei. A grande norma, a 
grande evolução do direito francês é o Código Civil, não é tanto a Constituição. A Constituição 
Francesa era mais uma norma política, ideológica, mas sem grandes efetividades, sem grandes 
consequências práticas. Daí aqui a expressão Estado de direito, lá literalmente seria Estado de 
lei ou Estado legal. 
Tudo isso é decorrência de uma concepção que hoje se considera ultrapassada e que 
o centro do Estado de Direito seriam as leis, não mais, o centro do Estado é primeiro a 
Constituição, depois as leis. 
Paulo Bonavides falando da mesma coisa de outra maneira fala que antes do princípio 
central do Estado de Direito era o princípio da legalidade, ou seja, todas as coisas deviam ser 
legais ou emanadas da lei, compatibilidade da lei, princípio da legalidade. Hoje não é mais o 
princípio da legalidade o centro é o princípio da constitucionalidade, as coisas devem ser 
constitucionais, inclusive a própria lei. 
 
1.2 Concepção política (Carl Schmitt) 
Diz que a Constituição é um conjunto de decisões políticas fundamentais. Nesta linha 
ele diferencia a Constituição - como conjunto de decisões políticas fundamentais -, do texto 
constitucional 
De um lado tem-se a lei constitucional (que é o texto) chamada de constituição formal. 
E do outro lado tem-se a constituição material, que é o conjunto das decisões políticas 
fundamentais e se traduzem em três grandes temas: a organização do Estado, a organização 
dos poderes e os direitos fundamentais. São aquelas normas que tratam dos temas essenciais 
do Estado. 
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A organização do Estado, ou seja, como o Estado se organiza, quais são seus órgãos, 
qual a sua estrutura, seu funcionamento. A organização dos poderes que é a estrutura, o 
funcionamento dos poderes, as suas atribuições. 
 
Nesta linha de raciocínio fica fácil perceber que eventualmente pode-se ter uma norma 
inserida no texto constitucional que não é uma decisão política fundamental, não é norma 
essencialmente constitucional, não é norma materialmente constitucional, ou seja, a 
contrário sensu, é uma norma formalmente constitucional apenas, porque está na 
Constituição formal. 
Por outro lado temos normas que estão no texto e que são decisões políticas 
fundamentais e admite a possibilidade de normas que estão fora do Texto. Normas que são 
materialmente constitucionais, que, portanto, apresentam decisões políticas fundamentais 
mas que eventualmente não estão inseridas no texto formal. 
Exemplo: o art. 1º da CRFB diz que: 
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e 
Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem 
como fundamentos: 
I - a soberania; 
II - a cidadania 
III - a dignidade da pessoa humana; 
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; 
V - o pluralismo político. 
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes 
eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição. 
Concepção política (Carl Schmitt): conjunto de decisões políticas 
fundamentais. 
Lei const. 
(texto) 
Const. Formal 
Const. 
material 
Org. do Est. 
Org. dos Poderes 
Dir. Fundam. 
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O art. 1º é norma formalmente constitucional. É norma materialmente constitucional 
também, diz que o Brasil é uma república, uma federação, fala quais são os componentes 
dessa federação, quais os entes dessa federação, determina o regime político, diz quais os 
fundamentos da república, são normas materialmente constitucionais. 
O exemplo de uma norma puramente textual, formalmente constitucional é do colégio 
Pedro II o art. 242, §2º, diz que o Colégio Pedro II situado no Rio de Janeiro é colégio federalsituado no Rio de Janeiro não é uma decisão política fundamental. Por algum motivo histórico 
a Assembleia Constituinte considerou relevante colocar isso na Constituição, por conta do 
valor histórico do Colégio, mas se for pensar em termos materiais, não é uma norma 
materialmente constitucional. 
Art. 242. O princípio do art. 206, IV, não se aplica às instituições educacionais oficiais 
criadas por lei estadual ou municipal e existentes na data da promulgação desta 
Constituição, que não sejam total ou preponderantemente mantidas com recursos 
públicos. 
§ 1º - O ensino da História do Brasil levará em conta as contribuições das diferentes 
culturas e etnias para a formação do povo brasileiro. 
§ 2º - O Colégio Pedro II, localizado na cidade do Rio de Janeiro, será mantido na órbita 
federal. 
 E há normas materialmente constitucionais fora do texto constitucional na 
realidade brasileira? 
Quando se estudar o controle de constitucionalidade se verificará que ele sempre tem 
dois elementos: o parâmetro e o objeto. 
O objeto é a norma impugnada. 
Exemplo: alega que a lei X viola o princípio da igualdade. A lei X é o objeto. É o objeto 
de análise em que vai incidir o controle. 
O princípio da igualdade, no exemplo, é o parâmetro, é a norma que serve de 
referência, de parâmetro, de paradigma para fazer o controle. Quando entrar neste tema, nos 
elementos do controle (parâmetro e objeto), especialmente no que diz respeito ao parâmetro 
é preciso fazer uma longa analise do que é o parâmetro de controle no Brasil. Se o parâmetro 
é só o texto constitucional ou se há fora do texto constitucional normas que também sirvam 
de parâmetro. Se deixará para fazer uma análise mais detalhada na aula de controle de 
constitucionalidade. 
 Se se fala que a concepção jurídica é uma concepção formal, essa concepção 
política de Carl Smith é uma concepção formal ou material? 
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É uma concepção material de constituição, porque ela não se preocupa apenas com a 
forma da Constituição, mas com o seu conteúdo, porque se preocupa com as decisões 
políticas fundamentais. É um tipo de constituição material. 
 
1.3 Concepção Sociológica (Ferdinand Lassalle) 
Pode-se encontrar, ainda, a expressão “Sociologismo constitucional”. 
A essência da constituição é a soma dos fatores reais de poder. Quando se fala na soma 
dos fatores reais de poder, se está pensando no poder político como ele realmente é, como o 
poder político de fato está organizado, como se manifesta, como ele influencia a sociedade, 
quais são as forças que comandam a sociedade. É uma análise sociológica. Esta concepção não 
está preocupada com o “dever ser” está preocupada com o “ser”. 
A Constituição não estabelece um “dever ser”, a Constituição deve tratar o tema “X” 
ou deve tratar do tema “Y”, essa concepção entende que a Constituição, na verdade, descreve 
a realidade como ela é. A realidade política, a manifestação das forças que comandam a 
sociedade de fato. 
Nessa linha de raciocínio a constituição escrita deve ser a institucionalização desses 
fatores reais de poder. A Constituição deve descrever esses fatores, essas forças que 
comandam o processo político, as forças que comandam a sociedade, descrevê-las em seu 
texto. Se a constituição escrita não descreve simplesmente os fatores reais de poder, indo 
além, estabelecendo um dever ser, a Constituição escrita é mera folha de papel. Ela apenas 
deveria descrever a realidade, as forças que comandam a realidade, que comandam o 
processo político, que comandam a sociedade. 
 
Concepção Sociológica (Ferdinand Lassale): 
Essência da 
Constituição 
Soma dos 
fatores reais 
de poder 
Const. 
Escrita 
Institucionalização 
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Concepção jurídica versus a sociológica: na primeira a constituição se resume a norma, 
a Constituição é norma e na segunda a constituição se resume no fato. 
Estas três primeiras concepções são citadas pela grande maioria dos autores. Veja-se 
agora as concepções menos citadas. 
 
1.4 Concepção normativa ou concretizadora ou concretista (Konrad Hesse) 
Essa concepção entende que a Constituição é uma norma, porém a Constituição não 
pode ser entendida apenas como norma. A constituição também deve ser compreendida 
como fato. Mas a constituição não é só fato, ela é norma. Essa concepção entende que a 
constituição deve partir de uma ideia de comunicação entre norma, o fato e fato e norma. 
Norma → comunicação ← fato 
A norma não pode ser compreendida sem os fatos, mas os fatos não podem ser 
compreendidos sem a norma. 
Exemplo: pensando na igualdade e partir da ideia de que homens e mulheres são 
iguais. Se homens e mulheres são iguais, o pensamento disso, de forma abstrata, só como 
uma norma, poderia levar a um tratamento igualitário entre homens e mulheres. Porém, na 
realidade há diferenças fisiológicas entre homens e mulheres que repercutem na convivência 
social, por exemplo, nas relações de trabalho, uma mulher pode engravidar e ter filhos e isso 
traz repercussões práticas nas relações de trabalho. Então, o Direito estabelece um 
tratamento diferenciado em relação as mulheres no mercado de trabalho. 
Isso é fazer uma compreensão de que a igualdade não pode ser analisada como uma 
norma em abstrato, uma norma em si mesma. Essas normas devem ser analisadas dentro dos 
fatos, dentro da realidade. O interprete deve partir da norma para o fato e do fato para a 
norma. O que remete a ideia de círculo hermenêutico. 
A ideia de círculo hermenêutico, na filosofia, pode ser traduzida da seguinte maneira: 
o todo não se compreende sem as partes e nem as partes se compreendem sem o todo. Para 
entender o todo, deve entender as suas partes. Para entender as partes, deve entender o 
todo. 
Trazendo isso para a ideia, norma não se compreende sem os fatos e nem os fatos sem 
a norma. 
Essa concepção deve ser sintetizada da seguinte forma: a constituição é um sistema 
aberto de regras e princípios que apresenta a ordenação da sociedade e do poder. 
Sistema aberto: entenda-se essa abertura exatamente como uma abertura para os 
fatos ou para a realidade. 
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1.5 Concepção histórico universal (Canotilho) 
A Constituição é a peculiar forma de organização de um grupo social. 
Se a Constituição é uma forma de organização do grupo social, todo tipo de grupo 
social, por mais primitivo que seja, sempre tem um mínimo de organização em que se 
estabelece regras de convivência e regras do exercício do poder, ainda que essas regras de 
exercício do poder sejam orais e baseadas, por exemplo, na força, ou seja, a liderança é do 
membro mais forte da tribo ou é do líder religioso da tribo, por mais que isto seja oral, por 
mais que seja uma formulação de organização muito básica, ainda assim é uma forma de 
organização. 
É por isto que o nome dessa concepção é histórico universal,porque em todos os 
lugares, em todas as épocas, sempre houve uma constituição, aqui não se está pensando na 
constituição como se conhece, ou seja, como documento jurídico, aqui se está pensando em 
uma constituição não necessariamente escrita, pode ser uma Constituição decorrente de 
tradições orais ou costumes e por mais simplória que seja essa forma de organização. 
 
1.6 Concepção axiológica (Dworkin) 
Essa concepção axiológica entende que a Constituição é um sistema objetivo de 
valores. Valores esses que são de conteúdo moral, ou seja, valores morais. Esses valores 
morais devem ser compreendidos de forma objetiva e não subjetiva, não são os valores da 
moral do interprete e sim os valores morais objetivamente consagrados previstos na 
constituição através dos princípios e dos direitos fundamentais. 
Norma Comunicação 
Concepção Concretizadora (Konrad Hesse) 
Fato 
Círculo hermenêutico 
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Poderia falar só princípios, mas acrescente-se direitos fundamentais porque a primeira 
coisa que se vem em mente é que são direitos subjetivos (direito subjetivo é o poder jurídico 
de exigir algo de alguém), ou seja, direito titularizados por uma pessoa que tem o direito de 
exigir algo de alguém. Exigir algo de alguém pode ser uma prestação negativa (obrigação de 
não fazer, por exemplo, pelo direito de propriedade pode exigir que a coletividade não invada 
a propriedade) ou de fazer (pelo direito à saúde pode exigir do Estado um tratamento médico). 
Não está errado pensar o direito fundamental dentro desta perspectiva subjetiva. 
Porém os direitos fundamentais não têm só essa perspectiva subjetiva ou essa dimensão 
subjetiva, ele tem também uma perspectiva ou uma dimensão objetiva. A partir da 
perspectiva objetiva os direitos fundamentais são considerados valores e, portanto, 
apresentam um conteúdo axiológico, valorativo ou apresentam natureza principiológica. Pode 
se entender que os direitos fundamentais são não só direitos subjetivos, titularizados por 
indivíduos, mas pode entender também que esses direitos fundamentais são valores, como 
verdadeiros princípios. 
Daí se falar em uma carga axiológica dos direitos fundamentais ou em uma carga 
principiológica dos direitos fundamentais. Isso é parte do que se chama dimensão objetiva 
dos direitos fundamentais. 
Aqui trata-se direitos fundamentais como verdadeiros valores, como verdadeiros 
princípios, pela dimensão objetiva que esses direitos fundamentais apresentam. Exemplo: 
igualdade é um direito fundamental e também um princípio (valor). 
O indivíduo, titular do direito fundamental à igualdade tem esse direito subjetivo, por 
isso que se esse indivíduo for tratado de forma discriminatória pode exigir uma prestação 
judicial para garantir e proteger a sua igualdade. 
Mas não existe apenas a dimensão subjetiva da igualdade, existe também a dimensão 
objetiva, a igualdade é um valor, é um princípio e como princípio tem uma função 
hermenêutica, ou seja, uma função de servir como parâmetro para a interpretação das outras 
normas. 
Dizer isso significa dizer que a Constituição como um sistema objetivo de valores, 
valores esses manifestados através dos princípios, essa constituição ou esses valores servem 
de norte ou de parâmetro hermenêutico, daí Dworkin falar que deve ser realizada uma 
“Leitura moral da constituição”. 
Uma consequência prática disso é o seguinte: o intérprete, sobretudo o juiz como 
intérprete último da constituição, deve procurar resolver os problemas concretos a partir dos 
princípios, sobretudo aqueles casos mais difíceis, os chamados hard cases. 
Hard cases são os casos complexos, os casos difíceis. 
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O intérprete deve, ao analisar um problema, buscar nos princípios a fundamentação 
para a solução daquele problema. Fazer esta operação intelectual de analisar o caso e buscar 
nos princípios, nos valores a solução do problema, demanda um pensar filosófico, daí Dworkin 
dizer que os juízes devem ser “filósofos”, ou seja, pensar filosoficamente, buscando no 
princípios e valores a solução para os problemas, sobretudo nos problemas mais complicados, 
nos hard cases.

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