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Direito Constitucional O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 1 www.cursoenfase.com.br Sumário 1. Concepções das constituições (cont.) .................................................................... 2 1.1 Concepção jurídica ou positivista (Hans Kelsen) (cont.) ................................... 2 1.2 Concepção política (Carl Schmitt) ..................................................................... 5 1.3 Concepção Sociológica (Ferdinand Lassalle) .................................................... 8 1.4 Concepção normativa ou concretizadora ou concretista (Konrad Hesse) ....... 9 1.5 Concepção histórico universal (Canotilho) ..................................................... 10 1.6 Concepção axiológica (Dworkin) ..................................................................... 10 Direito Constitucional O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 2 www.cursoenfase.com.br 1. Concepções das constituições (cont.) 1.1 Concepção jurídica ou positivista (Hans Kelsen) (cont.) A norma hipotética fundamental é uma norma destituída de conteúdo material próprio, é uma norma pressuposta, decorrente da lógica do direito e não uma norma positivada. Segundo a norma hipotética fundamental a Constituição deve ser cumprida. Imagine-se que a Constituição estabeleça que um determinado grupo étnico, uma determinada raça, por exemplo, é inferior e, por isso, pode ser exterminada ou deva ser exterminada. Em uma análise positivista, se a norma Constitucional determina isso não cabe ao intérprete valorar a norma, entendendo que a norma é absurda, injusta ou imoral, devendo ele apenas cumprir a norma. Essa aplicação da norma jurídica decorrente da norma hipotética fundamental a esses extremos e foi exatamente isso que ocorreu no contexto da segunda guerra mundial, quando alguns nazistas foram levados a julgamento no Tribunal de Nuremberg eles alegaram o cumprimento de ordens. Ordens são ordens e devem ser cumpridas, afinal foram emanadas de uma autoridade, que se fundamenta em uma norma, que se fundamenta em outra, que se fundamenta na Constituição. Se tudo está fundamentado, em termos positivistas, no direito, então tem que ser cumprido e não caberia a alegação de qualquer tipo de violação, por mais que os nazistas tivessem levado ao extermínio milhões de judeus, ciganos, negros, etc. Isso é uma situação paradoxal em relação ao pensamento de Kelsen, pois Kelsen é um juiz austríaco, de origem judaica que sai da Europa e vai para os EUA e ele vê parte do seu entendimento, do seu pensamento sendo utilizado como argumento de defesa dos próprios nazistas. Naquele momento a humanidade percebeu que se o direito posto, se o direito positivado não foi violado, alguma coisa fora do direito positivado foi violada. É nesse momento em que há uma reabertura para a aproximação ou reaproximação do direito com a moral. Essa reaproximação do direito com a moral é por muitos chamada de virada Kantiana do direito ou revolução Kantiana do direito ou viragem kantiana do Direito. Como o próprio nome já indica, seria uma busca pelas ideias de Kant, ou um retorno as ideias de Kant. Kant afirma que o Estado não é um fim em si mesmo, que o homem é um fim em si mesmo, logo o fim do Estado é o homem. O direito não é um fim em si mesmo, então o direito não se legitima em si mesmo, o fim do Direito é o homem. O fundamento último de validade do direito é o próprio homem. Direito Constitucional O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 3 www.cursoenfase.com.br O homem tanto deve ser compreendido como ponto de partida do Direito como ponto de chegada do Direito. Quando alguma coisa é ao mesmo tempo ponto de partida e ponto de chegada, traduzindo isso em uma expressão um pouco mais sofisticada, pode-se dizer que o homem é o fundamento teleológico do Direito (é o fundamento, no sentido de que é aquilo que dá a base, o ponto de partida; teleológico, a teleologia é o estudo dos fins, da finalidade; então, o homem é ao mesmo tempo o fundamento e o fim do direito, é o fundamento teleológico do direito). A melhor tradução jurídica ou principiológica desta ideia é o princípio da dignidade da pessoa humana. Um dos primeiros documentos jurídicos de relevância, produzidos após a 2ª Guerra Mundial, no tocante a esta temática, é a declaração universal dos direitos humanos (1948). O preambulo da Declaração universal dos direitos humanos usa a seguinte expressão: na dignidade inerente da todas as pessoas. PREÂMBULO Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente e dos direitos iguais e inalienáveis de todos os membros da família humana é o fundamento da liberdade, justiça e paz no mundo, Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos direitos humanos resultaram em atos bárbaros que ultrajaram a consciência da Humanidade e que o advento de um mundo no qual os seres humanos gozem de liberdade de expressão e de crença e da liberdade do medo e da miséria, foi proclamado como a mais alta aspiração do homem comum, Considerando que é essencial, para que o Homem não seja obrigado a recorrer, como último recurso, à rebelião contra a tirania e a opressão, que os direitos humanos sejam protegidos pelo estado de direito, Considerando que é essencial para promover o desenvolvimento de relações amistosas entre as nações, Considerando que os povos das Nações Unidas, na Carta, reafirmaram a sua fé nos direitos humanos fundamentais, na dignidade e no valor da pessoa humana e na igualdade de direitos entre homens e mulheres, e que decidiram promover o progresso social e melhores condições de vida em maior liberdade, Considerando que os Estados–Membros se comprometeram a promover, em cooperação com as Nações Unidas, a promoção do respeito universal e observância dos direitos humanos e liberdades fundamentais, Considerando que uma compreensão comum desses direitos e liberdades é da maior importância para o pleno cumprimento desse compromisso, Agora, portanto, A Assembleia Geral, Proclama a presente Declaração Universal dos Direitos do Homem como um ideal comum a atingir por todos os povos e todas as nações, a fim de que todos os indivíduos e todos os Direito Constitucional O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 4 www.cursoenfase.com.br órgãos da sociedade, tendo–a constantemente no espírito, se esforcem, pelo ensino e pela educação, por desenvolver o respeito desses direitos e liberdades e por promover, por medidas progressivas de ordem nacional e internacional, o seu reconhecimento e a sua aplicação universais e efectivas tanto entre as populações dos próprios Estados–membros como entre os povos dos territórios colocados sob a sua jurisdição. Já se encontra a dignidade como um valor fonte que fundamenta toda a declaração universal dos direitos humanos. Outra forma de expressar isso é dizer que a dignidade da pessoa humana é o epicentro do direito, ouo centro gravitacional do direito. O direito gira, gravita em torno de um centro gravitacional que é o ser humano e a tradução jurídica disso é a dignidade da pessoa humana. Daí surgir diversas teses de pós positivismo e um neoconstitucionalismo está inserido dentro desse debate, onde se tem uma abertura do Direito, sobretudo do direito constitucional e da Constituição para os influxos da moralidade crítica. Entenda-se moralidade crítica aqui no sentido de moralidade definida racionalmente, não é uma moralidade religiosa ou uma moralidade de um grupo particular, é uma moralidade definida racionalmente, uma moralidade crítica. Essa virada Kantiana e o desdobramento disso, que é o neoconstitucionalismo, leva a uma outra passagem, a uma outra virada: Há o fenômeno constituição como conhecido, ou seja, como um documento jurídico. O fenômeno constituição surge no constitucionalismo moderno, que se dá com a Revolução Francesa, com a independência americana. A primeira Constituição moderna é a Constituição Americana (1787), no final do século XVIII. Apesar de o fenômeno constituição já existir, a partir de já se estar, a partir do século XVIII, falando de um constitucionalismo moderno, com uma constituição que limita o poder político, apesar disso, a constituição, de forma geral, não era considerada a principal norma ou o principal conjunto de normas do direito, na prática era a lei ou as leis, especialmente o Código Civil. Tanto é que no século XIX boa parte do debate sobre a teoria do direito é feita por civilistas, não à toa, no Brasil, a Lei de introdução era chamada de Lei de Introdução ao Código Civil, como ela nunca foi uma ei de introdução ao código civil, pois na verdade era uma lei de introdução às normas do direito brasileiro, como hoje é o nome. Porque Lei de Introdução ao Código Civil? Porque Código Civil? Porque na prática o Código Civil era o centro da regulação da vida em sociedade. Tudo emanava a partir do Código Civil. A Constituição ficava mais no plano político, ideológico, mas não tanto no plano efetivo. Isso significa dizer que com essa virada kantiana e com a formação do neoconstitucionalismo, a constituição passa a ser efetivamente o centro da ordem normativa, Direito Constitucional O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 5 www.cursoenfase.com.br se passa a enxergar todo o direito pela perspectiva constitucional. Gerando o fenômeno da constitucionalização do direito. Paulo Bonavides traduz isso de uma forma lapidar: ontem o Código Civil, hoje a Constituição. Em outras palavras, essa virada representa uma passagem do estado legislativo do direito para o Estado constitucional de Direito. Deixa de ser o Estado legal e passa a ser o Estado constitucional. Na língua portuguesa usa-se a expressão o Estado de Direito, quando vai para o Direito comparado, existem expressões que quando se traduz é traduzido como “estado de direito”, mas a literalidade não é estado de direito. Exemplo: A expressão rule of law não é traduzida literalmente (império da lei) é traduzida para o português dentro do que conceitualmente significa, que é Estado de Direito. No direito francês se fala état legal, que é o Estado legal, o Estado de Lei. A grande norma, a grande evolução do direito francês é o Código Civil, não é tanto a Constituição. A Constituição Francesa era mais uma norma política, ideológica, mas sem grandes efetividades, sem grandes consequências práticas. Daí aqui a expressão Estado de direito, lá literalmente seria Estado de lei ou Estado legal. Tudo isso é decorrência de uma concepção que hoje se considera ultrapassada e que o centro do Estado de Direito seriam as leis, não mais, o centro do Estado é primeiro a Constituição, depois as leis. Paulo Bonavides falando da mesma coisa de outra maneira fala que antes do princípio central do Estado de Direito era o princípio da legalidade, ou seja, todas as coisas deviam ser legais ou emanadas da lei, compatibilidade da lei, princípio da legalidade. Hoje não é mais o princípio da legalidade o centro é o princípio da constitucionalidade, as coisas devem ser constitucionais, inclusive a própria lei. 1.2 Concepção política (Carl Schmitt) Diz que a Constituição é um conjunto de decisões políticas fundamentais. Nesta linha ele diferencia a Constituição - como conjunto de decisões políticas fundamentais -, do texto constitucional De um lado tem-se a lei constitucional (que é o texto) chamada de constituição formal. E do outro lado tem-se a constituição material, que é o conjunto das decisões políticas fundamentais e se traduzem em três grandes temas: a organização do Estado, a organização dos poderes e os direitos fundamentais. São aquelas normas que tratam dos temas essenciais do Estado. Direito Constitucional O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 6 www.cursoenfase.com.br A organização do Estado, ou seja, como o Estado se organiza, quais são seus órgãos, qual a sua estrutura, seu funcionamento. A organização dos poderes que é a estrutura, o funcionamento dos poderes, as suas atribuições. Nesta linha de raciocínio fica fácil perceber que eventualmente pode-se ter uma norma inserida no texto constitucional que não é uma decisão política fundamental, não é norma essencialmente constitucional, não é norma materialmente constitucional, ou seja, a contrário sensu, é uma norma formalmente constitucional apenas, porque está na Constituição formal. Por outro lado temos normas que estão no texto e que são decisões políticas fundamentais e admite a possibilidade de normas que estão fora do Texto. Normas que são materialmente constitucionais, que, portanto, apresentam decisões políticas fundamentais mas que eventualmente não estão inseridas no texto formal. Exemplo: o art. 1º da CRFB diz que: Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: I - a soberania; II - a cidadania III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V - o pluralismo político. Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição. Concepção política (Carl Schmitt): conjunto de decisões políticas fundamentais. Lei const. (texto) Const. Formal Const. material Org. do Est. Org. dos Poderes Dir. Fundam. Direito Constitucional O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 7 www.cursoenfase.com.br O art. 1º é norma formalmente constitucional. É norma materialmente constitucional também, diz que o Brasil é uma república, uma federação, fala quais são os componentes dessa federação, quais os entes dessa federação, determina o regime político, diz quais os fundamentos da república, são normas materialmente constitucionais. O exemplo de uma norma puramente textual, formalmente constitucional é do colégio Pedro II o art. 242, §2º, diz que o Colégio Pedro II situado no Rio de Janeiro é colégio federalsituado no Rio de Janeiro não é uma decisão política fundamental. Por algum motivo histórico a Assembleia Constituinte considerou relevante colocar isso na Constituição, por conta do valor histórico do Colégio, mas se for pensar em termos materiais, não é uma norma materialmente constitucional. Art. 242. O princípio do art. 206, IV, não se aplica às instituições educacionais oficiais criadas por lei estadual ou municipal e existentes na data da promulgação desta Constituição, que não sejam total ou preponderantemente mantidas com recursos públicos. § 1º - O ensino da História do Brasil levará em conta as contribuições das diferentes culturas e etnias para a formação do povo brasileiro. § 2º - O Colégio Pedro II, localizado na cidade do Rio de Janeiro, será mantido na órbita federal. E há normas materialmente constitucionais fora do texto constitucional na realidade brasileira? Quando se estudar o controle de constitucionalidade se verificará que ele sempre tem dois elementos: o parâmetro e o objeto. O objeto é a norma impugnada. Exemplo: alega que a lei X viola o princípio da igualdade. A lei X é o objeto. É o objeto de análise em que vai incidir o controle. O princípio da igualdade, no exemplo, é o parâmetro, é a norma que serve de referência, de parâmetro, de paradigma para fazer o controle. Quando entrar neste tema, nos elementos do controle (parâmetro e objeto), especialmente no que diz respeito ao parâmetro é preciso fazer uma longa analise do que é o parâmetro de controle no Brasil. Se o parâmetro é só o texto constitucional ou se há fora do texto constitucional normas que também sirvam de parâmetro. Se deixará para fazer uma análise mais detalhada na aula de controle de constitucionalidade. Se se fala que a concepção jurídica é uma concepção formal, essa concepção política de Carl Smith é uma concepção formal ou material? Direito Constitucional O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 8 www.cursoenfase.com.br É uma concepção material de constituição, porque ela não se preocupa apenas com a forma da Constituição, mas com o seu conteúdo, porque se preocupa com as decisões políticas fundamentais. É um tipo de constituição material. 1.3 Concepção Sociológica (Ferdinand Lassalle) Pode-se encontrar, ainda, a expressão “Sociologismo constitucional”. A essência da constituição é a soma dos fatores reais de poder. Quando se fala na soma dos fatores reais de poder, se está pensando no poder político como ele realmente é, como o poder político de fato está organizado, como se manifesta, como ele influencia a sociedade, quais são as forças que comandam a sociedade. É uma análise sociológica. Esta concepção não está preocupada com o “dever ser” está preocupada com o “ser”. A Constituição não estabelece um “dever ser”, a Constituição deve tratar o tema “X” ou deve tratar do tema “Y”, essa concepção entende que a Constituição, na verdade, descreve a realidade como ela é. A realidade política, a manifestação das forças que comandam a sociedade de fato. Nessa linha de raciocínio a constituição escrita deve ser a institucionalização desses fatores reais de poder. A Constituição deve descrever esses fatores, essas forças que comandam o processo político, as forças que comandam a sociedade, descrevê-las em seu texto. Se a constituição escrita não descreve simplesmente os fatores reais de poder, indo além, estabelecendo um dever ser, a Constituição escrita é mera folha de papel. Ela apenas deveria descrever a realidade, as forças que comandam a realidade, que comandam o processo político, que comandam a sociedade. Concepção Sociológica (Ferdinand Lassale): Essência da Constituição Soma dos fatores reais de poder Const. Escrita Institucionalização Direito Constitucional O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 9 www.cursoenfase.com.br Concepção jurídica versus a sociológica: na primeira a constituição se resume a norma, a Constituição é norma e na segunda a constituição se resume no fato. Estas três primeiras concepções são citadas pela grande maioria dos autores. Veja-se agora as concepções menos citadas. 1.4 Concepção normativa ou concretizadora ou concretista (Konrad Hesse) Essa concepção entende que a Constituição é uma norma, porém a Constituição não pode ser entendida apenas como norma. A constituição também deve ser compreendida como fato. Mas a constituição não é só fato, ela é norma. Essa concepção entende que a constituição deve partir de uma ideia de comunicação entre norma, o fato e fato e norma. Norma → comunicação ← fato A norma não pode ser compreendida sem os fatos, mas os fatos não podem ser compreendidos sem a norma. Exemplo: pensando na igualdade e partir da ideia de que homens e mulheres são iguais. Se homens e mulheres são iguais, o pensamento disso, de forma abstrata, só como uma norma, poderia levar a um tratamento igualitário entre homens e mulheres. Porém, na realidade há diferenças fisiológicas entre homens e mulheres que repercutem na convivência social, por exemplo, nas relações de trabalho, uma mulher pode engravidar e ter filhos e isso traz repercussões práticas nas relações de trabalho. Então, o Direito estabelece um tratamento diferenciado em relação as mulheres no mercado de trabalho. Isso é fazer uma compreensão de que a igualdade não pode ser analisada como uma norma em abstrato, uma norma em si mesma. Essas normas devem ser analisadas dentro dos fatos, dentro da realidade. O interprete deve partir da norma para o fato e do fato para a norma. O que remete a ideia de círculo hermenêutico. A ideia de círculo hermenêutico, na filosofia, pode ser traduzida da seguinte maneira: o todo não se compreende sem as partes e nem as partes se compreendem sem o todo. Para entender o todo, deve entender as suas partes. Para entender as partes, deve entender o todo. Trazendo isso para a ideia, norma não se compreende sem os fatos e nem os fatos sem a norma. Essa concepção deve ser sintetizada da seguinte forma: a constituição é um sistema aberto de regras e princípios que apresenta a ordenação da sociedade e do poder. Sistema aberto: entenda-se essa abertura exatamente como uma abertura para os fatos ou para a realidade. Direito Constitucional O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 10 www.cursoenfase.com.br 1.5 Concepção histórico universal (Canotilho) A Constituição é a peculiar forma de organização de um grupo social. Se a Constituição é uma forma de organização do grupo social, todo tipo de grupo social, por mais primitivo que seja, sempre tem um mínimo de organização em que se estabelece regras de convivência e regras do exercício do poder, ainda que essas regras de exercício do poder sejam orais e baseadas, por exemplo, na força, ou seja, a liderança é do membro mais forte da tribo ou é do líder religioso da tribo, por mais que isto seja oral, por mais que seja uma formulação de organização muito básica, ainda assim é uma forma de organização. É por isto que o nome dessa concepção é histórico universal,porque em todos os lugares, em todas as épocas, sempre houve uma constituição, aqui não se está pensando na constituição como se conhece, ou seja, como documento jurídico, aqui se está pensando em uma constituição não necessariamente escrita, pode ser uma Constituição decorrente de tradições orais ou costumes e por mais simplória que seja essa forma de organização. 1.6 Concepção axiológica (Dworkin) Essa concepção axiológica entende que a Constituição é um sistema objetivo de valores. Valores esses que são de conteúdo moral, ou seja, valores morais. Esses valores morais devem ser compreendidos de forma objetiva e não subjetiva, não são os valores da moral do interprete e sim os valores morais objetivamente consagrados previstos na constituição através dos princípios e dos direitos fundamentais. Norma Comunicação Concepção Concretizadora (Konrad Hesse) Fato Círculo hermenêutico Direito Constitucional O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 11 www.cursoenfase.com.br Poderia falar só princípios, mas acrescente-se direitos fundamentais porque a primeira coisa que se vem em mente é que são direitos subjetivos (direito subjetivo é o poder jurídico de exigir algo de alguém), ou seja, direito titularizados por uma pessoa que tem o direito de exigir algo de alguém. Exigir algo de alguém pode ser uma prestação negativa (obrigação de não fazer, por exemplo, pelo direito de propriedade pode exigir que a coletividade não invada a propriedade) ou de fazer (pelo direito à saúde pode exigir do Estado um tratamento médico). Não está errado pensar o direito fundamental dentro desta perspectiva subjetiva. Porém os direitos fundamentais não têm só essa perspectiva subjetiva ou essa dimensão subjetiva, ele tem também uma perspectiva ou uma dimensão objetiva. A partir da perspectiva objetiva os direitos fundamentais são considerados valores e, portanto, apresentam um conteúdo axiológico, valorativo ou apresentam natureza principiológica. Pode se entender que os direitos fundamentais são não só direitos subjetivos, titularizados por indivíduos, mas pode entender também que esses direitos fundamentais são valores, como verdadeiros princípios. Daí se falar em uma carga axiológica dos direitos fundamentais ou em uma carga principiológica dos direitos fundamentais. Isso é parte do que se chama dimensão objetiva dos direitos fundamentais. Aqui trata-se direitos fundamentais como verdadeiros valores, como verdadeiros princípios, pela dimensão objetiva que esses direitos fundamentais apresentam. Exemplo: igualdade é um direito fundamental e também um princípio (valor). O indivíduo, titular do direito fundamental à igualdade tem esse direito subjetivo, por isso que se esse indivíduo for tratado de forma discriminatória pode exigir uma prestação judicial para garantir e proteger a sua igualdade. Mas não existe apenas a dimensão subjetiva da igualdade, existe também a dimensão objetiva, a igualdade é um valor, é um princípio e como princípio tem uma função hermenêutica, ou seja, uma função de servir como parâmetro para a interpretação das outras normas. Dizer isso significa dizer que a Constituição como um sistema objetivo de valores, valores esses manifestados através dos princípios, essa constituição ou esses valores servem de norte ou de parâmetro hermenêutico, daí Dworkin falar que deve ser realizada uma “Leitura moral da constituição”. Uma consequência prática disso é o seguinte: o intérprete, sobretudo o juiz como intérprete último da constituição, deve procurar resolver os problemas concretos a partir dos princípios, sobretudo aqueles casos mais difíceis, os chamados hard cases. Hard cases são os casos complexos, os casos difíceis. Direito Constitucional O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 12 www.cursoenfase.com.br O intérprete deve, ao analisar um problema, buscar nos princípios a fundamentação para a solução daquele problema. Fazer esta operação intelectual de analisar o caso e buscar nos princípios, nos valores a solução do problema, demanda um pensar filosófico, daí Dworkin dizer que os juízes devem ser “filósofos”, ou seja, pensar filosoficamente, buscando no princípios e valores a solução para os problemas, sobretudo nos problemas mais complicados, nos hard cases.
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